Artigo de Pesquisa
Percepção de sintomas osteomusculares e sua repercussão nas atividades de vida diária em intérpretes de língua de sinais
Musculoskeletal symptoms perception and its impact on language interpreters’ daily lives
Percepção de sintomas osteomusculares e sua repercussão nas atividades de vida diária em intérpretes de língua de sinais
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, vol. 48, pp. 1-8, 2023
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO
Recepção: 19 Janeiro 2022
Revised document received: 07 Setembro 2022
Aprovação: 26 Outubro 2022
Financiamento
Fonte: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Número do contrato: 001
Descrição completa: Os autores declaram que o trabalho foi subvencionado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), código de financiamento nº 001, e que não há conflitos de interesses.
Resumo
Objetivo: analisar a percepção de sintomas osteomusculares e sua repercussão nas atividades de vida diária referidas por intérpretes da língua brasileira de sinais (libras).
Métodos: pesquisa qualitativa de natureza descritiva-analítica, utilizando a análise de conteúdo categorial temática. Foi aplicado questionário sociodemográfico e realizada entrevista semiestruturada com 12 profissionais intérpretes de libras, atuantes nas redes de ensino nos níveis fundamental, médio e superior do município de Goiânia, convidados via redes sociais, no primeiro semestre de 2021.
Resultados: foram identificadas três categorias temáticas: percepção álgica, percepção de cansaço e atividades de vida diária. Os profissionais estavam trabalhando remotamente devido à pandemia da doença COVID-19, cujo regime permitiu uma flexibilização do processo de trabalho com aulas on-line, eventos, palestras e congressos a partir do domicílio do trabalhador. Houve um aumento expressivo da demanda física e psicológica, devido ao aumento das atividades a serem cumpridas e por estarem ausentes os limites entre ambiente de “trabalho” e “casa”.
Conclusão: os participantes apresentaram percepções negativas em todos os aspectos avaliados, evidenciando a existência de sobrecarga na atuação como intérprete de língua de sinais.
Palavras-chave: Percepção+ distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho+ língua de sinais+ saúde do trabalhador+ pesquisa qualitativa.
Abstract
Objective: to analyze the perception of musculoskeletal symptoms and their repercussion in the activities of daily living reported by professional Brazilian sign language interpreters (LIBRAS).
Methods: descritive-analytical qualitative research, using thematic categorical content analysis. We used a sociodemographic questionnaire and a semi-structured interview with 12 professional LIBRAS interpreters, working in the primary, secondary, and superior education in the municipality of Goiânia. They were invited via social media, in the first half of 2021.
Results: we identified three thematic categories: pain perception, perception of tiredness, and activities of daily living. The professionals were working remotely due to the COVID-19 pandemic. This allowed flexibility in the work schedule, with online classes, events, lectures, and congresses participation from the worker’s home.
Conclusion: the participants had negative perceptions in all aspects evaluated, evidencing an overload in acting as a sign language interpreter in educational activities.
Keywords: Perception, cumulative trauma disorders, sign language, occupational health, qualitative research.
Introdução
A linguagem é considerada uma expressão direta da natureza humana ou de sua consciência, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento individual das pessoas1. A linguagem internaliza processos mentais que são mediados por signos 2), (3, além de fazer parte do desenvolvimento sociocultural de um indivíduo ou grupo, surgindo como significação pessoal do ser humano consigo e com seus pares 4), (5.
Desse modo, considerando o papel central da linguagem para a constituição dos sujeitos, é possível verificar que, semelhante às línguas faladas entre os ouvintes, as línguas de sinais (LS) são o meio capaz de propiciar a constituição ou desenvolvimento dos indivíduos surdos. Portanto, a língua brasileira de sinais (Libras) é entendida como a forma de comunicação e expressão pertinente das pessoas surdas brasileiras, sendo um sistema linguístico de natureza visual e motora com estrutura gramatical própria, que funciona na transmissão de ideias e fatos entre seus usuários 6.
Libras é considerada a língua materna ou a primeira língua (L1) das pessoas surdas no Brasil, sendo específica para esse contexto, as LS não são uma comunicação universal, outros países também possuem suas próprias LS, por exemplo, Língua Francesa de Sinais (Langue des Signes Française) que é utilizada na França, Língua Americana de Sinais (American Sign Language) utilizada nos Estados Unidos, Língua Espanhola de Sinais (Lengua Española de Signos) e a Língua de Sinais Catalana (Llengua de Signes Catalana) utilizadas na Espanha e Língua Britânica de Sinais (British Sign Language) utilizada na Inglaterra 6), (7. A base Ethnologue é uma fonte de informações sobre as línguas do mundo, tendo 7.097 línguas catalogadas, entre elas, há o registro de 144 línguas de sinais, ratificando que a LS não é universal 8.
A comunidade surda é composta por indivíduos surdos, amigos, familiares e intérpretes de LS, os surdos fazem parte de um grupo minoritário dentro da sociedade e têm a LS como traço de sua identidade linguística e cultural 10. Na busca de direitos sociais, houve, ao longo dos anos, várias reivindicações da comunidade surda - surdos, intérpretes, familiares de surdos - até o reconhecimento, pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, da Libras como uma língua 7. Posteriormente, mudanças importantes para a inclusão de pessoas surdas ocorreram, com a promulgação do Decreto nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005 9, que tornou obrigatória a inserção da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério em nível médio e em alguns cursos de nível superior, como pedagogia, educação especial, fonoaudiologia e letras 11. Desde então, as instituições de ensino vêm procurando se adequar a esses regimentos legais.
Diante do conhecimento e da disseminação da Libras que ocorreu devido ao aumento da participação da comunidade surda em diversos ambientes sociais, como o mercado de trabalho, instituições de ensino e instituições religiosas, passa a ser importante conhecermos a função de intérprete de língua de sinais (ILS). O ILS é um profissional fluente em duas ou mais línguas, incluindo Libras, que realiza a interpretação de uma língua de origem para uma de destino, sua função é a de ser um mediador e facilitador no processo de comunicação entre os utentes de LS e de línguas orais (LO) 12), (13), (14.
A Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010 (15) descreve que os ILS devem interpretar as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino em todos os níveis, de forma a possibilitar o acesso aos conteúdos curriculares; atuar nos processos seletivos de cursos na instituição de ensino e em concursos públicos; atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e órgãos públicos; e prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Os intérpretes de LS podem ser surdos ou ouvintes, desde que possuam qualificação adequada do correspondente país onde atuam. Assim, é importante destacar que este profissional está vinculado a um Código de Ética, o qual garante imparcialidade, confidencialidade, competência linguística e profissionalismo 15), (16.
Atualmente, com legislações voltadas para inclusão e acessibilidade das pessoas surdas, houve um aumento do convívio de surdos em diversos ambientes sociais, o que despertou o interesse de mais pessoas buscarem formação como ILS. Durante a atuação como ILS, são exigidos movimentos rápidos, repetitivos, muitas vezes em posições de desconforto e com pouco tempo de descanso, o que pode desencadear sintomas osteomusculares e percepção não satisfatória de qualidade de vida 12), (14), (17, sendo assim, o objetivo deste estudo é analisar a percepção de sintomas osteomusculares de profissionais intérpretes de língua de sinais e a repercussão disso nas suas atividades de vida diária.
Métodos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza descritiva-analítica. Segundo Minayo 18, três fases são contempladas para efetivação de um estudo: a primeira é a exploratória, na qual se aprofunda o problema de investigação e se delimita a amostra da pesquisa; a segunda fase é a da coleta de dados, no intuito de obter conteúdo para responder o problema da pesquisa; e a terceira é a de análise de dados por meio de inferências e interpretações.
A experiência de um dos pesquisadores como fisioterapeuta e intérprete de Libras permitiu a definição do objeto de estudo, a partir de sua observação de maneira empírica, quanto a questionamentos de seus pares ILS referentes a percepções de sintomas osteomioarticulares, ficando, então, delimitado o problema da investigação. A amostra deste estudo foi composta por profissionais ILS atuantes nas redes de ensino, nos níveis fundamental, médio e superior do município de Goiânia, Goiás. Os critérios de inclusão foram: ser profissional atuante como ILS educacional do município de Goiânia e ter 18 anos ou mais.
A coleta de dados ocorreu durante o primeiro semestre de 2021. Inicialmente, os participantes foram recrutados via redes sociais; após conhecimento sobre a pesquisa e manifestação positiva quanto a participação, foi disponibilizado um formulário do Google Forms contendo o TCLE e questões sociodemográficas para caracterização da amostra.
As entrevistas do tipo semiestruturada ocorreram por agendamento, pela plataforma do Google Meet, respeitando-se a disponibilidade dos participantes. Todas as entrevistas foram conduzidas pelo primeiro autor do estudo (LVL). As questões norteadoras das entrevistas foram: “você desenvolve algum trabalho voluntário como ILS?”; “você sente dores ou desconfortos no trabalho como ILS?”; “o trabalho como ILS interfere no seu cansaço físico?”; “precisou de algum tratamento para ajudar amenizar ou solucionar o desconforto?”; “você sente cansaço mental na atuação como ILS?”; “o cansaço mental interfere nas outras atividades que você desempenha?”; “já apresentou algum afastamento do trabalho em função das suas atividades como ILS?”; e “você percebe alguma diferença do trabalho remoto e presencial?”
A coleta de dados foi realizada em língua portuguesa por ser a língua materna dos participantes da pesquisa.
Todas as entrevistas foram gravadas com a autorização dos participantes e, posteriormente, foram transcritas no processador de texto Microsoft Word, versão 2013. A análise e construção das categorias temáticas foram realizadas manualmente, com base na abordagem qualitativa e na Análise de Conteúdo Categorial Temática proposta por Laurence Bardin (1988), em que são identificados “núcleos de sentido” e a sua frequência que podem apresentar algum significado para o objeto analítico deste estudo 19.
A identificação dos participantes da pesquisa ocorreu pela letra “P”, juntamente com o número da ordem de entrevistados, por exemplo: P1, P2, P3. A validação das respostas e da interpretação dos dados ocorreu pela leitura e a resposta dos participantes, concordando com o que está escrito no artigo.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás sob o parecer nº 4.651.277, CAAE: 20348119.9.0000.5083, em 08/10/2019. Todos os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados e discussão
A amostra deste estudo foi constituída por 12 profissionais intérpretes educacionais de Libras atuantes nos níveis fundamental, médio e superior do município de Goiânia, Goiás, com contrato de trabalhos formais, sendo 10 do sexo feminino e dois do sexo masculino; idade variando entre 24 e 49 anos; todos brasileiros; sete casados e cinco solteiros; nove sem filhos; sete com casa própria; sobre a renda pessoal, sete intérpretes tinham uma renda entre 2-4 salários mínimos (R$1.100,00 em 2021); o nível de instrução de 10 participantes é pós-graduação lato sensu; a carga horária semanal de trabalho compreende entre 20h e 88h (um dos participantes da pesquisa afirmou ter dois contratos de 44h), sendo o tempo de experiência profissional de até 30 anos; alguns participantes relataram exercer atividade voluntária, de maneira esporádica, na interpretação para familiares e amigos quando há a necessidade de ir ao banco, consultas médicas e no âmbito religioso.
Semelhante aos resultados deste estudo, a literatura aponta uma predominância do sexo feminino atuante como ILS, além de cumprirem uma carga horária alta, evidenciando que há a necessidade do profissional trabalhar em mais de um turno para suprir suas necessidades financeiras 12), (14), (20)-(23. A quantidade de anos de experiência desses profissionais é um fator de risco importante para as afecções musculoesqueléticas, principalmente em quem atua por mais de quinze anos em duas ou mais instituições de ensino, com carga horária alta e pouco tempo de descanso 24.
A coleta de dados permitiu a identificação de três categorias temáticas: percepção álgica, percepção de cansaço e atividades de vida diária, sendo os núcleos de sentido definidos por meio de inferências.
O Quadro 1 apresenta as informações da categoria temática “percepção álgica”, com os núcleos de sentido “membros superiores”, “coluna” e “membros inferiores”.

Segundo Silva e Camarotto 25, as doenças relacionadas ao trabalho estão cada vez mais presentes nos ambientes laborais, seja por acometimento físico ou mental, atualmente a quantidade expressiva de profissionais afastado por Doença Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT) é considerada um grande problema de saúde pública, além disso, os autores apresentam o fato de que muitos trabalhadores acometidos por DORT têm dificuldades em conseguir retornar e permanecer em seu trabalho.
A DORT pode atingir os ILS devido a sua atuação profissional. Silveira 26 afirma que as DORT atingem mais mulheres do que homens e, para profissionais da educação, há uma prevalência de tendinites em ombros, epicondilites medial e lateral, bem como síndrome do túnel do carpo, ou seja, acometem mais os membros superiores (MMSS), como apresentado nos depoimentos dos participantes desta pesquisa. Essas afecções, além de atrapalharem o desenvolvimento da função como intérprete, também prejudicam a percepção de qualidade de vida desses trabalhadores 12), (14.
Nove profissionais que participaram do estudo afirmaram, durante a entrevista, sentir dores devido a atuação como ILS, já que durante suas atividades é exigido uma grande demanda dos MMSS, com movimentos repetitivos e de maneira contínua. Pode-se afirmar que as dores musculoesqueléticas são decorrentes da extensa carga horária diária, com diferentes movimentos, em várias posições de desconforto, variações nos graus de amplitudes dos MMSS e variações na velocidade durante a sinalização 12), (21), (28. Lima 27 identificou em seu estudo que as dores em MMSS atingem 80% dos profissionais ILS com mais de dois anos de atuação na região do ombro.
As pesquisas de Lisboa e Shiozawa 14, assim como de Guarinello et al. (12, tiveram, em seus resultados, a faceta “dor” de ILS como uma das piores médias, avaliada pelo questionário World Health Organization Quality of Life Scale Brief Version (WHOQOL-Bref) e Medical Outcomes Study 36 - Item ShortForm Health Survey (SF-36), respectivamente. Lisboa e Shiozawa14 identificaram, também, que todos os participantes apresentaram algum grau de dor avaliado pela escala visual analógica (EVA), sendo que mais da metade dos participantes relataram sentir dores em MMSS.
O Quadro 2 apresenta informações da categoria temática “Percepção de cansaço” com os núcleos de sentido “Físico” e “Mental”.

O estudo de Lima 27 mostrou que a má postura, juntamente com os movimentos repetitivos praticados pelos profissionais ILS, aumentaram consideravelmente os riscos de afecções musculoesqueléticas e, consequentemente, o desgaste físico.
Em relação ao cansaço mental, Sanchez et al. (24 afirmam que os profissionais de educação são passíveis de serem acometidos por estresse, visto que necessitam de aptidões interpessoais e de comunicação para se relacionar com os alunos e seus responsáveis. Além disso, assumem responsabilidades e compromissos com horas extras ou outras atividades para complementar a renda, enfrentando, muitas vezes, conflitos e tensões que os prejudicam mentalmente.
Para Silva29, há uma demanda cognitiva durante a interpretação de LS, pois é necessário que o ILS realize um planejamento da língua de origem ao escolher os sinais, referências e expressões para produzir o contexto mais fidedigno possível durante a interpretação. A autora afirma, também, que essa atividade exige a guarda de informações na memória, para que possam ser retomadas em momento posterior, contribuindo, assim, com o sentido do contexto.
Os intérpretes de línguas orais (ILO) também sofrem com desgaste mental, visto que, semelhante aos ILS, necessitam de habilidades cognitivas e linguísticas em diferentes contextos (30). Cabe considerar, todavia, que os ILS apresentam uma demanda cognitiva maior, pois não há sinais para todas as palavras de LO, sendo necessárias estratégias - como utilização de sinais que expressam ideias semelhantes, classificadores e expressões (facial e corporal) - para produzir o contexto mais fidedigno possível.
Todo o processo necessário para efetuar a interpretação de uma língua para outra leva ao cansaço mental dos profissionais ILS. Alguns participantes desta pesquisa relataram que o desgaste mental é pior do que o desgaste físico, pois há uma exigência cognitiva para a transmissão de informações entre duas línguas, bem como a necessidade de constantes estudos de diversas áreas do conhecimento, antes da realização do trabalho.
O Quadro 3 apresenta informações da categoria temática “atividade de vida diária”, com o núcleo de sentido “dificuldades”.

Os participantes deste estudo relataram que o desgaste físico e mental atrapalham nas atividades de vida diária (AVDs), ou seja, não as realizam, ou fazem com dificuldades as atividades pessoais relacionadas ao autocuidado, como foi relatado nas entrevistas: não ter ânimo para se alimentar, não querer ir ao supermercado ou desânimo para realizar atividade física. As AVDs também podem estar sendo prejudicadas devido a extensa carga horária de trabalho, já que, além de atuarem como ILS, os profissionais necessitam atender suas famílias e realizar os afazeres domésticos; é evidente que muitos assumem jornada dupla ou tripla de trabalho, principalmente as mulheres.
Diferentemente do que foi obtido nesta pesquisa, os resultados apresentados por Guarinello et al. (12 e Lisboa e Shiozawa 14, no que tange à faceta “capacidade funcional” do questionário SF-36, indicam melhores médias dos estudos realizados com profissionais ILS.
A literatura é escassa, nas fontes pesquisadas, de estudos que avaliam o impacto da profissão ILS nas AVDs dos seus trabalhadores. Esta pesquisa demonstrou, pelos depoimentos colhidos (Quadro 3), que os profissionais ILS estão deixando de fazer as atividades do dia a dia devido ao estresse cognitivo e o cansaço físico.
Devemos considerar que os ILS participantes deste estudo trabalhavam em regime remoto devido a pandemia da covid-19. Regime que permitiu uma flexibilização da profissão e, com a realização de aulas remotas, eventos, palestras e congressos à distância, houve um aumento expressivo da demanda profissional, muitas vezes, com quantitativo insuficiente de profissionais disponíveis para cumpri-las. O aumento da demanda de trabalho provoca bastante fatiga, atingindo esses profissionais fisica e mentalmente. Além disso, a ausência da separação entre os ambientes “trabalho” e “casa” pode explicar a influência negativa da atuação como ILS nas suas AVDs.
Conclusão
Este estudo encontrou e analisou relatos sobre dores e cansaço, físico e mental, em profissionais intérpretes de língua de sinais, bem como sua repercussão nas suas atividades de vida diária. A efetivação da produção de sinais durante uma interpretação exige, do profissional, a utilização dos membros superiores, além de distintas variações da amplitude dos movimentos realizados em um quadrante imaginário à sua frente, sobrecarregando, assim, o sistema musculoesquelético dos profissionais.
Os participantes apresentaram percepções negativas em todos os aspectos investigados, evidenciando que há uma sobrecarga na atuação como intérprete de língua de sinais. Sugerimos que outras pesquisas sejam realizadas profissionais da área, tanto no regime remoto quanto presencial, para evidenciar suas realidades de trabalho, visando futuras políticas públicas que considerem, desde a prevenção até a reabilitação profissional.
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Notas
Autor notes
Contato: Neuma Chaveiro E-mail: neumachaveiro@ufg.br