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Recepción: 28 Noviembre 2020
Aprobación: 21 Octubre 2021
Resumo: O trabalho teve como objetivo verificar as teorias da atribuição e do nível de interpretação em relação à problemática ambiental, aqui especificamente concernente aos resíduos (lixo). Sendo assim, elaborou-se um referencial teórico acerca da evolução da discussão ambiental e da emergência dos conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, bem como sobre as teorias da atribuição e do nível de interpretação. O método se caracterizou por uma abordagem quantitativa, realizada por meio de uma série de nove levantamentos (surveys) junto a 259 participantes, investigando a qual agente os participantes atribuíam a culpa pela geração de lixo, de acordo com diversas manipulações no texto informativo. Com isso, sobressaiu a clara dificuldade e resistência dos participantes em assumir sua parcela de culpa pelo lixo e/ou se aproximar dessa, sendo repetidamenteatribuída culpa para os demais agentes. Isso aconteceu apesar do informe gradualmente mais incisivo no decorrer dos tratamentos empregados. Como consequência, reflete-se uma tendência de distanciamento e abstração quanto às questões ambientais, o que pode contribuir para um baixo engajamento em atitudes posteriores relacionadas a isso.
Palavras-chave: questão ambiental, sustentabilidade, teoria da atribuição, teoria do nível de interpretação.
Keywords: environmental issue, sustainability, theory of attribution, theory of level of interpretation
1 INTRODUÇÃO
O homem, em sua interação com a natureza, com o passar do tempo, percebeu que os recursos naturais não eram inesgotáveis, pelo contrário, são escassos e não facilmente renováveis – ou até renováveis por meio da implementação de novas tecnologias, mas essas também impactantes no ambiente (NASCIMENTO, 2012; ANDREOLI; LIMA; PREARO, 2018). Com isso evidenciado, a questão ambiental foi paulatinamente colocada em pauta, discutindo-se também os impactos da exploração econômica e, como consequência, do modelo econômico atual, no meio ambiente (LIRA; FRAXE, 2014).
Como resultado dessa crescente inquietação, surgem, a partir da década de 1960, diversos eventos internacionais voltados à discussão dessa temática,culminando no surgimento dos conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade (NASCIMENTO, 2012). Com isso, passa-se a exigir uma nova postura da sociedade, colocando-se em pauta a questão de como promover o crescimento econômico sem comprometer o meio ambiente e as futuras gerações (PINSKY; DIAS; KRUGLIANKAS, 2013).
Apesar disso, a consciência ambiental ainda não conseguiu permear de fato o âmbito de consumo. Por um lado, é perceptível o movimento considerável pelas organizações, que demonstram preocupação ambiental em seus discursos e até desenvolvem ações práticas para atuar diretamente no problema. Entretanto, na outra ponta, os usuários e consumidores finais ainda permanecem afastados da problemática ambiental, escolhendo manter a crença de isenção de responsabilidade e, consequentemente, também de culpa.Afinal, parece ao consumidor que o seu papel no processo está sendo cumprido, que é o de consumir. Já, a consequência desse consumo, neste caso abordado em termos de resíduos gerados (lixo), não é visualizadacomo efeito do ato de consumir, em si, massim da ação de produzir; ou seja, reiterando: não é de responsabilidade do consumidor individual, que se exime da sensação de culpa. Nesse sentido, o engajamento em hábitos de vida, compra e consumo mais ecologicamente corretos depende da percepção que os indivíduos têm acerca das problemáticas ambientais. Sendo assim, existem duas teorias de fundamental importância nesse contexto: a teoria da atribuição e a de nível de interpretação.
De maneira similar, a teoria do nível de interpretação defende que existe uma relação de duas vias entre o nível de interpretação e a distância psicológica sentida, ou seja, que tanto o nível de elaboração é capaz de influenciar a distância sentida pelo indivíduo, quanto a distância sentida é capaz de influenciar seus pensamentos e comportamentos (TROPE; LIBERMAN; WAKSLAK, 2007; TROPE; LIBERMAN, 2010). Mais importante, a consequência é de diferentes avaliações e reações aos objetos, que tendem a ser mais evidentes quando a problemática for elaborada e/ou sentida como próxima pelos indivíduos, assim como o inverso é verdadeiro (WILLIAMS; STEIN; GALGUERA, 2013). Dessa forma, se a problemática for vista como próxima, também maior nível de elaboração será destinado a ela, com consequente maior tendência de engajamento em ações futuras.
Nesse sentido, como agravante, existe uma crença de que a questão ambiental, de maneira geral, caracteriza-se como uma problemática que encontra dificuldade em obter respaldo e engajamento dos indivíduos, justamente pela distância sentida em relação a ela (SPENCE; PIDGEON, 2010; SCANNELL; GIFFORD, 2013; BRÜGGER; MORTON; DESSAI, 2016; GUTTRY; DÖRING; RATTER, 2017). Entretanto, tal crença vem sendo questionada pelo meio acadêmico, inclusive com o surgimento de evidências contraintuitivas nesse sentido (SCHOENEFELD; MCCAULEY, 2015; BRÜGGER; MORTON; DESSAI, 2016; DUAN; ZWICKEL; TAKAHASHI, 2017). Assim, tal investigação carece de um consenso, sendo também ainda escassos os estudos empíricos acerca disso (GUTTRY; DÖRING; RATTER, 2017; O’CONNOR; KEIL, 2017).
À luz do exposto, o trabalho teve como objetivo verificar as teorias da atribuição de culpa e do nível de interpretação em relação a umaproblemática ambiental, especificamente referente aos resíduos gerados (lixo). Tal esforço busca verificar possíveis influências no comportamento dos indíviduos em relação às questões ambientais, aqui direcionadas a duas teorias de vertente psicológica: atribuição e interpretação. Como resultado, espera-se obter uma melhor compreensão do efeito da comunicação na responsabilização individual por tais questões, de forma a contribuir para uma melhor construção futura, tendo em vista maior eficácia. O método se caracterizou por uma abordagem quantitativa, realizada por meio de uma série de nove levantamentos (surveys), investigando a qual agente a culpa da geração de lixo foiatribuída pelos participantes de acordo com diversas manipulações no texto informativo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O trabalho realizou um levantamento junto à literatura, focando-se na evolução da discussão ambiental e na emergência dos conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, assim como nas teorias da atribuição e do nível de interpretação.
2.1 Evolução da preocupação ambiental
A discussão das questões concernentes à preocupação ambiental foi impulsionada pela realização de diversos eventos internacionais, iniciados na década de 1960 (ANDREOLI; CRESPO; MINCIOTTI, 2017). Dentre eles, destacam-se alguns, explanados abaixo.
Inicialmente, tem-se o Clube de Roma (1968) como uma primeira tentativa de reunir pessoas de diversos grupos de interesse (comerciantes, economistas e cientistas) a fim de se discutir a problemática ambiental. Nele, alertou-se, especificamente, para o limite do crescimento dentro do modelo econômico vigente até então, pautado pelo consumo exacerbado e altamente concentrado em poucas nações, mais industrializadas (OLIVEIRA, 2012). Nesse sentido, esse encontro foi marcado pelo tom pessimista, baseado na crença de incompatibilidade dos interesses econômicos aos ambientais.
Responsável pela publicação do Relatório “Os Limites do Crescimento”, a principal proposta do encontro era a de crescimento zero, que foi bastante criticada pelos países menos industrializados, já que culminaria com a estagnação de seu desenvolvimento (LIRA; FRAXE, 2014). Esse relatório serviu de base para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (1972), sediada em Estocolmo, que foi considerada a primeira grande reunião internacional, com a participação de mais de cem países (OLIVEIRA, 2012).
Em 1987, outro importante relatório ambiental foi publicado, o Relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como Relatório Brundtland, que embasou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), realizada no Rio de Janeiro (NASCIMENTO, 2012). O referido documento corroborava com a premissa de insustentabilidade dos paradigmas de desenvolvimento econômico vigente, que poderia ser resolvido, entretanto, por meio do alinhamento dos interesses econômicos com a questão ambiental (LIRA; FRAXE, 2014). Trata-se, assim, de uma visão mais otimista acerca da problemática ambiental,queoriginou o conceito de desenvolvimento sustentável (OLIVEIRA, 2012).
Outros eventos internacionais também foram importantes, como a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizadas nos anos de 2002 e 2012, popularmente conhecidas como Rio+10 e Rio+20 (ANDREOLI; BASTISTA, 2020). Esses eventos objetivaram avaliar os compromissos firmados anteriormente, revigorando o comprometimento político com o desenvolvimento sustentável, além de discutir e propor novas e emergentes temáticas (LIRA; FRAXE, 2014). Nesse sentido, nota-se uma discussão global cada vez mais acentuada, contribuindo tanto para a consolidação dos termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, bem como para o surgimento de novos conceitos relacionados à preocupação ambiental, como economia verde (DINIZ; BERMANN, 2012).
2.2 Desenvolvimento sustentável e Sustentabilidade
Em sua origem, o conceito de desenvolvimento sustentável pode ser considerado generalista, definido como o desenvolvimento que se preocupa em atender as necessidades do presente, sem, entretanto, comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades (LENZI, 2006; MARCON; SORIANO-SIERRA, 2017). Configura-se, assim, na emergência de uma nova racionalidade, não só econômica, tradicionalmente imperante, mas oriunda da ecologia (BARONI, 1992). Nesse sentido, Acselrad (2000) defende que o desenvolvimento sustentável significa, acima de tudo, um ajuste técnico na ordem vigente, no sentido de incorporar o capital ambiental (que não é um bem livre, mas sim passível de capitalização) a fim de responder aos impactos negativos da concepção industrialista de progresso.
Como consequência, cunha-se, também, o termo sustentabilidade, que, segundo Leff (2005), pode ser definido como um projeto social e político para o ordenamento ecológico e descentralização territorial da produção, bem como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações. Trata-se de um novo valor, pautado pela prospecção de um novo modelo de desenvolvimento com respeito a todas as formas de vida, ou outra racionalidade, que considera questões de prudência ambiental, eficiência econômica e justiça social (LIRA; FRAXE, 2014). Dessa forma, configura-se como objetivo principal da sustentabilidade a construção de uma cidadania possibilitadora de melhores condições de vida à humanidade, bem como o respeito a outras formas de vida, igualmente importantes (NASCIMENTO, 2012; LIRA; FRAXE, 2014).
A natureza clássica do termo sustentabilidade propõe uma visão tridimensional, pautada pelos aspectos ambiental, econômico e social. A dualidade existente entre o ambiente e a economia, presente na discussão sobre a questão ambiental desde seu primórdio, justifica a inserção dos dois primeiros aspectos (NASCIMENTO, 2012). Já o aspecto social começa a ser considerado, principalmente, devido à constatação de que vários dos problemas ambientais decorrem de externalidades próprias, tanto do excesso quanto da escassez de desenvolvimento: como, por exemplo, consumo excessivo, de um lado, e baixo PIB per capita, do outro (NASCIMENTO, 2012).
Dessa forma, considerando a tríade da sustentabilidade, o aspecto ambiental propõe que a produção e o consumo aconteçam respeitando a capacidade de resiliência dos ecossistemas, enquanto que o econômico prega o aumento da eficiência da produção e consumo por meio da economia dos recursos naturais e contínua inovação tecnológica (ecoficiência), e o social pauta pela justiça social, com erradicação da pobreza e respeito ao direito de igualdade (NASCIMENTO, 2012; LIRA; FRAXE, 2014).
Entretanto, mais recentemente, demanda-se uma ampliação da natureza clássica da sustentabilidade, abarcando duas novas dimensões: a política e a territorial (SACHS, 1993; PETARNELLA; HOURNEAUX JUNIOR; SILVEIRA, 2016). Essa crítica se justifica, em primeiro lugar, pela importância da política no processo de mudanças, bem como pela sua função de proporcionar um entendimento ou mesmo alinhamento entre os diversos agentes envolvidos (NASCIMENTO, 2012; LIRA; FRAXE, 2014). Em segundo lugar, toda ação ocorre em um determinado tempo e espaço, estando sujeita ao seu contexto de realização, com sua própria cultura (NASCIMENTO, 2012; LIRA; FRAXE, 2014).
Diante desse novo cenário de inclusão da pauta da questão ambiental nas discussões empresariais, governamentais e da sociedade em geral, bem como da valorização dos conceitos e práticas de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, impele-se uma mudança nos padrões de vida da população, inerentemente atrelado aos seus hábitos de compra e consumo. Não à toa, houve uma proliferação de estudos voltados à compreensão dessa temática, centrados no que se conceitua como consumo consciente. Entretanto, o engajamento em hábitos de vida, compra e consumo mais ecologicamente corretos depende da percepção que os indivíduos têm acerca das problemáticas ambientais. A seguir, serão exploradas duas teorias que influenciam essa percepção.
2.3 Teorias da Atribuição e do Nível de Interpretação
No decorrer das diversas situações que envolvem a vida cotidiana, o indivíduo se engaja em múltiplas tentativas de identificar os fatores que geram os resultados vivenciados, processo conceituado como análise causal (FISKE; TAYLOR, 1991). Nesse sentido, a teoria da atribuição investiga como os indivíduos interpretam e usam as informações disponíveis a fim de gerar explicações causais para os eventos vivenciados (FISKE; TAYLOR, 1991; WEINER, 2000; LOPES; MOTA; FREITAS, 2015).
De uma maneira geral, a atribuição pode ser interna ou externa (FISKE; TAYLOR, 1991; MALLE, 2011). A atribuição interna se caracteriza quando a causa de determinado evento é associada a características internas, como traços de personalidade, por exemplo, enquanto que a atribuição externa é caracterizada quando essa causa é designada a fatores externos, que estão fora do controle do indivíduo em questão, como fatores situacionais ou do ambiente, por exemplo.
Nesse sentido, Reilly (2014) defende que a atribuição interna é capaz de gerar maiores consequências afetivas do que quando a atribuição é externa. Isso acontece porque, no primeiro caso, a proximidade sentida é maior, inclusive com evocação de sentimentos de culpa e vergonha, o que não acontece no segundo caso, no qual a responsabilidade pela causa do evento é direcionada a terceiros, distanciando, assim, o próprio indivíduo do fato (REILLY, 2014). Como resultado, pode-se esperar que as atitudes dos indivíduos frente a determinado problema sejam maiores quando a atribuição de culpa for direcionada a eles mesmos, comparado a quando a culpa for atribuída a terceiros.
De maneira similar, a teoria do nível de interpretação se refere ao modo como as pessoas representam as informações mentalmente (WILLIAMS; STEIN; GALGUERA, 2013), investigando a relação entre o nível de interpretação e as distâncias psicológicas sentidas (TROPE; LIBERMAN; WAKSLAK, 2007; TROPE; LIBERMAN, 2010). De uma maneira geral, os autores defendem que as pessoas interpretam mentalmente objetos que estão psicologicamente perto ou distantes de duas maneiras distantes. Quando os objetos estão psicologicamente próximos, a interpretação mental que ocorre é de baixo nível, caracterizada como detalhada, concreta e contextualizada. Por outro lado, quando os objetos estão psicologicamente distantes, a interpretação que ocorre é de alto nível, caracterizada como mais abstrata, estável e esquematizada.
Além disso, foi observado o efeito recíproco, menos intuitivo, ou seja, que as distâncias psicológicas influenciam os pensamentos e comportamentos das pessoas, seja em termos de tempo ou espaço (TROPE; LIBERMAN; WAKSLAK, 2007; TROPE; LIBERMAN, 2010; WILLIAMS; STEIN; GALGUERA, 2013). Nesse sentido, a distância psicológica sentida em relação ao objeto afeta o nível de interpretação mental, que, por sua vez, afeta a avaliação e comportamento dos indivíduos em relação a esse objeto (TROPE; LIBERMAN; WAKSLAK, 2007; TROPE; LIBERMAN, 2010).
Trope, Liberman e Wakslak (2007) citam como exemplos os usos de apelos como “todo dia” ou “nesta localidade”, que invocam significados de perto, provável e concreto, incentivando um nível de interpretação de baixo nível, ao contrário de expressões como “todo ano” ou “em uma localidade distante”, que denotam significados de distante, improvável e abstrato, e, assim, levam a uma interpretação de alto nível. Outro exemplo dado pelos autores se refere ao estudo de Chandran e Menon (2004), que investigou a concretude de comunicações de risco, adotando os dizeres “todo dia” ou “todo ano”. De forma semelhante, o risco apresentado em termos de dia foi visto como mais próximo no tempo, mais concreto e mais provável, evocando, assim, um maior senso de risco, em comparação àqueles apresentados em relação ao ano.
Dessa forma, os autores defendem que tanto o nível de interpretação ativado afeta a distância percebida quanto a distância percebida afeta o nível de interpretação, o que, por sua vez, afeta a avaliação e o comportamento futuros em relação a eles. Nesse sentido, Williams, Stein e Galguera (2013) afirmam que uma das possíveis consequências é a influência na avaliação de um determinado objeto, melhorando a percepção acerca daqueles considerados positivos e piorando acerca daqueles tidos como negativos, bem como acentuando as ações que serão tomadas em relação a eles.
Mais do que isso, Trope e Liberman (2010) sugerem que o efeito decorrente do nível de interpretação é “supergeneralizado”, ocorrendo a todo o momento, como resultado de uma certa tendência automática da mente, e persistindo mesmo quando a razão inicial não esteja mais presente. Nesse sentido, espera-se que exista uma influência do nível de interpretação, tanto no sentido direto quanto no indireto, ou seja, tanto em relação ao nível de interpretação, diretamente, quanto referente à distância dos objetos apresentados, que influenciará o nível de intepretação. Sendo assim, espera-se que o consumidor admita maior culpa em relação à problemática do lixo, em detrimento de direcionar a culpa a outros possíveis agentes, em decorrência de dois cenários: primeiramente, indiretamente, quando a problemática ambiental for informada de maneira próxima, temporal e espacialmente; em segundo lugar, de maneira direta, quando houver a elaboração da mensagem informativa.
As influências desses dois constructos em temáticas ambientais foram alvo de estudo por artigos prévios (BRUGGER; MORTON; DESSAI, 2016; DUAN; ZWICKEL; TAKAHASHI, 2017; GUTTRY; DÖRING; RATTER, 2017; O’CONNOR; KEIL, 2017), sem que houvesse, entretanto, um consenso entre os resultados encontrados e as vertentes de discussões traçadas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como objetivo verificar as teorias da atribuição de culpa e do nível de interpretação em relação à problemática ambiental do lixo. Nesse sentido, pôde-se notar que em todos os diferentes testes, independentemente das diferentes modificações realizadas nos textos apresentados, a atribuição de culpa foi sempre direcionada a terceiros, inclusive com diferenças significativas encontradas entre eles mesmos e os dois outros agentes, ora com maiores notas atribuídas às empresas, ora aos habitantes.
Além disso, as correlações positivas significativas encontradas entre as notas atribuídas a eles mesmos e aos habitantes do país, encontradas em quase todos os nove levantamentos realizados, possibilitam a sugestão de um contrassenso nas respostas dos participantes, isso é, a culpa é atribuída aos habitantes, de maneira geral, mas não a eles mesmos, especificamente, ainda que também habitantes. A síntese dos resultados indica uma clara dificuldade e/ou resistência dos participantes de assumir efetivamente a culpa pelo lixo e/ou tornar essa problemática próxima, respaldando uma das vertentes de estudo sobre isso. Como diz o filósofo Leandro Karnal, existe uma tendência inerente em nós de se acreditar que o problema é sempre os outros, ou, conforme antecipado por Sartre, “o inferno são os outros”.
Como agravante, segundo a teoria da atribuição, quanto menor a proximidade sentida em relação à culpa, menor a probabilidade de engajamento de atitudes em direção à problemática em questão. De maneira similar, de acordo com a teoria do nível de interpretação, quanto menores os pensamentos relacionados à determinada problemática, menos evidentes serão as avaliações e reações em relação a ela. Os resultados encontrados indicam que a problemática ambiental de lixo se enquadra nesse cenário. Isso significa que é cabível afirmar que, se os indivíduos tendem a rejeitar à atribuição de culpa pelo lixo, bem como resistem à torná- la como próxima, também tenderão a se engajar em menos atitudes em relação a isso. Se tal falta de engajamento já foi encontrada quando da autoatribuição e da percepção como uma problemática próxima, é de se supor que esse quadro se encontra em situação muito mais agravante.
Com isso posto, torna-se necessário entender com mais profundidade a ocorrência dos resultados obtidos nessa pesquisa, seja testando novas manipulações ou mesmo estendendo a análise para novas problemáticas ambientais, além da questão dos resíduos sólidos (lixo), como, por exemplo, desmatamento florestal, poluição hídrica, aquecimento global, entre outras.Sugere-se que tal cenário também se mostra suscetível à influência da cultura (GUTTRY; DÖRING; RATTER, 2017), carecendo, assim, de uma maior compreensão sobre como as problemáticas ambientais são visualizadas e encaradas no país. Mais importante, ressalta-se a necessidade de identificar possíveis maneiras de reverter o quadro apresentado.
Por fim, o questionamento que permanece é, se tal distância for de fato sentida em relação à problemática do lixo, não existirão também outros problemas ambientais que encontram dificuldade e/ou resistência por parte da sociedade? Trata-se de um caso isolado, ou seria de fato essa a reação da população às questões ambientais de forma sistêmica?
Nesse sentido, deixa-se como recomendação para estudos futuros o levantamento e a investigação de variáveis que poderiam contribuir na minimização da resistência sentida pelos indivíduos em assumir a culpa e/ou a proximidade pela problemática ambiental do lixo. Trata-se de uma lacuna de pesquisa não só teórica, mas com importante implicação gerencial, no sentido de que poderia contribuir para o aprimoramento do trabalho e dos resultados obtidos com programas de conscientização ambiental junto à população.
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