Ensaio
BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: REDES COLONIAIS DE DESENCANTAMENTO
LIBRARIANSHIP, DOCUMENTATION AND INFORMATION SCIENCE: COLONIAL NETWORKS OF DISENCHANTMENT
BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: REDES COLONIAIS DE DESENCANTAMENTO
Encontros Bibli, vol. 28, Esp, e92665, 2023
Universidade Federal de Santa Catarina
Recepção: 30 Janeiro 2023
Aprovação: 27 Março 2023
Publicado: 05 Maio 2023
RESUMO
Objetivo: As áreas da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (BDCI) estiveram atravessadas pelas dinâmicas ocidentais da colonialidade histórica da metafísica moderna. Como objetivo, este texto busca situar algumas redes coloniais de objetificação do conhecimento que erigiram e institucionalizaram os domínios materiais da BDCI como lugares de racionalização instrumental da vida e desencantamento do mundo.
Método: Perante a problemática inerente aos contextos de surgimento da BDCI, a questão-problema abordada é:quais elementos estruturais da colonialidade auxiliaram na formação do pensamento biblioteconômico, documentalista e informacional da modernidade ao contemporâneo? A hipótese defendida é que as relações coloniais de desencantamento operadas pelos processos de depuração epistêmica do conhecimento objetivo da ciência legaram aos campos da BDCI os modos de conhecer do Ocidente, deficitários em alteridade. O método está baseado em uma leitura filosófica da BDCI a partir do entrelaçamento da assinatura das coisas em Agamben, da desconstrução narrativa em Derrida e da geofilosofia em Deleuze e Guattari.
Resultado: As colonialidades do ser, do saber e do poder apresentam-se como índices da cartografia dos territórios de conhecimento da BDCI e apontam para os elementos coloniais que tecem as redes de desencantamento do mundo presentes nos respectivos campos.
Conclusões: A desobediência epistêmica de tematizar os campos da BDCI desde um ponto de vista colonial cria as condições de possibilidade para transformarmo-nos enquanto ciência e, por meio desta alteração, nos libertar das ruínas coloniais e seus modos de expressão. A conclusão está na eminência de reencantar o mundo com vista a adiar o seu fim.
PALAVRAS-CHAVE: Biblioteconomia - colonialidade+ Documentação - colonialidade+ Ciência da Informação - colonialidade+ Desencantamento do mundo.
ABSTRACT
Objective: The areas of Librarianship, Documentation and Information Science (BDCI) were crossed by the western dynamics of the historical coloniality of modern metaphysics. As an objective, this text seeks to situate some colonial networks of objectification of knowledge that erected and institutionalized the material domains of the BDCI as places of instrumental rationalization of life and disenchantment of the world.
Methods: Faced with the problems inherent in the contexts in which the BDCI emerged, the question-problem addressed is:which structural elements of coloniality helped in the formation of library, documentalist and informational thought from modernity to the contemporary? The hypothesis defended is that the colonial relations of disenchantment operated by the processes of epistemic purification of the objective knowledge of science bequeathed to the fields of the BDCI the Western ways of knowing, deficient in otherness. The method is based on a philosophical reading of the BDCI from the interweaving of the signature of things in Agamben, the narrative deconstruction in Derrida and geophilosophy in Deleuze and Guattari.
Results: The colonialities of being, knowledge and power are presented as indexes of the cartography of the territories of knowledge of the BDCI and point to the colonial elements that weave the networks of disenchantment of the world present in the respective fields.
Conclusions: The epistemic disobedience of thematizing the BDCI fields from a colonial point of view creates the conditions of possibility for us to transform ourselves as a science and, through this alteration, free ourselves from the colonial ruins and their modes of expression. The conclusion is on the verge of re-enchanting the world with a view to postponing its end.
KEYWORDS: Librarianship - coloniality, Documentation - coloniality, Information Science - coloniality, Disenchantment of the world.
1 “NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO”: BIBLIOTECAS, BIBLIOTECÁRIOS E BIBLIOTECONOMIA NOS ENREDOS ESPECULATIVOS DA COLONIALIDADE OCIDENTAL
Enquanto colocava em prática a organização inicial da Biblioteca [de Alexandria], Zenódoto1 deve ter recrutado a equipe que ela precisava - classificadores, inspetores, atendentes, pajens, copistas, restauradores, entre outros. Deve ter havido dúzias desses empregados [...]. Como muitos dos trabalhadores das áreas administrativas no mundo grego e romano, a grande maioria muito provavelmente era constituída por escravos. Lionel Casson (2018, p. 50).
A instituição bibliotecária surge na Antiguidade e alcança seu ápice cultural, social e técnico no Ocidente com a Biblioteca de Alexandria, um empreendimento colonial de espoliação e acumulação dos bens culturais de diferentes povos subjugados pelo império alexandrino. Em sua ambiência, a Biblioteca de Alexandria reproduzia a estrutura social de sua época através i) dos ideais do homem livre pensador e cidadão da tradição greco-romana (anthropos), refletidos em seus diretores intelectuais advindos da vida contemplativa, e ii) dos escravos bibliotecários (aneu logon, sem discurso), patrimônios2 capturados juntos às pilhagens de guerra e, enquanto cativos, utilizados como tradutores dos bens culturais locais, pilhados pelo processo de colonização alexandrina (CASSON, 2018). O paradigma acumulativo da Biblioteca de Alexandria fundou a gramática da civilização ocidental a partir das materializações linguísticas das colonizações alexandrinas espelhadas em suas coleções (BRAUDEL, 2004; BARATIN, 2000). A gramática, nosso modo de representação do mundo como dizia Wittgenstein, surgiu em seus usos e normas como um reflexo especular da pluralidade cultural e material das escrituras acumuladas colonialmente nas estantes de Alexandria. A Biblioteca de Alexandria foi a Babel gramatical das línguas do Ocidente.
Cultuada nos microcosmos dos feudos e monastérios, as bibliotecas fertilizaram, através das suas artes liberais, as gramáticas dos nomes do Ocidente. Com o surgimento dos Estados e Nações modernas, as diferentes linguagens ganharam formatações idiomáticas próprias/nacionais e a massificação dos materiais bibliográficos passou a (re)definir politicamente a hegemonia cultural dos estados europeus (CHARTIER, 1998). Em outras palavras, segundo Frédéric Barbier (2018a, 2018b), a partir do século XIII, o livro inventa a modernidade ocidental e, após o século XVI, ela passa a se sustentar e, de modo parasitário, nutrir-se do colonialismo histórico das Américas e África (MBEMBE, 2014).
Formadores da infraestrutura informacional da Modernidade, os “centros de cálculo” ou estações de sentidos (bibliotecas, laboratórios, coleções, etc.) regulavam os fluxos das inscrições que os países europeus extraíam das colônias. Através da estrutura inscritiva da colonialidade e sua moderna dimensão histórica, a informação renasce modernamente como um operador de relação entre uma periferia - objeto de exploração - e um centro - sujeito explorador3. Fartamente construídas no contexto do colonialismo histórico, as bibliotecas modernas e suas coleções foram frutos da transformação das matérias coloniais em signos imperiais (BURKE, 2003; LATOUR, 2000). Informar, nos diz Latour (2000, p. 23), era “uma relação muito prática e muito material entre dois lugares, o primeiro dos quais negocia o que deve retirar do segundo, a fim de mantê-lo sob sua vista e agir à distância sobre ele”.
A biblioteca patrimonial moderna era um nó regulador das redes naturalistas de transferências ontológicas, epistêmicas e narrativas4 entre as metrópoles coloniais e os redutos marginais de exploração - as suas colônias. Elo entre os diferentes mundos, a biblioteca moderna patrimonial formada pelas coleções senhoriais, em grande parte extraídas dos mundos indígenas americanos, será em 1627, através dos Advis pour dresser une bibliothèque de Gabriel Naudé (2016), alçada à modelo universal de biblioteca pelo projeto iluminista (ARAUJO; ARAÚJO, 2018).
Fundamento da Biblioteconomia Moderna, a obra de Naudé reproduz a estrutura ontológica da sociedade ocidental por meio da instituição bibliotecária. A transição do ideal do homem livre greco-romano, o patriarca (anthropos) em vista de si mesmo (ho hautoû héneka) (ARISTÓTELES, 2002, §982b 20-28, p. 10-13), detentor do patrimônio material e imaterial, móvel e imóvel, para o homem ideal, livre, branco e europeu (sujeito histórico-universal moderno), marca a passagem do trabalho intelectual bibliotecário à modernidade. Esta transição epistemológica apresenta-se na ideia institucional da biblioteca patrimonial como modelo paradigmático da biblioteca universal. A ideia da biblioteca de todos os povos, culturas e sociedades é, no fundo, uma ideia patriarcal do sujeito moderno (branco), destino espiritual do povo universal (europeu) (HEIDEGGER, 1966). No caso brasileiro, por exemplo, a Biblioteca Nacional do Brasil nasce de um conjunto de coleções fundacionais portuguesas (SCHWARCZ, 2002). O ideal nacionalista da cultura brasileira refletido na instituição da Biblioteca Nacional encontra-se, em seu ato de fundação, pervertido pela colonialidade epistêmica das suas coleções. A desconcertante retórica da pergunta: “universal para quem?”, precisa ser cotidianamente recolocada perante as redes coloniais de desencantamento e seus atributos raciais desvitalizadores. No mundo ocidental da Biblioteconomia, por vezes, o espelho voltado ao outro tem reiterado um vicioso reflexo de si.
2 DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: DOMESTICAÇÕES DAS ALMAS E CORPOS SELVAGENS
Apesar de toda a sua retórica nobre sobre paz e unidade internacional, Otlet lutou para conciliar esses nobres sentimentos com o fato do colonialismo europeu generalizado e o contínuo interesse da Bélgica no Congo. Em The End of War, ele dedicou uma seção aos ‘territórios internacionais’ ou colônias, afirmando que ‘o continente africano é um domínio completamente internacional’. Ecoando as racionalizações humanísticas de Leopold II para sua exploração da população indígena, Otlet caracterizou todo o projeto europeu na África como ‘uma grande missão civilizadora’, nascida da amizade com as populações nativas e baseada no respeito por suas crenças religiosas, estruturas familiares e direitos de propriedade - e, no processo, ‘fazê-los apreciar os benefícios da civilização’. Alex Wright (2014, p. 152, tradução nossa).
A ideia unificadora e universalizante do Controle Bibliográfico Universal (CBU) renasceu nos projetos igualmente universais e objetificantes da Documentação e do Repertório Bibliográfico Universal (RBU) no final do século XIX e início do XX. A Documentação surge como um saber pacificador das relações coloniais, especificamente, da Bélgica civilizadora do selvagem povo do Congo. Alex Wright em Cataloging the world: Paul Otlet and the birth of the information age (2014) nos recorda que por trás da retórica da paz e do internacionalismo, Paul Otlet lutou para conciliar sua altivez pacifista com o colonialismo europeu, em especial, do Congo Belga.
Wright (2014) apresenta a defesa de Otlet do projeto do Congo como um empreendimento cristão e humanitário, sendo os belgas, para Otlet, libertadores da longa decadência moral e intelectual dos povos africanos. Por mais de uma vez, Otlet declarou ser “um visionário” o Rei Leopoldo II - genocida que dizimou mais de 10 milhões de congoleses no processo de colonização - e caracterizou todo o projeto europeu na África como “uma grande missão civilizadora”. Dentre outros aspectos do sujeito imperial impregnado no homem Otlet, Wright (2014, p. 53) ainda revela que o jovem Mayalé, filho de um chefe do Congo, foi sequestrado e escravizado pela família Otlet a partir de 1886. Dissimulado nas pretensões universais do conhecimento objetivo da Modernidade (RAYWARD, 2008), Paul Otlet fundou a Documentação como um projeto atravessado pelas colonialidades do ser, do poder e do saber.
Um senhor dos signos, Paul Otlet diante das suas pretensões universais visava documentar todo o mundo para pacificá-lo como ele é - colonial e baseado na relação moderna elementar entre centros (Mundaneum, a cidade mundial) e periferias, ou, em termos modernos hegelianos, entre senhores e escravos5 (KOJÉVE, 2002, p. 15-17). O conceito de documento em Paul Otlet guarda o ideário desta relação fundamental do Ocidente entre senhores e escravos. Caso interpretemos o suporte como a dimensão externa e material do corpo (escravo) e os signos representativos dos dados intelectuais (do senhor) como as impressões internas e ativas que informam a superfície material do suporte (SILVA, 2022), reconstruímos a máquina conceitual da Documentação otletiana: “a definição mais geral que se pode dar de livro ou documento é: um suporte, feito de determinado material e com determinada dimensão, onde se colocam os signos representativos de certos dados intelectuais.” (OTLET, 2018, p. 59) A impressão da representação dos dados intelectuais em um suporte material é a definição clássica da informação, seja do ponto de vista ontológico, da informação como dar a forma ideal (eidos) ou o sentido substancial (ousía) a algo - coisa material (hylé) -, seja do ponto de vista epistemológico, da informação como a matéria subjetiva informante sendo objetivada na matéria informada do mundo e seus suportes materiais (MENEZES, 2017; CAPURRO, 2014). Essa conexão conceitual encontra um elo histórico e institucional na proposição da Ciência da Informação como um campo oriundo da Documentação, conforme defendido por Boyd Rayward (1997).
A “explosão informacional” oriunda do “caos documentário” acontece no contexto do avanço científico demandado pelo imperialismo e suas guerras coloniais do final do século XIX e início do século XX (SCHELLENBERG, 2006; SOLLA PRICE, 1976; BRADFORD, 1961). Com o capitalismo industrial exigindo cada vez mais insumos e matéria-prima para a transformação em bens de consumo, as expansões coloniais são um passo inicial para as duas grandes guerras do século XX, a posterior Guerra Fria e, por conseguinte, as guerras anticoloniais de independência, convertidas ou pervertidas, em muitos casos, em regimes autoritários de governo promovidos por guerras (des)informacionais, como o caso brasileiro.
É neste contexto imperialista dos colonialismos ocidentais que a Ciência da Informação nasce como um campo tecno-burocrático, estrategicamente configurado pelas relações bélicas (BUSH, 1945; WIENER, 1968; HEIDEGGER, 1973; DAY, 1999, 2001), cujas finalidades instrumentais seriam capturar as propriedades, os comportamentos, os fluxos e os meios de circulação informacional para racionalizar e otimizar os seus usos (BORKO, 1968). Em outras palavras, recuperar a informação científica contida na massa documentária produzida pela guerra para otimizar as decisões dos operadores do poder6. Até as décadas de 1960 e 1970, o horizonte bélico das virtudes instrumentais e estratégicas ocupou os debates da informação científica (BOURDIEU, 2019, 2004) - objeto por excelência do controverso nascimento da Ciência da Informação (MOSTAFA, 1985). O final dos anos 1970 e a década de 1980 se caracterizaram como os anos do advento do neoliberalismo e da sociedade informacional (MACHLUP, 1962; PORAT, 1977), uma continuação da guerra por outros meios (FOUCAULT, 2005; STENGERS, 2015).
Neste intercurso histórico entre os séculos XIX, XX e, agora, XXI, o Ocidente esteve permeado por retrações e avanços coloniais, destituições oficiais e sobrevivências estruturais das colonialidades nos regimes imperiais do capital. Neste contexto temporal, e não alheio a ele, surgem e são institucionalizados os campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação no Ocidente. Atravessados pelas dinâmicas sociais deste mundo, os objetos destes campos configuraram, desde o nascimento da escrita alfabética, a organização e a lógica estrutural destas sociedades (DERRIDA, 2013; GOODY, 2019). Conformado pelo Ocidente como um artefato onto-teológico de saber absoluto (DERRIDA, 2004; CURTIUS, 2013), o livro, objeto bibliotecário por excelência, desempenhou o papel de domesticador das mentes selvagens (GOODY, 2012) e catalisou em seu espaço de memória, a história eurocêntrica como a história da verdadeira humanidade. Partindo desta ideia, Paul Otlet fala do documento como um potencial livro absoluto: “precisamos da ‘suma das sumas’ (summa summarum), ‘o livro universal’.” (OTLET, 2018, p. 669)
Escrivão dos espaços sociais e seus territórios (DAY, 1997), com a Modernidade, o documento torna-se a escrita do Estado (WEBER, 1979, p. 231-233). Deste imaginário, preservando as categorias epistemológicas da Modernidade ocidental e demarcando uma “diferença documentária” colonial e desencantada entre a natureza e a cultura, Suzanne Briet em “O que é a Documentação?” (2016) afirmava que o documento somente poderia ser fabricado por uma técnica cultural7 (2016, p. 5). Entes da natureza (seres ônticos) como o antílope (animal) e a estrela (mineral) não poderiam ser alçados à condição de documentos pois culturalmente não possuem a depuração técnica da alma humana8, ou, do homo documentator (ser ontológico) (BRIET, 2016, p. 13). A “diferença documentária” brietiana acaba por reproduzir a “diferença ontológica” ocidental e o homo documentator é narcisisticamente como o anthropos de Aristóteles (2002) ou o dasein de Heidegger (2011): um ser em vista de si mesmo.
Em termos contemporâneos, chamo a atenção especialmente para o que Heidegger (2011) chamou na sua ontologia fundamental de “diferença ontológica”. A “diferença ontológica” está fundamentada na diferença entre humanos (ser) e não-humanos (entes) e esta distinção encontra-se desdobrada na seguinte tríade de teses: i) o ente-humano é o ser capaz de compreensão e formação de mundo, ii) dos entes não-humanos, os animais e as plantas são pobres de mundo e iii) os entes inanimados são sem mundo. Logo, o mundo é uma designação do ser-aí humano (dasein) no cerne da sua essência existencial de sentido (ek-sistente). O mundo é um isolamento metafísico exclusivo do humano e o dasein “ente que nós mesmos somos”, dirá Heidegger, é essencialmente “em vista de si mesmo” (um seiner selbst willen). Neste gesto de exclusão do mundo das diferentes presenças e dos seres diferentemente humanos, encontra-se o homo documentator e a diferença documentária, direta e indiretamente, fabricadores dos sem-documentos - aqueles que não são humanos como “nós” (DERRIDA, 2004).
Neste mundo moderno maculado pelas relações epistemológicas coloniais entre sujeitos e objetos (S-O), Rafael Capurro (1992) identificou dois modelos interpretativos da informação: 1) um de tradição objetivista e fisicalista, que lia a informação como algo objetivo na realidade externa, a partir de três versões: 1.1) platônica9, 1.2) da representação10, 1.3) da comunicação autômata (paradigma fonte-canal-receptor11) e, 2) um de tradição subjetivista, que lia a informação como uma entidade extrafísica que só existe em espaços cognitivos, cujo efeito era a mudança das estruturas de conhecimento através de acréscimos informacionais subjetivos, revelados por Bernd Frohmann (1992) como incrementos induzidos pelas necessidades de consumo do mercado neoliberal nascente nos anos 1980. Tanto a tradição física quanto a cognitiva estavam associadas ao mundo febril das guerras dos séculos XIX e XX, trazendo consigo o ímpeto colonial desses empreendimentos hostis ao outro - visto, quase sempre, como um inimigo. Entre sistemas e usuários (ARAÚJO, 2009; WERSIG; WINDEL, 1985), indivíduos e sociedade (MOSTAFA, 1985; EGAN; SHERA, 1952; SHERA, 1972, 1970), funções e comportamentos (ARAÚJO, 2013; MOSTAFA; LIMA; MURGUIA MARANON, 1992), regimes patrimonialistas de custódia e de acesso pós-custodial (SILVA, 2006), eruditismos humanistas e tecnicismos modernos (FONSECA, 2007; CASTRO, 2000), a demarcação epistemológica dos campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação pendulou sob o horizonte objetivante que se estende entre os sujeitos e os objetos, relação que, para os povos logocêntricos do Ocidente, em termos de teoria do conhecimento, estabelece a condição comum do conhecer. Para o povo universal, a forma geral do Outro é a coisa: conhecer é dessubjetivar (VIVEIROS DE CASTRO, 2017, p. 358). Os sujeitos agem coletivamente, de modo intersubjetivo, para dessubjetivar o mundo e representá-lo de forma reificada, ou, re-apresentá-lo como um ente objetivamente significativo e válido segundo as condições gerais do enunciado legítimo (POPPER, 1974). Em outras palavras, para as redes coloniais do Ocidente, conhecer é desencantar-se do mundo (WEBER, 1979).
3 BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: RELAÇÕES COLONIAIS DE DESENCANTAMENTO
A representação é um operador ontológico informacional de colonização. [...] Sentença por excelência da ontologia informacional, dar a forma algo é uma das faces políticas do projeto metafísico e colonial do Ocidente. A ontologia fundamental inaugura o pensamento informacional e funda a representação. Dar a forma a algo é uma formulação primaz da filosofia da representação - da submissão da diferença à identidade. Vinícios Souza de Menezes (2021, p. 6-7).
Transpassada para a Documentação e para a Ciência da Informação, a tradição idealista de serviço da Biblioteconomia, nascida com as revoluções liberais e os avanços democráticos da esfera pública (BERTRAM; OLSON, 1996), foi sufocada pelos interesses privados do dinheiro (capitalismo) e do poder (nações e estados). Em Librarianship: the Erosion of a Woman’s Profession, Roma Harris (1992) argumenta que a comercialização da informação, exacerbada pela tecnologia da informação, se choca com os valores da tradição de serviço da Biblioteconomia que considera a informação um bem público, e não uma mercadoria. Harris (1992) defende a ética profissional biblioteconômica, de origens femininas, baseada no uso e contra os abusos corrosivos da cultura empresarial da infotech, fundadora política de um “classismo da informação”.
No contexto moderno da colonialidade dos territórios, o ato biblioteconômico de servir deixou de ser uma ação solidária destinada ao outro e passou a referir-se ao modo substantivo e servil das opressões coloniais. Afastado da condição hospitaleira de estar a serviço do público para o engrandecimento das relações libertárias da democracia, desde um ponto de vista colonial, o servidor tornou-se servo das imposições objetivas da ciência tecnocrática a serviço do dinheiro e do poder, travestidos nas paisagens das guerras do nosso tempo. Por exemplo, no campo da Biblioteconomia, Sheila Bertram e Hope Olson (1996) argumentam que a cultura de serviço de tradição “feminista” foi sendo sufocada pela cultura infotech masculina, baseada na ciência, na tecnologia e na transformação neoliberal da informação em mercadoria12. Esta transição foi fomentada e fundamentada no campo da Biblioteconomia a partir de obras como i) An introduction to Library Science, de Lee Pierce Butler (1933), que rejeitava o papel de responsabilidade social da Biblioteconomia e defendia a ciência no lugar do serviço, ii) The Foundations of Education for Librarianship, de Jesse Shera (1972), que concordava com Butler e pedia uma profissão mais racional, objetiva e científica, em acordo com a nova sociedade voltada para a ciência, iii) Into the Future: The Foundations of Library and Information Services in the Post-Industrial Era, de Michael Harris e Stan Hannah (1993), que atualizam com conotações moralistas neoliberais essa tradição e vinculam a abordagem científica à era da informação e sua visão empresarial da informação como uma mercadoria em oposição a um bem público.
No campo da Documentação, a partir do mesmo contexto do progresso objetivante da “evolução dos conhecimentos humanos” promovidos pela ciência, Suzanne Briet (2016, p. 5) recorre à relação fundamental da colonialidade entre senhores e servos para dizer que “a Documentação é sua serva [da ciência], despojada como uma camponesa ou vestida suntuosamente segundo o desejo de seus senhores, os pesquisadores [cientistas].” Esta formulação colonial de Briet ressoava o lema de Otlet (2018, p. 615), que dizia ser o documentalista “o auxiliar da ciência, o servus servorum scientiae. O ‘servo dos servos da ciência’ [Serviteur des Serviteurs de la Science]”, pensamento corroborado também pela obra “Documentação” de Samuel Bradford (1961, p. 180-195).
Por meio dessa imagem colonial de servidão, torna-se perceptível a estrutura social configuradora do território do Homo Academicus, descrita anos depois por Pierre Bourdieu (2019), e que foi reivindicada pelos cientistas da informação na primavera de 1962, durante a reunião do Georgia Institute of Technology, considerada por parte da literatura como um evento fundacional para o campo da Ciência da Informação (GARCIA, 2002). Nesta reunião de 1962, Jesse Shera (1980, p. 96), que esteve presente, descreve a “nova” configuração do campo da Ciência da Informação a partir de uma divisão social do trabalho intelectual organizada em duas categorias: técnicos e pesquisadores. Seriam os técnicos: a) bibliotecários, b) bibliotecários especializados, c) bibliotecários científicos e d) analistas de publicações técnicas. Já os pesquisadores seriam exclusivamente os cientistas da informação ou especialistas em Ciência da Informação. A Documentação (ciência) e os documentalistas (profissão) foram terminologicamente excluídos pela comunidade presente, seguindo o entendimento norte-americano de que i) a Documentação nos Estados Unidos é um ramo da microfotografia (SHERA, 1980, p. 92), ii) as atividades da Documentação estão implícitas no escopo das tarefas da Biblioteconomia Especializada (Special Libraries) e, iii) a Documentação é um campo francófono, uma estrangeira em terras de novos imperialismos. Ou seja, a “nova” configuração do que se convencionou chamar posteriormente de Library and Information Science13 não destruiu, nem alterou a estrutura colonial de hierarquização social do trabalho intelectual do campo científico, ao contrário, o cientista da informação pleiteou para si o lugar do senhor - nas palavras de Briet, o pesquisador -, enquanto aos bibliotecários foi legada a ambiência servil do técnico, requerida outrora pelos documentalistas.
Perante as linguagens sintáticas e semânticas das tradições físicas e cognitivas, Miguel Rendón Rojas (2005, 1996) assinala para um contraponto epistêmico: o enfoque pragmático e social das relações biblioteconômicas e informacionais. Rafael Capurro (1992, 2003) denominou, em um primeiro momento, de paradigma hermenêutico-retórico da informação e, posteriormente, de paradigma social da informação, esta terceira tradição interpretativa da informação. A gramática dos usos da perspectiva social da informação está associada à contingência das ações informacionais e suas condições materiais de produção. Criticamente direcionada às dinâmicas que estruturam as conjunturas informacionais, a interpretação social dos campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação surgiu sob diferentes denominações.
Na Biblioteconomia, um dos primeiros esforços críticos de inclusão das dinâmicas sociais no cenário das relações bibliotecárias foi a epistemologia social de Margareth Egan e Jesse Shera (1952), seguido pelo marco dos direitos civis da Biblioteconomia Negra (Black Librarianship) (JOSEY; SCHOCKLEY, 1977) em sua luta anticolonial contra segmentação racial e os discursos supremacistas (white dominant narratives) (LEUNG; LÓPEZ-MCKNIGHT, 2021; WIEGAND; WIEGAND, 2018), da Biblioteconomia Indígena (Indigenous Librarianship), que compartilha da mesma luta, além do combate contra os apagamentos culturais presentes nos processos e sistemas de organização do conhecimento que classificam o conhecimento indígena de modo inadequado, homogêneo e como relíquias de um passado selvagem superado (GOSART, 2021), e da Biblioteconomia Crítica (Critical Librarianship) atualmente desdobrada nas questões transgressoras da Biblioteconomia Social14 e suas mediações direcionadas à radicalização democrática do acesso ao conhecimento (SPUDEIT; MORAES, 2008).
Na Documentação, a visão social emergiu no final dos anos 1980 e início dos 1990 com o movimento da Neodocumentação ou da Redocumentalização (LUND, 2009) que dirigia uma crítica voraz às interpretações físicas (fisicalistas) e cognitivas (mentalistas) da informação (FROHMANN, 1990, 1992) e propunha uma Filosofia da Informação Outra (FROHMANN, 2004), baseada na cultura material e na materialidade documental que nomeia a informação enquanto uma “coisa significativa” (FROHMANN, 2008; BUCKLAND, 1991, 1997).
Na Ciência da Informação, segundo Capurro (1992), a perspectiva social surge com as publicações de Norman Roberts (1982) - A search for information man - e de Wersig e Windel (1985) - Information science needs a theory of ‘information actions’ -, textos inaugurais da virada pragmática da informação nos anos 1980. Desde um ponto de vista pragmático compreensivo e hermenêutico existencial, Capurro (1992) afirma que a informação significa temática e situacionalmente compartilhar um mundo comum. Através de um contexto de uso comum, informar é uma seleção de sentido que se dá por meio das mensagens compartilhadas por uma forma de vida comunitária (CAPURRO, 2003; GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 1999). Deste modo, a informação é determinada pela trama social que a atravessa. Hjørland (2000) argumenta que entre os técnicos (bibliotecários e documentalistas) e os pesquisadores (cientistas da informação) assinalados por Shera (1980), com a perspectiva social, surge nos anos 1980 e 1990 a categoria híbrida dos “culturalistas”. Dispersos entre os diferentes movimentos filosóficos de tradição social, os culturalistas trouxeram para os campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, ao menos 8 tradições de pensamento: i) construtivismo social, ii) epistemologia feminista, iii) hermenêutica e fenomenologia, iv) historicismo, v) filosofia marxista da ciência de orientação soviética, vi) pós-modernismo e pós-estruturalismo, vii) pragmatismo e viii) realismo crítico (HJØRLAND, 2000, p. 525). Grande parte desses movimentos, especialmente os de origem ocidental que possuem mais influência nos campos da BDCI, tem um modo socialmente específico de dar sentido e informar seus próprios mundos.
Como argumentado por Maria Nélida González de Gómez (2002, 1999), a informação é um operador de relação e sob esta insígnia da “relação” se desnudam tanto os vínculos impositivos das sociedades ocidentais dos campos da BDCI, quanto, por exemplo, os elementos ameríndios para uma crítica decolonial da informação. Desde um ponto de vista social da informação de cunho ocidental, relacionar-se é pressupor um mundo socialmente comum. Preservando a estrutura ontológica dos povos gregos, informar é uma dimensão existencial circunscrita na lógica do sentido15, onde para ter sentido “deve antes de mais nada ser um on, isto é, existir” (CASSIN, 1993, p. 32). Existir implica tanto ter, objetivamente presença física no mundo, quanto ser, neste mundo, subjetivamente grego ou ocidental - em outros termos, valorativa e politicamente, “ser algo”. Tudo aquilo que não possui uma relação lógica de identidade entre as palavras e as coisas, ou, que não é grego/ocidental, torna-se falso (sem sentido) e selvagem (sem discurso). Excluindo aquilo que o torna possível16, o sentido é a primeira entidade que não pode tolerar a contradição (CASSIN, 2005, p. 96) e o não-contraditório é a essência formal do homem (anthropos) - patriarca (homem livre). O sentido é feito de tal modo que algo ou tem sentido ou não é, ou seja, “é da natureza do sentido o fato de ser totalitário, quer dizer, reduzir a si mesmo tudo o que não é ele” (CASSIN, 2005, p. 84-85). Possuir sentidos múltiplos, significar uma infinidade de coisas e falar sem pretensões de significar algo único são predicados contra os quais a máquina antropológica ocidental opera suas exclusões e informa ao mundo tudo aquilo que é informe (sem forma): a multiplicidade de significados e os seres diferentemente humanos (não-homens/não-patriarcas).
Portanto, a relação social que informa o Ocidente está baseada em uma origem que os engloba - o mundo ocidental - e em um ideal de semelhança e fraternidade cuja identidade os identifica - o povo universal. Neste mundo, os semelhantes ocupam um mesmo ponto de vista acerca de um mundo exterior comum, o que os torna “primos paralelos, irmãos classificatórios: filhos de Adão, da Igreja, da Nação, do Genoma, ou de qualquer outra figura de transcendência”, isto é, “todos os homens são irmãos em alguma medida, uma vez que a fraternidade é em si a forma geral da relação.” (VIVEIROS DE CASTRO, 2018, p. 260-261) Desta maneira, desde o ponto de vista social da informação, relacionar é assimilar, unificar e identificar, seja através do i) paradigma da produção da filosofia marxista da ciência de orientação soviética, ou, ii) da versão crítico-reconstrutiva do paradigma historicista da compreensão consensual, iii) do paradigma hermenêutico-retórico da informação e da sua partilha fenomenológica de um mundo em comum (CAPURRO, 1992), iv) do realismo informacional e suas relações de produção da verdade a partir da adequação e da correspondência com a realidade (RENDÓN ROJAS, 1994), v) da modelização da realidade como uma entidade informacional ontocentrada em modelos objectuais (FLORIDI, 2011), ou, vi) da concessão e atribuição da autoridade epistêmica à constructos cognitivos que fazem do social uma medida da semelhança. Identificadas por Hjørland (2000), essas tradições filosóficas do social guardam, em suas diferenças, uma perspectiva da relação social baseada no princípio objetivo e formal de uma irmandade identitária, onde o diferente é um outro de si mesmo.
4 CONCLUSÃO: REENCANTAR O MUNDO
Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui. Ailton Krenak (2022, p. 11).
Diferente da colonialidade do ato de impor-se ao primeiro outro com que se depara e da necessidade transparente do eu transcendental reduzir a si mesmo tudo aquilo que não é ele, as redes decoloniais de encantamento interessam-se por tudo aquilo que não é si mesmo: “só me interessa o que não é meu”, “lei do antropófago” (ANDRADE, 2011, p. 67). A abertura à diferença marca uma ética decolonial do encontro com as outras presenças que habitam mundos diferentemente humanos e extra-humanos e estabelecem com eles relações sociocósmicas interdependentes. Reconhecer os pontos de vista das múltiplas existências que compõem o mundo e partilhar destas outras palavras, gestos e escritas, é a tarefa que nos falta. Um outro mundo já existe, resta à Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação encantarem-se para adiar o seu fim.
Ao longo do texto procuramos apresentar elementos coloniais que tecem as redes de desencantamento presentes nos campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, com o propósito seminal de responder à interrogação da aurora do texto: quais elementos estruturais da colonialidade auxiliaram na formação do pensamento biblioteconômico, documentalista e informacional da modernidade ao contemporâneo? A hipótese defendida assinala que as relações coloniais de desencantamento operadas pelos processos de depuração epistêmica do conhecimento objetivo da ciência ocidental legaram aos campos da Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação modos de conhecer deficitários em alteridade. O método desta construção está baseado em uma leitura filosófica da BDCI a partir do entrelaçamento da colonialidade do poder na assinatura das coisas (AGAMBEN, 2010), da desconstrução narrativa da colonialidade do saber em seus epistemicídios bibliográficos, documentários e informacionais (DERRIDA, 2013) e da repressão dos planos de agenciamentos dos seres através de uma territorialização geofilosófica da categoria do humano pelo ato de dar a forma (“informar”) ocidental - humanos, possuidores de mundo, somos apenas “nós”, o povo universal (DELEUZE; GUATTARI, 1992). Outras colonialidades impregnadas nas estruturas sociais precisam ser estudadas com maior profundidade através do ponto de vista de BDCI, por exemplo, a colonialidade da natureza (ESCOBAR, 2005; LANDER, 2002; ALIMONDA, 2011), a colonialidade de gênero (PALERMO, 2006; CURIEL, 2007; LUGONES, 2008) e a biocolonialidade (CAJIGAS-ROTUNDO, 2007; BELTRÁN-BARRERA, 2019).
A construção argumentativa foi montada a partir da interpretação dos elementos das colonialidades do ser (MIGNOLO, 1995; MALDONADO-TORRES, 2007), do saber (LANDER, 2000) e do poder (QUIJANO, 1991, 2000, 2007) como índices cartográficos dos territórios de conhecimento da BDCI: a formação colonialista e escravocrata da Biblioteca de Alexandria, a linguagem privada do claustro, a conotação patrimonialista e patriarcal da biblioteca universal moderna e suas coleções coloniais, a colonialidade metafísica por detrás do projeto internacionalista e pacifista da Documentação otletiana, a presença das relações entre senhores e servos na estrutura de poder da organização social do trabalho epistêmico-intelectual da Documentação e Ciência da Informação, a perspectiva social dos estudos informacionais como um componente redutor do outro ao espectro de si e, por fim, a metafísica colonial que através do ato de dar a forma a algo funda a ontologia informacional como uma operadora da máquina antropológica de exclusão do outro no Ocidente.
Como alternativa reflexiva, assinalamos para as veredas propositivas do reencantamento do mundo presentes no movimento negro da Biblioteconomia Negra (Black Librarianship) e no movimento indigenista da Biblioteconomia Indígena (Indigenous Librarianship). Desde um ponto de vista regional de Abya Yala, o pensamento amefricano (GONZALEZ, 2018) germina uma perspectiva encantada e transformacional da produção bibliográfica, documentária e do ato de informar. Uma contraconduta encantada pela potencialização da vida em detrimento dos empreendimentos de morte do Ocidente. Sob este sentido, uma estória anarqueológica da BDCI consiste em recusar previamente a obrigação e a força de coação que os instrumentos de representação, sob a insígnia da forma, imprimem sobre os vivos. A anarqueologia da informação visa desenraizar radicalmente a forma da informação, o branco dos livros e a invisibilidade dos documentos. Trata-se de um ato de transgressão ao poder ontológico e colonial de dar a forma a algo e de materializar em formatos bibliográficos e documentários os sentidos da forma ocidental hegemônica e patriarcal. A anarqueologia é um “ato de desobediência como ponto de partida e condição de análise” (AVELINO, 2011, p. 24), onde a desobediência epistêmica é uma opção decolonial (MIGNOLO, 2008) e a diferença informacional - o informe (MENEZES, 2018) -, um modo humano alterante de colocar-se no mundo perante a radicalidade dos outros seres. O informe (informis) é uma força de resistência ao pensamento representacional e colonial da BDCI, uma estória anarqueológica e encantada do irrepresentável nas redes coloniais de desencantamento. Uma afirmação da vida, em seu encanto.
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Notas
Autor notes
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