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Gestão de Periódicos: um estudo na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo
Journal management: a study in the area of Administration , Accounting and Tourism
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 22, núm. 49, pp. 42-58, 2017
Universidade Federal de Santa Catarina

Artigos


Recepção: 25 Maio 2016

Aprovação: 10 Abril 2017

DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2017v22n49p42

Resumo: O artigo objetiva descrever a visão dos Editores de Periódicos sobre o processo de gestão editorial de periódicos brasileiros. Suportado por uma abordagem quantitativa foram enviados questionários para todos os 570 editores de periódicos brasileiros constantes na lista Qualis CAPES 2009-2011, tendo retornado 87. O instrumento foi composto por dois blocos de questões: perfil do Editor e elementos associados à prática da gestão dos periódicos. Dentre os principais resultados destacam-se os seguintes: a maioria dos editores são bacharéis em Administração, participam ativamente em eventos científicos e têm forte vinculação aos Programas de Pós-graduação. As dificuldades estão ligadas ao ato avaliativo e a um grande número de atividades do Editor. A maioria dos entrevistados (80%) não tinha exercido atividade de gestão editorial anteriormente, bem como 41% adotaram a estratégia de se associar a eventos científicos com a prática de fast-track.

Palavras-chave: Gestão Editorial, Editor, Periódicos, Administração, Ciências Contábeis, Turismo.

Abstract: This article aims to describe the vision of Journal Editors about the process of editorial management of Brazilian journals. Supported by a quantitative approach to survey all 570 Brazilian journals publishers listed in the list Qualis CAPES from 2009 to 2011, having returned 87 were sent The instrument consisted of two blocks of questions : Editor profile and elements associated with the practice of management journals . Among the key findings include the following: most publishers are bachelors of Directors, actively participate in scientific events and have a strong connection to the Graduate Programs. The difficulties are linked to evaluative act, and a large number of activities of the Editor . Most respondents (80%) had not exercised editorial management activity earlier, and 41 % have adopted the strategy of associating events with the scientific practice of fast-track.

Keywords: Editorial Management, Editor, Periodicals, Administration, Accounting, Tourism.

1. INTRODUÇÃO

Tornar público o conhecimento é compromisso de qualquer pesquisador que ao socializá-lo gera novas discussões, avanços e sua validação ou reformulação, a partir do diálogo com seus pares. O caminho natural para disseminar a produção do conhecimento tem sido a busca pela publicação em periódicos depois de vencida as dificuldades inerentes às diferentes etapas da pesquisa e a participação em eventos e encontros da área de conhecimento, espaço considerado fundamental para o amadurecimento do artigo na medida em que possibilita a interlocução e discussões teórico-metodológicas. Pondere-se o que Mueller (2000) descreve:

A produção da literatura de uma área científica envolve muitas e diferentes atividades de comunicação entre os pesquisadores, algumas das quais antecedem e outras se seguem a sua publicação. Conforme suas características, essas atividades costumam ser chamadas de comunicação informal ou comunicação formal. A comunicação informal utiliza os chamados canais informais e inclui normalmente comunicações de caráter mais pessoal ou que se referem à pesquisa ainda não concluída, como comunicação de pesquisa em andamento, certos trabalhos de congressos e outras com características semelhantes (MUELLER, 2000, p. 22-23).

Essa importância é decorrente da forma como se produz a avaliação de um artigo, normalmente adotando-se o mecanismo blind review, capaz de garantir a isenção do avaliador e dessa forma apoiar a avaliação em critérios de qualidade conhecidos pela comunidade acadêmica. Nesse contexto, lembram Bolaño, Kobashi e Santos (2006,p.124) que,

Publicar em periódicos reconhecidos é, na sociedade contemporânea, sinônimo de certificação do trabalho científico e acadêmico, item também considerado na avaliação das instituições de ensino e pesquisa, cujo renome é medido pela quantidade de trabalhos científicos publicados pelo corpo docente, como também por seu impacto. Em todo caso, depreende-se do que foi dito que o periódico científico participa dos processos de produção e consumo de mercadorias. Seu número e abrangência crescem a cada ano, patrocinados por editoras comerciais e universitárias.

O aumento do número de periódicos científicos e a melhora da percepção de sua importância como canal de prestígio para a reflexão de variados temas de áreas distintas do conhecimento, com repercussão para a pesquisa científica e a pós- graduação, impõe aos Editores um conjunto de responsabilidades que vão desde questões de natureza gerencial até a preservação de condutas éticas por parte da comunidade científica incluindo aquelas que são próprias da gestão do periódico.

Importa ressaltar que apesar do grande crescimento do número de periódicos ainda há um longo caminho a ser percorrido para que os mesmos cumpram a um só tempo a função socializadora do conhecimento dentro de rigorosos padrões de produção científica e de avaliação e criem uma comunidade de pesquisadores e consumidores de conhecimento.

Como lembram Blattmann e Bonfá (2006, p.43) “a atividade científica tem como principal elemento propiciar a comunicação entre os cientistas, utilizar a disseminação da ciência e estimular o aprender a apreender considerado primordial na Sociedade do Conhecimento.

Neste diapasão as atividades que compõem o processo de gestão editorial passam a fazer parte da agenda dos Editores dos periódicos, pois de um lado há uma produção científica que deve ser disseminada por outro lado não se pode publicar sem que determinados critérios garantidores da qualidade do periódico sejam obedecidos. No universo da área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, em 2012, constatou-se que os artigos publicados em 2010 através do sistema de Coleta CAPES, somados aos periódicos listados no triênio 2007-2009 geraram uma base de 1.541 periódicos nacionais e internacionais que foram classificados em 2011 (CAPES, [2012]).

Dado que há um volume muito grande de periódicos em circulação e que atualmente a avaliação do sistema CAPES se apoia fortemente na produção em periódicos, tanto para o docente quanto para o discente, é pertinente investigar como ocorre o processo de gestão editorial de periódicos brasileiros na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: num primeiro momento apresenta o modelo de avaliação brasileira dos Periódicos; em seguida discute os processos que envolvem a gestão editorial; em terceiro lugar, descreve os passos metodológicos; em quarto lugar analisa e discute os dados e por fim apresenta as considerações finais, limitações e sugestões de futuras pesquisas.

2. MODELO DE AVALIAÇÃO DA CAPES: BREVES CONSIDERAÇÕES

Em função de determinação do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) a Área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo promoveu em 2008 modificações na escala utilizada para avaliação de periódicos que compõem Qualis (CAPES, 2009). Através das modificações realizadas, oito requisitos mínimos passaram a nortear os periódicos (CAPES, 2009). Os requisitos contemplam diversos elementos, tais como, registro no ISSN, circulação do periódico, número de artigos publicados, disponibilização eletrônica, apresentação de informações sobre o editor responsável.

Entre os elementos de destaque no bojo das mudanças estabelecidas encontra-se a busca por mecanismos internacionais de avaliação de periódicos para contribuir com os padrões de qualidade dos periódicos pontuados na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Os elementos em questão são a base de dados JCR/ISI (Journal Citations Report), através do índice de fator de impacto (FI) e a base de dados Scopus/SCImago através do índice “H” (CAPES, 2009).

A utilização dessas bases de dados contribuiu para a criação dos estratos “A1” e “A2”. O primeiro, responsável por agrupar periódicos com fator de impacto maior do que 0,5 ou índice “H” superior a 5 (CAPES, [2009]). Os periódicos não classificados nessas bases de dados obtiveram classificação no webqualis através de outros critérios. Para o estrato “B1” foram contemplados periódicos nacionais indexados ao Scielo e para periódicos internacionais levou-se em consideração a indexação no EconLit, no PsycInfo e no Redalyc (CAPES, 2009).

Os periódicos sem FI, sem H, e não indexados a outras bases relevantes foram classificados da seguinte forma: periódicos IC (antigo internacional C) e NA (antigo Nacional A) foram classificados como B2; periódicos NB (antigo Nacional B) foram classificados como B3; periódicos NC (antigo Nacional C), LA (antigo Local A) e LB (antigo Local B) foram classificados como B4; periódicos LC (antigo Local C) foram classificados como B5. (CAPES, [2009], p. 6)

Além dos estratos citados, o Qualis da Área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo também inseriu periódicos que não atenderam aos requisitos mínimos para avaliação na classificação da Área no estrato “C” e atribuiu os seguintes pesos para os periódicos da área: A1 – 100; A2 – 80; B1 – 60; B2 – 50; B3 – 30; B4 – 20; B5 – 10 e; C – 0 (CAPES, 2009). Ponto de destaque na classificação diz respeito à preocupação com a revisão recorrente dos periódicos, de acordo com as publicações dos docentes dos Programas de Pós-Graduação (CAPES,2009). Dessa forma, os periódicos podem alcançar novas classificações, tendo em vista os critérios estabelecidos e revisados para a Área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo.

O crescimento do número de periódicos implicou na necessidade de reestabelecer critérios para a classificação dos periódicos da área, conforme relata a CAPES (2012):

Isso significava que teríamos que definir critérios que permitissem acomodar a entrada de periódicos nos estratos superiores da classificação – A1, A2 e B1 –, respeitando as proporções definidas pelo CTC-ES, ou seja, a proporção de periódicos A1 ser menor que a proporção de A2; A1+A2 representar no máximo 25% do total de periódicos qualificados da área; e a soma dos periódicos em A1, A2 e B1 não ultrapassar 50% do total de periódicos qualificados pela área (CAPES, [2012], p. 1).

Apesar dos critérios objetivos estabelecidos é possível identificar no Relatório de Área que a classificação dos periódicos também é imbuída de elementos subjetivos pertencentes a membros da comunidade responsáveis pela classificação dos periódicos. Segundo a CAPES (2012, p.3), alguns periódicos nacionais “considerados relevantes para a área” foram classificados imediatamente acima do estrato ao qual deveria ser inserido, sendo eles: Advances in Scientific and Applied Accounting; Brazilian Administration Review; Brazilian Business Review; Gestão e Produção; Organização & Sociedade; RAC; RAE; RAUSP; Revista Brasileira de Finanças; Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo; Revista Contabilidade & Finanças; e Revista de Administração Pública.

Através da manutenção do sistema de pontuação atribuído para cada estrato anteriormente pela CAPES (2009), o relatório da CAPES (2012) segmentou a distribuição dos periódicos pontuados da seguinte forma: A1 – 8,71%; A2 – 9,28%; B1 – 11,45%; B2 – 6,53%; B3 – 17,53%; B4 – 15,69%; e B5 – 30,81%.

3. GESTÃO EDITORIAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

A prática da gestão editorial de um periódico científico requer esforços para criação de redes de contatos, composição de conselho editorial, banco de avaliadores, recursos humanos. materiais e financeiros e estrutura tecnológica. Como lembram Fachin e Hillesheim (2006), os periódicos científicos são todos ou quaisquer tipos de publicações editadas em números ou fascículos independentes, não importando a sua forma de edição física ou eletrônica. No entanto, na sua implementação deve haver o respeito a um encadeamento sequencial e cronológico de modo a evitar as interrupções nos lançamentos e consequentemente impactar na velocidade da própria construção do conhecimento.

Como lembra Souza (2002), no caso Brasil, um dos desafios dos periódicos científicos é vencer a não regularidade nas publicações, falta ou problemas de normalização, retorno dos pareceristas/avaliadores em tempo hábil, pois a editoração científica ainda é o maior indicativo da pesquisa científica produzida no país. A pesquisa brasileira tem se desenvolvido de forma crescente: do reduzido número de cientistas que o Brasil contava na década de 1960, chegou-se em menos de quatro décadas, a um sistema produtivo com grupos de investigação em quase todas as áreas do conhecimento (PEREZ, 2002).

O veículo onde é gerado o fluxo do conhecimento científico exige a gestão de conteúdos/processos que são delineadas pela práxis editorial. Entretanto, deve-se respeitar em cada contexto a execução das ações descritas por King e Tenopir (2004), no Quadro 01, que ensejam um emaranhado de processos que culminam com a publicação e gestação deste conteúdo.

Quadro 1
Ações na Gestão Editorial

Fonte: Criado a partir de King e Tenopir (2004, p. 6) e Vasconcelos (2007)

A partir do Quadro 01 é possível verificar a complexidade envolvida nas atividades do Editor de um periódico, levando-se em consideração os elementos da produção - atividades controladas ou não pelo Editor, o processo de constatação da qualidade por meio da avaliação até a recuperação do produto final e a sua disponibilização permanente. King e Tenopir (2004, p. 6) e Vasconcelos (2007) destacam o papel da equipe de apoio e comunicação, pois são atividades que interferem no fluxo editorial. Avançando, o Editor deve se preocupar com o contexto do plágio, pois mesmo considerando que a Ética é a base, nem sempre esta é respeitada, fazendo com que os processos de avaliação que culminam com a decisão final requeiram maiores cuidados. Dependendo da amplitude das produções, cabe ao editor gerir (junto com a equipe) as ações de acompanhar assinaturas, processar documentos paralelos e se envolver com a base legal que envolve a atividade.

Bomfá (2009) apresenta na Figura 1 o fluxo de atividade de editoração de um periódico científico.


Figura 1
O fluxo da editoração das publicações cientificas
Fonte: Bomfá (2009,p. 39)

Através da Figura 01 é possível entender as diversas atividades que estruturam o processo em perspectiva temporal. Assim, o papel do Editor, segundo Priestley (2000), é manter o foco na qualidade e visibilidade do periódico, tendo como prioridade elementar atentar para: a) a qualidade: em sentido estrito quando o Editor contribui para estabelecer (e manter) a relação na confiança entre autores e leitores, mediante compromisso com a excelência das produções, dos processos e dos prazos estipulados; b) a visibilidade: nesse item entra o conceito de marketing, especificamente a atividade da comunicação (institucional e promocional), quando o editor sabe atrair número significativo de autores e leitores, bem como trabalhar a comercialização do periódico no ambiente web.

Yamamoto (2002, p.2) destaca que um editor de qualquer periódico é dotado de cinco responsabilidades a saber:

(a) direção do processo de publicação e a responsabilidade pela manutenção da qualidade científica; (b) avaliação confidencial, objetiva e sem preconceito dos manuscritos no menor período de tempo possível; (c) isento na escolha dos revisores (sem visar resultados previsíveis); (d) proteção dos direitos dos autores e revisores, promovendo uma comunicação objetiva e profissional entre eles; e (e) decisão final sobre a aceitação ou rejeição de um manuscrito.

Essas responsabilidades são apontadas por Trzesniak (2009, p 93), conforme Quadro 2, a seguir:

Quadro 2
Responsabilidades do Editor, no campo técnico e gerencial.

Fonte: Elaborado a partir de Trzesniak (2009, p 93)

Trzesniak (2009) ao separar a atividade editorial nos aspectos técnicos e gerencial evidencia o conjunto de funções do Editor, quais sejam, tratar do fluxo editorial com revisões de textos, articular com os membros que compõem a Editoria e decidir tecnicamente as publicações finais que vão à comunidade, bem como ter como pano de fundo permanente o controle da qualidade de todas as dimensão do periódico são variáveis que devem ser objeto de atenção. De forma complementar, as funções gerenciais que envolvem os elementos administrativo, mercadológicos e financeiros, bem como a ampliação, manutenção e o respeito à linha editorial e banco de avaliadores.

4. PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa se caracteriza como descritiva, pois como lembram Cervo e Bervian (1996) esse tipo de pesquisa busca a quantificação do objeto de estudo por meio de estatísticas com adoção de proporções, frequência e até estatísticas inferenciais. Ainda para Cervo e Bervian (1996, p. 49), “estudos descritivos consistem em observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. O universo da pesquisa abrangeu os Editores Chefes dos periódicos nacionais qualificados pela CAPES no triênio 2009-2011 (atualizados até setembro de 2012), totalizando 570.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário com questões fechadas. Para Vergara (2007), este tipo de instrumento requer reflexão prévia com base na conceituação do problema de pesquisa. O instrumento em tela foi composto por dois blocos de questões: o primeiro trata do perfil do Editor-chefe do periódico abordando 26 questões segmentadas entre dicotômicas e de múltipla escolha. O segundo bloco, com 41 questões, trazia, por meio da escala de likert, afirmativas onde os sujeitos de pesquisa se posicionavam numa escala de 7 pontos (variando de concorda totalmente a discorda totalmente, tendo a possibilidade de se posicionar com a resposta “indiferente” e “não se aplica”) sobre as variáveis que tratam do processo de gestão editorial dos periódicos.

Os dados foram coletados por meio eletrônico usando o Google docs. O instrumento foi encaminhado para os e-mails dos periódicos (institucionais ou dos Editores apresentados nas home pages dos periódicos, como o Editor-Chefe ou Editor-Gerente). Foi realizado um pré-teste com 5 Editores-Chefe, mas o questionário não sofreu alterações semânticas e nem de conteúdo. A aplicação durou 30 dias, sendo necessário mais dois encaminhamentos dos instrumentos aos sujeitos, em face do baixo retorno nas respostas, o que levou a outros 30 dias, tendo sido a coleta de campo feita em 60 dias, entre junho e julho/2013. Com isso houve um retorno de 87 instrumentos preenchidos, ou seja, 15,26% dos periódicos relacionados no universo.

Para os processos de tabulação e análise dos dados adotou-se o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Através do software foi possível criar uma matriz específica de tabulação e desenvolver análises univariadas, bivariadas e multivariadas. Dentre as técnicas de análise utilizadas, destaca-se a análise fatorial exploratória como procedimento utilizado para identificar as dimensões latentes das percepções dos editores sobre o processo de gestão dos periódicos (MALHOTRA, 2006; HAIR JUNIOR et al, 2005).

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A discussão dos dados é feita em dois momentos. No primeiro, apresenta-se o perfil dos Editores investigados, as características dos periódicos que estão sob a gestão dos mesmos e outros elementos que definem o campo dos periódicos em Administração, Ciências Contábeis e Turismo no Brasil. O segundo trata analiticamente das práticas que permeiam a gestão editorial.

6.1. O Editor e o contexto do Periódico

Ao se abordar o perfil de formação (graduação) dos Editores foi possível observar que 23,6% são bacharéis em Administração, 8% são oriundos da Psicologia e 5,6% são de diferentes áreas da Engenharia. Outras formações foram citadas como Ciências Contábeis (4,5%) e Turismo (1,1%), mas com pouca representatividade na amostra obtida.

Constatou-se que 55,6% dos editores possui idade entre 21 e 40 anos de idade, seguidos por 35,2% com idade entre 40,1 e 60 anos e 9,2% com idade superior a 60 anos. Dentre os entrevistados, aproximadamente 72% se encontravam casados no momento da pesquisa, seguidos por 10,3% cujo estado civil foi classificado como divorciado.

Em relação à titulação, constata-se que 80,5% são doutores. Do total, aproximadamente 20% com títulos obtidos na área de Administração. As áreas de Ciências Contábeis e Turismo foram responsáveis, cada uma, por 1,1% dos editores respondentes do instrumento de pesquisa. Há de se destacar que editores com apenas a conclusão de cursos de especialização lato sensu foram responsáveis por 3,4% dos respondentes.

Quando indagados sobre o período de tempo em que estão à frente da gestão do periódico, cerca de 48% se encontram nesta função há, no máximo, três anos, enquanto 25,8% exercem a função entre quatro e seis anos e 16,1% exercem a atividade há mais de dez anos.

Dentre os editores pesquisados, 70,1% estão vinculados a Programas de Pós- Graduação. Desse grupo, 35,6% não orientaram em nível de mestrado/doutorado nos anos de 2012 e 2013. Quase 29% dos que estavam em processo de orientação tinham mais alunos de pós-graduação e 81% dos respondentes se encontram também ministrando aulas na graduação.

Também foi possível verificar o envolvimento dos editores com eventos científicos nacionais. Neste item em questão, constatou-se que 36,8% dos respondentes participam anualmente de eventos dessa natureza, enquanto 33,3% afirmaram que estão presentes a cada seis meses, enquanto 16,1% informaram sem frequência definida.

No que diz respeito ao processo de gestão do periódico foi possível observar que 62% afirmaram não exercer o papel de avaliador/parecerista no periódico em que exercem a função de editor. Cerca de 80% dos editores entrevistados não haviam exercido esta função anteriormente em outro periódico.

Ao tratar do perfil do periódico, constata-se que 3,1% estão na classificação A1 e A2, 13,8% estão enquadrados como B1, 26,44% como B2, 32,1% estão no Qualis, como B3, 14,9% são B4 e 9,2% são B5. A maioria dos periódicos (43,7%) são publicações semestrais, 18,4% são publicadas trimestralmente e 8% têm como período de publicação a bimestralidade, ficando apenas 2,3% como anual.

As relações de parceira dos periódicos com os eventos também foi um ponto de análise no instrumento enviado aos editores. Através deste questionamento percebeu-se que 41,4% dos periódicos adotam parcerias para publicação de trabalhos em formato fast-track[1]. Todos os periódicos contemplados no estudo disponibilizam acesso gratuito e 25,3% não adotam o sistema de editoração eletrônico (SEER).

Ainda foi possível observar que 72,4% dos Periódicos têm vinculação a organizações (educacionais ou institutos de pesquisa, organizações privadas, corporações etc). Sobre os avaliadores, 92% dos editores afirmaram que todos os avaliadores que compõem a equipe editorial têm seus nomes veiculados no site do periódico, possibilitando aos autores conhecerem os pares que estão no campo avaliativo dos manuscritos.

Por fim, 79,3% dos periódicos estudados estão vinculados a Programas de Pós-Graduação. Concomitantemente a isto, percebe-se que 20,7% recebem apenas artigos completos, não havendo espaços para resenhas, entrevistas e outros. Dos 79,7% que têm separação de seções de tipos de trabalhos, 64,4% não possui outro editor para auxílio na gestão do periódico.

Procurando melhor compreender o comportamento das variáveis que compunham a seção de caracterização do perfil, realizou-se análise bivariada através de cruzamentos de dados com auxílio do teste de qui-quadrado para observar a existência de associações entre variáveis.

Através do teste de associação foi possível identificar através de dois cruzamentos estatisticamente significantes para um p-value inferior a 0,01 que existe associação entre estar vinculado a algum Programa de Pós-Graduação e compor a equipe de avaliadores em periódicos nacionais e internacionais. Apesar de não ser possível identificar a direção da associação, o resultado sugere que o envolvimento de docentes em Programas de Pós-Graduação e de revisores de periódicos se relacionam, provavelmente em decorrência do maior envolvimento desses docentes com a produção científica nacional e internacional.

Em outro cruzamento realizado foi possível verificar a existência de associação (p<0,01) entre a participação do respondente como docente de algum Programa de Pós-Graduação e o fato do periódico em que ele exerce função de editor estar vinculada a algum Programa de Pós-Graduação.

Ao abordar o contexto da prática do periódico quanto à adoção do fast- track de trabalhos apresentados em eventos acadêmicas com o fato do periódico estar vinculada a algum Programa de Pós-Graduação não foi possível observar associação estatisticamente significante. Também foi possível verificar a inexistência de relação entre o editor ser parecerista no periódico que edita e a adoção de práticas de fast- track de trabalhos apresentados.

Quando se avalia a relação entre a classificação do periódico no Qualis e a titulação do editor, constata-se que não há associação entre as variáveis, ou seja, não há relação entre a maior titulação do editor e o estrato de qualidade ocupado pelo periódico. Ainda nessa perspectiva foi possível observar ausência de relação entre a classificação do periódico no Qualis da CAPES com o fato de o editor compor o conselho editorial de outros Periódicos nacionais ou internacionais.

Ao tratar da vinculação do periódico a alguma organização (educacional ou não) e a sua relação com o tempo de gestão do editor no periódico constata-se ausência de associação. Ao se ponderar a associação entre a classificação do periódico e a sua periodicidade não foi constatada nenhuma relação estatisticamente significante. Esse mesmo comportamento foi averiguado ao relacionar a maior titulação do editor com a periodicidade da publicação. Por fim, não há indícios de associação entre o editor compor o conselho editorial de outro periódico e a maior titulação dos editores dos periódicos investigados.

5.2. As práticas e o contexto da gestão editorial

Com o objetivo de identificar o agrupamento das variáveis relacionadas ao processo de gestão dos periódicos foi utilizada a técnica de análise de dados denominada Análise Fatorial Exploratória (MALHOTRA, 2006; HAIR et al, 2005).

O processo teve início com as 41 variáveis que compunham o segundo bloco de questões do instrumento de coleta de dados. No entanto, em decorrência de problemas com o indicador Measure Sampling Adequacy (MSA) de algumas variáveis, diversos modelos precisaram ser rotacionados até o alcance de uma solução adequada sob o ponto de vista do rigor estatístico aplicado na literatura (MALHOTRA, 2006; HAIR et al, 2005). O Quadro 3, a seguir, apresenta em ordem de exclusão, as variáveis que precisaram ser desconsideradas do modelo e seu efeito sobre a medida Kayser-Meyer-Olkin (KMO):

Quadro 3
Variáveis Excluídas com Referência no MSA

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Com as exclusões das variáveis indicadas no Quadro 3 foi possível alcançar o KMO de 0,613 com nível de significância para o teste de esferacidade de Bartlett inferior a p<0,01, demonstrando significância estatística do modelo rotacionado com o método Varimax (MALHOTRA, 2006; HAIR et al, 2005).

O modelo alcançado resultou na formação de onze fatores com eigenvalues superiores a “1”. No entanto, uma das variáveis resultou na formação de um fator isolado. Tendo isto em vista, optou-se por realizar nova rotação do conjunto de variáveis determinando a formação de dez fatores para agrupamento das variáveis do instrumento de coleta de dados.

Através desta rotação, o valor do KMO não sofreu alteração e os coeficientes MSA se mantiveram adequados ao processo de análise. No entanto, o valor das comunalidades da variável “p27_1” foi inferior a 0,5, resultando em 0,498. Em decorrência da proximidade com o ponto de corte estabelecido optou-se pela manutenção da variável no modelo exploratório encontrado, o que resultou em 65,783% de variância explicada.

Detalhada a construção do modelo exploratório, é possível discutir os principais elementos norteadores no processo de gestão dos periódicos. Assim, o primeiro fator foi responsável por agrupar quatro variáveis do instrumento de coleta de dados, conforme é possível observar no Quadro 4, a seguir.

Quadro 4
Primeiro Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

O primeiro fator foi responsável por 9,14% da variância explicada pelo modelo. O fator evidencia um conjunto de variáveis voltadas para o cumprimento dos prazos e metas estabelecidos para publicação do periódico. Dentre o conjunto em discussão, verifica-se a preocupação do editor com a sobrecarga de atividades desenvolvidas em relação à gestão do periódico, com carga fatorial negativa em relação às demais do fator. Este resultado pode ser compreendido como uma variável que pode contribuir negativamente com a “Celeridade para Publicação”, sendo este a nomenclatura concedida ao fator. Este fator trata da importância de se ter uma equipe qualificada para a execução de diversas fases na editoração do Periódico. Ao mesmo tempo, no cenário de cobrança por publicações constantes, os gestores dos periódicos buscam respeitar a periodização definida previamente por seu conselho editorial. O segundo fator obtido no modelo exploratório foi responsável pelo agrupamento de cinco variáveis, todas com cargas fatoriais positivas, conforme expõe o quadro 5.

Quadro 5
Segundo Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

De acordo com o agrupamento apresentado no Quadro 05 é possível analisar que o segundo fator se direcionou a elementos voltados à dificuldade no processo de acatamento dos avaliadores, respeito às designações por ordem de entrada no SEER e pró-atividade do parecerista. Tendo em vista o conjunto de variáveis agrupadas optou-se por chamar este fator de “Avaliadores/Pareceristas”. O agrupamento realizado evidencia a necessidade do editor ser pró-ativo na busca por avaliadores ao mesmo tempo em que respeita os períodos de entrada e o encaminhamento aos pareceristas designados através do SEER. Tal conduta se mostra pertinente e correta, principalmente pelo fato da maioria dos processos serem cegos, no contexto da avaliação. No entanto, tal procedimento não garante os prazos de retorno descritos pelos periódicos. Avaliar um paper para um periódico é uma atividade voluntária e necessária, dentro do desenvolvimento do conhecimento e, por conseguinte, da ciência.

O respeito ao prazo ou não por parte de quem foi designado deve ser elemento de avaliação qualitativa do editor, para a manutenção do avaliador no banco ou de sua exclusão. A pró-atividade dos Editores de avaliar os manuscritos submetidos ex-ante às designações, gerando reflexões iniciais sobre a convergência com a linha editorial é salutar, com isso evitaria a criação de expectativa nos autores e a liberação do trabalho para submissão a outro periódico. No terceiro fator agruparam-se quatro variáveis responsável por 7,63% da variância total explicada pelo modelo. As variáveis agrupadas e suas respectivas cargas fatoriais podem ser evidenciadas através do Quadro 6.

Quadro 6
Terceiro Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Ao analisar o terceiro fator, denominado de "Publicização, usabilidade do Site e Composição Editorial", situa-se como preocupação dos Editores a necessidade de que a participação dos avaliadores em periódicos seja um item a ser ponderado na Avaliação Trienal da CAPES. Especialmente, quando quase 80% dos periódicos estão associadas a Programas de Pós Graduação Stricto Sensu e a sistemática avaliativa do Comitê de Área da CAPES possui itens de verificação que perpassam pelo contexto qualitativo. No entanto, esta demanda, na lógica dos investigados, deveria ser um ponto para a reflexão qualitativa quando da Avaliação da CAPES. De forma semelhante, o quarto fator também foi responsável pelo agrupamento de quatro variáveis, conforme é possível verificar no Quadro 7.

Quadro 7
Quarto Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

O quarto fator, apresentado no Quadro 07, agrupou elementos relacionados à expressão e o impacto acadêmico do periódico e, neste sentido, foi nominado como “Expressão e Impacto”. Um dos impulsos que regram a atividade da gestão editorial é a manutenção do periódico no sistema Qualis. Neste diapasão, o caminho é traçar estratégias que aumente a expressividade do periódico no referido sistema de qualidade e, concomitantemente a isto, consiga maior fator de impacto e reconhecimento da comunidade acadêmica.

A alternância na gestão editorial e a recusa imediata de trabalhos (identificação e normalização) também foi um elemento identificado na formação dos fatores. Estes elementos estão reunidos no quinto fator, conforme expõe o Quadro 8.

Quadro 8
Quinto Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

De acordo com o Quadro 08 é possível verificar o agrupamento de variáveis que se relacionam ao processo de “Gestão Editorial”. Neste, se destaca a lógica de que a gestão editorial deve ser alternada no campo de quem executa os processos da editoração. Tal postura denota maturidade no universo da academia e dos que estão editando os periódicos de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Neste caminhar o fator ora descrito ainda se mostra como a adoção da atividade minuciosa de proceder a recusa de trabalhos imediatamente quando de identificação ou quando do não respeito à normalização. Deve-se considerar, porém, que os autores submetem papers continuamente e o ato da recusa traz para os proponentes a necessidade de cuidados básicos na apresentação de seus manuscritos. De pronto, mesmo que o sistema de SEER permita as alterações no arquivo identificado e posterior designação para os pares apreciarem os trabalhos, a prática da recusa deve estar ancorada no alto fluxo de submissão de trabalhos aos periódicos. O sexto fator, denominado “Pressão dos Autores”, agrupou duas variáveis, conforme é possível observar no Quadro 9.

Quadro 9
Sexto Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Lidar com essa dinâmica carece que o Editor tenha o gerenciamento dos contatos, fluidez na linguagem, coerência com os ditames editoriais publicados aos autores, de maneira que esta pressão esteja sendo respondida tempestivamente e com cordialidade, pois de um lado, os autores demandam os pareceres dos manuscritos com brevidade e de outro, os avaliadores, com suas atividades diversas, suas pesquisas e a atividade voluntária de pareceristas demoram a avaliar. Essa compatibilização de agendas e de objetivos deve ser um desafio para os envolvidos, pois além dessas nuances o Editor também deve preocupar-se na confecção das respectivas edições. No Quadro 10 é apresentado o sétimo fator que emergiu denominado de “Avaliadores e Editoração”.

Quadro 10
Sétimo Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

No fator Avaliadores e Editoração constatou-se o agrupamento de variáveis voltadas para o respeito à titulação e ao lattes dos avaliadores deixando-os cientes dos processos que envolvem a editoração do periódico, tendo o editor pleno domínio das fases editoriais.

Nesse universo, detecta-se a maturidade dos editores quanto à usabilidade e conhecimento das fases que envolvem toda a editoração do periódico. Essa postura traz segurança e convergência quando se enfoca o respeito aos preceitos editoriais, evidenciando à comunidade a correção e lisura da gestão editorial. A sensibilidade do editor ao respeito às áreas do conhecimento dos pareceristas asseguram a qualidade do conteúdo do parecer, afinal a proximidade epistêmica e metodológica destes com os trabalhos a serem avaliados elevam o rigor da apreciação.

A prática editorial vem-se mostrando desafiadora com cenários onde o modelo de qualidade dos agentes reguladores é suportada pelo “produtivismo”. Neste campo surge o oitavo fator, nominado como “Comunicação”, como mostra o Quadro 11.

Quadro 11
Oitavo Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

A adoção dos contatos institucionais exclusivo do periódico e a busca por novos avaliadores são fatores cruciais no processo de gestão. As interações com os autores e com os pareceristas ocorrem por meio dos e-mails institucionais (do periódico ou da organização à qual está ligada). Esse formalismo demonstra o respeito ao instituto Periódico e, ao mesmo tempo, a proximidade no cotidiano dos editores com seu fazer de editoria. O foco na manutenção na qualidade e respeito aos prazos deve ser vertente a serem perseguidas, e para dar sustentabilidade, os editores seguem tentando convidar novos avaliadores. Dependendo da capilaridade do periódico há editores de seção que descentralizam os encaminhamentos de editoração.

A gestão editorial também contempla atividades internas ao periódico. Com isso surgiu o nono fator denominado de “Mediação”, disposto de duas variáveis como se visualiza no Quadro 12. A existência de medição da qualidade dos atendimentos do suporte técnico podem permitir ações gerenciais eficazes para a resolução de problemas nos periódicos.

Quadro 12
Nono Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

As práticas de submissão de trabalhos por parte dos autores podem gerar dúvidas quanto ao sistema de editoração até a publicação em si da Edição. A equipe técnica também interage com os autores e tal atitude é acompanhada pelo editor, que pode apreender como é percebida a qualidade do atendimento aos demandantes, possibilidades de reorientações gerenciais. O último fator gerado, denominado “Rigor Avaliativo” fez menção ao rigor no processo de leitura prévia do editor e consistência na qualidade dos pareceres, estando suas variáveis apresentadas no Quadro 13.

Quadro 13
Décimo Fator da Análise Fatorial Exploratória

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

O último fator enseja os dois elementos balizadores no processo de avaliação de trabalhos que entram para a fila de apreciação. O editor ao proceder apreciação preliminar ao trabalho, tece a crítica ex ante quanto à forma e proximidade lógica da linha editorial, cuja descrição fica explicita para os interessados à propositura da submissão. Este olhar agiliza os retornos aos autores da negativa imediata, o encaminhamento para a designação do parecerista que tenha perfil de pesquisa aproximado, na tentativa de qualificar ao máximo a visão avaliativa.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a pesquisa e analisado o processo da gestão editorial dos periódicos das Áreas de Administração, Ciências Contábeis e Turismo qualificados pela CAPES entre A1 e B5, destacaram-se alguns pontos relevantes, tais como: a sobreposição de atividades dos Editores pode vir a afetar a qualidade do processo editorial. Ao mesmo tempo em que os relacionamentos e as responsabilidades inerentes ao contexto docente - pesquisador - editor é uma realidade no Brasil, a atenção e a acuracidade no bojo do acompanhamento da gestão do periódico fica fragilizado. Outro ponto evidenciado é a manutenção dos conselhos editoriais e pareceristas, vez que por um lado, é considerada uma atividade de caráter técnico, mas somada a todas as demais funções exercidas (similares ao do Editor) gera um acumulo de deveres, mesmo que sejam ações de cunho voluntário.

Por outro lado, o aumento do número de submissões nos periódicos e a mudança de foco avaliativo por parte do agente Regulador (CAPES) trouxe uma alteração no modus operandi da prática editorial, uma vez que, a necessidade de dar retorno aos que submetem trabalhos e concomitantemente, liberar os autores para submeter em outros canais, passa a ser a palavra de ordem, por conseguinte, exige mais atenção dos Editores (gerente e chefe), cujo tempo de dedicação passa a ser insuficiente.

A qualidade do processo editorial é proporcional à qualidade dos produtos publicados, que como consequência, na área Administração, Ciências Contábeis e Turismo, vêm carecendo de ampliação quando se coloca o questionamento: Como atender aos requisitos do controle de qualidade (manutenção do Extrato Qualis CAPES) no campo onde a produção científica que tinha vazão nos Eventos e sua materialialização era reconhecida como elemento de qualidade pelo Governo, mas não o é mais. Outra consideração é a necessidade de aperfeiçoar a profissionalização dos processos editoriais, pois o fato de a maioria dos periódicos já adotarem o SEER se tem um avanço, especialmente, quanto aos controles e acompanhamento.

Algumas atividades editoriais se mostram deficitárias, em face, do contexto de acumulação de responsabilidades in ao Editor, a exemplo da localização de plágios, bem como a demora nos retornos aos autores, e as relações institucionais envolvidas quando do Editor detiver diversas funções.

Identificaram-se igualmente elementos limitadores, a exemplo dos sites dos periódicos que foram visitados na etapa exploratória, pois em muitos deles faltam informações como nome e contato do editor chefe, ausência de atualização do site, e o fato de que dos 570 envios do questionário apenas 87 responderam. Sugere-se como pesquisas futuras, discutir a visão dos que compõem os conselhos/comitês editoriais sobre o processo editorial, e até que ponto o acúmulo de atividades por parte do Editor afeta o seu desempenho como docente pesquisador.

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Notas

[1] É um tipo de encaminhamento dado pelos Editores de Revistas a papers já qualificados. Na revisão do tipo fast track ocorre uma espécie de aceleração da etapa de revisão dos artigos e às vezes também dos demais processos, chegando ao encurtamento do próprio tempo de publicação.

Informação adicional

Editores do Artigo:: Adilson Luiz Pinto; Enrique Muriel-Torrado



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