Resumo: O conhecimento é um recurso de difícil tangibilização, sendo um desafio para os gestores gerenciá-lo, inclusive nas instituições públicas. Assim, são necessárias pesquisas que contribuam para o processo de gestão desse ativo nessas organizações. Este estudo teve como objetivo analisar os artigos sobre gestão do conhecimento no setor público publicados em periódicos nacionais da área, no período 2005-2015. A pesquisa caracterizou-se como uma bibliometria. Destacaram-se como principais resultados a grande quantidade de autores com uma publicação, poucas pesquisas com foco nos governos e temática centrada na estratégia e na tecnologia da informação. Concluiu-se que os estudos brasileiros nessa área estão em evolução e seguindo as tendências internacionais, com oportunidades para análise de outros campos relacionados à gestão do conhecimento no setor público.
Palavras-chave:Gestão do conhecimentoGestão do conhecimento,Setor públicoSetor público,Periódicos nacionaisPeriódicos nacionais,Gestão do conhecimentoGestão do conhecimento,Setor públicoSetor público,Periódicos nacionaisPeriódicos nacionais.
Resumo: O conhecimento é um recurso de difícil tangibilização, sendo um desafio para os gestores gerenciá-lo, inclusive nas instituições públicas. Assim, são necessárias pesquisas que contribuam para o processo de gestão desse ativo nessas organizações. Este estudo teve como objetivo analisar os artigos sobre gestão do conhecimento no setor público publicados em periódicos nacionais da área, no período 2005-2015. A pesquisa caracterizou-se como uma bibliometria. Destacaram-se como principais resultados a grande quantidade de autores com uma publicação, poucas pesquisas com foco nos governos e temática centrada na estratégia e na tecnologia da informação. Concluiu-se que os estudos brasileiros nessa área estão em evolução e seguindo as tendências internacionais, com oportunidades para análise de outros campos relacionados à gestão do conhecimento no setor público.
Palavras-chave:Gestão do conhecimentoGestão do conhecimento,Setor públicoSetor público,Periódicos nacionaisPeriódicos nacionais,Gestão do conhecimentoGestão do conhecimento,Setor públicoSetor público,Periódicos nacionaisPeriódicos nacionais.
Abstract: Knowledge is a difficult resource to tangible, being a challenge to managers manage it, including in public institutions. Therefore, researches that contribute to knowledge management process in these organizations are necessary. The main purpose of this study was analyze articles about knowledge management in public sector published in related national journals, during the period 2005-2015. This research was stablished as a bibliometric study. The main results were many authors with just one publication, few researches focused on governments and strategy and information technology as center themes. Is was concluded that Brazilian studies in this area are in evolutions and following international trends, with opportunities to analyzes other fields related to public sector knowledge management.
Keywords: Knowledge management, Public sector, National journals, Knowledge management, Public sector, National journals.
Abstract: Knowledge is a difficult resource to tangible, being a challenge to managers manage it, including in public institutions. Therefore, researches that contribute to knowledge management process in these organizations are necessary. The main purpose of this study was analyze articles about knowledge management in public sector published in related national journals, during the period 2005-2015. This research was stablished as a bibliometric study. The main results were many authors with just one publication, few researches focused on governments and strategy and information technology as center themes. Is was concluded that Brazilian studies in this area are in evolutions and following international trends, with opportunities to analyzes other fields related to public sector knowledge management.
Keywords: Knowledge management, Public sector, National journals, Knowledge management, Public sector, National journals.
Artigo
Gestão do conhecimento no setor público: um estudo sobre os artigos publicados em periódicos nacionais no período 2005-2015
Knowledge management in public sector: a study about articles published in national journals during the period 2005-2015

Recepção: 09 Março 2017
Aprovação: 19 Abril 2018
A temática gestão do conhecimento tem despertado interesse de diversas organizações tendo em vista as novas formas de gestão, focadas cada vez mais nos ativos intangíveis. Ao contrário de máquinas, pessoas e equipamentos, informação e conhecimento são recursos de difícil tangibilização e, consequentemente, demandam esforços diferenciados dos gestores. Nesse contexto, as empresas têm a possibilidade de antecipar as mudanças do ambiente e as tendências dos seus stakeholders por meio do desenvolvimento da habilidade de gerenciar informações e o conhecimento. (QUANDT et al., 2009). Porém, essa nova situação representa um desafio para os gestores em virtude do conhecimento residir nas pessoas e não se limitar a tempo ou espaço geográfico. (BRITO; OLIVEIRA; CASTRO, 2012).
Tendo em vista as informações disponíveis no meio digital, a fim de colaborar para o aprofundamento dos estudos em gestão do conhecimento, tornam-se necessários trabalhos que forneçam orientações aos pesquisadores sobre as tendências das publicações científicas, os quais poderão referenciar novas pesquisas na área e em outras relacionadas. (ROCHA; HOFFMAN, 2014). Segundo Avelar, Vieira e Santos (2011), houve uma redução de estudos publicados sobre a temática gestão do conhecimento em periódicos nacionais na última metade da primeira década do século XXI. Além disso, estudos têm afirmado que a produção científica nessa temática é proveniente de uma concentração de poucas instituições. (QUANDT, 2009; LICÓRIO; SIENA; ALMEIDA, 2014).
Ainda sobre as pesquisas na área de gestão do conhecimento, Zanini, Pinto e Filippim (2012) destacam que o volume de produção científica de uma área específica corresponde a seu grau de representatividade e que, como a gestão do conhecimento é um campo recente, ainda possui um longo percurso até seu desenvolvimento e adensamento científico. Nesse sentido, afirma-se que o tema gestão do conhecimento tem sido apropriado por diversas áreas do conhecimento, ampliando as discussões e possibilitado novas visões através dessas inter-relações, apresentando assim um caráter multidisciplinar (GU, 2004). Os autores ainda destacam a necessidade de investimentos para realização de novas pesquisas na área e de fortalecimento do relacionamento entre os pesquisadores interessados de maneira a fomentar a troca de informações e concretizar os estudos que embasam essa temática. (ZANINI; PINTO; FILIPIM, 2012).
Uma das formas de avaliar quantitativamente o nível da produção científica de uma determinada área é por meio de análises dos artigos publicados em eventos, periódicos ou em bases de dados. A análise das publicações científicas sobre gestão do conhecimento no Brasil já foi abordada em pesquisas nos últimos dez anos, referenciadas em diferentes bases de dados, como anais de eventos da EnANPAD, Web of Science, SCIELO, dentre outras. (SANTOS et al., 2007; FELL; RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 2008; QUANDT et al., 2009; AVELAR; VIEIRA; SANTOS, 2011; ZANINI; PINTO; FILIPIM, 2012; LICORIO; SIENA; ALMEIDA, 2014; ROCHA; HOFFMAN, 2014; GUIMARAES; SILVA; NUNES, 2015; SABADIN; MOZZATO, 2016).
Foram identificadas pesquisas voltadas ao exame de publicações sobre gestão do conhecimento em contextos específicos, como em pequenas e médias empresas (GANDIA et al., 2015), em organizações de ensino (SANTOS; HOFFMAN, 2015), em projetos de simulação (PEREIRA; MIRANDA; MONTEVECHI, 2015) e na engenharia de produção (TESSECINO et al., 2014). Não foram constatadas pesquisas dessa natureza com o objetivo de analisar a produção científica brasileira sobre gestão do conhecimento no setor público, na mesma linha do trabalho de Massaro, Dumay e Garlatti (2015), que fazem uma revisão sistemática da literatura em gestão do conhecimento no setor público. Esses autores identificaram que a gestão do conhecimento no setor público está crescendo em importância, mas que a produção desses trabalhos tem sido concentrada na Ásia, enquanto que na América do Sul foram registrados apenas três trabalhos na amostra do estudo (MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015). Esse cenário confirma então uma lacuna pela falta de pesquisas sobre a produção em gestão do conhecimento no setor público no Brasil.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo analisar os artigos sobre gestão do conhecimento no setor público publicados em periódicos nacionais da área, no período 2005-2015. Após estabelecida a introdução ao assunto, segue o referencial teórico que embasa a pesquisa. Após, explica-se a metodologia utilizada e posteriormente a análise dos resultados com a tabulação das informações obtidas. Já nas considerações finais é feito um fechamento sobre as conclusões dos achados e as suas contribuições.
A gestão do conhecimento é uma matéria que busca responder a tendências sociais e econômicas, não sendo apenas uma invenção de consultoria ou uma reformulação de ideias antigas. (PRUSAK, 2001). Em virtude da sua importância e reconhecimento nas organizações atualmente, são encontradas muitas publicações sobre o assunto, despertando o interesse pelo estudo desse tema no Brasil e no mundo.
Sendo o conhecimento um recurso que não se esgota com seu uso, ao contrário, ele aumenta, torna-se mais valioso o investimento em ativos do conhecimento do que em ativos materiais, por isso a importância de trabalhar a gestão desse recurso. (PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002).
Para Probst, Raub e Romhardt (2002), a gestão do conhecimento é uma abordagem integrada ligada à administração estratégica, mas também relacionada a todas as fases da administração operacional, tornando-se necessário o envolvimento de todos os níveis organizacionais. A prática da gestão do conhecimento busca alcançar os objetivos organizacionais por meio da estruturação de pessoas, da tecnologia, da gestão da informação e de conteúdos do conhecimento, englobando uma série de fatores que convergem para que a gestão do conhecimento ocorra (DAVENPORT; MARCHAND, 2004), tomando a forma de projetos como: repositórios do conhecimento, acesso e transferência de conhecimento e estabelecimento de um ambiente propício ao conhecimento, além de projetos combinando esses elementos. (DAVENPORT; PRUSAK, 2003). Dessa forma, as peculiaridades do conhecimento levam este a ser um recurso difícil de gerenciar (TZORTZAKI; MIHIOTIS, 2014), tornando-se interessante avaliar como isso está sendo tratado nos estudos científicos produzidos no Brasil nessa temática.
Os mecanismos de gestão do conhecimento demandam adaptações para serem aplicados às instituições públicas. Segundo Brito, Oliveira e Castro (2012), a estratégia de gestão do conhecimento nas organizações privadas é utilizada com o objetivo de obter vantagem competitiva e de perpetuação no mercado, enquanto que no setor público essa motivação é voltada para a necessidade de lidar com as pressões de uma sociedade cada vez mais exigente.
Batista (2012, p. 49) conceitua a gestão do conhecimento na administração pública como “um método integrado de criar, compartilhar e aplicar o conhecimento para aumentar a eficiência; melhorar a qualidade e a efetividade social; e contribuir para a legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade na administração pública e para o desenvolvimento brasileiro”. Destaca-se nessa definição o foco nos princípios constitucionais e na sociedade, confirmando a necessidade de um tratamento específico para a gestão do conhecimento nesse setor.
Segundo Wiig (2002), os objetivos da gestão do conhecimento para a administração pública buscam fornecer: efetividade dos serviços e funções para implementar a agenda pública; uma sociedade estável, justa, ordenada e segura, engajando os cidadãos a participarem; um nível aceitável de qualidade de vida pela construção, manutenção e fomento ao capital intelectual comercial e público; e uma sociedade próspera pelo desenvolvimento dos seus cidadãos.
Além dessas especificidades e do foco na sociedade e nos cidadãos, a utilização da gestão do conhecimento nas instituições públicas também tem origem em situações operacionais. Para Pee e Kankanhalii (2015), duas tendências na administração pública colaboram para o desenvolvimento de uma forte capacidade de gestão do conhecimento nessas organizações: as reduções de pessoal, exonerações e aposentadorias demandam formas mais efetivas de capturar o conhecimento a fim de minimizar perdas, reter capital intelectual e facilitar o treinamento de novos funcionários; e o uso cada vez maior de tecnologias da informação pelas organizações públicas nas colaborações exige o desenvolvimento de fortes capacidades de compartilhamento, aplicação e criação de conhecimento.
Nota-se que a gestão do conhecimento no setor público é um importante e específico contexto de pesquisa, pois permite o aumento da eficiência em todas as suas áreas. Porém, desenvolver uma cultura voltada para a gestão do conhecimento nesse ambiente é mais difícil do que no setor privado, tendo em vista os desafios e características organizacionais particulares (MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015). Os autores indicam que há uma necessidade de entender como a gestão do conhecimento está evoluindo dentro do contexto das organizações públicas.
A busca por informação é construída a partir da experiência humana, ou da sua falta. Os estudos sobre produção do conhecimento têm como foco investigar o que foi produzido sobre uma determinada área do conhecimento. Lara (apud Boso, 2011) afirma que a produção científica se evidencia através do volume de livros, capítulos de livros, artigos de periódico e outras modalidades de publicações impressas, digitais ou eletrônicas, contendo os resultados da pesquisa científica de autores, instituições, regiões, países ou áreas temáticas. Nesse sentido, a quantidade de artigos de periódicos, revisados por pares e reconhecidamente científicos pode ser uma forma de se averiguar o que foi produzido. Destaca-se que, para que novos conhecimentos sejam criados, existe a necessidade de saber o que já existe. Trabalhos acadêmicos vivem essa intensa busca, visando as bases teóricas e comprobatórias (ou não) de um determinado tema. A Bibliometria surge nesse cenário com vistas a quantificar a produção.
Hayashi (2012) comenta que, historicamente, as premissas do conceito de Bibliometria remontam ao início do século XIX, e durante o século XX evoluiu em termos de fundamentos, técnicas e aplicações dos métodos bibliométricos. Acredita-se que o século XXI forneceu uma nova visão, em virtude das facilidades proporcionadas pelas tecnologias digitais. Em decorrência do movimento pelo acesso aberto, houve a multiplicação dos periódicos eletrônicos, bem como ampliaram-se as possibilidades de publicação. As ferramentas proporcionadas pelo movimento citado, ampliaram a publicação em livros eletrônicos, repositórios (institucionais e temáticos) e anais de eventos, todos podendo ser foco da Bibliometria.
Para Araújo e Alvarenga (2011), os estudos bibliométricos desempenham um papel relevante na análise da produção científica de um país, visto que seus indicadores permitem retratar o comportamento e o desenvolvimento de uma área do conhecimento, sendo importantes fontes para analisar e conhecer um campo científico. Santos e Kobashi (2009) evidenciam um cenário de crescimento expressivo dos estudos métricos da informação. Para eles, a partir desses estudos são criadas oportunidades e, também, a necessidade de refletir criticamente. Embora o texto dos autores se refira à ciência da informação, tal ação importa a todas as áreas do conhecimento.
A pesquisa tem caráter descritivo e exploratório, realizada por meio de uma revisão dos artigos sobre gestão do conhecimento no setor público, publicados em periódicos nacionais da área. Foi delimitado um período de busca compreendido entre 2005 e 2015, pela gestão do conhecimento tratar-se de um assunto considerado recente pela literatura. (DAVENPORT; PRUSAK, 2003; GONZALEZ; MARTINS, 2015; OSINSKI; ROMAN; SELIG, 2015). Esse tipo de pesquisa, caracterizada como bibliométrica, constitui uma fonte de informações para avaliar o desempenho dos principais atores nas áreas e subáreas da pesquisa científica e tecnológica (GU, 2004).
A seleção dos periódicos foi realizada de acordo com a classificação Qualis 2014 (CAPES, 2016), com a escolha das revistas que no título apresentassem o termo conhecimento ou informação ou que fosse relacionada com a administração pública, sendo que a classificação Qualis deveria ser A1, A2, B1 ou B2 nas áreas do conhecimento “Ciências Sociais Aplicadas I”, “Administração, Ciências Contábeis e Turismo”, “Ensino” ou “Interdisciplinar”. A única exceção foi o periódico “Revista do Serviço Público” que figurava em outra área. Assim, buscou-se os periódicos mais relevantes sobre essa temática. Dentre os 19 periódicos selecionados, oito não apresentaram artigos com o perfil da pesquisa, restando 11 revistas.
A busca dos artigos ocorreu por meio do portal eletrônico de cada periódico, com a utilização dos termos “gestão do conhecimento”, “pública” ou “público”. Também foram buscados os termos “federal”, “estadual” e municipal”. A análise deu-se pelo título, resumo e palavras-chave dos artigos, publicados de 2005 a 2015, resultando em 34 ocorrências. A fim de identificar o perfil dos artigos que trataram da gestão do conhecimento no setor público, os mesmos foram classificados por ano de publicação, autores, temática, periódico e objeto de análise. A consulta e a coleta das informações nos periódicos ocorreram em setembro de 2016.
De posse dessa relação de artigos já classificada, foi possível observar como a temática gestão do conhecimento está sendo tratada nos artigos nacionais, as possíveis lacunas e os caminhos a serem explorados pelos pesquisadores, a partir da área acima destacada. Para isso foram identificadas as seguintes categorias em cada artigo: ano de publicação, autores que mais publicaram, periódicos em que foram publicados, escopo da pesquisa, método de pesquisa utilizado, utilização de modelo de gestão do conhecimento e temática da pesquisa (MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015). Os 34 artigos selecionados foram analisados a partir da leitura dos títulos, resumo e palavras-chave, sendo que caso essas informações não fossem identificadas era realizada a leitura do corpo do artigo.
A análise dos artigos selecionados foi realizada primeiramente por meio de um levantamento quantitativo das informações principais, como ano e periódico de publicação, autores e serviço público pesquisado. Em um segundo momento os artigos foram analisados em relação ao método aplicado, utilização de modelos e temática estudada. Essas informações auxiliaram a identificar o que tem sido produzido sobre gestão do conhecimento no Brasil e quais novos rumos podem ser adotado pelos pesquisadores.
A Tabela 1 apresenta a classificação dos resultados obtidos por ano de publicação dos artigos.

Observa-se um maior quantitativo de publicações nos últimos seis anos (67,65%), demonstrando que o tema gestão do conhecimento no setor público é recente no Brasil e vem despertando o interesse dos pesquisadores. Porém, em relação à última década, o ano de 2015 apresentou um pequeno número de artigos. Ainda assim, pode-se considerar um equilíbrio de publicações se olhados os anos 2012, 2013 e 2014. É possível observar que essa é uma área de pesquisa ainda pouco explorada no Brasil, mas ainda assim, representa uma oportunidade para os pesquisadores, tendo em vista que o setor público e os cidadãos podem dispor de melhores serviços a partir da utilização da gestão do conhecimento. (WIIG, 2002; MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015; PEE; KANKANHALLI, 2015).
O crescimento evidenciado nos últimos anos corrobora com os achados de Rocha e Hoffman (2014) em relação às publicações em gestão do conhecimento em geral. Os autores já haviam exposto um crescimento, nos últimos dez anos, das publicações científicas na área de gestão do conhecimento em fontes nacionais, o que pode ser atribuído ao aumento de linhas de pesquisa em cursos de pós-graduação relacionadas à área e também em virtude da criação da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.
Em comparação à pesquisa de Massaro, Dumay e Garlatti (2015), o número encontrado no Brasil é bastante inferior. Os autores analisaram os principais periódicos de gestão do conhecimento no mundo e selecionaram 180 artigos relacionados à gestão do conhecimento no setor público. Nessa pesquisa, eles identificaram que 55% dos artigos foram publicados depois de 2010 (MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015), indo ao encontro dos achados desta pesquisa e sugerindo uma tendência de crescimento.
Em relação aos autores que mais publicaram nesse período sobre a temática de gestão do conhecimento no setor público, nota-se uma pulverização de autoria, sendo que dos 73 autores identificados, apenas dois publicaram mais de uma vez. Essa dispersão pode ser atribuída ao pouco amadurecimento da matéria no Brasil. Massaro, Dumay e Garlatti (2015) também identificaram essa situação, com muitos autores contribuindo apenas uma vez para esse corpo de conhecimento. Os autores atribuem esse fato às poucas barreiras de entrada aos estudos desse tópico, fazendo com que autores não especializados nessa temática produzam artigos na área, atraindo acadêmicos e profissionais.
Na Tabela 2 estão indicadas as fontes em que os artigos pesquisados foram publicados, por título de periódico.

Fonte: Elaboração própria.
Destaca-se que os periódicos que apresentaram mais artigos são classificados com Qualis A1, A2 e B1, demonstrando que as revistas melhor avaliadas têm interesse em publicar pesquisas sobre gestão do conhecimento no setor público, indicando oportunidades para os pesquisadores dessa área.
Dentre os artigos analisados, metade das pesquisas (17) tiveram como escopo instituições públicas federais, seguido pelas pesquisas com foco em estados, municípios e com diversas esferas (quatro cada). Em relação aos serviços públicos analisados, o destaque fica com as instituições de ensino, semelhante aos achados de Massaro, Dumay e Garlatti (2015). Para os autores, é necessária a realização de uma síntese de pesquisa com os achados sobre esse tema a fim de reuni-los de uma maneira coerente, bem como focar novas pesquisas em aspectos do setor público menos investigados.
Assim, como esses autores, esta pesquisa identificou que grande parte dos artigos analisa entidades e instituições públicas, com pouca representatividade de estudos sobre os próprios governos. Importante ressaltar também as pesquisas que focaram nas escolas de governo, destacando-as como ambientes de aprendizagem que podem facilitar o processo de gestão do conhecimento na administração pública. Apesar da grande maioria das pesquisas focar em instituições do poder executivo, dois artigos tiveram como objetivo instituições do poder judiciário, demonstrando que esse nicho ainda pode ser mais explorado pelos pesquisadores.
O método de pesquisa mais utilizado pelos artigos selecionados foi o estudo de caso (41%). Quase 40% dos artigos não indicavam explicitamente o método utilizado, mas a maioria desses teve como foco uma instituição pública, o que caracterizaria um estudo de caso, aumentando ainda mais essa frequência. Essa tendência mostra que o assunto gestão do conhecimento é recente na realidade brasileira, demandando uma necessidade maior de estudos exploratórios e aprofundados em uma determinada realidade. (YIN, 2001).
A maioria dos artigos pesquisados (65%) não utilizou um modelo de gestão do conhecimento para delinear a pesquisa. Esse resultado pode refletir o achado anterior de que a maior parte dos artigos tem um propósito exploratório, com pouca maturidade para produzir novos modelos de pesquisa em gestão do conhecimento. Ainda assim, 35% dos artigos apresentaram uma proposta de novo modelo ou embasaram a pesquisa em modelos prévios, demonstrando que os pesquisadores estão identificando o amadurecimento da temática de gestão do conhecimento no setor público brasileiro e iniciando um caminho para a sua consolidação.
Em relação aos temas abordados nos artigos, dois deles destacam-se com maior ocorrência. Primeiro, os artigos que tratam de maneira exploratória a gestão do conhecimento, tratando da sua perspectiva e obstáculos no setor público, bem como as estratégias que dela fazem parte. Outro tema de destaque é a tecnologia da informação, com a aplicação de ferramentas tecnológicas no auxílio à gestão do conhecimento nas instituições públicas, principalmente nas instituições de ensino. Esse achado demonstra que no setor público há uma forte relação entre a tecnologia da informação como caminho para implantação da gestão do conhecimento. Outra temática com relevância nos artigos selecionados é a aprendizagem organizacional, assunto de estreita relação com a gestão do conhecimento. Temas variados aparecem em seguida, o que pode significar que a gestão do conhecimento no Brasil, por ainda representar uma matéria em desenvolvimento, é um assunto que permeia diversas formas de abordagem.
Observa-se que na pesquisa de Massaro, Dumay e Garlatti (2015) a tecnologia da informação e a aprendizagem são temas que aparecem com menor frequência, demonstrando que as pesquisas no Brasil ainda estão com um foco mais estreito em relação à gestão do conhecimento, relacionado com outras perspectivas, enquanto que internacionalmente a maioria das pesquisas trata a gestão do conhecimento no setor público como um processo. Ainda assim, esses autores indicam que a distribuição dos temas é dispersa, sem concentração em um único tema, semelhante aos achados daqui. (MASSARO; DUMAY; GARLATTI, 2015).
Massaro, Dumay e Garlatti (2015) indicam a necessidade de aproximação entre os pesquisadores e os profissionais do setor público, a fim de que as pesquisas em gestão do conhecimento nessa área possam efetivamente contribuir de maneira significativa para a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos. Nos achados da presente pesquisa foi possível identificar algumas dessas características, com artigos mais voltados para a prática, pela maioria das pesquisas utilizarem os estudos de casos aplicados no setor público
O presente trabalho teve como objetivo “analisar os artigos sobre gestão do conhecimento na administração publicados em periódicos nacionais da área, no período 2005-2015” e considera-se que o mesmo foi atingido, tendo em vista as análises realizadas. Sobre esse campo de estudo, foram identificadas pesquisas brasileiras que tiveram como objeto a avaliação da produção científica em gestão do conhecimento, porém não foram observadas pesquisas para analisar especificamente a aplicação na administração pública, sendo essa a contribuição maior deste trabalho.
Dentre os principais resultados obtidos, destaca-se a concentração das publicações em gestão do conhecimento no setor público nos últimos seis anos, bem como a tendência de crescimento dessa produção pelos autores brasileiros. Esses achados refletem o amadurecimento da área no país, possível consequência do aumento das linhas de pesquisa específicas nas pós-graduações e da criação da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. Outra questão que merece destaque é o pequeno número de autores que publicou mais de uma vez nesse tema, em que muitos autores publicam apenas uma vez sobre o assunto.
As produções em gestão do conhecimento estão mais concentradas em periódicos com melhor classificação Qualis, indicando oportunidades de publicações para os pesquisadores da área. O principal foco dos artigos é em instituições federais, com poucas pesquisas analisando o governo em si, podendo representar uma lacuna de pesquisa. As instituições de ensino são o principal objeto das pesquisas, com uma ênfase maior na utilização de ferramentas de tecnologia da informação para a gestão do conhecimento. Outra lacuna identificada é o tratamento estreito da gestão do conhecimento no setor público, muitas vezes relacionada com outras áreas, como aprendizagem e tecnologia da informação, enquanto que nas pesquisas internacionais tem predominância o tratamento da gestão do conhecimento como processo, o que pode alavancar o amadurecimento da área.
O método de pesquisa mais utilizado foi o estudo de caso, refletindo o caráter recente das pesquisas em gestão do conhecimento no Brasil e a demanda por estudos exploratórios. Esse achado pode ser confirmado pelo fato da maioria dos artigos pesquisados não utilizarem um modelo de gestão do conhecimento na pesquisa, possivelmente em virtude da pouca maturidade dos estudos nessa temática. Porém, cerca de 35% dos artigos buscam propor um novo modelo ou usam um modelo prévio, indicando a vontade dos pesquisadores em fortalecer a pesquisa na área.
A partir da elaboração deste trabalho foi possível concluir que os estudos sobre gestão do conhecimento no setor público brasileiro estão em evolução, pertencem a uma área recente com promissoras possibilidades de pesquisa em diversos campos do setor público e podem acarretar benefícios para a melhoria do desempenho das organizações. Apesar desse retrato inicial da gestão do conhecimento no setor público no Brasil, esse campo mostra-se como uma oportunidade para os pesquisadores, especialmente pela possibilidade de aprimorar os serviços prestados à sociedade.
Como limitação da pesquisa, tem-se a análise apenas em periódicos nacionais, restringindo o escopo dos estudos realizados no Brasil. Assim, identifica-se a possibilidade de trabalhos futuros que expandam esses estudos para analisar anais de eventos da área, bem como teses e dissertações de programas relacionados com o tema, inclusive nos mestrados profissionais, a fim de aprofundar os achados da temática gestão do conhecimento e fornecer subsídios para outros pesquisadores. Ainda, sugere-se a realização de pesquisas em gestão do conhecimento na administração pública mais aproximadas da prática profissional e expandidas aos diversos setores públicos do país.

