Artigo Orginal

ABORDAGENS SOBRE MULHERES E FEMINISMOS NA LIBRARY OF CONGRESS SUBJECT HEADINGS

APPROACHES ABOUT WOMEN AND FEMINISMS IN THE LIBRARY OF CONGRESS SUBJECT HEADINGS

Ana Rafaela Sales De Araújo
Universidade Federal da Paraíba, Brazil
Universidade Federal do Ceará, Brazil
Virginia Bentes Pinto
Université Stendhal, França
Universidade Federal do Ceará, Brazil

ABORDAGENS SOBRE MULHERES E FEMINISMOS NA LIBRARY OF CONGRESS SUBJECT HEADINGS

Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 27, pp. 1-23, 2022

Universidade Federal de Santa Catarina

Recepção: 01 Maio 2022

Aprovação: 05 Novembro 2022

Publicado: 30 Novembro 2022

RESUMO

Objetivo: Investigar as terminologias sobre mulheres e feminismos no âmbito da Library of Congress Subject Headings, visando à compreensão de como os referidos assuntos estão organizados.

Metodologia: Utiliza os métodos de pesquisa exploratória, com revisão bibliográfica, pesquisa documental e se constitui em dois recortes: análise de pesquisas publicadas por estudiosas(os) e análise por meio de buscas realizadas na Linked Data Service da Library of Congress.

Resultados: Diante do diálogo com as(os) autoras(es) Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010) destaca-se que a Library of Congress Subject Headings possui uma série de distorções e se sugere terminologias para o amadurecimento sobre questões relacionadas às mulheres e aos feminismos, considerando que algumas foram implementadas e outras não. Quanto às buscas realizadas na ferramenta Linked Data Service, foi observado que, dos dez termos encontrados, sete são referentes ao ano de 2021, o que pode expressar uma abertura recente da Library of Congress na criação de termos.

Conclusão: A Library of Congress Subject Headings apresenta inconsistências de caráter histórico nas terminologias sobre mulheres e feminismos que vêm sendo parcialmente resolvidas, mas ainda são notáveis certas fragilidades, de ordem política, cultural e cognitiva.

PALAVRAS-CHAVE: Cabeçalhos de assunto (Library of Congress)+ mulheres - terminologia+ feminismo - terminologia+ organização da informação.

ABSTRACT

Objective: Investigate the terminologies about women and feminisms within the Library of Congress Subject Headings in order to better understand how these subjects are organized.

Methodology: It uses exploratory research methods with bibliographic review and documental research and consists of two sections: analysis of research published by scholars and analysis carried out through searches carried out in the LC Linked Data Service.

Results: In view of the dialogue with the authors, Berman (1971), Olson (2000) and Wood (2010) emphasize that the LCSH has a series of distortions and suggests terminologies for maturing about women and feminisms, considering that some were implemented and others were not; as for the searches carried out in the Linked Data Service tool, seven of the ten terms found refer to the year 2021, which may indicate a recent opening of the LC in the creation of terms.

Conclusion: The Library of Congress Subject Headings present historical inconsistencies in terminology about women and feminisms that have been partially resolved but that still present certain political, cultural, and cognitive gaps.

KEYWORDS: Subject headings, Library of Congress, women - terminology, feminism - terminology, information organization.

1 INTRODUÇÃO

O setor de Organização da Informação (OI) é um dos grandes marcos da origem e do desenvolvimento da Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), permitindo a construção de pesquisas e de práticas profissionais, sendo um gerador de processos, de serviços e de produtos de informação que favorecem a consolidação da área. É válido destacar que é praticamente impossível pensar uma BCI sem os legados deixados pelo setor de OI que se sustentam, em grande medida, pela criação e pela aplicação de técnicas, tais como a indexação e a catalogação.

No que se refere à indexação, é pertinente enfatizar a linguagem instituída pela Library of Congress (LC), que é nomeada de Library of Congress Subject Headings (LCSH) e cumpre, desde 1898, importante função para o campo da BCI em nível global, especialmente no que tange às terminologias e às linguagens documentárias, representando diversos conceitos, o que inclui as minorias políticas1, como as mulheres.

Nesse sentido, este artigo tem como problema a seguinte pergunta: como se apresenta a realidade das terminologias sobre mulheres e feminismos2 na LCSH? É possível justificar a pesquisa tomando como base, os seguintes pontos:

  1. 1. a)

    acadêmico: busca pela construção de novos conhecimentos, no que se refere à LCSH sobre mulheres e feminismos;

  2. 2. b)

    institucional: busca por uma abordagem mais detalhada da LCSH, como uma instituição de referência na produção e na aplicação de linguagens de indexação;

  3. 3. c)

    cultural: envolve as concepções sobre mulheres e feminismos à luz de uma linguagem de indexação internacionalmente reconhecida.

Sendo assim, a pesquisa apresenta relevância, pois pondera sobre a necessidade de visibilizar as mulheres como representantes de uma minoria política e a importância de se observar a linguagem de indexação tradicional, analisando como elas são percebidas em meio à construção de uma fundamentação teórica, metodológica e aplicada.

O artigo em questão apresenta, pois, como objetivo: investigar as terminologias sobre mulheres e feminismos no âmbito da LCSH, visando a compreensão de como os referidos assuntos estão organizados. O referencial teórico é composto de três seções: a primeira contempla questões teórico-conceituais da OI; a segunda aborda sobre a LCSH; e a terceira apresenta os estudos sobre e por mulheres aplicados à OI.

A metodologia é caracterizada por uma atividade exploratória com revisão bibliográfica e pesquisa documental, constituindo-se em dois recortes que analisam as pesquisas publicadas por estudiosas(os) e realizam buscas na Linked Data Service, a fim de delinear uma discussão sobre mulheres e feminismos.

A análise dos dados é constituída, em primeiro lugar, pelo diálogo com os estudos de Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010), considerando as contribuições autorais apresentadas e possíveis sugestões acerca do aprimoramento sobre mulheres e feminismos na LCSH. Em seguida, são discutidas as buscas realizadas na ferramenta Linked Data Service, de onde foi extraído e analisado um conjunto de termos relacionados às mulheres e aos feminismos.

2 ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

O eixo de OI fundamenta as origens e o desenvolvimento do campo da CI, considerando os aspectos históricos, epistemológicos, metodológicos e aplicados, pois “[...] constitui o ‘núcleo duro’ da área, aquilo que a diferencia em relação às outras áreas que trabalham com a informação, concorrendo substancialmente para a constituição da identidade da Ciência da informação” (SMIT, 2009, p. 62). É pertinente observar que há um conjunto de conceitos para a OI que merece abordagem, a partir da literatura técnicocientífica.

O primeiro deles é expresso pelas autoras Gomes, Campos e Guimarães (2010) como uma composição de diferentes espectros que podem ser operações, processos, técnicas, instrumentos, medidas e propriedades vinculados ao objeto informação.

Com base no pensamento epistemológico, a OI é fundamentada pela capacidade de formulação e implementação de processos e de técnicas que delineiam a descrição física e de conteúdo. A OI fornece bases para que o objeto informação estabeleça-se no desenvolvimento de processos, de serviços e de produtos.

Vale destacar que a OI permeia o desenvolvimento de um conjunto de serviços e de produtos que dinamizam outros processos de informação, tais como: a difusão, a busca, o acesso, a recuperação e o uso da informação mediante atividades operacionais concebidas pela catalogação, pela classificação e pela indexação.

O segundo conceito, por sua vez, é proposto com base no pensamento de Café e Sales (2010, p. 118), em que “a organização da informação é um processo de arranjo de acervos tradicionais ou eletrônicos realizado por meio da descrição física e de conteúdo (assunto) de seus objetos informacionais”. Neste sentido, a OI possui um caráter operacional à medida em que são criadas técnicas, produtos e serviços com o intuito de promover uma adequada descrição dos documentos que são delimitados como objetos informacionais.

Logo, com base na interlocução entre o pensamento epistemológico e operacional da OI, é preciso considerar uma relação de complementaridade, sendo as técnicas reconhecidas pelo ato de formulação e de implementação da catalogação, da classificação, da indexação; pelos produtos que se constituem, a exemplo de códigos e normas gerados para amparar a aplicabilidade das técnicas (Código de Catalogação Anglo-Americano, Recursos: Descrição e Acesso); e pelos serviços, como, por exemplo, a elaboração de fichas catalográficas e dos resumos, bem como o uso do catálogo.

O terceiro conceito é concebido pela professora Cristina Ortega (2013, p. 185) como um “conjunto de procedimentos sobre documentos voltados a propiciar seu uso por públicos específicos, segundo necessidades de informação de ordem científica, educacional, profissional, estética, de entretenimento, utilitária”. Este conceito tem como ponto central saber para quem e a que se destina a OI que, basicamente, define-se por dois elementos: o humano (tipos de público que estão envolvidos) e o temático (assuntos definidos para o tratamento), sendo fundamental um alinhamento entre o público e os temas estabelecidos.

Diante do exposto, é possível perceber no âmbito da OI um conjunto de dimensões conceituais: fundamentação (processuais, operacionais, técnicas, instrumentais), empírica (relacionadas à descrição física e de conteúdo) e aplicada (como as dimensões de fundamentação e empírica são articuladas em termos de público e tema). As dimensões de fundamentação, empírica e aplicada reverberam uma compreensão mais holística da OI, que são, aliás, delimitadas por Ortega (2013, p. 185-186) em quatro níveis:

  1. 1. a)

    conceitual: a questão da função de socialização da informação e os aportes teóricos que sustentam os meios de realizá-la, assim como os conceitos básicos adotados para processos, instrumentos e produtos;

  2. 2. b)

    procedimental: metodologias para construção dos instrumentos e para seu uso, incluindo os instrumentos normativos com suas características históricas e seus princípios subjacentes;

  3. 3. c)

    tecnológico: instância em que se dá a viabilização dos processos, por meio das ferramentas existentes a cada época, as quais limitam os instrumentos e os processos documentários adotados, o que envolve a especificação das características das ferramentas mais adequadas aos processos;

  4. 4. d)

    aplicado: aplicações concretas, como a da prática profissional e as das pesquisas experimentais.

Assim, a OI é sustentada pelo modo de pensar os elementos teóricos e metodológicos que a fundamentam, pelo conjunto de instrumentos documentais que serão formulados e implementados, pelo conjunto de tecnologias que viabilizam o fazer da OI e pela aplicação das atividades a serem executadas pelas(os) profissionais.

3 LIBRARY OF CONGRESS SUBJECT HEADINGS

LCSH é uma linguagem de indexação usada por bibliotecas de vários lugares do mundo mantida desde 1898 para catalogar obras da Biblioteca do Congresso Americano, regularmente revisada pela Divisão de Políticas e Padrões (LIBRARY OF CONGRESS, 2022a). Em seu processo histórico, a LCSH passou por diversas transformações que alteraram a estrutura de conteúdo e de operacionalidade dessa linguagem de indexação, que merece uma reflexão sequenciada.

A primeira edição foi chamada de Subject Headings Used in the Dictionary Catalogues of the Library of Congress (Cabeçalhos de assunto usados nos Catálogos Dicionários3 da Biblioteca do Congresso Americano), por influência do modelo teórico de Charles Ami Cutter - Rules for a Dictionary Catalogue (Regras para um Catálogo Dicionário), datada de 1876 e impressa em partes entre 1909 e 1914. O título atual (LCSH) passou a ser utilizado somente a partir da oitava edição, que foi publicada em 1975 (LIBRARY OF CONGRESS, 2022b).

Vale destacar que Olson (2000, p. 55, tradução nossa) também menciona o “vínculo histórico da LCSH com as Regras para um Catálogo Dicionário de Cutter”, além do princípio da garantia literária4 e da carga histórica de dominância de sua mantenedora, a Biblioteca do Congresso Americano, como explicação da disseminação e forte influência do uso dessa linguagem de indexação em bibliotecas de vários países, inclusive aqueles que não têm a língua inglesa como oficial.

Conforme Stone (2000), em 1898, o catálogo da LC, organizado anteriormente de acordo com um sistema de classificação bibliográfica, passou por mudanças que iam de um catálogo sistemático5 a um catálogo dicionário, incorporando entradas de autora(or), de título e de assunto em um único arquivo em fichas. Para os primeiros cabeçalhos de assunto, a LC utilizou a Lista de cabeçalhos de assunto para uso em catálogos dicionários da American Library Association (ALA), ou seja, (1ª edição, 1895; 2ª edição, 1898), a qual as(os) catalogadores da LC adicionavam novos cabeçalhos de assunto à medida que surgiam novas demandas durante a atuação cotidiana da(o) catalogadora(or).

Nesse ínterim, a comunidade da ALA sentiu a necessidade de uma catalogação mais cooperativa e, assim, surgiu um serviço de distribuição de fichas catalográficas da LC em 1902, ano em que os cabeçalhos de assunto formulados e atribuídos pela LC começaram a ser notados e utilizados. Portanto, pode-se considerar o ano de 2002 um candidato razoável para o centenário da LCSH (STONE, 2000).

Historicamente, observa-se que “[...] A partir de 1974, a LC instituiu as ‘free-floating subdivisions’, não tão ‘livres’ quanto sua denominação sugere, uma vez que ainda vêm acompanhadas de instruções de uso, algumas vezes nada simples, outras vezes com complicadas exceções” (GOMES; MARINHO, [1984], p. [2]). Já na década de 1980, o processo de revisão e criação dos cabeçalhos de assunto tornou-se mais célere, em virtude dos avanços tecnológicos e da automação da biblioteca, promovido com o uso do computador.

Miranda et al. (2012) explicitam que, a partir da 11ª edição publicada em 1988 depois de várias reavaliações feitas pela Divisão de Catalogação de Assunto da Biblioteca do Congresso, foi decidido pela estrutura semelhante a do tesauro com relações de equivalência, de hierárquica e também associativa expressa nas respectivas abreviaturas e símbolos abaixo descritos em inglês e em português:

  1. 1. a)

    relações de equivalência: Used For - UF (Usado Para - UP), USE (USE);

  2. 2. b)

    relação hierárquica: Broader Term - BT (Termo Genérico - TG), Narrower Term - NT (Termo Específico - TE);

  3. 3. c)

    relação associativa: Related Term - RT (Termo Relacionado - RT).

São, pois, os elementos que compõem a entrada: cabeçalhos, seguidos ou não da legenda, subdivididos geograficamente de acordo com o Manual da LC e com o número de classificação da LC; notas de escopo com orientações de aplicação e significado de um cabeçalho; remissivas associadas; e subdivisões (LIBRARY OF CONGRESS, 2022b).

Conforme ainda a Library of Congress (2022b), os cabeçalhos podem consistir de uma palavra ou várias, a saber:

  1. 1. a)

    cabeçalhos de uma palavra, geralmente, contêm um substantivo, como, por exemplo, “Mulheres”; conceitos são nomeados, usualmente, no singular e objetos no plural, embora haja exceções;

  2. 2. b)

    cabeçalhos de duas palavras, frequentemente, contêm um adjetivo e um substantivo apresentados na forma direta ou invertida (comumente usada quando o cabeçalho inclui adjetivo pátrio) e, quando mais de duas palavras são usadas em um cabeçalho, este pode incluir conjunções e frases preposicionais; pode-se também combinar dois cabeçalhos que expressam uma relação recíproca ou de grande semelhança, além de cabeçalhos com subdivisões ou cabeçalhos-frase para indicar assuntos complexos chamados de complex subject, por exemplo: Women and literature (Mulheres e literatura); Women and democracy--Crosscultural studies (Mulheres e democracia - Estudos transculturais); Mary, Blessed Virgin, Saint--In the Qur’an (Maria, Virgem, Santa - No Alcorão).

As categorias de subdivisões têm quatro aspectos: subdivisão tópica, por exemplo: Cross-cultural studies (Estudos transculturais); subdivisão de forma, por exemplo: Biography (Biografia); subdivisão cronológica, por exemplo: 20th century (Séc. XX); subdivisão geográfica, por exemplo: Brazil (Brasil). Há também outras subdivisões mais utilizadas que estão contidas nas quatro subdivisões supracitadas, são chamadas de freefloating subdivisions e descritas no catálogo de autoridades da Biblioteca Nacional (Brasil) como subdivisão f.f (H1095) sempre acompanhadas de notas de escopo que orientam o uso. Cross-cultural studies (Estudos transculturais) e Biography (Biografia) são, inclusive, exemplos dessas subdivisões (LIBRARY OF CONGRESS, 2022b).

A edição atual está disponível no site da Library of Congress, a 44ª edição dos Cabeçalhos de assunto da Biblioteca do Congresso Americano, com uma lista de cabeçalhos de assunto padronizados até abril de 2022. Desde sua origem até a edição em questão, foram produzidos 382.713 registros de autoridade. É preciso ressaltar que a criação e a revisão de cabeçalhos é um processo contínuo e que, aproximadamente, 4.000 cabeçalhos são incluídos por ano (LIBRARY OF CONGRESS, 2022b).

Conforme ainda a Library of Congress (2022b), propostas de novos cabeçalhos e de revisões dos já existentes podem ser submetidas pelas(os) bibliotecárias(os) da LC e por participantes do Subject Authority Cooperative Program (Programa Cooperativo de Autoridade de Assunto).

Há também vários serviços disponíveis da LCSH, como o exclusivo para assinantes, além de serviços gratuitos como importação de registro de autoridade em formato Machine Readable Cataloging 21 (MARC 21); listas mensais dos cabeçalhos novos e revisados publicadas no site; busca, visualização e download na web de registro de autoridade por meio do Linked Data Service, que foi lançado em abril de 2009 (LIBRARY OF CONGRESS, 2022b).

Embora tenha começado na era do catálogo em fichas, como uma ferramenta para catalogar obras impressas, publicada também no formato impresso, a LCSH também foi integrada ao ambiente digital, tendo acesso via catálogo on-line também chamado de Online Public Acess Catalog (OPAC), catálogo on-line de autoridades (primeira versão em 2002) e via Linked Data Service, que foi iniciado em 2009 (ROBARE, 2011).

Reconhecendo a LCSH como uma linguagem de indexação, Cruz e Fujita (2021, p. 578) explicitam que “o principal objetivo da linguagem de indexação é constituir um sistema de informação, como os catálogos, padronizados terminologicamente”, por meio do controle de vocabulário6.

A LCSH é uma linguagem de indexação complexa e com variáveis técnicas, pois conforme ressaltam Fujita, Boccato e Rubi (2010), a LCSH que, originalmente, uma linguagem de indexação pré-coordenada, forma adotada, geralmente, em catálogos manuais, passou por uma mudança em sua organização, avançou para uma estrutura em formato de tesauro, uma linguagem de indexação pós-coordenada com relacionamentos de equivalência, hierárquicos e associativos. Um dos prováveis motivos para essa alteração, talvez se deva ao fato do desenvolvimento dos catálogos físicos para o ambiente on-line.

Portanto, a LCSH configura-se como uma linguagem de indexação em que a criação e revisão de terminologias transformam-se historicamente, a partir da percepção das(os) profissionais que atuam na LC em diálogo direto ou indireto com diversos setores da comunidade acadêmico-profissional, principalmente da BCI.

4 ESTUDOS SOBRE E POR MULHERES APLICADOS À ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Estudos sobre mulheres e feminismos referem-se tanto aos estudos de gênero, mulheristas e feministas, quanto a mulheres-sujeitos, ou seja, como seres atuantes, protagonistas, inclusive como pesquisadoras que buscam refletir, analisar problemas/questões que se relacionam às mulheres em diversos contextos sociais. Assim, ressalta-se que as mulheres não devem ser reduzidas a uma temática de pesquisa, a fim de romper com o estereótipo de mulheres-objeto.

Considerando as lutas feministas, este artigo também é pautado na mulher como conceito plural e parte da concepção de que as práticas de OI não são neutras e universais, pois são desenvolvidas, em sua maioria, por mulheres-sujeitos e plurais pautadas em padrões (hegemônicos ou contra-hegemônicos) e em posicionamentos.

No que diz respeito aos estudos sobre e por mulheres aplicados à OI, é possível destacar os estudos das seguintes pesquisadoras no contexto nacional e internacional:

  1. 1. a)

    Hope Alene Olson: em seu livro “The power to name” problematiza a LCSH e a Classificação Decimal de Dewey ao visualizar diferentes marginalizações e exclusões sobre questões relacionadas às mulheres e propõe, com base nos estudos feministas, terminologias consistentes que as representem como conceito plural, a fim de romper com a mulher universal, proposta nessas linguagens documentárias (OLSON, 2002);

  2. 2. b)

    María José López-Huertas Pérez e Isabel de Torres Ramírez: em artigo, apresentam como resultado a existência de um volume muito elevado de terminologias, porém pouco significativas para representar o domínio dos estudos de gênero (LÓPEZ-HUERTAS PÉREZ; TORRES RAMÍREZ, 2005);

  3. 3. c)

    Blanca Rodríguez Bravo: em artigo, confirma a necessidade de integrar as mulheres em igualdade de condições com os homens nas linguagens documentárias (RODRÍGUEZ BRAVO, 2007);

  4. 4. d)

    Suellen Oliveira Milani: em pesquisa de mestrado, apresenta como resultado da análise das questões femininas em linguagens documentárias brasileiras - a sinalização de biases (tendência, viés, inclinação, desvio), bem como possíveis auxílios para atenuá-los e por uma continuidade dessas reflexões, a fim de constatar e prevenir essas biases (MILANI, 2010);

  5. 5. e)

    Miriam Gontijo Moraes: em artigo, apresenta como principal conclusão a necessidade de uma linguagem documentária no campo da crítica feminista e propõe uma reflexão para operacionalizar os Sistemas de Organização do Conhecimento críticos e participativos (MORAES, 2014);

  6. 6. f)

    Suellen Oliveira Milani e Brisa Pozzi de Sousa: em artigo, objetivam buscar perspectivas que propiciem aos catálogos de biblioteca dar visibilidade à representação temática aos nomes originais e aos pseudônimos das autoras que optaram ou foram forçadas a assinar as suas obras com nomes masculinos ou ambíguos, principalmente entre o início do século XIX e meados do século XX (MILANI; SOUSA, 2018).

Destarte, os estudos realizados por essas pesquisadoras constituem-se como pontos de partida e de desenvolvimento sobre e para o protagonismo das mulheres em seus diversos contextos sociais.

Em contrapartida, ainda há uma necessidade de aprimoramento dos estudos das abordagens sobre mulheres e feminismos na OI a partir das atividades de indexação, de classificação, de catalogação e de linguagens documentárias, a fim de minimizar e/ou prevenir essas inconsistências/biases. Deste modo, é pertinente pensar uma OI mais inclusiva do ponto de vista das mulheres, especialmente no que se refere à elaboração de terminologias.

5 METODOLOGIA

A metodologia da pesquisa é caracterizada do seguinte modo: exploratória, revisão bibliográfica e pesquisa documental. Primeiramente, a pesquisa exploratória buscou estabelecer uma intimidade discursiva que contemplasse uma análise das terminologias da LCSH sobre mulheres e feminismos, buscando uma interlocução histórica e aplicada sobre os termos na LCSH relativos às mulheres e aos feminismos.

Em seguida, a revisão bibliográfica concentrou-se no diálogo com estudos e autoras(es) representadas(os) por livros, por dissertações e por artigos que contemplam os seguintes assuntos: Organização da Informação (SMIT, 2009; GOMES, CAMPOS, GUIMARÃES, 2010; CAFÉ, SALES, 2010; ORTEGA, 2013); LCSH (GOMES, MARINHO, 1984; OLSON, 2000; STONE, 2000; ROBARE, 2011; MIRANDA et al., 2012; LIBRARY OF CONGRESS, 2022a, 2022b); estudos sobre e por mulheres aplicados à OI (OLSON, 2002; LÓPEZ-HUERTAS PÉREZ, TORRES RAMÍREZ, 2005; RODRÍGUEZ BRAVO, 2007; MILANI, 2010; MORAES, 2014; MILANI; SOUSA, 2018); mulheres e feminismos na LCSH (BERMAN, 1971; OLSON, 2000; WOOD, 2010).

Já a pesquisa documental, desenvolveu-se com base em documentos que não receberam tratamento analítico (GIL, 2002), com ênfase na busca pelos termos sobre mulheres e feminismos na ferramenta Linked Data Service, em que a LCSH está integrada, considerando essas buscas como vitais para compreensão sobre a existência e a aplicação dos termos referente às mulheres e aos feminismos.

A análise de dados da pesquisa é constituída de dois processos:

  1. 1. a)

    o primeiro é referente à análise das(os) autoras(es), tais como Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2000) que contribuíram para as questões relacionadas às mulheres e aos feminismos, por meio de estudos sobre possíveis distorções nos termos da LCSH, sendo pertinente uma discussão sobre como os termos apontados pelas(os) autoras(es) têm sido observadas e aplicadas atualmente na LCSH;

  2. 2. b)

    o segundo corresponde à análise da própria pesquisa, que realizou um conjunto de buscas na ferramenta Linked Data Service, em que a LCSH está integrada, por meio de dois recortes: o primeiro é temático com o uso dos termos minority women, feminism e feminist; e, o segundo, é temporal, estabelecendo o período de 2011 a 2021 para as buscas dos cabeçalhos de assunto. Ambos os recortes visam promover uma abordagem acerca das terminologias passíveis de inconsistências sobre mulheres e feminismos na LCSH.

Portanto, a metodologia da pesquisa busca uma interlocução que potencialize discussões teóricas e aplicadas sobre mulheres e feminismos na LCSH, considerando inconsistências (omissões, ausências, distorções, vieses, traços de preconceitos).

6 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados consiste em uma discussão complementar, a partir de dois recortes. O primeiro é a análise autoral que se sustenta pela discussão com as(os) autoras(es) Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010) que publicaram estudos sobre as mulheres e feminismo, enquanto o segundo contempla a análise da pesquisa em si, que realizou buscas na LCSH sobre mulheres e feminismos.

6.1 Análise autoral

Estudiosas(os) da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010), inclusive representações institucionais, como o Subject Analysis Committee da Association for Library Collections & Technical Services da American Library Association (ALA/ALCTS/CaMMS), existente até hoje, avaliaram de diferentes maneiras as inclinações, as preferências, as tendências, os vieses, os traços de preconceitos ou as biases presentes na LCSH, além de sugerir cabeçalhos de assunto alternativos.

O primeiro estudo analisado foi o de Berman (1971), que publicou um livro em 1971 sugerindo mudanças na LCSH com relação a questões étnico-raciais, mulheres e gênero, dentre outras. O bibliotecário Sanford Berman é considerado um dos principais críticos de inconsistências e de traços de preconceitos presentes na LCSH. As mudanças realizadas na LCSH que refletem as sugestões de Berman, especificamente sobre as mulheres, são exemplificadas a seguir:

  1. 1. a)

    criado em 1986 e revisado em 1997, “Mulher” tornou-se remissiva do termo preferido “Mulheres”, sendo que os termos gerais se tornaram: “Fêmeas” e “Seres humanos” com o termo relacionado “Feminilidade” e, inclusive, várias referências cruzadas foram eliminadas, como, por exemplo, “Feminismos”;

  2. 2. b)

    criado em 1986 e revisado em 1999, “Mulher - Biografia” foi substituído por “Mulheres - Biografia”;

  3. 3. c)

    criado e revisado em 1996, “Mulheres heroínas” tem remissiva “Heroínas”, com termo geral “Heróis” e notas gerais públicas com o cabeçalho adjacente “Heroínas na literatura”;

  4. 4. d)

    criado em 1986 e revisado em 2007, “Mulher - Anatomia e fisiologia” foi substituído por “Mulheres - Fisiologia”, sendo a subdivisão “Fisiologia” usada para classes de pessoas e “Anatomia humana”, por conseguinte, tornando-se um cabeçalho de assunto (criado em 1986 e revisado em 2009);

  5. 5. e)

    criação do termo “Mulheres na Bíblia”, em 1986.

Vale destacar que uma mudança de terminologia não é imediata, pois é preciso a ocorrência de um conjunto de fatos históricos que vão exigir debates e posicionamentos diante das questões políticas em que as defesas com maior efetividade de poder (cultural, cognitivo, ideológico, moral etc.) determinam mudanças no desenvolvimento das terminologias.

Isso significa que as terminologias mudam como consequência de fatores históricoculturais, no sentido de que as terminologias vão sendo modificadas conforme as dinâmicas sociais apresentam-se no cotidiano global. Por exemplo, a conquista do voto pela mulher, a expansão do mercado de trabalho feminino e as desigualdades salariais são questões que vão exigir condutas para transformação de terminologias, ou seja, a terminologia é a defesa de uma realidade diante de suas diferentes facetas que, de algum modo, exercerá conflitos que devem ser sanados com uma avaliação criteriosa da questão terminológica a ser criada ou revista.

Por conseguinte, o segundo estudo analisado foi o da Olson (2000) que elencou termos da LCSH que poderiam, aliás, ser utilizados para representar o conteúdo temático de várias obras presentes no catálogo da LC, porém não foram utilizados7, contrariando o princípio da garantia literária, exposto no “Basic subject cataloging using LCSH”, editado por Robare (2011).

Seguem abaixo alguns termos que estão na LCSH cobertos pelo estudo da Olson (2000): Ecofeminism (Ecofeminismo) - criado e revisado em 2003; Lesbian feminism (Feminismo lésbico) - criado e revisado em 1993; Lesbian feminist theory (Teoria feminista lésbica) - criado e revisado em 2000; Bisexual feminism (Feminismo bissexual) - criado e revisado em 1993. Isto é, na LCSH são estabelecidas apenas três correntes específicas do feminismo, conforme elencadas acima, de acordo com a postura das décadas de 1960 e 1970.

Olson (2000) apresenta ainda um conjunto de termos que não estão contidos na LCSH, mas que poderiam estar presentes, contrariando mais uma vez a garantia literária, conforme indicado no Quadro 1.

Quadro 1
Cabeçalhos de assunto ausentes na LCSH sobre mulheres e feminismos na visão de Olson (2000)
Cabeçalhos de assunto ausentes na LCSH sobre mulheres e feminismos na visão de Olson (2000)
Fonte: Adaptado de Olson (2000).

Considerando a realidade do período, Olson (2000) destaca que o “Feminismo liberal” não possui um cabeçalho, mas parece estar implícito no termo geral “Feminismo” e nas remissivas: “Discriminação de sexo contra as mulheres” e “Mulheres - Legislação”. Também ausente na LCSH, “Feminismo radical” está implícito apenas no termo não relacionado denominado “Terapia radical”. Não há menção na LCSH de todas as outras grandes correntes do feminismo, como feminismo cultural, feminismo marxista, feminismo socialista8, embora muito mais tenha sido escrito sobre cada um deles do que sobre feminismo bissexual, por exemplo, termo incorporado à LCSH. Nenhum dos feminismos de inspiração cultural está presente na LCSH, como feminismo chicano, mulherismo ou feminismo do terceiro mundo, embora haja um cabeçalho para a teologia mulherista.

Por meio de uma busca rápida no catálogo on-line da LC é possível constatar que as distorções ainda persistem, pois o catálogo apresenta um resultado de 95 obras que poderiam ser representadas pelo cabeçalho de assunto ainda omitido, ausente na LCSH: Marxist feminism, como, por exemplo: Problems of women's liberation; a Marxist approach, livro publicado em 1969, de autoria de Evelyn Reed; Women's oppression today: problems in Marxist feminist analysis, livro publicado em 1980, de autoria de Michèle Barrett. Em contrapartida, somente quatro obras presentes no catálogo on-line da LC contêm a palavrachave Bisexual feminism, integrada à LCSH desde 1993.

Ressalta-se que foi possível identificar no catálogo on-line da LC, por meio de uma busca livre, uma lista de 28 obras que contêm o cabeçalho de assunto Cyberfeminism, por exemplo, criado e revisado em 2003 na LCSH. Em contrapartida, a teoria feminista Radical feminism, termo omisso na LCSH, apresenta uma lista de 70 obras, comumente indexadas com termos gerais: Feminist theory, Feminism, Radicalism, Radicals, Women--Psychology, Women's rights. Sobre isso pode-se citar como exemplo: “Notes from the second year: women's liberation; major writings of the radical feminists”, um livro publicado em 1970; “Radical feminism”, obra editada por Anne Koedt, Ellen Levine e Anita Rapone, publicada em 1973.

Vale destacar ainda que alguns desses termos considerados omissos na LCSH estão presentes no “Tesauro para estudos de gênero e sobre mulheres”, tendo sido publicado pela Fundação Carlos Chagas e editora 34, em 1998, tais como: feminismo liberal, feminismo marxista e feminismo radical (BRUSCHINI; ARDAILLON; UNBEHAUM, 1998).

Evidencia-se que, por meio de uma busca na ferramenta Linked Data Service, em que a LCSH está integrada, é possível constatar que dos nove termos sugeridos por Olson (2000), três foram criados: Feminist theory, Womanism, Socialist feminism.

Por conseguinte, o terceiro estudo analisado foi o da Wood (2010), que apresenta uma proposta com 22 cabeçalhos de assunto ausentes, omissos sobre mulheres e feminismos na LCSH, que poderiam representar o conteúdo de 52 obras presentes no catálogo on-line da LC (amostra definida pela autora). Wood (2010) afirma que os 22 conceitos têm garantia literária não apenas na amostra das 52 obras analisadas, mas em muitas outras obras do catálogo em questão, conforme indicado no Quadro 2.

Quadro 2
Cabeçalhos de assunto ausentes na LCSH sobre mulheres e feminismos na visão de Wood (2010)
Cabeçalhos de assunto ausentes na LCSH sobre mulheres e feminismos na visão de Wood (2010)
Fonte: Adaptado de Wood (2010).

Por meio de uma busca rápida na ferramenta Linked Data Service, em que a LCSH está integrada, é possível constatar que dos 22 termos sugeridos por Wood (2010), apenas três foram criados: “Igualdade perante a lei”, “Feminismo branco” e “Violência contra as mulheres” (criado como cabeçalho de assunto complexo: Women--Violence agaisnt). O termo Mestizas continua, então, ausente, mesmo com a presença do cabeçalho de assunto “Mestizos” tendo sido criado e revisado em 1993, o que pode designar uma dominância do gênero masculino. Além disso, há uma remissiva considerada ofensiva, “Mulattas”, no cabeçalho de assunto “Racially mixed women” - sem mencionar Mestizas como remissiva.

Diante dos estudos apresentados, é preciso atentar para a necessidade de uma interlocução mais efetiva em torno das questões de gênero, observando não somente a criação e revisão de terminologias, mas um alinhamento ao conjunto de produções de conhecimentos sobre mulheres e feminismos que se expande em escala global.

6.2 Análise das buscas na LCSH

Por meio de uma busca na ferramenta Linked Data Service, em que a LCSH está integrada, tendo como guia os argumentos de busca feminism/feminist e minority women, é possível identificar que os termos foram criados a partir da década de 1980 e que a grande maioria foi elaborado na década de 2000.

Para tanto, definiu-se pelo recorte temporal de termos criados entre 2011 e 2021 como complemento ao estudo sobre mulheres e feminismos na LCSH, conforme apresentados na seção 6.1 por Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010).

Diante das buscas realizadas na Linked Data Service da LC, foram, pois, encontrados os seguintes termos relativos às mulheres e feminismos, como segue exposto no Quadro 3.

Quadro 3
Cabeçalhos de assunto na LCSH sobre mulheres e feminismos (2011-2021)
Cabeçalhos de assunto na LCSH sobre mulheres e feminismos (2011-2021)
Fonte: Dados da pesquisa (2022).

É notório que há uma variedade de termos para feminismo que contempla, por um lado, uma independência terminológica com a qual o termo feminista e feminismo possuem grande eco na contemporaneidade, bem como relações de interdependência com outros termos, o que permite identificar uma visão plural sobre o significado de feminismo.

Essas terminologias, comumente, podem atender a diversos contextos, como de conotação9 histórica (reflete o desenvolvimento de um determinado termo, como ondas do feminismo), de ordem político-ideológica (caracteriza uma vertente do movimento feminista) e/ou vereda técnica (definição de padrões que vão determinar a criação, a revisão e/ou a aplicação de um determinado termo, incluindo a priorização de termos em detrimento de outros).

Vale destacar que as terminologias que possuem uma conotação histórica tendem a ter um conjunto de continuidades, por exemplo: First-wave feminism (século XIX e início do século XX); Second-wave feminism (década de 1960); Third-wave feminism (década de 1990); Fourth-wave feminism (século XXI, em meados de 2008-2012). A principal realização da Quarta onda do feminismo foi o Movimento MeToo10, que se originou com a ativista norte-americana Tarana Burke, em 2006. O #MeToo movement encorajou vítimas de violência sexual e de gênero a apresentar suas histórias e a fazer alegações públicas contra agressores poderosos.

Nesses meandros, há termos que são mais carregados de uma característica político-ideológica, dentre os quais é possível mencionar: Anarcofeminismo, Pornografia feminista, Feminismo branco e Movimento MeToo. Já no que tange à conotação técnica, pode-se considerar os termos: Estética feminista, Feminismo e retórica. Também é possível a combinação de dois cabeçalhos de assunto para expressar uma relação recíproca, a fim de representar o assunto de uma obra, como, por exemplo: “Feminismo e racismo”, “Feminismo e retórica”, “Feminismo e videogames”.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunidade acadêmica profissional, que é representada por professoras(es), pesquisadoras(es) e profissionais da informação, deve primar pela construção de uma cultura de terminologia mais inclusiva, visando não somente o uso qualificado pela comunidade de usuárias(os) como também estabelecendo uma interlocução com as(os) usuárias(os) a fim de que possam participar e sugerir melhorias nas atividades que envolvem as terminologias, considerando tanto a LCSH quanto outras linguagens de indexação.

É preciso considerar que a construção de uma cultura de terminologia inclusiva deve respeitar as realidades locais, regionais, nacionais e globais das comunidades (profissionais e usuárias(os)), oferecendo opções para que essas comunidades utilizem as terminologias das formas que ponderarem ser mais pertinentes. Para tanto, um dos requisitos fundamentais é a criação e o uso de terminologias que se adequem aos públicos, conforme suas particularidades culturais, potencializando as relações entre diferentes culturas.

Com relação à pergunta problema, é possível responder: ao passo que foram criadas e revisadas terminologias sobre mulheres e feminismos, outras apresentam distorções, pois, embora estejam contidas em obras da LC e, por sua vez, possuam o princípio da garantia literária, muitos termos não foram criados, o que permite atestar que houve avanços, mas ainda é preciso amadurecer as terminologias sobre mulheres e sobre feminismos, evitando distorções provenientes de inconsistências, de traços de preconceitos, e, por conseguinte, de possíveis silenciamentos. Deste modo, pluralizar os feminismos é, portanto, um ato político, um enfrentamento a essas distorções.

No que se refere ao objetivo, percebem-se as seguintes constatações: há um hiato temporal entre o período em que as obras foram registradas no catálogo da LC (em meados da década de 1960) e a criação de terminologias na LCSH (em meados da década de 1980), contrariando o princípio da garantia literária. Diante do diálogo com as(os) autoras(es) Berman (1971), Olson (2000) e Wood (2010) destaca-se que a LCSH possui uma série de distorções, o que exige a propositura de terminologias para amadurecimento dos cabeçalhos de assuntos, considerando que algumas foram implementadas e outras não.

Já quanto às buscas realizadas na ferramenta Linked Data Service da LC, dos dez termos encontrados, sete são referentes ao ano de 2021, o que pode expressar uma abertura recente da LC na criação de termos. Nesse caminho, é observável que as terminologias encontradas refletem múltiplas facetas, em especial, do feminismo, que tem conotações históricas, político-ideológicas e/ou técnicas.

Considerando o diálogo entre o problema e o objetivo, conclui-se que há inconsistências (omissões, ausências, distorções, vieses e traços de preconceitos) de caráter histórico nas terminologias sobre mulheres e feminismos que vêm sendo parcialmente resolvidas, mas que ainda apresentam certas instabilidades, de ordem política (quem governa, decidindo a criação e a revisão das terminologias), cultural (prevalências de costumes e crenças da instituição, contemplando a variedade de percepções dos membros que criam e revisam a LCSH) e cognitiva (conhecimento dos membros da LC que atuam com a OI). Diante do exposto, são apresentadas algumas sugestões para implementação na LCSH:

  1. 1. a)

    adaptação de terminologias como da LCSH para uma determinada realidade - é pertinente o diálogo com professoras(es) e profissionais da informação de diferentes instituições no mundo a fim de avaliar as terminologias utilizadas e buscar adaptações (regionalização das terminologias);

  2. 2. b)

    antes de desenvolver uma nova linguagem deve-se verificar outras linguagens de indexação, visando reconhecer se há necessidade de uma nova terminologia; c) ao criar ou revisar um termo no catálogo de autoridades deve-se estabelecer comparações (diferenças e semelhanças) com outras linguagens de indexação;

  3. 3. d)

    realizar parcerias com universidades (redes de pesquisadoras(es) e profissionais da informação), a fim de elaborar avaliações e apontar sugestões sobre a realidade da LCSH;

  4. 4. e)

    maior abertura da LC para dialogar com as minorias, por meio de eventos como reuniões, encontros, fóruns permanentes sobre possíveis formas de inclusão de terminologias que contemplem os interesses que essas minorias representam (diversidade sexual, étnico-racial, de gênero, religiosa, acessibilidade e inclusão social de pessoas com deficiência e idosos, dentre outros).

O artigo sugere ainda que alguns temas podem ser suscitados para futuras pesquisas, tais como: política de catalogação da LC: abordagens sobre terminologias relativas a minorias (étnico-raciais, sexuais, pessoas com deficiência etc.); a construção de um pensamento decolonial na linguagem de indexação; e a influência dos seis escritórios da LC no exterior com as práticas de OI.

Portanto, é preciso destacar que a LCSH possui grande referência como linguagem de indexação global, ao passo que gera também muitas inconsistências em relação às mulheres e aos feminismos, que precisam de um olhar mais cauto em termos analíticos, considerando que, embora tenham avançado, ainda despertam preconceitos que podem influenciar no processo de criação e de revisão de terminologias.

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Notas

1 Aquelas que não possuem representatividade nos campos decisórios como Congresso, presidência e outras esferas, não ocupando cargos como os de vereadora, governadora, prefeita e/ou juíza.
2 Considerando que as lutas feministas, iniciadas entre os séculos XIX e XX, têm mostrado e apontado a necessidade do reconhecimento da diversidade dos nossos feminismos, ou seja, a pluralidade do feminismo (LOURO, 1997), a referida pesquisa adota o conceito “feminismos” no plural.
3 “Agrupa, numa única ordem alfabética, as entradas relativas a autores, títulos, assuntos, séries, remissivas e referências cruzadas” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 73).
4 Identifica-se no manual Basic subject cataloging using LCSH, editado por Robare (2011), o princípio da garantia literária, em que os cabeçalhos de assunto são criados no mesmo período em que a obra é catalogada na LC e não depois que várias obras sobre o assunto tiverem sido publicadas e catalogadas, isto é, à medida em que as obras incorporadas ao acervo não podem ser descritas tematicamente com os cabeçalhos existentes na LCSH, as(os) catalogadoras(es) propõem novos cabeçalhos.
5 “O que apresenta os assuntos, ou temas, arranjados de acordo com um sistema de classificação” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 74).
6 O controle de vocabulário possui grande relevância, pois “contribui com a seleção, depuração, formalização e normalização da terminologia, incluindo, o estabelecimento recíproco entre os termos, considerando critérios semânticos, linguísticos e disciplinares” (BARITÉ, 2011, p. 127, tradução nossa).
7 Vale destacar que os termos foram criados tardiamente e não na mesma época em que a primeira obra sobre o assunto - ainda não coberto na LCSH - incorporou o acervo da LC, o que permite constatar que houve uma distorção temporária.
8 De acordo com o Quadro 1, o termo “feminismo socialista” foi criado e revisado em 2008 na LCSH.
9 O fato de caracterizar o termo em uma determinada conotação não quer dizer que ele possua apenas essa característica, mas se constitui como uma marca do termo. Por exemplo, no caso do termo “Quarta onda do feminismo”, embora haja uma conotação histórica que o define, também pode possuir marcas políticoideológicas e técnicas.
10 Cabeçalho criado pela LCSH, elencado no Quadro 3 e que foi integrado à pesquisa, devido à relação com o movimento feminista Fourth-wave feminism.
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PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
EDITORES Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert e Genilson Geraldo.

Autor notes

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA Concepção e elaboração do manuscrito: A. R. S. de Araújo, V. Bentes Pinto.

Coleta de dados: A. R. S. de Araújo, V. Bentes Pinto.

Análise de dados: A. R. S. de Araújo, V. Bentes Pinto.

Discussão dos resultados: A. R. S. de Araújo, V. Bentes Pinto.

Revisão e aprovação: A. R. S. de Araújo, V. Bentes Pinto.

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