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Ensaio Fotográfico e Processo Criativo do vídeo Viva Ouro Preto VR
Ensaio Fotográfico e Processo Criativo do vídeo Viva Ouro Preto VR
Caderno Virtual de Turismo, vol. 23, núm. 1, 2023
Universidade Federal do Rio de Janeiro
A criação do ensaio fotográfico apresentado neste artigo foi motivada por pesquisas em andamento no Programa de Pós-graduação em Mídias Criativas (PPGMC) da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) em parceria com o Programa de Pós-graduação Profissional em Música (PROMUS) da Escola de Música da UFRJ.
O desafio inicial dos pesquisadores envolvidos neste projeto foi criar uma experiência imersiva que valorizasse o patrimônio histórico, cultural e natural de Ouro Preto, Minas Gerais. A cidade-patrimônio foi uma das 9 contempladas no Projeto Bossa Criativa - Arte de Toda Gente, parceria entre a Fundação Nacional de Artes (Funarte) e a UFRJ, o que viabilizou a experiência.
Em março de 2020, apenas uma semana antes do primeiro lockdown devido à pandemia por covid-19, uma equipe viajou para a cidade histórica com o objetivo de captar fotografias e vídeos 360°. A ideia inicial era utilizar as imagens em uma experiência hipermídia imersiva e multissensorial, com projeções mapeadas internas e externas em um domo em formato de cúpula inflável. Haveria também áudio espacializado.
Como o aproveitamento das dimensões sonora e musical da projeção exigia o confinamento do público em um domo, sua realização presencial foi completamente inviabilizada pela chegada da pandemia. Logo, foi necessário buscar uma solução alternativa que pudesse ser tanto desenvolvida quanto exibida remotamente. Em um momento em que o mundo se fechou para conter o avanço do covid-19, o projeto teve que ser completamente adaptado nos moldes do que aconteceu com a comunicação digital global, como explica Katia Augusta Maciel, roteirista e produtora criativa:
Nós inicialmente queríamos criar uma experiência audio-tátil-visual, mas tivemos que abrir mão dos sensores de movimento e investir em uma performance musical e visual que pudesse aplicar a realidade virtual para a valorização do patrimônio histórico e cultural de Ouro Preto. Apresentar toda a exuberância desse patrimônio de uma forma nunca vista e nos distanciar de um simples tour virtual. Algumas ideias do roteiro original, como o mosaico de imagens, permaneceram, mas outras, como a cena da malabarista, tiveram que ser reescritas no roteiro final que veio a ser o produto audiovisual Viva Ouro Preto VR, obra que lançamos em agosto de 2020 como resultado concreto de toda essa aventura.[1]
O historiador Ângelo Oswaldo, atual prefeito de Ouro Preto, forneceu uma lista de monumentos e lugares de interesse especial na cidade, como o Mirante Morro São Sebastião, de onde é possível ter uma visão panorâmica de Ouro Preto (Foto 1), a Casa da Ópera (Fotos 18 e 19), que é o teatro mais antigo da América Latina em funcionamento, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Fotos 20 e 21), uma das mais importantes manifestações do barroco mineiro, dentre outros. Com base nessas inspirações e no roteiro do vídeo Viva Ouro Preto VR, uma lista de stills foi encomendada a Eduardo Martino, que é produtor, pesquisador e fotógrafo, e que atuou junto a Ronaldo Ranzenberger, produtor de cinematic VR, para capturar imagens 2D e 360° aqui apresentadas.
Visão geral de Ouro Preto
Arte sacra, cultura e história nos museus de Ouro Preto
A captura das imagens em campo também foi guiada pelo propósito de apresentar artisticamente os monumentos da cidade. Havia uma preocupação de aliar informação e estética, ou seja, mostrar o que é relevante à valorização do patrimônio, mas encontrar uma forma de enunciar esteticamente nas imagens toda a riqueza cultural e histórica que Ouro Preto mantém viva. Essa era a orientação do roteiro, e por isso foram pedidas imagens em escalas variadas, planos gerais e detalhes, planos mais ilustrativos e outros mais conceituais. Isso garantiu grande liberdade criativa ao time em campo.
Como já foi mencionado, o Projeto Bossa Criativa - Arte de Toda Gente, parceria entre a Fundação Nacional de Artes (Funarte) e a UFRJ, concebeu a realização de projetos audiovisuais em 9 cidades brasileiras de grande valor histórico, cultural e turístico. Ouro Preto seria a primeira delas, onde seria montado o domo para a projeção popular, coincidindo com as celebrações dos 300 anos de fundação da cidade em 2020. Como esse plano teve que ser repensado já nos dias posteriores à captura visual em campo por conta do lockdown, a equipe de produção passou a realizar encontros regulares via plataformas digitais para levar a cabo um novo conceito que se valesse do material trazido de Ouro Preto e fosse acessível a um público remoto virtual e digitalmente. Um novo roteiro precisou ser escrito por Katia Augusta Maciel, amparado pelas imagens feitas por Eduardo Martino: tanto as fotografias still que compõem esse ensaio, como pelas panorâmicas esféricas, cujas projeções planas também constam deste artigo.
Com base nas imagens, novas ideias de roteiro foram surgindo para adaptar o produto à nova demanda imposta pela pandemia. Por exemplo, na cena em que imagens de esculturas de Aleijadinho foram sobrepostas em computação gráfica ao cenário da Casa de Ópera, surgiu a ideia de usar um efeito de canhão de luz com filtro de noite americana, guiando o olhar do público. Outros efeitos visuais foram aplicados a diferentes cenas, como o mosaico de inspiração cubista com imagens da Igreja de São Francisco de Assis (Fotos 22 e 23) que, ao girar, teletransporta o espectador para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, compondo a performance visual. Esses efeitos foram todos criados em pós-produção pelo diretor Luciano Saramago e o montador Alberto Moura. A narrativa final foi conduzida tanto pela locução feita por Andrea Testoni, quanto pelas composições musicais de pesquisadores do PROMUS, com a direção musical de Aloysio Fagerlande. A ideia foi criar uma performance integrando música e efeitos visuais que envolvesse a audiência num passeio inusitado e deslumbrante pelos monumentos, a história e a cultura que fazem de Ouro Preto uma cidade-patrimônio.
A performance musical completou a obra, fortalecendo a sensação de imersão pelo som espacializado. Como o produto final passou a ser um vídeo 360° para óculos de realidade virtual (mas que pode também ser visualizado em navegadores de celulares ou computadores), a espacialização sonora ocorre pelo uso de fones de ouvido nos óculos de VR. Estes reproduzem o som suscitando, na realidade virtual, a distância física que percebemos de fontes sonoras no mundo real. Essa imersão visual e sonora permitida pela realidade virtual possibilitou atingir objetivos similares aos que teriam ocorrido dentro de um domo, envolvendo os visitantes virtuais numa jornada afetiva, pontuada por efeitos visuais e conduzida pela trilha musical.
A colaboração entre a roteirista, Katia A. Maciel, o fotógrafo Eduardo Martino, os experts em efeitos visuais da equipe e os programadores Gerson Cunha e Célia Lopes (LAMCE-COPPE) foi essencial para as decisões sobre a simulação de movimentos de câmera, a velocidade desses movimentos e os efeitos de transição de uma cena para outra. A cena final na Casa da Ópera merece destaque nesse sentido, como explica o diretor Luciano Saramago
Pelo roteiro original, a cena tinha uma locução que falava sobre o teatro, sobre figuras ilustres da história de Ouro Preto, mas o take que gravamos mostrava apenas o interior do teatro vazio. Aquilo me incomodou. Em conversa com o fotógrafo e também responsável pelo áudio ambissônico, Eduardo Martino, surgiu a ideia de incluir na cena elementos da história da cidade. Lembrei das fotos lindas das esculturas do Aleijadinho que o Martino produziu, e pensei: “E se eu povoasse o teatro com aquelas imagens?!"
E assim, colaborativamente, nasceu o vídeo imersivo Viva Ouro Preto VR, estudando e combinando algumas poucas imagens em vídeo remanescentes do roteiro original (uma malabarista dentro das Minas de Chico Rei) com fotografias still e panorâmicas esféricas de elementos importantes da arquitetura e história de Ouro Preto, todas feitas por Eduardo Martino durante os dias de trabalho em campo em março de 2020, e concebendo composições digitais e efeitos especiais sobre todo esse material visual, sobreposto por composições musicais cuidadosamente selecionadas. O projeto foi lançado oficialmente[2] em agosto de 2020 com a presença virtual dos realizadores e principais envolvidos, além de autoridades da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Quando as restrições impostas pela pandemia de covid-19 finalmente aliviaram, Viva Ouro Preto VR teve um encontro presencial com o público na Rio Innovation Week 2022, quando foi o produto preferido entre os visitantes do estande da parceria Funarte e UFRJ.
Detalhes da cidade; vida cotidiana e arquitetura
Passado pujante associado à mineração que dá nome à cidade, mas indissociável da escravidão
Para a produção do vídeo 360 graus Viva Ouro Preto VR, foram gerados alguns panoramas esféricos de locais específicos. A seguir, visão equirretangular (projeção plana) de alguns deles, acompanhada de detalhes.
Notas