Estudo de Caso

DIMENSÕES DA MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO MEDIADOR DA LEITURA: APROXIMAÇÕES TEÓRICAS E EMPÍRICAS

DIMENSIONS OF INFORMATION MEDIATION AND ITS CONTRIBUTIONSTO THE TRAINING OF THE READING MEDIATOR: THEORETICAL AND EMPIRICAL APPROACHES

Ingrid Paixão de Jesus
Universidade Federal da Bahia, Brazil
Henriette Ferreira Gomes
Universidade Federal da Bahia, Brazil

DIMENSÕES DA MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO MEDIADOR DA LEITURA: APROXIMAÇÕES TEÓRICAS E EMPÍRICAS

Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 26, e83369, 2021

Universidade Federal de Santa Catarina

Recepção: 14 Agosto 2021

Aprovação: 03 Novembro 2021

Publicado: 26 Dezembro 2021

RESUMO

Objetivo: Identificar e categorizar os indicadores do alcance das dimensões da mediação da informação em ações voltadas à formação do mediador.

Método: Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, a partir da associação do método do estudo de caso e da pesquisa participante. Para a coleta de dados, foram utilizadas as técnicas da observação direta sistemática e do grupo focal. O universo foi o das ações do Projeto de Extensão Lapidar e a amostra correspondeu às suas ações realizadas em 2019, com a participação de 14 participantes entre membros discentes, docentes e egressos dos Cursos de Biblioteconomia e de Arquivologia da Universidade Federal da Bahia.

Resultado: Quanto a estes, foram considerados insuficientes para afirmar que todas as cinco dimensões da mediação da informação têm sido plenamente alcançadas nas ações voltadas para a formação do mediador, contudo foi possível constatar a ocorrência de um número maior de indicadores do alcance das dimensões dialógica e estética, enquanto aqueles relacionados às dimensões formativa, ética e política foram mais reduzidos.

Conclusões: Afirma-se por meio desta pesquisa que o Projeto vem construindo uma tomada de consciência entre os participantes em relação à responsabilidade social da área e quanto ao papel da mediação da mediação da informação e do mediador.

PALAVRAS-CHAVE: Dimensões da mediação da informação+ Mediação da leitura+ Formação do mediador+ Extensão universitária.

ABSTRACT

Objective: Identify and categorize the indicators of the reach of the dimensions of mediation of the information in actions aimed at qualifying the mediator.

Methods: It is a descriptive study, with a qualitative approach, from the association of the case study method and the participant research. For data collection, systematic direct observation and focus group techniques were used. The universe was that of the actions of the Lapidar Extension Project and the sample corresponded to its actions carried out in 2019, which in this edition had 14 participants among students, professor and graduates of the Library and Archives Courses of the Federal University from Bahia-Brazil.

Results: As for these, they were considered insufficient to state that all five dimensions of information mediation have been fully achieved in actions aimed at training the mediator, however it was possible to observe the occurrence of a greater number of indicators of the reach of the dialogic and esthetics, while those related to the formative, ethical and political dimensions were more reduced.

Conclusions: It is affirmed through this research that the Project has been building and awareness among the participants regarding the social responsibility of the area and regarding the role of mediation in the mediation of information and the mediator.

KEYWORDS: Dimensions of information mediation, Reading mediation, Mediator training, University Extension.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade vem sendo marcada por constantes transformações em todos os aspectos, e nesse contexto, percebe-se que há um novo perfil de leitor e, consequentemente, novas necessidades informacionais e culturais. Diante disso, na mediação da leitura, o mediador precisa considerar os diversos perfis de leitores, buscando atuar de forma dinâmica e atraente, proporcionando o acesso à informação e à leitura, de modo a contribuir para o desenvolvimento de um posicionamento crítico e ativo dos sujeitos leitores no seu meio social.

Para isso, entende-se como relevante o investimento na formação de mediadores que estejam conscientes da sua função social, entre estes, os bibliotecários e arquivistas, que podem ser apresentados como profissionais que têm “[...] a responsabilidade de identificar as demandas sociais por informação em diferentes contextos, envolvendo públicos diversos.” (FERREIRA, 2014, p. 134). O investimento em ações voltadas à formação do mediador da informação deve estar pautado na reflexão e no desenvolvimento de pensamentos críticos e coletivos, que devem estar presentes nas ações do profissional da informação, que podem favorecer o processo de construção de sentidos e de apropriação da informação, ambos dependentes da leitura.

Na área da Ciência da Informação (CI) a produção de textos científicos está pautada em temáticas que abordam os conhecimentos e as habilidades necessárias ao mediador da leitura, compreendendo que este pode ser considerado como sujeito que atua em favor do compartilhamento do conhecimento. Nesse sentido, este sujeito oportuniza aos leitores condições para a reflexão sobre os conteúdos, relacionando-os à sua realidade, podendo a partir disso refletir sobre seus próprios posicionamentos no mundo, o que tenderá a gerar uma ambiência para a tomada de consciência, levando-os a se transformarem em sujeitos da ação política, se tornando, assim, em protagonistas sociais. Entre as contribuições tomadas como referenciais desta pesquisa, destaca-se neste texto a abordagem teórica de Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) sobre as cinco dimensões da mediação da informação, conceituadas pela autora como: dialógica, estética, formativa, ética e política e que vem ampliando e fortalecendo os debates sobre as atividades mediadoras. Essas cinco dimensões formuladas por Gomes representam elementos constitutivos da mediação da informação que estão intrinsecamente relacionados ao processo da interação humana. Desse modo, estão presentes tanto nas ações voltadas à formação do mediador da leitura, quanto nas ações de mediação da informação e da leitura, contribuindo com o processo de construção da compreensão, interpretação e apropriação da informação.

Dentro dessa perspectiva teórica, este estudo teve por objetivo identificar e categorizar indicadores do possível alcance das dimensões da mediação da informação em ações voltadas à formação do mediador da leitura. Para isso, foi realizada uma pesquisa de nível descritivo, com a adoção dos métodos do estudo de caso e da pesquisa participante para observar, descrever e analisar as ações realizadas pelo Lapidar - projeto extensionista da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que tem por intenção a promoção de atividades de mediação voltadas à formação de mediadores da leitura e, ao mesmo tempo, apoiar atividades de promoção da leitura em ambientes sociais, tais como bibliotecas comunitárias.

O universo da pesquisa correspondeu às ações realizadas pelo Lapidar em bibliotecas comunitárias e a amostra selecionada foi composta pelas ações realizadas na edição de 2019 da Biblioteca Comunitária Padre Alfonso Pacciani, localizada no Bairro da Fazenda Grande do Retiro, na Cidade de Salvador, no Estado da Bahia. Ressalta-se que o Projeto Lapidar contou com a participação de três subgrupos: os leitores e os agentes mediadores que atuam diretamente na Biblioteca visitada, além dos seus membros, contudo, no que diz respeito à parte dos resultados apresentados e discutidos neste artigo, referem-se ao subgrupo da amostra correspondente aos membros do Projeto Lapidar no ano de 2019 (as docentes, os egressos e estudantes dos Cursos de Biblioteconomia e Documentação e de Arquivologia da UFBA), formando um grupo amostral de 14 participantes.

Os resultados obtidos permitiram concluir que, embora as informações identificadas e analisadas no período de realização da pesquisa tenham sido insuficientes para se afirmar que todas as cinco dimensões da mediação da informação foram plenamente alcançadas nas ações voltadas para a formação do mediador, constatou-se a ocorrência de um número maior de indicadores do possível alcance das dimensões dialógica e estética, em contrapondo a um número menor de indicadores, com ocorrência também reduzida, relacionados ao possível alcance das dimensões formativa, ética e política. No entanto, a partir de uma abordagem qualitativa da análise pode-se inferir que, os princípios ligados a estas três últimas dimensões, ainda que de modo embrionário, estão sendo de algum modo trabalhados no interior das ações de formação realizadas pelo Projeto Lapidar, já que alguns indicadores foram identificados.

Desse modo, os resultados obtidos na pesquisa demonstram que as ações de formação do mediador desenvolvidas pelo Projeto Lapidar estão proporcionando um processo de formação para uma mediação mais consciente, na medida em que a partir dessas ações formativas os participantes têm a oportunidade de uma tomada de consciência em relação à responsabilidade social da área, à função social da mediação da informação e da leitura e ao seu próprio papel social como mediador.

2 APROXIMAÇÕES ENTRE A LEITURA E AS DIMENSÕES DA MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO PARA A FORMAÇÃO CRÍTICA E PROTAGONISTA DO MEDIADOR

O fenômeno “ler” se deve à necessidade e ao desejo que o sujeito social tem de experimentar, comunicar e expressar para outros sujeitos suas vivências e conhecimentos. O sujeito necessita e se faz social na partilha. Esse movimento de conhecer o novo se amplia quando é possível ir além do aprendizado a da decodificação de signos e compreender esses signos, dominá-los e se apropriar deles, assim como os ambientes e as práticas sociais, para interagir, atuar e transformar a si e ao meio, registrando ocorrências que lhe importam. A produção de registros favorece a comunicação entre os sujeitos e a troca de percepções e coloca-os na zona de encontro que pode gerar negociações transformadoras.

A leitura pode provocar uma mudança perceptiva do leitor que o leva a uma transformação a partir da interação leitor-texto, constituindo-o como sujeito social. Essa interação incentiva o prazer pela mesma e desenvolve o senso crítico, proporcionando que o leitor reflita sobre o texto lido, questione sobre ele e analise-o. É nesse momento em que o mediador da leitura pode interferir usando mecanismos que favoreçam o posicionamento crítico e social desse sujeito. Cavalcante (2015) conceitua a mediação da leitura, na perspectiva da narração oral, como ampliação da noção do texto, para além da palavra escrita, que proporciona um processo de comunicação ancorado na interação social, estabelecendo as condições necessárias para a produção e a apropriação de sentidos a partir das experiências vividas individualmente entre o mediador e o leitor.

Nesse sentido, é preciso que o mediador da leitura esteja apto para desenvolver atividades mediadoras que proporcione o acesso e a apropriação da informação que estão nas linhas e entrelinhas que os textos podem possibilitar. Por meio dessa apropriação, os sujeitos poderão compartilhar o conhecimento construído, decodificando os signos e relacionando-os com a sua realidade, com o objetivo de interferir nela. Gomes (2008, p. 11) reflete que, “[...] como ação humana, a leitura é movida por intencionalidades e marcada pelas potencialidades do leitor, implicando nas lacunas de interpretação, inerentes aos processos humanos.” A partir dessa concepção, é possível afirmar que a mediação da leitura desenvolve competências tanto leitoras, como também, informacionais que favorecem a compreensão do sujeito como ser social. Por isso, profissionais da informação, especificamente, os bibliotecários e arquivistas, não podem ser passivos e, tampouco, se esquivarem da responsabilidade de propiciar o acesso à informação e à leitura por meio de atividades mediadoras.

Para isso, o mediador precisa atuar em unidades informacionais, contribuindo não apenas para a preservação, recuperação e acesso à informação, mas também com os processos de leitura e apropriação da informação. Atuando desse modo, esses mediadores também estarão contribuindo para a formação de sujeitos cada vez mais capazes de gerar comunicação, de produzir informação e cultura, de se expressarem e atuarem no processo de comunicação. Esta compreensão acerca do trabalho do mediador foi norteadora deste estudo e que se pauta no conceito de mediação da informação formulado por Almeida Junior (2015, p. 25), no qual ele afirma que a mesma corresponde a

Toda ação de interferência - realizada em um processo, por um profissional da informação e na ambiência de equipamentos informacionais -, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais.

Por outro lado, vale ressaltar que na área da Ciência da Informação, ação mediadora não está circunscrita a um momento ou fazer profissional, mas sim a um processo que envolve e entrelaça princípios, fazeres e contextos, com a finalidade de não apenas garantir o acesso a eles, mas também para que a partir desse acesso se inicie um processo reflexivo, um processo de debate, de trocas e de exercício da crítica em torno do conteúdo. Assim, ocorre o favorecimento da apropriação da informação, movimento que torna evidente a força da comunicação nas ações mediadoras, que devem atuar na construção de espaços de sociabilidades, contribuindo com as interações sociais em torno da informação.

Esta é a concepção de mediação da informação que orientou as abordagens teóricas de Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) para a formulação e defesa da existência de cinco dimensões da mediação da informação, conceituando-às enquanto: dialógica, estética, formativa, ética e política. Essa formulação vem contribuindo para os debates acerca das ações mediadoras que visam o acesso e a apropriação da informação, interferindo no sentido de colaborar com o processo de produção de sentidos, de construção e compartilhamento dos conhecimentos e saberes em contextos dialógicos proporcionados pelas atividades de mediação da informação. Nesse sentido, a autora assinala que a dimensão dialógica pode ser percebida no exercício consciente da mediação da informação. Gomes (2019) ressalta que a dimensão dialógica deve ser mais intensamente alcançada para que os envolvidos na ação mediadora realizem o exercício da crítica e da observação mais acurada das incompletudes e lacunas dos conhecimentos instituídos e estabilizados, assim como possam observar as complexidades dos fenômenos relacionados às temáticas em foco na mediação.

Quando realizada as ações de mediação da informação e estas proporcionam condições de acolhimento e reconhecimento de si e dos demais interlocutores como sujeitos ativos, que também podem agir no processo mediador e criador, os sujeitos se sentem participantes do processo colaborativo e criativo, o que resulta na geração de prazer e satisfação, sinalizando algum nível de alcance da dimensão estética da mediação da informação. Nesse contexto, os envolvidos se sentem acolhidos e acolhem, se expressam com conforto e oferecem conforto ao outro para que se expresse também e, nesse processo de troca, a reflexão flui, o espaço para a crítica se abre, o pensar se encadeia, a interpretação encontra terreno propício para se desenvolver e se expor e o debate no espaço de sociabilidade permite a revisão do pensar e estimula a criação e recriação da compreensão (GOMES, 2019, 2020).

Relacionando a dimensão estética com a mediação da leitura, é possível afirmar que, quando o sentimento de pertencimento é desenvolvido, há uma forte possibilidade de ocorrerem manifestações de prazer por parte dos sujeitos participantes das ações leitoras, que tendem a expressar as informações que puderam acessar e conhecer, inclusive o que em suas interpretações ressignifica e transforma o conteúdo acessado, representando uma zona de imprevisibilidade em torno da ação de mediação da leitura.

O conforto, a afetividade e a criatividade estão interligadas ao alcance da dimensão estética. Quando os sujeitos que participam da ação mediadora intensificam o debate e a troca de ideias, expressam suas compreensões e começam a ter a possibilidade de ressignificar o que sabiam antes sobre o tema tratado, a mediação da informação alcançou a sua dimensão estética e, como afirma Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020), quando a dimensão estética é alcançada, o processo da mediação está caminhando em direção à sua dimensão formativa, que segunda a autora consiste na instância na qual o sujeito envolvido na ação mediadora redimensiona seus saberes, conhecimentos e percepções.

Quanto à dimensão formativa, Gomes (2019) assinala que as ações de mediação da informação guardam um caráter formativo quando contribuem com a formação e a qualificação do sujeito envolvido na ação ou que a realiza. Na perspectiva da mediação da leitura, é possível afirmar que, com o desejo de compartilhar conhecimentos por meio de ações leitoras, o mediador também pode contribuir para a formação de outros sujeitos e também, se forma e transforma no processo.

Neste estudo, compreende-se que a dimensão formativa da mediação da informação está fortemente associada à mediação da leitura, colocando em evidência o caráter pedagógico da mediação. Porém esse caráter também exige a valorização e o respeito ao outro, assim como a consciência de que, na interação e na dialogia.

A leitura possibilita, por meio do texto do outro, o encontro com esse outro, sua cultura e perspectivas de mundo e representa um ato de necessário respeito à alteridade. Ela também exige o comportamento ético, sem o qual seria impossível respeitar a alteridade. Por outro lado, quando se observa o engajamento entre as dimensões da mediação da informação discutidas (dimensão dialógica, estética e formativa), percebe-se que a consciência sobre elas conduz ao respeito à alteridade e a uma tomada de posição no trabalho com a mediação mais consciente quanto à função social desse fazer comprometido e o favorecimento do encontro entre diferentes sujeitos, pensamentos, conhecimentos, enfim, o encontro com o outro, motivando a formação de redes de colaboração para crescimento mútuos. Nesse sentido é que Gomes tem defendido que a dimensão ética da mediação da informação representa um eixo articulador das demais dimensões. (GOMES, 2020).

Para efetivar as redes de colaboração é preciso acolher o outro e ser receptivo com o diferente, pois as ações de mediação da informação realizadas em favor do livre pensar e do livre expressar exigem abertura para o processo dialético que é convocado no encontro das contradições constitutivas dos fenômenos. Na perspectiva de Gomes (2019, p. 17), a dimensão ética da mediação da informação demanda “[...] o ouvir e dialogar com o outro, com ampliação da capacidade de escuta e observação sensíveis.” Nessa compreensão, ao relacionar a dimensão ética da mediação da informação com a mediação da leitura, entende-se que o respeito ao outro deve estar presente na produção, na leitura e no debate para que a apropriação ocorra efetivamente. A dimensão ética também é fundamental para que a preservação e o acesso ocorram sem restrições e censura, para isso é preciso uma formação crítica e consciente do mediador, de maneira que este venha a assumir uma posição protagonista na sua atuação.

Por outro lado, Gomes (2020) ressalta que, quando a dimensão ética é alcançada e colocada na ação mediadora na condição de eixo articulador das dimensões dialógica, estética e formativa, a mediação da informação tem maiores possibilidades de alcançar a sua dimensão política, quando todos os envolvidos na ação mediadora passam a compreender os princípios intrínsecos de cada dimensão e a incorporá-los em suas existências.

Nessa perspectiva, Gomes (2016, 2017, 2019, 2020) reforça a importância de o mediador atuar em respeito aos fundamentos do trabalho informacional, aos interesses sociais e aos princípios de humanização do mundo, defendendo que a dimensão política da mediação da informação é a instância em que os envolvidos na ação mediadora tomam consciência de si e da sua realidade, o que favorece a compreensão da condição social de todos e o potencial de se transformarem em protagonistas sociais. Gomes (2019, 2020) assinala ainda que a mediação da informação realizada com consciência alcança sua dimensão política, o que é fundamental para sua efetividade e para que tanto os mediadores quanto os participantes da ação mediadora se reconheçam como sujeitos sociais e transformem em sujeitos da ação, enfim, em sujeitos políticos.

À luz desse referencial, buscou-se na pesquisa em tela analisar o alcance das dimensões da mediação da informação nas ações realizadas pelo Projeto de Extensão Lapidar destinadas à formação do mediador da leitura, que vem atuando em comunidades periféricas da Cidade de Salvador desde o ano de 2017. Destaca-se que o Projeto Lapidar atualmente é a única iniciativa extensionista que atua diretamente com a Rede de Bibliotecas Comunitárias de Salvador, e, desde então, vem gerando produções científicas significativas no sentido de abordar a importância e a possíveis colaborações da extensão universitária. Essas produções têm colaborado para o desenvolvimento social, cultural e informacional, tanto da comunidade acadêmica, quanto de outras instâncias sociais que estão em seu entorno, motivo pelo qual foi selecionado como contexto de investigação da pesquisa a partir da qual foi produzido este artigo.

3 METODOLOGIA

A escolha do Projeto Lapidar como contexto da investigação levou à adoção do método do estudo de caso associado à pesquisa participante, já que a primeira autora deste artigo, sob a orientação da segunda autora (na condição de orientadora do estudo), é integrante do corpo de membro do Lapidar e partícipe das suas ações que representaram o universo do estudo.

Quanto a amostra, correspondeu às ações realizadas na edição de 2019 que visaram a qualificação e atuação dos seus componentes no ambiente social selecionado pelo Projeto. Na edição analisada, o Projeto Lapidar selecionou como espaço propício para a realização das atividades mediadoras a Biblioteca Comunitária Padre Alfonso Pacciani, que fica localizada no bairro da Fazenda Grande do Retiro, situado na região periférica da capital baiana.

Para a coleta de dados, a primeira técnica adotada foi a de observação direta sistemática, que na concepção de Marconi & Lakatos (1996), trata-se de uma técnica que desenvolve uma estrutura voltada à uma observação planejada e controlada. Neste estudo, a observação direta sistemática mapeou as atividades e permitiu a identificação de possíveis indicadores do alcance das dimensões da mediação da informação nessas ações do Projeto Lapidar, entre as quais aquelas voltadas para a formação de mediadores, focalizadas neste artigo. Para o registro das informações obtidas nas sessões de observação sistemática foi utilizado um formulário, especificamente criado para auxiliar no processo de obtenção das informações durante a pesquisa.

Na segunda etapa da pesquisa, a fim de investigar como o Projeto Lapidar atua na formação de mediadores da leitura, foi adotada a técnica de realização do grupo focal, que, de acordo com Minayo (2012), deve ser aplicada em reuniões de grupos com seis a doze pessoas para representarem o objeto de estudo que será analisado, observando suas percepções, atitudes e representações sociais. Nesse sentido, o grupo focal foi utilizado para obter informações por meio das interações e das comunicações coletivas com e entre os participantes da amostra.

O roteiro do grupo focal foi dividido em três eixos. O primeiro buscou obter informações sobre as percepções dos membros do Lapidar quanto a sua formação como mediador de leitura; o segundo buscou ter acesso às percepções dos membros do Lapidar quanto ao conhecimento e à interação com a biblioteca comunitária e o terceiro e último eixo teve o objetivo de identificar as percepções dos membros do Lapidar quanto à relação da mediação da leitura com o desenvolvimento do protagonismo social. Quanto à composição do Projeto Lapidar destaca-se que, na edição analisada, foi formada por quatro estudantes do Curso de Biblioteconomia e quatro do Curso de Arquivologia do ICI/UFBA; três profissionais bibliotecárias (egressos) e três professoras do ICI/UFBA, duas delas coordenadoras oficiais do Projeto, o que totalizou 14 membros na edição de 2019.

O primeiro resultado obtido consistiu na identificação das ações realizadas pelo Lapidar destinadas à formação do mediador e que foram observadas para posteriormente compor a avaliação quanto ao alcance das dimensões da mediação da informação. Nesse levantamento inicial foi identificado um conjunto encadeado de oito atividades de formação, conforme descritas no Quadro 1.

Quadro 1
Ações voltadas para a formação do mediador da leitura elaboradas pelo Lapidar
Ações voltadas para a formação do mediador da leitura elaboradas pelo Lapidar
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Essas oito ações ocorrem como etapas dentro de um encadeamento lógico a partir do qual as coordenadoras realizam: a apresentação do Projeto Lapidar; a promoção de palestras; a exposição de uma videoaula seguida de discussão; indicação de leituras; debate sobre textos; seleção e discussão dos recursos a serem usados nas ações de mediação da leitura na Biblioteca; exercício da crítica; disponibilização e discussão de conteúdos em dispositivos de comunicação da web social.

No fluxo do desenvolvimento dessas ações foram observadas, manifestações, expressões e condutas espontâneas dos membros, a partir das quais foram extraídos elementos considerados no estudo como possíveis indicadores do alcance das dimensões da mediação da informação na formação realizada pelo Projeto Lapidar.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Concordando com o pensamento de Gomes (2017, 2019) de que as dimensões são elementos constitutivos da mediação e que se articulam de modo complexo e oscilante, a depender do contexto e da consciência com a qual a ação mediadora é realizada, pareceu possível, no espaço de tempo de uma pesquisa em nível de mestrado, apenas trabalhar com a identificação de indicadores do provável alcance dessas dimensões em atividade voltadas à formação do mediador da leitura no campo empírico de atuação do Projeto Lapidar em 2019.

Como a dimensão dialógica é a primeira proposta debatida por Gomes, que a compreende como sustentadora da ação mediadora, iniciou-se a discussão a respeito da categorização dos indicadores do alcance dessa dimensão nas ações voltadas para a formação do mediador. Essa categorização foi composta de dois indicadores. O primeiro foi a ocorrência do debate relacionado às discussões que emergiram da leitura de textos selecionados para o desenvolvimento das atividades de mediação da leitura na Biblioteca e nas explanações realizadas pelos palestrantes. Esse debate se caracterizou no que

Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) denomina de intensificação da interlocução, que possibilita um processo de comunicação a partir do qual a troca de ideias, de percepções, de interpretações e de experiências passa a ocorrer mais significativamente. O indicador debate confirmou que existe essa intensificação do diálogo nas ações de formação dos mediadores. Por meio dele, os envolvidos interpelaram, questionaram, argumentaram e formularam sugestões, demonstrando o alcance da dimensão dialógica.

Esse debate ocorreu nos diversos momentos da etapa de formação, porém, essas discussões se intensificaram mais nos momentos nos quais eram debatidas as informações acessadas por meio das leituras realizadas nas ações de formação. As argumentações elaboradas pelos integrantes em formação sinalizaram que eles estavam se apropriando dos conteúdos que estavam acessando. Conforme Jouve (2002), a argumentação é um tipo de processo de apropriação da leitura relacionado ao espaço dialógico, por isso as ações realizadas pelo Projeto Lapidar estimularam o discente e o egresso em formação a se posicionarem com depoimentos e a interagir tanto com os demais membros quanto com os palestrantes.

O segundo indicador do alcance da dimensão dialógica identificado nas ações de formação foram as enunciações nos dispositivos de comunicação do Lapidar na web social, que funcionam como um prolongamento do debate para além do momento da atividade formadora realizada. Nesse dispositivo, foram observadas manifestações que demonstraram o prolongamento do debate que nasceu durante as ações de formação, como as manifestações sobre modificar e incluir ações que seriam realizadas na comunidade, além de sugestões de participação em eventos sobre mediação. Tais manifestações reforçam que a dimensão dialógica foi alcançada na mediação da informação realizada na ação de formação.

No prolongamento do debate sobre as enunciações feitas nos dispositivos de comunicação do Lapidar na web, o Projeto tem ampliado os canais de comunicação entre seus integrantes, para que o debate e a troca de ideias entre eles tenham condições de continuar para além do tempo das próprias atividades realizadas. Pode-se afirmar que o Projeto Lapidar busca assegurar a dialogia, sem se limitar ao tempo de executar suas ações, construindo canais de abertura e permanência do diálogo. Essa experiência também prepara o futuro mediador para enfrentar os obstáculos que, em muitas circunstâncias, limitam as ações mediadoras. Essa conduta do Projeto Lapidar e o resultado da permanência da interlocução nesse dispositivo condizem com a afirmativa de Barros (2006) de que as ações mediadoras necessitam de adaptações e alterações permanentes, para que o mediador não se limite ao que se coloca como possível e busque superar as dificuldades.

Os espaços de interlocução são fundamentais para o desenvolvimento do ser humano, nesse sentido, concorda-se com Gomes (2014) quando a autora afirma que a dimensão dialógica é a base sustentadora da mediação da informação, a qual também sustenta as demais extensões da mediação como a mediação da leitura.

As interlocuções que ocorreram durante as ações de formação do mediador possibilitaram intensificar o debate e o compartilhamento de ideias em que os integrantes do Lapidar puderam expor sua compreensão em torno da temática abordada e ressignificar suas compreensões acerca da mediação da leitura. Na realização dessas ações, os membros participantes do Projeto demonstraram, por meio de suas manifestações, que passaram a se sentir como sujeitos participantes do processo colaborativo e criativo do Lapidar. Na perspectiva de Gomes (2014, 2020), o ato criador é configurado quando há o desenvolvimento do autoconhecimento, da consciência dos limites, das potencialidades e da elaboração de estratégias para enfrentar os desafios, apontando o alcance da dimensão estética da mediação da informação. Assim, pode-se afirmar que, alcançada a dimensão dialógica, a mediação realizada pelo Lapidar na formação dos mediadores da leitura começou a alcançar a dimensão estética.

Em seus estudos, Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) assevera que a conduta criativa é um aspecto constitutivo da dimensão estética da mediação da informação. Assim, observando as ações realizadas pelo Lapidar, os primeiros indicadores que apontam o alcance dessa dimensão são manifestação e atitude de criatividade e construção de produtos. Esses indicadores foram identificados durante uma visita técnica à Biblioteca Comunitária Padre Alfonso Pacciani e nos encontros do planejamento das ações de mediação, assim como na criação de recursos textuais, sonoros e imagéticos elaborados pelos integrantes do Projeto. Os produtos elaborados pelos membros do Projeto também sinalizaram que esses sujeitos estão, em alguma medida, desenvolvendo competências de mediadores da leitura.

As proposições formuladas por Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) são baseadas nos estudos de Paulo Freire e Vygotsky, autores que colocam a dialogia e a interação social no centro do desenvolvimento intelectual, educacional, cultural e social. Gomes coloca essas duas categorias como centrais na mediação da informação, com especial destaque para a instância da dimensão estética porque, na intensificação do diálogo e da interação, pode haver o exercício da crítica e da criatividade. Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) defende que a dimensão estética da mediação da informação só é alcançada quando o debate é intensificado em um espaço dialógico de interação de todos os sujeitos, assegurando o espaço de voz aos diferentes.

Gomes (2020) acrescenta que o espaço dialógico assegura o compartilhamento de informações entre os sujeitos, tanto na perspectiva objetiva quanto na subjetiva, o que estimula o processo de reflexão e o exercício da crítica que são essenciais à apropriação da informação. Essa afirmação corrobora com a teoria de Vygotsky (2007) sobre a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), exposta em sua obra A formação social da mente, em que ele defende a importância da interação social e da mediação dessa interação para que a ZDP seja acionada, como uma possibilidade de os sujeitos alcançarem outro estágio do seu desenvolvimento intelectual.

Nesse sentido, e tratando da dimensão estética, Gomes (2020) vem defendendo que, quando na mediação da informação trabalha-se pela intensificação do debate e pelo fortalecimento do espaço crítico, alcança-se a dimensão estética porque, nessas circunstâncias o sujeito envolvido na ação mediadora tenderá a ter acionada sua ZDP, que a autora considera, pautada em Vygotsky (2007), como uma instância potencializadora do desenvolvimento humano e da construção de sentidos por meio da interação social, na qual ocorrem trocas objetivas e também no plano das intersubjetividades.

Outros dois indicadores do alcance da dimensão estética nas ações de formação do Lapidar foram o da interpelação e o da intersubjetividade, elementos que foram observados nas discussões a respeito das informações apresentadas ao grupo, quando vários participantes colocaram seus questionamentos, defenderam posições, convicções e interpretações (interpelando) e evidenciaram aspectos de suas subjetividades nessas interpretações, expondo associações com suas concepções de mundo, experiências e sentimentos vividos (expressando subjetividades), tornando a troca de percepções mais confortável, o que estimulou a reflexão sobre os conteúdos abordados nas ações, mas sempre em associação com a vida, com as práticas e com as experiências anteriores.

Quando as ações voltadas para a formação do mediador proporcionaram o espaço de voz a todos, o grupo estabeleceu o debate e se expôs sem receio, o que contribuiu para a construção coletiva dos consensos. O exercício do debate foi valorizado, e todos se sentiram confortáveis para falar, o que possibilitou a interpelação e a intersubjetividade, que parecem ter contribuído para que os integrantes em formação tivessem a ZDP acionada, ressignificando suas concepções e interpretações anteriores sobre os temas abordados e estabelecendo consensos acerca das interpretações manifestadas. Essa condição foi essencial para o desenvolvimento e a manifestação da criatividade.

A existência desses quatro primeiros indicadores demonstrou que as ações tinham alcançado a dimensão estética. Essa interpretação foi ainda mais reforçada com a identificação de outros dois indicadores, o da manifestação do sentimento de pertença e o da demonstração de prazer por integrar o grupo e participar das ações.

Gomes (2019) defende, ainda, que o ambiente dialógico também possibilita que os sujeitos construam e manifestem um sentimento de pertencimento ao grupo no qual o diálogo passa a ser intenso e acolhedor, assim como demonstram o prazer que estão experimentando na vivência construída pela ação mediadora, outros dois elementos essenciais ao alcance da dimensão estética pela mediação da informação. A importância desses elementos também é destacada em outros tipos de estudo que tratam do processo de comunicação, como o realizado por Bravos (2018), que concebe o ambiente dialógico como essencial para ampliar os processos afetivo, solidário, interpretativo e criativo.

Outro aspecto que se pode ressaltar nessa discussão dos resultados obtidos pela pesquisa refere-se à intenção do Projeto Lapidar de realizar ações pedagógicas transformadoras, razão pela qual este pode ser considerado um Projeto que trabalha com mediação visando interferir na realidade da formação do profissional da informação, contribuindo para que ele seja capaz de atuar como mediador da informação. Araújo (2012) aponta para a interferência intencional que a ação mediadora pode proporcionar aos diferentes sujeitos, instituições e instâncias. Pode-se dizer que essa ação interferente do Projeto Lapidar tem contribuído para uma formação na perspectiva da mediação.

Ainda analisando as manifestações dos participantes das ações de formação, constatou-se que existem indícios de um provável redimensionamento da visão de mundo a partir da reflexão crítica sobre os temas abordados. Isso significa que as ações mediadoras do Lapidar voltadas para a formação podem ter alcançado a dimensão formativa da mediação da informação. Gomes (2019) afirma que a experiência vivenciada pelos sujeitos, em uma ação mediadora que alcança as dimensões dialógica e estética, tende a se ampliar com a geração de novos sentidos que os formam e qualificam. Isso indica que a mediação da informação realizada possivelmente alcançou algum nível da dimensão formativa.

Em suas abordagens, Gomes (2014, 2016, 2017, 2019, 2020) assinala ainda que, quando a mediação da informação alcança sua dimensão formativa, os sujeitos que participam da ação de interferência se apropriam da informação e passam também a interferir na realidade, agindo sobre ela, atuando para modificá-la e para acrescentar novas possibilidades na experiência. Contudo, nas ações observadas no tempo estrito desta pesquisa, só foi possível encontrar dois indicadores que talvez guardem alguma relação com a dimensão formativa, que foram categorizados como: proposições de fontes dos temas tratados (como sugestão de leitura) e algumas manifestações em que expressaram ter ocorrido alguma expansão dos conhecimentos que tinham anteriormente às ações do Lapidar.

Esses dois indicadores foram identificados a partir da observação das interferências que os membros do Lapidar passaram a fazer durante as ações voltadas para sua formação como mediadores. Nessas observações, os integrantes refletiram acerca da temática abordada pelo Projeto e realizaram associações que os levaram a indicar outras leituras e sugerir a participação em eventos que consideraram que poderiam contribuir com a formação do grupo. Essa reação e conduta depois das reflexões no coletivo em torno dos temas debatidos sugerem que esses integrantes em formação fizeram essas proposições impulsionados pela ampliação dos seus conhecimentos e pelo provável redimensionamento da visão de mundo que tinham anteriormente. Há possibilidades de que isso tenha ocorrido, já que eles mencionaram a superação de dificuldades de compreensão e passaram a ter melhores condições de resolver problemas profissionais e de ordem pessoal depois do aprendizado que estavam construindo no interior do Projeto. Enfim, esse aprendizado deve ter ocorrido realmente, já que se sentiram à vontade para fazer proposições de fontes dos temas tratados como sugestões de leituras e compartilhar conhecimentos com os demais, o que sinaliza ter ocorrido uma expansão dos conhecimentos que tinham anteriormente.

No que diz respeito à dimensão formativa da mediação da informação, é preciso admitir que uma pesquisa de curto tempo tem menos condições de levantar informações mais seguras sobre seu alcance, visto que o processo formativo é complexo, constante e envolve aspectos políticos, psicológicos e metodológicos, como afirmam Moro e Estabel (2012). Assim, a identificação de outros indicadores do alcance da dimensão formativa da mediação da informação exigiria um percurso mais longo para a pesquisa, até mesmo com a adoção de outras metodologias e técnicas.

Essa mesma ponderação deve ser feita na discussão dos resultados sobre o alcance das dimensões ética e política da mediação da informação. Ao apresentar a dimensão ética, Gomes (2019, 2020) afirma que ela é o eixo articulador das dimensões dialógica, estética e formativa da mediação da informação, pois, segundo a autora, não é possível alcançar essas três dimensões sem assegurar o espaço alteritário que sustenta a dialogia, a apropriação, a criatividade e a formação. Porém, quando esses elementos são sustentados, e as dimensões correspondentes são alcançadas, a mediação da informação alcança sua dimensão política também, porque o processo de conscientização se torna permanente tanto para o mediador quanto para os participantes da mediação realizada, que passam a se compreender como sujeitos sociais, cujo trabalho e ação têm uma função social importante. Nesse sentido, o alcance da dimensão política da mediação da informação, assim como da dimensão ética, exigiria um estudo longitudinal e com um recorte metodológico mais adequado ao acompanhamento de variáveis complexas que a envolvessem. No entanto, na pesquisa realizada foi possível identificar e categorizar alguns indicadores que podem sinalizar algum nível de alcance das dimensões ética e política.

Nesse sentido, foram identificados dois indicadores que sugerem o alcance da dimensão ética: o cuidado com o outro e o respeito ao direito do outro. O primeiro indicador - cuidado com o outro - foi sinalizado pela postura dos integrantes que defenderam a necessidade de, durante as ações realizadas na comunidade, manter-se o sigilo em relação às informações de caráter pessoal e institucional, manifestadas e conhecidas sobre a Biblioteca Comunitária selecionada e seus usuários que participaram das ações de mediação da leitura.

Essa conduta de desenvolver as ações com a comunidade assegurando o sigilo de informações pessoais dos leitores vinculados ao ambiente selecionado pelo Lapidar revelou o cuidado com o público-alvo das atividades, composto de crianças e adolescentes que residem na comunidade da Fazenda Grande do Retiro, bairro periférico da Cidade de Salvador - BA - considerando, com especial atenção, o fato de que parte desses usuários vive em situações de vulnerabilidade social, e poderiam surgir relatos de experiências, manifestações de opinião, posicionamentos com riscos de exposição. Essa atitude cuidadosa indica que as atividades realizadas pelo Projeto Lapidar foram pautadas pela conduta ética dos seus integrantes, sinalizando algum nível de alcance da dimensão ética da mediação da informação realizada por ele.

Os indicadores: cuidado com o outro e respeito com o outro também foram identificados pelos usuários e pela equipe da Biblioteca como condutas adotadas pelos mediadores do Lapidar, o que foi possível constatar no depoimento dado pela funcionária da Biblioteca Comunitária. No primeiro dia de visita do Lapidar, depois das ações de mediação da leitura, essa funcionária expressou sua satisfação ao perceber como se deu a interação entre as crianças, os adolescentes e os integrantes do Lapidar. Nesse depoimento, ressaltou que parte dos adolescentes presentes nas ações desenvolvidas pelo Lapidar não gosta de se envolver nas atividades mediadoras promovidas cotidianamente pela Biblioteca Comunitária e que eles têm um perfil mais introspectivo por causa dos problemas familiares de violência doméstica. Porém, nas atividades de mediação da leitura promovidas pelo Lapidar, todos se envolveram e expressaram seus pontos de vista, demonstrando que estavam à vontade e seguros, o que também se observou entre as crianças.

O depoimento da funcionária da Biblioteca e as ponderações das professorascoordenadoras do Lapidar colocaram em pauta a necessidade do cuidado com o outro e do respeito ao direito do outro, entendendo que o cuidado é necessário e, por isso, é também um direito. Assim, pode-se afirmar que esses são dois indicadores do alcance da dimensão ética nas ações voltadas para a formação do mediador realizadas pelo Projeto Lapidar. Por outro lado, considera-se importante que o Projeto avance nas ações de formação no sentido de debater com os integrantes em formação que a própria informação tem um caráter alteritário e, portanto, não se pode trabalhar com a mediação da informação e da leitura deixando de compreender e admitir esse seu caráter alteritário. Conforme defendem Silva e Gomes (2013), a informação sempre resulta do ato de pensar sobre e com o outro, tomando como referência o que outros pensaram sobre o conteúdo produzido, também pensando e compartilhando com o outro. Enfim, a informação é uma construção coletiva.

Essa compreensão, mais uma vez chama, a atenção para o papel da dimensão ética da mediação da informação e reforça a afirmação de Gomes (2019, 2020) de que essa dimensão assume a condição de articuladora do alcance das dimensões dialógica, estética e formativa e que, associada a elas, contribui para o alcance da dimensão política, para que os sujeitos envolvidos na ação mediadora tomem consciência de sua condição de sujeitos sociais ativos, e entendam o acesso e a apropriação da informação como um direito social. De acordo com a autora, quando, na ação mediadora, os sujeitos vivem a oportunidade de se expressar, de se comunicar e de se apropriar da informação, passam a ter melhores condições de interpelar, questionar, refletir, agir e sentir que são sujeitos ativos que podem ressignificar o mundo, ou seja, passam a ter a possibilidade de tomar uma posição e atuar na transformação da realidade. Desse modo, a mediação da informação também terá alcançado sua dimensão política, condição que Gomes (2017, 2019, 2020) entende como fundamental para que os sujeitos assumam a conduta de protagonistas sociais.

A partir dessa concepção, ao analisar os indicadores exercício da crítica para uma mediação consciente; processo de conscientização e conduta protagonista, condutas verificadas na observação e no acompanhamento realizados na pesquisa como sinalizadores do alcance da dimensão política, constatou-se que há uma atitude permanente do Lapidar em refletir coletivamente sobre todas as etapas das ações, indicando que sua coordenação tem a intenção de fazer o exercício da crítica, o que Gomes (2019, 2020) considera como fundamental para a tomada de consciência e para a adoção de um comportamento protagonista.

O exercício da crítica para uma mediação consciente foi o primeiro indicador identificado nas manifestações dos participantes das ações de formação, as quais demonstraram o compromisso e o conforto para formular críticas às atividades executadas pelo Projeto e a tomada de consciência acerca do papel social das ações mediadoras. Essa conduta parece indicar que a mediação realizada pelo Lapidar nessas ações de formação colabora para a construção de uma mediação consciente, tanto por parte da equipe gestora do Lapidar quanto dos mediadores em formação. Gomes (2020) afirma que, na mediação consciente, o mediador passa a realizar a ação compreendendo a necessidade informacional do outro e considerando o cotidiano dos sujeitos que participam da ação, com suas carências, as demandas e o meio em que eles estão inseridos. Além disso, na mediação consciente, o mediador busca problematizar o conteúdo em todas as oportunidades de debates e interlocuções que ocorrerem durante a ação, a fim de propiciar um espaço crítico.

Das manifestações que possibilitaram identificar o indicador do exercício da crítica para uma mediação consciente, desdobraram-se observações que evidenciaram que estava ocorrendo uma tomada de consciência por parte dos integrantes em formação, primeira etapa do processo de conscientização, compreendido na pesquisa como outro indicador de que as ações de formação realizadas pelo Lapidar estão alcançando a dimensão política da mediação da informação. Esse processo de conscientização pareceu mais evidente com as associações manifestadas pelos discentes e egressos em formação durante os debates sobre os temas das palestras e que seriam objeto da mediação da leitura na Biblioteca com suas experiências e condições de vida e também durante a realização do grupo focal. Em uma perspectiva qualitativa, o Quadro 2 apresenta, como demonstração do indicador categorizado como exercício da crítica para uma mediação consciente, manifestações feitas no grupo focal quando os participantes foram convidados a falar sobre a possibilidade de o mediador ser neutro.

Quadro 2
Manifestações dos integrantes do Lapidar quanto à existência da neutralidade
Manifestações dos integrantes do Lapidar quanto à existência da neutralidade
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Observando as manifestações apresentadas no Quadro 2, vê-se que os integrantes compreenderam que as ações de mediação da informação e da leitura não são neutras e demonstraram que houve uma tomada de consciência quanto ao papel e à intencionalidade do mediador. Esse posicionamento indica que esses mediadores em formação puderam, nas ações do Lapidar, compreender que a mediação é uma ação de interferência, como defende Almeida Júnior (2015).

Em decorrência do processo de conscientização, houve manifestações em que esses participantes passaram a explanar posições e reflexões quanto à importância de se discutir com os usuários da Biblioteca nas ações de mediação da leitura, buscando lhes proporcionar a mesma oportunidade de tomada de consciência transformadora. Essas manifestações possibilitaram identificar o indicador conduta protagonista, já que demonstraram o desejo de interferir para contribuir com o processo de conscientização dos usuários. Como afirma Perrotti (2017), o protagonista é aquele que se posiciona e age para fortalecer os interesses da coletividade e compreende os interesses do público como mais relevantes do que os interesses privados.

Os resultados sobre os indicadores do alcance das dimensões da mediação da informação nas ações de formação realizadas pelo Lapidar sugerem que é importante que a coordenação do Projeto faça, permanentemente, uma avaliação sistemática das ações, tomando a mediação da informação e suas dimensões como fundamento, e oriente o Projeto para o exercício da práxis, elemento essencial da mediação consciente, segundo Gomes (2019, 2020), por meio do qual cada membro poderá exercitar a autorreflexão, que promoverá o desenvolvimento do autoconhecimento e, como defende Gomes (2019, 2020), o processo de conscientização sobre seu papel mediador e de protagonista social, fortalecendo sua condição de sujeito político. A construção de uma visão política e de uma conduta protagonista dos participantes representará o alcance efetivo da dimensão política da mediação realizada pelo Lapidar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise desses resultados, é possível afirmar que, embora não se possa dizer que as cinco dimensões da mediação da informação foram plenamente alcançadas nas ações voltadas para a formação do mediador, observou-se a ocorrência de um número maior de indicadores do alcance das dimensões dialógica e estética, enquanto aqueles relacionados ao possível alcance das dimensões formativa, ética e política, foram mais reduzidos e em menor ocorrência. Contudo, pode-se afirmar que os indicadores encontrados apontam que estas três últimas dimensões, mesmo que em um nível parcial, tiveram algum alcance pelas ações de formação do Projeto Lapidar.

Desse modo, no âmbito das ações destinadas à formação dos mediadores, foi observado que a manifestação de dúvidas e a troca de opiniões entre os membros instalam o debate e as enunciações e as comunicações nos dispositivos do Projeto Lapidar na web social durante as ações. Por outro lado, a dimensão estética tem sido mais intensamente alcançada com a ocorrência de seis indicadores: manifestação e atitude de criatividade; intersubjetividade; manifestação do sentimento de pertença; demonstração de prazer, interpelação e a criação de produtos. Ao alcançar a dimensão estética com intensidade, pode-se concluir que o Projeto Lapidar vem alcançando algum nível da dimensão formativa. No entanto, dessa dimensão, apenas dois indicadores foram identificados: a proposição de fontes relacionadas ao tema tratado na edição de 2019 e a manifestação de expansão do conhecimento. Embora esse resultado sugere ter havido alguma expansão do conhecimento por parte desses integrantes do Projeto Lapidar, o número limitado de indicadores identificados indica que a dimensão formativa tem sido relativamente alcançada.

O Projeto Lapidar procura desenvolver, entre os futuros mediadores da informação e da leitura, uma consciência e um comportamento ético, o que aponta para a identificação de dois indicadores - o respeito ao outro e o cuidado com o outro - o que sinaliza o alcance da dimensão ética. Quanto à dimensão política da mediação, foram identificados três indicadores: a existência do processo de tomada de consciência; o exercício da crítica e a adoção de uma conduta protagonista. Esse resultado sugere que essa dimensão também vem sendo mais alcançada e possibilitando uma tomada de consciência sobre a responsabilidade social da área e o papel da mediação da informação e da leitura para o desenvolvimento social. Nesse contexto, compreende-se que os estudos a respeito desse tema se fazem necessários e contribuem com a discussão acerca do posicionamento crítico e da visão holística acerca das funções e atribuições do mediador da leitura.

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NOTAS

CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
FINANCIAMENTO Não se aplica.
APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA A proposta relacionada a esta pesquisa assim como o delineamento metodológico e os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram encaminhados ao Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, cujo parecer favorável foi registrado por meio do número 3.902.323.
LICENÇA DE USO Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Estra licença permite que terceirosremixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.
PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
EDITORES Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Vinícius Medina Kern e Genilson Geraldo.

Autor notes

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA Concepção e elaboração do manuscrito: I.P. Jesus, H.F. Gomes

Coleta de dados: I.P. Jesus

Análise de dados: I.P. Jesus

Discussão dos resultados: I.P. Jesus, H.F. Gomes

Revisão e aprovação: I.P. Jesus, H.F. Gomes

Ingridpaixao191@gmail.comhenriettefgomes@gmail.com

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