Editorial

Editorial
Como de praxe, a revista Educação oferece a seus leitores uma gama de possibilidades sobre o conjunto das pesquisas em educação produzidas no país. Assim, trata-se aqui de apresentar os textos criteriosamente selecionados neste número e chamar a atenção das leitoras e dos leitores para a diversidade de temáticas, para a profusão de abordagens e para as diversas questões que são enfrentadas pelos autores e autoras nos trabalhos publicados.
O primeiro texto, intitulado “Comunidades profesionales de aprendizaje: oportunidades de desarrollo profesional en la exclusión y diversidad rural”, de autoria de Alberto Galaz, Claudia Contreras e Paola Acosta, da Universidad Austral de Chile, aborda a questão do desempenho de professores rurais, realizando uma avaliação analítica do alcance teórico-prático das estratégias colocadas em jogo por Comunidades Professionais de Aprendizagem.
A esse texto se segue “Sociabilidades adolescentes na escola básica: estado da arte 2004-2013”, de Anderson Patrick Rodrigues e Wilma de Nazaré Baia Coelho, que analisa teses e dissertações, no período mencionado, sobre o tópico em questão. O texto demonstra que a violência aparece como uma grande influência no âmbito das sociabilidades adolescentes, ao mesmo tempo que aponta para a escola como um espaço de rearranjo das relações de poder presentes na mesma.
A discussão ofertada por Susane Costa Waschinewski e Giani Rabelo no texto “A escola agora é outra: o programa brasileiro-americana ao ensino elementar” remonta a um série de materiais sobre o PABAEE – entre eles fílmico – que apresenta a escola como um importante elemento no processo de modernização política e econômica do país, num determinado período histórico. O intento de criação de uma nova escola desde o ponto de vista desse programa evidencia, de igual modo, a compreensão da escola como algo atrasado e pouco atrativo.
No artigo “O atendimento educacional especializado na visão dos diretores escolares”, Ana Paula Marotto Homrich e Aliciene Fusca Machado Cordeiro observam o modo como os diretores escolares compreendem o Atendimento Educacional Especializado em uma cidade catarinense. A discussão sobre o sentido e a função da Educação Especial adquire aqui sua real dimensão.
Sandra Garcia e Eliane Czernisz discutem, por sua vez, em “A minimização da formação dos jovens brasileiros: alterações do ensino médio a partir da lei 13415/2017” o contexto e interesses norteadores da referida lei, a qual se aproxima de orientações internacionais relativas à formação para o trabalho.
No artigo “Encontros com signos: possibilidades para pensar a aprendizagem no contexto da educação”, Angélica Neuscharank e Marilda Oliveira conectam o pensamento sobre os signos de Gilles Deleuze com a noção de aprendizagem na educação. O estudo aponta ainda para uma íntima conexão entre a teoria e a prática – ao tomar experiências docentes como ponto de partida e interrogação.
O texto intitulado “Alunos ensinam professores a ser professores na escola que não é mais escola”, de autoria de Aldo Victorio Filho, Pâmela Souza da Silva, Rodrigo Torres do Nascimento e Victor Junger Silveira, apresenta um conjunto de enfrentamentos atuais no âmbito escolar – relacionados ao ensino e a aprendizagem – a partir do cotejamento de três territórios de pesquisa distintos. O texto recorre a cartografia como uma modalidade metodológica particular que permite questionar os recursos investigativos convencionais.
Em seu texto “Brizoletas: um passeio pela memória, patrimônio cultural e educação”, Letícia Baldasso Moraes procura expor a situação das brizoletas ativas no estado do Rio Grande do Sul, procurando refletir ao mesmo tempo a educação contemporânea.
Cláudio Almir Dalbosco e Renata Maraschin procuram, por sua vez, “Pensar a educação em tempos pós-metafísicos: a alternativa do Interacionismo Simbólico”. Nesse texto, os autores buscam reconstruir uma série de conceitos próprios do âmbito educacional em vista das proposições presentes no interacionismo simbólico de Georg Herbert Mead, extraindo da reflexão sobre a constituição linguística do Self algumas referências éticas à educação contemporânea.
No trabalho intitulado “Saberes tradicionais de jovens e adultos e a presença de conceitos geométricos em Tracuateua/PA”, Rogerio Andrade Maciel e Edilene Farias Rozal ensejam identificar e analisar os saberes tradicionais no artesanato produzido por jovens e adultos quilombolas de uma comunidade do estado do Pará, apontando para a presença de alguns conceitos geométricos – os quais se alinhavam a uma perspectiva etnomatemática propriamente dita.
Numa direção distinta dessa abordagem, apresentamos o texto “Tecnologia e formação docente nos mestrados profissionais em educação profissional e tecnológica”, de autoria de Emerson Freire e Sueli Soares dos Santos Batista, os quais interrogam sobre a sustentabilidade pedagógica para os cursos, instituições e programas educacionais voltados para a profissionalização, procurando compreender que docente é esse, das escolas técnicas e tecnológicas. Para os autores, o fomento de uma reflexão permanente sobre as conexões entre educação e trabalho, vinculadas ao desenvolvimento tecnocientífico, constituindo uma importante contribuição para o processo de profissionalização docente.
Em “Inclusão: concepções dos docentes da secretaria de educação do estado de São Paulo”, de Márcia Bello Vera Capellini e Job Ribeiro, os autores analisam a compreensão que os docentes da Rede Estadual de Educação de São Paulo possuem desse conceito, de forma a apontar para a necessidade de superação de uma visão homogeneizante de educação.
No artigo intitulado “Os saberes da experiência: uma aproximação necessária”, Larissa Chagas de Oliveira e Camila Coimbra partem do pressuposto de que o contato com os saberes da experiência, por meio da aproximação com uma professora em exercício, via metodologia de história oral, pode oferecer um caminho interessante no processo formativo de professores para a educação básica. Os saberes docentes que entrecruzam essa metodologia buscam uma reflexão e mudança de significados da prática e formação docente.
Michely Souza, Samilo Takara e Teresa Teruya discutem, por sua vez, no texto “Pedagogias culturais das feminilidades: os endereçamentos masculinos do personagem Ken” as formas que os sujeitos produtores oferecem para os/as receptores/as das peças, dos produtos e dos serviços da mídia relacionados à figura mencionada. As masculinidades sugeridas por esta personagem não condizem com a ideia de masculinidade como virilidade, agressividade, rispidez ou força, mas denotam elementos como beleza, atenção e carisma, que fazem parte das representações hegemônicas de masculinidade. No entendimento dos autores, as masculinidades, bem como outras identidades de gênero, estão atreladas a sentidos que são consumíveis, transgressores e perpassam as relações dos sujeitos com os artefatos culturais e as possibilidades de ser, pensar e agir que derivam dessa relação.
Nesse mesmo diapasão, apresenta-se o texto “Socialização de gênero na educação infantil: continuidades e rupturas vivenciadas pelas crianças na família, na igreja e na escola”, de Sandro Santos, em que o autor analisa a socialização de gênero vivenciada por crianças de cinco anos no interior de uma instituição de Educação Infantil. A partir de um referencial teórico-metodológico que articula os estudos de gênero e os estudos da infância, Sandro discute as tensões e ambiguidades presentes nos diferentes processos de socialização de gênero vivenciados por meninos e meninas no interior de uma instituição de Educação Infantil situada em Belo Horizonte, Brasil.
O último artigo, intitulado “Exceções e veredas: as ocupações como acontecimento e experiência no Brasil do nosso tempo”, de Carlos Rebuá, debruça-se sobre acontecimentos e movimentos deveras atuais no contexto político, social e educacional brasileiro. Em seu texto, Rebuá procura compreender o crescimento, desde junho de 2013, das ocupações de escolas e universidades públicas, bem como de espaços urbanos; nelas, o autor supõe que se apresentem questões, ensaios de experiência, epistemes e encaminhamentos materiais e simbólicos capazes de mobilizar setores da intelectualidade e das lutas sociais. Com o amparo das teorizações de Slavoj Žižek e Walter Benjamin, o autor objetiva compreender as ocupações como veredas políticas sob circunstâncias e estruturas cotidianas de exceção.
Por fim, mas não menos importante, apresentamos a resenha de Laudeth Alves dos Reis, Wagner Wey Moreira, Natalia Magrin e Regina Simões da obra “Jogos e brincadeiras: tempos, espaços e diversidade”, organizada por Tizuko Kishimoto.
Enfim, esse panorama mostra a qualidade e a potências que nosso periódico tem divulgado, expressando essas qualidades como resultado e efeito de um campo em constante crescimento e autorreflexão, o da pesquisa em Educação no Brasil e no exterior. Desejamos a todos e todas, boa leitura.