Artigo de pesquisa / Dossiê Saúde Mental e Subjetividade
Trabalhadoras essenciais abandonadas: psicodinâmica do trabalho e saúde mental de caixas de supermercado durante a pandemia de covid-19
Essential workers left behind: psychodynamics of work and mental health of supermarket cashiers during the COVID-19 pandemic
Trabalhadoras essenciais abandonadas: psicodinâmica do trabalho e saúde mental de caixas de supermercado durante a pandemia de covid-19
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, vol. 49, edsmsubj8, 2024
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO
Received: 09 August 2022
Revised document received: 22 April 2023
Accepted: 15 May 2023
Resumo
Objetivo: investigar as vivências subjetivas das pessoas que operaram caixas e que trabalharam durante a pandemia de covid-19.
Métodos: estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa. Entrevistas semiestruturadas foram realizadas on-line com operadores de caixa de ambos os sexos, de junho a outubro de 2021. O recrutamento ocorreu em um grupo do Facebook da categoria. A análise temática compreensiva fundamentou-se na psicodinâmica do trabalho.
Resultados: o trabalho de operação de caixa de supermercado é precário. A pandemia provocou cansaço, exaustão emocional, tristeza. A exposição ao público causou percepção do risco de contaminação, medo, intensificação das tensões preexistentes com clientes e gestores. A categorização “trabalho essencial” associada a não priorização na vacinação mobilizou raiva, sentimento de injustiça, desvalorização e desamparo. A falta de reconhecimento acentua o sofrimento, leva à desmobilização subjetiva, abala a identidade e deteriora a saúde mental.
Conclusão: evidenciou-se a necessidade de dar a palavra, em contexto terapêutico e no espaço público coletivo, viabilizando a politização do discurso.
Palavras chave: Psiquiatria+ Psicologia+ Saúde Mental+ Saúde do Trabalhador+ Operação de Caixa de Supermercado+ Covid-19.
Abstract
Introduction: supermarket cashiers were considered essential and worked during the COVID-19 quarantine, but were not prioritized for the vaccine despite extreme exposure.
Objective: to investigate the subjective experiences of cashiers during the covid-19 pandemic.
Methods: descriptive, exploratory study with a qualitative approach. The subjects were cashiers of both sexes, from June to October 2021. Semi-structured interviews were conducted online to explore subjective aspects of the work. The recruitment took place in a Facebook group of the category. The comprehensive thematic analysis was based on the psychodynamics of work.
Results: supermarket cashier work is precarious. The pandemic caused fatigue, emotional exhaustion, sadness. Exposure to the public caused a perception of risk contamination, fear, intensification of preexisting tensions with customers and managers. The categorization of “essencial work” associated with not prioritizing vaccination mobilized anger, feelings of injustice, devaluation and helplessness. The lack of recognition accentuates suffering, leads to subjective demobilization, undermines identity and deteriorates mental health.
Conclusions: it is necessary to give the word, in a therapeutic context and in the collective public space, to people who work in supermarket cashier operations, enabling the politicization of the discourse.
Keywords: Psychiatry, Psychology, Mental Health, Occupational Health, Supermarket Cashier, COVID-19.
Introdução
A função de operação de caixa vem sendo estudada sobretudo na área da ergonomia. A literatura é escassa em relação ao ponto de vista subjetivo. Mélou1 reportou 31 produções brasileiras, entre 2007 e 2017, que a autora classificou da seguinte forma, considerando a área temática: Administração (quatro), Educação Física (uma), Enfermagem (uma), Engenharia de Produção (seis), Engenharia de Segurança do Trabalho (duas), Ergonomia (sete), Estudos da Linguagem (uma), Fisioterapia (quatro), Geografia (uma), Sociologia (uma), Trabalho e Gênero (três).
As tarefas da operação de caixa parecem simples, no entanto, são desgastantes2. As pessoas que as exercem estão submetidas a um fluxo intenso de trabalho, que exige rapidez e eficiência; elas vivem em constante pressão, submetidas a conflitos ligados ao atendimento cordial ao público3. Autores1,4,5 constatam que as pessoas que trabalham na operação dos caixas de supermercado são majoritariamente do sexo feminino e problematizam as consequências da divisão sexual do trabalho. Cardoso denuncia “a inferioridade, desigualdade, incapacidade e subalternidade conferida às mulheres” e aponta o supermercado como “reduto do trabalho feminino”6(p. 27, 31).
Soares7interessou-se pelo controle do corpo e das emoções no trabalho, e pelas qualificações invisíveis das trabalhadoras do setor de serviço no Canadá, notadamente as operadoras de caixa. Cruz4 estabeleceu um retrato das trabalhadoras portuguesas do setor supermercadista analisando a precariedade subjetiva. Cardoso6 analisou o cotidiano de trabalhadoras dos supermercados, do ponto de vista das atividades produtivas e reprodutivas, visando entender como o capital se apropria das habilidades femininas para se reproduzir. Delas são exigidas, para além de uma prestação de serviço eficiente e de qualidade, atitudes tidas socialmente como femininas, tais como: demonstrações de calma, atenção, afetividade para contornar e superar situações de conflito e insatisfação dos clientes. Mélou1 trouxe contribuições a respeito dos mecanismos de defesa e do reconhecimento e prazer no trabalho de operadoras, identificando principalmente: o riso, do qual se serviam para amenizar o relato das dificuldades, do sofrimento no trabalho e dos constrangimentos perpetrados por chefes e clientes e as crenças religiosas como forma de proteção contra as adversidades vivenciadas no exercício laboral.
O contexto da pandemia de covid-19 modificou grandemente a organização do setor de serviços, notadamente nos supermercados. Quando medidas de restrição de atividades, voltadas a conter a circulação do coronavírus, foram adotadas nos diferentes estados brasileiros8-11algumas categorias de trabalhadores, consideradas essenciais, podiam/deviam trabalhar. Consideraram-se essenciais os serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, que, se não atendidas, colocariam em risco a sobrevivência, saúde ou segurança da população12. Os trabalhadores de supermercados fizeram parte dessa categoria. Entretanto, quando o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a covid-19 foi estabelecido pelo Ministério da Saúde13, as pessoas que operam caixas de supermercados não foram priorizadas, como foram os profissionais da saúde, dos transportes coletivos, entre outros, ficando expostas ao risco de contaminação. Soares14 observou um aumento de 67% dos óbitos dentre trabalhadores da categoria, entre janeiro e fevereiro de 2020, pré-pandemia, e março 2021, que foi o segundo mês mais letal da pandemia no Brasil.
Considerando esse contexto, como foi para essas trabalhadoras e trabalhadores pegar transporte e trabalhar em um local onde estavam em contato com público, quando a maioria da população estava confinada e protegida em casa? Como vivenciaram a proximidade com os clientes? Como controlaram o medo de se contaminar e de contaminarem seus familiares? Que situações lhes marcaram?
O objetivo do presente estudo é investigar as vivências subjetivas de pessoas que trabalharam na operação de caixas de supermercado durante a pandemia de covid-19.
Métodos
Trata-se de estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa.
Os sujeitos foram pessoas que operavam caixas de supermercado, de ambos os sexos, que trabalharam durante o período de vigência de medidas de restrição aos espaços públicos devido à pandemia de covid-19, em supermercados de médio e grande porte, localizados nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná. Os critérios de inclusão foram: ter trabalhado na operação de caixa em supermercado de médio a grande porte, no primeiro semestre de 2020; ter no mínimo dois anos de experiência na função e ter 18 ou mais anos de idade. O número de participantes não foi predefinido; as entrevistas cessaram quando foram coletadas informações suficientes.
O convite à participação se deu por meio de mensagens enviadas em um grupo do Facebook, no qual pessoas que operam caixas se reuniam para compartilhar experiências. A entrevista semiestruturada seguiu um roteiro elaborado pelas autoras, contendo 22 questões abertas que abordavam questões sanitárias, mudanças na organização do trabalho, desempenho, motivação, sentimentos de medo, percepção do risco de contaminação, relatos de cenas marcantes. As trocas ocorreram on-line, no período de junho a outubro de 2021, tendo duração média de 20 a 50 minutos.
As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Para a análise de dados, adotou-se uma perspectiva compreensiva15, fundamentada principalmente nos conceitos da psicodinâmica do trabalho16 e da teoria do care17-20. As etapas analíticas foram: a) leitura primária do material para entendimento e organização; b) releituras visando extrair temas significativos para o estudo; c) síntese interpretativa das categorias empíricas e analíticas.
A pesquisa seguiu as recomendações da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde21 e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, CAAE nº 46711321.1.0000.5505, sob Parecer nº 4.737.918 de 27 de maio de 2021. Houve assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Sigilo e anonimato foram garantidos, bem como uma devolutiva aos participantes.
Resultados e discussão
Características da amostra estudada
O Quadro 1 sintetiza as principais informações que caracterizam a amostra estudada.

Participaram do estudo 11 mulheres e um homem. Apesar dos esforços das pesquisadoras para a obtenção de uma amostra equilibrada entre os sexos, a prevalência do sexo feminino é coerente com o perfil feminizado da profissão. Essa prevalência confirma a divisão sexual do trabalho, que ocorre tanto na esfera da produção quanto da reprodução e que separa o trabalho de homens e mulheres e os hierarquiza, valorizando mais o trabalho dos homens do que o das mulheres22. As mulheres são mais atingidas pela precariedade, pelo desemprego e pelo desalento do que os homens23. Como demonstraram os pesquisadores na área do care17,18,20, as mulheres são designadas às funções subalternas, subservientes, precarizadas, que valorizam as características naturalmente associadas ao gênero: paciência, delicadeza, abertura ao outro.
Do medo ao desamparo
As falas das pessoas entrevistadas confirmam que o trabalho se impõe como meio de subsistência para as mulheres das camadas menos privilegiadas24 (p. 71). A necessidade imperiosa de continuar trabalhando durante o período de restrição aos espaços públicos, apesar do medo, é um fator comum a todas as pessoas que trabalham com operação de caixa, sem exceção.
Eu exerço a função porque tenho necessidade [...]. Você tem medo, mas você vai fazer o quê? Vai ficar sem dinheiro? Sem renda, vai passar fome? (E4, F, 25a).
Eu sentia medo e raiva, porque eu tinha que estar lá, precisava do trabalho e não tinha escolha e as pessoas não respeitavam (E12, F, 39a).
As pessoas entrevistadas afirmam que as empresas ofereceram equipamentos de proteção. Todas relatam terem feito horas extras, retribuídas por banco de horas, para compensar aumento de frequentação e colegas afastadas por covid-19. A maioria relata cansaço extremo, agravado pelo medo.
No final do dia tô sempre cansada. Chego cansada, fico cansada, saio cansada. Uma canseira danada (E10, F, 45a).
Eu senti que fiquei mais cansado com a pandemia, porque eu tinha medo e também tinha mais trabalho pra fazer, porque os mercados ficaram lotados. Não tinha um minuto de pausa, sempre uma correria (E9, M, 30a).
Dez das 12 pessoas entrevistadas declararam sentir medo de serem acometidas pela covid-19. As outras duas falam de “crise de ansiedade” e de “ficar preocupada em contaminar os familiares”.
Ah, eu sentia medo. Bastante. [...]. Agora é muito medo. Com essa minha crise é muito medo (E3, F, 48a).
Ah, tem o medo. O medo de pegar e acontecer o pior... transmitir pra família... (E12, F, 39a).
O medo no trabalho é um perigo psíquico bastante comum, porém incompatível com o prosseguimento do trabalho, representando risco de acidentes ou paralisia. Se não for superado, o medo pode causar colapso, desmoronamento25.
Um dia me deu uma crise muito forte, eu fui parar no UPA [Unidade de Pronto Atendimento], uma crise de ansiedade muito forte. Eu tava com síndrome do pânico, estou, né (E3, F, 48a).
O medo e o desamparo, que também se manifestava como desespero, se acentuavam pelo fato de as pessoas que trabalham na operação de caixas estarem na linha de frente, durante o período de duração das medidas de restrição de atividades, quando todos estavam protegidos. Do ponto de vista da psicanálise, “o estado de desamparo é o protótipo da situação traumática geradora de angústia”26 (p. 112). Privação de amparo implica uma condição de abandono, solidão e esquecimento27. O medo não aparecia nas pesquisas com operadora(e)s pré-pandemia.
No caso das pessoas entrevistadas, o medo provocou “choro”, “pavor”, “vista escura”, “tensão” e “vontade de sair correndo”, de “sair dali”, e, também, reforçou os comportamentos de proteção, como lavar a mão, passar álcool e trocar de máscara frequentemente.
Atendimento ao público, relação com clientes e responsáveis e sofrimento subjetivo no trabalho
Autores1,5-7 apontam para as dificuldades do trabalho de atendimento ao público que provocam estresse e desgaste emocional. No caso das pessoas que operam caixas, a interação com os clientes ocupa um papel central7, além disso, funcionam como “para-choque organizacional”, garantindo a ligação entre empresa e clientes7.
As entrevistas revelaram que a maior fonte de sofrimento subjetivo no trabalho vem das relações interpessoais, principalmente com os clientes, mas também com os gerentes e, em menor medida, com colegas. Seguem exemplos.
O cliente sempre tem razão, você tem que ficar calado, porque se você responder você tá errado. Se o cliente grita, você tem que ver seu líder pedir desculpa pro cliente que foi errado. Quantas vezes eu fui maltratada e ver a chefe pedir desculpa, implorar pro cliente não deixar de ir lá. Não olhar minha dor, meu psicológico, o que aquilo tá me causando (E1, F, 39a).
O chefe mesmo quando tinha algum problema com cliente, nunca da moral pro funcionário, sempre pro cliente (E7, F, 21a).
A principal queixa relativa aos clientes é a maneira pela qual se comunicam, na qual identificam agressividade, humilhação, descaso, falta de empatia. A vivência da humilhação, da violência é expressa como uma mistura de dor e raiva, silenciada pelo medo de sanções ou mesmo demissão. Os constantes esforços para conter a dor e a revolta provocam exaustão28 (p. 506).
Como “o cliente sempre tem razão”, as pessoas que operam caixas não podem responder e ainda constatam que os responsáveis e gestores se colocam do lado do cliente e não as defendem, por mais que os clientes manifestem condutas inadequadas. Da mesma forma que as participantes deste estudo, as operadoras entrevistadas por Mélou1 (p. 117) afirmavam que o “cliente sempre tem razão” e “os superiores não resolviam nada. Achavam que o cliente tava certo e a gente que tava errada”. Essa tensão havia sido apontada por outros autores29-31; frente à hostilidade dos clientes, preferem calar-se por receio de perder o emprego. Na pandemia, o conflito ganha uma coloração particular, ligada ao uso da máscara e ao medo de morrer.
Cenas marcantes, clientes sem máscara, ameaça, abuso e trauma
A especificidade do discurso obtido nesta pesquisa se manifesta no que diz respeito às cenas marcantes relatadas, que, em quase todas as narrativas, se cristalizam em torno da questão da recusa dos clientes a usarem máscara.
Esse dia eu tava trabalhando muito triste e ele veio sem máscara e quando eu falei pra ele da importância dele usar máscara, que eu não poderia atender ele sem máscara, eu quase fui agredida. Disse em alto e bom tom que o vírus não existia, que era uma invenção política para derrubar nosso excelentíssimo presidente e que eu era uma fresca. Me marcou muito ser quase agredida por um cliente porque ele não queria usar a máscara de proteção [...]. Mas não foi a única vez… (E1, F, 39a).
A violência no trabalho é mais comum com mulheres, e algumas profissões são mais vulneráveis, como é o caso do trabalho na operação de caixas e vendas32. Soares5 identificou uma tendência social a invisibilizar tanto as competências emocionais e relacionais das trabalhadoras que exercem essas profissões, quanto a banalização da violência sofrida. A invisibilidade das pessoas que operam caixas de supermercado provém da natureza do trabalho, socialmente desvalorizado, repetitivo, com baixa exigência de qualificação, precarizado e mal remunerado33.
Trabalho invisível para dominar emoções e crises de choro
A exigência de receber o cliente com um sorriso é uma injunção de várias profissões do setor terciário, notadamente na operação de caixas7. Soares19 afirma que, para que a atividade laboral possa ser realizada, são necessárias a gestão das próprias emoções e a compreensão das emoções do outro. No entanto, esses esforços (não prescritos) são invisíveis aos olhos de gestores, e mesmo dos próprios clientes.
Em nove das 12 entrevistas, houve menção a episódios de choro. Seguem alguns exemplos.
E muitas vezes a gente se pega indo no banheiro chorar (E1, F, 39a).
O chefe mesmo quando tinha algum problema com cliente, nunca dá moral pro funcionário, sempre pro cliente. Aquilo ia me chateando e ia me cansando. E nos meus últimos dias lá, eles não podiam falar nada pra mim que eu já tava chorando, eu já não aceitava mais nada que eles falavam que era motivo de choro. Muitas vezes eu passei compra chorando (E7, F, 21a).
Se me falasse alguma coisa, eu não conseguia responder e não parava de chorar [...]. Em casa era normal, melhor que no mercado. [...]. E quando eu ficava estressada, eu começava a chorar, ia no banheiro, tomava uma água (E8, F, 23a).
As falas colocam em evidência que o choro aparece quando as pessoas que trabalham na operação de caixas ficam contrariadas, estressadas, frustradas, quando se sentem agredidas e quando não podiam responder às agressões verbais. Ao que parece, o choro serve como uma descarga de tensão/excitação que revela uma estratégia defensiva individual e relativamente pouco elaborada, regredida. É no banheiro que o choro acontece, provavelmente porque deve ficar na esfera privada e não ser publicizado, porque ele poderia ser malvisto por clientes, colegas e gestores.
Essa estratégia defensiva individualizada apareceu pontualmente nas operadoras de caixa que participaram da pesquisa de Mélou1, que sorriam, brincavam, por vezes gargalhavam quando relatavam os constrangimentos praticados pelas chefias e os embates com os clientes e quando se queixavam da precarização das condições de trabalho, da falta de reconhecimento, da pressão e das cobranças. A autora analisou que o riso não expressava alegria, mas servia como distanciamento, defesa coletiva, uma proteção por meio da eufemização do sofrimento psíquico e nomeou seu trabalho “Eu acho graça para não chorar”, retomando a fala de uma participante.
Muito embora a pesquisa de Mélou1 tenha sido realizada com método e referencial teórico semelhantes, os procedimentos, as características locais e a época apresentam suas especificidades que não autorizam uma comparação direta. Entretanto, caberia aqui questionar por que as pessoas que operam caixas entrevistadas na presente pesquisa se entregaram ao choro? De que forma a pandemia contribuiu para a desativação do sorriso prescrito ou defensivo? Nossa hipótese é que o cansaço, a exposição ao vírus, aliados ao medo da contaminação, os afastamentos e as mortes de colegas acentuaram as emoções negativas, a tristeza, o desamparo e o desespero provocaram uma desestruturação regressiva. Outras pesquisas serão necessárias para aprimorar a compreensão.
Essenciais da linha de frente abandonadas, deixadas à própria sorte (morte)
Outra especificidade do discurso das pessoas entrevistadas está relacionada ao fato de elas estarem na linha de frente, mas terem ficado para trás, quando não foram priorizadas no momento da vacinação, diferentemente de profissionais da saúde e motoristas, que foram vacinados. Nas falas a seguir fica claro o valor simbólico da vacina como forma de reconhecimento da importância, do valor do trabalho e da vida dessas pessoas, que lhes foi negado pela mesma sociedade que as considerou “essenciais” no momento da adoção das medidas de restrição de atividades.
E quando veio a vacina, simplesmente a gente foi abandonado, simplesmente fomos esquecidos. Quantas operadoras de caixa perderam suas vidas, quantas, como eu, trouxeram o vírus pra dentro de casa, eu trouxe, meu filho tá, eu tô. [...]. Mas talvez se eles tivessem lembrado da gente quando fechou tudo e colocou nós naquela fachada bonita de que nós era essencial, e dessem a vacina, muitas operadoras não teriam perdido a vida. [...]. A gente não entrou como prioridades, sendo que somos serviço essencial. [...] E foi muito decepcionante a gente não ter entrado no grupo prioritário, [...] porque a gente merecia, porque trabalhamos na linha de frente, a gente ligada com o público. [...] Um serviço que seria essencial, é malvisto, não fomos vistos. Fomos largados à própria sorte. Abandonados (E1, F, 39a).
A maioria das pessoas entrevistadas, com duas exceções, expressaram sentimentos negativos (“abandonado”; “decepcionante”; “a gente merecia”; “não se preocuparam com nossas vidas”; “é bem ruim, eu me sentia mal”; “fiquei revoltada”; “a gente se sente bem vulnerável, né?”; “desmotivada”) em relação ao fato de não terem sido consideradas prioritárias. A desigualdade social aqui aparece claramente, ainda que disfarçada com a hipocrisia do trabalho essencial, mas não valoroso o suficiente para ser priorizado no momento da distribuição das vacinas. Aqui vale retomar o questionamento de Martins34 (p. 3):
Em meio a tantas incertezas, uma certeza: enquanto persistirem estes padrões de desigualdade, são os trabalhadores, suas famílias e comunidades que vão sucumbir à covid-19. [...]. Mas que economia se salva, quando não há mais trabalhadores para fazê-la funcionar?
O fato de terem sido inicialmente tratadas como essenciais, provavelmente gerou um sentimento de reconhecimento e de retribuição do valor social do trabalho, que foi logo sobreposto pela constatação da não priorização no acesso à vacina e pela crua realidade da morte de colegas, que eram mães.
A gente enterrou uma colega de trabalho de 31 anos, cheia de sonhos; morreu trabalhando na linha de frente, e ninguém se lembra, ninguém… (E1, F, 39a).
Percebe-se aqui uma acentuação do fenômeno da “invisibilidade pública, desaparecimento intersubjetivo de um homem no meio de outros homens” conceitualizado por Costa35 (p. 48), que reflete a humilhação social e a reificação. A humilhação social é “expressão da desigualdade política, indicando a exclusão intersubjetiva de uma classe inteira de homens do âmbito político da iniciativa e da palavra, [...] e do diálogo, do governo da cidade e do governo do trabalho”35 (p. 48, grifos do autor). A reificação é o processo pelo qual o valor das pessoas, objetos, relações, instituições é determinado pelo valor econômico, o que faz com que a pessoa humana e as relações entre pessoas sejam mantidas à sombra, escamoteando o caráter humano do trabalho, do trabalhador e da consciência social que se faz deles socialmente35. A coisificação despoja os trabalhadores da sua essência humana, atrelada à expropriação da subjetividade que ocorre quando a correlação de forças capital-trabalho é desfavorável aos trabalhadores28,36. Note-se que as operadoras entrevistadas por Cruz4 (p. 583) também expressavam uma coisificação: “Para a empresa sinto-me um número; para 90% dos clientes sinto-me um scanner e para 10% sinto-me um ser humano que trabalha”.
Pesquisas pré-pandemia29,31evidenciaram a percepção de “descartabilidade” das pessoas que operam caixas, porém os riscos advindos com a pandemia conferem às vivências um tom dramático. Quando E1 e colegas referem a morte na linha de frente e o esquecimento de que são objeto, percebe-se a manifestação do sentimento de injustiça28 (p. 476), o que acaba tendo desdobramentos desfavoráveis, como tristeza, raiva, ressentimento, além de perturbações do sono, pela via psicossomática. A ausência de espaços de liberdade para diálogo e argumentação inviabiliza a negociação e a superação da injustiça.
Trabalho precarizado, profissão desvalorizada, categoria sofrida, funcionárias aniquiladas
O trabalho de operação de caixas de supermercado é considerado precário, fazendo parte da classe de pessoas que vivem do trabalho, que estão terceirizadas, temporárias, part time, que trabalham em plataformas digitais, proletariado rural, entre outros37. Segundo Nogueira e Carvalho38 (p. 36-37), o que define o trabalho precário é a presença de uma ou mais destas características: baixa remuneração, condições de trabalho insalubres e inseguras, jornadas de trabalho exaustivas, vínculo de trabalho sem proteção trabalhista, subordinação, ausência de cobertura social e insegurança quanto à manutenção da ocupação.
Entretanto, quando perguntadas sobre se consideravam seu trabalho precário ou não, as pessoas que participaram da pesquisa aquiesceram, porém, trouxeram uma visão subjetiva do que seria a precarização do seu trabalho, que associam com a desvalorização, como ilustram as falas a seguir.
O trabalho de operador de caixa é desvalorizado, é malvisto. [...] Precário, desvalorizado, né (E1, F, 39a).
Sim, o que eu faço, não, mas a profissão é desvalorizada como um todo. (...) Me senti desgastada, nada valorizada. [...]. Você se sente um nada (E4, F, 25a).
Sim, é uma profissão que ninguém liga, somos muito desvalorizados pelas gerências e pelos clientes também [...]. Eu senti que eu fiquei mais desmotivada, porque eu percebi e me sentia assim, pelo menos, uma funcionária qualquer (E7, F, 21a).
Esse é um resultado forte na pesquisa, que revela a apreciação negativa que as pessoas entrevistadas pensam que é feita de si mesmas e de sua profissão e que lhes causa sofrimento.
Para entender o fenômeno, recorremos à teoria da psicodinâmica do trabalho que esclarece o papel essencial do reconhecimento no trabalho na determinação do sentido do sofrimento e, em última instância, da construção ou crise de identidade, da realização (ou não) do ego e da saúde mental.
Não podendo gozar os benefícios do reconhecimento do seu trabalho nem alcançar assim o sentido de sua relação para com o trabalho, o sujeito se vê reconduzido ao seu sofrimento e somente a ele. Sofrimento absurdo, que não gera senão sofrimento, num círculo vicioso e dentro em breve desestruturante, capaz de desestabilizar a identidade e a personalidade e de levar à doença mental39 (p. 34-35).
Em contrapartida da contribuição que o sujeito oferece à organização do trabalho, ele espera não ser considerado um mero executante, confinado à obediência e passividade, e sim um sujeito que se esforça e que merece uma retribuição simbólica, ou seja, um reconhecimento que se manifestaria sob forma de uma constatação dos esforços empenhados, do trabalho realizado e de uma manifestação de gratidão em relação a esta contribuição da parte de chefias, colegas, clientes. A retribuição simbólica conferida pelo reconhecimento permite a construção de um sentido em relação ao sofrimento decorrente da confrontação ao real do trabalho, que pode levar a satisfação das expectativas subjetivas e à realização de si mesmo16 (p. 105-106).
A falta de reconhecimento, por outro lado, não permite a construção de sentido, acentua o sofrimento e pode levar à desmobilização subjetiva, à estagnação na frustração e ao questionamento identitário (“se sentir um nada”), que em seu paroxismo levaria à ruptura da saúde mental. A recusa do reconhecimento pode ser percebida pelas pessoas entrevistadas como uma negação ou um ataque à sua existência.
Não tem reconhecimento. [...]. As pessoas passam pela gente e é o mesmo que não ter passado. Somos um objeto pros clientes e também pra gestão (E9, M, 30a).
As pessoas acham que a gente é gado, tá lá pra servir e só. Não tem reconhecimento, [...]. Você é só uma funcionária que eles podem substituir a qualquer momento e sua vida não vale muito, porque é uma profissão que tá e é necessária em tudo, mas passa despercebida de tão comum que é (E11, F, 35a).
O adoecimento instaura-se quando trabalhadores não conseguem acionar, utilizar estratégias individuais e coletivas para superar o sofrimento agravado pelo não reconhecimento16. As referências ao acometimento por depressão e ansiedade após um tempo de trabalho na operação de caixa foram recorrentes, o que em alguns casos levou a afastamentos por motivos de saúde mental.
quando começou a pandemia, foi bem estressante. Continua sendo estressante… [...] o psicológico não tá aguentando mais [...] a gente foi perdendo amigo de trabalho que morreu decorrente do covid, tudo isso vai juntando… Quando você vê você já tá mergulhado num buraco, talvez sem volta. No meu caso não sei se é depressão, não sei se posso falar o nome depressão (E1, F, 39a).
O que é notável nas expressões utilizadas, notadamente “malvisto”, “humilhação”, “você se sente um nada”, “ninguém liga”, “uma funcionária qualquer”, “categoria sofrida”, “as pessoas acham que a gente é gado, tá lá pra servir e só”, “passa despercebida de tão comum que é”, é que apreciação negativa está relacionada com a relação de poder e dominação e com a reificação, a negação da humanidade ou mesmo da existência da pessoa que opera caixas de supermercado. A desvalorização, o desrespeito, a falta de reconhecimento não são próprios à pandemia, mas ganharam um componente mórbido com as contaminações por covid-19 que afetaram a categoria como um todo.
A necessidade de ser ouvida, ouvido e de falar individual e coletivamente
Notamos uma homogeneidade do discurso das pessoas entrevistadas, o que sugere que não se trata de uma problemática individual, e sim coletiva, ligada à organização do trabalho. A categoria está “sofrida”; algumas pessoas choram, estão entristecidas, outras adoecem, mas todas compartilharam cansaço, medo, submissão a atos violentos de clientes e não reconhecimento dos esforços, da dedicação.
Percebemos que, além de invisíveis e abandonadas, as pessoas entrevistadas estavam precisando encontrar interlocutores que as escutassem.
[...] a única pessoa que tá fazendo uma pesquisa é você (E1, F, 39a).
E é bom você dar visibilidade pra nós, porque ninguém lembrou de nós trabalhando no mercado (E5, F, 31a).
Essas falas, e tudo o que foi visto anteriormente, indicam que a verbalização das vivências que tiveram foi benéfica para quem participou, o que já havia sido apontado por Mélou1 e outros autores. O próximo passo seria oportunizar encontros que pudessem potencializar as trocas entre pares, o que não foi possível nesta pesquisa porque o acesso às operadoras e ao operador ocorreu em época de pandemia, e porque quem respondeu ao convite pertencia a instituições diferentes.
A retomada do processo de construção do sujeito através da promoção da passagem da palavra psicológica à palavra política – fazer técnico-profissional que implica uma clínica do trabalho específica, a qual não se limita a reconhecer a centralidade do trabalho como fator determinante para a retomada do referido processo, mas, além deste reconhecimento, também investe no trabalho como operador de saúde mental através da promoção da cidadania no próprio local de trabalho40 (p. 468-469).
Seria necessário dar visibilidade para a palavra das pessoas que operam caixas de supermercado, para que possamos reposicioná-las no espaço público e contribuir para a politização da categoria, destacando que não se trata de uma fragilidade individual, e sim de uma produção social e uma questão política.
Conclusão
O presente estudo apresenta as vivências de pessoas que trabalharam na operação de caixas de supermercado no contexto da pandemia de covid-19. O trabalho já era passível de tensão, frustração, exaustão emocional em tempos não pandêmicos. O contexto pandêmico intensificou essa tendência, tornando insuportável o que era suportável, transformando o riso defensivo em choro desamparado. A relação com os clientes é palco de conflitos, violências e humilhações, fonte de exaustão emocional e sofrimento, em tempos normais. Na pandemia, a tensão se acentuou no que se refere ao uso da máscara, que alguns clientes recusaram ostensivamente, colocando a vida dessas pessoas em risco. O fato de que a maioria das pessoas entrevistadas tenha contraído covid-19 e de colegas terem morrido colocou em evidência o risco que corriam, reforçando o sentimento de injustiça por serem trabalhadoras e trabalhadores essenciais abandonadas e abandonados no momento da vacinação, confirmando o pouco valor social atribuído à categoria.
Apesar de suas limitações inerentes ao estudo qualitativo, a pesquisa apontou para a necessidade de se pensar em políticas públicas de cuidado direcionadas às pessoas que trabalham na operação de caixa de supermercado e a outras categorias precarizadas, invisibilizadas e abandonadas à própria sorte (morte).
Agradecimentos
A todas as operadoras de caixa que participaram da pesquisa e responderam as entrevistas.
Referências
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Notes
Author notes
Conflict of interest declaration