Artigo
Recepção: 24 Maio 2019
Aprovação: 16 Junho 2019
DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2019.e65348
Financiamento
Fonte: Bolsa Regular de Doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
Número do contrato: 13/16171-9
Beneficiário: Juliana Lazzarotto Freitas
Financiamento
Fonte: Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior
Número do contrato: 15/20732-1
Beneficiário: Juliana Lazzarotto Freitas
Resumo:
Objetivo: Este estudo analisa o interdomínio de Estudos Métricos da Informação (EMI) na Medicina, a fim de reconhecer teórica e empiricamente as relações de produção científica ali representadas. Utiliza como corpus de análise, um conjunto de 132 artigos extraídos da base Scopus, produzidos pelos autores brasileiros representativos do interdomínio.
Método: Como modalidade metodológica adota a análise de conteúdo das respostas do questionário aplicado aos autores representantes desse interdomínio, para objetivar suas percepções sobre as próprias práticas de pesquisa relacionadas aos EMI, bem como a análise da produção periódica científica desses autores. Apreende assim, suas percepções sobre as atividades de pesquisa que vêm realizando no âmbito dos EMI.
Resultados: Como resultados, confronta a produção periódica científica dos autores com suas respostas, descrevendo a coesão entre seus discursos e suas práticas de produção científica. Os resultados retratados propiciam autoconhecimento relacionado às práticas dos pesquisadores de Estudo métricos da Informação, trazendo à luz a natureza das suas dificuldades no desenvolvimento de seus estudos, ora metodológicas, ora teóricas, ora oriundas da ausência de reconhecimento social do incipiente interdomínio. Apresentam-se limitações de formação curricular e oportunidades de contribuição do campo de estudo de EMI para além do próprio campo, como interdomínio frutífero especialmente no que tange ao aperfeiçoamento dos estudos de gestão e avaliação da ciência para a Medicina.
Conclusões: Por fim, considera as análises de interdomínios como uma oportunidade de contribuição ou colaboração entre campos para a realização de metapesquisas.
Palavras-chave: Estudos Métricos da Informação, Medicina, Análise bibliométrica, Interdomínios, Produção periódica científica.
Abstract:
Objective: This research analyzes the interdomain of Metrics of Information (MSI) in Medicine, in order to recognize theoretically and empirically the relations of production represented there. It uses a set of 132 articles extracted from Scopus as a corpus of analysis, produced by the most representative Brazilian authors of the interdomain.
Method: As methodological modality it adopts the content analysis of the questionnaire answers applied to the authors representing this interdomain, to objectify their perceptions about their related research practices in MSI, as well as the scientific periodical production analysis. Thus, it apprehends their perceptions about the research activities that they have been carrying out in MSI. As results, it confronts the periodical scientific production of the authors with their answers to the questionnaire, describing the cohesion between their discourses and their scientific production practices.
Results: show self - knowledge related to the practices of researchers of MSI domain, bringing to light the nature of their difficulties in the development of their studies, that can be methodological, theoretical, or stemming from the absence of social recognition of incipient interdomain. It observes curricular limitations and opportunities of contribution from the field of MSI beyond the own field, as a fruitful interrelation especially in what concerns to the improvement of studies related to science management and evaluation for the field of Medicine.
Conclusions: Finally, it considers interdomain analysis as an opportunity to contribute or collaborate between fields to perform meta-surveys.
Keywords: Metric Studies of Information, Medicine, Bibliometric analysis, Interdomains, Scientific Periodical Production.
1 INTRODUÇÃO
Um domínio é um corpo de conhecimento, definido social e teoricamente por um grupo de pessoas que compartilham compromissos ontológicos e epistemológicos. Está associado à noção de comunidade discursiva ou de pensamento, na qual seus integrantes partilham de uma linguagem, estrutura de trabalho, padrões de cooperação, formas de comunicação e organização do conhecimento, sistemas de informação e critérios de relevância (HJØRLAND; ALBRECHTSEN, 1995, HJØRLAND, 2017).
Ademais, ao permitir o aperfeiçoamento da produção do conhecimento, um domínio se apresenta como um modo coerente de delimitação de saberes em um campo científico, com formas de legitimação nas expressões formais e modelos (BUFREM; FREITAS, 2015).
Sob esse entendimento, os Estudos Métricos da Informação (EMI) compõem o domínio das pesquisas métricas de informação, desdobrando-se às denominadas Bibliometria, Cientometria, Webometria, Informetria e Altmetria, entre outras.
Esta pesquisa apresenta o interdomínio de relações entre os EMI e a Medicina, explicitado pelo discurso e prática de investigação dos pesquisadores brasileiros producentes de estudos metateóricos em Medicina, fundamentados nos métodos dos Estudos Métricos da Informação (EMI).
Nesse contexto, é importante ressaltar que um interdomínio não é sempre representado na literatura pelos mesmos termos e descritores de busca oriundos de seu campo de origem, o que torna complexa a apreensão desta realidade na empiria. Logo, “um interdomínio não é algo dado, de modo consciente e institucionalizado, mas um processo relacional” (BUFREM; FREITAS, 2015), pois se realiza e se reconstrói cognitivamente, reproduzindo-se em regiões diferentes e em momentos históricos específicos. O olhar relacional ao modo de construção científica concretiza-se na possibilidade de examinar as pesquisas decorrentes da confluência de conhecimentos e objetos de estudo relacionados com os EMI na Medicina. Desse modo, a análise permite compreender os aspectos consoantes e dissonantes entre discurso e prática em relação à realização dos EMI no espaço de interação evidenciado.
Elucida-se, ainda, que o interdomínio analisado conjuga os conhecimentos produzidos entre os campos de Ciência da Informação (CI) e Medicina, expressos na produção periódica científica dos Estudos Métricos da Informação.
Parte-se da questão de pesquisa: como se estabelecem as relações entre os domínios de CI e Medicina materializados nos Estudos Métricos da Informação no Brasil? Para que seja mais bem respondida, especifica-se em uma questão secundária: Como os agentes do interdomínio entre ambos os campos concebem a investigação em Estudos Métricos da Informação e suas finalidades?
Como objetivo geral, reconhece-se como se configuram as relações representadas pelo interdomínio de EMI entre CI e Medicina no Brasil. Para tanto, analisa-se a configuração desse interdomínio, seus direcionamentos e prioridades, por meio da análise do discurso dos pesquisadores qualificados no interdomínio e da sua produção científica, procurando dar sentido mais amplo aos conhecimentos obtidos.
Os EMI caracterizam-se por transcender sua existência como aplicação de metodologia que, embora importante, foi evoluindo e vem sendo complementado por dimensões teóricas e epistemológicas, transfigurando-se e dando lugar a um corpo de conhecimento teórico e prático coerente, à definição de processos, ao desenvolvimento de produtos e serviços que permitem a produção e a incorporação do conhecimento e que, acima de tudo, contribui com a evolução dos campos científicos, da política e de outras dimensões sociais.
A escolha da Medicina como campo de análise decorre do expressivo volume de produção científica nesse campo, que segundo Pereira e Escuder (1999) é maior quando comparado a outras áreas do conhecimento no Brasil. Além disso, consideram-se as contribuições da Medicina ao desenvolvimento das primeiras pesquisas que consolidaram o uso de fontes de informação científica no Brasil. Como exemplo, deve-se considerar que uma das mais importantes iniciativas com o intuito de proporcionar mais visibilidade e acessibilidade à produção científica nacional via meio eletrônico e, paralelamente, criar uma base de dados por meio da qual fosse possível obter indicadores, como índices de citação e de impacto foi o projeto da Scientific Eletronic Library Online (SciELO). O precedente projeto SciELO resultou de uma parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). Eventos, congressos, periódicos e grupos de trabalho que apresentam como escopo a temática dos EMI em campos relacionados à Saúde são elementos representativos da institucionalização desse interdomínio e fortalecem a escolha desse objeto de estudo.
2 MÉTODO
Essa pesquisa descritiva visa permitir a melhor compreensão das relações existentes no interdomínio em questão. Como meio para atingir seus objetivos utiliza análise da produção periódica científica do interdomínio e análise de conteúdo das respostas do questionário aplicado a pesquisadores do interdomínio, para aferir suas percepções relacionadas aos EMI. Ambas as análises foram confrontadas.
Considerando que as bases de dados Scopus e Web of Science (WOS) são referência internacional para a medida da produção científica dos países (PACKER, 2011), a escolha da Scopus como fonte para o levantamento justifica-se devido à sua ampla cobertura da produção científica nacional nas áreas analisadas, em detrimento da WOS, segundo Santa e Herrero Solana (2010, p. 15), não ocasionando prejuízo à eleição dos periódicos representativos desse interdomínio. Atualmente, segundo os autores, a Scopus é a maior base de dados multidisciplinar existente, com cobertura mais ampla na maioria das áreas e dos países da América Latina, quando comparada à WOS. Além disso, sua categorização temática para a busca contribuiu para a delimitação na Medicina.
Para a delimitação de um corpus de autores representativo desse interdomínio, com seus respectivos artigos, definiram-se critérios para distinguir o grau de intensidade dos autores no interdomínio, conforme sua produtividade e reconhecimento legitimado em outros estudos sobre Estudos Métricos da Informação.
Utilizou-se como parâmetro, a seleção dos autores apontados nos artigos de Grácio e Oliveira (2012) e Mattos e Job (2008) e, também, os autores resultantes de um estudo exploratório piloto no estágio inicial da elaboração deste artigo, combinando-os. O primeiro critério foi o de que os autores estivessem presentes em pelo menos dois dos três estudos mencionados, a fim de dar credibilidade à seleção. Grácio e Oliveira (2012) identificaram os autores brasileiros mais produtivos do domínio de Estudos Métricos na Scopus até 2011. Já, Mattos e Job (2008) apresentaram os autores brasileiros que mais publicaram na Revista Scientometrics no período de 1978 a 2006. Ambos os estudos foram atualizados até o ano de 2014, para que não fossem excluídos autores importantes que teriam publicado sobre o tema nos últimos anos, não abrangidos por Grácio e Oliveira (2012) e Mattos e Job (2008). Sobre o estudo exploratório, identificaram-se os autores mais produtivos em EMI na Scopus até 2014, na subárea de Medicina, bem como os seus coautores e suas respectivas áreas de atuação descritas na base, conforme a área dos periódicos em que publicaram. Reuniram-se em uma planilha os autores identificados nestes três estudos, para verificar quais estavam presentes em mais de um deles.
O segundo critério definiu que os autores presentes em apenas uma das pesquisas publicadas, a de Grácio e Oliveira (2012) ou a de Mattos e Job (2008), fossem coautores dos pesquisadores identificados no estudo exploratório realizado. Com esses critérios, obteve-se um corpus de 28 autores representativos do interdomínio.
Identificados os pesquisadores, reuniram-se os seus artigos indexados na Scopus – em Medicina e Ciências Sociais Aplicadas até o ano de 2014 – em uma base de dados no software gerenciador de referências Endnote, totalizando 963 artigos. Deste total, foram eliminadas as duplicatas, pois havia coautorias entre os autores do universo, resultando em um total de 786 artigos produzidos pelos 28 pesquisadores.
Realizou-se a leitura dos resumos desse conjunto de 786 artigos a fim de excluir os não pertinentes ao interdomínio estudado, restando assim 143 artigos. Desses, excluíram-se dois editoriais, um ponto de vista e oito artigos para os quais não foi possível ter acesso ao texto completo, resultando 132 artigos como corpus final, como o artigo mais antigo, constituinte do corpus, datando de 1986. Considera-se importante destacar que a literatura científica do interdomínio analisado envolve uma significativa amplitude de termos e descritores na sua caracterização, o que torna complexa a apreensão desta realidade na empiria. Nesse sentido, esclarece-se que a opção pela estratégia de busca na base de dados foi ampla, envolvendo 35 termos descritores, o que propiciou a recuperação de um universo muito extenso (786 artigos), muitos dos quais não tratando da temática em questão, o que gerou a necessidade de uma extensa limpeza dos artigos a fim de eliminar aqueles não inerentes ao interdomínio e uma significativa diminuição do corpus final de análise. Todavia, por outro lado, essa estratégia permitiu uma recuperação mais completa do corpus de análise, apesar do aumento do trabalho de limpeza manual. Ademais, a pouca expressividade quantitativa dos estudos contemplados no corpus corrobora a necessidade de realização de estudos interdomínio. Tendo em vista que a produção de estudos métricos na literatura periódica da Medicina, indexada tematicamente como EMI, é inexpressiva quantitativamente se comparada à produção periódica científica absoluta da área de Medicina, confirma-se, assim, que os EMI constituem domínio metacientífico.
O questionário foi validado em pré-teste por 12 pesquisadores, produtores de conhecimento do interdomínio, destacados por estarem presentes em um dos estudos utilizados para a delimitação do corpus do interdomínio. O questionário final originou-se de aperfeiçoamento possibilitado pelo pré-teste e foi aplicado a 28 pesquisadores mais representativos (presentes em três ou dois dos estudos selecionados para delimitação do corpus), tendo assim, como objetivo apreender as suas percepções e possíveis concepções sobre o interdomínio e sobre suas práticas de pesquisa relacionadas aos EMI. As perguntas evidenciaram os direcionamentos que os pesquisadores consideram que esse tipo de pesquisa prioriza. O cuidado com as nomenclaturas e termos utilizados na parte introdutória do questionário e nas perguntas, para não influenciar as respostas, visou, também, aproximar o respondente à realidade analisada, estabelecendo, por exemplo, a relação necessária entre CI e Estudos Métricos da Informação.
Optou-se por perguntas abertas a fim de permitir maior fidedignidade de representação do habitus dos pesquisadores, visto que há grande possibilidade de distanciamento entre posições, decorrentes das distintas subjetividades contempladas nesse interdomínio. O recurso utilizado para a elaboração e coleta das respostas foi o Survey Monkey, que disponibiliza gratuitamente ferramentas básicas para a formulação, envio e monitoramento de questionários[1]. A versão pré-teste contribuiu com a inclusão da pergunta 4, sobre como os EMI foram utilizados pelos autores, se como objeto ou como metodologia; para a reformulação da pergunta 8 a fim de que fosse mais bem compreendida pelos pesquisadores; da pergunta 9, para que restringisse o seu alcance, já que foi considerada muito ampla pelos participantes do pré-teste e, por fim, da reformulação terminológica da pergunta 10, contribuindo, assim com o aperfeiçoamento e redefinição do questionário. (FREITAS, 2017).
As respostas foram transcritas manualmente e suas análises foram realizadas por meio de aglomeração de categorias, algumas definidas pelas próprias opções de respostas. Foi possível, desse modo, descrever as concepções e práticas evidenciadas pelos pesquisadores e as similaridades destas práticas. As perguntas abertas, que obtiveram diversidade de respostas, foram sintetizadas em quadros analíticos estabelecidos simultaneamente ao processo de análise, os quais figuram na seção de resultados do presente artigo, como por exemplo, as dificuldades encontradas na realização dos EMI (pergunta 6), foram categorizadas em três naturezas distintas. As respostas foram confrontadas com os resultados analíticos da produção científica coletada desses pesquisadores, em especial em relação ao enfoque das pesquisas concernentes aos grupos alvo de atuação de Glänzel (2003), a fim de identificar se suas práticas de pesquisa estão de acordo com os seus discursos sobre o que, e como, produzem no âmbito dos EMI. Os grupos alvo de Glänzel (2003) contribuem como apoio à organização das pesquisas relacionadas aos EMI no que tange à análise da produção científica dos pesquisadores, já que sua aplicação como instrumento metodológico de análise propicia a identificação das finalidades de uso da bibliometria.
3 APROXIMAÇÃO ENTRE DISCURSO E PRÁTICA DE PESQUISADORES DO INTERDOMÍNIO
A análise dos resultados é apresentada na ordem sequencial das perguntas do questionário, cujas respostas são explicitadas em gráficos, tabelas e quadros, comentadas e complementadas com dados bibliométricos da produção científica dos autores respondentes. Em resposta à primeira pergunta, se consideram que os Estudos Métricos da Informação se configuram como campo científico ou como conjunto de metodologia, 4 (33,3%) pesquisadores responderam que os EMI se configuram exclusivamente como metodologia de coleta e análise de dados.
No Gráfico 1, observa-se a distribuição das respostas, que permite perceber como esses pesquisadores compreendem o campo.

Nota-se que há um equilíbrio nas respostas para as duas concepções, como campo ou metodologia, e que elas não necessariamente refletem um padrão de comportamento relacionado às titulações dos respondentes.
Em suas respostas, os autores que consideram os EMI um campo científico são aqueles que utilizam os EMI como metodologia em seus estudos. Esse resultado sugere que esses autores consideram que os EMI apresentam fundamentação científica, ou seja, são consolidados teoricamente, visto que, quando utilizam esse tipo de estudo como metodologia, já o consideram um campo de estudo aplicável. Nesse caso, não precisam colaborar com seu desenvolvimento, somente aplicá-lo. Entretanto, considera-se que podem contribuir com o desenvolvimento dos EMI, ainda que de modo não intencional.
Já, aqueles que respondem que os Estudos Métricos são um conjunto de métodos e técnicas, os abordam como objeto de estudo em suas pesquisas. Como hipótese para esse resultado, considera-se o entendimento pelos autores participantes dos EMI como um conjunto de conhecimentos ainda incipiente de estudo, adotando-os como objeto de estudo para a construção de modelos e teorias. Para corroborá-la seria necessário um novo diálogo, um novo questionário para entender se os pesquisadores estariam de acordo com essa interpretação.
Confrontando as respostas com a análise da produção periódica científica, considera-se que os respondentes que apresentaram a opção “como metodologia e como campo”, têm sua produção de artigos abrangida nos três grupos de Glänzel[2], isto é, trabalham com os EMI com diferentes finalidades e, na maioria dos casos, com mais de uma em um mesmo artigo. Por sua vez, aqueles que consideram os EMI apenas como metodologia também apresentam pesquisas de base para este domínio.
Aponta-se que, se somados os resultados das opções que abrangem os Estudos Métricos como metodologia têm-se 58% dos respondentes cujo uso dos EMI remetem a fins metodológicos, corroborando a natureza prática do campo.
Sobre as principais finalidades dos Estudos Métricos da Informação, atribuídos pelos autores em resposta à pergunta 2, 42% deles consideram que os EMI são mais usados para contribuir exclusivamente com as políticas científicas e com as metodologias de planejamento, gestão e avaliação da ciência em detrimento das outras opções.

Legenda: 1- atender as finalidades de estudos aplicados a domínios especializados; 2- contribuir com as políticas científicas e metodologias de planejamento, gestão e avaliação da ciência; 3- contribuir com as políticas sociais e institucionais.
Fonte: Elaboração própria (2017).Os estudos com enfoque exclusivo na contribuição para o desenvolvimento dos EMI representam 23,5% da literatura e nas respostas figuram dois respondentes (17%). Esses respondentes consideram que o maior uso dos EMI é para atender as finalidades de estudos aplicados a domínios especializados, já que fazem maior uso dessa modalidade de EMI em suas pesquisas.
Um respondente discorreu sobre uma possibilidade abrangente relativa ao maior uso dos EMI, afirmando que eles permitem a “compreensão da própria ciência produzida, e o que influencia na qualidade e produção de artigos”.
Como síntese das observações sobre os usos mais expressivos dos Estudos Métricos da Informação, as posições dos respondentes concordam com a literatura revisada sobre o domínio, em relação às características fundantes dos EMI e as práticas científicas a eles relacionadas. Nesse sentido, observa-se uma aproximação da resposta predominante nesta questão, de que os EMI são mais usados com finalidades relativas às políticas científicas e metodologias de planejamento, gestão e avaliação da ciência (41,6% dos autores), com a posição de Glänzel (2003) de que a bibliometria destinada à geração de indicadores voltados à política científica e de gestão é o grupo alvo de atuação mais importante da bibliometria contemporânea.
Na pergunta 3, quando questionados se utilizam os EMI como objeto de estudo, como metodologia ou como ambos, a indicação de 67% do universo, contempla ambas as opções, utilizando-os tanto como objeto de estudo quanto como metodologia. As características da produção desses autores são muito variadas, visto que cinco deles utilizam os EMI predominantemente como metodologia; um respondente usa mais como objeto e dois usam de modo mais equilibrado para ambas as ações. A característica que os aproxima é que todos apresentam estudos metateóricos e voltados à política científica com alta expressividade.

No discurso dos autores, não houve incidências para a opção exclusivamente como objeto de estudo. Porém, na prática da pesquisa de dois pesquisadores, houve produção de estudos que se voltaram aos EMI exclusivamente como objeto de estudo. Deve-se observar que esse grupo de autores constitui um cluster que não é o principal responsável pelo desenvolvimento dos Estudos Métricos do G1 de Glänzel. Isso pode significar que os estudos do interdomínio de EMI com a Medicina apresentam potencial para evoluir os métodos do próprio domínio de EMI.
O resultado predominante aponta que esses pesquisadores também contribuem com o desenvolvimento dos Estudos Métricos como domínio científico, segundo a perspectiva de domínio de Lloyd (1995) adotada nesta pesquisa, pois quem respondeu que produz EMI como objeto, também tem a produção com enfoque nos estudos de base.
Na pergunta 4, sobre a aproximação da CI com a Medicina no âmbito dos EMI, quando questionados se já utilizaram algum estudo da Ciência da Informação para fundamentar escolhas metodológicas ou teóricas no âmbito dos EMI, sete pesquisadores (58,3%) responderam que não utilizaram nenhum estudo da CI. Contudo, eles utilizaram os estudos publicados no periódico Scientometrics, que é o veículo de comunicação científica que institucionaliza internacionalmente o domínio dos EMI e que evidencia possibilidades de criação de interdomínios por meio dele, já que articula diferentes campos do conhecimento por seus autores.
Quatro agentes, correspondente a 25% do universo de pesquisadores questionados, responderam que utilizam estudos da CI e citaram R. Tijssen, R. Rousseau, V. Larivière e W. Glänzel como autores conhecidos do domínio.
Relacionando as respostas obtidas em relação à pergunta 4 com a análise bibliométrica da literatura, destaca-se que, dentre os autores mais citados na literatura referenciada pelo corpus, Glänzel é um dos que obteve maior número de citações, com total de 67 citações em 37 artigos do corpus. Essas afirmações confirmam que a produção periódica científica desses autores é coerente com seus discursos sobre o domínio. Os outros autores mencionados nas respostas também foram referenciados no corpus de artigos analisados, mas com pouca expressividade numérica, Tijssen e Rousseau, 5 vezes e Larivière, 3 vezes.
Ressalta-se que esses autores referenciados atuam predominantemente em instituições e grupos de pesquisa focados em pesquisa métrica para o desenvolvimento científico e tecnológico e para a inovação e não têm formação no campo da CI, mas, de modo predominante, em Matemática e em Ciências. Reforça-se, desse modo, o pressuposto de que os pesquisadores que constituem o campo da CI vêm de outros campos e apresentam distintas formações. Evidencia-se que Glänzel e Rousseau têm titulação na Matemática; Tijssen na Psicologia Matemática e nas Ciências Sociais, sendo Larivière o único desta lista que apresenta doutorado no campo da Ciência da Informação.
Em relação aos periódicos que os autores declaram consultar, um respondente afirmou que utiliza .referenciais teóricos de revistas diversas, visto a escassez de revistas indexadas na área”, referindo-se à Medicina, sua área de atuação. Destacou a utilização de revistas como a Scienciometrics e outras revistas da área da Saúde que publicam artigos dessa natureza.
Observa-se, ainda, que um dos periódicos mais citados pelos respondentes é o Brazilian Journal of Medical and Biological Research, voltado à área Médica e Biológica, depois do Scientometrics. Isso mostra um maior desenvolvimento e autonomia dessa área com a realização de Estudos Métricos da Informação. Além disso, Scientometrics é o periódico citante e também citado por eles com maior intensidade, sendo o publicador de 25,4% dos textos citantes que compõem o corpus de análise, e, estando no primeiro lugar como o mais citado, com 10,6% das citações.
Em relação à pergunta 5 (Tabela 1), se os autores consideram que a CI pode contribuir com as investigações métricas e sobre métricas, 75% dos respondentes responderam positivamente. Embora se observe que os pesquisadores desse interdomínio atuam autonomamente em relação aos EMI, demonstram uma abertura às possibilidades de contribuição da CI à realização da metaciência em seus campos. Essa abertura, entende-se aqui, também como uma oportunidade para diminuir as dificuldades listadas por eles na pergunta 6, para a realização de suas pesquisas nesse âmbito.

Dentre os 75% do universo que responderam positivamente, um pouco mais da metade (67%) apresenta sugestões de possíveis contribuições. Os sujeitos que declaram não saber responder (25% dos respondentes) apresentam titulação em áreas não frequentes nesse universo de pesquisadores, e tampouco são vinculados às instituições de origem dos pesquisadores mais produtivos do interdomínio. Esse fato explica o porquê não estão familiarizados com o domínio, apesar de produzirem e aplicarem EMI em seus respectivos domínios.
Na tentativa de apontar, aqui, de que modo a CI pode contribuir ao desenvolvimento dos EMI na Medicina, pode-se dizer que é especialmente no que tange às reflexões e ponderações sobre as implicações sociais desse tipo de estudo, necessárias à evolução de modelos e indicadores mais adequados a contextos específicos. (FREITAS, BUFREM, GRÁCIO, 2017).
Complementando a questão anterior, a pergunta 6 questiona quais as dificuldades encontradas pelos pesquisadores com a realização de suas pesquisas no domínio dos EMI. As respostas, embora variadas, coadunam-se com as relatadas na pergunta 5, sobre como a CI pode contribuir para as investigações métricas. Elas foram categorizadas em três tipos (Quadro 1): dificuldades metodológicas, especialmente decorrentes da falta de conhecimento específico de matemática e estatística; limitações de acesso, que se referem ao acesso a bases de dados e a dados gratuitos de boa qualidade; dificuldades devido à falta de prestígio ou reconhecimento dos EMI pela comunidade científica em que os pesquisadores respondentes atuam. Em termos da intensidade de incidência das dificuldades mencionadas, destaca-se que 42% foram relativas às dificuldades metodológicas, 33% se referiram à falta de prestígio ou reconhecimento pela comunidade e 25% disseram respeito às limitações de acesso aos dados de qualidade.

Destaca-se que a limitação de acesso aos dados de qualidade entre as respostas é decorrente do fato de que poucas bases de dados de acesso gratuito oferecem dados atualizados, padronizados e estruturados que permitam buscas, coletas e análises de dados mais elaboradas. Uma delas que deve ser citada nesse âmbito é a SciELO, consolidada com uma metodologia de publicação eletrônica que possibilita o acesso a indicadores de uso e impacto da produção periódica ali indexada (PACKER et al., 1998).
Destaca-se, nesse cenário, o potencial de contribuição que os profissionais da informação podem agregar aos estudos no interdomínio dos EMI na Medicina, em relação às dificuldades relativas às limitações de acesso aos dados de qualidade, em especial quanto aos aspectos de padronização e atualização.
Salienta-se, ainda, que a dificuldade metodológica é decorrente dos conhecimentos necessários das Ciências Exatas e das Tecnologias da Informação e Comunicação para o desenvolvimento das pesquisas métricas. Nesse sentido, observou-se a menção à falta de mão de obra especializada para realização desses estudos.
O pequeno espaço que os EMI ocupam na Medicina, mesmo sendo muito desenvolvidos por ela, pode ser observado pela manifestação de um respondente relativa à limitada disponibilidade de periódicos da área, com fator de impacto relevantes, que aceitam esse tipo de estudo. Nesse contexto, considera-se que a consolidação do campo de EMI no Brasil vem criando um espaço reconhecido para a divulgação desse tipo de estudo. Apenas um dos pesquisadores respondeu que não tem nenhuma dificuldade, cuja titulação é na área de Ciência da Computação.
A Pergunta 7 questionou se os investigadores consideram que os conhecimentos específicos em suas áreas subsidiam o desenvolvimento dos EMI, 10 deles (83,3% do universo) declaram que sim. Esse resultado parece corroborar a existência de um interdomínio cognitivo. Em seus respectivos campos, em meio às dificuldades habituais da pesquisa, acabam desenvolvendo, ainda que de modo não intencional, as pesquisas relacionadas aos Estudos Métricos.
Em resposta à pergunta 8 (Tabela 2), sobre qual o principal motivo que leva os pesquisadores de sua área à realização de pesquisas que envolvam Estudos Métricos de Informação, 10 pesquisadores (83,3%) responderam com uma opção distinta e outros 2 não souberam responder. Um deles coloca duas opções, por isso número total é 13.

Entre as respostas a essa questão, destaca-se a menção ao fato de as pesquisas nesse âmbito subsidiarem o domínio da Medicina, por gerarem informação relativas à ciência e para processos de análise e formulação de indicadores. Entre os exemplos da utilidade dessas pesquisas, especificamente para análises de citação direcionadas à readequação de políticas científicas, um respondente menciona que os autores nacionais de sua área citam poucos autores nacionais. Nesse sentido, quando se evidenciam tais questões por meio dos EMI, é possível pensar formas para readequar políticas científicas, contornando problemas e buscando valorizar a pesquisa nacional.
Ademais, um respondente mencionou o subsídio dos EMI ao seu domínio de especialidade a fim de conhecer as suas características de publicação e compará-las com outros domínios, se for o caso. Esse conhecimento propicia que se revele a cultura de publicação de cada campo e como ele pode ser impulsionado.
Entre as razões, citou-se o uso dos EMI para identificar o perfil e a distribuição dos bolsistas de produtividade em Pesquisa do CNPq na área da Medicina, finalidade também relacionada às políticas científicas e sua gestão. Portanto, o subsídio que os pesquisadores do interdomínio têm para o desenvolvimento dos EMI em suas próprias áreas são mais de cunho metodológico.
Além disso, observou-se a menção relativa à oportunidade de melhor compreensão da produção da ciência, por exemplo investigar se há um ‘gap’ entre os sexos na produção cientifica e seu motivo, o que reforça a ideia da impossibilidade de dissociar quantidade e qualidade, pois determinados padrões, eventos e acontecimentos que podem ser mensurados só podem ser compreendidos quando contextualizados.
A curiosidade, mencionada entre as respostas, pode estar relacionada aos estudos metateóricos destinados a analisar o comportamento de um campo científico, já que esse autor apresenta mais estudos aplicados.
Como motivação para as pesquisas métricas em Medicina, relatou-se também a existência de duas vertentes principais: uma relativa aos pesquisadores que buscam conhecer a dinâmica da ciência brasileira por meio da metodologia de investigação métrica; e outra referente ao uso da metodologia métrica para lidar com propostas que atendem mais a curiosidades de caráter secundário.
Para melhor retratar o conhecimento que os autores têm sobre o domínio de EMI, a Pergunta 9questiona em qual momento histórico e por qual razão os EMI se tornaram mais frequentes em suas áreas de pesquisa. Os resultados estão presentes na Tabela 3.

Dentre as diferentes respostas, menciona-se o surgimento do domínio na década de 1980 e sua popularização na década de 2000, com a criação da Web of Science (WOS) e das bases de dados indexadoras. Essas bases apresentam papel efetivo para as análises de produção científica e para a realização de Estudos Métricos da Informação. Como já mencionado na metodologia dessa pesquisa, Scopus e Web of Science são referência internacional para a medida da produção científica dos países (PACKER, 2011). Segundo Rodrigues, Quartiero e Neubert (2015), em estudo sobre os periódicos científicos indexados em ambas as bases, a Medicina é a área do conhecimento com maior número de títulos indexados nessas bases. Nesse sentido, corrobora-se a importância delas para as pesquisas do interdomínio estudado.
Entre as respostas registradas, observou-se a menção à criação da Web of Science e a produção de conhecimento pelo ISI, como marcos para os Estudos Métricos na área de Saúde no Brasil. Também o crescimento da participação brasileira na ciência mundial foi mencionado como relevante para o aumento de interesse na realização de pesquisas na Medicina associadas aos EMI.
A criação da altmetria, cuja contribuição consiste na valorização dos estudos cientométricos a partir de dados webométricos e cibermétricos foi mencionada por um dos respondentes. Em relação a esta resposta, considera-se importante destacar que os estudos altmétricos vêm conquistando mais espaço entre as pesquisas, com início na presente década.
Considerando-se a importância em se reconhecer os EMI como campo de pesquisa, buscou-se desvendar, pela análise das respostas do questionário e da produção científica desses respondentes, como esse domínio se estrutura no que tange ao discurso de seus agentes e à efetiva prática desses pesquisadores.
Ao longo da análise, observa-se que os EMI são desenvolvidos em diferentes domínios da Medicina para dar suporte à gestão e à avaliação científica, a fim de distribuir fomentos e recursos e para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia. Essas são algumas das razões elencadas que levam os pesquisadores a produzirem conhecimento sobre EMI, buscando desenvolver metodologias ou aplicá-las em seus respectivos domínios.
Entretanto, mesmo considerando que os EMI se desenvolveram como uma frente de pesquisa institucionalizada para a CI, observa-se que as relações da contribuição da CI aos outros campos por meio deles, tanto as explicitas quanto as implícitas, que ocorrem pela aproximação de conteúdos e conhecimentos em projetos interdomínios, não são consideradas pelos pesquisadores respondentes como fundamentais à Medicina para o seu desenvolvimento. Nesse contexto, observa-se que a própria CI desenvolve-se fundamentalmente a partir de contribuições substanciais de pesquisadores de outras áreas, com destaque para as Ciências Exatas, Naturais e da Saúde.
Se analisada a literatura da CI sobre EMI (BUFREM; FREITAS; GABRIEL JUNIOR, 2014), infere-se que as dificuldades relatadas pelos seus pesquisadores são similares às dificuldades que os pesquisadores do interdomínio com a Medicina apresentam para a realização de seus trabalhos, como por exemplo: o trabalho com grande volume de dados, o manejo de ferramentas computacionais o e desenvolvimento de metodologias e indicadores. Sob esse ponto de vista, nota-se que a CI incorpora conhecimentos de outros domínios para seu próprio desenvolvimento.
As possíveis contribuições da CI, sugeridas nas respostas, estão distantes das condições reais de contribuição do campo à Medicina, não somente devido à inexpressividade numérica de trabalhos em interdomínios, como também devido às limitações da formação dos profissionais da CI para que possam apoiar a realização destes estudos na Medicina e em outros campos.
Além disso, deve-se alertar para a falta de visibilidade internacional da produção periódica científica brasileira da CI, que apresenta uma quantidade expressiva de pesquisas que buscam desenvolver os EMI, mas que não estão indexadas de maneira significativa nas bases de dados de maior visibilidade global.
Considera-se, aqui, que as contribuições da CI em relação aos EMI para o campo da Medicina e outros campos, podem subsidiar de forma significativa a reflexão sobre as questões sociais envolvidas nos EMI em campos científicos distintos.
Constata-se que o conjunto de conhecimentos relacionados aos EMI, além de transcender as fronteiras disciplinares constituindo-se como um interdomínio, constitui-se como um domínio que vai além de ferramenta metodológica e que demanda o desenvolvimento de modelos, conceitos e teorias para dar suporte às suas práticas e aplicações. Nesse sentido, os EMI são reconhecidos por apresentarem essas características pelos agentes do interdomínio da Medicina.
Esse reconhecimento ajuda a fortalecê-lo como campo de investigação e também a admitir que a CI e as suas disciplinas precedentes como a Biblioteconomia e a Documentação, como precursoras desse domínio, poderiam trabalhar em prol do desenvolvimento de uma metaciência que possibilite, por um lado, a geração e o melhoramento de ferramentas para coleta, organização, gestão, análise e avaliação da produção científica, por outro lado, que permita o entendimento da investigação científica como uma atividade constituída pela articulação de dimensões sociais com dimensões técnicas, desvelando relações subjacentes a dados e informações coletadas.
Considera-se significativo destacar que Freitas (2017) e Freitas, Bufrem e Grácio (2017) contribuem para o enriquecimento das questões tratadas nesta pesquisa, ao analisá-las de forma mais detalhada, a partir da perspectiva do método bibliométrico.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi construída a partir das reflexões sobre a necessidade de estabelecimento de relações e aproximações de interdomínios, que surgiram da oportunidade de identificar as contribuições de um campo específico a outro, nesse caso, dos Estudos Métricos da Informação à Medicina, e da dificuldade de encontrar evidências perceptíveis dessas relações na prática da pesquisa.
Considera-se que os EMI são um campo ainda em constituição no Brasil e que há a possibilidade de que ele congregue outros campos ou domínios, revelando aspectos de sua origem e formalização que influenciam as tendências de pesquisa nesses domínios. Portanto, um campo ou domínio apreendido por outros distintos campos pode tornar-se fundamental ao campo ou domínio em que foi incorporado, independentemente de sua origem. Logo, deve-se destacar que os EMI se constituem como um domínio, que estabelece a interlocução entre outros diferentes domínios.
A análise das respostas do questionário, complementada pela análise da produção científica, permitiu a compreensão de como os EMI são concebidos e entendidos pelos pesquisadores do interdomínio e com quais finalidades são realizados. Também se pôde visualizar como esses pesquisadores consideram que a CI pode contribuir com o desenvolvimento desse interdomínio e dos EMI.
Sobre essas potenciais relações de contribuição entre ambos os campos, pensadas a partir dos resultados da análise, sugere-se que a falta de visibilidade internacional dos periódicos brasileiros da CI é um aspecto que dificulta o reconhecimento desse campo para os Estudos Métricos da Informação. Isso se deve ao fato de que a produção periódica científica brasileira de CI mais acessada internacionalmente limita-se a um número pequeno de periódicos indexados em bases como Scopus e Web of Science.
Além dessa consideração, esses resultados incitam a reflexão sobre a formação curricular do campo da CI, propondo o seguinte questionamento: até onde essa formação permite que os pesquisadores e profissionais da CI trabalhem para a criação de modelos de análise e produzam investigações em Estudos Métricos da Informação que tenham visibilidade nacional e internacional? Contudo, como já retratado na análise, considera-se que as contribuições da CI aos EMI seriam mais significativas e teriam alcance mais expressivo no que se refere à reflexão sobre os métodos e indicadores que vêm sendo utilizados em contextos específicos, com a crítica para o aperfeiçoamento do uso de modelos e metodologias de análise, gestão e avaliação da ciência, do que propriamente com a construção e proposição desses modelos e indicadores.
Os aspectos a serem superados para a realização de EMI em ambos os campos, Medicina e CI, convergem em suas características de produção e evidenciam a necessidade de trabalho conjunto com profissionais da Ciência da Computação e da Estatística. Com efeito, pode-se sugerir um fortalecimento do ensino do conteúdo dessas disciplinas nas grades curriculares da CI, especialmente em relação aos conhecimentos mais utilizados, oriundos desses domínios para o trabalho com os EMI.
Considera-se, portanto, que a CI se fortalece, sobretudo na possibilidade de contribuir com outros campos, para que estes a alimentem num constante movimento dialético de construção científica, tanto em relação à dimensão aplicada, como em relação à dimensão social.
Argumenta-se, enfim, que quanto mais domínios os EMI permeiam, via coautorias entre agentes de distintos campos ou de publicações em diferentes campos, maiores são as possibilidades de serem reconhecidos e de que os investigadores da CI possam aportar conhecimento relacionado aos EMI a esses campos.
Em conclusão, destacam-se possibilidades de continuidade e aprofundamento desta pesquisa, com a aplicação de entrevistas aos mesmos pesquisadores, respondentes do questionário, a fim de tornar mais precisas e aprofundadas as análises realizadas. Além disso, almeja-se a possibilidade de aplicação das diretrizes metodológicas aqui desenvolvidas, em outros contextos, para análises da produção científica de diferentes interdomínios.
Materiales Suplementarios
Referências Coletadas (pdf)
Questionário Utilizado (pdf)
Matriz (pdf)
Gratidão
À Fapesp que possibilitou a realização dessa pesquisa, fruto de tese doutoral de uma das autoras, com financiamento de Bolsa.
REFERÊNCIAS
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FREITAS, J. L.; BUFREM, L. S.; GRACIO, M. C. C. Diretrizes metodológicas para análises relacionais: estudo aplicado à medicina. In: XVIII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ? ENANCIB, 2017, Marília, SP. Informação, Sociedade e Complexidade, 2017. Anais eletrônicos... disponível em: http://enancib.marilia.unesp.br/index.php/xviiienancib/ENANCIB/paper/viewFile/323/1034. Acesso em: 12 jun. 2019.
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Notas
Informação adicional
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA: Concepção e elaboração do manuscrito: J. L. Freitas Coleta de dados: J. L. Freitas Análise de dados: J. L. Freitas Discussão dos resultados: J. L. Freitas, L. S. Bufrem; M. C. C. Grácio Revisão e aprovação: L. S. Bufrem; M. C. C. Grácio
CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA: O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo está disponível publicamente.
APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA: A pesquisa obteve aprovação do Comitê de ética da Instituição, Número do Processo: 44891715.3.0000.5406. Número do Parecer: 1.117.989, Data da relatoria: 27/05/2015.
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PUBLISHER: Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
EDITORES: Enrique Muriel-Torrado, Edgar Bisset Alvarez, Camila Barros