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Celso Ilgo Henz
Celso Ilgo Henz
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Educação. Revista do Centro de Educação, vol. 41, núm. 2, pp. 271-279, 2016
Universidade Federal de Santa Maria
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Editorial

Editorial

Celso Ilgo Henz
Educação. Revista do Centro de Educação, vol. 41, núm. 2, pp. 271-279, 2016
Universidade Federal de Santa Maria
Editorial

A historia educacional brasileira, ao longo dos tempos, vem sendo tramada pelas disputas entre os interesses de diferentes grupos sociais, religiosos, econômicos, políticos e culturais. Dessas correlações de forças resultam políticas públicas para educação básica e o ensino superior enquanto marcos regulatórios e dispositivos legais, mais recentemente também com grande ênfase na formação inicial e continuada de professores. Como profissionais da educação, professores e pesquisadores não podemos abrir mão do protagonismo nos diferentes movimentos instituintes do que fazer educativo, seja nas escolas, nas universidades, nas pesquisas e na possível implementação das diferentes propostas. Isso demanda tempo e disponibilidade para conhecer, debater e analisar os impactos que diferentes correntes presentes na legislação trazem para o nosso quefazer pedagógico, epistemológico e político implicado em nossas identidades e profissões docentes.

Desde o ano de 2015 estamos sendo desafiados por proposições do Plano Nacional de Educação, novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores e a Base Nacional Comum Curricular, que impactam diretamente a formação inicial de professores e também a organização e as práxis educativas universitárias e das escolas de educação básica. As mobilizações, ocupações e debates dos estudantes universitários e de Ensino Médio, em defesa de uma educação pública e de qualidade social e cidadã, também não podem ficar à margem das nossas reflexões e pesquisas pedagógico-epistemológico-políticas. Ademais, está muito visível o jogo de interesses ideológicos que está em disputa no momento político e econômico vivido pela nação brasileira durante os anos de 2015 e 2016, e não podemos ficar a mercê de fundamentalismos e simplismos com pretensões de se constituírem em falsas verdades, e que podem resultar em projetos políticos e educacionais nem sempre a serviço da cidadania e dignidade para todos os brasileiros e brasileiras.

A Revista Educação, durante os seus quarenta e cinco anos, sempre buscou publicar artigos que subsidiassem o debate e a tomada de posicionamentos - ainda que diferentes – de professores(as) e pesquisadores(as) para com as políticas públicas educacionais e os diferentes movimentos e propostas trazidos para dentro das escolas de educação básica e instituições de ensino superior. Nesta Edição, contamos com vários artigos que, substancialmente, podem nos auxiliar na constituição de alguns referenciais para não silenciarmos diante das demandas e desafios que se colocam para a pesquisa no campo educacional e a docência . Ainda que não abordem diretamente as políticas que estão se instaurando, constituem-se em dispositivos que podem ajudar a fundamentar reflexões, debates e (pro)posições de cada um(a) de nós profissionais da educação.

O primeiro artigo, sob o título A Identidade Profissional em análise: um estudo de revisão sistemática da literatura , da autoria de Luciano Vozniak, Isabel Mesquita e Paula Fazendeiro Batista, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, traz uma revisão sistemática da literatura, cartografando a investigação em língua portuguesa de 2003 a 2013, no campo da identidade e identidade profissional. O artigo refere uma pesquisa realizada em revistas categorizadas na Qualis na área da educação, num total de 30 revistas, utilizando os termos “Identidade” e “Identidade Profissional”. Os resultados evidenciaram que os estudos tiveram um incremento, principalmente a partir do ano de 2007 o âmbito da docência, recorrendo predominantemente a metodologias qualitativas. A identidade surge como um construto de natureza dinâmica, que se transforma em resultado das experiências pessoais, formativas e profissionais.

(Re) configuração curricular no processo de formação de professores e suas relações , escrito por Liliane Campos Machado, da Universidade de Brasília, resulta de uma investigação cuja centralidades de pesquisa são o currículo e a formação de professores. Enfoca algumas reflexões sobre a formação de professores por acreditar que este é um espaço para a construção curricular. A questão central desse trabalho de pesquisa foi “Como o processo de formação de professores e suas relações produzem determinadas configurações de currículos?”. O estudo objetivou investigar a formação de professores, inclusive ou também como um espaço de construção curricular. Privilegiou-se a abordagem qualitativa na perspectiva histórico-cultural. A autora evidenciou que o desenvolvimento curricular está diretamente relacionado ao desenvolvimento da formação do professor no que se refere aos saberes e às práticas.

Otacilio Antunes Santana, da Universidade Federal de Pernambuco, colabora com o artigo Evasão nas Licenciaturas das Universidades Federais: entre a apetência e a competência . Esse terceiro artigo analisa que a evasão de alunos nos cursos superiores se tornou uma temática recorrente a partir da transição de uma educação de elite para uma educação de massas. Os objetivos desse trabalho foram: i) analisar o principal momento de evasão nos cursos de licenciatura das Universidades Federais; e ii) avaliar o discurso dos alunos no início do curso, no momento da evasão, e no final do curso para aqueles que permaneceram. O trabalho seguiu dois métodos de coleta de dados: quantitativo e qualitativo; e as análises estatísticas e compreensiva (discursiva). Por fim, o autor aponta que momento da evasão foi marcado pela redução da potência de agir pelos alunos, principalmente na metade do percurso acadêmico.

O quarto artigo, O cidadão e a sua formação no Brasil atual: os papéis do Estado e do professor, é da autoria de Marco Antônio da Costa , do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Este artigo objetiva discorrer sobre a formação do cidadão no Brasil atual, destacando os papéis que o Estado e o conjunto de professores desempenham nesse processo formativo. Metodologicamente, este trabalho baseia-se na revisão da bibliografia concernente ao assunto nele abordado. Assim, partindo da reflexão contemporânea sobre os conceitos de cidadão e cidadania, o texto traz uma abordagem crítica tanto das políticas públicas educacionais formuladas e implementadas no âmbito da União, dos estados e dos municípios a partir da década de 1990 quanto do trabalho docente ora desenvolvido nas escolas públicas brasileiras. Com isso, pretende-se discutir como o Estado e o professorado, atores essenciais no contexto educacional, podem contribuir para o processo da formação cidadã.

O artigo seguinte visa problematizar aspectos das sociedades hodiernas no que diz respeito aos seus processos de formação cultural. No texto intitulado Formação cultural e sociedade de consumo – apontamentos oriundos de uma pesquisa-ação , Thaís de Oliveira Nabaes, da Universidade Federal do Rio Grande – RS, apresenta considerações oriundas de uma pesquisa-ação, que teve como referencial principal a Teoria Crítica de matriz frankfurtiana. As manifestações musicais de um grupo de alfabetizandos foram escolhidas como um recorte da realidade social, a fim de discutir fenômenos de consumo e descartabilidade de bens, em especial os culturais. No contexto do trabalho de campo, as categorias emergentes possibilitaram uma ampla discussão sobre elementos envolvidos nos processos de formação cultural nas sociedades marcadas pelo signo do consumo.

O trabalho colaborativo na escola: o uso da tecnologia assistiva , é da autoria de Rosana Carla do Nascimento Givigi, Raquel Souza Silva, Juliana Nascimento de Alcântara, Thais Alves de Souza - da Universidade Federal de Sergipe – e Vera Lucia Oliveira Ralin – da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Neste trabalho se discute o processo de escolarização dos sujeitos com deficiência a partir de ações-intervenções realizadas na escola, possibilitadas pelo trabalho colaborativo. Objetivou-se descrever as ações respaldadas na Política da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva e como estas impulsionaram o processo educacional dos sujeitos com deficiência. Dessa forma, sustentou-se metodologicamente na pesquisa-ação sob perspectiva crítico-colaborativa. Participaram da pesquisa cinco escolas da rede pública regular que possuíam matriculados sujeitos com deficiência. Como resultados, destaca-se o acesso a um currículo mais inclusivo mediante a adaptação de diversos recursos pedagógicos através da implementação da Tecnologia Assistiva. Dessa forma, mostra-se a necessidade de reorientar as práticas vigentes e buscar novos subsídios que possibilitem delinear uma escola verdadeiramente inclusiva.

Ivania Maria de Sousa Carvalho Rafael - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Luis Távora Furtado Ribeiro - Universidade Federal do Ceará, e Maria das Dores Mendes Segundo - Universidade Estadual do Ceará subscrevem o sétimo artigo, sob o título A crise do capital e a relação com a educação brasileira . Este estudo trata da relação entre a crise do capital e a educação brasileira tendo como objetivo compreender a real função desempenhada pela educação profissional e seus desdobramentos na formação docente, no contexto atual através de um estudo teórico-bibliográfico embasado em autores que dão importância ao tema. Compreende-se a educação como um complexo advindo da categoria trabalho e, por ser também uma das instâncias da sociedade, contribui direta e indiretamente com o capitalismo através da formação de mão de obra para o mercado. Conclui-se que uma educação mesmo nos moldes do capital, pode desenvolver suas aspirações emancipadoras através de intercâmbio de processos de educação mais amplo como a própria vida e os setores que não estão ligados diretamente à educação.

O artigo seguinte tem como foco O discurso pedagógico na ditadura militar: Educação Moral e Cívica & currículo escolar . Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas e Alexandre Kerson de Abreu, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense, têm como objetivo analisar, a partir de uma abordagem qualitativa, o funcionamento do discurso pedagógico utilizado na disciplina de Educação Moral e Cívica, implantada nas escolas brasileiras durante o regime militar. Para isso, os autores realizaram um estudo de caso sobre um dos livros didáticos utilizados na época: “Educação Moral e Cívica”, de Otto Costa, Felipe N. Moschini e José C. Paixão. Por meio da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, procuram mostrar os efeitos de sentido produzidos pelo sujeito discursivo e seu interlocutor, observando as diferentes formações discursivas presentes, o processo de interpelação do sujeito pela ideologia e o conceito de interdiscurso/memória discursiva.

Com o artigo Projeto cidadão ambiental mirim: contribuições à educação ambiental no ensino fundamental , Dalva Simone Strapasson Dias e Sônia Maria Marchiorato Carneiro, da Universidade Federal do Paraná, socializam os resultados da pesquisa que analisou as contribuições do Projeto “Cidadão Ambiental Mirim”, no desenvolvimento da Educação Ambiental (EA), nos anos iniciais do ensino fundamental, no município de Colombo-PR. O referencial teórico teve como pressuposto a importância da formação cidadã do educando, comprometido com uma viável sustentabilidade socioambiental. A pesquisa qualitativa, diagnóstico-avalitativa, levantou dados por meio de observações participantes, análise documental, entrevistas e questionários com docentes, equipes pedagógicas e alunos; o tratamento dos dados embasou-se no método de análise de conteúdos. O estudo revelou que o Projeto tem potencial educativo para estimular a formação cidadã dos educandos, precisando avançar sob o foco da EA crítica, em relação ao seu desenvolvimento prático e na formação dos educadores, na perspectiva de uma educação socioambiental cidadã.

Ainda abordando questões mais diretamente ligadas à educação básica, Wender Faleiro - Universidade Federal de Goiás, Roberto Valdes Puentes - Universidade Federal de Uberlândia, e Milena Cristina Aragão - Faculdade Estácio, com o artigo “ Influências do Ensino Médio nas perspectivas de futuro de seus estudantes ”, publicam um estudo que objetivou conhecer a percepção que os estudantes do Ensino Médio de Uberlândia/MG possuem sobre a influência da escola em suas vidas. O lócus da pesquisa foram sete escolas, com 1.040 alunos de todos os três níveis de seriação do Ensino Médio. Para a maioria dos alunos entrevistados a escola representa algum tipo de mudança positiva mas para muitos outros a única finalidade da escola é melhorar as possibilidades de empregabilidade. Por outro lado, muitos demonstram estarem mais conscientes da importância das relações interpessoais, da valorização das diferenças e da diversidade cultural, e querem ter mais voz e espaços no processo educativo. Os jovens estão ansiosos por uma escola que lhes proporcione chances mínimas de trabalho e que se relacione com suas experiências presentes.

" Sou gay, sou alegre, mas não sou bagunça! ": docência, homossexualidade e estética da existência é o décimo primeiro artigo dessa edição da nossa Revista Educação. Com esse texto, Filipe Gabriel Ribeiro França, da Universidade Federal de Juiz de Fora, traz narrativas produzidas a partir de entrevistas narrativas com um professor homossexual durante uma pesquisa de mestrado. A questão analisada parte da seguinte inquietação: “Quais as narrativas, experiências e de que modos se constituem @s professor@s homossexuais?”. Foi utilizado como referencial teórico-metodológico a perspectiva pós-estruturalista. A partir dessa perspectiva puderam ser problematizadas as formas pelas quais o professor pesquisado vai se constituindo enquanto docente homossexual e discutir como esse professor vai se produzindo nas relações de poder, nas relações com o outro e, sobretudo, como se relaciona com a instituição escolar. Assumir-se como professor homossexual implica organizar a forma com que o sujeito se comporta dentro escola, vivenciando um contínuo processo de negociação com o outro e consigo mesmo.

Estudos realizados na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio grande do Sul resultaram no artigo Corpos-ouvidos destes tempos: implante coclear na mídia . As autoras Daniela Medeiros e Maria Simone Vione Schwengber socializam uma reflexão sobre as relações entre a mídia e a fabricação dos sujeitos surdos. Recortaram do Programa Fantástico (Rede de TV brasileira), especificamente, o quadro sobre saúde, na reportagem intitulada “Crianças que nasceram surdas escutam pela primeira vez”. Tornaram a mídia um campo social a partir das ferramentas teóricas foucaultianas – discursos e sujeitos – analisando textos e imagens, extraindo deles seus enunciados e os regimes de verdade que produzem, de forma minuciosa, com regularidade e suposta legitimidade, um padrão social de referência e correção por meio do implante coclear – corpos-sujeitos-ouvidos – desejável. Concluem que ainda é possível perceber a invisibilização da língua de sinais e a produção de discursos que tratam a surdez como uma deficiência, localizada em um lugar de possível correção pelo implante coclear.

Caroline Braga Michel e Eduardo Arriada, da Universidade Federal de Pelotas são as autoras do décimo terceiro artigo: “ A missão educacional ao Uruguai: o que dizem os jornais A Federação e o Correio do Povo ”. O objetivo deste trabalho é analisar como a missão educacional encaminhada ao Uruguai pelo governador do Estado do Rio Grande do Sul, Antonio Augusto Borges de Medeiros, foi abordada na imprensa sul-rio-grandense. Para tanto, trabalharam com as edições dos anos de 1913 e 1914 de dois periódicos: A Federação e o Correio do Povo. A análise das reportagens evidenciou um interesse das autoridades governamentais em noticiar por meio dos periódicos locais, o andamento da missão educacional enviada ao país vizinho. Para além do interesse da possibilidade real de alavancar a educação sul-rio-grandense, o governo republicano buscava também vender a imagem de uma administração moderna, eficiente e preocupada com os rumos a serem tomados pelo Estado.

Resultante de uma pesquisa de Iniciação Científica realizada na Universidade Federal de Roraima, Ivete Souza da Silva e Clarisse Martins dos Santos socializam o artigo Movimento Roraimeira: contribuições interculturais e antropofágicas ao ensino de artes no estado de Roraima . A pesquisa teve como principal objetivo investigar as possíveis contribuições do processo antropofágico contido no Movimento Roraimeira para o ensino das artes no estado de Roraima, numa perspectiva intercultural de educação. Tal proposta surgiu da necessidade de se pensar uma educação voltada às particularidades do estado, tendo em vista a diversidade cultural presente em sua Constituição, bem como a precária qualificação profissional dos(as) professores(as) atuantes no ensino de artes, os(as) quais em grande maioria não possuem formação na área. Na pesquisa foram analisadas as produções culturais do Movimento Roraimeira – 1988 a 2000 –, e discutidas com base em autores do campo da educação, do ensino de artes, da intercultura e da Antropofagia Cultural Brasileira.

O décimo quinto artigo intitula-se Da objetividade à intersubjetividade: contribuições da teoria do Agir Comunicativo para o paradigma Interpretativo . Nele Hernani Luiz Azevedo e Gladys Denise Wielewski, da Universidade Federal de Mato Grosso, trazem algumas discussões sobre a relação objetividade/subjetividade na construção do conhecimento, tendo em vista o Paradigma Interpretativo, muito utilizado nas pesquisas qualitativas em educação e educação científica. Para tanto, discorrem sobre alguns paradigmas epistemológicos presentes na ciência e filosofia, como o paradigma positivista e o fenomenológico. Apontam que a evolução histórica dos debates sobre a influência da subjetividade na construção do conhecimento nos levou a prestar especial atenção à Teoria do Agir Comunicativo, de Jürgen Habermas, tendo em vista a centralidade da intersubjetividade presente nesta teoria. Concluímos o texto explicitando como desse debate se fez emergir uma teoria da racionalidade humana.

Na busca por entender o processo de constituição de masculinidades a partir das interações entre um grupo de vinte crianças e as imagens presentes em seu cotidiano escolar, Luciana Borre Nunes, da Universidade Federal de Pernambuco, com o artigo Cenas etnográficas para entender representações de masculinidades na escola , apresenta os resultados da investigação de doutorado concluído em 2014, pelo Programa de Pós Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás (Brasil). A perspectiva teórica está centrada nas discussões pós-estruturalistas dos estudos da cultura visual, educação, gênero e sexualidades. A metodologia de investigação percorreu um viés etnográfico com utilização de grupos focais, fotografias e diário de campo como instrumentos de produção de dados. O texto está organizado em duas partes: (1) cultura visual e possibilidades etnográficas em pesquisas com crianças e; (2) representações de masculinidades em sala de aula a partir dos estudos de gênero e sexualidades.

Meios digitais em práticas pedagógicas na educação: uma análise hermenêutica-fenomenológica da autoria de Adriana Barroso de Azevedo, Universidade Metodista de São Paulo, é o décimo sétimo e último artigo da presente edição da Revista Educação. O artigo traz resultados de uma pesquisa realizada com 11 professores, indicados por serem inovadores, criativos e por possuírem práticas pedagógicas diferenciadas com uso de tecnologias, que atuam em escolas nas redes pública e privada dos municípios de São Bernardo do Campo e São Paulo. O trabalho parte da concepção da pesquisa-formação (JOSSO, 2010) e busca promover reflexão com vistas à construção de conhecimentos sobre educação e tecnologia. As narrativas das experiências docentes com uso de tecnologia, construídas em ambientes virtuais de aprendizagem, foram analisadas a partir da abordagem hermenêutica-fenomenológica (FREIRE 2012, RICOUER 1986). Os resultados apontam que as práticas não estão ancoradas no uso da tecnologia em si, mas no desejo desses educadores de promover uma educação mais humanizada e próxima do contexto dos estudantes.

Para além dos dezessete artigos, trazemos ainda uma resenha feita por Ana Carla Nascimento de Oliveira, da Universidade de Brasília. A mesma aborda o livro Reconhecimento do outro: teorias filosóficas e formação docente , de Amarildo Luiz Trevisan, publicado em Campina/SP, pela Editora Mercado de Letras, no ano de 2014. O livro é fruto das pesquisas do autor junto ao CNPq e ao Grupo de Pesquisa Racionalidade e Formação. Dividido em quatro partes, o livro está organizado em nove capítulos dedicados a promover um diálogo entre Filosofia e Educação baseando-se em conceitos oriundos de duas tradições intelectuais, a Teoria Crítica e a Hermenêutica. Tal diálogo concebe a dimensão do outro como peça fundamental para a compreensão de processos pedagógicos e problemas educacionais brasileiros nas mais diversas perspectivas de análise, como por exemplo: o didatismo pedagógico, a relação entre teoria e prática, déficit acadêmico na formação de professores, além de políticas públicas e propostas curriculares. O conjunto das discussões sintetiza questões fundamentais à formação do professor, trazendo contribuições significativas para a compreensão da formação docente mediante o diálogo com o outro. Além disso, apresenta elementos para repensar as nossas práticas cotidianas de comportamento pessoais e profissionais. A leitura não oferece respostas prontas, mas possibilita um envolvimento reflexivo bastante cativante pela natureza e profundidade teórica da discussão. Portanto, fica a indicação e o convite à leitura. (Não entendi se o que foi enviado já era a resenh, ou um resumo. Se for a resenha, considero muito fraco e sou de parecer pela não publicação, pois não passa de um resunmo, melhor, de um sumário comentado...)

Destarte, a última edição da Revista Educação de 2016, ano comemorativo aos seus quarenta e cinco anos de existência ininterrupta. As capas com as quais a Revista Educação (UFSM) circulou em 2016 trouxeram um panorama de várias edições da Revista que se iniciou em 1971. Esperamos que a diversidade de artigos de demanda contínua, abordando temáticas ajudem a subsidiar o debate, a reflexão e o engajamento diante temáticas e questões que se colocam na agenda de professores e pesquisadores que assumem o seu compromisso histórico de homens e mulheres do seu tempo. Diante da realidade e dos cenários que se apresentam como desafios e possibilidades, cabe-nos colocar nossas práxis educativas e produções científicas a serviço de uma escola e uma universidade inseridas na realidade socio-político-econômico-cultural de uma forma orgânica, cientes de que ou estamos trabalhando a favor ou para mudar o status quo vigente. Agradecemos aos autores e autoras que contribuiram com nossos leitores e leitoras, nas três edicções quadrimestrais da nossa Revista. Nossa gratidão também aos consultores ad-hoc que ajudaram a qualificar a cada uma das publicações com os seus sempre pertinentes e rigorosos pareceres. Por fim, esta e as demais edições são alcançaram a signficativa qualidade e contrbuição para o campo educacional graças ao dedicado trabalho de cada colega que integra a Equipe Editorial. Muito obrigado a todos e todas, com os votos de uma ótima e profícua leitura.

A primeira parte da obra, Reconhecimento do outro na tradição , possui três capítulos. O primeiro, Filosofia e Educação: preconceito ou reconhecimento? , expõe dificuldades existentes na relação da Filosofia com a Educação herdadas do projeto de construção de uma Ciência da Educação fundada no positivismo enfatizando três elementos: a autoridade da tradição, os preconceitos mútuos e as dificuldades de reconhecimento por eles causadas. Trevisan alerta sobre a necessidade da escuta e do diálogo compartilhado entre Filosofia e Educação, propondo a possibilidade de pensar hermeneuticamente a relação por meio da ideia de alteridade.

O segundo capítulo, A experiência Dionisíaca da formação no reconhecimento do outro , apresenta por meio da história Grega considerações a respeito do não reconhecimento do Deus forasteiro Dioniso, fazendo uma analogia com a experiência formativa. O autor discute por meio da teoria da Escola de Frankfurt e da história Grega de Dioniso a forma como a força do trágico, uma vez despotencializada, interfere nos comportamentos fragilizados e estereotipados das novas gerações, assim como reflete nas propostas de algumas tendências pedagógicas.

O terceiro capítulo, Dois rapazes teimosos: a formação nas figuras do espírito , apresenta à luz dos estudos de Hegel sobre a Fenomenologia do Espírito, a compreensão do modo como ocorre o processo de formação para alcançar a autoconsciência ou autoformação intelectual. Considerando tal formação na dialética do reconhecimento do outro, de acordo com a fenomenologia do espírito, o sujeito se lança no real e, contrapondo-se à objetividade, acaba recuperando a si mesmo nesse processo.

A segunda parte do livro intitulada Reconhecimento, Cultura e Teorias Educacionais , está organizada em 3 capítulos. O primeiro, Paradigmas da Filosofia e teorias educacionais: novas perspectivas a partir do conceito de cultura , busca averiguar questões relativas às teorias educacionais, sob a luz dos conhecimentos filosóficos, por meio da relação existente no diálogo entre ambos os campos do saber, utilizando o conceito de cultura fundamentado nas ideias de Jürgen Habermas e Richard Rorty.

Pragmática do professor e a experiência de liberdade educativa, é o título do quinto capítulo que busca compreender por meio das discussões do artigo de Axel Honneth Patologias da liberdade individual: o diagnóstico hegeliano de época e o presente (2003) , as problemáticas que envolvem a experiência de liberdade educativa no ambiente pedagógico, refletindo sobre a ideia de sofrimento de indeterminação do indivíduo contemporâneo.

O sexto capítulo A invenção da diferença no sujeito moderno: do conflito ao reconhecimento, analisa o filme O Menino Selvagem de François Truffaut de forma filosófica e pedagógica , contando a vida de uma criança resgatada em uma floresta francesa onde vivia de forma primitiva. O capítulo aborda três diferentes momentos de reconhecimento do outro ao tratar da vida do garoto: quando ele é encontrado; quando se iniciam os testes para conhecê-lo; e quando técnicas são utilizadas para adaptar o seu comportamento.

A terceira parte da obra possui três capítulos. O primeiro, Formação ou Reificação: a educação entre o mesmo e o outro , apresenta a educação no contexto dos processos de estetização do cotidiano, compreendendo a reificação, na obra de Marx, como uma forma de alienação, característica típica da sociedade moderna.

O penúltimo capítulo trata da Formação na teoria crítica da sociedade: do estranhamento ao reconhecimento . Trevisan reflete sobre a agilidade do progresso cultural e científico mundial apresentando a necessidade de uma reavaliação do conceito de formação na Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. O autor faz uma analogia interessante no sentido de compreender a maneira como o estranhamento e o reconhecimento influenciam na construção da subjetividade do homem contemporâneo, por meio do filme O menino do pijama listrado , demonstrando como se dá a tecnificação da formação.

O ultimo capítulo Formação no contemporâneo: do clássico ao flâneur? busca realizar um diálogo entre o clássico, que perpassa historicamente o contexto da formação sob a ótica de Gadamer em sua obra Verdade e método , e a ideia de flâneur, que privilegia o modo de vida das ruas de forma mais livre, a partir da obra de Walter Benjamin.

Na última parte do livro, Filosofia da educação e formação de professores no velho dilema entre teoria e prática , Trevisan alerta sob a luz da teoria do reconhecimento social do outro de Hegel, quanto à importância de uma reformulação de tal dilema. Compreendendo que teoria e prática se encontram e se completam, levando a uma dependência entre o “dever-ser”, que é idealizado enquanto formação nas universidades, e o “dever-fazer” sendo a prática docente. Desse modo, o autor reconhece o equívoco da pedagogia das competências voltada à tecnificação da formação.

O livro é apresentado de maneira clara e instigante, permitindo a compreensão do outro no processo formativo a partir de conceitos oriundos da Filosofia e da Educação. Além de trazer contribuições que vão além de questões científicas e acadêmicas, Trevisan elucida a importância do reconhecimento do outro em busca de possíveis mudanças na perspectiva da formação docente, gerando importantes reflexões quanto àalteridade presente na convivência humana. Para tal, diversos autores são considerados, como por exemplo: Axel Honneth, Georg Hegel, Hannah Arendt, Hans-Georg Flickinger, Hans-Georg Gadamer, Immanuel Kant, Jürgen Habermas, Karl Marx e Theodor Adorno.

Enfim, o conjunto das discussões presentes no livro, por meio do diálogo entre Filosofia e Educação, sintetiza questões fundamentais à formação do professor, trazendo contribuições significativas para a compreensão da formação docente mediante o diálogo com o outro. Além disso, apresenta elementos para repensar as nossas práticas cotidianas de comportamento pessoais e profissionais. A leitura não oferece respostas prontas, mas possibilita um envolvimento reflexivo bastante cativante pela natureza e profundidade teórica da discussão. Portanto, fica a indicação e o convite à leitura.

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