Artigo
Recepção: 25 Julho 2018
Aprovação: 11 Março 2019
DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019.e58349
Resumo:
Objetivo: demonstrar que os dilemas típicos da organização do conhecimento que se enfrenta na atualidade são consonantes a muitos dos problemas que o filósofo austríaco abordou em suas obras, sendo que o conceito de informação é trabalhado a partir da noção de linguagem.
Método: Levantamento bibliográfico para embasamento teórico e fundamentação das argumentações desenvolvidas.
Resultado: No Tractatus, tese maior do referido filósofo, sugere que nossos problemas filosóficos seriam problemas de linguagem – a natureza dos imbróglios filosóficos se daria por conta da formulação de pseudoproposições e a falta de reflexão sobre a natureza lógica da linguagem.
Conclusões: Nas Investigações Filosóficas, muda-se o panorama: a proposição não possui um modelo fixo, depende do uso que fazemos dela.
Palavras-chave: Organização do conhecimento, Linguagem, Informação, Ludwig Wittgenstein.
Abstract:
Objective: this article aims to demonstrate that the typical dilemmas of contemporary knowledge organization are closely related to many of the problems faced by the Austrian philosopher in his works. Besides that, the concept of information will be here derived from the notion of language.
Methods: Bibliographical survey for theoretical foundation and reasoning of developed arguments.
Results: In the Tractatus, his major thesis suggests that our philosophical problems would be problems of language – the nature of philosophical dilemmas are due to the formulation of pseudo-propositions and the lack of reflection regarding the logical nature of language.
Conclusions: In the Philosophical Investigations, the panorama changes: the proposition does not have a fixed model; it depends on the usage we make of it.
Keywords: Knowledge organization, Language, Information, Ludwig Wittgenstein.
1 INTRODUÇÃO
A organização do conhecimento (OC), campo de estudos teóricos e aplicados da Ciência da Informação pretende tratar dos registros da humanidade armazenando, organizando e realizando formas de representação informacional que tornem o acesso ao conteúdo dos documentos mais rápido e eficaz. Tais representações constituem o que Dodebei (2002) chama de “memórias documentárias”:
O conjunto das representações do conhecimento vai, assim, se transformar em estoques de informação que, de algum modo, precisam estar ordenados para melhor serem utilizados. É nesse momento que se formam as memórias documentárias, consideradas construções simbólicas do conhecimento [...] (DODEBEI, 2002, p. 19).
A informação, se tomada como insumo do processo comunicativo é percebida forçosamente através da linguagem, seja ela de qualquer natureza, concebida aqui como formas de expressão do conhecimento humano. Deste modo, é possível traçar similaridades entre conceitos de informação e linguagem tratados no campo da Ciência da Informação com parâmetros da obra de Ludwig Wittgenstein (LW) uma vez que ambas, em momentos específicos, focalizam a linguagem como elemento problema (e simultaneamente solucionador).
A efetividade na comunicação está ligada ao conceito de relevância, tema exaustivamente debatido nos dias atuais. “In the most fundamental sense, relevance has to do with effectiveness on communication. Underling all information systems is some interpretation of the notion of relevance […]” (SARACEVIC, 1975, p. 321).
Neste sentido todo sistema de informação[1] carrega compulsoriamente a noção de relevância que orienta sua estrutura e funcionalidade. Para trabalhar com critérios mais concretos Svenonius (2001, p. 8) profere que:
The collective domain of all systems for organizing information – all message content created by humans, recorded, and deemed worthy of being preserved – has been likened to the diary of the human race. The purpose of these systems is to make this diary accessible to posterity.
A fim de serem acessados posteriormente como afirmado pela autora, os sistemas de informação (SI) devem representar informações de forma confiável por meio da linguagem verbal. Diante disto os conceitos de informação e linguagem devem ser discutidos e definidos antes mesmo da implantação dos SIs. É neste ponto que as contribuições deste artigo devem encaminhar-se, pois intentamos relacionar as questões da linguagem enunciadas por LW tendo como plano orientador a ideia de que a informação é o elemento base tanto para o processo comunicativo quanto para as atividades que envolvem a organização e representação dos documentos.
2 OS PROBLEMAS DA LINGUAGEM WITTGENSTEIN
Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951) foi um filósofo austríaco que se notabilizou pela originalidade de suas concepções e pela maneira a partir da qual abordou muito dos problemas filosóficos que julgava pertinente. Teve por grandes referências a figura de Gottlob Frege (1848 – 1925), pai da lógica moderna, e Bertrand Russell (1872 – 1970), um dos precursores do viés analítico que se imprimiu à filosofia contemporânea. Foi uma das figuras de proa do que atualmente se conhece por Escola de Cambridge, período este no qual muitas das grandes mentes da filosofia contemporânea conviveram na universidade de mesmo nome; dentre as quais se destacam além do próprio Ludwig Wittgenstein e Bertrand Russell, figuras como Alfred North Whitehead, George Edward Moore, Frank Plumpton Ramsey, John Maynard Keynes, Gertrude Anscombe, além de muitos outros. Tal período representa um dos momentos intelectuais mais singulares da história recente da humanidade, na medida em que as mentes mais florescentes dos últimos anos tiveram a oportunidade de trocar experiências, influenciarem-se mutualmente e também de tecerem críticas e sugestões conceituais nos trabalhos uns dos outros. No entanto, entre todos os personagens do grupo, Wittgenstein pode ser considerado como o pensador mais célebre de todos– seja pela sua personalidade, tida por excêntrica por vários colegas e biógrafos, seja por sua produção intelectual (certamente original em muitos sentidos).
Por outro lado, se Wittgenstein foi o filósofo mais famoso do grupo, isso também se deve ao fato de que o pano de fundo do austríaco tampouco se reduziu ao panorama analítico britânico que circundava a maioria dos seus colegas. Tal como nos demonstram Janik e Toulmin (2001), Wittgenstein a vida inteira se recusou em fazer parte de qualquer círculo intelectual[2] e se ainda hoje mais o associamos à Escola de Cambridge do que a qualquer outro grupo, isso muito se deve ao fato de que o movimento filosófico histórico britânico assim procedeu. Mas muitos dos problemas que Wittgenstein carregava consigo já eram de forte predominância em sua terra natal, a Viena do final do século XIX e começo do século XX. Assim, quanto a Wittgenstein, cabe dizer que:
Muito de seu material tinha origens que seus ouvintes ingleses ignoravam quase por completo, e muitos dos problemas em que preferiu concentrar-se tinham estado em discussão entre filósofos e psicólogos de língua alemã desde antes da I Guerra Mundial. E se existia um abismo intelectual [...] não era por causa de seus métodos filosóficos, estilo de exposição e temas serem (como supúnhamos) singulares e sem paralelo. Era, antes, o sinal de um choque cultural: o choque entre um pensador vienense cujos problemas intelectuais e atitudes pessoais tinham sido formados no ambiente neokantiano do período que antecedeu 1914, no qual a lógica e a ética estavam essencialmente ligadas entre si e com a crítica da linguagem (Sprachkritik), e uma audiência de estudantes cujas questões filosóficas tinham sido moldadas pelo empirismo neo-humiano (e, portanto, pré-kantiano) de Moore, Russel e seus colegas (JANIK; TOULMIN, 1991, p. 11 – 12).
Então, qual é a temática acerca da qual Wittgenstein se debruça? Muitas são as interpretações possíveis que variam desde a sugestão de que o pensador leva a cabo uma “crítica da linguagem pura” (MORENO, 2000) – o que nos parece uma interpretação mais acertada –, até a percepção de que o filósofo austríaco estabeleça a criação de uma teoria que relacione a lógica e a linguagem sem jamais adentrar em uma teoria do conhecimento (FAUSTINO, 2006) – iniciativa esta que, em tese, já lhe valeria uma página toda especial na história da filosofia. Ainda que todas essas possibilidades se difiram em múltiplas interpretações, algo é certo: a mira de Wittgenstein aponta para o “feitiço” da linguagem e seus múltiplos efeitos.
Como pode a linguagem referir-se ao mundo? Será possível pensar o mundo sem que utilizemos a linguagem como ferramenta para tanto? E nesse sentido, em que medida nosso pensamento e nossa linguagem não representam duas faces de uma mesma moeda? Para Arley Moreno (2000) estas são as típicas indagações que a obra de Wittgenstein traz à tona. Algo que, Janik e Toulmin (1991), atribuem justamente ao panorama vienense do qual o filósofo austríaco fizera parte antes de imigrar para Cambridge. Mais adiante, é esta mesma indagação, o problema da natureza da linguagem e sua capacidade referencial, que condiciona o problema da organização da informação enquanto sistema de modelização do mundo.
Quando falamos de Wittgenstein, no que se condicionam a relevância de suas reflexões para a Organização da Informação/Conhecimento? Para respondermos tal questão, apresentamos a linguagem a partir do Tractatus e a sua reformulação hipotética a partir das Investigações Filosóficas.
Embora cogitada a cisão em duas fases da obra do filósofo denominadas de o “primeiro” e o “segundo” Wittgenstein, interessa-nos, nesse artigo, conceber o fato (essa ruptura de pensamento) como uma reformulação metodológica, pois os problemas em pauta ainda são os mesmos. A diferença que se observa, no entanto, é o modo através do qual o autor irá atacar as mesmas questões. Afinal, tal como o próprio Wittgenstein pontua no prefácio das Investigações:
Tive a oportunidade de reler meu primeiro livro (o Tractatus Logico-Philosophicus) e de esclarecer seus pensamentos. De súbito, pareceu-me dever publicar juntos aqueles velhos pensamentos e os novos, pois estes apenas poderiam ser verdadeiramente compreendidos por sua oposição ao meu velho modo de pensar, tendo-o como pano de fundo (Prefácio Investigações Filosóficas, 1979, p. 8, grifo nosso).
Portanto, opta-se pela via da comparação entre os dois pensamentos ao invés de simplesmente afirmar a ruptura intelectual total entre ambas as fases. Contam-nos os biógrafos que o aparecimento do Tractatus – escrito no decorrer da Primeira Guerra Mundial, ainda enquanto o pensador austríaco havia se alistado nas fileiras de combate como enfermeiro – suscitou um grande fascínio na comunidade filosófica do período. Richard Braithwaite, outro conhecido filósofo da Escola de Cambridge, por exemplo, teria dito, no decorrer da avaliação do trabalho:
É minha opinião pessoal que a tese do Sr. Wittgenstein é uma obra de gênio; mas, seja como for, está certamente bem acima dos padrões requeridos para o grau de Doutor em Filosofia de Cambridge (BRAITHWAITE, 1929, apud JANIK & TOULMIN, 1991, p. 9).
Wittgenstein começa sua primeira obra propondo que o “mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas” (TLP 1.1), isso indica que só temos acesso ao mundo por meio de estruturas complexas, que já são constituídas por algo. Este “algo” deve ser traduzido por objetos simples que possuem aplicações limitadas a partir de suas disposições. As coisas articulam-se umas às outras de modo que sigam suas constituições mais ou menos delimitadas; são, pois, estruturas simples (como se fossem átomos) – sobre suas propriedades internas, no entanto, nada podemos dizer; os objetos são conhecidos por suas ligações externas e dependem do contexto no qual se inserem (a determinação do sentido pelo contexto). Os objetos, uma vez articulados, dão origem às proposições complexas, que carregam consigo um valor-verdade que só poderá ser comprovado diante do mundo (uma proposição é verdadeira ou falsa; o que em nossa realidade também podemos chamar aquilo que “é” e “o que não é”). As proposições, portanto, assumem uma disposição lógica peculiar e só fazem sentido quando espelhadas diretamente no mundo.
Mas, tal como Faustino (2006) pontua, estaremos aqui diante de um dilema: conhecemos, então, a estrutura lógica a partir da qual o mundo se constrói, sabemos das propriedades externas do objeto e do sentido que assume no interior da proposição, porém, curiosamente, ainda sobre o objeto, nada poderemos dizer sobre este isoladamente, não conhecemos sua forma real – somos incapazes de isolá-lo da estrutura da proposição, conhecemos apenas a forma que assume no contexto. Teremos assim, em seguida, uma proposição em uma forma logicamente possível, mas, paradoxalmente, não podemos ver de antemão do que será repleto o conteúdo. Sabemos como podemos dizer a proposição, sabemos como a lógica nos limita a esse respeito, mas, a fim de dizermos quaisquer coisas, precisamos observar o mundo para sabermos o que é o caso. Em suma, completamos ontologicamente uma forma possível.
Por outro lado, a arregimentação dessas estruturas deve se dar de tal forma que as proposições se articulem umas às outras descrevendo assim o conhecimento de mundo, tal como uma imagem descreve a realidade. Tal fato torna mais complexo o pensamento filosófico visto que a partir de então, tudo o que é não poderá ser de outra maneira, a linguagem que descreve o mundo segue determinados parâmetros – uma estrutura que não pode ser modificada, pois, se modificada fosse, o mundo já não seria o mesmo. O que está fora desta descrição – não cabendo, portanto na descrição lógica da linguagem – será o místico, o inefável; instância esta a qual jamais teremos acesso algum.
Em resumo, se o mundo é o que é, isto se deve à sua descrição lógica por meio da linguagem humana, que se fosse de outro modo, tornaria o mundo diferente do que é. A lógica da linguagem, portanto, condiciona a representação de mundo que possuímos. Assim, podemos afirmar que no Tractatus o que mais preocupava o filósofo seria a sobreposição lógica da linguagem com relação ao mundo. A linguagem seria mais do que apenas uma entidade escrita ou acústica; tornaria claro, inclusive, a imagem.
Mas, tal como aponta Moreno (2000, p. 14), “isso supõe duas condições: que haja diferenças entre aquilo que representa e aquilo que é representado”, pois que, de outra forma, não teríamos a menor capacidade de “distinguir o que seria próprio ao linguístico e ao não-linguístico”. Deve haver uma semelhança entre o representante e o representado que, simultaneamente, também guarde consigo uma relação de heterogenia – algo que indique não serem eles a mesma coisa ainda que representem o mesmo fato.
A linguagem seria a imagem do mundo, pois que partilha com este a forma lógica da realidade representada. No entanto, no ínterim dessa representação, deve haver ao menos uma leve heterogenia. Tudo isso indica que há uma dissimetria essencial no ato da representação e que, ademais, o limite representacional não está bem estipulado.
Ora, se há uma dissimetria essencial entre representante e representado, fica latente o fato de que há limites linguísticos – a linguagem não é capaz de representar o mundo exatamente a partir do princípio isomórfico que, à primeira vista, parecia ser sua garantia de validação. Tal constatação daria margens para a criação de profundos problemas de ordem filosófica, sobretudo em termos metafísicos. Na verdade, a totalidade da filosofia nada mais seria do que uma consequência desse “desajuste”. Todos os grandes problemas filosóficos (incluindo aí a informação) tenderiam a proceder dessa inadequação entre linguagem e mundo que, ao menos em tese, pareciam ser feitos um à imagem e semelhança do outro; mas que, se analisados em seus pormenores, não se encaixam exatamente.
Analogamente a esta constatação temos na CI a elaboração dos produtos documentários como resumos e índices que, de modo semelhante, intentam representar os documentos de modo mais fidedigno possível, porém, é consciente que tais atividades são, por si, reconstruções parciais e obviamente implicam em perda semântica de informação. A linguagem se expressa de formas diversas, e em muitos casos não é suficiente para manifestar o mundo como o vemos/sentimos. Do mesmo modo, as formas de representações documentárias, que também são realizadas através da linguagem (verbal), apresentam o conteúdo de modo conciso, oferecendo compulsoriamente o discurso de seu executor, único e consequentemente diverso do autor do documento.
O panorama muda um pouco de figura com a publicação das Investigações Filosóficas em 1953, postumamente, uma vez que antes de sua publicação o autor sucumbe a um câncer. Desde a publicação do Tractatus, Wittgenstein se voltou inúmeras vezes às mesmas reflexões. Se de início parecia satisfeito ao escrever sua primeira obra – tanto é assim que ao terminá-la muda-se para as montanhas na Áustria (vai trabalhar como mestre-escola em meio ao campesinato de seu país), pretende haver resolvido todos os problemas da filosofia até então – alguns anos depois, novamente em Cambridge, começa a rever as suas posições, muito por influência de amigos como Frank P. Ramsey e Piero Sraffa, algo que reconhece também no prefácio das Investigações.
Nesta obra, Wittgenstein abandona a sua teoria original de adequação das proposições com as imagens de mundo. Coloca sua investigação em um rumo completamente oposto à anterior; resolução esta que leva o filósofo a uma hipótese tão interessante e original quanto a primeira. Nas Investigações Filosóficas, a linguagem não precisa de nenhum fundo ontológico que lhe seja propício. Isto é, o fundo de verdade que imaginamos estar associado à linguagem não está fixamente alicerçado nas coisas e nos objetos que esta designa – nesse sentido Wittgenstein procede em uma espécie de crítica à filosofia da linguagem de Santo Agostinho, na qual as palavras funcionam como etiquetas dos objetos –, a linguagem é um jogo; as palavras e seus significados dependem mais de suas funções de uso do que de qualquer outra coisa, o significado de uma palavra passa a ser o seu uso[3].
As palavras não possuem nenhum significado prévio, pelo contrário, assumem uma multiplicidade de significados a depender do contexto no qual estão inseridas. Para tanto, Wittgenstein assume o viés dos jogos de linguagem (IF, §23). Ora, o que é um jogo? Pensemos em sua natureza. Quando pensamos em jogos não percebemos que cada jogo é algo em si e não generalizante, no entanto, todos são nomeados da mesma maneira – o que nos leva a crer, erroneamente, que estes designam as mesmas coisas. Em certos jogos, os participantes precisam vencer (futebol, basquete), em outros jogos não necessariamente há a obrigação da vitória (amarelinha, pular corda, etc). Em alguns jogos, faz-se o uso de uma bola, em outros não há nenhum objeto a ser utilizado. Mas então, onde está a característica essencial da palavra jogo? O que há na verdade é um padrão de semelhanças sobrepostas – alguns jogos partilham certas semelhanças, outros jogos partilham outras semelhanças e assim por diante. O mesmo se passa com a linguagem:
Não é necessário, segundo Wittgenstein, empreender a análise completa do enunciado para desvendarmos a plenitude do seu significado, ainda que uma só palavra possa prestar-se a múltiplas interpretações; o significado consiste, dentro dessa nova perspectiva, ao conjunto de usos que fazemos dos enunciados, e cada situação de seu emprego revela uma parcela, um aspecto, desse conjunto, a ele ligado por semelhanças de família (MORENO, 2000, p. 57 – 58).
Assim, postula-se que a linguagem se preste a múltiplas funções, podendo moldar-se de acordo com a exigência da situação requerida. Não é como um bloco fixo, ela se comporta mais como peças que devem adaptar-se ao contexto exigido. Ela é, por fim, um mecanismo maleável que se faz (representa) por meio do seu uso. Todo sistema de organização do conhecimento é considerado como “hipótese de organização”, ou seja, é necessariamente um recorte conteudístico da realidade. Segundo Svenonius (2001, p. 11): “The essential and defining objective of a system for organizing information, then, is to bring essentially like information together and to differentiate what is not exactly alike”. Neste caso, os sistemas de organização do conhecimento, ou seja, as linguagens, já implicam previamente no critério utilizado para estruturar os termos de modo a reunir informações semelhantes e distanciar o que é diferente em sua forma de categorização e relacionamentos terminológicos.
Ademais, quanto às Investigações Filosóficas, considera-se que o grande mérito de Wittgenstein nessa obra foi o de haver explicado pormenorizadamente o porquê de a linguagem ser algo coletivo, jamais individual – diz inclusive a respeito da impossibilidade da funcionalidade de uma linguagem individual.
Para Wittgenstein, a linguagem, ao ser coletiva, funciona como uma espécie de depositório comum dentro do qual podemos “verificar” a validade das nossas próprias asserções. O significado, para ele, deve ser coletivo – não faz sentido falarmos de um significado que não seja criado a partir dos participantes de uma determinada linguagem. A linguagem deve possuir obrigatoriamente um critério público de identificação até pela necessidade de comunicação. Por esse ângulo, tampouco faria sentido falarmos sobre estados mentais particulares; deve sempre haver um elo entre o coletivo e o individual na mentalidade humana[4] assim como na organização do conhecimento que prioriza o trabalho terminológico no intuito de estabelecer critérios de definição para os termos mais conhecidos ou mais utilizados.
O exemplo que Wittgenstein nos fornece é a dor. Imaginemos que para cada sensação de desconforto, um determinado indivíduo assinalasse “S” em seu caderno. Com o passar do tempo, o caderno do indivíduo ficaria repleto da letra S, mas surgiria aqui um impasse: como ter certeza da comparação de uma sensação específica em relação a uma sensação anterior? Como agrupar e validar as outras afirmações? No caso da dor, por exemplo, não faria sentido falar a respeito de um estado particular mental e inescrutável às outras pessoas; resta-nos, como consolo, dizermos apenas que sentimos dor. Sobre a sua peculiaridade, nada mais poderemos dizer – do contrário, cairíamos em uma espécie de solipsismo[5].
Tanto a linguagem deve ser coletiva que para a área da CI são estudados/elaborados/propostos vocabulários controlados (linguagens documentárias) para padronização dos termos a fim de que a gestão dos sistemas seja eficaz e a recuperação certeira.
Os estudos da linguagem de Wittgenstein mostraram-se de fundamental importância para o auge daquilo que até hoje ficou conhecido na academia como o “linguistic turn”, ou mais precisamente em português, a “virada linguística”. Essa tomada de posição do filósofo austríaco abriu uma grande vereda ao estudo da filosofia e sacramentou o episódio que ficou conhecido como “parting of the ways[6]” – a divisão entre a filosofia continental e analítica: entre a abordagem fenomenológico-hermenêutica (continental) e a análise filosófica baseada na lógica (analítica). Ademais, tal como mostraremos a seguir, postula-se a respeito da questão da informação a partir do vasto rol de conhecimentos inaugurados pelo filósofo de Viena.
3 INFORMAÇÃO E LIGUAGEM NA PERSPECTIVA WITTGENSTEINIANA.
Paveau e Sarfati (2006, p. 216) definem em poucas linhas as duas teorias maiores do quadro wittgensteiniano da linguagem. Quanto ao Tractatus, o filósofo austríaco “redefine a filosofia como uma atividade de elucidação”, delimitando assim “sua jurisdição à lógica das proposições”. Por esse ângulo, “uma proposição, comparada a um ‘quadro’, deverá representar um estado de mundo”.
Já nas Investigações Filosóficas, ainda segundo as pesquisadoras (PAVEAU; SARFATI, 2006, p. 216), o filósofo instaura “um programa de pesquisa inédito, relativo ao exame das relações que uma língua natural estabelece com a categorização da experiência, a percepção, o mundo da cultura”. Em seguida, ainda no interior de tal análise, elas procedem à distinção da função de comunicação da linguagem vernácula, na medida em que a cada domínio de práticas (formas de vida) corresponda uma multiplicidade de cenários de comunicação (jogos de linguagem). Esses serão os princípios que devemos ter em mente na medida em que associamos o pensamento de Wittgenstein à organização da informação. Comecemos então pelo conceito de informação inspirados pelo Tractatus Logico-Philosophicus.
Se alguém nos dissesse que há chuva lá fora, poderíamos olhar para o exterior de nossas janelas e observar a água a cair. Mas na medida em que alguém nos diz que “há anjos voando no céu”, a proposição simplesmente não faria o menor sentido[7]. Pode ser que anjos estejam realmente voando, porém, como não possuímos nenhuma maneira de comprovar sua existência, isso não passa de um não-senso. Resta-nos aqui, portanto, apenas a análise da formulação lógica da proposição – nada além disso.
Ao criar suas asserções, todo indivíduo assim procede no mundo, por isso deve exemplificá-las de modo que possamos tomar contato com suas descobertas. O filósofo, ao contrário, fala do mundo. Portanto, diferentemente do indivíduo que pode espelhar a sua realidade, cabe ao filósofo apenas a descrição da ordem lógica das proposições. Essa teoria é conhecida como Bild, ou teoria da imagem. Genericamente, Wittgenstein nos diz que as proposições filosóficas devem funcionar tal qual uma foto ou uma imagem: descrevendo a arquitetura lógica do mundo, assim como uma imagem descreve um recorte da realidade. Se isso não ocorre, há algo de errado nas premissas que sustentam a proposição.
Mas como isso se aplicaria ao campo da Ciência da Informação? Tomando a primeira proposta de Wittgenstein, podemos questionar se a utilização da palavra “informação” estaria correta. Onde estaria a informação? De que modo poderíamos vê-la como espelho do mundo? No entanto, colocando esses entraves à margem, assumindo que a informação exista, que é passível de classificação e redução semântica a certos campos pré-determinados, poderíamos fatalmente compará-la à noção que Wittgenstein emprega aos objetos como substância primeira do mundo. Nesse sentido, a informação seria a substância primeira do conhecimento.
A informação só poderia ser reconhecida dentro da proposição proferida. O que é (ou não) informação basear-se-ia na análise do sentido pelo contexto. Uma vez que nada se pode dizer sobre esta estrutura isoladamente, apenas a compreendemos dentro de um contexto determinado.
É daí que podemos sugerir que os sistemas de organização do conhecimento e armazenamento de informação se preocupariam então com as propriedades contextuais da informação, ou seja, com sua utilização – por conseguinte, se o objeto somente pode ser percebido em relação a outros objetos, a informação só poderia ser reconhecida em contato com estruturas de porte similar, levando em consideração as necessidades do âmbito no qual se procura por esta, como é o caso das já citadas linguagens documentárias.
Isso nos permitiria criar ordenamentos com base no contexto de proposições ou na busca por determinados assuntos. Nessa perspectiva, tomando-se tal alternativa como válida, o caso das relações das linguagens documentárias torna-se extremamente elucidativo, pois que uma palavra não pode significar isoladamente, possuindo, portanto, relações que dependem do contexto.
Por outro lado, se entendêssemos a noção abstrata de informação como uma noção problemática, impassível de definição, poderíamos supor que esta seria um típico problema de linguagem. Em certa medida, a “necessidade” humana de “controlar” e “organizar” o que parece ser o caos, de combater aquilo que seria a desordem, não faria sentido em determinadas searas simplesmente porque não haveria nada a ser organizado, todos esses problemas nada mais seriam do que espécies de psicologismos – no qual as vivências humanas substituem todo o resto da filosofia, incluindo aí a lógica. Onde se pensava haver informação não existiria nada. Teríamos apenas percepções subjetivas de dados aleatórios que, dependendo do usuário da linguagem, tornar-se-iam, subitamente, relevantes (ou irrelevantes). Do contrário, mesmo se estivéssemos errados, teríamos então nada além de uma série de instâncias impassíveis de análise – no máximo a descrição de uma estrutura, um modelo, apelidado de informação que, ao menos em tese, irá ocupar uma determinada função no escopo do movimento intelectual que desejamos empreender, que não será, contudo, intersubjetivo.
Por esse ângulo, é impossível dizer de antemão o que seja a informação. Aqui se levado a cabo explicitamente o termo informação no primeiro Wittgenstein, esta nada mais será do que um embaraço linguístico, termo indefinível, que extrapola a descrição do mundo. À linguagem permite-se apenas a descrição do mundo. A informação, assim como a ética ou a estética seria um valor – e valor, ao menos para o filósofo em voga está fora do mundo, não é “elemento” que a linguagem é capaz de descrever. Analisar a informação a partir desse prisma nos coloca frente-a-frente com o transcendental, com o que é sublime e não pode ser dito, apenas contemplado. Esta constatação, no entanto, explicaria a dificuldade conceitual na organização do conhecimento – atividade esta que seria semelhante à busca por um resultado matemático absolutamente definitivo apenas com a utilização de números imperfeitos.
Outra hipótese seria a compreensão da informação a partir dos desdobramentos extraídos das Investigações Filosóficas – a segunda obra do autor é certamente mais palatável nesse sentido. Em sua segunda teoria famosa, incluída nas Investigações Filosóficas, Wittgenstein continua com os mesmos problemas em mente. O que diferirá as duas obras será a metodologia empregada para a compreensão do que o filósofo almeja. Nessa segunda teoria, Wittgenstein ignora a teoria Bild, a teoria da lógica da proposição tal como se fosse uma imagem – para ele, se continuasse com a mesma perspectiva em mente, haveria um “engessamento” no que tange à representação dos fatos.
A partir desta problemática sugere uma nova tese: o significado das palavras não é fixo; objetos são simples, carregam consigo um valor limitado de aplicações, no entanto, sua função só pode ser entendida na prática. Organizar conhecimento/informação é uma atividade complexa, pois que pode assumir inúmeros significados com base no contexto em que se insere. O que é informação? A informação será então o uso que fazemos dela. Ou seja, o significado das coisas não está reduzido à sua imagem de aplicação no mundo, mas sim à sua prática, aos modos de uso e sobreposição de semelhanças.
Pensemos novamente no exemplo da palavra “jogo”. Cada jogo é diferente, mas, ainda que vagamente, indica algo parecido, há uma sobreposição de semelhanças nos termos dos quais fazemos uso. Automaticamente intentamos organizar o conhecimento a partir de semelhanças – essa organização é uma necessidade natural, uma vez que não há nenhuma obrigação ontológica, tal como vimos anteriormente, a condicionar a linguagem. Ou seja, a linguagem não se define ontologicamente na correlação entre a palavra que diz e o objeto que existe, fixamente, a fim de designá-la.
Se as informações se encontram organizadas de acordo com o modo de uso, deve haver um critério objetivo para a definição dos termos. O problema da subjetividade é então rapidamente superado. Para conhecer o critério seguido basta observar os procedimentos que delimitam a “busca” pela informação. Daí por diante, compete ao usuário entender as regras e os critérios utilizados na alimentação do sistema. Em outras palavras, os sistemas informacionais assim como os vocabulários controlados possuem um modo de funcionamento e estratégias pelos quais foram formulados; neste sentido, para o sucesso da busca é essencial que os usuários os conheçam. Portanto, a disponibilização de tais documentos assim como os manuais de procedimentos das instituições seria fundamental.
Pode-se pressupor que os sistemas de organização do conhecimento não seriam fixos, mas circunstanciais. Organiza-se a informação com base no contexto, ou seja, a informação que obtemos e tratamos deve ser entendida diante de suas premissas de uso – pode assumir significados e aplicações muito diversas entre si. Se quisermos compreender o que se entende como informação em um determinado contexto, precisaremos observar as suas condições de uso e as suas regras dentro de um determinado local. As necessidades de cada sistema é que irão ditar a busca pela informação. Os significados, portanto, tanto dos termos quanto das organizações são mutáveis – servindo ora a um propósito, ora a outro.
O grande problema, no entanto, é que não haveria nenhum sistema de organização do conhecimento/informação mais correto do que o outro, mas sim um sistema mais funcional do que o outro em determinadas condições específicas. Nesse sentido, a noção de informação torna-se uma variável mutante e os problemas de organização tornam-se próprios a uma questão de “sobreposição de semelhanças”, tal como diria Wittgenstein. Nenhum termo traria consigo um valor informacional inerente, tudo seria circunstancial. O embaraço decorrente dessa constatação seria o fato de que ficaria aqui esclarecida a impossibilidade de uma definição abrangente que caiba de maneira uniforme a todo o campo. Tal definição não se trata apenas de uma tarefa hercúlea e árdua, mas sim de algo impossível.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até meados do século XIX, perdurou na academia uma inspiração taxonômica em que os nomes nada mais seriam do que as etiquetas correspondentes aos objetos que nomeiam, de modo que a classificação seria passível e necessária – em filosofia, tais parecem ter sido as inclinações de Aristóteles e Santo Agostinho; não à toa foram ambos, respectivamente, um “classificador” compulsivo (que deu início à noção de classe) e um “bibliotecário” rudimentar (que tentou compreender como nomes são capazes de designar e substituir as coisas). É assim que podemos retraçar aos dois o início de uma suposta organização do conhecimento.
Coube a Wittgenstein a mais revolucionária transformação taxonômica da história, que se por um lado resolveu velhos dilemas – entendendo que a linguagem é um modelo da realidade e não uma etiqueta fixa –, por outro, abriu espaço a novas e posteriores indagações. O filósofo fala não apenas de como conhecemos a realidade, mas de como somos capazes de erigir conceitos singulares a fim de representá-la e, ainda, sobre como pensamos as convencionalidades arbitrárias de representação. Assim, problemas encontrados nos mais variados ambientes circunscrevem-se a questões de inadequação entre o mundo e a linguagem.
Pensando em termos próprios à organização do conhecimento, podemos assim questionar o que iremos entender por classe, assunto, domínio, ou como designamos relações entre termos e, sobretudo, sobre como superar limites que a disciplina acadêmica enfrenta. Afinal, até hoje, o campo da organização do conhecimento ainda trabalha majoritariamente com o modo tradicional de atar classes e categorias a uma espécie de teoria “objetivista” do conhecimento. Este procedimento, ao menos em tese, tenderia a propiciar uma classificação do conhecimento como espelho da realidade.
Contudo, o problema que reside nesse método é fatalmente conhecido pelos profissionais do campo. Nem tudo pode ser nomeado; em muitos casos dar nomes às coisas (ou relações) parece ser uma atividade complicada. Tampouco se pode denominar com palavras relações empregadas quando se trata da busca pela informação. Quando pensamos a respeito das listas de cabeçalhos de assuntos, thesaurus e em outros tipos de linguagens, torna-se claro que estas ferramentas fazem uso de termos que intentam promover maior amplitude de busca e recuperação da informação como “veja-também” ou “termos-relacionados”.
Pensar na relevância do trabalho de Wittgenstein, ainda hoje se faz premente, sobretudo quando pensamos nas questões supracitadas. As reflexões que o filósofo austríaco promove em sua obra, sobretudo em se tratado de sobreposição de semelhanças, linguagem e uso, e lógica da representação, podem ser de grande valia para resolver ou pensar nos imbróglios que se fazem cada vez mais presentes no mundo contemporâneo – especialmente em um período em que a informação se dissemina a passos largos, quase sem limites com o auxílio de novas tecnologias.
A linguagem utilizada na organização do conhecimento não é absoluta, nem em relação à sua função de verdade, nem diante da própria realidade, os desafios do campo permanecem – um dilema típico que, se não pode ser resolvido, deve ser “dissolvido” pela análise ostensiva dos usos e dos jogos presentes no interior da própria linguagem.
Referências
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Notas
Informação adicional
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA : Concepção e elaboração do manuscrito: R. C. C. Lima, G. D. Maimone Discussão dos resultados: R. C. C. Lima, G. D. Maimone Revisão e aprovação: R. C. C. Lima, G. D. Maimone
CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA: Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
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PUBLISHER: Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
EDITORES: Enrique Muriel-Torrado, Edgar Bisset Alvarez, Camila Barros