Artigos Originais
Recepción: 16 Enero 2023
Aprobación: 29 Marzo 2023
DOI: https://doi.org/10.18472/cvt.23n1.2023.2067
Resumo: Neste estudo, metodologias que qualificam dimensões turísticas de localidades brasileiras são avaliadas. Para tanto, confrontam-se três abordagens: a Teoria do Espaço Turístico, apresentada no Centro Internacional de Capacitação Turística (Cicatur) a partir da década de 1970; a abordagem do Ministério do Turismo do Brasil acerca da categorização dos municípios turísticos, configurada nos anos 2000; e a técnica de Big Dat a utilizada pelo Sebrae-RS nessa década de 2020. O objetivo é verificar os valores intrínsecos e extrínsecos que qualificam os destinos turísticos e os hierarquizam nessas diferentes formulações. A pergunta norteadora do estudo questiona se os dados vindos destes diferentes enfoques se complementam na qualificação do território turístico. Na pesquisa, é feito um recorte em municípios da Serra Gaúcha - RS que tiveram a aplicação de rastreamento digital Big Data . Assim, levantam-se dados e a taxonomia de Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Caxias do Sul e Bento Gonçalves. No desenvolvimento do estudo, foi notório que essas abordagens e resultados distintos podem se somar como ferramentas para melhor compreender o território, seus posicionamentos e possibilidades turísticas.
Palavras-chave: Planejamento Turístico, Categorização turística, Hierarquia do espaço turístico.
Abstract: This study aims to evaluate methods that qualify touristic dimensions in Brazilian tourist locations . In order to achieve that , three approaches to the matter will be explored: the Theory of Tourist Space, presented at the International Tourist Training Center (Cicatur) from the 1970s on; Brazil’s Ministry of Tourism’s approach to the categorization of tourist municipalities, configured in the 2000s; and the Big Data technique used by Sebrae-RS in the 2020s. The objective is to verify the intrinsic and extrinsic values that qualify tourist destinations and rank them in these different formulations. It starts with its guiding question, which is whether data from these different approaches complement each other in the qualification of tourist territory. This research focused on municipalities in Serra Gaucha - RS where Big Data digital tracking had been applied. Thus, there have been a collection of data and taxonomy on Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Caxias do Sul and Bento Gonçalves . Throughout this research , it became evident that these different approaches and results may be combined as a tool to improve understanding of such territory, its positions and its touristic possibilities.
Keywords: Tourist Planning, Tourist categorization, Hierarchy of tourist space.
Resumen: En esto estudio, se evalúan metodologías que califican las dimensiones turísticas de localidades brasileñas. Para ello, se confrontan tres enfoques: la Teoría del Espacio Turístico, presentada en el Centro Internacional de Capacitación Turística (Cicatur) a partir de la década de 1970; el enfoque del Ministerio de Turismo de Brasil sobre la categorización de los municipios turísticos, configurado en la década de 2000; y la técnica Big Data utilizada por Sebrae-RS en la década de 2020. El objetivo es verificar los valores intrínsecos y extrínsecos que califican los destinos turísticos y jerarquizarlos en estas diferentes formulaciones. Parte como pregunta orientadora si los datos en estos diferentes enfoques se complementan en la calificación del territorio turístico. En la investigación, hace un corte en los municipios de Serra Gaucha - RS que tenían la aplicación de rastreo digital Big Data . Así, se recogen los datos y la taxonomía de Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Caxias do Sul y Bento Gonçalves. En el desarrollo del estudio se puede observar que se trata de diferentes caminos y resultados, que se pueden sumar como herramienta para conocer mejor el territorio, sus posiciones y posibilidades turísticas .
Palabras clave: Planificación Turística, Categorización turística, Jerarquía del espacio turístico.
1. Introdução
Procedimentos metodológicos para formulação e reconhecimento da localidade turística
Na Teoria do Espaço Turístico determina-se uma taxonomia específica que possibilita reforçar o papel hierárquico de destinos turísticos por relação regional e territorial. Essa abstração teórica formula estatutos específicos dos produtos regionais e locais (Boullón, 1985). Assim, em seu uso, é possível identificar características dos principais municípios de uma determinada área, qualificando de Complexo Turístico a Corredor Turístico ao associar seus atrativos e equipamentos turísticos, suas ofertas turísticas, permanência e os territórios turísticos formados.
A respectiva Teoria foi apresentada inicialmente nos cursos do Cicatur para o Governo Federal do Brasil, por Darriulat (Embratur, OEA, & Cicatur, 1973), e posteriormente divulgada por Boullón (1985). Entretanto, “Não é raro encontrar trabalhos que omitem uma descrição detalhada da metodologia utilizada na pesquisa, impossibilitando, assim, a repetição da análise por outro pesquisador” (Denker & Da Viá, 2001, p. 29). Essa perspectiva dificulta uma avaliação com maior detalhamento em relação à sua formação, evolução e filiação.
Ao definir este aporte teórico, espera-se qualificar um concreto pensado com rigor teórico e metodológico. Essa condição perpassa inclusive no reconhecimento de suas temáticas e conceitos, muitas vezes apresentados por complexas elaborações ontológicas. A Teoria do Espaço Turístico é confrontada com a qualificação hierárquica dos municípios brasileiros (Categorização) proposta pelo Governo Federal por meio do Ministério do Turismo (MTur). Esta elaboração qualificada por letras de A (de maior valor) até E (de menor valor) é resultante de uma complexa fórmula que agrupa questões de emprego, renda e fluxos de turistas (MTur, 2022a), e substitui uma identificação anterior denominada Destinos Indutores, com forte apelo político.
Ainda, atualmente, novas tecnologias possibilitam o rastreamento de pessoas em um respectivo local, o que gera dados e informações que têm sido disponibilizados por empresas diversas de tecnologia. Nesta pesquisa, destacam-se aqueles fornecidos por uma operadora de telefonia móvel para o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Rio Grande do Sul (Sebrae-RS). O monitoramento, realizado com o sistema chamado Big Data , foi aplicado nos municípios de Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Caxias do Sul e Bento Gonçalves (Luca Tourism, 2019a, 2019b, 2019c, 2019d, 2019e), que fazem parte da Serra Gaúcha e são objetos deste estudo.
Salienta-se que os dados digitais têm algumas limitações de pesquisa, tanto quanto ao método como por recortes territoriais, por exemplo. Assim, o estudo não se estende a outros municípios que seriam interessantes no entendimento contínuo da região, como Farroupilha e Garibaldi. Nota-se também que seus dados quantitativos são facilmente refutados por pesquisas com rigor estatístico do MTur, como será observado adiante. No estudo, somam-se aportes de observação direta dos municípios analisados.
Assim, o objetivo é verificar valores intrínsecos e extrínsecos que qualificam e hierarquizam as localidades turísticas nessas diferentes abordagens. Espera-se também determinar a viabilidade de utilização das respectivas metodologias e compreender as convergências e divergências encontradas. A questão norteadora indaga se os dados em suas diferentes abordagens são complementares na qualificação do território turístico. P or meio do confronto teórico-prático, anseia-se apontar direções para futuros planejamentos locais e regionais.
1.1 Alguns valores para a caracterização concreta do objeto de estudo
Como apontado, na Teoria do Espaço Turístico (Embratur, OEA & Cicatur, 1973), alguns pontos causam certa estranheza quanto à fragilidade em seu rigor metodológico. Essa questão foi identificada no material inicial (Darriulat, 1973) e não esclarecida nas novas abordagens feitas por Boullón (1985, 1990, 2015). Entretanto, o panorama dos conceitos metodológicos está longe de desqualificá-la ao considerar toda expertise e arcabouço das categorias conceituais trazidos pela proposta teórica e por suas implantações práticas. São formulações que na análise identificam-se localidades (territórios) que, por abstrações, são abordadas e envolvidas para sua qualificação. Esta condição tem sido determinante para o planejamento e o desenvolvimento do turismo municipal e regional há muitas décadas na América Latina (Acerenza, 1987; César, 2011).
Neste estudo, inicialmente, qualifica-se este dimensionamento teórico com o material apostilado de um Curso em Planejamento Turístico, dado por um convênio nos anos 1970, envolvendo o Governo Federal do Brasil por meio da Embratur (na época Empresa Brasileira de Turismo), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Cicatur (Centro Interamericano de Capacitação Turística[2]). Essa teoria é apresentada no vasto campo didático e bibliográfico aos planejadores territoriais do Brasil, entre outros agentes públicos vinculados à problemática. Assim, estes especialistas brasileiros conheceram provavelmente pela primeira vez esta teoria dada no curso por Darriulat. Repara-se que parte do material em apostilado anos depois é publicado por Boullón (1985). É certo que estes dois pesquisadores, Boullón e Darriulat, eram vinculados ao Cicatur. Portanto, neste estudo tal instituição é atribuída como formuladora da proposta, que provavelmente é de autoria conjunta. Porém, os dois pesquisadores, ao apresentarem a requerida construção teórica, não creditam ao outro colega a participação na sua elaboração.
Para seu confronto prático na pesquisa ora apresentada, define-se o recorte dentro de uma área turística brasileira situada no nordeste do Rio Grande do Sul, denominada pelo Governo do Estado como Região Funcional 3 (RF3) para efeito de planejamento. A partir da referida região, um novo recorte é feito, justificado por características e limitações metodológicas, a escolher entre seus 49 municípios.
Gramado se destaca, na centralidade, por sua associação à atividade turística. Este município conta com a presença marcante de imigrantes germânicos e itálicos, entre outros, em uma área de maior complexidade no processo de formação territorial. Também se sobressai como o principal núcleo receptor, importante no papel de formador de fluxos turísticos intrarregionais. Nesta condição, observa-se na pesquisa que muitos dos seus turistas são caracterizados como visitantes em outras localidades turísticas, apropriando-se de uma estendida área que extrapola os seus limites municipais.
O turista que se apropria do território pela atividade turística soma-se à produção do espaço receptor. Assim espera-se, por meio dessa teoria e dos procedimentos metodológicos adotados, reconhecer esse processo de formação regional. Ressalta-se que Gramado, por aspecto de centralidade, confronta-se com Caxias do Sul, dado como referência ao aspecto de formação central. Essa condição é reforçada por seus valores produtivos, sua determinação central político-administrativa, no setor produtivo metalomecânico, além dos serviços de saúde e universitário.
2. Metodologia
Comumente, qualifica-se o turismo entre fatores representacionais de suas atividades práticas e suas formulações teóricas. Neste contexto, no estudo do campo teórico deste artigo, adota-se e avalia-se a definição, a elaboração, a formação, os valores de seus estatutos e os pressupostos conceituais na definição da Teoria do Espaço Turístico (Embratur, OEA & Cicatur, 1973). No campo prático, por sua representação concreta, pensa-se no seu reconhecimento por apropriações territoriais diversas realizadas no nordeste do Rio Grande do Sul (MTur, 2022a). Esse local, por algumas definições históricas e turísticas, é denominado de Serra, ou Serra Gaúcha.
Sabe-se que a prática do turismo em locais assim comumente “leva à multiplicação de espaços específicos de uso preferencial turístico e provoca a construção de um tipo de cidade, as cidades turísticas, que representam uma forma singular de urbanização” (Quintana, 2015, p. 15, tradução nossa). Nesta formação, as terminologias localidade e destinação turística são adotadas ao se referir à sobreposição territorial da atividade no município, condição determinante de materialidade espacial passível por um reconhecimento prático, sustentada por seus equipamentos e atrativos turísticos.
Vê-se, assim, a necessidade de um “conhecimento prévio . . . [para um] trabalho de pesquisa da realidade de então” (Teixeira & Frederico, 2010, p. 77), para ter na teoria um modelo imaginário. Essa questão pode ser retratada como “uma realidade específica para qual ela fornece os elementos básicos” (Cohn, 2003, p. 197). Desta maneira: “Justifica-se sua utilização ao considerar a relevância de estudos bibliográficos de natureza exploratória, pelas características subjetivas das variáreis, a temporalidade e a originalidade do assunto” (César, 2011, p. 15). Espera-se confrontar as formulações encontradas que qualificam a teoria como concreto pensado.
Para tanto, inicialmente, um levantamento pontual de referenciais bibliográficos que constituem a formação da teoria em questão foi feito. É fato que há uma insuficiência de dados, principalmente por não terem sido localizadas vastas pesquisas que aprofundem este percurso na elaboração ontológica do corpo teórico em literatura disponível no Brasil. Espera-se indicar mais pressupostos norteadores possíveis em vez de conclusões teóricas determinantes, situação comum em novas avaliações e com certo grau exploratório, como bem apontado por Japiassu (1992).
O material teórico proposto foi aplicado com a observação direta nas localidades definidas. Determinaram-se indicações por conceitos dessa Teoria ao confrontar e retratar os seus valores nas localidades turísticas. Para esta avaliação prévia, um intenso trabalho prático de inventário turístico foi realizado, por mais de quatro anos de pesquisa, por toda a região funcional com seus 49 municípios, em que foram identificados os meios de hospedagens, as estruturas gastronômicas, outros equipamentos, os atrativos, entre distintos valores infraestruturais e superestruturais que qualificam os principais destinos indutores da atividade turística. Somam-se a esse levantamento os dados cadastrais de atividade em turismo (Cadastur) do MTur e outras informações dos órgãos oficiais dos municípios. A somatória desses determina a categorização hierárquica dos municípios.
Posteriormente, com o uso de sites, buscou-se mapear os atrativos e os equipamentos turísticos, atualizando as informações do referido cadastro federal, no qual grande defasagem foi notada. Buscaram-se, metodologicamente, o reconhecimento e a avaliação dos dados na internet, conforme indicado por Favaro, Gill e Harvey (2019). Após, foram realizadas visitas nas respectivas áreas turísticas para o reconhecimento de suas dimensões de acolhimento, identificando características gerais dos visitantes. Para tal identificação dos sujeitos e de suas apropriações territoriais, foram tomadas como aporte as qualificações de Bourdieu (2009), sua identificação de Habitus e de Campos (Maton, 2018; Thomson, 2018), embora não detalhada neste estudo. Soma-se ao uso de recursos informacionais, como trabalhado em Braum, Clarke e Gray (2019). Os dados resultantes na qualificação das localidades desdobram-se na aplicação da categorização hierárquica turística proposta na Teoria do Espaço Turístico (Embratur, OEA & Cicatur, 1973).
Partindo desse levantamento realizado por pesquisas prévias, nesta utilizam-se ainda as características territoriais identificadas por rastreamento digital, realizado por empresa de telefonia, por demanda do Sebrae-RS, comumente denominado Big Data (Luca Tourism, 2019a, 2019b, 2019c, 2019d, 2019e). Dentro das áreas pré-definidas na pesquisa, em que um anterior inventário foi feito e qualificado pelas respectivas hierarquias, elege-se o uso de dados coletados por monitoramento de aparelhos de telefonia móveis em Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Assim, um recorte específico é determinado, considerando que o levantamento informacional trabalha com essas entre as localidades para o turismo regional.
Um levantamento bibliográfico acerca da existência de um diálogo conceitual entre as três abordagens trabalhadas também foi feito. Assim, selecionaram-se artigos no site de busca da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Inicialmente, a busca aos termos: Bigdata (ou Big Data ), Boullón, Categorização (ou MTur) não teve resultado. Posteriormente, foram realizadas buscas individuais, identificando, de 18 artigos, seis considerados os mais relevantes com a associação das palavras: Big Data e Turismo, Boullón e Turismo, e Categorização e MTur.
Lizano e Sánchez (2020, p. 482, tradução nossa) identificam que:
Nos últimos dez anos a inovação tecnológica tem sido particularmente disruptiva com o surgimento do Bigdata, da Internet das Coisas, da Inteligência Artificial e da Robotização: a maximização do uso do sistema de geoposicionamento global (GIS) identificando serviços turístico em relação ao turista
Esse pressuposto é reforçado por Valencia-Arias et al. (2020, p. 245), que apontam o Big Data como uma nova ferramenta tecnológica para o auxílio de estratégias na tomada de decisões por parte do governo e de empresários do setor do turismo. Por vez, Marine-Roig e Gallisà (2018), embora não tratem da questão do Big Data, desenvolvem uma importante referência acerca do uso de consultas de sites de avaliações para compreender a atividade turística. Trabalha-se o sujeito como user-generated content (UGC), ou seja, usuário gerador de conteúdo, o que os qualifica como formadores de online travel reviews (OTRs) (avaliações de viagens on-line). No trabalho específico, as autoras se preocupam com a formação das Imagens das destinações turísticas (TDI tourism destination image).
Entretanto, nenhum dos autores engloba ao Big Data estudos de outras teorias clássicas do turismo. Uma publicação foi desconsiderada por trabalhar a palavra Big Data somente em uma das referências utilizadas. Autores pontuais que estudam a Teoria do Espaço Turístico apresentado por Boullón associam-se à categorização do MTur. Desses, pode-se destacar Santos et al. (2017), e Sette e Tomazzoni (2017).
Por tais referências, pode-se considerar que estudos como a Teoria do Espaço Turístico e a dinâmica de categorização das localidades turísticas são condições fundamentais para o estudo territorial do turismo. O uso de novas tecnologias digitais pode ser considerado uma tendência, embora pouco refletida no Brasil, o que indica um ineditismo e relevância para esta pesquisa.
3. Construção teórica
Avaliar a Teoria do Espaço Turístico apresenta alguns pontos abertos. Retrata-se, nesta pesquisa, a questão referente à sua elaboração, que remete a uma proposta metodológica impressa por dois autores distintos: o uruguaio Juan Carlos Darriulat (Embratur, OEA & Cicatur, 1973) e o argentino Roberto Boullón (1985), ambos vinculados à Cicatur e com atuações marcantes. Nota-se que tal construção distancia-se da Geografia Crítica (Santos, 2004), abordagem elaborada neste mesmo período (anos de 1970), que se abre para novas dimensões ao abordar questões espaciais.
Um ponto interessante é que nas propostas identificadas a Teoria é referenciada como sustentação a planos turísticos. Esses poderiam colaborar para uma melhor compreensão do pressuposto teórico. Observa-se que, entre eles, sua elaboração reforça primeiramente um caráter territorial, como desenvolvido na Argentina no ano de 1968 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires. Sua equipe de especialistas conta com os arquitetos Roberto Boullón e José Maria Oliver (Acerenza, 1987). Porém, não foi possível acessar o material via buscas virtuais , visto que os respectivos planos e documentos não foram localizados. Contudo, sabe-se que estes foram elaborados em um período conturbado na América Latina, especificamente na Argentina, entre o governo peronista e as ditaduras militares.
Destaca-se o papel de Boullón, que coordenou, pelo Cicatur, a elaboração em 1978 do Plan de Desarrollo Turístico del Uruguay, atualizado em 1986 (Quintana, 2015, 2016), material que adota a Teoria do Espaço Turístico. Assim, conceitos definidos como atrativo turístico, planta turística e infraestrutura turística são incorporados e avaliam-se sua adequação e suas modalidades localizacionais em Zona Turística e em outras categorias hierárquicas territoriais. Todos estes conceitos também foram anteriormente apontados por Darriulat nos cursos do Cicatur (Embratur, OEA & Cicatur, 1973).
Sabe-se que o Cicatur teve seu funcionamento vinculado à OEA, com atuação na América Latina entre os anos de 1973 e início da década de 1980. Seu objetivo era proporcionar a formação de especialistas e de material bibliográfico para o planejamento do turismo (Quintana, 2015; Icaza, 2017). Sua abordagem colabora para um entendimento da abrangência regional do turismo no contexto da América Latina. Soma-se a possibilidade do fortalecimento da reprodução capitalista neste continente.
A Teoria do Espaço Turístico, com suas taxonomias, pode direcionar para três grupos de valores na composição hierárquica da atividade das localidades. Nessa qualificação, é possível definir a distribuição do território por categorias distintas que, inclusive, podem se sobrepor: zona turística, área turística e complexo turístico. Um segundo grupo pode ser identificado nas atribuições tratadas na formação específica em Centro Turístico e com diversas especificidades, além das de menor demanda, como Unidades Turísticas, Núcleos Turísticos e Conjuntos Turísticos. Finalmente, Corredores Turísticos configuram-se por apropriação linear em conexão entre as localidades turísticas ou entre estas e os pontos emissores. Esses sustentam-se em outras demandas turísticas e também se desdobram por suas especificidades.
No uso da Teoria, os destinos turísticos podem ser qualificados principalmente para pontuar o segundo e o terceiro grupos. Sabe-se que neles aspectos superestruturais estão envolvidos, como a formação do produto para o mercado, as legislações pertinentes e a planta turística, compreendendo os serviços e as instalações, os equipamentos turísticos, além dos atrativos turísticos (Darriulat, 1973). A somatória específica desses valores dirigidos ao turismo o qualifica (Timón, 2004). Assim, é necessário reconhecer o destino turístico como categoria distinta de apropriação territorial, abarcado na localidade turística, que pode ser definido como um subsistema local que dá suporte à atividade. Porém, ele não se restringe à sua ação concreta, mas a toda ação efetiva envolvida em uma unidade local produtiva do turismo. Neste panorama conceitual, o destino turístico pode se referir a diversas escalas territoriais.
Posteriormente, na formulação da Teoria do Espaço Turístico, Boullón (1990) define os municípios turísticos em tipologia de Centros Turísticos. Assim, esses se qualificam entre Centro de Distribuição, de Estada, de Escala, de Excursões e Recreativo. Sua diferenciação se associa à sua frequência e ao período de estada (per noite), características que podem definir a demanda de hospedagem, segundo o autor, como mostra o Quadro 1.
Boullón faz uma importante pontuação ao afirmar que “um Centro Turístico pode apresentar-se de forma exclusiva, mas também é possível que exerça mais do que uma função ao mesmo tempo” (1990, p. 48, tradução nossa). Essas funções podem ser divididas em função principal e outra secundária ou complementar.
Boullón apresenta valores inerentes ao desenvolvimento regional. Porém, sua formulação teórica se sustenta mais por uma perspectiva que reforça a utilização como principal suporte epistemológico à Teoria dos Sistemas. Essa abordagem, marcante nas Ciências Sociais nos anos 1970, tem forte influência ainda hoje nos estudos teóricos do Turismo. Neste panorama retrata-se:
Quando um sistema de planejamento nacional começa a funcionar, a primeira coisa a se fazer é definir tecnicamente seu escopo de atuação com base na regionalização do país. Essa tarefa consiste em dividi-lo em partes, de acordo com uma série de critérios técnicos. Depois, por um lado, serão elaborados os planos de cada região e, por outro, os planos setoriais; mas não separadamente, mas integrando-os. O objetivo é que, ao menos teoricamente, cada plano setorial seja desagregado por região para que os planos regionais conciliem interesses e problemas diversos. (Boullón, 2015, p. 57, tradução nossa).
Reforça-se ainda que as políticas no setor do turismo devem ser feitas associadas à promoção das localidades como produtos turísticos, tendo o estudo da respectiva área qualificando-a na Teoria do Espaço Turístico. Para tal, entende Boullón (2015) que é necessário reconhecer intrinsecamente as realidades do que chama de Patrimônio, ou seja, os recursos turísticos previamente inventariados. Somam-se, por uma visão macro, outros valores definidos nos limites da sua Zona Turística, característicos das imagens que colaboram no material de exposição comercial. É proposto , assim, um exercício desde as escalas da Zona Turística (a maior dimensão turística territorial) até os respectivos equipamentos e atrativos, em que não se deva perder de vista a qualificação hierárquica da localidade que se aporta.
Boullón (2015, p. 91, tradução nossa) define ainda que:
No campo específico do planejamento físico, a teoria do espaço é um instrumento útil para orientar a análise e o diagnóstico do setor, mediante um procedimento que simplifica o trabalho intelectual ao conduzi-lo de maneira ordenada. Posteriormente, e de acordo com o potencial de cada elemento, e as projeções de demanda, primeiramente será necessário estabelecer os limites de crescimento de todos os elementos do espaço turístico analisados e, a seguir, calcular com um nível satisfatório de aproximação as categorias e tipos de equipamentos turísticos a construir, em cada fase da sua evolução. Na parte decisiva de um plano, depois de conhecer como são e como funcionam os elementos que compõem o espaço turístico, é necessário identificar projetos, pensados não em si mesmos, mas como meio de melhorar o desempenho individual de cada elemento em de forma coordenada, de modo que cada sucesso parcial suceda no benefício do conjunto
Alguns pontos têm certa debilidade com relação à abordagem da Teoria. Entre eles, pode-se observar que seus atores não compreendem que o turismo é uma atividade urbana e contemporânea que pode ser desenvolvida em diversos ambientes como, por exemplo, o urbano, o natural, o oceânico, o rural, para usar algumas de suas caracterizações distintas. Nota-se, entretanto, que a Teoria do Espaço Turístico tem uma carência na compreensão da atividade turística em ambientes naturais . Dessa forma, sua prática dissocia dessa formulação teórica.
Além disso, pensa-se na necessidade da incorporação e na atualização de conceitos da Teoria, em que se espera o aporte metodológico estruturalista. Não por um posicionamento pragmático, mas como proposto por autores como Giddens ao “dar prioridade ao objeto sobre o sujeito ou, em certo sentido, à estrutura sobre a ação” (2018, p. 60). Assim, como ferramenta de possibilidades no entendimento das apropriações e das formulações das materialidades espaciais, pressuposto definido como suporte das cidades e que qualifica conexões “cada vez mais organizadas em torno de redes” (Castells, 2001, p. 497). Nesta condição, espera-se confrontar essa Teoria com outras maneiras (metodologias) adotadas para o reconhecimento hierárquico das localidades.
4. Avaliação das localidades
O Ministério do Turismo brasileiro apresenta um fundamental levantamento acerca dos fluxos de turistas no país. Em conjunto com outros órgãos federais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levanta, por meio de pesquisa censitária com uso de amostragem domiciliar e por mapeamento do turismo no país, a quantificação dos fluxos de turistas nacionais. Soma-se o monitoramento dos turistas estrangeiros, por órgãos competentes migratórios. Esses contribuem para qualificar hierarquicamente os municípios no Brasil com dados cadastrais e outras informações não trazidas neste estudo, como arrecadação fiscal, em que são apontados empregos e unidades de estabelecimentos voltados à hospedagem no país.
Para a qualificação dos dados, realizou-se inicialmente a definição do número de turistas de Caxias do Sul, dimensão utilizada para contrastar dados. Assim, diversos levantamentos complementares acerca do fluxo de turistas são considerados. Tendo 2018/2019 como anos referenciais para este estudo, foram levados em conta : o número de leitos de meios de hospedagem disponível (segundo o Sindicato do setor, aproximadamente 3,3 mil), a taxa de ocupação (entre 75-80%), o tempo médio de utilização semanal (razão de 1,7/1,8), e o percentual de utilização dos meios de hospedagem considerando outras maneiras de pernoite, informado pela Secretaria de Turismo do município (aproximadamente 60%). Diante disso, foi estimada uma dimensão de 450 mil turistas, utilizada somente para confrontar a pesquisa.
Na Tabela 1 há um panorama do recorte dos municípios trabalhados nesta pesquisa. Observa-se que empregos e estabelecimentos, em números absolutos, referem-se ao setor de hospedagem. Ao item atribuído pelo MTur como cluster, há uma classificação hierárquica de ‘A’ a ‘E’, em que a primeira é a de maior valor e as outras diminuem sucessivamente. É notório que a dimensão de turistas de Caxias do Sul, previamente estimada, aproxima-se da apresentada pelo MTur.
Esses dados reforçam as considerações levantadas por observação. Assim, identifica-se o papel definido por Gramado, além de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. As condições de Canela, por aproximação de Gramado, e de Nova Petrópolis, enquanto conexão, precisam de um maior entendimento espacial. A Tabela 2 reforça esses papéis com os respectivos dados que podem ser comparados com um início de uma formulação em série histórica:
Por observação das localidades e por meio de seu inventário, um levantamento dos atrativos e dos equipamentos turísticos foi realizado e, assim, apontam-se algumas configurações. Ao confrontar os dados ministeriais do recorte definido com a Teoria do Espaço Turístico na pesquisa, o destino turístico Gramado pode ser classificado como o de maior valor hierárquico: Centro Turístico de Distribuição. Em r
Por observação das localidades e por meio de seu inventário, um levantamento dos atrativos e dos equipamentos turísticos foi realizado e, assim, apontam-se algumas configurações. Ao confrontar os dados ministeriais do recorte definido com a Teoria do Espaço Turístico na pesquisa, o destino turístico Gramado pode ser classificado como o de maior valor hierárquico: Centro Turístico de Distribuição. Em relação a ele, Canela é definido como Centro Turístico de Excursão, embora também pode ser destacado como parte da localidade conurbada turisticamente com Gramado, definindo um destino único ou mesmo como Complexo Turístico, por sua capacidade de atratividades e de acolhimento local específico.
Nessa mesma dubiedade, observa-se Nova Petrópolis, que tem se posicionado, principalmente em termos territoriais como Corredor de Excursão, embora nele se tenha o turismo como agente motor. Por essa condição, pode ser referido como Unidade Turística quando identificado o visitante por pernoite (Tabela 2).
Bento Gonçalves pontua-se como Complexo Turístico, principalmente como valor de centralidade das práticas de enoturismo da região. Essa situação envolve uma série de localidades não levantadas no rastreamento do Big Data , e consequentemente não envolvida no recorte definido neste estudo, como Pinto Bandeira, entre outras. Entretanto, nota-se que muito da sua oferta turística se faz a partir do polo gerador na centralidade turística de Gramado.
Esse contexto é diferente do de Caxias do Sul, que se caracteriza como Complexo Turístico e tem uma atividade de visitação por uma planta turística própria, sustentada por visitantes atraídos por suas matrizes econômicas industriais, de comércio e de serviço. Destaca-se, ao qualificar sua centralidade regional, a locação das sedes empresariais de holdings industriais dos grupos Randon, Marcopolo e Agrale (César, 2018), além de centros de compras regionais. Soma-se a sede da Universidade de Caxias do Sul e de serviços públicos administrativos e de saúde especializados no município.
Na representação da Figura 2, notam-se esses municípios estudados. Além deles, há outras localidades que se enquadram nos limites representacionais gráficos, mas que não foram avaliadas nesta pesquisa. São elas: Garibaldi e Carlos Barbosa, que não foram rastreadas pelo Big Data
Ao incorporar os dados levantados na pesquisa do Sebrae-RS (Luca Tourism, 2019a, 2019b, 2019c, 2019d, 2019e) optou-se por trabalhar com percentuais. Tal opção recai na discrepância dos números absolutos de turistas no levantamento realizado com o uso dos recursos de monitoramento virtual. Esse panorama pode ser observado quando comparados estes levantamentos com os do MTur, que utiliza um método rigoroso e científico definido pela Fundação Instituto de Pesquisa Estatística (FIPE), órgão vinculado ao Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (MTur , 2022a). Dessa maneira, não se vê lógica, por exemplo, em números identificados pela Luca Tourism que apontam 3.442.039 de turistas/visitantes totais, ou 1.206.499 de turistas/visitantes únicos para Nova Petrópolis, como mostra a Tabela 3. Entretanto, com estes é possível fazer cruzamentos, simulações e, somados com a observação direta e o levantamento de outros dados, como dos fluxos do MTur-Fipe (MTur , 2022a, 2022b, 2022c), chegar a algumas indicações:
Define-se o panorama dos municípios por uma taxonomia na Teoria do Espaço Turístico, confrontando os dados do Big Data . Avaliam-se, assim, percentualmente os dados referentes às cidades visitadas e ao número de dias de pernoite das localidades. É notável que mais da metade dos visitantes de Nova Petrópolis ficam menos de 24 horas, ou seja, sem pernoite. Sua visita incorpora predominantemente mais dois locais (no mínimo), caracterizando-o como Corredor de Excursão.
Nessa nova abordagem, há ênfase na avaliação dos percentuais. Nesse contexto, sua permanência aponta para algumas questões. O baixo número percentual de Canela por um dia (14,4% dos visitantes) justifica-se pela conurbação turística que esta localidade tem com Gramado. Soma-se o fato que Gramado se sustenta com aproximadamente 60% de visita própria de mais de um dia, observação que indica dependência da primeira com relação à segunda. A distribuição espacial do visitante dificilmente ficará restrita.
Essa situação de dependência, inclusive, pode também ser observada em Nova Petrópolis. Por vez, seu percentual por uma opção territorial reforça sua qualificação como Corredor Turístico de Gramado/Canela e como conexão a grandes centros emissores e aos aeroportos de Caxias do Sul e de Porto Alegre. O acentuado número de turistas de Nova Petrópolis, por visitação em três localidades turísticas ou mais (52,33%), reforça seu papel como oferta complementar, o que se aponta também para Canela e Bento Gonçalves, conforme Tabela 4. A configuração territorial e regional desponta no papel dessas duas localidades como oferta complementar de Gramado. Por vez, o equilíbrio de Caxias do Sul e Gramado os define como destinos indutores específicos da região. Assim, grande parte dos visitantes de Caixas do Sul se restringem a ela (33,88%), embora a conexão entre duas ou mais cidades se dê com um equilíbrio de proporcionalidade.
Quando analisados os dias de permanência dos visitantes dos respectivos municípios, os dados apontados anteriormente são reforçados, definindo Gramado, Caxias do Sul e Bento Gonçalves como destinos indutores. Pode ser observado que, essencialmente, os turistas não ficam mais de duas semanas. Com números percentuais um pouco mais consideráveis neste maior período encontra-se Caxias do Sul, com mais de 7%, como mostra a Tabela 5, embora percentualmente irrisório
Por observação das localidades e por meio de seu inventário, um levantamento dos atrativos e dos equipamentos turísticos foi realizado e, assim, apontam-se algumas configurações. Ao confrontar os dados ministeriais do recorte definido com a Teoria do Espaço Turístico na pesquisa, o destino turístico Gramado pode ser classificado como o de maior valor hierárquico: Centro Turístico de Distribuição. Em relação a ele, Canela é definido como Centro Turístico de Excursão, embora também pode ser destacado como parte da localidade conurbada turisticamente com Gramado, definindo um destino único ou mesmo como Complexo Turístico, por sua capacidade de atratividades e de acolhimento local específico.
Nessa mesma dubiedade, observa-se Nova Petrópolis, que tem se posicionado, principalmente em termos territoriais como Corredor de Excursão, embora nele se tenha o turismo como agente motor. Por essa condição, pode ser referido como Unidade Turística quando identificado o visitante por pernoite (Tabela 2).
5. Considerações Finais
Como pontuado, confrontam-se dados qualitativos com o inventário e a observação direta. Est es resultam na qualificação de algumas questões específicas na formulação prática e concreta da Teoria do Espaço Turístico. A esses, somam-se os dados dos levantamentos da companhia telefônica e do MTur. Embora utilizem metodologias distintas na coleta, todos se somam e convergem no entendimento das formulações territoriais e, consequentemente, regionais. R essalvas são feitas somente em relação aos números absolutos da pesquisa informacional do Big Data . Desta maneira, esses dados foram requalificados para dar maior rigor metodológico, não comprometendo as informações existentes.
O estudo reforça a persistência do uso da Teoria do Espaço Turístico para o entendimento regional. Porém, defronta com muitas debilidades na formação da coleta de dados dos sistemas digitais. Esses que, sem dúvida, serão um ponto básico para estudos nesta grandeza, mas que atualmente ainda precisam de outros suportes como aqui apresentados. A atualização teórica perpassa a incorporação de novas tecnologias. Estas são importantes, entretanto não são uma condição sine qua non, mas colaboram como ferramenta para a formulação concreta. Porém, é necessária a atualização do corpo epistemológico para o entendimento do espaço por meio da Teoria.
Tendo como base as apropriações e as dimensões territoriais definidas pelo turismo nos municípios estudados, é possível se inclinar a algumas conclusões ou indicações referentes à Teoria do Espaço Turístico. As condições de Gramado, principal destino indutor, definem um eixo de distribuição turística entre Bento Gonçalves e Canela, passando por Nova Petrópolis, Carlos Barbosa e Garibaldi, entre outros municípios não analisados nesta pesquisa. Assim, o turismo efetivo é possibilitado pelo acesso rodoviário por demandas específicas das áreas mais densamente povoadas do estado (área metropolitana de Porto Alegre e de Caxias do Sul). Soma-se a relativa facilidade de acesso do Aeroporto Internacional de Porto Alegre e do Aeroporto Regional de Caxias do Sul, conectando a localidade ao país e ao exterior. Entretanto, essa justificativa não se resume às definições quanto ao seu papel como principal destino regional, mas se sustenta.
Esse polo turístico, por vez, define uma distribuição peculiar. A existência de uma demanda específica em Bento Gonçalves, embora reduzida, cria uma conectividade com Gramado e define um arco rodoviário de distribuição de serviços e de atrativos turísticos. Essa posição, embora favoreça diretamente Nova Petrópolis, também beneficia outras localidades não avaliadas nesta pesquisa, como Garibaldi, Carlos Barbosa, Santa Tereza, Monte Belo do Sul e Pinto Bandeira. Entretanto, Nova Petrópolis se favorece de um turismo rodoviário por ser conexão de acesso terrestre de Caxias do Sul e Porto Alegre a Gramado, e Farroupilha tanto tem uma influência de Caxias do Sul como de Bento Gonçalves. Aos outros municípios, determina uma conectividade na oferta do e no turismo regional.
Por vez, observa-se que Caxias do Sul tem um caráter independente. Esse se destaca como município industrial e tem um turismo com forte apelo a demandas de negócios. Em tal situação, há melhor posição de independência frente a Gramado na formação de seus atrativos turísticos. Entretanto, poderia se favorecer mais da proximidade com esse destino. O que mais dificulta esta aproximação é a formação do referido arco que não os perpassa, o que pode ser alterado com novas configurações territoriais como, por exemplo, outro aeroporto que poderá criar novos portões de acesso e conectividade.
A somatória de dados e informações gerada por essas abordagens analisadas se valida como instrumento de qualificação das localidades turísticas. A Teoria do Espaço Turístico, embora desenvolvida há meio século, tem sua importância ao definir como uma teoria de centralidades turísticas e de entendimento de seus territórios de influência, como apontada por Boullón (1985) ao qualificar as Zonas Turísticas. A observação nesta pesquisa, assim como os dados do Ministério do Turismo e das tecnologias de rastreamentos, é fundamental no entendimento do território com um maior rigor. Entretanto, espera-se que as empresas de rastreamentos tenham técnicas metodológicas que dialoguem com estatutos estabelecidos nos arcabouços conceituais dos estudos do turismo.
Por todas as abordagens adotadas, espera-se que novos estudos se desenvolvam com a somatória desses pontos. Por vez, seria interessante que os rastreamentos possam oferecer dados acerca de pontos de permanência nos equipamentos e atrativos. Tal situação, no estreitamento das escalas, poderá definir indicadores para ter uma maior clareza na definição de ofertas primárias, secundárias e complementares dos produtos turísticos. Com estes pontos definidos, a observação direta colaborará em apontar políticas e ações de planejamento turístico e territorial.
Entretanto, neste ponto torna-se urgente o entendimento das discrepâncias numéricas entre as abordagens. Outro ponto específico na área de estudo refere-se a um possível entendimento dos impactos gerados em diversos momentos e períodos. Pode-se pensar, por exemplo, na imagem negativa gerada na Serra Gaúcha, e especificamente em Bento Gonçalves, após as denúncias de trabalhos análogos à escravidão em algumas vinícolas e suas consequências na atividade turística local e regional.
Essas características territoriais podem contribuir para políticas públicas específicas do turismo local e regional. A identificação das ofertas primárias, secundárias e complementares, realizada por desdobramento da pesquisa, poderá facilitar temas diversos e decisões por critérios técnicos. A esses se destaca, por exemplo, o reconhecimento de uma provável direção a ser adotada por Caxias do Sul, seja na formulação de uma oferta turística complementar ou na extensão de sua própria força motriz. É possível pensar também na existência de debilidades e fraquezas da oferta turística de Bento Gonçalves. Espera-se nesta condição entender as possibilidades de políticas territoriais com base nestes contextos avaliativos.
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Notas