Resumo
Objetivo: Avaliar a ocorrência da dor lombar em agentes comunitários de saúde (ACS).
Métodos: Estudo transversal, com dados coletados por meio de entrevistas com ACS, no Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest), Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Escores de dor lombar foram aferidos por meio do emprego do instrumento de avaliação Japanese Orthopaedic Association Back Pain Evaluation (JOABPEQ), com escore máximo de 100 e pontuações mais altas indicando menos dor lombar. A coleta de dados foi realizada entre agosto e outubro de 2018. A análise dos dados consistiu na descrição da frequência (absoluta e relativa) e no cálculo da média e desvio-padrão das variáveis numéricas.
Resultados: Participaram do estudo 675 ACS, 565 (83,7%) participantes do sexo feminino. Foram encontrados escores que indicam piores condições de saúde em relação à dor lombar no sexo feminino [53,98 x 66,40 (masculino)], em participantes com mais de 40 anos de idade [52,63 x 62,52 (≤ 30 anos)], casados [54,02 x 58,88 (solteiros)], que trabalham em mais de um emprego [50,55 x 56,56 (emprego único)], que possuem vínculo de trabalho efetivo [46,69 x 59,24 (outros vínculos)], com mais de cinco anos de trabalho na área da saúde [49,06 x 62,80 (menos de um ano)] e como ACS [48,42 x 64,25 (menos de um ano)].
Conclusão: Constatou-se que os ACS com maior tempo de atuação na função e na área da saúde apresentaram escores que indicam um impacto negativo da dor lombar, evidenciando os fatores de risco associados à profissão.
Palavras-chave: Agentes Comunitários de Saúde, Saúde do Trabalhador, Dor Lombar, Riscos Ocupacionais.
Abstract
Objective: To evaluate low back pain in community health agents (CHA) and its associated factors.
Methods: Cross-sectional study with a sample of 675 CHA. The presence of low back pain was assessed using the Japanese Orthopaedic Association Back Pain Evaluation (JOABPEQ) instrument, with a maximum score of 100, where higher scores indicate less low back pain. Data collection took place between August and October 2018 at the Regional Reference Center for Occupational Health (Cerest) in Montes Claros, Minas Gerais, Brazil. The data analysis consisted of describing the frequency (absolute and relative) and calculating the mean and standard deviation of the numerical variables.
Results: A total of 675 CHA participated in the study, 565 (83.7%) of whom were female. Scores indicating worse health conditions related to low back pain were found among females [53.98 vs. 66.40 (males)], participants over 40 years old [52.63 vs. 62.52 (≤ 30 years)], married individuals [54.02 vs. 58.88 (single)], those working multiple jobs [50.55 vs. 56.56 (single job)], individuals with permanent employment contracts [46.69 vs. 59.24 (other contracts)], those with more than five years of experience in healthcare [49.06 vs. 62.80 (less than one year)], and those with over five years as CHA [48.42 vs. 64.25 (less than one year)].
Conclusion: It was found that CHA with longer tenure in the role and in the healthcare field had scores indicating a negative impact of low back pain, highlighting the risk factors associated with the profession.
Keywords: Community Health Agents, Occupational Health, Low Back Pain, Occupational Hazards.
Artigo de pesquisa
Avaliação da dor lombar em agentes comunitários de saúde do norte de Minas Gerais, Brasil
Assessment of lumbar pain in community health agents from the north of Minas Gerais State, Brazil
Received: 10 March 2023
Revised document received: 10 December 2023
Accepted: 18 January 2024
De acordo com o Ministério da Saúde, na efetivação da atenção primária no Brasil, o agente comunitário de saúde (ACS) desempenha um papel de integração entre a unidade básica de saúde e a comunidade1. Devido à crescente expansão da Estratégia de saúde da família (ESF), os ACS são a ponte entre a comunidade e os serviços no que tange à abordagem da doença, ao reconhecimento e à identificação de problemas, encaminhamentos e acompanhamento de todas as atividades relacionadas à promoção da saúde daquela comunidade1.
Em seu cotidiano laboral, os ACS estão expostos a contaminantes, a risco de acidentes, ritmo de trabalho acelerado e a longos períodos de exposição ao sol. Além disso, enfrentam deslocamentos a pé, muitas vezes em locais de difícil acesso, portando bolsas ou mochilas com os materiais necessários. Tais demandas físicas podem estar associadas a queixas de dor lombar. Estudo prévio identificou prevalência de dor lombar entre ACS de 65,9% nos 12 meses anteriores à entrevista2. Esses resultados são convergentes com a literatura3-5. Entre os fatores que impactam negativamente a qualidade de vida dos ACS, os autores citam falta de suporte e planejamento, acúmulo de funções e demasiado envolvimento com os problemas dos pacientes6.
A realidade de trabalho dos ACS ainda pode desencadear sentimentos de insatisfação com o trabalho. Frequentemente, há relatos de pouco reconhecimento quanto ao trabalho desenvolvido. Falta de materiais básicos para o desempenho de suas funções, exposição a riscos que interferem em sua saúde, demandas excessivas vinculadas às diversas atribuições diárias podem causar desgaste tanto físico quanto mental7.
A região lombar estende-se da 12ª costela até a crista ilíaca8. De modo geral, a dor nesta região é uma condição frequente de atendimentos ortopédicos. Estima-se que aproximadamente 80% da população mundial apresentará pelo menos um episódio de dor lombar durante a vida9. Entre os fatores associados, estão: sedentarismo, obesidade, fatores genéticos, sexo feminino, tabagismo, lesões traumáticas, riscos ocupacionais, ansiedade e depressão8.
A prevalência de problemas relacionados à coluna vertebral aumentou nas últimas décadas, causando incapacidade para o trabalho, perda de qualidade de vida, decréscimo no desempenho de atividades da vida diária e absenteísmo. Nesse cenário, são elevados os custos relacionados a assistência às pessoas com o problema. Além disso, em razão da incapacidade, observam-se consequências sobre a produtividade no ambiente ocupacional10,11.
Entre ACS, admite-se que essa condição compromete a qualidade dos serviços prestados para a comunidade11. Apesar da crescente literatura no tema, são escassos os resultados em amostras de ACS. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a presença de dor lombar nos ACS atuantes em Montes Claros, Minas Gerais.
Trata-se de um estudo transversal, que teve como participantes ACS em atuação nas ESF do município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, realizado em 2018. Destaca-se que o estudo foi elaborado conforme o checklist Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).
No período do estudo, havia 135 equipes de ESF no município com 797 ACS12. Optou-se por uma abordagem censitária, na qual todos os ACS foram convidados a participar do estudo. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas face a face realizadas por profissionais de saúde e alunos de iniciação científica, no Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Montes Claros, no período entre agosto e outubro de 2018.
Como critério de inclusão, considerou-se atuar nas ESF há pelo menos seis meses, e os critérios de exclusão foram: estar afastado, em desvio de função ou licença médica.
A variável desfecho foi o escore de dor lombar, mensurado por meio do questionário Japanese Orthopaedic Association Back Pain Evaluation Questionare (JOABPEQ)13.
As variáveis de interesse foram referentes a:
O escore de dor lombar foi obtido a partir da aplicação do JOABPEQ, um instrumento, validado no Brasil com medidas psicométricas, validade de construto15 e validade estrutural (itens e domínios) adequadas16. O instrumento é composto por 25 itens organizados em cinco subescalas: dor lombar, função lombar, deambulação, função na vida social e saúde mental. Cada subescala deve ser avaliada de forma independente, com amplitude de pontuação de 0 a 100, sendo que escores mais altos representam melhores condições do paciente. O questionário apresenta, ainda, três escalas para avaliação do grau de dor nas costas, dor nos glúteos ou pernas e dormência nos glúteos ou pernas. A pontuação das escalas varia de 0 a 10 pontos, sendo que quanto maior a pontuação, maior a intensidade da dor13,15,16. Os participantes do estudo foram avaliados com o instrumento completo (25 itens e as três escalas de avaliação do grau de dor).
Para evitar possíveis vieses no estudo, foram realizados a capacitação e o treinamento dos entrevistadores e a calibração para a realização da coleta de dados. Após a digitação do banco de dados, foi efetuada a sua validação por dois pesquisadores independentes (controle de qualidade e checagem de consistência). Todas as medidas para minimizar perdas foram tomadas: os ACS foram liberados das atividades laborais no dia da coleta de dados, conforme agendamento acordado entre a equipe e a gestão municipal. Realizou-se, ainda, uma segunda chamada para os ACS que tiveram impedimentos nos dias marcados.
As características sociodemográficas, ocupacionais, prática de atividade física e sedentarismo foram descritas por meio da frequência absoluta e relativa, ou da média e desvio-padrão, quando aplicável. Os itens que compõem o JOABPEQ, classificados como variáveis numéricas, foram analisados utilizando média e desvio-padrão. Devido à adoção de uma amostragem censitária, não foram aplicados testes de inferência estatística. As análises dos dados foram apoiadas com uso do software IBM SPSS Statistics 24.
Este estudo foi realizado com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (#2.425.756/CAAE nº 80729817.0.00005146), em 8 de dezembro de 2017. Todos os participantes concordaram com as informações existentes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e assinaram esse termo.
Do total de ACS (n = 797) no município de Montes Claros, 675 (87,2%) participaram do estudo e 122 (15,3%) não se enquadravam nos critérios de participação. Dentre os participantes, 565 (83,7%) eram do sexo feminino, a maior parte (37%) se encontrava na faixa etária de 31 a 40 anos e a média de idade foi de 36,7 (dp = 9,85) anos. A maioria (56,7%) tinha nível fundamental ou médio de escolaridade, e a renda média foi de 2,42 (dp = 1,18) salários mínimos vigentes em 2018. A maioria vivia com um companheiro(a) (59,7%), era da cor parda (70,7%) e não tinha formação na área da saúde (64,3%). Em relação às características ocupacionais, a maior parte tinha mais de cinco anos como ACS (43,4%), trabalhava em jornada de trabalho de 40 horas semanais (93,8%), não era efetivo (74,1%) e não trabalhava em outro emprego (90,4%) e acompanhava uma média de 120,89 (dp = 41,94) famílias. Observou-se que a maioria praticava 150 minutos ou mais de atividade física por semana (67,7%) (Tabela 1).

Foram encontrados escores menores, que indicam piores condições de saúde, no sexo feminino, em participantes com mais idade, casados, que trabalham em mais de um emprego, que possuem vínculo de trabalho efetivo, com maior tempo de trabalho na área da saúde e como ACS. Os participantes que praticavam mais de 150 minutos de exercício físico por semana apresentaram piores escores nos domínios dor lombar, função lombar e função na vida social. Em relação ao tempo total sentado no período de uma semana, a diferença entre as médias dos que ficam até 500 minutos e mais de 500 minutos foi pequena (Tabela 2).

A Tabela 3 apresenta a média e desvio-padrão do grau de dor nas costas, glúteos ou pernas e dormência nos glúteos ou pernas dos trabalhadores estudados. Observou-se, nos três itens, maiores médias no sexo feminino, em pacientes com 41 anos ou mais e em pacientes fisicamente ativos. Quanto ao tempo de atuação na área da saúde e como ACS, observou-se valores crescentes conforme aumenta o tempo de atuação. Além disso, os ACS que acompanham mais de 120 famílias, relataram maiores níveis de dor nas costas, glúteos e pernas, no entanto, em relação à dormência não houve diferença em relação ao número de famílias acompanhadas.

Este estudo analisou fatores relacionados à dor lombar em ACS. Destaca-se que pacientes do sexo feminino apresentaram resultados que indicam maior intensidade de dor lombar. Houve um aumento crescente de dor lombar conforme o aumento da idade e do tempo de atuação na área da saúde e exercendo a função de ACS. Além disso, pacientes com mais de um emprego e que acompanham maior número de famílias também apresentaram maior impacto causado pela dor lombar.
Observou-se que os participantes deste estudo apresentaram um perfil sociodemográfico semelhante ao encontrado em estudos realizados em outras regiões do Brasil17,18, com maioria de mulheres, na faixa etária entre 31 e 40 anos, vivendo com companheiro(a), nível fundamental ou médio de escolaridade e com mais de três anos de atuação como ACS.
Os escores obtidos em todos os domínios de avaliação indicam maior prejuízo da dor lombar em mulheres quando comparadas aos homens. Esse resultado é consistente com a literatura19-21. A probabilidade de dor crônica na região lombar e em outras partes do corpo foi maior nas mulheres22.
As diferenças de sexo na manifestação de dor podem ser explicadas por diversos fatores. As desigualdades nos papéis sociais, por exemplo, levam frequentemente ao desencorajamento da demonstração de dor por homens, enquanto sintomas de transtornos mentais como ansiedade e depressão, mais prevalentes em mulheres, associam-se a dores no corpo. Outras interpretações sobre a maior prevalência nas mulheres são citadas na literatura, como: alterações hormonais, estratégias de enfrentamento a dor, dupla jornada de trabalho e tarefas repetitivas23.
Os participantes com 31 anos ou mais relataram níveis mais elevados de dor em todos os domínios do instrumento. Este achado corrobora os resultados de outras pesquisas24,25. O avanço da idade emerge como um fator de risco para o desenvolvimento de dor lombar, pois o processo de envelhecimento contribui para desgastes nas estruturas osteomusculares26. Entretanto, estudos indicam que o risco é maior em adultos em idade produtiva, com uma possível diminuição a partir da sexta década de vida24.
Em relação à escolaridade, os participantes com nível fundamental/médio apresentaram escores que indicam maior prejuízo na dor lombar, função lombar, deambulação e função na vida social. Estudo que avaliou a qualidade de vida de ACS observou uma diminuição da qualidade de vida quando associada à dor27. Ressalta-se que maiores níveis de escolaridade estão associados a uma melhor compreensão dos fatores que podem levar ao adoecimento, fazendo com que o indivíduo tenha maior cuidado em relação à sua saúde28.
Estar casado ou em união estável foi uma variável que apresentou desvantagem em relação aos solteiros e divorciados, em todos os itens de avaliação. Resultado semelhante foi observado em outros estudos3,29. Destaca-se que, possivelmente, o maior risco para o desenvolvimento da dor lombar não esteja associado diretamente ao estado civil, mas ao acúmulo de tarefas domésticas com a jornada de trabalho profissional, ambas com riscos ergonômicos, principalmente neste contexto em que a maioria é de mulheres que geralmente realizam mais tarefas domésticas3.
Quanto ao tempo de atuação na saúde e como ACS, verificou-se que aqueles que exerciam a profissão há mais de cinco anos apresentaram escores que indicavam maior intensidade dos sintomas em todos os domínios de avaliação do instrumento, sendo que quanto maior o tempo de atuação, maior o prejuízo nos itens avaliados, pois o escore diminui conforme o tempo de atuação aumenta.
A literatura científica tem evidenciado fatores de risco na rotina de trabalho dos ACS associados a manifestação de dor lombar, incluindo a necessidade de percorrer distâncias a pé para realizar as visitas domiciliares; tempo de permanência em pé; peso das mochilas com os prontuários e fichas necessários ao trabalho; uso de calçados inadequados; sobrecarga de trabalho; e postura incorreta durante o tempo em que permanecem sentados durante as visitas domiciliares6,30.
Um estudo transversal3 realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre 2008 e 2009, que avaliou profissionais de saúde, encontrou prevalência de 59,6% de dor nos braços, pernas ou costas em ACS, associada aos deslocamentos diários por longas distâncias em sua jornada de trabalho. Pesquisa semelhante4, realizada em 2011 no município de Jequié, Bahia, que avaliou dor musculoesquelética em ACS, encontrou prevalência maior, 84,8%, mostrando que o trabalho do ACS possui características de exposição a riscos biomecânicos que podem levar ao surgimento de dores pelo corpo. Em outro estudo realizado com ACS em Minas Gerais, 82,98% relataram sintomas osteomusculares nos últimos sete dias e 93,62% nos últimos 12 meses5. Estes resultados reforçam os achados deste estudo em relação ao tempo de atuação e potencial ocorrência de dor lombar.
De maneira controversa, os ACS com carga horária mais reduzida exibiram escores que indicam uma dor lombar mais intensa. Considerando que a dor lombar pode ser influenciada por fatores no ambiente de trabalho, bem como por hábitos fora desse contexto, a relação entre carga horária, a função de ACS e a dor lombar parece complexa, requerendo uma análise mais aprofundada para identificar os determinantes precisos dessa associação aparentemente contraditória.
No que diz respeito ao tipo de vínculo dos ACS, os efetivos apresentaram maior prejuízo em todos os domínios de avaliação quando comparados aos contratados. A estabilidade no trabalho dos efetivos possibilita a permanência na função por maior tempo e consequentemente maior exposição aos riscos ocupacionais.
A prática de atividade física é apontada em diversos estudos como um fator protetor para as dores na coluna3,31,32, entretanto, nesta investigação, os fisicamente ativos (aquele que praticavam 150 minutos ou mais de atividade física semanal) apresentaram escores que indicam maior intensidade de dor lombar. Outro resultado controverso foi em relação à variável “tempo total sentado em uma semana”, na qual os que relataram passar menos tempo sentado apresentaram piores escores no item deambulação, no entanto, estudos33-35 mostram que o sedentarismo é um fator de risco para a dor lombar.
Quanto aos resultados referentes à atividade física, salienta-se que neste estudo a avaliação limitou-se ao tempo de atividade física, não sendo avaliada a qualidade, o tipo e a intensidade do exercício praticado. Essa limitação pode explicar a divergência dos resultados com a literatura. Destaca-se também que os ACS estão expostos a riscos ocupacionais que podem estar associados a dor lombar nas suas atividades diárias e, talvez, mesmo praticando atividade física, os sintomas persistam. Ressalta-se ainda que o desenho deste estudo não permite estabelecer uma relação de temporalidade entre a dor lombar e as variáveis analisadas, neste sentido, pacientes com dor lombar podem ser mais ativos fisicamente como forma de tratamento para a dor.
Não há estudos conhecidos que tenham avaliado a dor lombar em ACS por meio do JOABPEQ, tornando impossível a comparação dos resultados com a literatura científica em relação à avaliação do grau de dor nas costas, dor nos glúteos ou pernas e dormência nos glúteos ou pernas. No entanto, é importante destacar que, quanto maior o escore, maior o grau de dor. No caso específico deste estudo, as médias apresentadas pelos ACS nas escalas mencionadas foram relativamente baixas.
O presente estudo apresentou limitações: o desenho do estudo, transversal, que não permite estabelecer uma relação de temporalidade entre o desfecho e as variáveis de interesse; a amostra que, apesar de ser censitária, foi restrita a profissionais de uma cidade; não foi realizada uma análise multivariada para identificar variáveis confundidoras, o que diminui a precisão de interpretação da associação entre as variáveis do estudo e a dor lombar; e o viés do trabalhador sadio36, que pode subestimar os achados do estudo, pois os ACS com dor lombar poderiam estar afastados dos serviços e não serem alcançados pela pesquisa. No entanto, ressalta-se o caráter inédito deste trabalho, pois outros estudos que avaliaram a dor lombar em ACS na região em que a pesquisa foi realizada são desconhecidos.
Este estudo avaliou a dor lombar em ACS, mostrando que trabalhadores do sexo feminino, com idade mais avançada, casados, que trabalhavam em mais de um emprego, com vínculo de trabalho efetivo, com maior tempo de trabalho na área da saúde e como ACS apresentaram escores que indicam um impacto negativo da dor lombar, corroborando o que a literatura tem evidenciado sobre os fatores de risco associados à profissão em questão. A compreensão dessas variáveis permite uma abordagem mais individualizada da dor, aumentando a consciência sobre seus impactos. Para os serviços de saúde, esses achados destacam a necessidade de estratégias preventivas e assistenciais, como medidas ergonômicas, programas de reabilitação e suporte ocupacional, visando reduzir afastamentos, melhorar a qualidade do atendimento e promover a saúde dos profissionais.
Considerando a dor lombar crônica como um fator marcante na qualidade de vida e produtividade, é necessário implementar de estratégias de redução dos riscos ocupacionais encontrados na prática laboral dos ACS para a minimização dos efeitos da dor lombar, com objetivo de aprimorar a produtividade no trabalho, melhorar a execução de atividades da vida diária no ambiente familiar, consequentemente concorrendo para uma melhora da autoestima, autopercepção de saúde, qualidade e estilo de vida.
Contato: Fabrício Emanuel Soares de Oliveira; E-mail: fabricio.oliveira@facisaunai.edu.br


