RESUMO
Objetivo: Explorar e analisar, através de uma perspectiva epistemológico-histórica enunciados que possibilitam o discurso métrico entre autores no âmbito de uma economia política da produção científica. Mais especificamente, aquele discurso que permite medir e estabelecer um tipo de ranking entre os autores. Propor que a noção de biobibliografia, mais que a noção geral de bibliografia, está diretamente ligada a esta conformação discursiva. A pesquisa está voltada para a autoria científica.
Método: O procedimento metodológico adotado se define pela exploração teórica aplicada à literatura científica. Dar-se- á maior relevância aos enunciados produzidos no campo de saber da Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), apesar de não se restringir a este. A unidade discursiva, que permite descrever, medir e classificar os autores científicos, se forma a partir da relação heterogênea entre enunciados que lidam com as noções de autor e medição. Portanto, tratamos destes enunciados enquanto acontecimentos que constroem este saber.
Resultado: A exploração demonstra que as ideias de medição e de classificação entre os autores já era possível no início do século XX. No entanto, de uma perspectiva histórica podemos aferir algumas mudanças epistêmicas que influenciaram a esta prática. O caráter quantitativo está presente nos dois modelos discursivos estudados. No entanto, a formação dos objetos quantificados difere. No primeiro caso, há uma preocupação em medir a superioridade de um autor sobre o outro na superfície discursiva acerca deles, uma espécie singular de ordem moral (um ethos vertical para estabelecimento de padrões de comportamento). Em um segundo momento, que chamamos de virada epistêmica, temos que a produtividade autoral é fator de maior relevância para classificar a autoria científica. Assim, no capitalismo, a obra é convertida em produto e o autor em produtor.
Conclusões: A noção da medida e de autor estão, há muito tempo, presentes no macro discurso da bibliografia, enquanto discurso de saber. No entanto, podemos afirmar que estas relações não são estáticas no tempo. O discurso biobibliográfico sustenta a prática classificadora entre sujeitos. Ele passou de polo biográfico para uma episteme da produção bibliográfica do indivíduo, atravessado por questões métricas. Se a bibliometria só é possível pela estruturação de uma prática bibliográfica, também a avaliação pelo critério de produção para sujeitos, dotados da função autor, perpassa por uma lógica biobibliográfica, podendo sustentar uma noção “bio-bibliométrica”.
PALAVRAS-CHAVE: Biobibliografia, Metria, Autor, Produtividade autoral, Análise Epistemologia histórica.
ABSTRACT
Objective: The research analyzes, through an epistemological-historical perspective, statements that enable the metric discourse among authors in the context of a political economy of scientific production. More specifically, that speech that allows measuring and establishing a type of ranking among the authors. To propose that the notion of bio-bibliography, more than the general notion of bibliography, is directly linked to this discursive conformation. The research is focused on scientific authorship.
Method: The methodological procedure adopted is defined by theoretical exploration applied to scientific literature. Greater relevance is given to the statements produced in the field of knowledge of Library and Information Science (LIS), although not restricted to this. The discursive unit, which allows describing, measuring and classifying scientific authors, is formed from the heterogeneous relationship between statements that deal with the notions of author and measurement. Therefore, we deal with these statements as events that build this knowledge.
Result: The exploration demonstrates that measurement and classification ideas among authors were already possible in the early 20th century. However, from a historical perspective, we can assess some epistemic changes that influenced this practice. The quantitative character is present in the two discursive models studied. However, the formation of quantified objects differs. In the first case, there is a concern to measure the superiority of one author over the other on the discursive surface about them, a singular kind of moral order (a vertical ethos for establishing behavior patterns). In a second step, which we call the epistemic turn, we have that authorial productivity is the most relevant factor to classify scientific authorship. Thus, in capitalism, the work is converted into a product and the author into a producer.
Conclusions: The notion of measure and author has long been present in the macro discourse of the bibliography, as a discourse of knowledge. However, we can say that these relationships are not static over time. Biobibliographical discourse supports the classifying practice between subjects. It went from a biographical pole to an episteme of the individual's bibliographic production, crossed by metrical issues. If bibliometric is only possible by structuring a bibliographic practice, evaluation by the production criterion for subjects, endowed with the author function, also runs through a bio-biblical logic, being able to support a “bio-bibliometric” notion.
KEYWORDS: Bio-bibliography, Metric, Authorship, Authorial productivity, Epistemological-hitorical analysis.
Artigo original
O AUTOR E A MEDIDA: alguns enunciados da classificação métrica de autores
AUTHOR AND MEASURE: some statements of the metric classification of authors
Recepção: 29 Abril 2020
Aprovação: 08 Junho 2020
Publicado: 30 Novembro 2020
Objeção: mas, então, se a bibliografia nasce com a ambição de indagar uma realidade documentária específica, o livro, suas metodologias não podem se aplicar fora dos livros? Minha resposta é: sim, claro que podem. (SALARELLI, 2017, p. 12).
O regime de fomento e/ou avaliação de pesquisadores no Brasil perpassa a questão da produtividade científica do indivíduo ou do coletivo. Em avaliações individuais, como a concessão de Bolsas de Produtividade em Pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a produção científica do candidato aparece como um dos critérios centrais para a classificação dos indivíduos. No caso dos Programas de Pós-Graduação, a avaliação, feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), considera o coletivo que compõe o Programa, entre docentes, discentes e egressos. Neste tipo de avaliação a produção científica do coletivo, em análise menor, dos indivíduos, também é elemento-chave para o exame. Ou seja, a produção científica do pesquisador, na dinâmica da economia da produção de conhecimento é constantemente avaliada. Dentre os diversos tipos de produção que um pesquisador pode contribuir para a sociedade, a produção bibliográfica é, tradicionalmente, a de maior valor para a comunicação científica e para o prestígio pessoal. Consequentemente, podemos afirmar que a produção bibliográfica do pesquisador, ou seja, a produção textual é a de maior valor dentro das avaliações científicas.
Sendo o pesquisador avaliado, quase que em sua totalidade, pela sua produção bibliográfica, a interação entre autor/pesquisador-obra-dispositivo de avaliação tem efeitos concretos em sua trajetória de pesquisador. Isso pode ser explicado pela via da construção social da realidade (BERGER; LUCKMANN, 1985) em uma economia política da produção científica, onde há processos políticos, econômicos e culturais que geram uma relação entre objetividade e subjetividade na construção social. Isto nos faz pensar que pesquisadores, influenciados pelos métodos de avaliação, procuram cada vez mais aumentar seu índice de publicação, portanto cada vez mais se comportam como autores. Autor no sentido literal da palavra, como autor de textos. A bibliografia, enquanto método e saber, permite à bibliometria suas mais diversas composições. É a bibliografia que funda a possibilidade das análises bibliométricas, percebe Saldanha (2018) ao analisar o pensamento epistemológico de Robert Estivals.
Fontes de informação, tais como as biobibliografias, ou sistemas de informação curricular (como o Currículo Lattes, doravante CV), dão suporte aos dispositivos de avaliação, e a um discurso de classificação dos sujeitos. No caso contemporâneo, o CV, enquanto sistema biobibliográfico (definição adiante), dá suporte à aplicação de dispositivos de avaliação individuais e coletivas. Estas avaliações produzem, ou contribuem na produção, um discurso classificatório entre os indivíduos, os mais produtivos e os menos produtivos, Bolsistas de Produtividade A e B. Esta classificação impacta diretamente na realidade material e simbólica do pesquisador. Esse discurso classificador de autores possui uma historicidade, aqui abordada.
O dispositivo de avaliação e fomento da pesquisa científica possui na sua heterogeneidade, discursos e enunciados que permitem a positividade destes dispositivos. Queremos dizer que além das normas, instituições, proposições filosóficas, morais, decisões administrativas, existem discursos que participam do jogo foucaultiano do dispositivo de poder (FOUCAULT, 1977). O objetivo desta análise é justamente explorar um conjunto de enunciados, principalmente aqueles que se estabeleceram no saber da Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), que participam, a nosso ver, da construção de um discurso que mede e classifica autores. Enunciados que, ao se colocarem em rede, geram uma unidade discursiva, perpassada por uma episteme. A exploração de enunciados, que consideramos pertinente a esta temática, nos permite uma análise epistêmica importante para entendermos a genealogia destes dispositivos.
A análise desta forma de avaliação e classificação dos sujeitos da ciência implica em uma análise crítica acerca dos enunciados que são levados em consideração na construção deste saber métrico. Pode parecer um tanto quanto natural a forma como somos avaliados, e a disposição simbólica dos sujeitos classificados, sendo nomeados, recebendo títulos. Mas o pensamento crítico nos exige diagnóstico da realidade, inclusive o real discursivo-teórico que rege práticas-empíricas, questionamento das práticas cotidianas e pensar como poderíamos ser ou agir diferentes em função de uma realidade mais digna e justa. Claro que aqui não podemos esgotar todas as instâncias de um pensamento crítico em relação ao discurso métrico em voga no sistema de avaliação científica no Brasil. No entanto, podemos apontar algumas relações enunciativas, do campo da BCI, que possibilitam este dispositivo, e por consequência que dão voz a crítica.
Analisaremos dois arranjos discursivos que guardam semelhanças e divergências entre si. O primeiro trata de classificar os autores com base naquilo que foi dito sobre eles em fontes de informação biográficas, suas qualidades. O segundo arranjo, trata de classificá-los conforme a ideia de produtividade bibliográfica, segundo sua produção.
Por fim, retomamos as noções de biobibliografia e apontamos uma possível noção “biobibliométrica” como episteme histórica deste tipo discursivo. A noção de biobibliografia pode ser mais bem compreendida em Mata e Saldanha (2020; 2019). O percurso de construção da noção advém da procura por uma epistemologia histórica em BCI, neste caso, concentrada no desenvolvimento do conceito de “bibliografia” e nas intervenções do mesmo na realidade social, centralmente na vivência acadêmico-científica a partir da Modernidade. Explora-se uma perspectiva histórica e epistemológica, que toma o sujeito autor enquanto objeto de uma discursividade biobibliográfica, recorte bibliográfico da vida. Comungando, assim, de forma singular, com as questões propostas por Attilio Caproni. Ao refletir sobre a aplicação das novas tecnologias do século XX, e aqui acrescentamos as novas configurações epistêmicas, podemos igualmente perguntar: “está acabando a era do homem do século XX, entendido como sujeito de ciência (e de história), e está começando a era do homem enquanto objeto?” (CAPRONI, 2018. p. 10). A discussão biobibliográfica nos leva a refletir acerca do homem, o sujeito, o autor, como objeto desta discursividade.
O programa de estudos contextualizados no Fórum Internacional A Arte da Bibliografia, desde 2014, questiona dos enunciados epistêmicos à engrenagem classificatória bibliográfica, chegando aqui ao discurso sobre uma biopolítica dos dados bibliográficos, ou seja, a vida dos sujeitos mediada, controlada, valorada através de ferramentas de medição orientadas para os dispositivos de “existência documental” dos sujeitos. Eis a biobibliografia em sua máquina econômico-política.
A definição de biobibliografia é encontrada no Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia: “Biobibliografia: estudo da vida e das obras de um autor, as quais são referenciadas de acordo com as normas bibliográficas; em geral, inclui a referência dos textos críticos sobre o autor e suas obras” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 56). Espécie de pesquisa bibliográfica construída a partir da autoria.
Faz-se importante observar, conforme a leitura de Salarelli (2017), a condição da Bibliografia como disciplina neg-entrópica. Sua função está relacionada, retomando as hipóteses cibernéticas wiennerianas, à luta contra a entropia, contra a desordem em progressão geométrica do mundo social. A biobibliografia, acompanhando à condição neg-entrópica bibliográfica, ordena o mundo da autoria, funciona dentro do jogo econômico-político onde a função autoral se faz presente. O controle dos nomes na experiência biobibliográfica é outra forma de prática neg-entrópica, com suas consequências sociais, como aqui debateremos, centralmente em seu apelo político, marca fundacional do gesto bibliográfico.
Foram feitas pesquisas estatísticas em dicionários biográficos sobre o coeficiente mais ou menos elevado dos estudiosos nascidos em tal país ou região de um país. Pesquisas sobre a superioridade de determinado autor em comparação com outro (por exemplo, Sófocles versus Eurípides) com base na extensão dos artigos que lhes foram consagrados, com base na quantidade de adjetivos elogiosos ou não (pró e contra) que lhes são atribuídos nesses artigos, trabalhos baseados na extensão das comunicações e o grau de elogios presentes nas expressões. (OTLET, 2018, p. 19)
Paul Otlet, a partir da forte influência positivista em seu pensamento, na década de 1930, assume que a medida se tornou uma forma superior de conhecimento. As medidas que estão relacionadas ao livro ou ao documento são estudadas pela bibliometria. Parte da bibliologia, a bibliometria foi significada pelo advogado belga como a aritmética bibliológica. Todo e qualquer elemento estudado pela ciência bibliológica seria suscetível de ser medido. Considera-se, nessa teoria, que pela perspectiva otletiana, a autoria é passível de medição. Otlet (2018) estabeleceu algumas medidas do livro, unidades de medida bibliológica (para que se pudesse medir fisicamente o livro segundo um padrão), a estilística (estudava a forma de expressão dos autores), a esticometria (medição da extensão do escrito), entre outras. O ponto-chave é que a bibliometria no pensamento otletiano “resume as estatísticas e fornece os índices de comparação” (2008, p. 20).
O documentalista belga aponta que pesquisas estatísticas sobre a vida de sujeitos no meio acadêmico-científico foram desenvolvidas com base em Dicionários Biográficos para estabelecer o coeficiente de estudiosos nascidos em regiões ou países. Também afirma Otlet (2008), que foram realizados estudos para se determinar a superioridade de um autor sobre o outro. Neste momento epistêmico já era possível pensar em certo nível de “superioridade comparada”.
Sigamos o trajeto discursivo deste pensamento para que possamos entender melhor seu campo de construção. Como exemplo deste tipo de estudo, Otlet cita o trabalho de Frederick Adams Woods (1911) publicado na revista Science. Historiometry as an exact science era o título do artigo. Ele sugeriu uma abordagem matemática e quantitativa da história. Um dos seus exemplos aplicados era a comparação entre Sófocles e Eurípides. O autor explorou Enciclopédias e Dicionários Biográficos mensurando três critérios: primeiro, espaço, quantidade de linhas ou páginas dedicadas aos biografados; segundo, quantidade de adjetivos que elogiavam; terceiro, quantidade de adjetivos que desabonavam os biografados. Tamanho do verbete e como os sujeitos eram adjetivados, assim se resume o critério de avaliação e classificação do método de Woods (1911). O resultado de seu estudo é apresentado em tabela, que replicamos a seguir:

Frederick Woods deu continuidade ao trabalho de Francis Galton, um eugenista do século XIX, que era primo de Charles Darwin. Francis acreditava, de maneira geral, em uma genialidade hereditária. Atualmente, as teorias de Galton têm sido recebidas em algumas áreas da psicologia e antropologia. Francis também se vale de dicionários biográficos para dar sustentação a sua teoria, a saber, que existe uma hereditariedade não somente nos aspectos físicos, mas também de talento e capacidade intelectual. É extremamente válido dizer que estas teorias foram amplamente utilizadas pelo Nazismo e Fascismo, com foco na identificação de um dado tipo de grupo superior.
A familiaridade discursiva entre a bibliografia textual e a genética já foi aludida por Nery da Fonseca (1979). As duas ciências se ligam pelo seu caráter epistemológico de estabelecimento de semelhanças e diferenças entre seus objetos de estudo. “Abra-se um manual de bibliografia textual e ver-se-á como os esquemas de sucessão de textos manuscritos e impressos se assemelham aos de transmissão hereditária” (FONSECA, 1979, p. 31). Sendo a ciência biológica e a ciência bibliográfica semelhantes sobre este aspecto da classificação. Apontando para um cenário epistêmico-discursivo que possibilita, e até mesmo incita, um pensamento biobibliográfico, entre vida e obra.
A fonte de discussão aqui está no cerne da Bibliografia: sua condição política. Essa relação pode ser demonstrada por diversos fatores históricos, ora impulsionados, ora motivos da movimentação das metadescrições gráficas na realidade social. O trabalho de Grabriel Naudé, por exemplo, em sua bibliografia política explorada por Giulia Crippa (2017) é um exemplo direto dessa condição. Trata-se de um modelo do modo como a bibliografia percebe e intervém na realidade - nesse caso, dentro do contexto dos estados absolutistas nos primórdios da Modernidade. No contexto brasileiro, a pesquisa de Crippa (2019) também ilustra esse fator político como central, a partir do olhar de Edson Nery da Fonseca e Lydia Sambaqui.
Retomamos aqui, com Vignaux (1999), a construção do modelo científico de classificação para compreendermos seu impacto na economia política da biobibliografia. A prática classificatória científica está vinculada à categorização desde Aristóteles. O termo grego kategorein significa “avaliar”. Historicamente, essa noção já era aplicada para “avaliar actos segundo os vícios e as virtudes dos autores destes actos e logo, atribuir- lhes propriedades distintivas” (VIGNAUX, 1999, p. 76). Assim se constituíam as espécies, os gêneros e, logo, as hierarquias. Ou, assim se constitui a categorização segundo o olhar vignauxiano: “relacionar para opor, opor para poder relacionar” (VIGNAUX, 1999, p. 76).
É no sentido clássico da filosofia onde encontramos essas relações claramente estabelecidas. Nos Tópicos, obra fundamental para o nascimento e o desenvolvimento da organização do conhecimento em BCI, Aristóteles pontua a noção de “superioridade” é demarcada nos movimentos de correlação. Conforme Vignaux (1999), Aristóteles definira com clareza as fórmulas de relação adotadas como esquemas de argumentos práticos para demonstrar a superioridade de uma coisa sobre a outra, sendo a relação de simples preferência entre dois termos (A é preferido a B); a relação de analogia conjugando quatro termos (A é para B o que C é para D); a relação comparativa direta (A supera B mais do que C supera D). As relações lógicas, no entanto, no âmbito discursivo serão usadas para formas econômicas e, logo, de exploração, de classificação racial, de racismo. O desdobramento do uso das ideias de Galton na comunicação científica assim também o será.
O caráter biopolítico da Bibliografia pode ainda ser alicerçado na metáfora humanista da condição bibliográfica na alvorada da Modernidade. Conforme Araujo (2016), a Bibliografia no mundo moderno se assemelhava à prática anatômica, ou seja, junto da dissecação de corpos humanos e animais, o gesto bibliográfico buscava a dissecação do conhecimento registrado em livros. O nome próprio representa um dos “órgãos” centrais de todos os processos de dissecação bibliográfica.
Galton estimulava que se reproduzisse hereditariamente essas características da genialidade e que se impedisse a proliferação das características ruins (DEL CONT, 2008). O primo de Darwin também é citado como um dos predecessores da cientometria (GORRAIZ, et al, 2011). Solla Price (1986), considerado o patrono da bibliometria, também recupera o eugenista. Ele nos conta como aconteceu a pesquisa de Francis Galton sobre English Men of Science. Que fique claro que Solla Price não se interessou ou compartilhou das teorias genéticas galtonianas, mas sim pelas suas pesquisas métricas paralelas.
É importante notar que a perspectiva métrica galtoniana buscava medir os cientistas por suas qualidades, por suas características, por sua menção bibliográfica em dicionários biográficos, enciclopédias ou mesmo em obituários de jornais.
Usando o critério de que um homem era eminente se o nome dele aparecesse em uma compilação biográfica curta dos 2500 Homens do Tempo que acabava de ser publicada, ou nas colunas selecionadas de anúncios de obituários do The Times, ele descobriu que dignidade de nota teve uma incidência de cerca de uma pessoa para cada 2.000 homens adultos ou uma pessoa em 20.000 da população em geral - um mero punhado vivo a qualquer momento no país. (SOLLA PRICE, 1986, p. 32).1
Para nossa análise é importante observar nem tanto os resultados encontrados por Galton, mas os enunciados que ele utilizou para realizar essa mensuração dos cientistas em sua época. Interessa-nos como os enunciados genéticos e hereditários se conformam com os enunciados documentais. O discurso métrico eugênico galtoniano relaciona o enunciado genético, métrico e documental - em outras palavras, a lógica das metrias submetida ao discurso da lógica métrica (mais próximos aqui estamos da bibliossociometria otletiana, e não da bibliometria pura). Este relacionamento permite a Galton elaborar seu estudo sobre a notoriedade dos sujeitos estudados. Os enunciados biográficos em fontes documentais, como jornais e dicionários, tomam posição de objeto do discurso para Galton. E os relaciona com as temáticas métricas, que analisa sua hereditariedade. Este discurso singular proposto no século XIX, não é mais aceito nesta conformação. No entanto, ainda podemos observar um discurso anônimo que busca descrever e classificar os sujeitos da ciência, na busca de reconhecer os mais notórios.
Quantas pessoas escrevem? Quantas obras produz um escritor? (OTLET, 2018, p. 391).
Como discutido, desde os Tópicos, Aristóteles, através da lógica clássica, a condicionante da superioridade é demarcada nas ações de comparação. Uma vez traduzida no espectro das relações matematizadas, ou seja, a lógica traduzida no dígito, o desdobramento do uso social do império bibliográfico instaura uma ordem dos sujeitos. A Modernidade teria esse horizonte como uma de suas racionalidades mais caras. Estamos aqui no cerne de uma tradição positivista - especificamente, da bibliografia estatística a caminho de sua maturação como bibliometria, um dos fundamentos da obra otletiana.
Paul Otlet, também, falou da produtividade dos autores. A questão de quanto produzia um autor já era pensada pelo advogado belga. No entanto, não percebemos no discurso otletiano uma intenção de superioridade ou inferioridade dos autores com base na sua produção, como será percebido no decorrer do século XX com o desenvolvimento da bibliometria. A Lei de Lotka é tida como uma das três leis, tradicionalmente aceitas, fundadoras do campo bibliométrico na BCI, voltada para a produtividade dos autores (ARAÚJO, 2006). Esta lei é a que maior importância dá à produtividade dos autores, ou seja, pretende aferir a dispersão da produtividade entre eles, denotando já uma classificação, a instauração de uma ordem, no espaço autoral. Dresden (1922) analisou 1.102 documentos científicos da Sociedade Americana de Matemática, entre os anos de 1879 e 1922, em que 278 autores contribuíram para a produção. Dresden (1922) afirma o comportamento hiperbólico de produção de uma pequena parcela de autores, ou seja, ele constata que um número pequeno de autores é responsável pela maior parte dos trabalhos publicados. Podemos considerar que este seja um dos primeiros estudos sobre a produtividade de autores científicos, em que está dada uma divisão discursiva no universo dos autores científicos por ele estudada. O enunciado discursivo ordena os sujeitos entre os produtivos e os não produtivos em um campo do saber.
“Para estabelecer a parte com que homens de diferentes qualidades contribuem ao progresso da ciência, Lotka (1926) estabeleceu os fundamentos da lei do quadrado inverso [...]” diz Urbizagástegui (2002, p. 14). A bibliometria que começa muito voltada a contagem de livros, posteriormente passa a considerar em sua contagem outros tipos de documentos, como os artigos científicos. No seu desenrolar passa também a preocupar- se com o desenvolvimento de métricas sobre a produtividade de autores (ARAÚJO, 2006, p. 13).
É certo que a ciência moderna nasce sobreposta ao surgimento e à consolidação do capitalismo, a partir da ética protestante, o que por si só já constitui um signo, mas a crescente invasão do capitalismo neoliberal nas políticas públicas, inclusive as científicas, tem causado degradação da atividade científica. Uma dessas degradações são justamente os surtos de medição e avaliação quantitativas da produtividade científica, o que representa uma mercantilização da ciência. É certo ainda, do ponto de vista epistemológico-histórico, que essa dimensão de consolidação do modelo científico e no modo de estabelecer o olhar sobre a autoria tem no imperativo biobibliográfico outra fonte de criação e de estabilização. É tanto a materialidade gráfica formalizada no biblion gutenbergiano, como as mais diferentes teorias e métodos que se desdobram para e na Modernidade, a partir da centralidade de Conrad Gesner, que sustentam parte robusta das transformações que nos levam a ética do capital - a própria Reforma terá como um dos fatores de sucesso o “milagre” editorial da produção e da distribuição massiva de registros gráficos, impulsionando o mundo para a era da reprodutibilidade técnica, conforme a terminologia benjaminiana. Em outros termos, a própria condição bibliográfica que antecede e subescreve a necessidade da autoria no fundamento social da Bibliografia - é impulsionado pelo excesso, que se desdobra na produtividade e na distribuição em massa.
Deste discurso mercantilista e produtivista da ciência contemporânea podemos perceber uma mudança na descrição biográfica de sujeitos autores. Ou seja, a posição de sujeito dotada de função autor passa a ser descrita de forma diferente. Os dicionários biográficos mudam sua forma de descrevê-los. Se os dicionários biográficos utilizados por Woods (1911) trazem majoritariamente as informações biográficas dos sujeitos notáveis, incluindo os autores notáveis, já as biobibliografias do século XX passam a se comportar como listas bibliográficas. Como diz Barthes (2004), os nomes dos autores ainda reinam em dicionários biográficos, estão sempre ansiosos por juntar o autor e a obra.

Ao estudar a dispersão da produtividade entre os autores, a lei impõe uma nova ordem entre os autores. O critério da produtividade classifica os sujeitos entre os mais produtores e menos produtores (ou seja, define os graus hierárquicos da superioridade). A Lei de Lotka não é aplicada pelo CNPq, por exemplo, para determinar quem seriam seus bolsistas de produtividade. Este considera outro método de comparação mais direto e objetivo, o mesmo pode se dizer a avaliação de desempenho dos docentes, discentes e egressos feito pela Capes. No entanto, estas práticas informacionais comungam de uma mesma episteme métrica singular, participam de um mesmo campo discursivo, o império bibliográfico que tece e é tecido na Modernidade.
Os homens fazem a sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. (MARX, 2011, p. 25).
Se nos fosse permitido parafrasear Marx, não para corrigi-lo, mas para nos apropriar de sua intelectualidade, diríamos: Os homens “registram” a sua própria história; contudo, não a “registram” de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é registrada, mas estas lhes foram “impostas” assim como se encontram.
Com base na exploração desenvolvida podemos analisar uma prática de classificação com base na discursividade acerca de autores, que estamos chamando de biobibliográfica. Identifica-se, também, que há neste discurso anônimo enunciados diferentes que geram classificações de acordo com critérios diferentes. Percebemos, também, certa forma recorrente de descrição ao longo do tempo, o que sugere que os autores não são representados da forma que querem, mas de acordo com um regime discursivo instaurado. Não lhes é dado a liberdade de decisão de quais descritores irão construir seus registros, nem mesmo como o dispositivo irá lhe classificar. O jogo das oposições e relações lhes faz objeto.
O autor, objeto do discurso biobibliográfico (não é seu sujeito, mas seu objeto), não se descreve da maneira que quer. Está sempre sujeitado às grades do discurso, àquilo que interessa ao discurso revelar. No caso dos dicionários biográficos utilizados por Woods, havia uma gama de adjetivos sobre os autores, adjetivos estes que desapareceram do Currículo Lattes por exemplo. Não é por acaso que assim ele foi construído, a narrativa que privilegia suas qualidades morais está dentro da ordem, da estratégia do discurso que os legitimam. Com o aprofundamento e expansão do lógica produtivista-mercantilista-capitalista assistimos uma nova configuração da ordem do discurso. Neste período temos as listas bibliográficas, as quantidades de textos produzidos. Se para aquele vale a superioridade biográfica/moral dos grandes homens, para este o feixe de luz do discurso ilumina a superioridade quantitativa, e de certo modo qualitativa, bibliográfica/produtos.
De imediato temos que evidenciar algumas diferenças entre os dois tipos discursivos analisados, que impactam diretamente no resultado de nossa pesquisa. Primeiro, temos que considerar a realidade tecnológica do início do século XX, ou aquela do século XIX, em que os dicionários foram produzidos, e a expansão da realidade digital vivenciada a partir do final do mesmo século, em que, no contexto brasileiro, o Currículo Lattes se faz presente. Para que um autor pudesse ser mensurado a partir de um dicionário biográfico era necessário que este autor já possuísse prestígio o suficiente para figurar nestes tipos de fonte, ou ter sido citado em jornais ou outros documentos. No primeiro caso geralmente temos um indivíduo que compila no todo a fonte biobibliográfica, no segundo já é possível pensarmos em instituições, ou nos próprios autores comunicando suas informações.
No caso dos dicionários biográficos mais antigos temos que considerar o tempo necessário para a construção de um dicionário biográfico com intenções universais, além das regras de seleção e o modo de apresentação dos biobibliografados. Podemos pensar também que a subjetividade presente no discursar sobre o outro perpassa por condições e opiniões políticas, culturais, econômicas e históricas. Por todas estas questões, podemos inferir que este arranjo se aplicaria principalmente aos autores do passado.
Já o segundo arranjo discursivo que descrevemos possui outra dinâmica tecnológica, podemos pensar aqui no Currículo Lattes como exemplo. O sujeito é que fica obrigado a falar de si. Lembrando que ele não fala da maneira como deseja e sobre o que espera dizer. O sujeito está obrigado a dizer aquilo que o sistema, produzido com intenções bem definidas, lhe inquire. É um sistema que busca a atualização instantânea e cotidiana, portanto podendo ser aplicada, teoricamente, aos autores de agora. Dizemos “teoricamente”, com certo ar de desconfiança, pois tem-se a necessidade de que todos os sujeitos atualizem constantemente todas as suas informações, o que não está dado na nossa opinião, mesmo com as políticas coercitivas acadêmico-científicas nesta direção.
O regime em que estes enunciados se apresentam também pode ser diferente. Enquanto no primeiro caso o enunciado da superioridade dos autores é aplicável ao campo científico e ao campo da literatura cultural, no segundo caso, conforme a análise aqui desenvolvida, se aplicaria a produtividade intelectual apenas ao regime da ciência. Dizer que estes enunciados pertencem a regimes diferentes implica dizer que formam redes diferentes, com outros enunciados, com outros campos de estabilização do discurso. Podemos inferir, também, que a episteme que os possibilita existir não é a mesma. Isto não impossibilita a coexistência histórica percebida entre os dois enunciados, mas aguça sua análise e permite uma crítica mais consciente das raízes discursivas de cada um.
Uma segunda questão é a própria intencionalidade do discurso. No primeiro caso temos uma afirmação de cunho simbólico acerca da superioridade dos autores. Os descritores neste caso diferem em muito do segundo caso. No segundo caso a intenção do discurso é muito mais complexa. Ela conjura um misto de memória, avaliação e comunicação científica. Por isso há enunciados discursivos além daqueles verificados na avaliação, ou seja, nestes sistemas de informação não se cadastra apenas a produção bibliográfica, ou apenas aquilo que é considerado relevante na avaliação, apesar de que no início do CL o cenário era bem próximo a este.
Atualmente, o CL dá muitas possibilidades de inserção de informações para além da avaliação, o que corresponderia aos enunciados de construção de uma memória da ciência brasileira. No entanto, questionamos se o formato estritamente objetivo de Sistemas de Informação Curricular conseguem abarcar todas as facetas que compõem a construção de uma memória coletiva da ciência. Não menos importante, temos dúvida se podemos dizer que o CL propicia a comunicação científica. Sem a constituição de um vocabulário controlado que faça a indexação dos currículos, não acreditamos ser possível que estes sejam buscados e acessados de forma eficiente. Além disto, em tempos de repositórios temáticos e institucionais, teríamos que indexar satisfatoriamente cada item acrescentado ao currículo, o que também acreditamos não estar dado. Reconheçamos que não é este o objetivo central do CL, e, portanto, não é estruturado objetivamente para tal.
Das questões mais críticas levantadas pela pesquisa, a teia genealógica de um pensamento historiométrico, tal qual pensada por Woods (1911), e citada por Otlet (2008) como um exemplo bibliométrico, ligado às ideias eugenistas e com ressonância em práticas avaliativas e classificatórias contemporâneas devem ser repensadas. Uma das grandes críticas feitas a este tipo de metria está justamente na utilização de informações muito subjetivas, como adjetivos dedicados aos sujeitos, e uma grande parte puramente interpretativa. Mas é fato que o enunciado eugenista, de certa forma, está implícito neste “novo” tipo de enunciado que busca identificar um tipo de autor superior, o produtivo.
Hodiernamente, uma política, que cada vez mais tira recursos de indivíduos e coletivos, mal avaliados, não superiores, os sufoca e os esteriliza, deixando sobreviver (metaforicamente) apenas as entidades e indivíduos, tidos como parte de uma superioridade, desigualmente instituída, parece encontrar notas de uma engenharia eugênica. Mesmo que Solla Price (1986) não tenha compartilhado da eugenia de Galton, cabe-nos questionar se é possível separar o pensamento eugênico galtoniano do pensamento métrico, voltado para a definição e mensuração de qualidades de pessoas ilustres. Na nossa opinião, estes pensamentos se tocam e se entrecruzam em alguns momentos e participam de um mesmo cenário epistêmico.
Esta diferenciação enunciativa entre a aferição de uma superioridade simbólica e uma superioridade produtiva entre autores, não o excluem de uma unidade discursiva que pretende estabelecer uma classificação métrica entre os sujeitos autores. Queremos dizer que apesar de enunciados diferentes entre si, podemos notar uma unidade entre epistemologias tão diferentes. Classificar os autores, estabelecer entre eles uma ordem de superioridade, ou para serem preferencialmente lidos ou para recompensá-los, eis o discurso que se desvela em meio a enunciados diferentes.
No primeiro cenário epistêmico temos uma relação de características e qualidades dos sujeitos pesquisadores sustentada por uma materialidade dos enunciados biográficos em fontes de informação. No segundo cenário a métrica é feita com base na noção de produtividade, materializada não mais em fontes biográficas, neste cenário observa-se o predomínio de fontes biobibliográficas, agrupando dicionários biográficos e sistemas curriculares de informação, que trazem listas bibliográficas de publicações como regra.
[...] a espécie humana vive de diferenças e de ordenações normativas - é bem preciso que as coisas estejam no ‘seu’ lugar e, para isso, atribuir-lhes ‘naturezas’ para depois as ‘nomear’. Processo permanente de estabelecer pontos de referência sob forma de categorizações, a fim de estabelecer efectivamente fronteiras perante os outros e com vista a circunscrever a eterna e dupla interrogação: quem sou eu ¿E quem somos nós¿ (VIGNAUX, 1999, p. 94).
Uma possível noção de biobibliometria partindo, a nosso ver, de um discurso biobibliográfico está em voga no campo da Ciência da Informação. Recuperando a alusão de Nery da Fonseca (1979) sobre as semelhanças entre bibliografia e genética, a biobibliometria já é termo encontrado nos dois campos (STAPLEY; BENOIT, 2000). No campo da Ciência da Informação, temos trabalho publicado no International Forum on Information and Documentation. No documento, Sen e Gan (1990) propõem um novo tipo de estudo métrico com base na biografia e na bibliografia dos autores científicos. Urbizagastegui (2020) preparou uma análise da produção acadêmica de Reiner Tom Zuidema, “um perfil bio-bibliométrico”.
Observar o gesto bibliográfico à luz da biobibliografia nos conduz a outro ângulo, do de comprovação do caráter político da Bibliografia. Especificamente, os horizontes biobibliográficos nos levam ao fundamento biopolítico da Bibliografia, no controle de corpos a partir da experiência de vida biobibliografada. As formas de desenvolvimento dos registros biobibliográficos na Modernidade definem as condições biopolíticas do sujeito na seara do mundo controlado pelos dados registrados.
Retomando Vignaux (1999) no âmbito dos extremos bárbaros da classificação no século passado, ou seja, o discurso nazista, quando nos colocamos diante dos dilemas econômico-políticos, no meio biobibliográfico podemos passar de “princípios” classificatórios a partir de certezas pseudocientíficas. O foco da categorização é buscar um lugar comum consagrado como estado natural dos posicionamentos - a cristalização de quem produz e de quem não produz, de quem é superior, de quem não é.
A biopolítica das biobibliografias funda um modelo necessário e ao mesmo tempo perigoso de controle e de determinação de corpos no meio acadêmico-científico, um sistema complexo e ao mesmo tempo objetivo de julgamentos. O destino final dessa justiça métrica está na definição de um “quem sou eu” dentro do universo da pesquisa e das possibilidades de sobrevivência entre os pares. A discussão sugere uma possível prática “bio-bibliométrica” neste universo.
Coleta de dados: Diogo Xavier e Gustavo Saldanha
Análise de dados: Diogo Xavier e Gustavo Saldanha
Discussão dos resultados: Diogo Xavier e Gustavo Saldanha
Revisão e aprovação: Diogo Xavier e Gustavo Saldanha
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