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Editorial
Educação. Revista do Centro de Educação, vol. 42, núm. 2, pp. 261-266, 2017
Universidade Federal de Santa Maria

A Revista Educação da UFSM apresenta a segunda edição de seu quadragésimo segundo volume, abordando diferentes temas de interesse científico no campo da Educação. Neste número, a Revista Educação leva a público um conjunto de escritos que abordam diferentes temáticas: dimensão pedagógica de acampamentos de verão, formação e trabalho docente; educação popular; educação infantil; ensino médio; teoria multicultural; cotidiano escolar, entre outros. Esses temas de inegável relevância se articulam em torno de uma preocupação comum que envolve, tanto a formações de professores quanto aspectos relativos à qualidade da educação, na especificidade de cada etapa. A conjuntura político-social brasileira exige do campo educacional a reafirmação da importância da educação pública, porquanto a crescente perda de investimentos – seja para a pesquisa, seja para o ensino – se apresente como um perigo real e eminente. Os artigos, em sua maioria, oferecem subsídios importantes para qualificar a pesquisa em educação, demarcando historicamente as preocupações de diferentes pesquisadores e aprofundando a reflexão sobre a formação e as práticas educativas contemporâneas.

O primeiro artigo, de autoria de Lance Witt Ozier, do The City College of New York, Paisagens de Aprendizagem: os acampamentos norte-americanos de verão e suas possibilidades educacionais, discorre sobre as dimensões pedagógicas, cognitivas e metacognitivas dos acampamentos norte-americanos de verão – conhecidos vulgarmente pelo público brasileiro como colônia de férias. Como se poderá observar, o sentido dos acampamentos entre os norte-americanos é muito mais abrangente do que se poderia pensar. Ainda que a concepção educacional implícita na argumentação de Lance se alinhe às demandas da nova economia, de traços fortemente neoliberais – tendência que tem sido arduamente combatida pelos educadores e pesquisadores da educação brasileiros, em sua grande maioria –, seu texto nos oferece uma tentativa de redimensionamento o reconhecimento da educação em espaços não formais e durações sazonais não precisamente pensadas para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e metacognitivas humanas. O repertório conceitual e terminológico de Ozier aduz a uma série de noções sobremaneira criticadas ou mesmo não exploradas pelo campo da educação brasileira. Sua abordagem nos convoca, pois, a refletirmos e eventualmente a tomarmos, se necessário, uma posição, seja de assimilação ou resistência ao discurso educacional de matriz neoliberal. Ignorar sua presença e força no capitalismo tardio seria arriscado, senão nitidamente destrutivo.

No artigo “Brincar na educação infantil como experiência de cultura e formação para a vida”, Maria Elisa Nicolielo, Aline Sommerhalder e Fernando Donizete Alves apresentam os resultados de uma pesquisa que tem por objetivo conhecer e compreender o que as crianças ensinam e aprendem na prática social de brincar na educação infantil. Por meio de uma abordagem qualitativa, os/as autores/as produziram os dados com o uso de observação participante e registro em diário de campo, de momentos de brincar livre de 14 crianças com idade média de três anos e sua professora, em uma sala de educação infantil pública. Os resultados revelaram que ao brincarem juntas, as crianças experienciaram momentos de partilha e negociação de brinquedos e brincadeiras, fortaleceram laços de amizade, manifestaram preferências e ideias, construíram estratégias para a dinâmica da brincadeira, vivenciando oportunidades de formação para a vida.

Marly Macêdo, Joana Paulin Romanowski e Pura Lúcia Oliver Martins, autoras do artigo “Formação inicial de professores no embalo das ações didáticas: possibilidades para a autonomia docente” problematizam a Didática como disciplina voltada à formação de professores, objetivando analisar a Didática na formação inicial do professores no curso de Pedagogia em sua relação com a prática docente. Para a realização da pesquisa, as autoras, pela abordagem qualitativa, analisam os registros de estudantes coletados na autoavaliação da disciplina Didática, do curso de Pedagogia de uma IES da cidade de Curitiba. Os resultados mostram que a Didática possibilita aos estudantes a compreensão das situações de aprendizagens,. tendo como ponto de partida a prática social problematizada a partir das vivências e experiências dos docentes e discentes da escola básica.

No artigo “Educação popular na América Latina e a questão social: da desigualdade à resistência”, Geraldo Antônio da Rosa e Daniela Quadros da Silva têm por objetivo contextualizar a educação popular na América Latina, evidenciando suas possíveis interfaces com a questão social em suas dimensões constitutivas: a desigualdade e, também, a resistência. Por intermédio de uma revisão bibliográfica, com base na perspectiva histórico-crítica, identificou-se que a educação popular traz contribuições para a tomada de consciência e emancipação humana. Os autores esperam que o artigo possa contribuir para o estabelecimento de reflexões capazes de problematizar com maior propriedade nossa história e, por isso, melhor compreender nosso presente e pensar nos limites e possibilidades para nosso futuro.

Márcia Von Frühauf Firme e Maria do Carmo Galiazzi, autoras do artigo “Panorama das pesquisas sobre seminário integrado no Ensino Médio Politécnico” buscam apresentar o que se mostra nos estudos desenvolvidos sobre o Seminário Integrado do Ensino Médio. A partir de uma pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológico-hermenêutica, utilizando a análise textual discursiva de dissertações e teses em cursos Pós-Graduação, obtiveram como resultado que o Seminário Integrado mostrou-se relevante para o desenvolvimento da pesquisa na escola de Educação Básica, constituindo um espaço privilegiado nas escolas, de construção coletiva e de produção de conhecimento, embora ainda trabalhado isoladamente por alguns professores.

O artigo “Teoria multicultural em trabalhos acadêmicos e sua relação com as práticas pedagógicas” de Flavia Angela Zanin e Cibele Krause Lemke tem por objetivo investigar como a teoria do multiculturalismo se apresenta em trabalhos acadêmicos disponíveis no Portal CAPES e a possível relação desses trabalhos com as práticas pedagógicas. A partir de uma revisão bibliográfica sistematizada e uma busca com critérios de período, as autoras indicam que a análise revela que o assunto ainda merece ser mais pesquisado, sobretudo em relação à discussão do multiculturalismo e sua articulação às práticas pedagógicas, de modo que contribua para propiciar, a pesquisadores e professores, processos de reflexão que permitam construir uma educação mais justa e democrática.

Vilmar José Borges e Sônia Maria dos Santos, no artigo “Ensino, pesquisa e extensão na formação docente: memórias vivenciadas no estágio supervisionado” têm como objetivo socializar reflexões sobre processos de formação/ação docente, tomando por referência a narrativa de professores atuantes na Educação Básica sobre metodologias de ensino desenvolvidas no cotidiano da sala de aula e consideradas positivas. Apoiada na história oral, a pesquisa foi realizada com entrevistas orais com professores atuantes em diferentes níveis e áreas do saber e apresenta como resultado que a experiência metodológica se mostrou enriquecedora tanto para os professores, quanto para os alunos envolvidos.

No artigo “As competências como um modo de pensar a educação” os autores Adair Adams, Elizabeth Fontoura Dorneles e Sirlei Lourdes Lauxen tratam sobre a relação entre competências e educação. Entendem a importância do modelo educacional por competências, desde que a importação do campo do trabalho traga para o da educação a integralidade: aprender a criar, a fazer e a gestar. As autoras tomam, ainda, posição contrária à fragmentação presente na legislação analisada, o que fica evidente na descontinuidade do uso de competências em leis ou partes das leis referentes aos diferentes níveis de ensino. Defendem, assim, a educação para o ser situado em todas as dimensões do viver e conviver na sociedade contemporânea.

Elisiane Spencer Quevedo Goethel, Priscila Carla Cardoso e Débora Cristina Fonseca, no artigo “Cotidiano escolar e (des)respeito: o que dizem os livros de ocorrência escolar” discutem como o respeito e desrespeito aparecem no cotidiano escolar e são significados nas falas e nos registros dos educadores por intermédio de uma pesquisa documental de análise qualitativa. Os dados coletados nos Livros de Ocorrência Escolar (LOE) foram explorados pela análise de conteúdo e, como resultados, o estudo aponta a necessidade da compreensão de como se dá a construção do respeito por parte daqueles que atuam no ambiente escolar, bem como seu importante papel nesse processo, sem deixar de levar em consideração questões como cultura, autoridade e comprometimento com a garantia ao acesso do conhecimento.

O artigo “Ansiedade e desempenho escolar no ensino fundamental I” de Neide de Brito Cunha, Sandra Maria da Silva Sales Oliveira, Thaísa Vilhena Silva e Antônio José Figueiredo Oliveira, objetivou avaliar a ansiedade em alunos do ensino fundamental I e eventuais diferenças com relação ao sexo, idade, ano escolar, tipo de escola e desempenho acadêmico nas disciplinas de matemática e português. Nessa pesquisa de campo, foram avaliados 134 alunos de duas escolas, uma pública e outra particular do sul do Estado de Minas Gerais. Os resultados apontaram um nível médio de ansiedade escolar e não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na avaliação da ansiedade com relação às variáveis estudadas. Como há carência de pesquisas com crianças quanto à ansiedade escolar nesse nível de ensino, considera-se importante avaliar outras amostras.

Gabriel Torelly e Paola Zordan, autores do artigo “O escritor-escrevente no Educador extemporâneo: um jogo possível” discutem problemas da linguagem, ancorados no pensamento de Barthes e Calvino sobre as formalizações da escrita educacional. Fazem uso de A lógica do sentido, de Deleuze, para tratar a escrita como jogo atemporal e poético. Em sua tradução, os signos escreventes transportam os textos aos múltiplos papéis do escritor-autor, do escritor-escrevente, do escrevente-educador em busca das possibilidades da linguagem. O caráter monstruoso com que se reveste o texto literário frente à linguagem educativa instrumentadora, surge como força que transporta as palavras concretas aos devires autorais. Tais variações colocam em pauta uma ética dos signos que toma as aporias do neutro como mote para perguntas que, propositadamente, são mantidas em aberto.

Adriana Vargas e Evelise Maria Labatut Portilho, no artigo “Metacognição em grupos de Problem-based Learning (PBL)” discutem a aprendizagem como processo que envolve a mobilização de funções cognitivas e desenvolve competências necessárias no decorrer da vida. Para a elaboração da pesquisa as autoras realizaram o estado do conhecimento do tema, entre 2010 a 2015, no portal de periódicos da CAPES contendo os termos metacognition e Problem-based Learning para responder duas questões: 1) a PBL é uma metodologia que envolve o desenvolvimento da metacognição? 2) Pode-se relacionar os estudos da metacognição no contexto grupal à PBL? Entre os oito trabalhos analisados, as autoras consideram que a PBL pode ser aplicada aos estudos de aprendizagem em grupo e metacognição, por mobilizar conhecimentos, a tomada de consciência e o autocontrole.

O artigo “Estratégias de visibilidade e ações docentes no Twitter”, de Camila Lima Santana e Santana e Edvaldo Souza Couto, apresenta os resultados de uma pesquisa que analisou estratégias de visibilidade e ações docentes utilizadas por professores brasileiros no Twitter. A partir de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, realizada com observação encoberta e análise de tweets de um grupo que possui conta ativa no Twitter, o estudo conclui que a visibilidade mediada no Twitter é uma forma de alcançar valorização social na dimensão docente, pois alcançar visibilidade é acumular diferentes tipos de capital social, sendo, portanto, uma estratégia profissional.

“Dimensões da construção e execução do Projeto Político Pedagógico: um estudo de caso” é o artigo de Hamilton Matos Cardoso Júnior, Priscilla Fabiane de Brito, Divida Aparecida Leonel Lunas e Thiago Weslei de Almeida Sousa. Ele discute o Projeto Político Pedagógico (PPP) como uma importante ferramenta para a construção da educação de qualidade. O objetivo é evidenciar como o PPP foi construído e aplicado na prática escolar da instituição. Os autores realizaram o estudo por intermédio de uma pesquisa bibliográfica, da elaboração e da aplicação de instrumentos de pesquisa e do trabalho de campo. A conclusão indica que a construção e execução do PPP enfrentam diferentes dificuldades, dentre elas: os prazos estabelecidos pelo Estado para sua elaboração e a dificuldade em despertar o interesse da comunidade escolar para a participação coletiva.

Solange Ana Dalla Vecchia e Ademar de Lima Carvalho, com o artigo “Trabalho docente, sala de aula: espaço de contradição” propõem uma reflexão sobre as interferências no trabalho docente, no espaço da sala de aula, causadas por agentes externos ao planejamento de ensino. A reflexão parte de observações, em sala de aula, das práticas pedagógicas de 05 professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede municipal de Sinop, Mato Grosso. A problemática que se insere na análise caracteriza-se por compreender a importância da dinâmica escolar no desenvolvimento das práticas de ensino e possibilitou compreender a dinâmica do trabalho pedagógico em sala de aula, bem como a organização e a gestão escolar, na perspectiva de desenvolver um trabalho colaborativo entre os agentes educacionais, para a renovação na e da escola.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

Referências

UFSM. Centro de Educação. Revista Educação, v. 42, n. 2, 2017



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