RESUMO: A Região Centro-Sul concentra a maior parte da produção canavieira, com destaque para o estado de São Paulo. A pesquisa objetivou analisar o cenário do cultivo e produtividade (t/ha) da cana-de-açúcar na Mesorregião de Assis/SP no período compreendido entre as safras 2003/04 a 2013/14. Trata-se de pesquisa mista com objetivos descritivos, utilizando-se de entrevista não estruturada com atores-chave. Os dados secundários foram obtidos com players diretamente envolvidos com a área de pesquisa do setor. Os resultados mostram um aumento de 56,6% na área cultivada (96.903 hectares) no período, além de indicar que a produtividade média (tonelada de cana colhida/hectare) da mesorregião apresenta-se superior às demais médias. Outra importante evidência constitui-se no fato de que, apesar do aumento na expansão da área de cultivo, além das expectativas de crescimento, o setor tem preservado, de forma sistemática, as áreas de proteção ambiental, inclusive com projetos de reflorestamento das matas ciliares e áreas de preservação permanente.
Palavras chave: Setor sucroenergéticoSetor sucroenergético,produção de cana-de-açúcarprodução de cana-de-açúcar,sustentabilidadesustentabilidade,Mesorregião de Assis/SPMesorregião de Assis/SP.
ABSTRACT: The South-Central region concentrates the most part of sugarcane production in Brazil, especially the state of Sao Paulo. This research aimed to analyze the cultivation and productivity (t/ha) of sugarcane in the Assis mesoregion, São Paulo, between the 2003/04 and 2013/14 seasons. It is a mixed research with descriptive objectives, and an unstructured interview with key actors was used. Secondary data were obtained from individuals directly involved with the industry research area. The results show an increase of 56.6% in the cultivated area (96,903 hectares) in the considered period, and indicate that the average productivity (cane harvested ton/ha) of the mesoregion is higher than other regions averages. Another important evidence is that, despite the increase in the expansion of cultivated area and growth expectations, the sector has systematically preserved the environmental protection areas, including reforestation of riparian forests and permanent environmental protection area.
Keywords: Sugar-energy sector, sugarcane production, sustainability, Mesoregion of Assis/SP.
Artigos
PANORAMA DO CULTIVO E PRODUTIVIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR NA MESORREGIÃO DE ASSIS/SP: SAFRAS 2003/04 A 2013/14
PROSPECT OF GROWTH AND PRODUCTIVITY OF SUGARCANE IN THE MESOREGION OF ASSIS/SP: CROPS 2003/04 TO 2013/14
Recepção: 07 Julho 2016
Aprovação: 14 Junho 2017
O Brasil destaca-se como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com uma área de plantio estimada em mais de nove milhões de hectares para a safra 2014/15, previsão mantida também para a safra 2016/17 (BRASIL, 2016). A produção para esta mesma safra foi de 634,8 milhões de toneladas, uma redução de 3,7% se comparada à safra anterior, o que representa um decréscimo de 24,1 milhões de toneladas. A produção do açúcar deve ficar em torno de 35,56 milhões de toneladas, uma redução de 6,1% se comparado à safra anterior (2013/14), ao passo que o etanol deve se estabelecer na casa dos 29 bilhões de litros (anidro e hidratado), um incremento de 2,5% (703,2 milhões de litros) em relação à safra anterior. Todo esse potencial tem colocado o país na liderança mundial em tecnologia de produção do etanol (Idem, 2015a).
De acordo com Schneider et al. (2012), a cultura da cana-de-açúcar apresenta importância no cenário agrícola brasileiro em virtude da sua versatilidade, sendo utilizada desde a forma mais simples, como a ração animal, até a mais nobre, como o açúcar.
Outro resultado importante aferido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) refere-se à produtividade de cana colhida por hectare. Assim, a produtividade obtida na safra 2014/15 foi de 70.495 kg/ha, o que significa uma expressiva redução, de 5,7%, se comparado à safra anterior que obteve valor de 74.769 kg/ha. Salienta-se que essa redução se refere à Região Centro-Sul. Somente no estado de São Paulo, a diminuição alcançou o patamar de 11% em relação à safra anterior (BRASIL, 2015a).
O Gráfico 1 apresenta, graficamente, a variação percentual em relação à safra 2013/14.

A ampla extensão territorial dá ao Brasil vantagem em relação à competitividade, uma vez que proporciona condições de cultivar a cana-de-açúcar em dois períodos distintos durante o ano. Na região Centro-Sul, a safra ocorre no período de abril/maio a novembro/dezembro, enquanto que na região Norte-Nordeste, a safra acontece no período de agosto/setembro de um ano até março/abril do ano seguinte (VIEIRA; LIMA; BRAGA, 2007).
Além desta breve introdução, o artigo apresenta uma subseção contendo o problema de pesquisa e o objetivo geral do trabalho. Na segunda seção é apresentado o aporte teórico que dará sustentação à pesquisa. Na terceira seção os procedimentos metodológicos utilizados no estudo são apresentados, seguidos pela análise dos dados (quarta seção) e, por fim, as conclusões.
Considerando a estreita relação entre as atividades agrícolas e industriais, torna-se de fundamental importância para o setor o conhecimento a respeito de sua distribuição espacial, sobretudo no que se refere à área e evolução da colheita da cultura de cana-de-açúcar (AGUIAR et al., 2009).
Segundo Rudorff et al. (2005), para o estabelecimento de políticas públicas de segurança alimentar e de zoneamento agrícola, além de estratégias de mercado, torna-se imprescindível o monitoramento e o gerenciamento de toda cadeia produtiva da cana-de-açúcar, a iniciar pela área de cultivo.
Assim, dados de área cultivada, de novas áreas de plantio, de colheita e estatísticas de produção a cada safra, formam um conjunto de informações que subsidiarão as tomadas de decisão, além de contribuir para o aprimoramento da gestão.
Diante desse contexto, este trabalho pretendeu dar cabo à seguinte questão de pesquisa: qual o panorama de cultivo e produção de cana-de-açúcar na Mesorregião de Assis/SP, considerando o período das safras 2003/04 a 2013/2014?
Portanto, analisar o cenário do cultivo e produtividade (t/ha) da cana-de-açúcar na Mesorregião de Assis tendo como recorte temporal o período compreendido entre as safras 2003/04 a 2013/14, constituiu-se no objetivo precípuo desta pesquisa.
No âmbito do estado de São Paulo, a Mesorregião de Assis vem ganhando destaque, sobretudo no que se refere à expansão da produção agrícola, com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar. Segundo Oliveira et al. (2014), a região de Assis assume características de uma mesorregião com polo na cidade de Assis, caracterizando-se por uma forte integração comercial e de serviços com elevado grau de sofisticação econômica e social entre os municípios que compõem a região em questão.
A Mesorregião de Assis é composta por dezessete municípios, com uma população estimada em 278.220 habitantes e uma área territorial de 7.141.738 km2 (OLIVEIRA, 2015).
Segundo dados do Instituto de Economia Aplicada (Ipea), a Mesorregião de Assis ocupa a segunda maior posição no ranqueamento de produção de cana-de-açúcar, além de uma representativa e crescente quantidade de áreas novas destinadas ao plantio, situação análoga às regiões mais produtoras do estado. Dados do mesmo instituto mostram que, na referida região, a quantidade de cana destinada para indústria no ano de 2015 foi de 19.083.388 toneladas, com uma área de corte de 240.886 hectares (SÃO PAULO, 2016).
A cana-de-açúcar no mundo constitui-se numa cultura de significativa importância na economia dos países que a produzem. Seus produtos são largamente utilizados na produção de açúcar, bioeletricidade e etanol. A área colhida de cana-de-açúcar no mundo em 2012 foi de 26,08 milhões de hectares e a produção de 1.832,5 milhão de toneladas. Nesse mesmo ano, do total colhido, 76,4% estiveram concentrados em 10 países: Brasil, Índia, China, Tailândia, Paquistão, México, Indonésia, Austrália, Filipinas e Estados Unidos (FAO, 2014).
O cultivo da cana-de-açúcar tem impulsionado a economia nacional desde que foi introduzida no Brasil, no estado de Pernambuco. O primeiro engenho no país, denominado São Jorge, foi instalado por Martim Afonso de Souza, em 1532, logo após a fundação da Vila de São Vicente, em São Paulo. Desde então, a commodity tem tido importante papel na economia nacional, sendo o Brasil o maior produtor mundial (VIEIRA; LIMA; BRAGA, 2007).
Como afirmam Nogueira e Garcia (2013), o sistema agroindustrial da cana-de-açúcar é um dos mais tradicionais do país e teve grande influência no período de colonização.
Brandão (2014) postula que a cultura da cana-de-açúcar se constitui na mais antiga atividade econômica do país. Através do cultivo do produto agrícola, a coroa portuguesa intencionava ampliar sua influência sobre a colônia através da ocupação do território e, por consequência, garantir retornos financeiros com a atividade.
Após um longo período de intervenções e investimentos por parte do governo, a partir de 1985, em função de uma redução dos subsídios públicos, gerou-se uma série de conflitos entre empresários do setor e o governo federal, como consequência da política de fixação do preço do álcool (BACCARIN, 2005).
O processo de desregulamentação teve início em 1988, com o fim do monopólio das exportações de açúcar e das cotas internas de comercialização, a extinção em 1991 das cotas de produção, e a liberação da comercialização do álcool combustível em 1998. Em fevereiro de 1999 liberaram-se os preços de todos os produtos da agroindústria canavieira. Assim, as mudanças institucionais que ocorreram na economia brasileira desde a primeira metade dos anos 1990 causaram impactos diretos sobre o setor (VIAN, 2003).
O Produto Interno Bruto (PIB) do setor sucroenergético, para a safra 2013/14 foi estimado em US$ 43,36 bilhões, equivalente a 2% do PIB nacional de 2013, um aumento de 44% se comparado à safra 2008/09. Os impostos sobre faturamentos totais somaram, para esse período, cerca de US$ 10,9 bilhões, sendo que US$ 2,38 bilhões (aproximadamente 22%) foram gerados somente pela venda de insumos agrícolas e industriais (NEVES; TROMBIN, 2014).
De acordo com Neves e Trombin (2014), quando se considera toda a movimentação financeira do setor, ou seja, a somatória de todas as vendas dos diversos elos da cadeia e dos serviços prestados pelos demais players, o valor atinge o patamar de US$ 107,72 bilhões, conforme apresentado na Tabela 1. Observa-se que 65% de toda movimentação financeira ocorre depois que a cana de açúcar deixa a fazenda, compreendendo a atividade industrial e a distribuição no atacado e no varejo de produtos derivados da cana. As conexões de produção anterior à fazenda e na fazenda respondem por mais de 25%, ficando os demais players (agentes facilitadores) com o restante, 10%.

O faturamento estimado gerado a partir da comercialização da cana-de-açúcar às agroindústrias foi de US$ 17,99 bilhões (Tabela 1), sendo 61% provenientes de cana própria e 39% de cana de produtores parceiros e integrados no sistema de produção (NEVES; TROMBIN, 2014).
O setor em questão tem sido o esteio da economia brasileira, notadamente, ao contribuir com a produção de energia fornecendo insumos para a bioeletricidade. Juntos, o etanol e o bagaço da cana representam cerca de 15% da matriz energética brasileira, além de suportar níveis significativos de empregos e receitas fiscais substanciais em toda sua cadeia de fornecimento (NEVES; TROMBIN; CONSOLI, 2010).
A agroindústria canavieira é vista como uma grande oportunidade para o desenvolvimento econômico, social, ambiental e industrial em muitos países produtores de cana-de-açúcar. Importantes mudanças surgiram no setor sucroenergético nas últimas décadas, transformando as usinas de açúcar, antes produtoras apenas de alimentos, em fábricas de produção diversificada. Atualmente as usinas tornaram-se fábricas multiuso onde se produz alimentos, energia, leveduras, etanol não energético para outras indústrias e biocombustíveis. O principal fator dessa mudança é o uso dos resíduos de cana como matéria-prima para a cogeração de energia e a produção de biocombustíveis (PIPPO; LUENGO, 2013).
O Gráfico 2 mostra a evolução histórica do destino da cana-de-açúcar processada na região Centro-Sul do Brasil.

Em que pese todo esse volume de dados demonstrados, o setor vem passando por uma crise sem precedentes. Desde 2009, aproximadamente cinquenta unidades agroindustriais deixaram de operar na Região Centro-Sul nas últimas sete safras. Estima-se que para a safra 2014/15, entre sete e dez unidades suspendam suas operações.
Com a crise de 2008, o setor vem enfrentando um quadro bastante acirrado, cujas consequências foram sentidas especialmente pelos players do estado de São Paulo, onde a falta de chuva foi mais acentuada. Houve redução da produção sem a contrapartida da elevação dos preços. Não obstante, os custos de produção aumentaram. Entretanto, o setor mantém expectativas positivas para a safra que se iniciou em abril de 2015 (USP, 2014).
Para Figliolino (2015), as previsões não são tão otimistas. Segundo o autor, 25% da produção de cana-de-açúcar do Centro-Sul estão concentradas em agroindústrias com fluxo de caixa negativo e endividamento crescendo a níveis elevados de uma safra para outra, além de possuírem um mix de produtos considerado “pobre” e não possuírem cogeração de energia. Para se ter uma ideia da dimensão, esse volume de cana corresponde a “uma Tailândia e meia”, o segundo maior exportador de açúcar do mundo.
Agrava ainda mais esse quadro o fato de que a política de precificação e de tributação federal praticada internamente não foi conduzida por fatores econômicos associados à produção e às condições de mercado (RODRIGUES, 2015). Há evidências claras e inquestionáveis de que aspectos políticos e econômicos sobrepujaram os interesses da Petrobras na definição de preços dos derivados no mercado doméstico (FILGUEIRAS, 2009; FARINA et al., 2010). A narrativa desse enredo, bem como seus famigerados impactos sobre o setor sucroenergético e sobre a própria empresa brasileira de petróleo, tem sido amplamente noticiada e divulgada no país (ALVARENGA, 2014; BERTELLI, 2013; PIRES, 2014; SCHUFFNER; POLITO; NOGUEIRA, 2014).
De forma geral, percebe-se um cenário paradoxal. De um lado, há vários estudos que afirmam a potencialidade do setor, bem como sua expressiva contribuição à economia do país, como alguns dos citados anteriormente. Por outro, é preciso ressaltar que a descontinuidade das políticas públicas brasileiras, específicas para o setor, permitiu que o país perdesse a liderança na produção do etanol. Em 2013, a produção americana de etanol foi mais que o dobro da produção brasileira.
Nesse contexto, considerando a possibilidade de redução do uso de combustíveis fósseis, conforme estabelecido na última reunião do G7, espera-se que a demanda por biocombustíveis aumente e, em particular, o Brasil esteja preparado para se apresentar, definitivamente, como um player com vantagem competitiva cimentada nesse mercado.
Entretanto, salienta-se que o país precisará consolidar sua expertise na produção do etanol lignocelulósico (etanol de 2ª geração), a partir de fortes investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), com o fito de que o etanol produzido a partir dessa matéria-prima possa alcançar destaque na matriz energética brasileira (BUCKERIDGE; SANTOS; SOUZA, 2010; LAGO et al., 2012; MATSUOKA; FERRO; ARRUDA, 2009; PARAJULI et al., 2015; ROCHA et al., 2013).
A questão da sustentabilidade, vista sob a perspectiva do Triple Bottom Line (TBL) deve ser amplamente considerada (MILNE; GRAY, 2013). É fato que a maneira como a empresa define o valor exerce uma significativa influência sobre os recursos que ela cria, bem como a forma como os trata (GLAVAS; MISH, 2015).
Estudos têm delineado uma importante base que entrelaça teoria e prática com vistas ao planejamento e ordenação de uma econometria espacial e temporal, sobretudo visando atingir resultados mais consistentes que sejam, de fato, eficientes, equitativos e eficazes (HALPERN et al., 2013). Além disso, as ações corporativas devem, necessariamente, ser tomadas levando em consideração o aspecto tridimensional do desenvolvimento sustentável.
Considerando o predomínio do setor sucroenergético na região, bem como sua influência na economia dos municípios, torna-se relevante o estudo da evolução da cultura da cana-de-açúcar, especialmente nesse recorte territorial (OLIVEIRA et al., 2014).
A pesquisa assume abordagem mista (qualitativa e quantitativa). Abordagem qualitativa no sentido de que o processo de pesquisa envolve questões e procedimentos que emergem de fontes de dados primários e secundários, com interpretação elaborada pelo pesquisador a respeito do significado dos dados. Assim, o relatório final pode possuir uma estrutura mais flexível (CRESWELL, 2010). Quantitativa, considerando que se embasa em dados secundários, onde números são usados diretamente para representar as propriedades de algo. Como são registrados diretamente com números, os dados constituem-se de tal forma que podem ser aproveitados para análise estatística (HAIR JR. et al., 2005).
Quanto aos objetivos, pode ser classificada como descritiva, uma vez que pretende descrever as características de determinada população ou fenômeno, além de estabelecer relações entre variáveis, adotando, para tanto, técnicas padronizadas para coleta de dados (GIL, 2010).
Inicialmente, procedeu-se revisão bibliográfica objetivando criar um suporte teórico-conceitual como subsídio ao estudo. A revisão de literatura se deu, prioritariamente em artigos publicados em periódicos científicos de prestígio nacional e internacional, além de anais de congressos, teses e dissertações.
Os dados primários foram coletados do acervo técnico da Associação Rural dos Fornecedores e Plantadores de Cana da Média Sorocabana (Assocana), quando se realizou a visita técnica. Os dados secundários foram extraídos do banco de dados disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), através do Sistema de Monitoramento da Cana-de-Açúcar por Imagens de Satélite (Canasat), além de informações da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), IBGE e da Conab.
Complementarmente, realizou-se entrevista (HAIR JR. et al., 2005) com o gerente agrícola de uma tradicional agroindústria canavieira sediada na região de estudo, com o gerente técnico do departamento agrícola da Associação, sediada na cidade polo da mesorregião, além de um técnico de pesquisa do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), sediado no município de Piracicaba, estado de São Paulo. O processo de entrevista pautou-se, majoritariamente, nas recomendações de Gil (2008) e Gaskell (2002), para quem tal técnica constitui-se seguramente em uma das mais flexíveis técnicas de coleta de dados de que dispõe as ciências sociais. Mais especificamente, quanto aos níveis de estruturação, na concepção de Gil (2008), pode ser classificada como uma “entrevista focalizada”, uma vez que enfoca um tema específico. Além disso, “permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para sua retomada” (Ibidem, p. 112).
Na federação, a região produtora de maior destaque é a Centro-Sul que representa algo em torno de 90% de toda produção nacional. O estado de São Paulo é o maior produtor nacional de cana-de-açúcar, detendo um percentual de 56,2% do total dessa produção (SMA, 2014).
A Tabela 2 apresenta a área cultivada com cana-de-açúcar para os estados que compõem a Região Centro-Sul, para a safra 2013/14.

Especificamente para a safra 2013/14, a área cultivada com cana-de-açúcar no estado de São Paulo representou aproximadamente 65%.
A Tabela 3 apresenta a evolução da área cultivada com cana-de-açúcar no estado de São Paulo, nas modalidades cana-soca, reformada, expansão, em reforma e o total cultivado no período que compreende as safras 2003/04 e 2013/14.

Observa-se que a partir da safra 2009/10, a área total de cana-de-açúcar evoluiu muito pouco, ficando quase estagnada, o que corrobora os dados apontados por Nakabashi e Condi (2014). Além da área de cultivo, o estado de São Paulo destaca-se também em relação à produtividade média por hectare, que tem sido superior à média nacional, resultado este que pode ser atribuído aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), realizadas pelo setor durante anos de pesquisa (BRASIL, 2015a). A Tabela 4 apresenta a produtividade média/hectare para o estado de São Paulo e para o Brasil.

Pelo exposto, observa-se que o estado de São Paulo apresentou uma produtividade média (81,89 t/ha) superior à produtividade nacional (74,76 t/ha). Dados da Unica apontam valor de 83,2 t/ha para o estado de São Paulo e 79,8 t/ha para a região Centro-Sul (UNICA, 2014).
A Tabela 5 apresenta a produtividade (t/ha) da cana-de-açúcar no período compreendido entre as safras 2003/04 a 2013/14 para a Mesorregião de Assis.

A Tabela 6 sistematiza um comparativo de produtividade (t/ha) entre Brasil, Região Centro-Sul, estado de São Paulo e Mesorregião de Assis para a safra 2013/14.

Os dados mostram a Mesorregião de Assis com um valor médio de produtividade acima da média do estado de São Paulo, considerando qualquer uma das duas fontes (BRASIL, 2015a; UNICA, 2014). Contudo, de acordo com um dos gerentes agrícolas entrevistado para esta pesquisa:
no ano passado, em função da forte seca que tivemos aqui na região, somado à característica arenosa do solo, atipicamente, tivemos uma produção muito baixa, algo em torno de 64 e 65 t/ha. Para este ano, esperamos uma produtividade média de, no mínimo setenta e cinco mil quilos de cana por hectare.
O valor mencionado pelo entrevistado refere-se à safra 2014/15, cujos dados ainda não foram publicados pelos principais órgãos de pesquisa. Quando isso ocorrer, será possível confirmar essa informação, comparando-a com as demais médias (nacional, regional e estadual).
O aumento da competitividade do etanol, se comparado a combustíveis substitutos, no médio prazo, depende de medidas de caráter tributário, bem como daquelas voltadas para ganhos em eficiência na cadeia produtiva.
Para alcançar menores custos de produção, é premente que se avance no uso de inovações tecnológicas que permitam alavancar a produtividade. É imperativo alcançar os três dígitos em produtividade (t/ha de cana colhida). Todavia, isso demanda aporte público e privado em pesquisa. A produtividade tem, sem dúvida, um importante papel a desempenhar na questão da competitividade do etanol, e considera-se a necessidade de uma mudança drástica em seu nível, o que só será conseguido com o uso das tecnologias de ponta como as que vêm sendo desenvolvidas.
No curto prazo, deve-se manter uma diferença tributária entre o etanol e a gasolina como uma forma de precificar as externalidades positivas do etanol (melhores condições ambientais e sociais comparativamente à produção e uso do combustível fóssil). Algumas iniciativas nesse sentido estão sendo implementadas no exterior, caso da Columbia Britânica, importante província do Canadá (BACCHI, 2015).
Bacchi (2015) advoga que, no longo prazo, seria necessário concentrar esforços para entender o processo de tomada de decisão dos proprietários de veículos flex em relação à escolha do combustível. Espera-se que haja conscientização da sociedade das externalidades positivas do etanol e que as decisões de abastecimento não fiquem restritas apenas a questões econômicas.
O Gráfico 3 apresenta os dados da Mesorregião de Assis quanto à produtividade média para o período compreendido entre as safras 2003/04 e 2013/14, além da média do período.

De acordo com o Gráfico 3, observa-se uma irregularidade anual quanto à produtividade e um decréscimo médio no período estudado. Percebe-se, ainda, que, nas seis primeiras safras do período, a média de produtividade foi de 88,45 t/ha, sendo que, a média dos últimos cinco anos (81,36 t/ha), foi inferior à média da produtividade do período, que é de 85,23 t/ha.
Não obstante o fato de a mesorregião apresentar média de produtividade maior quando comparada às demais regiões (Tabela 6), observa-se uma queda aproximada de 8,4 t/ha, da safra 2003/04 para a safra 2013/14, uma redução aproximada de pouco mais de 10%.
A assertiva do gestor agrícola só vem a contribuir com o fato de que, o que se espera, é um retorno à produtividade média da região. Quando indagado sobre a produtividade média antes da adoção da colheita mecanizada, afirmou que “nossa produtividade chegava a 83 toneladas de cana por hectare, quando o corte era manual e com uso do fogo”. Todavia, esses são tempos passados. O setor deve buscar constante aprimoramento, com investimentos em tecnologias (máquinas, equipamentos, métodos, desenvolvimento de mudas mais adequadas ao tipo de solo etc.), capacitação de pessoal, além da agregação de valor ao produto.
Destaca-se que, a área plantada com cana-de-açúcar na Mesorregião de Assis é equivalente a 4,65% da área total plantada da cultura no estado de São Paulo.
O município de Paraguaçu Paulista destaca-se com a maior área cultivada, apresentando na última safra analisada o total de 56.445 ha de área cultivada. A própria extensão territorial do município (1.001.298 km2) justifica essa maior quantidade, considerando que, da região em estudo, é o município que possui a maior área.
Do conjunto de municípios que compõem a mesorregião, o de Pedrinhas Paulista, com 152.514 km2 de extensão territorial, apresenta a menor área cultivada com cana-de-açúcar. Todavia, a quantidade menor de área plantada não está diretamente relacionada à sua extensão territorial e, sim, à concorrência com outras culturas, como soja e milho, típicos dessa região.
A Tabela 7 apresenta a área total cultivada (em hectares) na Mesorregião de Assis. Os municípios que constituem a mesorregião foram elencados em ordem alfabética.

Observa-se um crescimento de 56,6% na área cultivada na Mesorregião de Assis, se comparadas as safras de 2003/04 e 2013/14.
No conjunto de dados disponibilizados na Tabela 7, observa-se alguns destaques em municípios que, em determinadas safras, sofreram um aumento significativo no volume de área plantada (cultivada).
O município de Borá, considerado o menor do país em termos populacionais, apresentou da safra 2004/05 para a safra 2005/06 um aumento de 1.323 ha, correspondente a 133,5% de aumento na área plantada. O município de Campos Novos Paulista, da safra 2005/06 para 2006/07, aumentou em 831 ha sua área de cultivo de cana (117,04%). O município de Cruzália destaca-se com um aumento de 1.205 ha, considerando o período da safra 2006/07 para 2007/08, o que corresponde, em termos percentuais a 123,59%.
Para este mesmo período de safra (2006/07 – 2007/08), o município de Florínea apresentou uma variação positiva de 53,07%, correspondente a um aumento de 3.133 hectares na área plantada com cana-de-açúcar.
Os municípios de Palmital e Pedrinhas Paulista apresentaram, respectivamente, aumento de 5.761 ha (40,84%) e 645 ha (90,46%) no período das safras de 2006/07 – 2007/08.
Alguns municípios, em termos percentuais, apresentaram crescimento bastante significativo quando comparados no recorte longitudinal.
A Tabela 8 apresenta os percentuais de evolução da área de cultivo para cada município.

Entre os três municípios que apresentaram maior expansão na área de cana plantada, destaca-se o município de Campos Novos Paulista, com um percentual bastante significativo de 1.189,29%, seguido por Pedrinhas Paulista (857,92%) e o município de Borá (841,94%).
Embora tenha havido expansão na área agricultável do estado de São Paulo, especialmente no cultivo da cana-de-açúcar, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente, através do Projeto Etanol Verde, 4.636.738 hectares (22,6% da área agricultável estadual) estão comprometidos com boas práticas agroambientais, considerando as agroindústrias signatárias do Protocolo Agroambiental (SÃO PAULO, 2014).
Tem havido um esforço concentrado na área de desenvolvimento de novas espécies de canas mais produtivas, através da inserção de genes que conferem um aumento de 25% na quantidade de toneladas de cana por hectare, gerando um “aumento vertical” na produção, ou seja, produz-se mais sem necessidade de expandir a área (CTC, 2015).
Para uma grande parte da mesorregião, onde o solo é arenoso, segundo informações obtidas junto ao técnico de pesquisa, as variedades mais utilizadas para o plantio são CTC2, CTC15, CTC17, CTC25, CTC9001 e CTC9002.
A diversificação e a modernização do plantel varietal contribuem decisivamente para a sustentabilidade do setor sucroenergético, não só pelos ganhos de produtividade, como também pela redução dos riscos fitossanitários e perdas agrícolas (CTC, 2015).
Ações nesse sentido têm gerado condições para que o estado de São Paulo conte, atualmente, com 267.822 hectares de áreas ciliares e cerca de 8.100 nascentes compromissados com a proteção e recuperação pelo setor sucroenergético.
Entretanto, a sustentabilidade só se consolida no tripé – econômico, social e ambiental – Triple Bottom Line – (MILNE; GRAY, 2013). No setor analisado, especialmente o parque industrial paulista, onde mais de 90% das agroindústrias são signatárias do Protocolo Agroambiental, nota-se que houve investimentos e empenho no sentido de atender a regulamentação, que reflete um anseio social pelo fim da colheita manual com o uso do fogo, pela preservação do remanescente verde, pelo fim do trabalho degradante, entre outros aspectos.
Estudos têm demonstrado que, em locais em que o uso do solo foi destinado ao plantio da cana-de-açúcar, as áreas de mata aumentaram (RUDORFF et al., 2010), o que comprova o fato de que a expansão da área de cultivo não está diretamente relacionada ao desmatamento, pelo contrário, as agroindústrias e fornecedores de cana-de-açúcar têm respeitado a legislação, não desmatando áreas de reserva, além de investirem no reflorestamento de áreas de preservação permanente (APP), matas ciliares, zelando pela guarda das nascentes, fonte de seu principal insumo natural: a água.
Também não é surpresa o fato de que, no aspecto econômico, a situação do setor é bastante comprometedora. Daí resulta que as contas não fecham. O governo exigiu, o setor se comprometeu e vem cumprindo com sua parte. Todavia, para haver sustentabilidade, há de se ter uma contrapartida governamental, sobretudo ao considerar o aspecto tridimensional da sustentabilidade.
O país precisa, urgentemente, estabelecer políticas públicas claras, de longo prazo, que garanta a visibilidade dos investidores. Não deve haver trade-off entre essas dimensões (HALPERN et al., 2013).
Este estudo objetivou analisar o cenário do cultivo e produtividade (t/ha) da cana-de-açúcar na Mesorregião de Assis tendo como recorte temporal o período compreendido entre as safras 2003/04 a 2013/14.
A Região Centro-Sul detém 90% de toda produção de cana-de-açúcar nacional, sendo que, desse total, para a última safra analisada (2013/14), o estado de São Paulo foi responsável por aproximadamente 65%.
No quesito produtividade (t/ha de cana), a Mesorregião de Assis, apesar de apresentar uma redução em torno de 10% no decurso do período analisado, manteve uma produtividade superior à do estado de São Paulo.
Segundo os atores entrevistados para este estudo, há expectativas de aumento da área cultivada e da produtividade para as próximas safras, especialmente nesse momento em que a economia parece dar indicativos favoráveis ao setor. Acredita-se que, com o retorno das cobranças das Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, o etanol se torne mais competitivo e ganhe mais mercado. Além disso, aposta-se muito no avanço do etanol de segunda geração, que deverá ser um marco importante para o setor.
Contudo, apesar da expectativa de expansão, as APP têm tido a garantia de preservação por parte das agroindústrias e fornecedores de cana, o que mostra a possibilidade de se compatibilizar e harmonizar o desenvolvimento e o respeito ao meio ambiente.
Deve haver, como prega a teoria, compatibilidade na tridimensionalidade do desenvolvimento, sob pena de não haver sustentabilidade em um setor crucial para a economia brasileira. Chegou ao limite do uso de medidas paliativas e incuriais. O governo precisa ampliar o nível de investimento em PD&I, os convênios institucionais (universidades, centros de pesquisa etc.); as empresas também devem aportar recursos em pesquisa, desenvolvimento e novas tecnologias a fim de manter-se no esforço de redução de custos e aumento da eficiência produtiva. Há tarefas para todos desempenharem, e elas devem estar sincronizadas, para que os resultados desse esforço não seja desperdiçado ou subutilizado.
Por fim, quanto às limitações, este estudo, num primeiro momento, deteve-se nos recortes geográfico e temporal, embora esta tenha sido a propositura inicial.
Como agenda de trabalhos futuros, pode-se estender os recortes e, além disso, incluir os dados da produção de bioenergia a partir da queima da biomassa da cana-de-açúcar.
Endereço dos autores: Edenis Cesar de Oliveiraedeniscesar@ufscar.br










