Artigo Original
Espiritualidade e religiosidade relacionadas aos dados sociodemográficos de idosos*
Espiritualidade e religiosidade relacionadas aos dados sociodemográficos de idosos*
Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol. 18, núm. 4, pp. 429-436, 2017
Universidade Federal do Ceará
Recepção: 14 Janeiro 2017
Aprovação: 10 Julho 2017
Financiamento
Fonte: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
Número do contrato: 02035-14
Objetivo: descrever a relação da espiritualidade e religiosidade com sexo, idade e renda familiar de idosos.
Métodos: estudo transversal com 643 idosos por meio de questionário sociodemográfico e Medida multidimensional breve de religiosidade/espiritualidade. Realizou-se análise descritiva, teste t-Student (sexo) e correlação de Pearson para idade e Spearman para renda (p<0,05).
Resultados: prevaleceu o sexo feminino, faixa etária 60|-70 anos, residem com o companheiro, escolaridade de 1|-5 anos de estudo e renda de um salário mínimo. O sexo feminino apresentou médias superiores ao masculino na maioria das dimensões de religiosidade e espiritualidade. A idade apresentou correlação positiva fraca nas dimensões religiosidade organizacional e autoavaliação global; enquanto a renda não apresentou correlação estatisticamente significativa.
Conclusão: os idosos do sexo feminino e mais velhos apresentaram maiores dimensões de religiosidade e espiritualidade, enquanto que a renda não apresentou correlação significativa.
Palavras chave: Saúde do Idoso+ Religião+ Espiritualidade.
Introdução
O crescimento da população idosa aumenta progressivamente e estima-se que o número de idosos quadruplicará até 2060 e que a vida dessa população passe de 80 anos ou mais, em especial a das mulheres. Esse fenômeno impactará especialmente os países em desenvolvimento, uma vez que a transição demográfica iniciou-se há mais tempo nos desenvolvidos e, portanto os mesmos tiveram maior tempo para se preparar; acresce-se a isso o fato de que a maioria desses idosos viverão em nações como o Brasil(1).
O envelhecimento natural, normalmente, oferece ganhos e oportunidades de crescimento, mas também propicia desafios, mudanças e perdas(2). Dentre as mudanças oriundas do aumento da idade, podemos identificar as modificações físicas, psicológicas, cognitivas, sociais, fisiológicas e outras. Observa-se que há, proporcionalmente, algumas perdas, como o afastamento do trabalho, a independência e/ou autonomia, a morte de familiares, amigos e também, a própria(3). Tudo isso conjuminado pode resultar em desafios e situações de estresse que repercutem negativamente na vida dos idosos(2).
É mister que diante dessas perdas e suas consequências emerjam mecanismos de enfrentamento e superação. Neste cenário tem-se a religiosidade e a espiritualidade como ferramentas úteis para o enfrentamento de acontecimentos negativos e estressores. Cabe elucidar a natureza protetora que a religião e a espiritualidade tem para as pessoas, em especial os idosos, auxiliando na forma como elas lidam com as adversidades(2), podendo ainda atuar como estratégias na busca de motivação, superação e sentido de vida.
Ao se fazer referência à religiosidade e espiritualidade é necessário elucidar as diferenças que separam essas duas perspectivas. A palavra religião deriva do latim “religare”, que significa religar, restabelecer a ligação entre Deus e os homens(4). Seus significados integram um sistema de crenças que norteiam relações do indivíduo consigo mesmo e com o meio em que se encontra inserido.
A religiosidade diz respeito ao nível de intensidade com que um indivíduo acompanha, confia e pratica uma religião. Assim, ela pode ser tanto organizacional relacionando-se a participação na igreja ou templo religioso, quanto não organizacional no sentido de assistir programas religiosos, ler a bíblia ou livros religiosos e rezar(4).
A espiritualidade é caracterizada como uma inclinação humana a perseguir sentido para a vida mediante concepções que superem o visível. Trata-se de um conceito mais amplo que cada indivíduo define para si mesmo. Também é entendida como uma busca pessoal, no intuito de compreender questões relacionadas ao sentido da vida, que pode ou não conduzir ao desenvolvimento de práticas religiosas ou a formação de comunidades religiosas(4).
Na área da saúde a temática tem sido ampliada, demonstrando que a religiosidade e a espiritualidade estiveram associadas à melhoria da saúde e redução de enfermidades(5-6), o que ocasiona mudanças na vida dos praticantes, em especial na vida de idosos.
Tal constatação conduz a pensar no papel da religiosidade e da espiritualidade no envelhecimento enquanto mecanismo de sociabilidade num momento da vida em que são frequentes a solidão e a fragmentação do núcleo familiar. Porém, a percepção de Religiosidade e Espiritualidade sofre influência de diversos fatores, como o sexo, a idade e a renda. Estudo realizado em uma comunidade com adultos e idosos identificou maior prevalência do sexo feminino nas práticas religiosas bem como a sua associação a maior idade(7).
Esta investigação tem a finalidade de contribuir para ampliar o conhecimento sobre a temática, tendo em vista a limitada literatura que a contempla no âmbito da Saúde Coletiva. O enfoque científico ainda é mais direcionado para pesquisas nos campos da psiquiatria e saúde mental, com a enfermagem mais voltada aos estudos qualitativos(5,8). Diante do exposto reforça-se a necessidade de outras investigações, em especial na Saúde Coletiva, já que tem se mostrado cada vez mais relevante na realidade social brasileira.
Compreender o indivíduo idoso, no interior do contexto religioso e espiritual em que vive, é fundamental para que os profissionais de saúde, em especial os da Saúde Coletiva, possam demonstrar respeito às necessidades apresentadas pelos mesmos e refletir quanto às atitudes e ações que dispensam nas situações cotidianas que podem influenciar no processo natural e individual de envelhecimento.
Neste contexto, o estudo teve como objetivo descrever a relação da espiritualidade e religiosidade com sexo, idade e renda familiar de idosos.
Métodos
Trata-se de um estudo transversal por meio de inquérito domiciliar, realizado no período de janeiro a junho de 2014, na área urbana de um município mineiro.
A população da área urbana foi recrutada empregando-se a amostragem por conglomerado em múltiplos estágios. Para o cálculo do tamanho amostral utilizou-se uma prevalência de incapacidade funcional nas Atividades Instrumentais de Vida Diárias de 28,8%, com precisão de 1,5% e intervalo de confiança de 95,0%, para uma população finita de 199.172 (número total de idosos urbanos no Triângulo Mineiro). No entanto, para esta pesquisa, utilizaram-se como desfechos os domínios de Religiosidade e Espiritualidade. Admitindo a população estimada de idosos (36.703) do município, chegou-se a uma amostra de 711.
Dos 711 idosos abordados e convidados a participar da pesquisa houve 18 recusas, 13 desistências, três setores sem idosos, mas com residência (12 idosos), quatro setores sem casa (16 idosos) e setores que não completaram o número de idosos (nove idosos).
A amostra foi constituída por indivíduos que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 60 anos; residente na zona urbana; e sem declínio cognitivo. Excluiu-se da pesquisa: idosos que não foram localizados pelo entrevistador após três tentativas; setores sem idosos; setores sem casas; e setores que não completaram o número de idosos. Desta forma, foram entrevistados 643 idosos.
Os dados foram coletados na residência do idoso por entrevistadores (graduandos e pós-graduandos na área da saúde) devidamente treinados. Promoveram-se reuniões sistemáticas entre o pesquisador responsável e os supervisores de campo para treinamento, acompanhamento e orientações.
Foi utilizado o instrumento Mini Exame do Estado Mental, validado no Brasil para a avaliação cognitiva dos idosos, com escore de 0 a 30 pontos e nota de corte de acordo com a escolaridade do idoso(9).
Para a caracterização dos dados sociodemográficos foi utilizado questionário elaborado pelo Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva, criado em 2005, tendo sido realizada a adequação das variáveis por meio de teste piloto. As variáveis do estudo foram sexo (masculino e feminino); faixa etária, em anos (60|-70,70|-80, 80 anos e mais); estado conjugal (nunca se casou, mora com companheiro, viúvo, separado); escolaridade, em anos de estudo (sem escolaridade; 1├ 5; 5├ 9; 9 ou mais); e renda individual, em salários mínimos (sem renda; <1; 1; 1-|3; 3-|5; >5).
No que concerne à avaliação da religiosidade e espiritualidade fez-se uso do instrumento de Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade, validado na versão brasileira(10). Esse instrumento possui 38 itens dividido em 11 dimensões, quais sejam: Experiências espirituais diárias, Valores/crenças, Perdão, Práticas religiosas particulares, Superação religiosa, Suporte religioso, História religiosa/espiritual, Comprometimento, Religiosidade organizacional, Preferências religiosas e Autoavaliação global de Religiosidade/Espiritualidade. As opções de resposta estão dispostas em escala Likert para oito dimensões, dentre os quais variam de 1 a 8, de 1 a 6 ou de 1 a 4 opções de resposta.
O instrumento apresenta três itens adicionais sem compor um escore quantitativo como nas demais dimensões. São eles: “História Religiosa/espiritual” (sim ou não); “Comprometimento” (composto por três perguntas, a primeira referente às crenças ao longo da vida com opções de resposta: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente. A segunda questão acerca da contribuição financeira é categorizada em semanal, mensal e anual. A terceira relacionada à quantidade de horas dedicadas à prática religiosa e espirituais é classificada em 0 hora, 1 ou 2 horas, 3 ou 4 horas e mais de 5 horas); e “Preferência religiosa” (católica, evangélica, espírita e sem religião).
A revisão e a codificação das entrevistas foram realizadas durante a coleta. Nos meses de maio e junho de 2014 procedeu-se a construção de uma planilha eletrônica, no programa Excel®, de forma que os dados coletados foram processados em microcomputador. Por sua vez, tal procedimento ocorreu em dupla entrada por dois pesquisadores (pós-graduandos na área da saúde) para subsequente verificação de dados inconsistentes. Posteriormente, importou-se a planilha para o aplicativo Statistical Package for the Social Sciences 22.0, de modo a proceder à análise.
Para caracterização da casuística, as variáveis categóricas (sexo, faixa etária, estado conjugal, escolaridade e renda) e três das dimensões de religiosidade e espiritualidade (História religiosa/espiritual, Comprometimento e Preferência religiosa) foram apresentadas empregando-se distribuição de frequências absolutas e percentuais. Utilizou-se o teste t-Student para comparação associação dos escores das oito dimensões de Religiosidade e Espiritualidade com a variável sexo, para as variâncias homogêneas, bem como a correção de Welch para as variâncias heterogêneas. Para a análise da relação entre idade e renda com Religiosidade e Espiritualidade, utilizou-se o coeficiente de correlação produto-momento de Pearson (quantitativo) para idade e Spearman (ordinal) para renda.
Destaca-se que foram observados todos os pré-requisitos para a utilização dos testes paramétricos, tais como normalidade, valores atípicos e heterocedasticidade. Esse estudo considerou o nível de significância α=0,05.
O estudo respeitou as exigências formais contidas nas normas nacionais e internacionais regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
Resultados
Houve o predomínio do sexo feminino (66,6%), com faixa etária entre 60├70 anos (42,1%), que residem com o companheiro (42,7%), escolaridade de 1├5 anos de estudo (45,1%) e renda de um salário mínimo individual mensal (45,0%).
Com relação à religiosidade e espiritualidade, na dimensão história religiosa/espiritual 46,0% dos idosos referiram ter tido uma experiência religiosa ou espiritual que mudou a sua vida, enquanto 70,5% dos idosos relataram ter tido alguma recompensa com a fé. Somente 7,5% referiram já ter tido alguma perda significativa da fé.
Referente à dimensão comprometimento, o maior percentual dos idosos (62,4%) informou que concorda totalmente em dar continuidade às crenças religiosas ao longo da vida. Nessa mesma dimensão, os idosos (46,0%) relataram que contribuem mensalmente com a comunidade religiosa a qual pertencem, 73,9% informaram que não participam ativamente seguido por 12,8% que relataram participar uma ou duas horas por semana.
Quanto à dimensão preferência religiosa, o maior percentual de idosos (69,5%) informou ser católico, seguido dos evangélicos (14,0%).
Na Tabela 1 são apresentadas as médias das dimensões de religiosidade e espiritualidade de idosos da comunidade, segundo o sexo.
Foram observadas diferenças significativas entre os grupos para a maioria das dimensões de Religiosidade/Espiritualidade. O sexo feminino, em relação ao masculino, apresentou médias estatisticamente superiores nas dimensões a seguir: experiências espirituais diárias; valores/crenças; perdão; práticas religiosas particulares; superação religiosa; suporte religioso; religiosidade organizacional e autoavaliação global de religiosidade/espiritualidade.
Na Tabela 2, encontram-se as correlações das dimensões de Religiosidade e Espiritualidade de idosos da comunidade com as variáveis idade e renda.
Referente à variável idade foi observada correlação positiva fraca nas dimensões religiosidade organizacional (p<0,001) e autoavaliação global de religiosidade/espiritualidade (p=0,008). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os domínios de religiosidade/espiritualidade e renda.
Discussão
O estudo apresenta como limitação o corte transversal que não possibilita estabelecer relação de causalidade.
Em relação às variáveis sociodemográficas, na presente pesquisa os dados condizem com a literatura nacional e internacional, quanto ao sexo feminino(1,6,11-13), faixa etária(1,12), estado conjugal(12-14) e difere quanto à escolaridade(6,11,13) e renda(13-14).
Quanto à história religiosa/espiritual, essa dimensão refere-se às experiências que o indivíduo teve e que atribui motivações religiosas/espirituais. Cabe salientar que as práticas e as crenças religiosas podem influenciar a saúde mental, ter impacto no bem-estar emocional e, consequentemente, propiciar recursos e comportamentos de enfrentamento(13). Pesquisa com idosos destacou que a participação regular em missas, cultos e encontros religiosos refletiam em benefícios do apoio social(15).
A fé e as orações ocasionam uma sensação de proximidade com o sagrado/divino em prol de proteção e apoio diante de situações adversas(3). A prática de orações ocasiona o sentimento de gratidão pela vida que reflete em bem-estar e relaxamento(15). Sendo uma dimensão da existência humana, a espiritualidade e a religiosidade propiciam bem-estar, que pode auxiliar na adaptação e na superação de eventos estressores(3). Desta maneira, destaca-se o quanto a religião e a espiritualidade são importantes na vida de muitos idosos.
Quanto ao comprometimento, essa dimensão é utilizada para mensurar o nível de envolvimento religioso do indivíduo, bem como o compromisso com a própria crença religiosa(10). Um estudo realizado em uma comunidade constatou que, para as pessoas idosas, as crenças religiosas contribuem de forma decisiva para o bem-estar e tem repercussões na saúde física e mental, ao longo do processo de envelhecimento(7).
Este estudo não investigou os valores monetários das contribuições com a comunidade religiosa, constatação também evidenciada em outro estudo, o qual cita que no Brasil outros tipos de doações (como roupas e alimentos) são muito comuns. Em função disso, não haveria como correlacionar esse tipo de contribuição à financeira(10).
No que concerne às horas semanais, resultado similar foi verificado em pesquisa com adultos e idosos, a qual apontou que o tempo gasto com atividades religiosas ou espirituais era de 0-3 horas(10).
O Brasil apresenta grande pluralidade religiosa, com predomínio do catolicismo, seguido do protestantismo. Esse resultado também foi evidenciado em pesquisa nacional, na qual 60,8% se autodeclararam católicos e 19,9% evangélicos(5). Em investigação internacional também foi identificada como religião mais praticada o catolicismo (81,2%), seguido do protestantismo (15,7%)(6).
Referente à população de idosos e a relação com a religião na terceira idade, destaca-se que com a chegada da aposentadoria o idoso precisa buscar uma ampliação das suas redes sociais, por meio de clubes; associações; atividades religiosas; grupos de viagens, esportivos, culturais, de lazer, de voluntariado, entre outros; e não se restringir apenas às relações referentes ao trabalho/profissão exercida ao longo da vida(16). Deste modo, a igreja apresenta-se como uma das principais fontes de auxílio para a formação dessas redes sociais, o que favorece o vínculo dos idosos com a religião.
Quanto à diferença nas dimensões entre os sexos, cabe ressaltar que as dimensões em questão avaliam a conexão do indivíduo com um poder superior/divino na vida cotidiana; os valores e crenças religiosos; o grau em que os indivíduos perdoam os outros e o grau de crença no perdão de um poder superior; a frequência dos comportamentos religiosos; estratégias de religiosidade e espiritualidade utilizadas para lidar com circunstâncias difíceis de vida; e o quanto percebem que suas comunidades religiosas fornecem ajuda, apoio e conforto(13).
As mulheres cotidianamente praticam mais a religião e expressam a espiritualidade, bem como essa relação se intensifica ao longo da vida e proporciona efeitos positivos na vida e saúde das praticantes(2). Resultado condizente com pesquisa realizada em dois hospitais gerais com 656 adultos e idosos, no qual as mulheres apresentaram maiores médias nas dimensões da escala de Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade quando comparadas aos homens(10).
Da mesma forma, as mulheres costumam frequentar mais atividades religiosas, resultado condizente ao encontrado em pesquisa nacional e internacional com adultos e idosos(6,10). O maior envolvimento religioso/espiritual reflete positivamente no processo de envelhecimento, ocasionando um efeito protetor para a vida e suas adversidades, especialmente das mulheres(2).
Pesquisa do tipo documental aponta que pessoas adeptas de uma religião e/ou que possuem uma espiritualidade considerável podem desenvolver com mais facilidade sentimentos de perdão, enquanto estratégia de enfrentamento de situações que provocam sofrimento emocional(17).
Quanto à correlação com idade, a dimensão de religiosidade organizacional avalia a frequência do envolvimento em instituições religiosas públicas formais(13). Entende-se que quanto maior a idade, maior a participação religiosa nas igrejas e maior a autorreferência sobre o quão religioso/espiritualizado o indivíduo se considera. Inquérito com 720 adultos e idosos encontrou dado equivalente, em que as faixas de 60 anos ou mais se mostraram significativamente vinculadas à prática da religião (p<0,001). A pesquisa ainda indicou que quanto mais elevada à faixa etária, maior é a prática da religião(7).
No que concerne à autoavaliação global de religiosidade/espiritualidade, essa dimensão avalia sobre o quão religioso/espiritualizado o indivíduo se considera(13). Pesquisa com adultos e idosos destacou que com o avançar da idade as crenças religiosas passam a representar uma importante fonte de suporte emocional que repercute de forma significativa na saúde mental e física dos praticantes(7). Acredita-se que com o aumento da idade exista um maior relacionamento com Deus, o que pode resultar em um desenvolvimento espiritual positivo, refletindo em um envelhecimento bem-sucedido.
Por fim, ressalta-se o papel crucial da espiritualidade e religiosidade na Enfermagem, visto que podem proporcionar um envelhecimento mais ativo, maior sentido de vida e auxiliar na adaptação em momentos estressores e superações de crises. tais como perdas, doenças, dor e outros tipos de sofrimentos(6). Além disso, podem contribuir para o suporte social, emocional, bem-estar e melhoria da saúde e qualidade de vida.
Acredita-se que os achados dessa pesquisa podem sensibilizar os profissionais da saúde, em particular os enfermeiros, para a valorização dos benefícios da espiritualidade e religiosidade como estratégias de cuidado ao idoso, pautados no compromisso profissional e ético. A Enfermagem, por meio da visão holística, pode fortalecer as práticas de cuidado e intervenções em saúde considerando os aspectos espirituais e religiosos com vistas ao melhor bem-estar dos idosos(6), em todos os níveis de assistência.
Conclusão
Os idosos do sexo feminino apresentaram maiores médias na maioria das dimensões de religiosidade e espiritualidade. Quanto maior a idade maior a correlação nas dimensões religiosidade organizacional e autoavaliação global. A renda não apresentou correlação significativa com as dimensões de religiosidade e espiritualidade.
Agradecimentos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais pelo apoio financeiro. Processo nº 02035-14.
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Autor notes
Rodrigues LR, Nader ID, Melo e Silva AT, Tavares DMS e Molina NPFM contribuíram na concepção e projeto, análise e interpretação dos dados e redação do artigo. Assunção LM contribuiu na redação do artigo. Todos os autores contribuíram na revisão crítica relevante do conteúdo intelectual e na aprovação final da versão a ser publicada.
Autor correspondente: Leiner Resende Rodrigues. Av. Getúlio Guaritá, 107 – Abadia - CEP: 38025-440. Uberaba, MG, Brasil. E-mail: leiner.r.rodrigues@gmail.com