Artigos

Produção científica brasileira sobre plágio: careacterização e alcance a partir da base SCOPUS

Brazilian scientific production about Plagiarism: characterization and range from Scopus base

Fábio Orsi MESCHINI
Universidade de São Paulo, Brasil
Marivalde Moacir FRANCELIN
Universidade de São Paulo, Brasil

Produção científica brasileira sobre plágio: careacterização e alcance a partir da base SCOPUS

Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 25, pp. 1-26, 2020

Universidade Federal de Santa Catarina

Recepção: 26 Novembro 2019

Aprovação: 15 Abril 2020

Publicado: 10 Julho 2020

Resumo: Objetivo: Analisar a produção e alcance científico sobre o tema plágio na base Scopus. Identificar temáticas, coautorias, instituições, periódicos e autores mais produtivos. Evidenciar o alcance científico da produção por meio das características de seus citantes.

Método: A pesquisa foi conduzida sob um viés bibliométrico exploratório, na medida em que se propõe a ampliar a compreensão do contexto brasileiro sobre a referida produção científica.

Resultado: Os resultados destacam que plágio, má conduta científica e ética são as palavras-chave mais mencionadas. As coautorias foram realizadas com Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, França e Índia. As instituições mais produtivas são representadas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de São Paulo (USP). Quanto aos periódicos mais produtivos, destaque para a “Revista Brasileira de Educação”. Dentre os autores mais produtivos, está a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), representada por Vasconcelos, S.M.R. Os principais citantes são provenientes dos Estados Unidos e Brasil, com destaque para as instituições USP e UFRJ. O periódico citante destacado é o “Scientometrics”, de origem holandesa. Referente aos autores que realizaram mais citações tem-se Amancio, D.R. (USP) e Vasconcelos, S.M.R. (UFRJ).

Conclusões: Os resultados alcançados possibilitaram ampliar a compreensão sobre o contexto produtivo brasileiro referente ao plágio. O Brasil tem condições de liderar as ações no âmbito latino-americano sobre a questão plágio na produção científica. Portanto, as garantias do conhecimento comunicado dependem da compreensão da teoria da ciência e da honestidade intelectual no uso dos métodos de pesquisa.

Palavras-chave: Plágio, Produção científica, Bibliometria, Coautorias, Citações.

Abstract: Objective: To analyze the production and scientific scope on the theme plagiarism in the Scopus basis. Identify the most productive themes, co-authors, institutions, journals and authors. Show the scientific reach of production through the characteristics of its citing.

Methods: The research is bibliometric exploratory. It proposes to broaden the understanding of the Brazilian context about this scientific production.

Results: The results highlight that plagiarism, scientific and ethical misconduct are the most mentioned keywords. Co-authoring was conducted with Spain, the United Kingdom, the United States, France and India. The most productive institutions are represented by the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) and the University of São Paulo (USP). As for the most productive journals, the highlight is the “Revista Brasileira de Educação”. Among the most productive authors is the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), represented by Vasconcelos, S.M.R. The highlight citings come from the United States and Brazil, especially the USP and UFRJ institutions. The prominent citing journal is Dutch-based Scientometrics. Referring to the authors who made the most citations are Amancio, D.R. (USP) and Vasconcelos, S.M.R. (UFRJ).

Conclusions: The results achieved allowed us to broaden our understanding of the Brazilian productive context regarding plagiarism. Brazil is able to lead the Latin American actions on the plagiarism issue in scientific production. Therefore, the guarantees of communicated knowledge depend on an understanding of science theory and intellectual honesty in the use of research methods.

Keywords: Plagiarism, Scientific production, Bibliometry, Co-authoring, Citations.

1 INTRODUÇÃO

Analisar a questão do plágio é relevante para as discussões relacionadas à integridade científica. O plágio é um tema amplo e complexo que reflete diversas características sociais e científicas. Deve-se ressaltar que a comunicação científica desempenha a relevante tarefa de divulgar os resultados das pesquisas que são realizadas em universidades, institutos e laboratórios.

Em decorrência da importância da comunicação científica, o que é divulgado também passou a fazer parte das preocupações das comunidades científicas e os estudos sobre plágio ganharam destaque na literatura científica de quase todas as áreas de conhecimento.

Nesse sentido, o presente artigo concentra-se na produção científica por entender que há carência de informações sobre as publicações que tratam do tema. Embora a comunidade acadêmica brasileira venha discutindo as boas práticas científicas com mais frequência nos últimos anos, sendo uma das motivações a pressão das agências de fomento pela confiabilidade nos resultados das pesquisas, as medidas práticas educativas sobre plágio nas universidades brasileiras ainda são ínfimas, comparando-se com diversas universidades americanas, tais como o “Massachusetts Institute of Technology” (MIT) e seu guia de integridade científica cedido para os alunos e professores. Esse cenário acarreta em poucas publicações brasileiras, dificultando as discussões acerca de tema tão relevante para a evolução da Ciência. Quando se verifica a produção de artigos sobre plágio em âmbito mundial, nota-se claramente o predomínio dos EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá (SCOPUS, 2019), sendo de fundamental relevância que o Brasil invista em pesquisas nesta área, tornando-se uma referência para a América Latina e disseminando a integridade científica na realização das pesquisas. Portanto, especificamente, objetiva-se: analisar a produção brasileira e o alcance científico sobre o tema “plágio” na base Scopus; identificar as temáticas mais trabalhadas, as coautorias, as instituições, os periódicos e os autores mais produtivos; e, verificar o alcance científico de dessa produção por meio das características de seus citantes. Salienta-se que estes objetivos estão direcionados para propiciar visibilidade ao tema e suscitar discussões sobre as práticas científicas brasileiras.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A tangibilidade do conhecimento consolidado em uma área do conhecimento é propiciada pela produção científica construída pelos pesquisadores que, por sua vez, retroalimenta o ciclo produtivo informacional. A produção científica dissemina o conhecimento na medida em que a geração de novas contribuições à ciência provém de pesquisas antecedentes que são citadas. Esta retroalimentação na comunicação científica almeja o reconhecimento dos pares e o compartilhamento de paradigmas vigentes, além da conquista de visibilidade, reputação e legitimação em determinado campo científico (SPINAK, 1998; VANZ, CAREGNATO, 2003; SMALL, 2004; BUFREM, PRATES, 2005; BRAMBILLA, VANZ, STUMPF, 2006).

O crescimento da produção científica torna fundamental a realização de avaliações bibliométricas que identifiquem os principais pesquisadores, as temáticas e as características de um campo científico (GARFIELD, 1979; ARAÚJO; BRAGA; VIEIRA, 2010). Outra forma de avaliar o alcance da produção científica, conforme Ajiferuke, Lu e Wolfram (2010), é a análise dos citantes, na qual é possível obter elementos interpretativos de impacto da produção científica sobre determinada comunidade. Cronin e Shaw (2002), partindo do contexto citacional de uma área científica, compreendem seus citantes como criadores de imagens, possibilitando determinar o alcance científico desta área.

Assim, as características da produção científica sobre determinado tema, como o plágio, são melhores compreendidas com o aporte dos estudos bibliométricos. Tais estudos propiciam subsídios que contextualizam o que foi produzido perante a comunidade científica e revelam a importância das citações como índice de reconhecimento científico. Vale destacar ainda que as referências presentes em um artigo, bem como as citações realizadas e recebidas, estabelecem, além das relações de influência, questões relacionadas à similaridade ou contraste existentes em dado campo científico, propiciando objetividade avaliativa da produção científica por um investimento financeiro adequado (GARFIELD, 1979; IRIBARREN MAESTRO, 2006; MACIAS-CHAPULA, 1998).

Obviamente, o ato de selecionar as fontes que irão ser utilizadas na elaboração de uma pesquisa está envolto por elementos sociais, psicológicos, culturais, políticos e econômicos que, por sua vez, possuem uma variabilidade de razões acadêmicas, frequentemente orientadas por pressões sociais e preconceitos, mas que permitem apreender as dinâmicas científicas sob as quais um tema é desenvolvido, além de suas influências em determinada comunidade acadêmica. Desta forma, suas bases teóricas colaboram com os avanços científicos, já que os novos conhecimentos estão baseados nos antecedentes, garantindo, assim, a dialogicidade dos pesquisadores com a literatura científica precedente (BORNMANN; DANIEL, 2008; SMALL, 2004; SPINAK, 1998; VANZ; CAREGNATO, 2003).

Partido do princípio de que o plágio suscita questões relevantes no meio acadêmico, observa-se que analisar a produção sobre o tema contribui para evidenciar características, atores e elementos científicos que subsidiam o desenvolvimento da temática na Ciência. As nuances presentes no contexto discursivo sobre plágio são complexas, difusas e sem fronteiras claramente estabelecidas.

No entanto, defini-lo é fundamental para ampliar a apreensão situacional em que ele é estabelecido, pois “[...] trata-se de qualquer conteúdo (artístico, intelectual, comercial etc.) que tenha sido produzido ou já apresentado originalmente por alguém e que é reapresentado por outra pessoa como se fosse próprio ou inédito”. (KROKOSCZ, 2012, p.11). Em relação ao meio acadêmico, ressalta-se que a problemática não está envolta na reprodução de determinado conteúdo, mas na ausência de créditos ao autor, já que ao impedir o reconhecimento, a identificação e a localização das fontes utilizadas na elaboração de uma pesquisa, o plágio está configurado (KROKOSCZ, 2012, p.11). Portanto, o plágio pode ser considerado “[...] uma infração ética que desrespeita a norma de atribuição de autoria na comunicação científica” (DINIZ; MUNHOZ, 2011, p.14).

De acordo com o Cambridge Dictionary e com o Oxford Reference, plágio é o ato de copiar, pegar ou “sequestrar” o trabalho ou as ideias de outra pessoa (PLAGIARISM, 2019ª, 2019c). Segundo a Enclyclopaedia Britannica, não é apenas o ato de copiar que define o plágio, mas a ação de transmitir, de maneira fraudulenta, o que foi copiado (PLAGIARISM, 2019b). No cotidiano da atividade científica existem, segundo o Office of Research Integrity, dificuldades para identificar disputas entre cientistas sobre recursos intelectuais e para estabelecer limites para o autoplágio (self plagiarism) (POLICY..., 1994; ROIG, 2015). O termo plágio, segundo Satija e Martinez-Ávila (2019), é usado de várias formas, o que dificulta a sua definição. Em linhas gerais, dizem os autores, o plágio acontece por falsificação de dados, ignorância de leis e códigos de ética, falta de treinamento, compulsão por roubar e até por ocultação da memória (criptomnésia) das fontes, quando o plágio é cometido de forma não intencional.

Quem copia o trabalho de outra pessoa não age simplesmente por má fé ou desonestidade intelectual. O plágio também é visto como rentável porque as instituições, as universidades principalmente, preocupadas com a integridade científica, adquirem softwares especializados (SALDAÑA, 2014; NOE, 2017). Weber-Wulff (2019) alerta para o fato de que esses sistemas representam uma “crença equivocada” sobre a capacidade de detecção de plágios. Segundo a autora, a honestidade intelectual e a integridade científica precisam ser vistas como um problema social.

Vale ainda observar que o plágio abarca em seu escopo duas práticas gerais distintas: uma, guiada pela intencionalidade (referente à compra de trabalhos pela internet, cópia literal de textos sem nenhuma citação ao original) e, outra, direcionada pelo desconhecimento das regras, ou seja, sem intencionalidade (ausência de conhecimento sobre as normas citacionais e boas práticas de paráfrase) (GILMORE; STRICKLAND; TIMMERMAN; MAHER; FELDON, 2010). Esses contextos práticos interferem na noção identitária existente entre o autor e a sua obra que, por sua vez, está permeada por um estilo literário personalizado (DINIZ; MUNHOZ, 2011, p.23).

Tulley-Pitchford (2012) salienta que os conhecimentos relacionados à literatura científica da área em que o aluno está alocado são os pilares da aprendizagem no ensino superior, e corromper tais bases, não referenciando trabalhos antecedentes, reduz consideravelmente as possibilidades educacionais propostas nesta fase. Ao priorizarem “[...] o processo de ler, analisar, sintetizar e reconhecer o trabalho dos outros” (TULLEY-PITCHFORD, 2012, p.66), as instituições de ensino têm papel essencial na orientação dos alunos sobre o uso de referências.

Os danos causados pelo plágio ficam, geralmente, sob responsabilidade dos alunos, não envolvendo a “[...] instituição que não forneceu treinamento adequado aos alunos para preparar textos, para desenvolver análise textual, para melhorar sua criatividade” (BERLINCK, 2011, p.368). É fundamental que os professores sejam criativos na solicitação de tarefas, buscando relacioná-las com a vida dos alunos, prezando pela originalidade, ressaltando-se que tais atitudes motivam o ambiente educacional, amenizando os efeitos do plágio e estimulando a excelência na escrita (ADLER-KASSNER; ANSON; HOWARD, 2008).

Contrapondo a ideia de que somente os alunos cometem plágio, Litto (2018) inclui nesta prática professores e pareceristas, já que os mesmos, geralmente, acessam informações inéditas. A apropriação indevida pode ocorrer de diversas maneiras porque não está restrita ao texto, destacando-se os seguintes elementos destas apropriações: “[...] palavras (linguagem); ideias; resultados de investigação; representações gráficas; programas de computador; diagramas; gráficos; ilustrações; informação e dados; palestras; material impresso; material eletrônico e outros materiais digitais” (LITTO, 2018, p.33). Tendo em vista a complexidade do tema, a integralidade torna-se necessária, já que “[...] a abordagem do problema do plágio na academia deve ser vista de forma abrangente, visando integrar as atividades desenvolvidas por alunos, professores e pesquisadores” (BERLINCK, 2011, p.371). Segundo George, Costigan e O’Hara (2013), um dos caminhos possíveis para avanços acadêmicos sobre os conflitos inerentes às discussões sobre plágio envolve cursos e instruções precisas para os novos alunos de uma instituição, com a formação orientada por um foco instrutivo em detrimento de práticas punitivas.

Soma-se a este cenário a ausência do Brasil e demais países da América Latina nas discussões em âmbito internacional sobre a má-conduta observada em pesquisas científicas, tornando-se fundamental estimular iniciativas que abordem o problema, principalmente por meio de diretrizes institucionais formalizadas. O Brasil, mesmo com a sua ciência vulnerável, ainda tem relevante impacto científico e poderia ser o condutor de tais ações (VASCONCELOS; LETA; COSTA; PINTO; SORENSON, 2009). Com a pesquisa aqui proposta espera-se contribuir para discussões e reflexões acerca da produção científica sobre plágio e, consequentemente, estimular mais trabalhos abarcando este complexo contexto integrante do meio científico.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi conduzida sob um viés bibliométrico exploratório, na medida em que se propõe a ampliar a compreensão do contexto brasileiro de produção científica sobre Plágio na Scopus. A coleta dos dados enquadra-se na modalidade bibliográfica, uma vez que o universo de pesquisa foi composto pelos artigos científicos indexados em uma base de dados (SANTOS, 1999).

A extração e a análise do universo de pesquisa foram alicerçadas por meio dos termos de busca (nos subcampos article title, abstract e keywords): plágio OR plagiarism na Scopus no dia 31 de maio de 2019. Já no subcampo “affiliation country”, os seguintes termos: Brasil OR Brazil, sem delimitação temporal. No subcampo “Document type” selecionou-se o termo “Article”, já no subcampo Access type, a opção “All” foi mantida. Foram recuperados 46 artigos, no entanto um (1) deles estava duplicado e outro não abordava o plágio em sua temática. Dessa forma, o universo de pesquisa está composto por 44 produções. Importante salientar que a especificidade dos termos de busca aqui selecionados deve-se a amplitude temática envolvendo as más práticas científicas e acadêmicas que envolvem fraudes, fabricação de dados, seleção de pessoas para experimentos, preconceito editorial contra países pobres, entre outros, representando possibilidades de pesquisas futuras, optando-se, portanto, em focar nas publicações que abordassem apropriações indébitas de pensamentos de outros pesquisadores, sendo os termos “plágio” e “plagiarism” mais responsivos a estes objetivos. Ressalta-se ainda que a escolha pela base Scopus consiste em seu reconhecimento como um dos principais canais para aferição e acompanhamento da produção científica com alcance internacional produzida pelos países, composta por resumos, citações e textos completos da literatura científica de diversas nações, cobrindo 27 áreas do conhecimento, por meio de mais de 20.000 artigos indexados, fato reforça seu teor multidisciplinar e ampla abrangência mundial (PACKER, 2011; SCOPUS, 2019).

Os softwares empregados foram: Microsoft Excel, Microsoft Word, Bibexcel e Vosviewer. Quanto às variáveis elaboradas, destacam-se: número de artigos por ano; distribuição dos artigos por área; tipos de acesso aos artigos; rede temática dos artigos; rede de coautorias do Brasil; instituições, periódicos e autores mais produtivos; artigos mais citados; principais países, instituições, periódicos e autores citantes. Estas ações são responsivas aos objetivos da pesquisa na medida em que propiciam características fundamentais da produção científica sobre plágio.

4 RESULTADOS

Os resultados da pesquisa estão divididos em duas partes: a primeira refere-se às características gerais dos artigos indexados na base Scopus, almejando ampliar a compreensão sobre desta produção; já a segunda parte é constituída pelos atributos dos citantes, objetivando propiciar subsídios para o entendimento acerca do impacto da produção científica sobre plágio na referida base de dados.

Contendo ao menos uma afiliação de origem brasileira, foram identificados 44 artigos com o tema “plágio” na base Scopus. A partir do gráfico 1, nota-se que a primeira publicação surge somente em 2007, sob o título “Escritores-fantasma e comércio de trabalhos científicos na internet: a ciência em risco”, elaborada pelo pesquisador M.C.A. Grieger, da Faculdade de Medicina de Itajubá – MG, e publicada pela “Revista da Associação Médica Brasileira”. A publicação aborda o comércio de elaboração de artigos médicos na internet. A frequência sobre uma temática tão relevante para o fazer científico permaneceu escassa ao longo dos anos, ocorrendo uma discreta elevação a partir de 2015, com a produção oscilando entre 5 e 8 artigos.

Número de artigos por ano
Gráfico 1
Número de artigos por ano
Fonte: Elaboração dos autores

Sobre a distribuição dos artigos por área (gráfico 2), observa-se que as três principais áreas com produção sobre plágio são as Ciências Sociais, a Medicina e as Artes e Humanidades. As Ciências Sociais destacam-se com a presença de 23 artigos. Destes, 22% são financiados pelo CNPq, pela CAPES, European Commission e FAPESP. Esses artigos possuem 80 citações e 61% deles estão em acesso aberto. Os principais termos deste grupo de artigos são: publicações, humanos, ética, propriedade intelectual, retratações e má conduta científica. A Revista Brasileira de Educação é a principal publicadora do referido grupo.

Distribuição dos artigos por área
Gráfico 2
Distribuição dos artigos por área
Fonte: Elaboração dos autores

Embora 25 (57%) artigos estejam definidos como acesso aberto, o gráfico 3 destaca que 19 (43%) ainda estão em acesso restrito. Percebe-se a necessidade da redução de restrições as informações, objetivando estimular os debates sobre o plágio, no caso desta pesquisa.

Tipos de acesso aos artigos
Gráfico 3
Tipos de acesso aos artigos
Fonte: Elaboração dos autores

A rede temática dos artigos (figura 1) representa as principais palavras-chave utilizadas pelos autores (frequência igual ou maior que dois). Salienta-se que “plágio”, “má conduta científica” e “ética” são as mais mencionadas, e consequentemente, as mais interligadas com as outras constituintes do universo de pesquisa. Observa-se a existência de três clusters na rede que demonstram a proximidade dos termos, ou seja, sua coocorrência temática. Com destaque para o primeiro cluster (vermelho), que possui mais termos atuando conjuntamente: bioética, duplicação de publicação, ética, retratação de publicação, fraudes científicas e má conduta científica. Os artigos pertencentes a este cluster foram produzidos em parceria com os Estados Unidos e com o Reino Unido, predominando a área de Medicina. O segundo cluster (verde) é composto pelos termos: plágio, autoria, má conduta de pesquisa e integridade científica. Os artigos deste cluster envolveram Estados Unidos, França, Índia e Espanha, pertencendo majoritariamente à área de Ciências Sociais. Já o terceiro cluster (azul) possui dois integrantes: copyright e competência informacional. Os artigos foram elaborados em parceria com a Índia e a Espanha, e estão relacionados às áreas de Ciências Sociais, Medicina e Enfermagem.

Rede temática dos artigos
Figura 1
Rede temática dos artigos
Fonte: Elaboração dos autores com o auxílio do software Vosviewer

As parcerias brasileiras na produção científica sobre plágio são apresentadas pela figura 2. Observa-se a presença de cinco países: Espanha, Reino Unido, França, Índia e Estados Unidos. As coautorias com a Espanha são representadas somente por 2 (dois) artigos publicados pelos periódicos “Journal of the Association for Information Science and Technology” e “Informação e Sociedade”. As instituições coautoras foram: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universitat Politècnica de València e Universidade de Granada. Os temas abordados referem-se à ética informacional, ao combate ao plágio, às bibliotecas universitárias brasileiras e a análise de métodos para detecção de plágio. Já as duas parcerias com os Estados Unidos estão publicadas nos periódicos “Science and Engineering Ethics” e “Surgery (United States)”. As instituições coautoras foram: Universidade Federal do Rio de Janeiro, St. John’s University, Universidade Federal de São Paulo e University of North Carolina. As parcerias são sobre artigos da área de cirurgia e sobre questões de originalidade na comunicação científica. As coautorias estabelecidas com o Reino Unido (duas, no total) foram publicadas pelos periódicos “British Journal of Educational Technology” e “PLoS ONE”. As instituições participantes foram: Open University in Brazil and Portugal, OUUK-IET, Universidade Brasília (UnB), Fundação Oswaldo Cruz e University College London. As publicações são sobre artigos retratados na área da saúde e sistemas de autenticação eletrônica para combate ao plágio. A parceria realizada com a França foi publicada pelo periódico “Historia Mathematica” e envolve as instituições Universidade de Brasília e Université de Bourgogne. O artigo analisa um caso de plágio cometido pelo matemático Paul Appell. A coautoria com a Índia está publicada no periódico “DESIDOC Journal of Library and Information Technology”. As instituições coautoras foram a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a “Guru Nanak Dev University”, e os temas estão concentrados em discussões terminológicas referentes ao contexto do plágio.

Rede de coautorias do Brasil
Figura 2
Rede de coautorias do Brasil
Fonte: Elaboração dos autores com o auxílio do software Vosviewer

Das 54 instituições responsáveis pela produção dos artigos, somente 12 (22%) têm, pelo menos, dois artigos sobre o tema (tabela 1). Observa-se a preponderância de universidades públicas (nove federais e duas estaduais), com a presença de apenas uma fundação. As duas instituições com mais artigos elaborados são: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com oito publicações, e Universidade de São Paulo (USP), representada por quatro artigos. A produção científica da UFRJ tem a presença destacada de dois pesquisadores: F. Catelani e A. J. Fontes-Pereira (ambos do programa de Engenharia Biomédica). As publicações concentram-se no periódico “Science And Engineering Ethics” e uma obteve financiamento de pesquisa, utilizando, conjuntamente, recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os temas estão relacionados aos algoritmos para identificação de fragmentos de plágio nos textos.

Os artigos sobre plágio produzidos pela USP estão sob a responsabilidade dos seguintes autores: D. R. Amancio; M. V. N. Bedo; A. J. M. Traina e C. Traina (integrantes do Instituto de Matemática e Ciência da Computação); M. H. Nóbrega e P. A. C. Santos (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), todos com apenas uma publicação cada. Os artigos estão publicados nos seguintes periódicos: “Data And Knowledge Engineering”; “Historia Da Historiografia”; “Scientometrics” e “Studia Universitatis Babes Bolyai Sociologia”. Referente ao financiamento de pesquisa, apenas um artigo usufrui dos recursos de três agências de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e National Council for Scientific Research (NCSR), analisando métodos comparativos de dados por similaridade.

Tabela 1
Instituições mais produtivas
InstituiçõesNº de artigosInstituiçõesNº de artigos
Universidade Federal do Rio de Janeiro8Universidade Federal de São Paulo2
Universidade de São Paulo – USP4Universidade Federal do Ceara2
Universidade Federal Fluminense2Universidade de Brasília2
Universidade Federal da Paraíba2Fundação Oswaldo Cruz2
Universidade Federal da Bahia2Universidade Federal de Goiás2
Universidade Federal de São Carlos2Universidade Estadual de Campinas2
Fonte: Elaboração dos autores

Quanto aos 38 periódicos que publicaram sobre plágio, apenas cinco foram responsáveis por, pelo menos, dois artigos (tabela 2). Nota-se que quatro (80%) estão em acesso aberto e três (60%) são brasileiros, com áreas de atuação abrangentes (destaque para a Medicina). Sobre o quesito índice H, observa-se considerável disparidade, com números oscilando entre 10 e 268, este último pertencente ao periódico “Plos One”. A “Revista Brasileira de Educação”, sob a responsabilidade da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) têm índice H 10 e está disponível em acesso aberto. Os temas principais das publicações deste periódico no universo de pesquisa abordam o papel da universidade sobre o plágio e autoria, o contexto do plágio em universidades de destaque e reflexões acerca das más condutas científicas.

Tabela 2
Periódicos mais produtivos
PeriódicosPaísÍndice HÁreaAcesso AbertoNº de artigos
Revista Brasileira de Educação Brasil 10 Educação Sim 3
Estudos Avançados Brasil 20Estudos culturais/Sociologia e Ciência Política Sim 2
Revista da Associação Médica Brasileira Brasil 32 Medicina Sim 2
Science and Engineering Ethics Holanda 43Enfermagem/Medicina/Tecnologia Não 2
PloS ONEEstados Unidos 268Agricultura/Ciências Biológicas/ Bioquímica/Genética Sim 2
Fonte: Elaboração dos autores

Dentre os 132 autores que publicaram sobre plágio, observa-se que somente quatro são os mais produtivos (tabela 3), com a elaboração de pelo menos dois artigos. Os autores com maior produção são afiliados à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sônia M. R. de Vasconcelos, a pesquisadora mais produtiva, tem atuação no Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis e sua produção na Scopus é representada por temas relacionados a retratações de artigos, questões éticas no contexto do plágio, o ensino de ciências e o plágio, além de discussões ligadas à publicação e originalidade na comunidade científica. Salienta-se ainda que este grupo de autores tem trabalhos realizados conjuntamente, indicando a existência de um núcleo institucional interessado em discussões acerca do plágio na comunicação científica.

Tabela 3
Autores mais produtivos
AutoresInstituiçõesNº de artigos
Vasconcelos, S.M.R.UFRJ4
Fontes-Pereira, A.J.UFRJ2
Catelani, F.UFRJ2
Almeida, R.M.V.R.UFRJ2
Fonte: Elaboração dos autores

Com o objetivo de ampliar a compreensão sobre os temas presentes nos artigos sobre plágio (gráfico 4), realizou-se a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, almejando a criação de categorias, conforme as nomeações definidas a seguir:

Após tais explanações, nota-se a diversidade de temas trabalhados pelos pesquisadores brasileiros sobre plágio, no entanto, as maiores incidências residem na verificação do problema e responsabilidades (Conceitualização, contextualização e responsabilização) e nas medidas combativas (combate e prevenção), sendo importante também a priorização na literatura de discussões sobre a relevância e estabelecimento das medidas educativas para a conscientização dos pesquisadores e alunos em geral sobre os malefícios oriundos do plágio.

Categorização dos artigos
Gráfico 4
Categorização dos artigos
Fonte: Elaboração dos autores

Quanto ao impacto do universo de pesquisa, salienta-se a presença de 151 citações. Após a utilização da Lei do Elitismo de Price, incluindo-se os seguintes com o mesmo número de citações, elaborou-se a tabela 4, denominada “Artigos mais citados”. A produção científica evidenciada na tabela 4 foi responsável por 108 citações, ou seja, 71% do total. Dentre os nove artigos mais citados, o periódico “Science and Engineering Ethics” é responsável por dois artigos, não está disponível em acesso aberto e possui origem holandesa. Com índice H 43, atua nas áreas de Enfermagem, Medicina e Tecnologia. Dois artigos destacam-se com mais citações:

Tabela 4
Artigos mais citados
Título do artigo/Autoria PeriódicoAno Nº de citações recebidas
Discussing plagiarism in Latin American science: Brazilian researchers begin to address an ethical issue/ Vasconcelos, S., Leta, J., Costa, L., Pinto, A., Sorenson, M.M. EMBO Reports 2009 29
Comparing the topological properties of real and artificially generated scientific manuscripts/ Amancio, D.R.Scientometrics2015 20
Plagiarism Allegations Account for Most Retractions in Major Latin American/Caribbean Databases/ Almeida, R.M.V.R., de Albuquerque Rocha, K., Catelani, F., Fontes-Pereira, A.J., Vasconcelos, S.M.R.Science and Engineering Ethics201612
Comparing and combining Content- and Citation-based approaches for plagiarism detection/ Pertile, S.D.L., Moreira, V.P., Rosso, P.Journal of the Association for Information Science and Technology20169
Ethics relevance in Brazilian medical journals/ Tavares-Neto, J., Azevêdo, E.S.Revista da Associação Medica Brasileira20099
Prior Publication and Redundancy in Contemporary Science: Are Authors and Editors at the Crossroads? / Vasconcelos, S.M.R., Roig, M.Science and Engineering Ethics20158
A survey of retracted articles in dentistry/ Nogueira, T.E., Gonçalves, A.S., Leles, C.R., Batista, A.C., Costa, L.R.BMC Research Notes20177
Retractions in general and internal medicine in a high-profile scientific indexing database/ Almeida, R.M.V.R., Catelani, F., Fontes-Pereira, A.J., Gave, N.S.Sao Paulo Medical Journal20167
Ghostwriters and commerce of scientific papers on the internet: Science at risk / Grieger, M.C.A.Revista da Associação Medica Brasileira20077
Fonte: Elaboração dos autores

O perfil dos citantes foi obtido por meio dos campos “View cited by” e “Analyze search results” na Scopus. Vale ressaltar que 127 documentos realizaram 151 citações dos 44 artigos do universo de pesquisa. Nesse universo, os seguintes elementos foram analisados: países, instituições, periódicos e autores.

Os países citantes da referida produção científica totalizam 38, com destaque para os seis evidenciados no gráfico 5, conforme a Lei do Elitismo de Price. Esses países são responsáveis por 95 citações, ou seja, 63% do total. O principal país citante é o próprio Brasil, com 49 citações (32%). As citações provêm das áreas de Ciências Sociais e Medicina, com publicações realizadas em língua inglesa e portuguesa. Outro país citante em destaque é os Estados Unidos, com 29 citações (19%). Essas citações também são, em sua maioria, provenientes das áreas de Ciências Sociais e Medicina (elaboradas somente em língua inglesa).

Principais países citantes
Gráfico 5
Principais países citantes
Fonte: Elaboração dos autores

As instituições citantes totalizam 161. O gráfico 6 destaca, conforme a Lei do Elitismo de Price, as 13 principais. Observa-se que 46% (6) são universidades públicas brasileiras, 31 % (4) são instituições de pesquisa francesas, 15% (2) são universidades dos Estados Unidos e 8% (1) do Japão. As duas principais instituições são:

Principais instituições citantes
Gráfico 6
Principais instituições citantes
Fonte: Elaboração dos autores

Quanto aos periódicos citantes, observa-se a somatória de 85 e são destacados os cinco principais na tabela 5, com pelo menos três citações realizadas. Os periódicos destacados estão indisponíveis em acesso aberto e possuem índice H que oscila entre 24 e 141 (sua maioria é proveniente da Holanda). Quanto às áreas mais recorrentes, destaques para a Biblioteconomia, a Ciência da Informação e a Ciência da Computação. O principal periódico citante é o “Scientometrics”, com sete citações e índice H 95, atuando também na Biblioteconomia, na Ciência da Informação e na Ciência da Computação. Quanto ao perfil do periódico Scientometrics na Scopus, observa-se a presença de 4.934 artigos indexados. As principais palavras-chave deste conjunto são: bibliometria, análise de citação e cientometria. O pesquisador, afiliado a “Catholic University of Leuven” (Bélgica), Wolfgang Glänzel é o pesquisador mais publicado. Os principais países com artigos neste periódico são os Estados Unidos, China e Espanha.

Tabela 5
Principais periódicos citantes
PeriódicosPaísÍndice HÁreaAcesso AbertoNº de citações realizadas
ScientometricsHolanda95Biblioteconomia e Ciência da Informação/ Ciência da ComputaçãoNão7
Physica A Statistical Mechanics And Its ApplicationsHolanda141Matemática/Física/ AstronomiaNão4
Science And Engineering EthicsHolanda43Enfermagem/Medicina/TecnologiaNão4
Accountability In ResearchReino Unido24Biblioteconomia e Ciência da Informação/EducaçãoNão3
Ceur Workshop ProceedingsEstados Unidos42Ciência da ComputaçãoNão3
Fonte: Elaboração dos autores

Referente aos autores citantes, observa-se a presença de 338. Na tabela 6 estão destacados os 10 principais com, pelo menos, três citações realizadas e responsáveis por 28% das citações. As instituições mais recorrentes de afiliação são a USP (40%), a Universite Grenoble Alpes (França) e a Tokyo Institute of Technology (Japão). Os autores que realizaram mais citações são Amancio, D.R. (USP) e Vasconcelos, S.M.R. (UFRJ), ambos com sete citações. Vasconcelos, S.M.R. (UFRJ) é a mais produtiva e Amancio, D.R. (USP) é autor do segundo artigo mais citado.

Tabela 6
Principais autores citantes
Autores/InstituiçõesNº de citações realizadasAutores/InstituiçõesNº de citações realizadas
Amancio, D.R. (USP)7Soleman, S. (Tokyo Institute of Technology)3
Vasconcelos, S.M.R. (UFRJ)7Arruda, H.F. (USP)3
Labbé, C. (Universite Grenoble Alpes)5Fujii, A. (Tokyo Institute of Technology)3
Roig, M. (St. John’s University)5Costa, L.D.F. (USP)3
Silva, F.N. (USP)3Tien, N.M. (Universite Grenoble Alpes)3
Fonte: Elaboração dos autores

Objetivando traçar um perfil de tais pesquisadores, a seguir são apresentadas mais informações:

5 ANÁLISE

A análise da produção científica sobre Plágio na Scopus, bem como seu impacto por meio do perfil dos citantes, foi realizada a partir das variáveis: temáticas mais trabalhadas, coautorias, instituições, periódicos, autores mais produtivos e categorização temática, além de artigos mais citados, principais países, instituições, periódicos e autores citantes. Observa-se uma discreta produção ao longo dos anos, onde consta a publicação do primeiro artigo sobre o tema em 2007.

A área de Ciências Sociais é responsável por 80 (53%) citações dentre as 151 recebidas pelo universo de pesquisa. Como 43% dos artigos estão disponibilizados em acesso restrito, é importante almejar novos modelos comunicacionais e ampliar a visibilidade sobre temática tão relevante para a dinâmica científica. Plágio, má conduta científica e ética são as palavras-chave mais mencionadas e, portanto, mais interligadas no universo de pesquisa, representando os principais interesses dos pesquisadores. As parcerias brasileiras com os demais países possuem baixa frequência, nas quais somente oito artigos realizaram tais coautorias, com a presença de Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, França e Índia. Embora relevantes, nota-se a ausência de colaborações com países latino-americanos que naturalmente experimentam uma realidade mais próxima a do Brasil. Referente às instituições mais produtivas percebe-se a preponderância de universidades públicas. As principais são: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de São Paulo (USP). Sobre os periódicos mais produtivos, observa-se que 80% estão disponíveis em acesso aberto e 60% são brasileiros.

A “Revista Brasileira de Educação” pode ser destacada em decorrência de suas publicações sobre o papel da universidade diante do plágio, as questões de autoria e reflexões acerca das más condutas científicas. Dentre os autores mais produtivos, salienta-se a presença marcante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), indicando a existência de um núcleo interessado em discussões acerca do plágio na comunicação científica. Quanto à categorização nota-se a concentração em assuntos ligados a verificação do problema do plágio e responsabilidades, bem como medidas combativas.

O impacto do universo de pesquisa está representado por 151 citações. Os principais citantes são, em sua maioria, provenientes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da St. John's University (Estados Unidos). A Universidade Federal do Rio de Janeiro também é a mais produtiva. Os principais países citantes da referida produção científica são o Brasil e os Estados Unidos, com predominância das áreas de Ciências Sociais e Medicina. Ainda estão presentes a França e o Reino Unido, indicando uma correlação entre a seleção das coautorias realizadas e as posteriores citações recebidas.

Sobre as instituições citantes, observa-se a presença das universidades públicas brasileiras (31%): USP e UFRJ, sendo também as universidades mais produtivas. Nenhum dos principais periódicos citantes está disponibilizado em acesso aberto. Eles abordam, fundamentalmente, as áreas de Biblioteconomia, Ciência da Informação e Ciência da Computação. Somente o periódico “Science And Engineering Ethics” figura entre os mais produtivos e citantes também.

A inexistência de periódicos brasileiros entre os principais citantes poderia representar escasso interesse no tema? A concentração das citações entre as mesmas instituições que são, também, as mais produtivas indica a possibilidade da ocorrência de autocitações e, portanto, escasso alcance da referida produção científica? A baixa realização de coautorias entre os países latino-americanos interfere no impacto e alcance científico? Tais questionamentos, com base nos resultados aqui obtidos, tendem a ser ratificados positivamente, pois se observa que a ampliação da produção científica sobre determinado tema, como o plágio, suscita discussões, promovendo o debate científico e, consequentemente sua evolução. E, para que esta evolução ocorra, o reconhecimento social obtido pelas citações torna-se fundamental, devendo ser expandido para além das próprias instituições que elaboraram a referida produção científica. Uma das formas de ampliar a visibilidade desta produção reside na realização de coautorias entre países que desfrutam de realidades similares, como o caso da América Latina. Logo, acredita-se que tais características acima referidas, embora mais estudos sejam necessários, indicam possibilidades de avanço no tema plágio, contribuindo assim para as boas práticas de pesquisa.

6 CONCLUSÕES

Os resultados alcançados possibilitaram ampliar a compreensão sobre o contexto produtivo brasileiro referente ao plágio e suscitaram questionamentos que necessitam ser explorados em estudos futuros envolvendo outras bases de dados. Sejam brasileiras ou internacionais, a análise de outras bases de dados contribuirá para o desenvolvimento do campo científico.

Em meio às discussões sobre open access, e sua relevância para a evolução da ciência, as publicações sobre plágio precisam ampliar sua circulação no meio acadêmico, estimulando discussões que irão favorecer a honestidade intelectual. Trata-se de questão fundamental a liberação do acesso restrito, pois indica a construção de novos e abrangentes modelos comunicacionais.

As discussões científicas relacionadas ao plágio são de extrema relevância para o estímulo as boas práticas de pesquisa, tendo em vista que o desrespeito representado pela não identificação correta das autorias compromete profundamente a qualidade das pesquisas realizadas, podendo até mesmo induzir a erros, fato incompatível com o ciclo produtivo que se espera da Ciência. Obviamente, não se trata somente do estabelecimento de regras punitivas, mas sim de propiciar elementos educativos que irão ampliar a concepção e consciência sobre o plágio, de modo a combatê-lo.

Partindo-se do princípio de que o campo científico envolvendo o plágio é constituído por um complexo contexto no qual o Brasil tem condições de liderar as ações no âmbito latino-americano, o conhecimento avalizado nos artigos científicos pode ser um dos caminhos possíveis para os avanços relacionados ao referido tema. E sendo esta pesquisa uma análise de tais artigos, espera-se contribuir com discussões que viabilizem a consciência sobre o contexto envolvido no plágio, além de estimular mais pesquisas abordando tema tão relevante para o fazer científico.

Material suplementar

Parecer (pdf)

REFERÊNCIAS

ADLER-KASSNER, L.; ANSON, C.; HOWARD, R. M. Framing plagiarism. In: EISNER, Caroline; VICINUS, Martha (ed.). Originality, imitation and plagiarism: teaching writing in digital age. Michigan: The University of Michigan Press, 2008. p. 231-246.

AJIFERUKE, I.; LU, K.; WOLFRAM, D. A comparison of citer and citation-based measure outcomes for multiple disciplines. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.61, n.10, p.2086–2096, 2010. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/asi.21383/abstract;jsessionid=CCDEB27E05DBE1EC41BE980DA524EAB3.f04t01. Acesso em: 12 abr. 2019.

ARAÚJO, C. A. A.; BRAGA, R. M. O.; VIEIRA, W. O. A contribuição de C. Kuhlthau para a Ciência da Informação. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v.7, n.2, p.185-198, 2010. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1963. Acesso em: 10 abr. 2019.

BERLINCK, R. G. S. The academic plagiarism and its punishments: a review. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 21, n. 3, p. 365–372, maio/jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-695X2011005000099&script=sci_arttext. Acesso em: 11 mar. 2019.

BORNMANN, L.; DANIEL, H. D. What do citation counts measure? A review of studies on citing behavior. Journal of Documentation, v.64, n.1, p.45–80, 2008. Disponível em: http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10. 1108/00220410810844150. Acesso em: 8 jun. 2019.

BRAMBILLA, S. D. S.; VANZ, S. A. S.; STUMPF, I. R. C. Mapeamento de um artigo produzido na UFRGS: razões das citações recebidas. Encontros Bibli, v.11, n.especial, p.195-208, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2006v11nesp1p195/423. Acesso em: 30 mar. 2019.

BUFREM, L.; PRATES, Y. O saber científico registrado e as práticas da mensuração da informação. Ciência da Informação, v.34, n.2, p.9-25, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v34n2/28551. Acesso em: 26 mar. 2019.

BUFREM, L. S. Configurações da pesquisa em ciência da informação. Datagramazero, v.14, n.6, 2013.

CRONIN, B.; SHAW, D. Identity-creators and image-makers: Using citation analysis and thick description to put authors in their place. Scientometrics, v.54, n.31, p.31-49, 2002. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023%2FA%3A1015628320056. Acesso em: 1 abr. 2019

DINIZ, D.; MUNHOZ, A. T. M. Cópia e Pastiche: plágio na comunicação científica. Argumentum, v.3, n.1, p.11-28, jan./jun. 2011. Disponível em: http://www.publicacoes.ufes.br/argumentum/article/view/1430. Acesso em: 14 jun. 2019.

GARFIELD, E. Is citation analysis a legitimate evaluation tool? Scientometrics, v.1, n.4, p.359-375, 1979. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007%2FBF02019306. Acesso em: 26 mar. 2019.

GEORGE, S.; COSTIGAN, A.; O’HARA, M. Placing the Library at the Heart of Plagiarism Prevention: The University of Bradford Experience. New Review of Academic Librarianship, v. 19, n. 2, p. 141–160, 2013. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13614533.2013.800756. Acesso em: 11 jun. 2019.

GILMORE J.; STRICKLAND, D.; TIMMERMAN, B; MAHER, M; FELDON, D. Weeds in the flower garden: An exploration of plagiarism in graduate students’ research proposals and its connection to enculturation, ESL, and contextual factors. International Journal for Educational Integrity, v.6, n.1, p. 13–28, 2010.Disponível em: https://www.ojs.unisa.edu.au/index.php/IJEI/article/view/673. Acesso em: 10 abr. 2019.

IRIBARREN MAESTRO, I. Producción científica y visibilidad de los investigadores de la Universidad Carlos III de Madrid en las bases de datos del ISI,1997-2003. 2006. Tese (Doutorado) - Universidad Carlos III de Madrid, 2006. Disponível em: http://e-archivo.uc3m.es/handle/10016/1088. Acesso em:1 jun. 2019.

KROKOSCZ, M. Autoria e Plágio: um guia para estudantes, professores, pesquisadores e editores. São Paulo: Atlas, 2012.

LITTO, F. M. Plágio e integridade acadêmica: um dossiê eclético. São Paulo: ABED, 2018. Disponível em: http://www.abed.org.br/arquivos/Plagio_e_Integridade_Academica_Litto.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019.

MACIAS-CHAPULA, C.A. O papel da informetria e da cientometria e sua perspectiva nacional e internacional. Ciência da Informação, Brasília, v.27, n.2, p.134-140, maio/ago. 1998.

NOE, A. Pesquisadores da USP têm acesso a ferramentas antiplágio. Jornal da USP, 21 de março de 2017. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/pesquisadores-da-usp-tem-acesso-a-ferramentas-anti-plagio/. Acesso em: 11 out. 2019.

PACKER, A. Os periódicos brasileiros e a comunicação da pesquisa nacional. Revista USP, São Paulo, n. 89, 2011. Disponível em: http://rusp.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 99892011000200004&lng=en&nrm=isso. Acesso em: 27 jan. 2020.

PLAGIARISM.In: CAMBRIDGE DICTIONARY. Cambridge: Cambridge University Press, 2019a. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/plagiarism. Acesso em: 11 out. 2019.

PLAGIARISM. In: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. London: Encyclopaedia Britannica, 2019b. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/plagiarism. Acesso em: 11 out. 2019.

PLAGIARISM. In: OXFORD REFERENCE. Oxford: Oxford University Press, 2019c. Disponível em: https://www.oxfordreference.com/view/10.1093/oi/authority.20110803100329803. Acesso em: 11 out. 2019.

POLICY on plagiarism. ORI Newsletter, v. 3, n. 1, dec. 1994. Disponível em: https://ori.hhs.gov/ori-policy-plagiarism. Acesso em: 11 out. 2019.

ROIG, M. Avoiding plagiarism, self-plagiarism, and other questionable writing practices: a guide to ethical writing. In: ORI The office of Research Integrity. Maryland: U.S Departament of Health and Human Services, 2015. Disponível em: https://ori.hhs.gov/avoiding-plagiarism-self-plagiarism-and-other-questionable-writing-practices-guide-ethical-writing. Acesso em: 11 out. 2019.

SALDAÑA, P. Instituições apostam em software contra plágio. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 19 maio 2014. Metrópolis, A1. Disponível em: https://www.semesp.org.br/imprensa/instituicoes-apostam-em-software-contra-plagio/. Acesso em: 11 out. 2019.

SANTOS, A. R. dos. Caracterização da pesquisa. In: SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. p. 25-31.

SATIJA, M. P.; MARTÍNEZ-ÁVILA, D. Plagiarism: an essay in terminology. DESIDOC Journal of Library & Information Technology, v. 39, n. 2, p. 87-93, mar. 2019. Disponível em: https://publications.drdo.gov.in/ojs/index.php/djlit/article/view/13937/7060. Acesso em: 18 out. 2019.

SCOPUS. 2019. Disponível em: www.scopus.com. Acesso em: 20 ago. 2019

SMALL, H. On the shoulders of Robert Merton: towards a normative theory of citation. Scientometrics, v.60, n.1, p.71-79, 2004.

SPINAK, E. Indicadores cienciométricos. Ciência da Informação, Brasília, v.27, n.2, p.141-148, maio/ago. 1998.

TULLEY-PITCHFORD K. Mouse click plagiarism: can technology help to fight back? PRHE Journal, v.6, n.2, p. 58-68, 2012. Disponível em: https://eric.ed.gov/?id=EJ1130472. Acesso em: 17 abr. 2019.

VANZ, S.A.S.; CAREGNATO, S. E. Estudos de citação: uma ferramenta para entender a comunicação científica. Em Questão, v.9, n.2, p.295-307, 2003. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/75. Acesso em: 26 mar. 2019.

VASCONCELOS, S.; LETA, J.; COSTA, L.; PINTO, A.; SORENSON, M. M. Discussing plagiarism in Latin American Science: Brazilian researchers begin to address an ethical issue 2009. EMBO Reports, v.10, p.677-682, 2009. Disponível em: http://embor.embopress.org/content/10/7/677. Acesso em: 10 jun. 2019.

WEBER-WULFF, D. Plagiarism detectors are a crutch, and a problem. Nature, v. 567, p. 435, 28 mar. 2019. Disponível em: https://www.nature.com/magazine-assets/d41586-019-00893-5/d41586-019-00893-5.pdf. Acesso em: 11 out. 2019.

Informação adicional

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA: Concepção e elaboração do manuscrito: F. O. Meschini, M. M. Francelin Coleta de dados: F. O. Meschini Análise de dados: F. O. Meschini, M. M. Francelin Discussão dos resultados: F. O. Meschini, M. M. Francelin Revisão e aprovação: M. M. Francelin

CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA: Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

LICENÇA DE USO: Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Estra licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.

PUBLISHER: Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

EDITORES: Enrique Muriel-Torrado, Edgar Bisset Alvarez, Camila Barros.

HMTL gerado a partir de XML JATS4R por