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A competência em informação nos currículos de Biblioteconomia do sul do Brasil
Ana Maria Mendes MIRANDA; Adriana Rosecler ALCARÁ
Ana Maria Mendes MIRANDA; Adriana Rosecler ALCARÁ
A competência em informação nos currículos de Biblioteconomia do sul do Brasil
Information literacy in the Biblioteconomic curriculums of south of Brazil
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 24, núm. 55, pp. 1-23, 2019
Universidade Federal de Santa Catarina
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Resumo: Objetivo: A pesquisa investigou a inserção de disciplinas que tratam de temas relacionados à competência em informação nos currículos dos cursos de Biblioteconomia da região sul do Brasil.

Métodos: É caracterizada como uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa. Quanto aos procedimentos, inicialmente foi realizado um estudo documental a partir das matrizes curriculares dos cursos de Biblioteconomia do Sul do país para identificar as disciplinas voltadas para a formação da competência em informação e em seguida foi enviado um questionário para os professores que ministravam as disciplinas identificadas na etapa documental, cujos dados foram analisados com base na técnica de análise de conteúdo.

Resultados: Entre os resultados pode-se salientar que além das disciplinas específicas de competência em informação algumas outras, como por exemplo, as de fontes de informação podem contribuir para a formação das habilidades dos estudantes no que diz respeito à busca, seleção e uso da informação.

Conclusão: Embora alguns cursos ofertam disciplinas que contribuem para a formação da competência em informação, ainda se evidencia a necessidade de aprimoramento por parte das instituições de ensino superior visando a implementação mais efetiva desse conteúdo nos currículos dos cursos de Biblioteconomia.

Palavras-chave:Competência em InformaçãoCompetência em Informação,Formação do BibliotecárioFormação do Bibliotecário,Formação para a Competência em informaçãoFormação para a Competência em informação.

Abstract: Objective: The research investigated the insertion of disciplines that deal with subjects related to Information literacy in the curricula of the librarianship courses of the southern region of Brazil.

Methods: It is characterized as a descriptive research, with a qualitative approach. As for the procedures, a documentary study was initially carried out from the curricular matrices of the Librarianship courses of the South of the country to identify the disciplines focused on the Information literacy training, and as part of the research a questionnaire was sent to the professors responsible to the disciplines identified in the documentary stage, whose data were analyzed based on the technique of content analysis.

Results: Among the results, it can be pointed out that besides the specific disciplines of Information literacy some others, such as information sources, can contribute to the students’ skills training with regard to the search, selection and use of information.

Conclusion: Although some courses offer subjects that contribute to the Information literacy training, there is still evidence of the need for improvement by higher education institutions in order to more effectively implement of this content in the curricula of the librarianship courses.

Keywords: Information Literacy, Librarian Training, Literacy Training.

Carátula del artículo

Artigo

A competência em informação nos currículos de Biblioteconomia do sul do Brasil

Information literacy in the Biblioteconomic curriculums of south of Brazil

Ana Maria Mendes MIRANDA
Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Adriana Rosecler ALCARÁ
Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 24, núm. 55, pp. 1-23, 2019
Universidade Federal de Santa Catarina

Recepção: 02 Agosto 2018

Aprovação: 17 Maio 2019

1 INTRODUÇÃO

Para que o indivíduo consiga utilizar de maneira adequada a informação e recuperar conteúdo de qualidade sem perder horas buscando em páginas diversas, ele precisa desenvolver habilidades que o permita conhecer e utilizar as fontes de informação. Essas habilidades podem ser caracterizadas como um conjunto de ações que são necessárias para a definição das necessidades informacionais, assim como para o processo de busca, seleção e uso da informação de forma ética e crítica.

Ter habilidades para lidar com a informação é essencial ao ser humano e inerente ao contínuo processo de aprendizado, que se inicia ainda na infância, momento em que a criança busca entender e explorar o mundo ao seu redor. É também papel da escola, como emancipadora e educadora, proporcionar aos estudantes, desde a fase inicial de escolarização, meios para que os mesmos desenvolvam essas habilidades. O conjunto destas habilidades informacionais é a competência em informação, que conforme Dudziak (2001), pode ser conceituada como um processo constante de aprendizado que envolve a internalização de conceitos, atitudes e de habilidades operacionais, fundamentais para a compreensão e interação com a sociedade. A autora ainda ressalta que é a capacidade de mobilizar habilidades, conhecimentos e atitudes para a construção de um processo de aprendizagem a partir da informação.

Porém, algumas pesquisas, com a finalidade de investigar as habilidades de estudantes do ensino superior, apontam que estes, muitas vezes, chegam à universidade sem que tenham formadas as habilidades necessárias para desenvolver suas atividades acadêmicas (CAVALCANTI, 2006; MIRANDA; ALCARÁ, 2016; PEREIRA, 2015; PIANOVSKI; ALCARÁ, 2016). Esses resultados mostram a necessidade da formação de habilidades informacionais, iniciando-se ainda nas bibliotecas escolares e sendo reforçadas e ampliadas com as demandas acadêmicas do ensino superior.

Em se tratando dos cursos de Biblioteconomia, esses são os responsáveis por promover o contato de seus estudantes com o tema, e com disciplinas que além de tratar da competência em informação, desenvolvam as habilidades necessárias à atuação do bibliotecário na promoção de ações para o desenvolvimento de habilidades informacionais (MATA, 2014).

É valido colocar que, ainda que o desenvolvimento de habilidades se dê de forma transdisciplinar e não necessariamente precise estar vinculada a uma disciplina, a importância de conteúdos que conceituem o tema, mostrem seus principais modelos e abordagens, apresentem exemplos de programas para a aplicação de ações em unidades de informação, é crucial para que o estudante de Biblioteconomia se considere preparado para desenvolver estes tipos de atividades na sua futura atuação.

Neste contexto, o objetivo desta pesquisa foi identificar disciplinas que tratam da competência em informação nos currículos dos cursos de Biblioteconomia da região sul do Brasil.

2 FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO

Atualmente o bibliotecário encontra-se inserido em um contexto de mudanças sociais constantes. Com a dinamização dos meios de informação e comunicação, unido às exigências de uma formação e atuação profissional mais crítica e reflexiva, as ações desse profissional vão além das funções ligadas à biblioteca tradicional e ultrapassam os papéis já atribuídos a ele. Assim, torna-se importante repensar constantemente as ações que estes profissionais vêm desempenhando na sociedade.

Essas mudanças nos papéis e na formação de bibliotecários e as crescentes exigências dos diversos âmbitos para a sua atuação, criaram nos cursos de graduação em Biblioteconomia uma necessidade de reestruturação de seus currículos e objetivos para a formação. Nesse sentido, os cursos de Biblioteconomia realizaram mudanças e atualizações nos currículos de forma gradual nas últimas décadas, buscando uma melhoria contínua de conteúdos e práticas (DUDZIAK, 2009).

Souza (2007) aponta que, a formação universitária é parte das atividades e interesses dos bibliotecários, pois este é um meio indispensável para que o mesmo se capacite e componha as novas gerações de profissionais, pesquisadores e educadores, na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Dessa forma, os conteúdos técnicos, devem se somar a uma fundamentação ou articulação cognitiva própria à prática e desenvolvimento do conhecimento. Para o autor, ainda que a formação técnica e tecnológica seja de suma importância para o desenvolvimento da Biblioteconomia, somente estas não atendem as necessidades e impacto do ensino da área no país.

Nessa mesma direção, Botelho (2012) destaca que a formação do bibliotecário deve sim estar voltada para a técnica, entretanto deve antes de tudo comprometer-se com uma sociedade mais justa, agindo como disseminador da informação, e consciente de que deve contribuir para a formação dos usuários, tendo em vista a sua plena cidadania. Ferreira (2016) complementa que as características tecnicistas se encontram presentes no perfil do bibliotecário, mas sua formação deve ir além, para que possua conhecimentos políticos e sociais, utilizando-se do senso crítico e de suas habilidades, permitindo assim que esse atue nos mais diversos segmentos da sociedade.

É importante salientar que o bibliotecário necessita de uma série de habilidades para a sua atuação no cenário atual, envolvendo saberes sobre tratamento e organização da informação, uso de fontes de informação disponíveis em seus diversos formatos, seleção, aquisição, tratamento e disseminação da informação (MATA; CASARIN, 2010). Apesar destas atividades já reconhecidas no campo da Biblioteconomia, Sousa e Fujino (2014) relacionam ainda a formação do bibliotecário aos saberes específicos da função educativa, presentes em diversas práticas bibliotecárias, assim como para a sua atuação social e política.

Para Cavalcante (2006, p. 52) “Um dos maiores desafios da educação superior se refere às habilidades individuais e coletivas no uso da informação por parte dos estudantes.” Esse desafio se intensifica ainda mais se considerarmos o papel desenvolvido pelo bibliotecário, que não só necessita de habilidades individuais para a realização de suas práticas, mas também é apontado como um dos responsáveis pelo desenvolvimento das habilidades informacionais dos usuários.

Nesse mesmo sentido, a autora aponta para o papel primordial da biblioteca na formação de seus usuários, com vistas ao desenvolvimento de habilidades informacionais. Assim, a formação da competência em informação em graduandos de Biblioteconomia se torna ainda mais necessária, pois além do domínio de técnicas para lidar com a informação também deve ter uma relação ativa com o processo educativo necessário à competência em informação de seu usuário. Segundo Cavalcante (2006) a universidade vai funcionar como o lugar para aquisição dos saberes e competências para exercício da profissão, e também desenvolver habilidades científicas e críticas, com aptidões para pesquisas individuais e coletivas, comunicação e uso da informação.

Face a isso, fica latente a necessidade de as instituições de ensino voltar seu olhar à educação para a competência em informação, tema que será melhor abordado na seção seguinte.

3 EDUCAÇÃO PARA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

O crescimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e os recursos por elas possibilitados tem acelerado e facilitado o processo de criação e disseminação da informação. Cada vez se produz mais informações e mais rápido, sendo essas disponibilizadas por meio de canais diversos. Com isso, as necessidades informacionais estão bastante imediatas, o que às vezes dificulta a busca e a seleção da informação de qualidade, com agilidade e precisão. Diante desse contexto, as habilidades para lidar com a informação precisam estar em constante desenvolvimento, requerendo aos indivíduos a disposição para o contínuo aprendizado. Nesse sentido, destaca-se Gasque (2012) ao enfatizar a relevância do usuário desenvolver a capacidade de “aprender a aprender” e as demais habilidades necessárias para viver em um mundo em constante mudança. E para tal, é imprescindível que os agentes formadores aprendam a aprender antes que possam ensinar. Complementar à visão da autora, alerta-se que isso fica mais evidente quando se tratar de profissionais que irão promover a educação para a competência em informação, como é o caso dos bibliotecários.

A formação de habilidades e a reflexão sobre a aprendizagem ao longo da vida, tem sido discutida no âmbito da competência em informação que pode ser caracterizada como:

[...] uma área de estudos e de práticas que trata as habilidades acerca do uso da informação em relação à sua busca, localização, avaliação e divulgação, integrando a utilização de novas tecnologias e a capacidade de resolução de problemas de informação. (HATSCHBACH, 2002, p. 95)

Campello (2003, p. 10) afirma que competência em informação pode ser considerada como “[...] o conjunto de habilidades necessárias para localizar, interpretar, analisar, sintetizar, avaliar e comunicar informação, esteja ela em fontes impressas ou eletrônicas.” Em 2016 a Association of College and Research Libraries (ACRL) publicou um documento em substituição ao documento publicado pela American Library Association (ALA) (2000), em que reformulou e atualizou a definição de competência em informação, considerando-a como uma integração de habilidades que abrange desde a descoberta da informação, até seu uso, perpassando a compreensão de seu valor, do seu contexto de produção e sua aplicação ética em comunidades de aprendizagem (ACRL, 2016).

O termo competência em informação é uma tradução do inglês information literacy, cunhado em 1974 pelo americano Paul Zurkowski (DUDZIAK, 2001). No Brasil, a competência em informação tem sido discutida desde o início dos anos 2000, tendo suas pesquisas se intensificado na última década, principalmente nos campos da Biblioteconomia e Ciência da Informação.

O cenário informacional atual necessita de profissionais ativos em seu ambiente de trabalho, capacitados para resolução de problemas que demandem informação, com atuação ética e preparados para acompanhar o surgimento de novas ferramentas tecnológicas que venham contribuir para o desenvolvimento de suas atividades. Para Ferreira (2016), tendo em vista essa demanda, acompanhada da globalização, surge a necessidade de novos conceitos e saberes, que desafiam o trabalho tradicional do bibliotecário, a exemplo da competência em informação.

A necessidade de inclusão de conteúdos relativos à competência em informação na formação do bibliotecário também pode ser percebida nas Diretrizes Curriculares para os cursos de Biblioteconomia (BRASIL, 2001) e nos Referenciais Curriculares Nacionais (BRASIL, 2010). As Diretrizes Curriculares, quando se referem ao perfil dos formandos, apontam entre as competências e habilidades do bibliotecário o preparo para “[...] enfrentar com proficiência e criatividade os problemas de sua prática profissional, produzir e difundir conhecimentos, refletir criticamente sobre a realidade que os envolve, buscar aprimoramento contínuo e observar padrões éticos de conduta [...]” (BRASIL, 2001, p.32). Visualiza-se nesse trecho a importância da competência em informação para tal. Assim como fica explícita a necessidade da competência em informação na lista de competências e habilidades gerais e específicas, que dentre outras pode-se citar como por exemplo:

[...] traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades nas respectivas áreas de atuação [...] responder a demandas sociais de informação produzidas pelas transformações tecnológicas que caracterizam o mundo contemporâneo [...] Interagir e agregar valor nos processos de geração, transferência e uso da informação [...] Criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos de informação; [...] Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza [...] (BRASIL, 2001, p.32).

Já em se tratando dos Referenciais Curriculares Nacionais, infere-se que, além da competência em informação ser necessária para a atuação do bibliotecário em relação ao ciclo informacional, conforme o trecho a seguir: “O Bacharel em Biblioteconomia ou Bibliotecário atua no ciclo informacional - produção, mediação, acesso, uso, disseminação, recuperação e apropriação da informação” (BRASIL, 2010, p.15, grifo do autor), ela está explicitamente mencionada na lista de temas que devem ser abordados na formação do bibliotecário.

Complementar a isso, destaca-se Varela, Barbosa e Farias (2016) que salientam que, além destas competências indicadas nos documentos, a identificação de outras pode significar um avanço no sentido de aumentar a qualidade na aproximação entre demanda social e a formação do profissional.

Para Dudziak (2002) a implantação da Educação para Competência em Informação exige novas visões educacionais, onde o aprendiz é sujeito ativo e modificador do contexto no qual se insere. Essa nova concepção educacional exige ainda que se perceba de forma geral a necessidade de informação constante na sociedade, para que só então, bibliotecários, professores e gestores possam repensar os paradigmas educacionais atuais.

A educação para a competência em informação é a que socializa o acesso à informação, que incentiva a participação ativa dos sujeitos na construção de metas e políticas, e, principalmente, busca o aprendizado enquanto um processo, ao oposto das práticas tradicionais que privilegiam o aprendizado instrumental e mecânico. Conforme Dudziak (2002, p. 7), a competência em informação quando concebida como parte da educação “[...] engloba além das habilidades e do conhecimento, a noção de valores situacionais e sociais, com ênfase na responsabilidade social do ser humano/sujeito, que é o indivíduo enquanto ator social.”

Dessa forma, pode-se considerar que a internalização de habilidades informacionais para a competência em informação, por meio do fazer cientifico, é um processo de aprendizagem, que se realizado de forma consciente, reflexiva e contextualizada promove a produção de conhecimento. Assim, a aprendizagem está relacionada com a aquisição do conhecimento, que por sua vez está ligada ao processo informacional (VARELA; BARBOSA; FARIAS, 2016).

Mais recentemente, Vitorino (2016) propôs uma matriz de princípios para o desenvolvimento da competência em informação com base no discurso de profissionais dirigentes de bibliotecas de Instituições de Educação Superior (atuais e em formação) a partir de quatro dimensões: a) Técnica: Prática diária de trabalho (processamento técnico, domínio de conhecimentos, gestão administrativa, domínio das Tecnologias da Informação e comunicação; b) Estética: Necessidades informacionais (imaginação, criação, reflexão crítica, gestão de recursos financeiros, apresentação da coleção, emoção e paixão pela profissão etc.; c) Ética: Atitude crítica (reflexão crítica, comunicação entre profissionais, capacidade de análise e de síntese; d) Política: Comunicação entre profissionais (gestão administrativa, necessidades de informação dos usuários, relacionamentos interpessoais e trabalho em equipe, reflexão crítica.

Pode-se entender as dimensões apresentadas por Vitorino (2016) como um conjunto de habilidades necessárias ao desenvolvimento da competência em informação, sendo a dimensão técnica o suporte à competência, à compreensão de conceitos, comportamentos e atitudes; a dimensão estética é a percepção da realidade, sendo que esta propõe a sensibilidade e uma orientação para criatividade; a dimensão ética que diz respeito aos princípios que guiam as demais dimensões; e a dimensão política que se refere à construção coletiva da sociedade e a possibilidade de exercer direitos e deveres. A autora ainda aponta que em pesquisas futuras podem surgir conteúdos característicos de cada dimensão e dos elementos propostos pela matriz, que possam avançar para a inserção de conteúdos para os cursos de graduação no Brasil.

Vale ressaltar que, além dos Referenciais Curriculares Nacionais e das Diretrizes Curriculares, já mencionados anteriormente, que reforçam a formação para a competência em informação, bem como as propostas de inserção de conteúdos nos currículos, os documentos, declarações e manifestos para a competência em informação, elaborados por diferentes organismos nacionais e internacionais e originários em eventos da área (ALA, ACRL, entre outros) também enfatizam a importância do desenvolvimento de habilidades para a competência em informação. Nesse sentido, fica evidente a emergência da inserção e discussão dessa temática na agenda das instituições de ensino.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi descritiva, com abordagem qualitativa. Quanto aos seus procedimentos, inicialmente foi realizado um estudo documental a partir da matriz curricular e projetos pedagógicos dos cursos de Biblioteconomia da região Sul do Brasil, com o objetivo de identificar disciplinas com conteúdo mais diretamente voltado à formação da competência em informação. Em seguida, foi enviado um questionário para os professores que ministravam as disciplinas identificadas na etapa documental.

O corpus da pesquisa documental foi constituído pela matriz curricular de cinco cursos de Biblioteconomia de instituições da região sul do Brasil, a saber: a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Universidade Estadual de Londrina (UEL). Para a coleta dos dados construiu-se um formulário para identificação das disciplinas e sua descrição. Na sequência, foi recuperada a matriz curricular nos sites das instituições e, quando disponível, os projetos pedagógicos dos cursos de Biblioteconomia.

Os dados obtidos na pesquisa documental foram organizados em uma planilha com as informações extraídas do formulário de coleta de dados. Esse procedimento tinha como objetivo organizar as informações relevantes para esta pesquisa, como por exemplo, os nomes e as ementas das disciplinas identificadas a partir da matriz curricular e dos projetos pedagógicos dos cursos de Biblioteconomia da região sul do Brasil.

O questionário foi o segundo instrumento utilizado para coleta de dados, sendo construído e enviado para os participantes por meio da plataforma digital Google Forms, e se constituiu de três questões abertas, mais o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. As questões foram as seguintes: a) Comente sobre as atividades realizadas em suas disciplinas e durante suas aulas que podem colaborar com a formação de habilidades para a competência em informação dos estudantes de Biblioteconomia; b) Considerando a necessidade do bibliotecário ser multiplicador das habilidades em informação, como a sua disciplina tem auxiliado na formação desses multiplicadores? C) Caso queira complementar com informações que julgar pertinentes sobre essa temática use o espaço a seguir.

Do total de disciplinas selecionadas (22) foi possível identificar 14 docentes responsáveis, que tiveram seus e-mails localizados e para os quais foi enviado o questionário, e reenviado nas duas semanas subsequentes como lembrete. Ao final do período estabelecido para essa fase da coleta de dados foram obtidas respostas de apenas quatro professores, que ministram as disciplinas de fontes de informação e competência em informação. As respostas foram organizadas e analisadas tendo em vista a complementação dos dados das disciplinas. Para tanto, os participantes foram identificados pelas letras A, B, C e D, cujas respostas serão inseridas e analisadas ao longo da apresentação e discussão dos resultados.

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Durante a coleta de dados buscou-se identificar as disciplinas com nome de competência em informação ou outras nomenclaturas utilizadas para esse tema, como letramento informacional e alfabetização informacional. Assim como também optou-se por incluir disciplinas de educação de usuários, fontes de informação, estudos de usuários ou comunidades e comportamento informacional, visto que essas disciplinas podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades necessárias a competência em informação.

As disciplinas selecionadas foram organizadas em quadros (quadros 1, 2 e 3), sendo divididas em três categorias a saber: a) competência em informação e educação de usuários; b) fontes de informação e pesquisa bibliográfica; c) estudos de usuários e comportamento informacional, destacando sua ementa, carga horária e modalidade (optativa ou obrigatória).

Quanto ao questionário, os dados foram organizados em duas categorias (Atividades realizadas nas disciplinas que podem colaborar com a formação de habilidades para a competência em informação; Contribuição das disciplinas para formar multiplicadores), cuja análise foi feita juntamente com os dados das disciplinas, conforme já mencionado nos procedimentos metodológicos.

Foi possível identificar que todas as cinco instituições investigadas fazem menção aos conteúdos de competência em informação em suas disciplinas. Entretanto, duas destas instituições não possuem uma disciplina específica de competência em informação ou educação de usuários. No quadro 1 estão os dados referentes às disciplinas de competência em informação e Educação de Usuários, ofertada por três das instituições pesquisadas.

Quadro 1
Disciplinas de competência em informação e educação de usuários

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme já foi evidenciado nesta pesquisa, a competência em informação deve ocorrer de forma transversal, sendo incentivada e desenvolvida ao longo da vida. Porém, quando se refere à formação de bibliotecários, vale salientar que estes serão responsáveis pela formação dos usuários das unidades informação em que irão atuar. Assim, é requerido a esses profissionais o domínio quanto ao desenvolvimento conceitual, características e modelos para competência em informação, assim como o embasamento teórico necessário a implementação e avaliação de programas de competência em informação.

A competência informacional, no entanto, precisa ser trabalhada de forma sistematizada no curso de biblioteconomia, tanto para aquisição da competência informacional pelos futuros bibliotecários quanto para que adquiram condições de aplicar os programas de competência informacional nos seus locais de atuação. Ou seja, o bibliotecário precisa ser competente em informação para atingir suas metas como profissional e como indivíduo (MATA; CASARIN, 2010, p. 312).

Entre as três instituições que ofertam as disciplinas que estão no quadro 1, uma delas é oferecida de forma eletiva. Essa variante pode indicar que nem todos os estudantes realizam essa disciplina, o que pode ser prejudicial no momento da atuação frente aos programas de formação de usuários. A instituição que apresenta a disciplina competência em informação nas modalidades obrigatória e optativa encontrava-se em processo de mudança curricular no momento da coleta de dados desta pesquisa, e, portanto, dois currículos estão funcionando de forma simultânea. Notou-se que a mudança de currículo ocorrida no ano de 2015 alterou o tipo de oferta desta disciplina de optativa para obrigatória, o que se pode considerar uma melhora em relação à consolidação dos conteúdos voltados para competência em informação, já que todos os estudantes deverão frequentá-la.

Essa informação identificada a partir da análise da matriz curricular foi reforçada pelo comentário do participante D na questão 3 do instrumento enviado aos professores. De acordo com esse participante a disciplina de competência em informação foi criada como optativa em 2013 e a partir de 2016 tem sido obrigatória. Ele ainda mencionou que a disciplina vem sendo bem recebida, tendo grande aceitação e que os estudantes de graduação reconhecem a relevância dela para sua formação de bibliotecário.

Considerando a carga horária das disciplinas descritas no quadro 1, percebe-se que ainda são menores quando comparadas às outras disciplinas. Este fator pode influenciar de forma negativa, limitando os conteúdos e atividades propostas pelos docentes responsáveis. A exemplo disso, é possível mencionar que apenas uma das instituições que oferta a disciplina de competência em informação, realiza a proposta de um programa, sendo essa atividade utilizada como metodologia na disciplina em questão e que necessitaria de uma carga horária mais ampla, considerando as diversas etapas a serem planejadas em um programa de competência em informação.

Em relação aos programas de formação para competência em informação, Spudeit (2016) salienta que estes devem ser parte essencial das disciplinas para formação de futuros bibliotecários, sendo que essas ações de formação são consideradas estratégias eficazes no desenvolvimento de habilidades informacionais.

Quanto ao papel educacional do bibliotecário, não foram localizadas disciplinas voltadas para a formação didática e pedagógica dos estudantes, assim como, nenhuma das disciplinas levantadas faz menção a atuação do bibliotecário educador. Esse dado difere da pesquisa realizada por Mata (2014), nos currículos de todo o Brasil, em que constatou que metade dos planos de ensino voltados para competência em informação citou o papel educativo do bibliotecário. Ao que concerne à formação pedagógica do bibliotecário, autores como Campello (2009), Belluzzo (2005), Alves e Varela (2016), Dudziak (2007; 2013) apontam que esta é de extrema importância para sua atuação enquanto promotor de práticas de transformação na sociedade, sendo necessário para tanto que este profissional receba uma formação relacionada ao planejamento pedagógico, atividades didáticas, processo de busca, seleção, avaliação e organização de informações, assim como, construção do conhecimento. Ainda nesse sentido, para Dudziak (2007, p. 95):

Como mediador pedagógico, o bibliotecário torna-se educador: organiza programas de competência informacional em conjunto com professores e gestores, ministra aulas em diversos espaços, executa projetos informacionais com foco na educação voltada para a competência em informação (information literacy education), observa a importância do acolhimento e do aprendizado significativo, aprimora seus conhecimentos educacionais e pedagógicos.

Quanto à segunda categoria de disciplinas, observou-se que as disciplinas de fontes de informação estão presentes nos programas das cinco instituições analisadas. Estas apresentam conteúdos similares dentre suas ementas, sendo que a maior parte das instituições analisadas ofertam três disciplinas que tratam de diferentes tipologias de fontes de informação. Uma dentre as outras instituições apresenta duas disciplinas, em que também cada uma delas aborda determinada tipologia de fontes de informação. Teve apenas uma instituição que oferta uma única disciplina de fontes, englobando as gerais e especializadas. Para a apresentação dos dados, as ementas foram agrupadas em fontes gerais, fontes bibliográficas e fontes especializadas, conforme apresentado no quadro 2.

Quadro 2
Disciplinas de fontes de informação

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir da análise dos programas dessas disciplinas foi possível refletir que elas têm colaborado com o desenvolvimento de habilidades informacionais, formando os estudantes para a busca e seleção de fontes de informações variadas e relevantes na atuação do bibliotecário.

Nesse sentido, o Participante C quando relatou sobre as atividades realizadas durante suas disciplinas que contribuem com a competência em informação, apontou que:

Nosso curso não possui ainda disciplina especificamente voltada à CoInfo, por isso, sempre procuro incluir no conteúdo programático de outras disciplinas um módulo dedicado a isso. Em especial, trabalho mais fortemente esse conteúdo em Fontes de Informação. A princípio, com leituras para conhecimento teórico referente a conceitos e etapas e, posteriormente, com exercício de pesquisa a partir de questões elaboradas por mim que devem ser respondidas a partir de busca e acesso a literaturas diversas.

Para Varela, Barbosa e Farias (2016, p. 207), essa formação é de suma importância, pois existe a necessidade de constituir um novo perfil bibliotecário, tanto nas questões profissionais, quanto educacionais, isso porque se antes as ações do bibliotecário limitavam-se ao espaço da biblioteca, hoje “[...] as muitas aplicações das tecnologias da informação fazem com que os serviços informacionais transponham os limites físicos e institucionais que, antes, cerceavam seu ofício”.

Também, nesse aspecto, o Participante A comentou sobre as estratégias e atividades utilizadas durante suas disciplinas que podem colaborar na formação de multiplicadores:

Acredito que as estratégias de ensino que adoto podem tornar os estudantes mais autônomos para lidarem com sistemas e recursos pertinentes aos conteúdos ministrados nas disciplinas. [...] penso que as dinâmicas e práticas possibilitam que os estudantes desenvolvam habilidades que poderão ser multiplicadas futuramente.

A instituição que não possui uma disciplina específica de competência em informação tem esse conteúdo apresentado na disciplina de Fontes de Informação, porém o conteúdo abordado é bastante extenso, considerando que incorpora em uma única disciplina, com carga horária de 72 horas, as fontes gerais e especializadas, incluindo aspectos relacionados à formação dos usuários.

Referindo-se à formação possibilitada pelas disciplinas de fontes de informação, Varela, Barbosa e Farias (2016), colocam que as competências sugeridas pela resolução CNE/CES 19 (BRASIL, 2002), que regulamenta as competências necessárias à formação do bibliotecário, não se propõem a explorar as diversas fontes de maneira profunda, ainda que estas sejam consideradas um dos pilares da profissão, e, portanto, poderiam ser melhor desenvolvidas.

No entanto, percebe-se a partir do relato dos professores que participaram desta pesquisa que as disciplinas de fontes de informação têm contribuído para a formação de habilidades para a competência em informação. O participante B, por exemplo, referindo-se às atividades de suas disciplinas que colaboram para a formação de habilidades informacionais, frisou que “[...] as minhas aulas e atividades contribuem mais especificamente para o gerenciamento de recursos de informação (conhecimento e domínio de fontes de informação bibliográficas visando a pesquisa bibliográfica) [...]”. Segundo ele, nas disciplinas de fontes de informação bibliográficas os estudantes “[...] precisam conhecer e possuir domínio dos recursos oferecidos em cada fonte para poder, futuramente, capacitar seus usuários no manuseio delas”.

No que diz respeito às demais disciplinas selecionadas, foram identificadas seis de estudos de usuários e comunidades ou comportamento informacional, que serão apresentadas no quadro 3.

Quadro 3
Disciplinas de estudo de usuários

Fonte: Dados da pesquisa

As ementas das disciplinas de estudos de usuário e comportamento informacional apresentam poucos aspectos relacionados à competência em informação, seus conteúdos são voltados para conhecimento das necessidades dos usuários, assim como para o reconhecimento dos tipos de usuários, modelos de comportamento informacional e aplicação de técnicas para realização destes estudos, não focalizando diretamente na formação de habilidades informacionais dos usuários. Nesse sentido, é importante citar Dudziak (2005) ao colocar que a educação para competência em informação não pode ocorrer em esforços isolados, já que esta não resulta apenas de mudanças educacionais, como no caso da criação da disciplina de competência em informação, mas decorre do envolvimento dos sujeitos no processo de ensino e aprendizagem, que necessitam repensar suas crenças e práticas e partir para ação.

Além das disciplinas mencionadas nos quadros de 1 a 3, no questionário aplicado aos professores também foram citadas outras disciplinas que podem contribuir para a formação das habilidades para a competência em informação. Como exemplo pode-se destacar a menção do participante B, que listou as disciplinas de normalização documentária e serviço de informação e referência, especialmente em bibliotecas universitárias e escolar, em que “[...] o bibliotecário não somente presta esse serviço, como também capacita os usuários para realizarem essa atividade com autonomia”. Ainda, houve destaque para a disciplina de mediação da informação pelos participantes B e C. O participante C inclusive citou que trabalha“[...] o papel mediador do bibliotecário no desenvolvimento de competências de sua comunidade interagente”.

Em relação às disciplinas analisadas, de forma geral, é possível considerar que seus conteúdos são suficientes para a formação de habilidades exigidas ao bibliotecário, porém, não suprem totalmente questões relacionadas à formação de multiplicadores da competência em informação. Isso porque, conforme enfatizado anteriormente, nenhuma das disciplinas identificadas faz menção à conteúdos e atividades que promovam a formação do bibliotecário educador, como por exemplo a formação didática e para as práticas pedagógicas.

É possível ressaltar que apesar de declarações e manifestos como a de Havana (2012), Manifesto de Florianópolis (2013), Carta de Marília (2014) e o documento da ACRL (2016) que explicitam a responsabilidade das instituições de ensino no desenvolvimento da competência em informação e o papel importante desenvolvido por bibliotecários neste contexto, a maioria das instituições de ensino ainda não tem se apropriado da educação para competência como parte de seus currículos.

Para Stubbings e Franklin (2006) essa relutância em assumir a competência em informação como parte do processo educacional está ligado à falta de compreensão sobre a competência em informação e a confusão de que esta esteja ligada ao domínio de tecnologias da informação. Assim como, por acreditarem que esse tema pode ser ensinado em outros momentos, por dificuldade em abrir espaços nos currículos, e por acreditarem que os estudantes já possuem habilidades para busca de informações digitais.

Nessa mesma perspectiva, Coonan (2011) alerta para a falta de compreensão no momento de incorporar a competência em informação nos currículos. Para a autora, essa falta de compreensão pode estar relacionada à maneira como se percebe a natureza da informação e às formas de lidar com ela. Essa confusão conceitual divide os aspectos funcionais e intelectuais da informação e com isso a competência em informação acaba sendo associada apenas às habilidades técnicas e operacionais em relação à busca e ao uso da informação desenvolvidas em determinadas disciplinas, sem contextualizá-las ao currículo como um todo.

A ACRL (2016, p. 12, tradução nossa) disserta em seu documento que, tanto professores quanto bibliotecários precisam entender que a estrutura proposta para a formação da competência não foi projetada para ser implementada de uma única vez e para tal “[...] propõe-se que ela seja integrada ao programa acadêmico de um aluno em vários níveis, de forma sistemática e voltada ao desenvolvimento.” Relacionado à formação de bibliotecários, ainda que a inserção de disciplinas que visem desenvolver as habilidades informacionais seja importante, é imprescindível que o currículo de forma geral propicie e incentive a formação de profissionais mais criativos, críticos e conscientes de seu papel na sociedade.

Complementar a isso, Farias e Belluzzo (2017) alertam que a competência em informação não deve ter seus aspectos funcionais desconectados dos contextos e práticas disciplinares. Argumentam que a educação para competência deve ir além do ensino de habilidades informacionais e envolver a reflexão sobre métodos, estilos e práticas de ensino. Também nesse sentido, um dos professores participantes desta pesquisa coloca sua preocupação em relação ao “[...] estabelecimento e proposições de um "checklist" para descobrir se um sujeito é ou não competente em informação, deixando de fora aquele que não atende tais requisitos.” (Participante B). Cabe refletir, nesse sentido, que a competência em informação se apresenta como uma forma de auxiliar os sujeitos a lidarem com questões informacionais complexas e, possivelmente, estarem mais capacitados para agir no mundo informacional. Entretanto, é importante reconhecer que a ação de sujeitos conscientes na sociedade exige uma formação diversa, composta por vários fatores, em que a competência em informação pode ser um fator relevante. Ainda quanto à fala desse participante, é válido alertar para a necessidade de uma concepção ampla de competência em informação que envolva diferentes variáveis, muito mais do que uma lista fixa que indique quais habilidades são essenciais, mas uma série de outros fatores subjetivos e, portanto, menos passíveis de uma avaliação externa.

Complementar a isso, vale também destacar as colocações do participante D quando destacou a proposição de atividades teóricas e práticas da competência em informação, em que os estudantes, “[...] por meio da observação de práticas em bibliotecas, arquivos ou museus identificam como ocorrem – para usuários e bibliotecários – as dimensões técnica, estética, ética e política da competência em informação”. “Por meio da reflexão e da discussão sobre a importância do bibliotecário em desenvolver a competência em si mesmo para poder, num momento seguinte, auxiliar o desenvolvimento desta no outro, no coletivo, no usuário.” Essas ações realizadas pelo participante D, no âmbito de suas disciplinas, podem contribuir não apenas para a formação da competência em informação dos estudantes, mas também a conscientização em relação ao seu papel de multiplicador dessa competência no seu ambiente de atuação.

Da mesma forma, o participante C, quando se referiu à contribuição de suas disciplinas para a formação de multiplicadores da competência em informação, evidenciou ser necessária a conscientização “[...] no uso crítico e ético da informação; Na mediação para busca e acesso à informação; No desenvolvimento de habilidades para assimilação e registro da informação bem como da divulgação e publicação de resultados”.

Pode-se enfatizar que a educação de forma geral não deve se deter a uma relação de habilidades técnicas ou conhecimentos teóricos exigidos por uma profissão ou área do conhecimento. Nesse sentido, Varela, Barbosa e Farias (2016, p. 114) ressaltam que uma educação pautada no bem-estar social deve ir além das exigências de mercado não permitindo que reproduza o mundo mecânico do trabalho, mas “[...] capacitando profissionais criativos, inovadores, críticos e conscientes de sua responsabilidade social.” Não se pode desvincular a formação do contexto de sua atuação, sendo papel do ensino superior, formar cidadãos capacitados para os aspectos da vida humana, incluindo o trabalho, mas não se restringindo a ele.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação para competência em informação deve se dar num processo contínuo de aprendizagem por toda a vida e para que isto seja possível, a inclusão da educação para competência na formação do bibliotecário é essencial. Nesse contexto, bibliotecários e instituições de ensino podem colaborar nas mudanças dos paradigmas educacionais, auxiliando na inserção da competência em informação e, consequentemente, colaborando para a formação de sujeitos mais autônomos, críticos e reflexivos frente às informações a eles apresentados.

Nesse contexto, a formação dos bibliotecários é essencial para futuras iniciativas de educação para a competência em informação e deve ser garantida pelas instituições de ensino superior que necessitam dar os primeiros passos no sentido de propiciar a formação de profissionais criativos, inovadores e capacitados para desenvolver ações didático-pedagógicas que visem a formação do outro.

Referente a isso, é importante ressaltar que a educação para a competência em informação deve ser transversal e estar presente na forma de se pensar o processo de aprendizagem. A competência em informação perpassa diversos aspectos ligados à educação e à sociedade como um todo. Para tanto, é importante que a formação para competência não se limite a uma disciplina com o intuito apenas de desenvolver habilidades informacionais nos estudantes, mas que também promova nas diversas disciplinas uma formação que permita o aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a relacionar-se com os outros, aprender a respeitar as diferenças, aprender a ser ético.

A formação didático-pedagógica do bibliotecário, com vistas ao seu papel de multiplicador de habilidades informacionais, sendo este profissional responsável pela formação das habilidades para competência na comunidade em que atua é emergente, considerando-se o ambiente informacional e educacional. Dessa forma, vale ressaltar a importância de inserir disciplinas que colaborem com essa formação pedagógica nos currículos de Biblioteconomia.

Em síntese, quanto à situação de disciplinas que tratam de temas relacionados à competência em informação nos currículos de Biblioteconomia, foi possível notar que há algumas mudanças em relação a percepção da importância destes conteúdos, resultando no seu desenvolvimento em algumas disciplinas. Entretanto, esses passos ainda são considerados pequenos e precisam ser melhor sistematizados para alcançar de forma plena a educação para competência.

Material suplementar
Informação adicional

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA: Concepção e elaboração do manuscrito: A. M. M. Miranda; A. R. Alcará Coleta de dados: A. M. M. Miranda; A. R. Alcará Análise de dados: A. M. M. Miranda; A. R. Alcará Discussão dos resultados: A. M. M. Miranda; A. R. Alcará Revisão e aprovação: A. M. M. Miranda; A. R. Alcará

CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA: O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo não está disponível publicamente.

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA: Não tramitou no Comitê de Ética, mas fez uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

LICENÇA DE USO: Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Estra licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.

PUBLISHER: Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

EDITORES: Enrique Muriel-Torrado, Edgar Bisset Alvarez, Camila Barros.

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Notas
Quadro 1
Disciplinas de competência em informação e educação de usuários

Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 2
Disciplinas de fontes de informação

Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 3
Disciplinas de estudo de usuários

Fonte: Dados da pesquisa
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