Estudos de Caso

Médiathèques como centros informacionais de desenvolvimento das ações culturais municipais: o caso da cidade de Lille/França

Mediathèques as informational centers for the development of municipal cultural actions: the case of Lille / France

Alessandro RASTELI
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil

Médiathèques como centros informacionais de desenvolvimento das ações culturais municipais: o caso da cidade de Lille/França

Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 25, pp. 1-20, 2020

Universidade Federal de Santa Catarina

Recepção: 01 Outubro 2019

Aprovação: 22 Fevereiro 2020

Publicado: 20 Maio 2020

Financiamento

Fonte: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP).

Beneficiário: Alessandro RASTELI

Resumo: Objetivo: Descrever o retrospecto histórico, o conceito, as características e os serviços das médiathèques municipais de Lille, França. Almejando-se, desse modo, em colaborar na divulgação das bibliotecas francesas em território brasileiro através de seu paradigma, perspectiva histórica, práticas e serviços.

Método: Trata-se de um estudo de caso descritivo, de natureza qualitativa, utilizando-se também a pesquisa bibliográfica e documental. A busca e seleção dos materiais bibliográficos que compuseram o referencial teórico da pesquisa efetivou-se através de documentos franceses em sites, bases de dados e materiais impressos.

Resultado: Em meados de 1970, as bibliotecas públicas na França passaram a ser denominadas de médiathèques. Concebidas como um novo espaço cultural, as médiathèques (bibliotecas de mídia, biblioteca multimídia ou midiateca), estão pautadas no paradigma moderno de biblioteca, vinculando-se, desse modo, a novas práticas profissionais, a novos documentos (audiovisuais), a novas formas de fluxos de comunicação e informação, revertendo-se em novas formas de acesso e representação da biblioteca para a sociedade.

Conclusões: A transformação das bibliotecas francesas em médiathéques denotam, entre diversos fatores, a evolução dos gostos e práticas de leitura, as novas formas de acesso e apropriação de fluxos informacionais emergentes, posicionando-se e representando para a sociedade uma instituição moderna, necessária, acolhedora e democrática.

Palavras-chave: Médiathèque, Bibliotecas francesas, Biblioteca de mídia, Bibliotecas municipais – Lille.

Abstract: Objective: To describe the historical background, concept, characteristics and services of the municipal mediathèques of Lille, France. Thus, aiming to collaborate in the dissemination of French libraries in Brazilian territory through their paradigm, historical perspective, practices and services.

Methods: This is a descriptive case study of a qualitative nature, also using bibliographic and documentary research. The search and selection of bibliographic materials that made up the theoretical framework of the research was carried out through French documents on websites, databases and printed materials.

Results: In the mid-1970s, public libraries in France were renamed mediathèques. Conceived as a new cultural space, mediathèques (media libraries, multimedia libraries or media libraries) are based on the modern library paradigm, thus being linked to new professional practices, new (audiovisual) documents, new forms communication and information flows, reverting to new forms of access and representation of the library to society.

Conclusions: The transformation of French libraries into media théques denotes, among many factors, the evolution of reading tastes and practices, the new forms of access and appropriation of emerging information flows, positioning themselves and representing for society a modern, necessary institution. welcoming and democratic.

Keywords: Municipal media library, Libraries in France, Media library, Municipal libraries - Lille.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do humanismo a partir do século XIV e especialmente a invenção da imprensa no final do século XV colaboraram na ascensão das bibliotecas na Europa.

No século XVII, a obra célebre do francês Gabriel Naudé, Advis pour dresser une bibliothèque (1627) contribuiu para o avanço das bibliotecas com o primeiro manual de biblioteconomia, propondo uma série de inovações e mantendo-se relevante até os dias atuais.

Devido à Revolução Francesa, no século XVIII, deslocaram-se diversas coleções particulares, acumuladas por estudiosos e bibliófilos, para os acervos das bibliotecas públicas, ficando ao alcance do grande público, revertendo-se em ações para a democratização da cultura escrita. Em novembro de 1789, um decreto da Assembléia Nacional da França ordenava que os mosteiros e colegiados depositassem nos cartórios ou municípios reais os catálogos de suas bibliotecas colocando-os à disposição de todos (MASSON; PALLIER, 1961, p. 38-39).

No século XIX, como resultado do progresso na área da educação, dos fluxos de informação e das mudanças no modo de vida coletiva, as bibliotecas universitárias, populares, juntamente com as municipais multiplicaram-se.

No percurso do século XX, as bibliotecas francesas, no que tange aos aspectos da organização do conhecimento, desenvolveram-se também sob o impulso da classificação do americano Melvil Dewey e do francês Eugene Morel, refletindo-se em melhorias nos âmbitos técnicos bem como na classificação e na disposição dos catálogos. Foi nesse período que se iniciou a adoção do acesso aberto as coleções. O usuário leitor, então, começou a ocupa um lugar predominante, pois era necessário pensar a organização para torná-la legível e acessível.

Apesar desses avanços, até meados do século XX, as bibliotecas na França representaram divisões culturais tradicionais, mantendo-se numa concepção clássica: refúgios de paz, tranquilidade, dedicadas ao estudo, à concentração e ao silêncio. Para Melot (2007), essa era a imagem clichê das bibliotecas encontradas na literatura da área nos séculos XIX e XX.

No entanto, a partir da década de 1950, as bibliotecas francesas iniciaram um período de transformação e de redefinição de seus papeis e práticas, observando-se uma diversificação de serviços como a adoção gradual de programações culturais, incluindo exposições diversas, contação de histórias, conferencias, seminários, entre outras atividades de cunho artístico e de incentivo à leitura pública.

Na década de 1960, em meio a um contexto sociocultural de rápida alteração, a exemplo da explosão documental e da emergência de políticas culturais municipais, desencadeou-se uma crescente proliferação de bibliotecas modernas, incidindo na criação de espaços infantis e discotecas (POIRIER, 1995).

A leitura pública, no decorrer da década de 1970, segundo Poissenot (2002, p. 24), foi marcada pela multiplicação pelas criações de médiathèques (bibliotecas de mídia, biblioteca multimídia ou midiateca).

Nesse andamento, o desenvolvimento das bibliotecas públicas francesas deu-se em relação a diferentes fatores: o aumento da parcela da população em busca pelo ensino superior, o impulso através de políticas culturais do Estado, a construção de edifícios específicos e a adoção do paradigma de médiathèque.

Desse modo, a parir da década de 1970, as bibliotecas públicas francesas passaram, gradativamente, a ser denominadas de médiathèques, sendo concebidas como um novo espaço cultural (ROBILLARD, 1996).

A implantação das médiathèques objetivou apresentar o equipamento de leitura pública com novas bases de desenvolvimento cultural, de coesão social e democracia cultural, complementando ações para a leitura, o audiovisual, as artes plásticas e o entretenimento ao vivo (ROBILLARD, 1996).

Desse modo, as médiathèques, como um novo espaço cultural multidisciplinar, requereram dos bibliotecários novas atitudes, competências e habilidades, além de um trabalho conjunto com outros especialistas (arquitetos, programadores etc.) (VALLET, 1988).

As médiathèques vincularam-se, assim, a novas práticas profissionais, novos documentos audiovisuais, novas formas de fluxos de comunicação e informação, revertendo-se também em novas formas de acesso e representação da biblioteca para a sociedade (PASSERON, 1982).

Vallet (1988) descreveu as médiathèques como espaços de cultura e informação, tornando-se cada vez mais lugares privilegiados de encontro, vida, trabalho e espaços para a vida cotidiana.

Diante do exposto, tem-se como intuito a apresentação do conceito de médiathèque, bem como as características e os serviços da rede de Médiathèques Municipales de Lille. Para tanto, houve a necessidade de contextualizar a metrópole de Lille – cidade situada no extremo norte da França – considerando-se sua evolução e características atuais. Como decorrência, objetivou-se também em colaborar na divulgação das Médiathèques Municipales de Lille através de seu histórico, atuação, práticas e serviços.

Avalia-se que as bibliotecas brasileiras, especificamente as públicas e escolares necessitam, sobretudo, de paradigmas modernos, exemplos, propostas e empenhos por parte de toda a sociedade no desígnio de transformar esses equipamentos culturais e informacionais em aparelhos vitais e necessários para o desenvolvimento social.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a consecução do objetivo proposto, realizou-se um estudo de caso descritivo das Médiathèques Municipales de Lille. Na acepção de Marconi e Lakatos (2011, p.276), o estudo de caso “reúne o maior número de informações detalhadas, valendo-se de diferentes técnicas de pesquisa, visando apreender uma determinada situação e descrever a complexidade de um fato”.

O estudo de caso das médiathèques foi possível em função do estágio realizado na cidade de Lille através do Groupe d'Études et de Recherche Interdisciplinaire en Information et Communication (GÉRiiCO)[1], da Université Lille 3, no período de setembro a novembro de 2018.

A pesquisa possui abordagem qualitativa, adotando-se também os métodos de pesquisa bibliográfica e documental. A busca e seleção dos materiais bibliográficos que compuseram o referencial teórico efetivaram-se através do idioma francês, especialmente nas bases de dados: Bulletin des Bibliothèques de France[2], Bibliothèque Municipale de Lille[3], Association des Bibliothécaires de France[4], Base de données Gallica[5] e o Catálogo da Bibliothèque Universitaire Sciences Humaines et Sociales - Université Lille 3[6].

A pesquisa documental deu-se por intermédio dos materiais impressos de divulgação (cartazes, folhetos, folders e panfletos), além de documentos resgatados através da divulgação eletrônica realizada pelas Médiathèques Municipales de Lille.

Para o levantamento bibliográfico foi utilizado os seguintes termos de busca: <services offerts par les médiathèques de Lille>, < médiathèques de Lille>, <Ville-Lille>, < concept de médiathèque>, < Histoire des médiathèques en France>, <bibliothèques de Lille> e <médiathèques>.

Após a seleção bibliográfica e documental, realizou-se a tradução dos materiais bibliográficos pertinentes, utilizando-se em seguida a análise e a inferência para a composição do trabalho.

3 LILLE – RETROSPECTO HISTÓRICO E CONTEXTO ATUAL

Lille, a quarta maior cidade da França situa-se na região denominada Hauts-de-France, localizando-se perto da fronteira com a Bélgica e do Canal da Mancha. Não existe um consenso sobre a data de surgimento da cidade e muito menos dos personagens que a fundaram. Os cronistas alemães, todavia, reportam que a cidade surgiu quando Júlio Cesar escravizou a Gália (58 a.C.), porém, nenhuma fonte plausível confirma esse testemunho (ROSNY, 1838, p. 9).

O registro mais antigo mencionando a existência da cidade foi encontrado em missiva datada de 1066, cujo remetente, o conde de Flanders - Baudouin V, concedia um dote (terras) ao Collégiale de Saint-Pierre.

Segundo Allain (2000, p.3), desde a Idade Média Lille baseou seu desenvolvimento no comércio e na indústria têxtil, período em que a cidade organizou-se em torno do fórum, do mercado central (atual Grand'Place – grande praça) e do castrum (núcleo urbano fortificado), atual Vieux-Lille, bairro com arquitetura medieval preservada e com intenso fluxo turistico, repleto de lojas, bares, restaurantes, confeitarias, patisserie . ateliers de artes.

O bairro Vieux-Lille possui uma diversidade arquitetonica do século XVII, encontrando-se totalmente preservado, onde também estão localizados a Catedral de Notre-Dame-de-la-Treille, de estilo neogótico e o Museu Hospice Comtesse, cujo prédio, edificado em 1237, foi doado pela Condessa de Flandres para abrigar o hospital Hospice Comtesse.

Após sucessivos ataques e batalhas pelos Borgonha, flamengos e espanhóis, Luís XIV conquistou definitivamente a cidade para a França em 1667, transformando-se profundamente a estética da cidade pela introdução do estilo clássico francês. Foi nesse contexto que as fileiras de casas quase idênticas desenvolveram-se, aliando o gosto francês da época com as tradições arquitetônicas locais.

Sob a liderança burguesa, Lille tornou-se no século XIX uma grande potência industrial cujos pilares pautaram-se na metalurgia, química e especialmente na produção têxtil. Período marcado também por um relevante êxodo rural, dando prosseguimento a uma urbanização anárquica diante de uma prospera industria têxtil.

Em 1858, em plena expansão industrial, a cidade ampliou-se, anexando as comunas vizinhas de Wazemmes, Esquermes, Moulins e Fives, triplicando sua superfície territorial e duplicando sua população. Grandes avenidas, praças e parques foram organizados de acordo com o estilo Haussmann para receber monumentos imponentes e instituições como a Prefeitura e o Palais de Beaux Arts (Palácio de Belas Artes), museu construído por ordem de Napoleão Bonaparte.

Bombardeada no decorrer das duas Grandes Guerras, Lille foi parcialmente incendiada e destruida. Após a libertação, a cidade seguiu sua reconstrução reforçando-se como relevante polo industrial na área têxtil.

Contudo, a crise industrial, surgida no decorrer da década de 1950, expandiu-se pelas décadas seguintes atingindo duramente a cidade, iniciando-se pela produção têxtil e incidindo-se para outros setores econômicos.

A partir de 1990, iniciou-se um período de reestruturação na cidade baseado no desenvolvimento do setor terciário. A cidade de fábricas antigas e oficinas deu lugar a escritórios modernos e prestação de serviços, encontrando outras formas em sua vocação medieval de cidade comercial, como o turismo, o comércio e a educação superior, por exemplos.

A ligação de trem TGV Lille-Paris em 1993, a criação do novo bairro Euralille e a chegada do Eurostar em 1994 ligando Lille-Londres, somaram-se em ativos, permitindo que a cidade entrasse no terceiro milênio como a quarta metrópole francesa.

Lille é também classificada como "estância turística" e "Cidade da Arte e da História", designada capital europeia da cultura em 2004. Atualmente, a região metropolitana de Lille conta com cerca de 1,2 milhão de habitantes, somando-se 36 cidades, onde vivem e transitam por seus espaços várias etnias como árabes, indianos, tunisianos, africanos, latinos, ciganos, refugiados e muçulmanos. Nesse aspecto, Lille tornou-se uma metrópole multicultural e estudantil com grandes fluxos migratórios.

Na cidade existem diversos monumentos históricos, atrações culturais e artísticas, reforçando desde 2004, o título de cidade historica e artística. De acordo com os dados da prefeitura de Lille[7], a cidade dispõe de 11 museus, 9 bibliotecas/médiathèques municipais, 10 centros de cultura e artes, 18 teatros, 3 arquivos municipais, 1 biblioteca instalada em hospital e 1 biblioteca na penitenciária.

Somando-se a esses dispositivos de cultura, a cidade possui 5 bibliotecas universitárias, 17 bibliotecas especializadas e 3 bibliotecas populares, além de inúmeras livrarias e sebos.

O cuidado com a população pode ser visto também pelo passeio público, onde na maioria das ruas existem faixas exclusivas para pedestres, ciclistas e pessoas com patinetes, respeitando-se, sobremaneira, a locomoção de bicicletas e também impulsionando esses esportes. Uma característica de mobilidade esportiva na cidade é a ampla utilização de bicicletas e patinetes.

A cidade é hoje um importante destino turístico europeu, reconhecida pelo seu acolhimento, herança cultural, arquitetura preservada e intensa vida cultural e artística. Lille mantém uma extensa agenda cultural durante todo o ano com diversificados eventos, jornadas, festivais gastronomicos (comidas típicas e cervejas), concertos de ópera, apresentações de dança, festas de música, exposições (fotografias, pinturas), feiras de livros usados – onde antes funcionava o prédio da bolsa de valores, discos, objetos antigos e ilustrações etc.

Apesar de diversos aspectos positivos e avanços consideráveis em áreas como transporte, educação, esportes, bibliotecas e museus, não se pode menosprezar a fratura social existente entre as camadas sociais. Contudo, o desenvolvimento urbano e a metropolização ainda não beneficiaram a todos, reforçando a exclusão dos mais pobres e estigmatizando certos bairros habitados por imigrantes.

4 MÉDIATHÈQUE: CONCEITO

O conceito de médiathèque surgiu em meados de 1970 e desenvolveu-se na década de 1980, quando o conteúdo audiovisual (documentos sonoros e gravações em vídeo) passaram a ser considerados testemunhos culturais da mesma forma que a linguagem escrita.

De acordo com a Base de dados Enssib[8], o termo médiathèque existe apenas na França, designando, a partir da década de 1970, o conceito de biblioteca pública acolhedora e aberta a uma pluralidade de meios de comunicação.

De acordo com Robillard (1996), a biblioteca de mídia acentua ainda mais a capacidade de atrair o público, multiplicando o impacto das bibliotecas tradicionais. Na contra-mão da biblioteca clássica (refúgio de tranquilidade, dedicada ao estudo, concentração e silêncio), a biblioteca de mídia, segundo o autor, conseguiu adicionar as noções de convívio, abertura, reunião, desenvolvendo animações culturais, comunicação, qualidade e pluralidade de coleções (o conhecimento através da imagem continua evoluindo), apresentando informações sobre a vida local, associativa, cultural, esportiva e turística. “A biblioteca de mídia comprova sua capacidade de aprimorar a abordagem cultural; combina seu papel principal de salvaguardar e preservar o patrimônio (escrito, audiovisual etc.) com uma grande abertura ao mundo contemporâneo” (ROBILLARD, 1996, p. 59, tradução nossa)[9].

Na escavação de um cenário histórico, Bertrand (1994) informa que em 1977 as autoridades municipais de Metz (cidade no nordeste da França), decidiram denominar a biblioteca pública local de médiathèque, argumentando que esse neologismo teria a vantagem de eliminar a empoeirada aura, marca ultrapassada e pouco lisonjeira que se atribuia à palavra biblioteca.

No decorrer das décadas de 1980 e 90, outras bibliotecas na França passaram a ser denominadas de médiathèque, a exemplo de cidades como Arles, Beauvais, Chambery, Corbeil, Le Mans, Liboume, Nancy, Nantes, Nimes, Saint-Nazaire e Tourcoing.

“O conceito de biblioteca de mídia é baseado em pressupostos políticos, que se traduzem em propostas técnicas. A ideia está em trazer o público a bibliotecas atraentes, anteriormente desconhecidas. Atraentes, modernas e acolhedoras para toda a população” (BERTRAND, 1994, p. 9, tradução nossa)[10].

O pressuposto político, por trás da ideia inicial da médiathèque, revela-se em que as bibliotecas têm um papel a desempenhar na sociedade.

Ainda segundo Bertrand (1994), este papel não pode ser a simples satisfação do público tradicional, alfabetizados e estudantes que frequentam as bibliotecas espontâneamente, mesmo que sejam velhas, chatas e sem recursos. Mas a proposta converte-se em trazer a todos, sem exclusão de idade, status educacional, cultural ou econômico, informação, formação e cultura. Toda a população deve ser capaz de acessar informações fundamentadas, conhecimentos compartilhados e o patrimônio cultural coletivo.

A transformação da biblioteca pública para médiathèque, de acordo com Vallet (1998), é um fenômeno que certamente reflete um desejo geral de renovação das bibliotecas. Isso atesta, acima de tudo, o nascimento de um mercado e a nova participação que representa hoje a “midiateca" no equipamento urbano.

A alteração do termo biblioteca para médiathèque,implica, primeiramente, na evolução da tecnologia relacionada também a expansão das funções da biblioteca. O som, a imagem e o gerenciamento computadorizado dos dados nos antigos templos de escrita tiveram uma importância crescente, sendo traduzida por uma mudança de terminologia, explica Vallet (1998).

Ao responder sobre o grande sucesso de público das bibliotecas de mídia, Bertrand (1994, p. 12), selecionou as seguintes justificativas: atendem as crescentes necessidades documentais da população; oferecem um espaço público não segregado para uma comunidade cada vez mais fragmentada e encorajam várias práticas culturais, sem sanção de validade e pedagogismo míope.

Não se trata apenas de uma questão de terminologia, diz Bertrand (1994), mas a oferta simultânea no mesmo local de diferentes mídias cria outra identidade para a biblioteca, revertendo-se na busca pela modernidade, no acesso livre, na abundância e diversidade de coleções, e também no convívio.

5 MÉDIATHÉQUES MUNICIPALES DE LILLE

A inauguração da nova instalação da Bibliothèque Municipale de Lille - Jean Levy, em 6 de novembro de 1965, marcou uma renovação na história de uma instituição rica e com um longo percurso (CROMBEZ, 1966).

Como em muitas bibliotecas francesas, a Bibliothèque Municipale de Lille (Biblioteca Municipal de Lille - BML) teve uma filiação direta com uma biblioteca religiosa, neste caso, a biblioteca do Collégiale Saint-Pierre no início do século XVIII (ALLAIN, 2000, p. 3).

Retrospectivamente, Crombez (1966) relata que o acervo da futura biblioteca municipal ocupou a Eglise de Récollets, sendo transferido depois, em 1848, para a nova prefeitura na Rue des Fossés, sendo anexado ao seu acervo valiosas doações (incunábulos, manuscritos e impressos), por cidadãos locais.

No entanto, Allain (2000, p. 5) e Crombez (1966), descrevem que os empréstimos para jovens não existiam, seus espaços eram precários e reduzidos, em todos os sentidos do termo e o público não tinha acesso direto as obras preservadas.

Apesar das condições materiais bastante precárias, Crombez (1996) destaca que tratou-se de um período de desenvolvimento onde os leitores enriqueciam constantemente o acervo com compras de livros novos e doações.

Especialmente, em 1898, o Marquês Godefroy de Menilglaise doou um grande acervo, enriquecendo a coleção da biblioteca com 10.000 cópias impressas e 183 manuscritos medievais (ALLAIN, 2000, p.4).

Era, portanto, uma biblioteca em plena expansão, mas que forçosamente teve que ser paralisada em 1914 durante a Primeira Guerra Mundial pela invasão das tropas alemãs. O dia 23 de abril de 1916 foi marcado por um bombardeio que incendiou e arruinou parte da prefeitura: os fundos da biblioteca foram parcialmente destruídos pelo fogo e pela água, tendo que, forçosamente, suas obras serem transferidas para a biblioteca universitária (CROMBEZ, 1996).

Em sua breve retrospectiva, Allain (2000) relembra que:

Praticamente desprovida de sua própria equipe, a biblioteca municipal desaparece permanentemente da cena de Lille, e é somente em 1960 que a decisão de construir um prédio específico e remover a biblioteca da direção da biblioteca da universidade é tomada (ALLAIN, 2000, p. 4, tradução nossa)[11].

Após um longo e sinuoso percurso, em 6 de novembro de 1965, a Biblioteca Municipal de Lille instalou-se oficialmente em sua nova sede, na Rue Edouard Delesalle, onde permanece até hoje, fixando proximidades com a prefeitura, a Grand Place, a Place de la Republique e o Palais des Beaux-Arts.

De acordo com Aubry (2005, p. 5, tradução nossa), a biblioteca foi “[...] considerada na época como uma das mais modernas da Europa, contribuindo fortemente para a renovação urbana do centro de Lille, e especialmente do bairro [...]”[12].

Gradualmente, a biblioteca, inicialmente dedicada exclusivamente ao livro, abriu-se para outras mídias: o disco (LP), a fita K-7, o vídeo, depois a internet e o DVD, a ponto de se tornar uma verdadeira biblioteca de mídia (AUBRY, 2005, p. 5).

Na década de 1980, o desenvolvimento da leitura pública baseada numa política de democratização cultural, descentralização e extensão da rede municipal, iniciou a implementação de outras bibliotecas nos bairros (QUENEUTTE, 2005, p. 54).

Ao longo dos anos, a Biblioteca Municipal desenvolveu-se consideravelmente: introduziu gradualmente uma biblioteca em cada bairro, integrou as novas mídias, propos um programa de ação cultural cada vez mais rico, promoveu a circulação de coleções entre os bibliotecas de mídia, atuando "fora da parede", especialmente em prisões e hospitais, desenvolvendo serviços adaptados ao público com portadores de necessidades especiais e, acima de tudo, ao público com deficiência visual (VERGNAUD-CHEVALARD, 2017).

Quadro 1
Médiathèques municipais de Lille.
MédiathèquesLocais/Bairros
Médiathéque Jean LévyLille-centre
Médiathéque des Blois-BlancBlois-Blanc
Médiathéque du Vieux-LilleVieux-Lille
Médiathéque de WazemmesWazemmes
Médiathéque de Lille MoulinsMoulins
Médiathéque de FivesFives
Médiathéque de Lille-SudLille-Sud
Médiathéquedu Faubourg de BéthuneFaubourg de Béthune
Le Centre pénitentiaire de Lille-SequedinSequedin
Médiathéquel’Hôpital Claude HURIEZLille-Sud
Médiathéque Saint Maurice PellevoisinSaint Maurice Pellevoisin
Fonte: Bibliothèque Municipale de Lille (2019)

A evolução das políticas municipais resultaram em estratégias de intervenção no campo da leitura pública, resultaram no início da implantação de bibliotecas nos bairros (ALLAIN, 2000, p.6).

A primeira biblioteca ramal a ser implantada foi a do bairro Bois Blanc, em 1972, no mesmo ano em que foi criado o serviço de extensão bibliobus. Em seguida, a próxima biblioteca instalada foi no bairro de Vieux-Lille, em 1981. No ano de 1985 sucedeu-se a renovação do bibliobus. Em 1987 criou-se a biblioteca de Wazemmes.

O ano de 1991 marcou a instauração das bibliotecas dos distritos de Moulins e de Fives. Em 1988 deu-se a criação da biblioteca de Lille-Sud. A biblioteca de Faubourg de Béthune surgiu em 2003.

Em 2005 foi aberta a biblioteca no centro penintenciário de Lille-Sequedin, cuja intervenção objetivou difundir a leitura para o público do centro prisional (CRONKITE, 2016, p. 21).

A biblioteca de mídia do Hospital Claude HURIEZ foi inaugurada em janeiro de 2009, através do programa "Cultura no hospital", iniciado pelo Ministério da Cultura e Comunicação, em parceria com o Ministério da Saúde. Em derradeiro, foi inaugurada a médiathèque do bairro Saint-Maurice Pollevision, no de 2014 (ALLAIN, 2000).

Atualmente, Cronkite (2016) avalia a BML como um serviço público cultural e educacional, contribuindo para o enriquecimento cultural de seus usuários, para seu treinamento, para suas informações, através do compartilhamento de conhecimentos e da prática de lazer e para uma convivência benéfica para todos.

Ao longo dos anos, a BML desenvolveu-se consideravelmente: introduziu gradualmente uma biblioteca local em cada bairro, integrou novas mídias, propos um programa cultural cada vez mais rico e promoveu a circulação de coleções entre as bibliotecas de mídia. Em se tratanndo dos serviços de extensão, a BML atua "fora da parede", especialmente com o bibliobus, penitenciária e hospital.

5.1 Serviços oferecidos na rede de médiathèques de Lille

A rede de médiathèques de Lille oferece uma ampla variedade de serviços ao público, como demonstrado no quadro 2.

Quadro2
Serviços oferecidos pelas médiathéques municipais de Lille
Documentos físicos e digitaisEspaços gourmet
Devolução 24 horasProgramação cultural
CéciwebPlano de leitura
Kit para reparos de bicicletasEmpréstimo escolar
Obras antigas e raras digitalizadasEspaços para a realização de festas
Tablets, computadores e videogamesVisitas guiadas
Sala com pianoEmpréstimos (físico e digital)
Espaços para exposiçõesBibliobus
Fonte: Bibliothèque Municipale de Lille (2019)

A rede de médiathèques de Lille oferece uma diversidade de serviços, incluindo o acesso físico e digital a documentos diversos, extensa programação cultural durante todo o ano, pesquisa de documentos da coleção patrimonial (contendo 6.000 documentos digitalizados), empréstimo integrado (é possivel solicitar e retirar o material bibliográfico em qualquer biblioteca de mídia), Céciweb(setor braille com equipamentos tecnológicos de última geração), kit para reparos de bicicletas (bombas de ar, ferramentas para concertos), videogames, cabines para pesquisas, piano, salas de audição, wifi gratuito, espaço Braille, serviço de bebidas e comidas através de máquinas.

No espaço infantil existem trocadores de bebês e espreguiçadeiras, onde o acervo é disposto em estantes e caixas baixas, para o alcance também dos bebês.

Um serviço peculiar é disponibilizado pela Médiathèquede Saint Maurice Pellevoisin, onde pode-se ser programadas atividades como a organização de festas de aniversário.

Todas as médiathèques dos bairros organizam atividades culturais e entretenimento em parceria com associações, centros sociais e escolas. Todos os meses são realizadas as "horas de histórias" chamadas "Kilis Kilis" nas 9 bibliotecas de mídia (CRONKITE, 2016, p. 16).

Caixa coletora externa de materiais bibliográficos – Médiathèque Jean Levy
Imagem 1
Caixa coletora externa de materiais bibliográficos – Médiathèque Jean Levy
Fonte: arquivo pessoal (2018).

Mesmo que as bibliotecas estejam fechadas, é possível fazer a devolução dos materiais bibliográficos por meio de caixas coletoras externas, permitindo um serviço de devolução ininterrupto. Também os materiais bibliográficos podem ser devolvidos em qualquer das unidades, independentes do local de sua retirada.

Os materiais bibliográficos, quando devolvidos em outras unidades onde ocorreu o empréstimo, depois de devolvidos são triados e levados por caminhões para as suas respectivas unidades.

As visitas guiadas tem como objetivo viabilizar o acesso as bibliotecas de mídia como um local de lazer, cultura e informação, descobrindo a riqueza das coleções e notícias editoriais.

5.2 Serviços de extensão

Os serviços de extensão realizados pelas médiathèques referem-se ao “plano de leitura”, “empréstimo escolar” e o “bibliobus”.

Umas das atividades de incentivo à leitura das médiathèquesem parceria com as escolas municipais é o Plan lecture (plano de leitura). O programa de ação do plano de leitura consiste em atividades abrangendo a leitura, animação de leitura, leitura no café da manhã, animação em torno da literatura digital e infantil, instalação e animação de eixos temáticos, realização de oficinas em torno do universo dos autores, encontro de autores e ilustradores.

O objetivo do plano, junto as 83 escolas públicas de Lille, também está em promover a literatura juvenil, dentro e fora da escola, no objetivo de leitura como "prazer".

O plano de leitura estende-se a médiathèque do l’Hôpital HURIEZ, e a bibliothèque do Centre pénitentiaire de Lille-Sequedin.

Le prêt aux classes (empréstimo escolar) é um serviço dedicado aos professores de Lille, tendo como objetivo o oferecimento de empréstimos de até 50 documentos por um período de 6 semanas para cada professor.

O serviço está localizado na biblioteca de mídia Bois Blancs com uma coleção disponível aos professores de mais de 7000 livros, estando à disposição durante todo o ano.

O serviço de extensão de biblioteca móvel (bibliobus) foi criado em 1970. O objetivo do serviço era permitir que os habitantes rurais tivessem o acesso à cultura letrada.

Atualmente, o bibliobus percorre vários espaços da cidade, de acordo com uma agenda pré-definida e divulgada através de panfletos e pelo sitedas médiathèques.

O acervo para o empréstimo é composto por 4.000 obras entre álbuns, contos, romances, histórias em quadrinhos, mangás, documentários, revistas, livros-CD e livros em letras grandes para portadores de necessidades especiais, direcionados a todas faixas etárias.

Os materiais bibliográficos que compõem o acervo são renovados constantemente a fim de oferecer as publicações mais recentes ao público.

“É uma verdadeira biblioteca com rodas”. “Se você não for à biblioteca, a biblioteca virá até você” são os slogans do serviço de extensão do bibliobus, O serviço percorre 15 bairros distantes das médiathéques para facilitar o acesso àqueles que mantêm domicilio longe dos equipamentos de informação e cultura.

Mediante reserva de materiais bibliográficos on-line nos sites das médiathéques, o serviço de empréstimo do bibliobus entrega os materiais solicitados em suas próximas paradas. O bibliobus também possui equipamento para o acesso as pessoas com mobilidade reduzida. O bibliobus também percorre creches e escolas primárias.

5.3 Acervo

As Médiathèques Municipales de Lille oferecem uma ampla variedade de documentos abrangendo materiais impressos (livros, jornais, revistas, e histórias em quadrinhos), e audiovisuais (LPs, CDs e DVDs).

Diversos recursos digitais são oferecidos para pesquisa e dowload (e-books, bases de dados, enciclopédias, músicas, filmes, documentários, documentos iconográficos, histórias infantis, materiais escolares, apostilas, tutoriais com conteúdos para o ensino primário e secundário, de línguas estrangeiras e francesa, de primeiros socorros, de navegação na web, criação de blogs, etc.), sites de busca, jornais eletrônicos, sites de notícias, revistas digitais gerais e especializadas.

O departamento de patrimônio da biblioteca de mídia Jean Lévy é responsável por todos os documentos raros, antigos ou preciosos com caráter patrimonial ou de pesquisa.

No acervo, estão preservados e digitalizados cerca de 100.000 mil documentos, composto por obras raras e antigas (incunábulos, manuscritos, impressos, gravuras, fotografias, jornais e partituras). Estão incluidos nesse fundo cerca de 250 manuscritos medievais, evidenciando-se o Evangelho de Cysoing (século XII) e A vida de Gayus Julius Cesar (século XV).

5.4 Acessibilidade

A Médiathèque Jean Lévy ocupa um prédio amplo de vários andares, possuindo elevador e rampas de acesso. Um botão magnético está localizado em todas as mesas de recepção e conferências, amplificando sons para pessoas com aparelhos auditivos. O espaço braille oferece um serviço personalizado em materiais (coleções especiais) e recursos adaptados (áudio-livros, livros com letras grandes, livros em braille). Nesse espaço pode-se imprimir em braille, emprestando também aparelhos de áudio-books e leitores especiais.

Todos os usuários podem entrar nas médiathèques sem, no entanto, ter que deixar bolsas, pastas ou sacolas guardadas em armários. O acesso é livre e sem restrições para qualquer pessoa. Geralmente, os funcionários das médiathèques falam, além do francês, o inglês.

Os espaços físicos das médiathèques são todos sinalizados, assim como os seus acervos, permitindo que o público se situe e encontre a informação que necessita, ou que identifique a função de cada setor. Também existe sinalização de placas nas imediações, como também nas fachadas das médiathèques.

5.5 Programação cultural

As médiathèques organizam ao longo do ano uma agenda com diversas programações culturais, incluindo atividades artísticas, de incentivo à leitura, de lazer e de capacitação profissional.

Quadro 3
Amostra de atividades culturais nas Médiathèques de Lille.
Exposições diversasAnimação musical
Oficinas de artesOficinas de escrita
Oficinas de informáticaAtividades literárias
Prêmios literáriosAtividades com videogames
Contação de históriasReuniões diversas
WorkshopsOficinas de leitura
Encontros diversosJogos, atividades e histórias para crianças de 0 a 3 anos.
Torneios de videogamesAtividades digitais para crianças a partir de 4 anos.
Sorteio de livrosBazar (vendas de livros e CDs por 1 euro)
Oficinas de músicaOficinas lúdicas
Projeção de filmesConcertos
Apresentação de teatroJogos para toda a família
Fonte: Bibliothèque Municipale de Lille[13].

A agenda de atividades culturais são extensas abrangendo diferentes públicos. Em todas as médiathèques são realizadas ações em torno do incentivo à leitura como o bazar de vendas de livros e CDs pelo valor de 1 euro. São oferecidas oficinas relacionadas à leitura, à escrita, às práticas digitais (confecção de blogs), às artes e à confecção de marcadores de livros, entre outros.

As atividades em torno da hora do conto são realizadas respeitando-se as faixas etárias infantis.

Cada médiathèque tem autonomia para criar e desenvolver a sua própria agenda cultural, que são encaminhadas à direção da Médiathèque Jean Levy. As atividades culturais são programadas de acordo com as características e necessidades do público em torno de cada médiathèque, respeitando-se suas peculiaridades e exigências.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de médiathèque foi desenvolvido e implantado nas bibliotecas da França em meados da década de 1970, primeiramente em Metz e, após, em diversas outras localidades, expandindo-se progressivamante por todo o país.

A noção de médiathéque vincula-se a uma biblioteca com possibilidade de ressignificação, moderna e atual, com acesso a diferentes tipos de materiais bibliográficos, ultrapassando os suportes impressos, abrangendo audiovisuais e digitais.

A atuação das médiathéques de Lille ultrapassa os serviços tradicionais de diversas bibliotecas brasileiras. Ao oferecer estacionamentos gratuitos em seu entorno, materiais para a manutenção de bicicletas, posicionam-se como instituições necessárias e eficazes para a melhor locomoção e o bem estar da população.

Segundo dados da Médiathèque Jean Levy, existe atualmente um corpo profissional com 120 profissionais, dentre os quais 60 são bibliotecários. Este fato denota a realidade das bibliotecas na França, apresentando-se contrárias a situação brasileira, já que em diversas bibliotecas não existe sequer 1 profissional bibliotecário.

Nas últimas décadas, Lille passou por grandes transformações nas relações sociais e na oferta cultural. As médiathéques não permaneceram indiferentes a essas novidades e às expectativas da população.

As práticas dos usuários das bibliotecas de mídia alteraram-se com o aumento da oferta educacional e dos fluxos de informação. Na era digital, novas necessidades e usos estão surgindo: necessidade de espaços para o trabalho, de conexão de banda larga ou wi-fi, busca de convívio, bem-estar e conforto, sendo que as bibliotecas devem adaptar-se a essas realidades.

Os territórios de Lille expandiram-se graças às operações de requalificação que envolvem a construção de novos equipamentos e novas habitações, como os bairros de Bois-Blancs, Lille-Moulins e Lille-Sud, onde novos habitantes estão se estabelecendo e criando novos ritmos de vida, inclusive na vida cultural e informacional.

Portanto, as alterações urbanas de Lille deverão afetar também as suas médiathéques, incidindo numa profunda transformação, até uma metamorfose conceitual e arquitetônica que deverá ser conduzida (CRONKITE, 2016).

Áreas emblemáticas da modernidade e do renascimento de Lille, como a de Porte de Valenciennes, a Gare Saint-Sauveur, os bosques e jardins, o complexo Euralille, são locais em potencial para receber o futuro. As apostas são altas e exigem um comprometimento real dos atores institucionais nos níveis local, nacional e europeu, para fazer evoluir as bibliotecas de mídia, transformando-as de uma biblioteca do século passado para uma biblioteca do século XXI.

Desse modo, a atuação das médiathéques não é apenas um trabalho simples e cotidiano, mas trata-se da necessidade de manutenção e evolução de todos os aspectos envolvidos para o desenvolvimento social, observando-se aspectos como o prédio e seus espaços, os serviços, as tecnologias, as políticas culturais municipais em conssonância com as bibliotecas e as necessidades culturais e informacionais da população.

Agradecimentos

Catherine Dhérent, diretora da Bibliothéque Municipale de Lille.

Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP)

REFERENCIAS

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ASSOCIATION DES BIBLIOTHÉCAIRES DE FRANCE. Manifeste la bibliothèque est une affaire publique. Disponível em: http://www.abf.asso.fr/fichiers/file/ABF/manifeste_ABF_2012.pdf. Acesso: 23 de out. 2018.

AUBRY, M. Préface. In: QUENEUTTE, D.; WESTWWL, I. La Bibliothèque municipale de Lille fête les 40 ans de la Médiathéque Jean Lévy. Tourcoing: Achevé d’imprimer, 2005.

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BIBLIOTHÈQUE MUNICIPALE DE LILLE. La Bibliothèque Municipale de Lille a été inaugurée le 6 novembre 1965. Lille: Des Maitres Imprimeurs, 1965.

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VERGNAUD-CHEVALARD, M. La Bibliothèque municipale de Lille à l’heure du numérique, Nord', vol. 69, n. 1, p. 27-32, 2017.

Notas

[1] Laboratoire GÉRiiCo. Disponível em: https://geriico-recherche.univ-lille3.fr/.
[2] Bulletin des Bibliothèques de France. Disponível em: http://bbf.enssib.fr/moteur-de-recherche.
[3] Bibliothèque Municipale de Lille. Disponível em: http://www.bm-lille.fr
[4] Association des Bibliothécaires de France. Disponível em: https://www.abf.asso.fr/
[5] Gallica. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/accueil/?mode=desktop
[6] Bibliothèque Universitaire Sciences Humaines et Sociales. Disponível em: https://www.univ-lille3.fr/bibliotheques/
[7] Ville de Lille. Disponível em: https://www.lille.fr/Que-faire-a-Lille/Envie-de-culture
[8] Médiathèque. (2012). Disponível em: http://www.enssib.fr/le-dictionnaire/mediatheque.
[9] “La médiathèque prouve sa capacité à valorize l’approche culturelle ; elle associe son rôle premier qui consiste à sauvegarder et préserver un patrimoine (écrit, audiovisuel…), à une grande ouverture ur le monde contemporain” (ROBILLARD, 1996, p. 58).
[10] “Le concept de médiathèque s'appuie sur des présupposés politiques, qui se traduisent en propositions techniques. L'idée de départ est qu'il faut, pour faire venir le public dans des bibliothèques jusque-là trop méconnues, les rendre attractives. Attractives, elles ne le seront que modernisées et accueillantes à toute la population” (BERTRAND, 1994, p. 9).
[11] Pratiquement dénuée de personnel propre, la bibliotheque municipale disparalt durablement de la scene lilloise, et ce n'est qu'en 1960 que la decision de construire un batiment specifique et de soustraire la bibliotheque a la direction de la bibliotheque universitaire, est prise (ALLAIN, 2000, p. 4)
[12] Cette bibliothèque, considerée à l'époque comme l'une des plus modernes d'Europe, a fortement contribué au renouveau urbain du centre de Lille, et tout particulièrement du quartier Saint-Sauveur (AUBRY, 2005, p. 5).
[13] Agenda. Bibliothèque Municipale de Lille. Disponível em: http://www.bm-lille.fr/.

Informação adicional

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA: Concepção e elaboração do manuscrito: A. Rasteli Coleta de dados: A. Rasteli Análise de dados: A. Rasteli Discussão dos resultados: A. Rasteli Revisão e aprovação: A. Rasteli

CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA: O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo não está disponível publicamente

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EDITORES: Enrique Muriel-Torrado, Edgar Bisset Alvarez, Camila Barros.

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