Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


“O museu vai às escolas”: possibilidades de apropriação e promoção do patrimônio cultural do Seridó potiguar
“The museum goes to schools”: possibilities of appropriation and promotion of the cultural heritage of Seridó potiguar
“El museo va a las escuelas”: posibilidades de apropiación y promoción del patrimonio cultural de Seridó potiguar
Caderno Virtual de Turismo, vol. 22, núm. 2, 2022
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Artigos



Recepción: 22 Febrero 2022

Aprobación: 10 Agosto 2022

DOI: https://doi.org/10.18472/cvt.22n2.2022.2000

Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar e analisar parte dos resultados do projeto “O museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. Metodologicamente, foram mobilizadas a revisão de literatura, a análise documental histórica e a educação patrimonial, bem como a análise da produção de um livro digital interativo e a realização de um curso de extensão. Considerando o caráter interdisciplinar do projeto analisado, o presente estudo recorre a um escopo de leitura amplo, articulando Turismo Cultural, História, Museologia e Educação, a partir de um conjunto de conceitos, sendo eles patrimônio histórico e cultural, Turismo Cultural, roteiro histórico cultural e museus. Os resultados demonstram diferentes possibilidades de apropriação do patrimônio cultural, especialmente do Seridó potiguar, seja na esfera da Educação ou do Turismo.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural, Turismo Cultural, Seridó Potiguar.

Abstract: The article aims to present and analyze part of the results of the project “The museum goes to schools” – historical-cultural itineraries for the preservation and promotion of the memory of the Seridó region. The methodologies used were literature review, historical document analysis and heritage education, as well as the analysis of the production of an interactive digital book and the realization of an extension course. From the interdisciplinary character of the analyzed project, the study uses a wide range of reading, articulating Cultural Tourism, History, Museology and Education, from a set of concepts, being historical and cultural heritage, Cultural Tourism, cultural historical itinerary and museums. The results demonstrate different possibilities of appropriation of cultural heritage, especially from Seridó potiguar, whether in the sphere of Education or Tourism.

Keywords: Cultural heritage, Cultural Tourism, Seridó Potiguar.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo presentar y analizar parte de los resultados del proyecto "El museo va a las escuelas" - Itinerarios histórico-culturales para la preservación y promoción de la memoria de Seridó. Metodológicamente, se movilizaron la revisión bibliográfica, el análisis de documentos históricos y la educación patrimonial, así como el análisis de la producción de un libro digital interactivo y la realización de un curso de extensión. Considerando el carácter interdisciplinario del proyecto analizado, el presente estudio utiliza un amplio espectro de lectura, articulando Turismo Cultural, Historia, Museología y Educación, a partir de un conjunto de conceptos, siendo patrimonio histórico y cultural, Turismo Cultural, itinerario histórico cultural y museos. Los resultados demuestran diferentes posibilidades de apropiación del patrimonio cultural, especialmente de Seridó potiguar, ya sea en el ámbito de la Educación o del Turismo.

Palabras clave: Patrimonio cultural, Turismo cultural, Seridó Potiguar.

1. Introdução

O presente artigo tem o objetivo de apresentar e analisar parte dos resultados do projeto “O museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. O projeto foi contemplado pelo Edital nº 005/2020-PROEX/UFRN - seleção pública para apoio a projetos de extensão nas áreas de Museologia e Memória, articulando os cursos de Turismo e História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), bem como o Museu do Seridó.

Metodologicamente, o artigo foi elaborado a partir dos diferentes enfoques do projeto. Recorre-se à revisão de Literatura (Luna, 2011) sobre a temática do patrimônio cultural da Região do Seridó e sobre os Museus da região. Além disso, mobiliza-se a análise documental histórica, recorrendo a diferentes fontes. Por fim, são analisadas a produção de um livro digital interativo e a realização de um curso de extensão.

O projeto desenvolvido, bem como o texto aqui apresentado são marcados pela interdisciplinaridade, mobilizando Turismo Cultural, História, Museologia e Educação. Dessa forma, no próximo tópico, O museu vai às escolas: novas formas de visitação a partir da pandemia de Covid-19, apresenta-se o projeto aqui analisado, bem como o contexto no qual ele se insere.

Na sequência, em Aproximações Teórico-metodológicas, apresentam-se os principais conceitos mobilizados tanto na realização do projeto em análise, bem como no texto ora construído. Inicialmente discorre-se sobre o conceito de patrimônio e sua ampliação para uma concepção de patrimônio cultural, recorrendo a documentos (Brasil, 1988) e estudiosas e estudiosos da temática (Choay, 2015; Costa, 2009; Funari & Pelegrini, 2009;). Esse conceito foi mobilizado visando localizar e sistematizar os estudos sobre o patrimônio cultural do Seridó potiguar.

O segundo conceito mobilizado é o de Turismo Cultural, o qual foi pensado como aquele segmento do Turismo que se aproxima das discussões voltadas para o patrimônio cultural e para os eventos culturais, possibilitando a valorização dos bens culturais (Brasil, 2010; Costa, 2009). Junto com esse conceito recorre-se ao de roteiro histórico cultural (Pereiro Pérez, 2009), tomado como um recurso metodológico para a compreensão do livro digital e do curso analisados.

No tópico Livro Digital e curso de extensão: possibilidades de apropriação do patrimônio histórico e cultural do Seridó potiguar, analisa-se parte dos resultados do projeto discutido, especificamente o livro produzido e um curso de extensão oferecido para a comunidade em geral. Apresenta-se o processo de pesquisa, seleção e organização das cidades e bens culturais selecionados para comporem os roteiros do livro, fazendo relações com a revisão de literatura realizada. Além disso, analisa-se o processo de construção dos roteiros, pensados para serem realizados majoritariamente de forma digital, com base nas recomendações para ao distanciamento físico imposto pela pandemia de Covid-19. Ao longo das análises são apresentadas formas de apropriação do patrimônio cultural pelo Turismo Cultural e como recurso educativo, sobretudo para o ensino de História e Cultura Regional.

Ainda nesse tópico, analisa-se o curso de extensão “O museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense, oferecido como parte do projeto analisado. Ao longo do texto, são apresentadas e discutidas a programação do curso, os assuntos abordados e a participação de diferentes sujeitos na atividade extensionista.

2. O museu vai às escolas: novas formas de visitação a partir da pandemia de Covid-19

Considerando o contexto marcado pela pandemia de COVID-19, no qual as instituições educativas e museais precisaram se adaptar a novos modelos de funcionamento, o projeto analisado permitiu colocar as escolas seridoenses em contato com o Museu do Seridó (MDS) a partir de um e-book interativo. Devido às condições sanitárias que impediram as instituições escolares de realizarem atividades presenciais e visitar os espaços museais, “O Museu foi às Escolas”, na forma de um e-book, a partir de roteiros histórico-culturais pensados para a Educação Básica, levando consigo diferentes lugares das cidades que compõem a região do Seridó potiguar.

Ao ressignificar o verbo “ir”, ele foi tomado não no sentido de deslocamento físico, mas sim a partir da possibilidade de, com o uso das mídias, construir, para professores da Educação Básica, um conjunto de atividades voltadas para o Ensino de História e Cultural Regional que permitam “levar o museu” até os alunos, contribuindo para a valorização do patrimônio cultural seridoense e sua futura apropriação pelo Turismo Cultural. Para realizar tal proposta, recorreu-se a um conjunto de conhecimentos marcados pela interdisciplinaridade, articulando Turismo Cultural, História, Museologia e Educação.

O projeto analisado teve como objetivo preservar e promover o acervo museológico do Museu do Seridó, a partir de atividades práticas de Educação Patrimonial voltadas para a Educação Básica e, que envolvam a construção de roteiros histórico-culturais. Para atingir esse objetivo geral, foram traçados objetivos específicos, dentre os quais destacam-se: identificar bens culturais do Museu do Seridó que contribuam para a construção de uma narrativa histórica possível da região; construir atividades práticas de Educação Patrimonial, voltadas para a Educação Básica e, que envolvam a elaboração de roteiros histórico-culturais; produzir um e-book com atividades que “levem o Museu” para as escolas, percorrendo diferentes espaços da cidade (Silva, 2021).

Seguindo os pressupostos de Moacir Gadotti (2017), o projeto de extensão articulou-se de forma indissociável com atividades de ensino e pesquisa. Entendendo a extensão de forma não-assistencialista e como uma via de mão-dupla (Gadotti, 2017), acredita-se que o projeto foi capaz de contribuir para transformações sociais nos grupos que participaram das atividades.

3. Aproximações teórico-metodológicas

Conforme destacado anteriormente, o Projeto de Extensão foi marcado pelo caráter de interdisciplinaridade, articulando Turismo Cultural, História, Museologia e Educação. Após a aprovação do projeto, iniciou-se uma revisão de literatura sobre o patrimônio cultural da região do Seridó Potiguar.

O conceito de patrimônio cultural não é simples e possui uma trajetória de ressignificações e disputas ao longo dos séculos. Pedro Funari e Sandra Pelegrini (2009) realizam um percurso histórico sobre esse conceito que foi se transformando com o passar do tempo, do espaço e dos contextos que estavam disputando seus significados.

De acordo com os autores, quando as configurações sociais passaram de reis e nobres para um Estado Nacional, foi necessário representar e construir o que seria essa nação enquanto uma comunidade imaginada. Dessa forma, não bastava tornar um Estado Moderno em um Estado Nacional, como ocorreu com a França durante a Revolução Francesa (1789 - 1799), era preciso constituir e formar cidadãos. Ensinar que há um passado em comum, uma língua, costumes, valores e, para isso, começava a ocorrer uma configuração e uma disputa do que seria um patrimônio nacional. Segundo os autores, foi nesse contexto em que o patrimônio deixou de ser uma particularidade e passou a representar a Nação e seus cidadãos, a compor as bases materiais que arquitetariam a ideologia nacionalista. Françoise Choay (2015) argumenta que, desde cedo, este patrimônio nacional começa a ser objeto de visitações a partir de viagens que visavam o conhecimento da História e Cultura dos diversos países. Em tempos de distanciamento físico e de aulas remotas, nossa proposta possibilitou uma nova forma de viagem para o conhecimento do patrimônio cultural.

De acordo com Funari & Pelegrini (2009), sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, os novos interesses e grupos oportunizaram que o patrimônio passasse a ser pensado e decidido a partir da sua diversidade humana, cultural e ambiental. Choay (2015) destaca que a Assembleia Geral da UNESCO de 1972 pode ser entendida como um símbolo privilegiado deste processo de expansão do conceito de patrimônio. A Convenção criou um conjunto de obrigações relativas à identificação, proteção, conservação, valorização e transmissão do patrimônio cultural às gerações futuras. Segundo a autora, os monumentos e o patrimônio histórico adquirem dupla função, tanto de saber e prazer, quanto a de produtos culturais que, como tais, são fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos.

Além da Assembleia Geral da UNESCO de 1972, Flávia Roberta Costa (2009) destaca a importância da conferência Mundial do México, de 1985, que entendeu que os elementos da cultura imaterial se relacionam à identidade, memória e ação dos grupos humanos. Dentro deste processo de ampliação do conceito de patrimônio, entende-se o conceito de patrimônio como cultural, pois a diversidade de grupos sociais, suas disputas e amplitudes (regionais, estaduais, nacionais, etc.), a forma como gerenciam e definem o que são os bens materiais ou imateriais que compõem os diferentes patrimônios, transformaram o conceito ao longo dos anos.

Sendo assim, o patrimônio foi entendido como composto por bens materiais e imateriais, os quais comportam formas de expressão, modos de fazer, criações científicas, artísticas e tecnológicas, obras, objetos, documentos, edificações, conjuntos urbanos e sítios de valor diversos (Brasil, 1988; Funari & Pelegrini, 2009; Costa, 2009).

Foi a partir desse conceito amplo de patrimônio que a revisão de literatura foi realizada. Para tanto, recorreu-se a Sérgio Vasconcelos Luna (2011), que entende que a revisão de literatura é uma peça importante do trabalho de pesquisa, podendo constituir-se em uma determinação do ‘estado na arte’, em uma revisão teórica, uma revisão de pesquisa e/ou em uma revisão histórica. Na presente pesquisa, a revisão de literatura foi mobilizada no intuito de identificar a produção de trabalhos sobre o patrimônio cultural seridoense.

Embora Luna (2011) entenda que é perigoso estabelecer uma regra fixa para a realização da revisão de literatura, destaca a importância de localizar e identificar materiais potencialmente relevantes. A busca por estes materiais pode se dar em diferentes suportes/lugares, como arquivos, sumários de publicação, referências citadas em artigos já encontrados, serviços de levantamento bibliográfico, consulta a especialistas da área, analogias, dentre outros. Na presente pesquisa, foram realizadas buscas sistematizadas no acervo do Museu do Seridó, no Repositório Institucional da UFRN, Banco de Teses e Dissertações da Capes, Google Acadêmico, Youtube, entre outros.

A partir do descritor patrimônio cultural do Seridó[1], percorreu-se os sites de busca e repositórios, bem como o YouTube. Os resultados foram sistematizados e analisados, sendo selecionados aqueles que dialogavam com a proposta do projeto. No quadro 1, estão os trabalhos que foram selecionados, divididos por tema e por tipo:

Quadro 1
Levantamento Bibliográfico Patrimônio Cultural do Seridó

Elaborado pelo autor (2022)

Conforme se observa no quadro 1, foram selecionados trabalhos de diferentes temáticas e tipologias. Dentre as temáticas estão rezadeiras, doceiras, ferreiros, patrimônio imaterial em geral, padroeiros, fazendas e economia, museus, cidades, inventários turísticos e povos indígenas. As tipologias de trabalhos localizados são dissertações, monografias, artigos, museus virtuais, exposições virtuais, livros, capítulos de livros, revistas, guias e vídeos.

Metodologicamente, a partir dos títulos dos trabalhos, recorreu-se à leitura dos resumos ou descrições e, na sequência, a leitura/apreciação do material completo (Luna, 2011). Na sequência, foi mobilizado o referencial teórico da História Cultural para análise dos textos/vídeos, entendidos aqui como documentos.

De acordo com Peter Burke (2005), ao longo dos anos 1980, a História Cultural passou por um alargamento dos temas investigados, de forma a permitir estudos da história da prática (prática da linguagem, religiosa, de viajar, de colecionar, etc.), história da leitura, das representações, da memória, história dos livros, dos alimentos, do vestuário, da habitação, do corpo, entre outros. Além desses alargamentos, a História Cultural permitiu um novo olhar para temas já explorados, como o urbano, tema que tangencia muitos dos trabalhos identificados.

A partir das reflexões de Paul Ricoeur (2007), as pesquisas localizadas na revisão de literatura foram entendidas como informações a serem transformadas em dados, como material empírico para análise. Para o autor, os estudos já realizados podem ser compreendidos como documentos, uma vez que, no processo de escrita da história, “o livro de história faz-se documento, aberto à série das reinscrições que submetem o conhecimento histórico a um processo contínuo de revisão” (Ricoeur, 2007, p. 247). Ao entender os estudos localizados como documentos, operou-se quebrando, sistematizando e reorganizando-os, de forma a compor uma nova narrativa, com uma problemática diferente daquela que se propunham a atender. Esse procedimento metodológico está relacionado ao emprego do conceito de narrativa histórica.

Entendendo a História como narrativa, Sandra Pesavento (2005) reforça que ela está relacionada a um discurso de verdade, no qual o narrador (neste caso, o historiador), é a figura responsável por mediatizar, selecionar dados e tecer relações entre eles, propondo uma sequência pautada na inteligibilidade do texto. Também concebendo a história como uma narrativa, Paul Veyne (1982) afirma que ela não faz reviver os eventos, mas propõe uma narrativa possível de como eles aconteceram. Sendo assim, a narrativa histórica seleciona, simplifica e organiza, sendo esse o processo empregado na construção do e-book. Dessa forma, as narrativas dos trabalhos foram quebradas, reorganizadas e repensadas para compor o e-book proposto.

A partir da temática do patrimônio, para além da História Cultural, recorreu-se também ao Turismo Cultural. Dentre os diferentes segmentos turísticos, o Turismo Cultural é aquele que mais se aproxima das discussões voltadas para o patrimônio cultural. O Ministério do Turismo (Brasil, 2010) entende este segmento como resultado da combinação entre cultura e Turismo, marcado pela motivação do turista em se deslocar para vivenciar aspectos e situações ligados à Cultura: “Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (Brasil, 2010, p. 15).

No caso do e-book elaborado, o deslocamento não ocorre de forma física, mas digital, uma vez que, conforme destacado anteriormente, o projeto foi pensado para contemplar as limitações impostas pela pandemia de Covid-19. Dessa forma, mesmo sem o deslocamento físico, foram propostas formas de valorização e promoção do patrimônio em suas diferentes esferas.

Em consonância com os conceitos apresentados pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), Flávia Roberta Costa (2009) entende que os elementos de natureza material ou simbólica “[...] que compõem o patrimônio cultural de determinada população devem ser tomados como recursos que poderão ser utilizados como fonte de atração do turismo cultural” (Costa, 2009, p. 50). Dessa forma, a partir do contato com os bens culturais possibilitado pelo e-book, entende-se que os diferentes sujeitos poderão identificar formas de apropriá-lo pelo Turismo, ao mesmo tempo em que aprendem sobre a História e a Cultura Regional.

Após a realização da pesquisa, a leitura e análise dos materiais identificados, as narrativas foram quebradas e reelaboradas em quatro eixos, cada um com dois roteiros culturais. A partir de Xerardo Pereiro Pérez (2009), os roteiros foram pensados como uma forma possível de interpretação do patrimonio. De acordo com o autor, os roteiros culturais constituem-se em circuitos marcados por sítios e etapas relacionados a um tema direcionador:

Este tema deverá ser representativo de uma identidade regional própria, para favorecer um sentimento de pertença, de reconhecimento ancorado na memoria colectiva. O conjunto organizado formado pelos sítios e etapas tem um valor emblemático e simbólico para a população local e, para o conjunto de pessoas externas, denominadas de visitantes. (Associação CISTE, tirado de www.ciste.org, Pereiro Pérez, 2009, p. 232).

Nesta perspectiva, os roteiros foram pensados considerando os valores culturais, a memória histórica, a história, a diversidade do patrimônio cultural e a pluralidade de identidades da região do Seridó Potiguar. Dessa forma, foi proposta uma leitura sociocultural dessa região, atentando para a valorização do seu patrimônio, reconhecendo sua relevância não apenas para turistas, para também para os residentes locais (Pereiro Pérez, 2009).

Considerando a proposta do projeto, todos os roteiros elaborados partiam do Museu do Seridó. De acordo com o Relatório da Gestão de 2019, o Museu do Seridó (MDS) consiste em uma instituição museológica fundada no ano de 1968, pelo então Padre Antenor Salvino, visando constituir-se em um espaço de memória e identidade seridoenses. Após diferentes episódios, no ano de 1993, a custódia do Museu passa a ser da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), momento em que houve uma reforma e revitalização do espaço que, dois séculos antes, foi a Casa de Câmara e Cadeia da Vila do Príncipe.

Conforme apontam Tavares e Silva (2021), a história do MDS é uma história de lacunas e reaberturas, sendo que essas foram diversas ao longo dos 50 anos de existência da instituição. Esse cenário faz com que parte significativa das peças do acervo não tenham termos de doação, identificação dos doadores, entre outras informações importantes.

Em julho de 2019 houve a última reabertura do museu, sendo que o seu acervo estava exposto a agentes químicos e biológicos de degradação. Da sua reabertura até o fechamento em virtude da pandemia de covid-19, a equipe de bolsistas e servidores arrolou e higienizou aproximadamente 650 peças, dentre as quais estão esculturas em materiais diversos, vestuário, moedas, medalhas comemorativas, documentos em papel, pinturas, entre outros (Tavares e Silva, 2021)

Ao tomar o Museu do Seridó como lócus da proposta e, ao mesmo tempo, ponto de partida para as escolas, o projeto dialoga diretamente com a Museologia. O projeto aqui apresentado entende que, tanto o Museu quanto a Museologia são espaços interdisciplinares (Duarte Cândido, 2009), permitindo a articulação das diferentes áreas citadas. Sendo assim, a proposta não centra-se em um entendimento de museu como espaço depositário de objetos, mas sim como uma possibilidade de identificação e análise do comportamento dos sujeitos em relação ao seu patrimônio, colaborando com a conversão deste patrimônio em herança, parte da construção das identidades seridoenses.

É importante destacar ainda que, a realização deste projeto contempla uma cadeia complexa de ações que constituem as instituições museológicas, sendo elas a salvaguarda, comunicação e pesquisa. Acredita-se que um dos elementos que diferenciam o projeto desenvolvido, foi a forma de sua realização durante o cenário de pandemia e de distanciamento físico.

Por fim, ao mobilizar o Museu do Seridó, os bens culturais musealizados e os diferentes lugares da região para comporem o e-book, ofereceu-se ferramentas metodológicas para o ensino de História e Cultura regional. Desta forma, o e-book contribui também para o desenvolvimento dos preceitos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). De acordo com o documento, o processo de ensino e aprendizagem de História no Ensino fundamental está pautado, dentre outros, pelo

[...] desenvolvimento das condições necessárias para que os alunos selecionem, compreendam e reflitam sobre os significados da produção, circulação e utilização de documentos (materiais ou imateriais), elaborando críticas sobre formas já consolidadas de registro e de memória, por meio de uma ou várias linguagens. (Brasil, 2017).

Desta forma, o e-book e seus desdobramentos estão relacionados aos direcionamentos da política educativa nacional, uma vez que mobilizou o patrimônio cultural seridoense como documentos disponíveis, a serem explorados pelos alunos das escolas que tiverem acesso ao material produzido.

4. Livro digital e curso de extensão: possibilidades de apropriação do patrimônio histórico e cultural do Seridó potiguar

Dentre os resultados do projeto discutido, esse estudo analisa dois deles, sendo o livro digital interativo produzido e um curso oferecido para a comunidade em geral. O livro interativo é composto por roteiros histórico-culturais, que “levem” o Museu do Seridó (MDS) para as escolas da região seridoense, percorrendo diferentes cidades da região. Além dos professores da Educação Básica, o texto pode ser utilizado por diferentes profissionais e pessoas ligadas ao Patrimônio Cultural e ao Turismo.

A escolha pelas cidades e pelos diferentes bens culturais apresentados no livro digital não se deu de forma aleatória. As escolhas foram o resultado da intensa pesquisa (bibliográfica, fílmica, em sites, exposições, etc.), do planejamento e discussão com a Equipe do MDS, bem como da disposição de peças do acervo do Museu. Dessa forma, as narrativas apresentadas são narrativas possíveis, as quais não visam serem as únicas possíveis, bem como não pretendem hierarquizar municípios e bens culturais.

Após a escolha dos bens culturais, das cidades que iriam compor os roteiros e da escrita de uma primeira versão do texto, foram convidadas pessoas da universidade e da comunidade em geral que, de alguma forma, dialogam com o Patrimônio e o Turismo Cultural, para contribuírem e aprimorarem as informações apresentadas. Dentre esses profissionais estão professores da Educação Básicas, turismólogos, estudantes dos cursos de História e Turismo, professores universitários, entre outros.Todos os roteiros sugeridos partem do MDS e da análise de alguma peça do seu acervo.

O e-book encontra-se dividido em 4 eixos, sendo que cada um deles possui dois roteiros. Os nomes e os conteúdos dos eixos foram inspirados nos Livros de Registro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É importante destacar que, assim como o conceito de patrimônio cultural não é simples e possui uma trajetória de ressignificações e disputas ao longo dos séculos (Funari & Pelegrini, 2009), a classificação dos bens culturais, em um ou outro dos livros, também não é uma tarefa fácil. Nessas condições, as classificações e divisões apresentadas no livro não são as únicas possíveis, mas fruto das seleções e recortes temáticos realizados ao longo da pesquisa.

Considerando que “as culturas se recriam e se transformam historicamente e os modos pelos quais as instituições, os valores e as atitudes se perpetuam ao longo do tempo não são simples mecanismos de transmissão de informação de uma geração a outra” (Arantes, 2007-2008-2009, p. 184), se aposta na diversidade de significados dos bens culturais para agrupá-los em um ou outro eixo. Os textos informativos destacam que os professores ou profissionais que utilizarem o livro podem criar seus próprios roteiros, reorganizar ou aprimorar os oferecidos no livro, etc. Na sequência, o quadro 2 apresenta os eixos, roteiros e as paradas que compõem o livro digital.

Quadro 2
Eixos, roteiros e paradas

Silva (2021)

Conforme se observa no quadro 2, o Eixo dos Saberes e Fazeres é composto pelo roteiro dos Doces, doceiras e doceiros e pelo roteiro dos Ofícios; o Eixo das Celebrações pelo roteiro das Festas Religiosas e pelo roteiro das Celebrações Socioculturais: Vaquejada, Pega de Boi e Carnaval; o Eixo dos Lugares pelo roteiro Lugares da Economia: Mineração, Pecuária e Algodão e pelo roteiro Lugares do Patrimônio Natural; e, o Eixo das Formas de Expressão, com os roteiros Permanência e Resistência: pintura rupestre e artefatos líticos e Mãos que Esculpem: o entalhe em madeira.

O quadro permite identificar ainda que cada roteiro possui três paradas ou destinos, que podem ser realizadas fisicamente ou de forma remota. Essas paradas se dão nas diferentes cidades do Seridó, preocupando-se em apresentar, analisar e discutir bens culturais relacionados à temática do roteiro. Esses bens podem ser patrimonializados ou não, bem como materiais ou imateriais, uma vez que se entende que “o patrimônio, tangível ou intangível, é uma construção cultural produzida por negociações entre agentes sociais locais e instituições de preservação” (Arantes, 2007-2008-2009, p. 184).

Ao final de cada um dos roteiros, consta uma atividade de Educação Patrimonial, que além de sistematizar os conhecimentos produzidos, visa provocar os participantes a refletirem sobre temáticas a partir do patrimônio. Seguindo Manuais de Educação Patrimonial como os de Evelina Grunberg (2007), optou-se em não definir um público-alvo específico, mas propor atividades genéricas que poderão ser adaptadas de acordo com as necessidades de quem utilizar o livro digital.

De acordo com a autora (Grunberg, 2000; 2007), a Educação Patrimonial pode ser compreendida como um processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem como ponto central o patrimônio em todas as suas manifestações. Como metodologia, a Educação Patrimonial é composta por quatro etapas, sendo elas a observação, o registro, a exploração e a apropriação. As atividades sugeridas ao longo do livro digital contemplam as quatro etapas destacadas pela autora.

Embora inspirados nas proposições de Grunberg (2000; 2007), procurou-se avançar na concepção de Educação Patrimonial. Ao longo das atividades, para além dos bens culturais, foram evocados os sujeitos envolvidos com esses bens e os sujeitos envolvidos nos processos de aprendizagem. Além disso, embora mobilizada enquanto metodologia, a Educação Patrimonial é também entendida como processo (TOLENTINO, 2016). A preocupação com os sujeitos envolvidos e os bens culturais aparecem em diversas partes do livro digital, como no Eixo dos Saberes e Fazeres, destacando que:

[...] vamos realizar este percurso atentando não apenas para os doces em si, mas para o seu processo de produção, os saberes que envolvem seu preparo, as pessoas que se empenham neste processo, sua importância econômica, social e cultural para a região, etc. (Silva, 2021, p. 17).

Conforme mencionado anteriormente, todos os eixos iniciam com uma peça do Museu do Seridó, a qual é mobilizada para a realização do roteiro. Para exemplificar, continuamos com o caso do Eixo dos Saberes e Fazeres, o qual inicia com a figura a seguir:


Figura 1
Formas de doce
Museu do Seridó, peças nº 131 a 137

A partir de Pereiro Pérez (2009), recorre-se a uma abordagem interpretativa do patrimônio para analisar a peça. De acordo com o autor, a interpretação patrimonial pode ser compreendida como a arte de revelar seus significados para um público, o que permite a perpetuação de um legado natural e/ou cultural dos bens, ao mesmo tempo em que se possibilita uma tradução intercultural.

Nessa perspectiva, o livro procura traduzir linguagens técnicas sobre as peças e sua relação com os sujeitos em uma linguagem coloquial, a partir da investigação, comunicação e decodificação. Na sequência, o trecho apresentado por Silva (2021) evidencia como o material direciona esse processo:

Para iniciar a atividade, você pode projetar ou exibir a imagem sem título. Após os alunos observarem as peças por alguns instantes, faça alguns questionamentos. Em que consistem essas peças expostas no museu? De que materiais elas foram feitas? Qual o uso a elas atribuído antes de serem musealizadas? Por que elas foram guardadas? O que elas representam dentro da narrativa do museu?

Após as reflexões suscitadas, apresente e discuta algumas das informações referentes à imagem: as peças salvaguardadas no museu consistem em um conjunto formado por espátulas para mexer doce, espátulas para mexer chouriço e formas para a fabricação de rapaduras. Todas as peças foram confeccionadas em madeira, possuem tamanhos e formatos diferentes e apresentam marcas de uso.

Questione as alunas e os alunos a respeito do conhecimento sobre a prática doceira na sua cidade, no seu bairro ou família. Já provaram alguns dos doces regionais? Conhecem pessoas que dominam o ofício da doçaria? Conhecem receitas típicas, de importância para a região do Seridó? (Silva, 2021, p. 18).

Após a análise da peça musealizada e da realização do roteiro, percorrendo as três localidades elencadas, o livro apresenta o tópico intitulado “Vamos Refletir?”. Esse tópico apresenta uma atividade de Educação Patrimonial, a qual pode ser seguida ou adaptada por quem usa o material. As atividades do livro foram sistematizadas a partir de quatro etapas: observação, registro, exploração e apropriação (Grunberg, 2000; 2007).

No caso do roteiro dos Doces, doceiras e doceiros, a atividade envolve uma visita e análise de um museu virtual, o Museu Virtual Doces do Seridó, disponível em: http://docesdoserido.com.br/index.html. Após acessar o site, os discentes são convidados a explorarem as diferentes abas, procurando fazer registros e aprofundando sua investigação sobre a temática do eixo. A proposta centra sobre a aba “doceiras’ presente no site. Para além do bem cultural, o livro digital atenta para a sociedade. No caso desse estudo, o texto orienta:

Aproveite a atividade para tensionar algumas questões de gênero e também geracionais. Muitas mulheres produziram receitas tradicionais e desenvolveram ou desenvolvem produtos gastronômicos para suas famílias, mas não possuem reconhecimento social. Você conhece algum caso? Quem são essas mulheres? Com quem aprenderam seus preparos? Vocês aprenderam ou aprendem algo com pessoas mais velhas? (Silva, 2021, p. 25).

Para finalizar, cada atividade traz uma forma de apropriação. De forma geral, elas estão relacionadas a diferentes técnicas de interpretação patrimonial, dentre as quais, estão às apontadas por (Pereiro Pérez, 2009, p. 230): “Exposições permanentes e temporárias. Maquetas e reproduções. Montagens audiovisuais e diagramas. Experiências interactivas. […] Sinalização e painéis informativos. Visitas guiadas e itinerários temáticos […]”.

Ao final de cada roteiro, consta a expressão “para saber mais”, na qual estão as referências utilizadas no roteiro. Essas referências são compostas por materiais diversos e podem ser utilizadas, ainda, para aprofundar o estudo de cada eixo ou como materiais didáticos. É possível encontrar ao longo de cada roteiro indicações de textos complementares, vídeos, imagens, notícias, entre diversos outros recursos.

Além do livro digital, outro produto do projeto foi a realização do curso de extensão intitulado “O museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. O curso teve como objetivo contribuir com a capacitação para ações de preservação e promoção do patrimônio cultural, a partir de atividades práticas de Educação Patrimonial e, que envolvam a construção de roteiros histórico-culturais, especialmente a partir do livro digital.

Considerando a abrangência da temática e a possibilidade de uso do livro digital, o público-alvo do curso foi estipulado como estudantes universitários (especialmente dos cursos de licenciatura e turismo), professores, pesquisadores, turismólogos, agentes culturais, guias e condutores de turismo, gestores públicos e comunidade em geral.

O curso foi organizado em três encontros remotos, sendo os dois primeiros síncronos e o último assíncrono. A programação resumida pode ser observada no quadro 3:

Quadro 3
Programação do Curso de Extensão

Elaborado pelo autor (2022)

Conforme se pode observar no Quadro 3, o primeiro encontro contou com dois momentos. Inicialmente foi apresentado o projeto “O Museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da Memória Seridoense, ao qual o curso esteve vinculado. O professor responsável apresentou os objetivos do projeto, as atividades que estão sendo realizadas e as possibilidades de intercâmbio entre Turismo, História, Museologia e Patrimônio.

Na sequência, foi proferida a palestra Roteiros Turísticos como ferramenta para valorização patrimonial e cultural. De forma dialogada, a professora responsável apresentou possibilidades de roteirização turística que tomem o patrimônio como elemento central, propondo aproximações e discussões entre o Turismo Cultural e Turismo Pedagógico. Após a exposição da professora, as participantes e os participantes interagiram com perguntas, reflexões e sugestões de trabalhos interinstitucionais. A palestra tinha o objetivo de aproximar os participantes do uso de roteiros como recurso metodológico.

No segundo encontro, uma bolsista do Museu do Seridó (MDS) apresentou a instituição museal para os participantes, sendo este o museu a partir do qual os roteiros do livro digital foram pensados. A palestrante abordou elementos históricos do MDS, parte do seu acervo, atividades realizadas pela equipe do Museu, bem como perspectivas de atividades futuras. Ao término do seu relato, diversos participantes pediram a palavra, dialogando com a palestrante a respeito do MDS e sobre outros espaços museais.

Em um segundo momento foi proferida a palestra Essa história é minha e sua: uma conversa sobre a importância dos acervos e museus. Propondo uma exposição em forma de diálogo, a professora instigou em todos os momentos as participantes e os participantes a refletirem a respeito da importância dos acervos e museus, não apenas como lócus de trabalho para pesquisadoras e pesquisadores, mas como espaços privilegiados para a construção de identidades coletivas, espaços para consulta da história familiar e, em especial, espaços a serem utilizados por todas as cidadãs e os cidadãos. A exposição da professora foi seguida de um espaço de diálogos, no qual diversas e diversos participantes sentiram-se convidadas e convidados à reflexão. As atividades do segundo encontro tiveram encerramento com a apresentação de uma atividade prática sugerida, atividade referente a um encontro assíncrono.

Foram encaminhadas duas propostas para os participantes optarem por uma delas como atividade prática assíncrona. A atividade 1 consistia em, a partir das discussões apresentadas no curso, bem como do e-book interativo apresentado, elaborar um roteiro que tenha o Patrimônio Cultural como eixo central. O roteiro deveria percorrer três lugares diferentes de uma cidade. A segunda proposta, consistia no relato de uma atividade prática (remota ou presencial), desenvolvida com algum grupo (alunos, turistas, etc.).

O curso ofereceu, inicialmente, 60 vagas. Porém, a demanda de participantes interessados levou ao aumento de vagas, que passaram a ser em número de 90, das quais se matricularam 86 interessados. Do total de inscritos, 55 participaram das atividades. É importante destacar que, embora a temática do livro digital e dos roteiros estivesse relacionada ao Seridó Potiguar, o curso contou com participantes de diferentes Estados do Brasil, sobretudo pelo interesse na temática do patrimônio e sua apropriação pelos roteiros histórico-culturais. O quadro 4 apresenta o número de participantes por Estado e Instituição.

Quadro 4
Participantes por Estado e Instituição

Elaborado pelo autor, 2022

Conforme podemos observar no quadro apresentado, o curso contemplou 55 participantes, oriundos de seis Estados brasileiros, sendo eles Rio Grande do Norte (47), Maranhão (2), Goiás (1), Pará (1), São Paulo (1) e Rio Grande do Sul (1). Além de contar com participantes de diferentes origens, a partir das informações preenchidas na inscrição do curso, é possível afirmar que os participantes contemplados eram estudantes universitários (cursos de História, Pedagogia, e Turismo), professores da Educação Básica e Superior, pesquisadores, turismólogos, agentes culturais, guias e condutores de turismo, entre outros.

5. Considerações Finais

Conforme se destacou no início deste texto, o objetivo principal aqui percorrido consistiu em apresentar e analisar parte dos resultados do projeto “O museu vai às escolas” – roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. Para tanto, recorreu-se a um conjunto de conceitos, mobilizados a partir de diferentes perspectivas teóricas. Os conceitos de patrimônio cultural, turismo cultural e roteiros histórico culturais permitiram algumas análises e apontamentos.

Inicialmente, é possível inferir que o projeto possibilitou que os diferentes participantes desenvolvessem habilidades que permitem discutir a importância do patrimônio histórico-cultural, fomentando atitudes para sua preservação e promoção. É este patrimônio preservado e respeitado que pode ser apropriado pelos turismólogos, guias, professores, agentes culturais, etc., na elaboração de roteiros futuros.

Além de contribuir para a valorização e promoção do patrimônio de forma ampla, o projeto contribuiu de forma significativa para a promoção e preservação do Museu do Seridó e do seu acervo, seja a partir dos roteiros apresentados no livro digital ou pela apresentação do museu no curso oferecido. Além do museu e seu acervo, é possível afirmar que tanto o livro quanto o curso contribuíram para pensar no emprego de roteiros histórico-culturais e do patrimônio seridoense como instrumentos educativos.

Outro aspecto importante observado é o fomento à formação crítica dos alunos da Educação Básica, despertando seu interesse pelo patrimônio histórico-cultural. A participação de professoras e professores da Educação Básica, seja na equipe consultiva do e-book ou no curso ministrado, aponta para o desejo de apropriação de novos recursos para o ensino. Para além da formação crítica de alunos e alunas, identifica-se uma possibilidade de fomento ao interesse de turistas pelo segmento Turismo Cultural e pelo patrimônio, contribuindo para a abertura de diferentes espaços de atuação para os profissionais do Turismo, articulando Turismo Cultural, Museologia, História e Educação.

É importante destacar que, de forma geral, o livro digital resultante deste projeto não terá seu uso limitado ao período de pandemia, podendo vir a ser utilizado por diferentes profissionais, em diferentes atividades, sejam do âmbito da educação ou do Turismo.

Referências

Arantes, A. A. (2007-2008-2009). Sobre Inventários e outros instrumentos de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível: Ensaio de Antropologia Pública. Anuário Antropológico, 173-222. http://dan.unb.br/images/pdf/anuario_antropologico/Separatas%202007/2007_antonioarantes.pdf.

Burke, P. (2005). O que é história cultural? Jorge Zahar Editor.

Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico.

Brasil. (2010). Ministério do Turismo. Turismo Cultural: orientações básicas. (3a Ed). Ministério do Turismo.

Brasil, 2017. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.

Choay, F. (2015). A alegoria do patrimônio. UNESP.

Costa, F. R. (2009). Turismo e Patrimônio Cultural: interpretação e qualificação. Editora Senac.

Duarte Cândido, M. M. (2009) “Museus e conhecimento interdisciplinar”. Revista Museu, 1 – 1. www.revistamuseu.com.br.

Funari, P. P. A.; & Pelegrini, S. C. A. (2009). Patrimônio histórico e cultural. (2ª Ed).Jorge Zahar Ed.

Gadotti, M. 2017. Extensão Universitária: Para quê?. Instituto Paulo Freire. https://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extens%C3%A3o_Universit%C3%A1ria_-_Moacir_Gadotti_fevereiro_2017.pdf.

Grunberg, E. (2000) Educação patrimonial: utilização dos bens culturais como recursos educacionais. In: Z. R. Possamai, & E. Leal. (Orgs.). Museologia social. UE/Secretaria Municipal de Cultura.

Grunberg, E. (2007). Manual de atividades práticas de educação patrimonial. IPHAN.

Luna, S. V. de. (2011). Planejamento de Pesquisa: uma introdução. EDUC.

Museu do Seridó. Relatório de Gestão, 2019.

Pereiro Pérez, X. (2009). A Interpretação do Património Cultural. _____. Turismo cultural: uma visão antropológica. (pp. 223-252). ACA y PASOS, RTPC.

Pesavento, S. J. (2005). História & História Cultural. Autêntica.

PROEX/UFRN. Edital nº 005/2020 - seleção pública para apoio a projetos de extensão nas áreas de Museologia e Memória.

Ricoeur, P. (2007). A Memória, a história, o esquecimento. Editora da Unicamp.

Silva, E. C. H. (2021). O museu vai às escolas: roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. E. C. H. Silva. https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/45711.

Tavares, T; Silva, E. C. H. (2021). Ponto de partida: o Museu do Seridó. In: E. C. H. da Silva. O museu vai às escolas: roteiros histórico-culturais para a preservação e promoção da memória seridoense. E. C. H. Silva. https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/45711.

Tolentino, Á. B. (2016). O que não é educação patrimonial: cinco falácias sobre seu conceito e sua prática. In: A. B. Tolentino, & E. O. Braga. (Orgs.) Educação patrimonial: políticas, relações de poder e ações afirmativas. IPHAN-PB; Casa do Patrimônio da Paraíba.

Veyne, P. M. (1982). Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. Trad. de Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp. (4ª ed.) Editora Universidade de Brasília.



Buscar:
Ir a la Página
IR
Visor de artículos científicos generados a partir de XML-JATS4R por