Artigos originais
Recepção: 31 Agosto 2015
Aprovação: 12 Dezembro 2016
DOI: https://doi.org/10.18472/cvt.17n1.2017.1085
Resumo: A atividade turística é o uso mais recente do território protegido da Ilha Grande, distrito de Angra dos Reis, localizado no sul do estado do Rio de Janeiro. De acordo com o zoneamento turístico municipal, esse território insular denomina-se Corredor Turístico da Ilha Grande onde os atrativos históricos, culturais e naturais são explorados. O objetivo principal da pesquisa é inventariar os patrimônios histórico-culturais e geológico-geomorfológicos da Vila de Abraão para subsidiar propostas de planejamento na perspectiva do geoturismo fundamentadas no paradigma integrador de Dèpraz (2008). A metodologia baseia-se na inventariação do patrimônio de acordo com Brilha (2010) e nas categorias de análise de Gomes (2013), essenciais para compreender o espaço geográfico e as imagens espontaneamente observadas. Os conceitos de geodiversidade, geoconservação e geoturismo são essenciais nessa análise em que o circuito proposto apresenta elementos naturais e construídos, marcos ou símbolos dos territórios do cárcere e da proteção natural. Os principais resultados obtidos são o registro e georreferenciamento do percurso das trilhas T1 (Circuito Abraão) e T2 (Abraão-Saco do Céu) e a descrição do patrimônio com seu respectivo nome geográfico ou geônimo.
Palavras-chave: Patrimônio, Unidade de Conservação, Turismo.
Abstract: The tourist activity is the most recent use of the protected territory of Ilha Grande, Angra dos Reis District, which is located in the south of the state of Rio de Janeiro. According to the town tourist zoning, this island territory is called The Tourist Corridor of Ilha Grande, where the historical, cultural and natural attractions are explored. The geomorphological heritage of Vila do Abraão, to support planning proposals in the perspective of geoturism based on the integrating paradigm of Depraz (2008). The methodology is based on an inventory of the assets according to Brilha (2010) and on the analysis categories of Gomes (2013), both essential to understand the geographic space and the spontaneously observed images. The concepts of geodiversity, geoconservation main goal of this research is to identify the historical-cultural and the geological- and geotourism are essential in this analysis in which the proposed circuit presents natural and built elements, milestones or symbols of prison territories and natural protection. The main results obtained are the registration and georeferencing of the route of the trails T1 (Circuit Abraão) and T2 (Abraão-Saco do Céu) and the description of the patrimony with its geographical name or geonym.
Keywords: Patrimony, Unit of Conservation, Tourism.
Resumen: La actividad turística es el último uso del territorio protegido de Ilha Grande, Angra dos Reis y distrito ubicado en el sureño estado de Río de Janeiro. De acuerdo con la zonificación municipal de turismo, este territorio de la isla se llama el corredor turístico de Ilha Grande, donde se exploran los lugares de interés histórico, cultural y natural. El objetivo principal de la investigación es identificar el patrimonio cultural e histórico y geológico y geomorfológico del pueblo de Abrahão para subvencionar las propuestas de planificación en perspectiva geoturismo basado en el paradigma integrador Depráz (2008). La metodología se basa en el inventario de los activos de acuerdo Brilha (2010) y Gomes en categorías de análisis (2013), esencial para comprender el espacio geográfico y las imágenes de forma espontánea observados. Los conceptos de la geodiversidad, geoconservación y geoturismo son esenciales en este análisis que el circuito propuesto cuenta con elementos naturales y artificiales, señales o símbolos de los territorios de la prisión y la protección natural. Los principales resultados son el registro y la georreferenciación de la ruta de las pistas T1 (Circuito Abrahão) y T2 (Abrahão-Saco do Céu) y los activos de la descripción con su respectivo nombre geográfico o geônimo.
Palabras clave: :Patrimonio, Unidad de Conservación, Turismo.
Introdução
A Ilha Grande, distrito de Angra dos Reis, localiza-se na Baía da Ilha Grande entre as coordenadas 22°50´- 23°20´S, 44°00´ - 44°45´W, litoral sul do estado do Rio de Janeiro (Figura 1). Maior ilha do estado e a terceira do país possui área de 187 km² de acordo com a Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, muito embora outros órgãos considerem a área de aproximadamente 193 km² de extensão.
A população da ilha encontra-se distribuída em 20 localidades de características bastante diferenciadas, tanto na perspectiva socioeconômica, quanto na de ocupação urbanística.Os dados do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a ilha abriga uma população de aproximadamente 5.021 habitantes e evidenciam uma concentração na enseada de Abraão de cerca de 1.971 habitantes, seguida de Provetá com 1.065 habitantes.
Como a Vila do Abraão abriga a maior parte da população do território insular e é considerada “capital” da ilha, foi escolhida como recorte espacial de análise desta pesquisa. O Circuito de Trilhas Abraão – Saco do Céu (Figura 2) é visitado regularmente por turistas de diferentes nacionalidades e apresenta atrativos turísticos tais como: Mirante da Praia Preta, Mirante do Aqueduto, Poção, Aqueduto, Ruínas do Lazareto, Cachoeira da Feiticeira, Córrego Saco do Céu e Praias Camiranga, Iguaçu e Feiticeira.
Esse ambiente insular é de extrema fragilidade ante os fatores dos meios físico ou socioeconômico e constitui-se no desafio do planejamento territorial na perspectiva de paradigma integrador ou sistêmico considerando a atual estruturação turística e modelo gestor político-administrativo ou mesmo o de proteção ambiental. Nessa perspectiva, os estudos que antecederam essa pesquisa corroboram o diagnóstico socioambiental das enseadas e dos pontos considerados como atrativos turísticos.
De acordo com Gama et al.(2006), entre os problemas mais graves da ilha estão os de infraestrutura e os de impactos ambientais. O saneamento básico, o fornecimento de água, energia e telefonia e o sistema de coleta de lixo, por exemplo, não atendem à demanda da população fixa ou da população flutuante (temporadas). A ocorrência de impactos ambientais negativos, tais como erosão, compactação do solo, sedimentação, poluição das águas e praias, acentua o processo de degradação e fragiliza a dinâmica ambiental da ilha.
Somando-se a esse aspecto, Dutra (2008) aponta conflitos ou contradições entre os diversos atores sociais presentes na ilha, destacando-se aqueles entre a população local nativa e não nativa (devido à diferença de oportunidades em relação aos empregos associados à atividade turística), entre as esferas de governo e instituições públicas responsáveis pela preservação e manutenção das diferentes unidades de conservação (Federação, Estado, Município), entre os grupos hoteleiros e pousadeiros (devido à presença de investidores e empresários que não são da ilha), barqueiros e órgãos fiscalizadores e entre o poder público e as organizações não governamentais.
Xavier (2009) e Amorim (2009) investigaram a questão da ilha enquanto território cárcere e território protegido, pois, por muitas décadas foi chamada de “Caldeirão do Diabo” e mais recentemente passou a ser chamada de “Paraíso Ecológico”.
Rosa (2010) identificou que grande parte do território da ilha apresenta fragilidade ambiental de graus médio, alto e muito alto. Vale destacar que o meio ambiente apresenta maior ou menor fragilidade em função de suas características “genéticas” e qualquer alteração nos componentes que integram a natureza (relevo, solo, geologia, vegetação e recursos hídricos) pode acarretar o comprometimento da funcionalidade do sistema, influenciando o seu estado de equilíbrio dinâmico. Portanto, a fragilidade de um ambiente está diretamente ligada aos aspectos físicos ante as atividades humanas que, no caso da ilha, pode estar associada ao turismo local.
Freire (2011) enfatizou as novas dinâmicas espaciais em função da atividade econômica do turismo e questiona se a reconfiguração da ilha se dá a partir da expansão ou substituição por novas territorialidades ou mesmo como território turístico.
Pereira (2013) associou a vulnerabilidade ambiental, em parte atribuída à atividade do turismo, à estrutura político-administrativa vigente em que a gestão encontra-se segmentada entre estado e município.
Kaliki (2014) e Minda (2014) destacaram os impactos em trilhas decorrentes da visitação em diferentes setores da ilha e, mais recentemente, Rodrigues (2015) e Farias et al. (2015) exploraram os aspectos e consequências da visitação pública às trilhas Abraão – Lopes Mendes e ao Circuito do Abraão, consideradas pontos atrativos de turismo.
O objetivo principal desta pesquisa é inventariar os patrimônios histórico-culturais e geológico-geomorfológicos da Vila de Abraão para subsidiar propostas de planejamento territorial na perspectiva do geoturismo, ou seja, outra dimensão da atividade turística que vai além da apreciação estética de acordo com Hose (1995). Essas propostas estão fundamentadas no paradigma integrador de áreas protegidas de acordo com Depraz (2008) bem como a análise ambiental de acordo com Santos (2004) e Ross (2006). A metodologia baseia-se na inventariação do patrimônio de acordo com Brilha (2010) e nas categorias de análise de Gomes (2013), essenciais para compreender o espaço geográfico e as imagens espontaneamente observadas. Ressalta-se que é uma pesquisa em desenvolvimento dentro do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Planejamento Territorial (NEPPT) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Por se tratar da visibilidade de elementos geoturísticos de uma dada área, torna-se coerente a abordagem de Gomes (2013), na qual identifica algumas categorias de análise: ponto de vista, composição e exposição constituídas originalmente por meio de uma dimensão espacial. A categoria ponto de vista é um dispositivo espacial que, em seu sentido concreto, é usado para designar lugares que ofereçam uma visão panorâmica, de onde se pode observar uma paisagem. Contudo, essa categoria tem também um sentido metafórico de opinião. Quando observamos a paisagem, escolhemos a posição do nosso olhar e como olhar e desse modo acabamos por determinar o ângulo, a direção, a distância, entre outros atributos posicionais. De acordo com Gomes, “a expressão estabelece uma relação direta entre o observador e aquilo que está sendo observado. [...] A situação espacial permite ao observador ver algo que de outro lugar não seria visível para ele da mesma forma” (GOMES, 2013, p.19). Já a categoria composição é o conjunto estruturado de cores, formas ou coisas, resultado de uma combinação que gera algo novo, formado pela junção de diversos elementos que possui um aspecto essencial, o jogo de posições. A forma de dispersão desses dados dará origem ao novo elemento e corresponde a sua espacialidade. Segundo Gomes, a paisagem é sempre uma composição. Formas do relevo, diferentes tipos de cobertura vegetal, ocupação das terras, entre outros elementos se associam de modo original e configuram uma paisagem. E pela categoria exposição, tem-se a questão voltada para a posição de exterioridade. O autor coloca a importância de se compreender as coisas segundo uma classificação que institui o que deve ser exibido e o que deve ser escondido. De acordo com Gomes (2013):
Lugares de exposição são lugares de grande e legítima visibilidade. O que ali se coloca tem um comprometimento fundamental com a ideia de que deve ser visto, olhado, observado, apreciado, julgado. Isso também significa dizer que socialmente estabelecemos lugares onde essa visibilidade deve ser praticada, segundo complexas escalas de valores e significações. [...] Dessa maneira, as dinâmicas que afetam a visibilidade, aquilo que deve ser reunido na compreensão da vida social. Essa constatação já poderia ser uma justificativa suficiente para a afirmação da relevância do olhar geográfico. (GOMES, 2013, p. 23).
Portanto, no Circuito Abraão – Saco do Céu tais categorias são a base para a inventariação e determinação dos patrimônios histórico-culturais e geológico-geomorfológicos que, aliados aos conceitos de visibilidade e de paisagem subsidiarão a análise pretendida. O conceito de visibilidade depende da morfologia do sítio, da existência de um público e da produção de uma narrativa dentro da qual aquela coisa, pessoa ou fenômeno encontra sentido, merecendo, assim, destaque. A cartografia do olhar (tipo de espaço, lugar ocupado e rede de relações dessa posição) pode atuar como critério que guia o olhar e o interesse, conferindo diferentes graus de visibilidade às coisas. O conceito de paisagem apresenta uma dimensão composicional, ou seja, o de associar as coisas pela posição em que se encontram. Essa associação é uma das bases do raciocínio geográfico, também definidas pelo ponto de vista ou o enquadramento do olhar, seu delimitador. Dependendo da posição em que nos encontramos, do ângulo e da distância, diferentes coisas aparecerão e podem parecer mais ou menos importantes que outras. Por último, o conceito de espaço que o autor chama atenção sobre a dificuldade de definição:
Na geografia passamos, às vezes, horas argumentando, escrevemos muitas páginas para tentar dizer que o espaço não é um mero reflexo da sociedade, que ele não é determinado por ela, ele é uma condição necessária para que a sociedade se organize e consiga viver sob determinadas formas, ele é um elemento estrutural e estruturante. Tudo isso está contido em uma pequena sequência de alguns poucos minutos, eis o poder da imagem. (GOMES, 2013, p. 119).
Trinômio: Geoturismo, Geodiversidade e Geoconservação
O turismo baseia-se no consumo do espaço geográfico e utiliza para sua dinamização os elementos componentes da paisagem como monumentos arquitetônicos, cidades históricas, elementos religiosos, espaços naturais, entre outros. De acordo com a Organização Mundial do Turismo – OMT (agência especializada das Nações Unidas criada em 1970 que funciona como fórum global para questões de políticas turísticas), o turismo é uma atividade humana que envolve o deslocamento do centro emissor, ou seja, o local de residência do turista, para um determinado destino turístico ou centro receptor.
Já o geoturismo está associado a outros conceitos tais como os de geodiversidade, geoconservação e patrimônio geológico, pois essa atividade está pautada em três princípios fundamentais: base no patrimônio geológico, sustentabilidade e na informação geológica. Esse termo foi divulgado a partir dos estudos do inglês Thomas Hose na década de 1990, que considera o segmento como:
Serviços e facilidades interpretativas no sentido de possibilitar aos turistas a compreensão e aquisição de conhecimentos de um sítio geológico e geomorfológico ao invés da simples apreciação estética. (HOSE, 1995).
Na década de 2000 esse segmento ganha adeptos que passam a investigar o turismo na perspectiva (geo)ambiental – geoturismo, geodiversidade e geoconservação. Em 2005, Brilha destaca o geoturismo como o segmento que disponibiliza os serviços e meios interpretativos que promovam o benefício social dos geossítios geológicos e geomorfológicos, além de assegurar a conservação para estudantes e turistas. Já Guerra e Marçal (2006) destacaram que a atividade turística pode estar intimamente relacionada com o meio físico, em especial, aquela vinculada à exploração das belezas naturais de uma determinada área, demonstrando o crescente interesse da ciência geográfica em seu estudo. Em 2007, Ruchkys define o geoturismo como:
[...] um segmento da atividade turística que possui o patrimônio geológico e geomorfológico como atrativo principal e busca sua proteção por meio de conservação de seus recursos da sensibilização do turista, utilizando, para isto, a interpretação deste patrimônio, o tornado acessível ao público leigo, além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra.
Em 2008, o próprio Hose volta a se manifestar quando afirma que geoturismo é:
A provisão de serviços e facilidades interpretativas que permitam aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento sobre a geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua contribuição para o desenvolvimento das Ciências da Terra), além da mera apreciação estética (HOSE, 2008, p.221).
O geoturismo objetiva preencher uma lacuna do ponto de vista da informação ao possibilitar que o turista contemple as paisagens e entenda o embasamento dos processos geológicos e geomorfológicos responsáveis por sua formação. Nesse sentido, o geoturismo passa a ser uma atividade baseada na geodiversidade, caracterizando um segmento do turismo em áreas naturais e realizado por pessoas com interesse em conhecer os aspectos geológicos e geomorfológicos de um determinado local. Porém, é válido ressaltar que os aspectos sociais e culturais são fundamentais e que o geoturismo deve ser visto como um novo segmento do turismo que possui especificidades no que tange às suas potencialidades e objetivos e não como uma forma de ecoturismo.
De acordo com Licardo (2008), a geodiversidade apresenta um paralelo com a biodiversidade, pois é constituída por seres vivos e pelo arcabouço terrestre que sustenta a vida, é o resultado da lenta evolução da Terra. Os autores ressaltam que cada parte do planeta, não importa a extensão, apresenta uma geodiversidade própria, e seu inventário junto com a seleção de sítios representativos de sua história geológica e geomorfológica é o primeiro passo para a determinação do patrimônio geológico-geomorfológico, e será a base para a geoconservação e o geoturismo.
O conceito de geoconservação surge como necessidade de preservação do patrimônio geológico mundial e, de acordo com Sharple (2002), objetiva a preservação da diversidade natural. Brilha (2010) vem discutindo amplamente esse conceito desde a década de 1990. Reconhece-se que os componentes abióticos do ambiente natural são tão importantes para a conservação da natureza quanto como os componentes bióticos, ressaltando a necessidade de gestão adequada destes, haja vista que a degradação das formas de relevo, solos e águas terá um impacto direto sobre a variedade biológica de espécies e comunidades que vivem dentro ou sobre esses elementos naturais. Silva (2007) destacou que a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a década compreendida entre 2005 e 2014 como “a década da geoconservação e educação para o desenvolvimento sustentável”.
Nomes Geográficos: Toponímia e Geonímia
A área do conhecimento científico ligada ao estudo dos nomes é definida pela Onomástica, traduzida como o estudo dos nomes próprios. Divide-se em dois outros ramos: antroponímia e toponímia, onde a toponímia seria o estudo dos nomes dos lugares que, vista como descendente direta da onomástica é também denominada toponomástica. Rostaing (1958) foi o primeiro a definir toponímia como “ciência que se propõe a procurar a origem dos nomes dos lugares e também a estudar as suas transformações, mostrando que é bem mais ampla em sua finalidade”.
Uma segunda definição foi estabelecida por Furtado (1957) que apresentou a toponímia como o “estudo dos nomes de sítios, povoações, nações, bem como os rios, montes, vales, etc., – isto é, os nomes geográficos”. Segundo o autor,
os nomes geográficos refletem a paisagem antropizada, através de uma personalização, individualizando e diferenciando de qualquer outra área e, assim, vindo a se constituir uma linguagem geográfica essencial com sentido, significado e acepção própria, dizendo muita coisa sobre o terreno e seu povoamento (FURTADO, 1957).
Dessa forma, pode-se antever a importância do seu estudo e significado para a Geografia.
De acordo com Menezes e Santos (2006), os nomes geográficos são testemunhos históricos do povoamento de toda uma nação. Eles registram e sinalizam a passagem histórica de gerações, culturas, povos e grupos linguísticos, que se sucedem na ocupação de uma dada porção territorial, indicando a antropização da paisagem e a consequente expansão do ecúmeno.
Contudo, mais uma terminologia abrange o estudo da nomenclatura geográfica: o termo “geonímia” surge para apontar nomes próprios de lugares e acidentes geográficos, também tradicionalmente ditos toponímia e topônimos, respectivamente. Além disso, considera-se sob essa ótica, que o vocábulo “geo” (terra), em seu aspecto conceitual, é mais abrangente que o vocábulo “topos” (lugar), no sentido do assentamento na ocorrência dos nomes geográficos sobre a superfície terrestre e passível de representação cartográfica, a partir de referenciais terrestres. A geonímia constitui-se em relevante marca cultural no território e expressa uma efetiva apropriação do espaço por um dado grupo cultural. É ainda um elemento cultural de um povo que articula linguagem, política territorial e identidade. Nomear e renomear rios, montanhas, cidades, bairros, e logradouros têm um significado político e cultural, envolvendo etnias ou grupos culturais, hegemônicos ou não. Desse modo, o termo geônimo será utilizado neste estudo como nomes geográficos identificadores de quaisquer feições geográficas naturais ou antrópicas, recorrentes sobre a superfície terrestre, e passíveis de serem georreferenciados.
A partir dos conceitos associados ao geoturismo e o levantamento dos geônimos, deu-se início a outra etapa metodológica: a inventariação dos patrimônios na Ilha Grande, com destaque para o patrimônio geológico-geomorfológico e o patrimônio histórico-cultural no recorte espacial em questão, Circuito Abraão – Saco do Céu.
Inventariação dos Patrimônios Geológico, Geomorfológico, Histórico e Cultural
De acordo com as categorias de análises apresentadas por Gomes (2013) e levando em consideração o conceito de visibilidade e suas três contextualizações (morfologia, posição do observador e a narrativa), foram inventariados 10 pontos com potencial geoturístico e sua geonímia, divididos nas trilhas (T) em que estão presentes como Trilha Circuito Abraão (T1) e Trilha Abraão – Saco do Céu (T2) (Quadros 1 e 2). Em seu conjunto forma o Circuito Abraão – Saco do Céu assim denominado pelo poder público, divulgado nas sinalizações do órgão ambiental e nas principais mídias.
Na T1 foram inventariados cinco pontos: Praia Preta, Ruínas do Lazareto, Poção, Aqueduto e Mirante do Aqueduto (Quadro 1).
Praia Preta: atrativo natural enquadra-se no conceito ponto de vista, pois oferece uma paisagem com vista para o mar. Patrimônio natural, apresenta a evolução do aspecto geológico-geomorfológico com a foz do Córrego do Abraão. Seu nome está associado à coloração escura devido à presença de minerais como a ilmenita, magnetita e biotita, que são carreados pelas águas do córrego e depositados na praia. Destaca-se a importância da sua característica física para a geonímia, uma associação de nome – paisagem (Figura 3).
Ruínas do Lazareto: representantes do patrimônio inventariado por conteúdo histórico-cultural. Os lazaretos existiram em várias partes do globo e significam lugares afastados de áreas urbanas onde indivíduos com doenças infecciosas ficam isolados. Na ilha, o Lazareto do Abraão foi construído para abrigar os viajantes e imigrantes enquanto era realizada inspeção sanitária, além dos que necessitavam de ficar em quarentena, pois vinham de países assolados pela cólera-morbo. A obra foi finalizada por volta de 1871 e funcionou como presídio por 28 anos, entre os anos de 1930 e 1950 até sua desativação e implosão. Oferece uma bela vista para a Praia Preta e consegue narrar o sistema de marés local, pois quando a maré sobe, cobre boa parte das ruínas, o que à época do presídio servia como método de tortura (Figura 4).
Aqueduto ePoção: apresentam aspectos histórico-culturais e geológico-geomorfológicos. O Aqueduto foi construído em 1893 para abastecimento do Lazareto utilizando as águas das cabeceiras do Córrego do Abraão. Construção histórica de 11 metros de altura, 140 metros de comprimento e 26 arcos, tem destaque cultural e encontra-se cercado por mata fechada. O Poção localiza-se nas proximidades do Aqueduto e destaca-se por constituir-se patrimônio natural, onde as características geológicas e geomorfológicas ficam mais evidentes. Porém, é conhecido também como Cachoeira dos Escravos, apresentando evidências (argolas de ferro incrustadas nos blocos de rocha) de utilização para banho dos escravos e por isso considerado aspecto histórico-cultural (Figuras 5 e 6).
Mirante do Aqueduto: patrimônio natural a partir do conceito de ponto de vista, pois se constitui em local de onde se observa a paisagem. Essa paisagem abrange os aspectos geológico-geomorfológicos no seu conceito de composição, onde aprecia-se a geodiversidade local a partir do próprio mirante que se constitui em deslocamento rochoso. O componente vegetação (cobertura secundária) e parte do Aqueduto exemplificam o conceito de exposição de forma destacado pela vista, dando assim, origem ao seu nome (Figura 7).
Na T2, foram inventariados cinco pontos: Cachoeira da Feiticeira, Córrego Saco do Céu, Praia da Feiticeira, Praia do Camiranga e Praia do Iguaçu (Quadro 2).
Cachoeira da Feiticeira e Córrego Saco do Céu: pontos selecionados pelo potencial de aspectos geológico e geomorfológico. A cachoeira possui um destaque natural com uma queda-d’água de 15 metros e com exposição de afloramento rochoso que forma um poço cercado por blocos de rocha. Pode-se explorar os conceitos de composição e exposição de acordo com Gomes (2013). A cachoeira foi nomeada pela população que associou a beleza do lugar “a ponto de enfeitiçar qualquer um”. O córrego encontra-se abrigado pela floresta em um setor da trilha que não é muito visitado e apresenta alteração significativa entre a declividade dos cursos superior e inferior, com quedas-d'água e cachoeiras, onde as nascentes encontram-se preservadas pela Mata Atlântica. Seu nome tem origem na sua localização, pois está na trilha Abraão – Saco de Céu possui significado que remete à contemplação da paisagem local. Em forma de um saco e com uma boca pequena voltada para a Enseada das Estrelas, é considerado santuário ecológico rico em biodiversidade, onde o mar é tão calmo como um lago e nas noites de céu estrelado é possível ver as estrelas refletidas na superfície da água (Figuras 8 e 9).
Praias do Camiranga, do Iguaçu e da Feiticeira: destaques naturais de acordo com o conceito de visibilidade. Apresentam potencial descritivo e compreensivo sobre os aspectos geológico-geomorfológicos (com presença de blocos rochosos nas vertentes), aspectos vegetacionais (estágios visíveis de recuperação) e erosivos. Em relação ao conceito de ponto de vista, constituem-se em paisagem, proporcionam vista para a baía e são também exemplos dos conceitos de composição e exposição. Registram-se a presença de propriedades particulares, de cais e apresentam trânsito de embarcações (Figuras 10, 11 e 12). Seus nomes também auxiliam ao geoturismo: a Praia do Iguaçu possui uma estreita faixa de areia, o que acaba sendo expresso pelo seu nome, que significa em tupi-guarani “local com grande quantidade de água”. A Praia do Camiranga tem esse nome em homenagem ao Urubu Camiranga, uma espécie abundante na ilha e principalmente nessa praia em época de reprodução. E, por último, a Praia da Feiticeira, pequena e de areia bem fina e clara, possui ligação com a Cachoeira da Feiticeira, cuja paisagem é descrita por locais como “aquela que encanta e parece mágica”.
Considerações Finais
As considerações finais desta pesquisa estão relacionadas às alternativas viáveis de planejamento da Ilha Grande diante do complexo quadro ambiental em que se encontra. Distrito de Angra dos Reis e protegido por unidades de conservação, é alvo de especulação vinculada à atividade turística intensificada após a demolição do complexo penal. Explorada desde o ano de 1503, apresenta elevada fragilidade natural que justifica o zoneamento ambiental e detalhamento de diretrizes de planejamento por bacia hidrográfica (proposto por ROSA, 2010) observando os desdobramentos conceituais da geodiversidade, geoconservação e do geoturismo. Ademais, entendemos que a principal ferramenta para a geoconservação é o reconhecimento da importância do patrimônio existente pela população local, sociedade, meio acadêmico e poder público. Consideramos os patrimônios histórico-culturais e geológico-geomorfológicos objetos desta pesquisa que teve como recorte espacial a Vila do Abraão, porta de entrada dos turistas e visitantes da ilha.
Percorrendo a Vila de Abraão, identificamos localidades que são muito bem definidas como patrimônio geológico-geomorfológico com diferentes conteúdos, utilizações e influência inclusive internacional. De acordo com Mansur (2010), o modelo de desenvolvimento adotado pelo governo tem “superexplotado os recursos naturais e destruído parcela significativa daquilo que originalmente atrai os visitantes: a beleza natural e a paisagem diferenciada”.
As metodologias utilizadas para reconhecimento, identificação, valoração e inventariação se mostraram positivas quando se observa o contexto geral das atividades desenvolvidas no recorte em questão. Em síntese, a ideia de espacialidade está ligada a um sentido locacional associado a um plano, uma superfície ou volume, o que corresponde ao resultado de um jogo de posições relativas de coisas e/ou fenômenos que se situam, ao mesmo tempo, sobre esse mesmo espaço. A Ilha Grande ficou conhecida por sediar um complexo presidiário e por muitas décadas foi chamada de “Caldeirão do Diabo”. Recentemente, passou a ser conhecida como “Paraíso Ecológico” por um conjunto de paisagem que retrata uma natureza exuberante típica de país tropical. As investigações no âmbito da ciência geográfica objetivam demonstrar que o chamado “paraíso ecológico” apresenta potencialidades e limitações relativas às atividades turísticas desenvolvidas em ambiente protegido legalmente. A ilha guarda um patrimônio cultural que remete à sua trajetória histórica de uso ao longo de cinco séculos de ocupação.
A literatura aponta que o discurso estimulador do ecoturismo foi um dos principais elementos responsáveis pelo aumento da atividade turística na ilha no final do século XX. Atualmente, a investigação científica tem como fundamentação o geoturismo que possibilita a integração dos aspectos do meio físico aos aspectos do meio social, econômico e cultural. Baseado nas categorias de Gomes (2013)análise de , destacamos as trilhas do Circuito Abraão – Saco do Céu, que são de fácil acesso, visitadas com significativa frequência e se traduzem nos caminhos que levam aos pontos inventariados. Retomando o conceito de visibilidade, essas trilhas apresentam uma trama locacional conhecida por elementos como a Praia Preta, a Cachoeira da Feiticeira, o Aqueduto e as Ruínas do Lazareto. Nestes, a contemplação dos patrimônios geológico, geomorfológico, histórico e cultural é favorecida pelo lugar e promove a exposição e a visibilidade da praia, da cachoeira e das ruínas das edificações. Existe uma geografia própria da visibilidade, lugares que já se apresentam como lugares naturais de destaque como o Mirante, a Praia Preta e a Cachoeira da Feiticeira. De outro, o Aqueduto e o Lazareto também são lugares de destaque, pois são vistos com facilidade e foram mantidos apesar do abandono em que se encontram.
De acordo com Gomes (2013), o tipo de espaço, o lugar ocupado e a rede de relações de posição são critérios que guiam o olhar, o interesse e conferem diferentes graus de visibilidade às coisas. As trilhas podem ser comparadas aos museus: as obras de artes são as praias, a cachoeira, o aqueduto, o mirante, o poço e o córrego. O caminho do museu é a trilha em si que fica invisível diante do destaque dado à exposição das artes. Do mesmo modo, o afloramento de rocha, a raiz exposta, a alternância da vegetação e mesmo o lixo não são capazes de atrair os olhares, não estão visíveis e favorecem a intensificação de impactos ao meio.
De outro, o levantamento dos geônimos é fundamental para a compreensão do significado do lugar, das características de cada ponto inventariado e da relação com a história de ocupação. Com o conjunto desses métodos ficou perceptível os potenciais e as limitações das trilhas, utilizados para tomada de decisão sobre a implantação de uma perspectiva geoturística nesse circuito.
Referências
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