Informe
Primeira década do Ciespal: fundação e indicações de investigação
First decade of CIESPAL: foundation and research directions
Primera década de Ciespal: fundación y orientaciones de investigación
Primeira década do Ciespal: fundação e indicações de investigação
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, núm. 135, pp. 339-360, 2017
Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina
Recepción: 03 Octubre 2016
Aprobación: 16 Diciembre 2016
Resumen: Este artículo, basado en una investigación documental realizada en los archivos del Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina (Ciespal), busca describir su proceso de fundación e identificar cuáles eran las orientaciones de investigación en su primera década de trabajo (1960-1969). La investigación establece que en sus inicios Ciespal instaló como marco de su propia narrativa epistemológica los sistemas de pensamiento cien- tíficos foráneos, producto, principalmente, de la presencia de profesores invi- tados (especialmente de Estados Unidos y Europa). A su vez, Ciespal difundió estos conocimientos en la región través de cursos y de publicaciones.
Palabras clave: historia, comunicación, mass communication research, América Latina.
Resumo: Este artigo, tendo por base pesquisa documental realizada no acervo do Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal), busca descrever seu processo de fundação e identificar quais eram as indicações de investigação em sua primeira década de trabalho (1960-1969). A pesquisa apontou que o Ciespal instalou, como marco de sua narrativa epis- temológica, sistemas de pensamento científico procedentes de fora da região, produto, principalmente, da presença de professores convidados (em especial dos Estados Unidos e da Europa). O Ciespal, por sua vez, difundiu esses conheci- mentos na América Latina por meio de cursos e publicações.
Palavras-chave: história, comunicação, mass communication research, América Latina.
Abstract: This article, based in documental research made in the International Center of Superior Communication Studies for Latin America (Ciespal) library, describes its foundation process, and identifies which were the investigation narratives in its first decade of work (1960-1969). The research focused on the presence of foreign scientific thought, that landed in Latin America with invited professors (especially from the United States and Europe), and it was spread in the region by courses and publications organized by Ciespal itself.
Keywords: history, communication, mass communication research, Latin America.
1. Aspectos introdutórios
Em 1965, um seminário ocorrido no Rio de Janeiro teve como objetivo debater1 as contribuições dos investigadores norte-americanos para o estudo das Ciências Sociais na América Latina, e contou com a participação de investigadores do Brasil, México, Chile, Argentina e dos Estados Unidos. As con- clusões desse encontro foram editadas por Charles Wagley e publicadas no livro As Ciências Sociais na América Latina. Diegues Júnior (1965, p. 12), por exemplo, afirmou em sua participação na obra coletiva que os estadunidenses enxergavam essa região como um grande laboratório, com rápidos processos de mudança e como um bom espaço para investigações de comunidades e de populações africanas, sendo esse um dos motivos para a vinda de vários antro- pólogos para o Brasil desde os anos 1930 (Massi, 1989).
A presença de pesquisadores dos Estados Unidos no Brasil entretanto era bastante comum desde os anos de 1930. Exemplo disso é o trabalho de Wagley, que conviveu quinze meses com os Tapirapés entre 1939-1940 e, seguiu realizando novas expedições nos anos posteriores de 1940, 1950 e 1960, além de ter produzido estudos sobre comunidades camponesas, as relações raciais no Brasil, a Amazônia etc. (Massi, 1989, p. 442). Também podemos citar Ruth Landes, que veio ao Brasil em 1938 para realizar pesquisa antropológica sobre a vida dos negros para seu PhD em Antropologia na Universidade de Columbia. Orientada por Edison Carneiro em sua estadia no país, foi seguida de perto pela polícia brasileira sob suspeita de ser comunista2, e sua pesquisa resultou no livro A cidade das mulheres. Na década de 1950, por exemplo, os norte-americanos vieram ao Brasil por meio do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e da Unesco, com Charles Wagley, Carl Withers, Oto Linemberg e Bertam Hutchinson (sociólogo britânico) vinculandose aos planejamentos educacionais brasileiros (Massi, 1989, p. 442). No final dos anos 1950 e início dos 1960, outros norte-americanos também chegaram, agora por meio do Summer Institute of Linguistics: “O Instituto Linguístico de Verão, que teve uma ampla atuação na América Latina a partir dos anos 30, passa a trabalhar oficialmente no Brasil em 1959, através de um acordo firmado com o Museu Nacional” (Massi, 1989, p. 444).
Florestan Fernandes (1965), também no livro As Ciências Sociais na América Latina, observando as ações das décadas precedentes, fez as críticas mais fortes, dizendo que o interesse dos “americanistas” em realizar pesquisas na América Latina situavam-se fora dela; que poucos eram os que se preocupavam com a região e que desenvolviam as Ciências Sociais para esse espaço social; e que, apesar de serem bons cientistas, “a maioria dos estudiosos que nos procuram revela, sistematicamente, ignorância completa dos meios de comunicação, história econômica, cultural e social das áreas escolhidas e, o que é de pasmar, da bibliografia local, nacional ou regional pertinente aos ‘problemas’ das investigações” (Fernandes, 1965, p. 130).
Em As Ciências Sociais na América Latina, as áreas de investigação debatidas foram Economia, História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Ciência Política e Direito. Florestan Fernandes (1965), lembrando de profissionais que “confluem com o ponto de vista sociológico”, citou geógrafo, historiador, psicólogo social, economista, antropólogo, cientista político e jurista. Nada que recordasse a Comunicação Social (e suas subáreas) foi mencionado. Se as Ciências Sociais ainda estavam saindo do amadorismo nos anos de 1960 na América Latina, conforme Diégues Júnior (1965), não é motivo de surpresa que a Comunicação não fosse lembrada, pois os Centros de Pesquisa latino-americanos com incidência na região surgem no final dos anos 1950, como o Ciespal (Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina) e o Instituto Venezuelano de Investigações de Imprensa, ambos de 1959; o Ceren (Centro de Estudios de la Realidad Nacional), em 1970; o Ininco (Instituto de Investigaciones de la Comunicación) em 1973 (Berger, 2001, p. 246).
No Brasil, por exemplo, a área da Comunicação, nos anos 1960, também era incipiente. Segundo Hohlfeldt e Valles (2008), as primeiras iniciativas de ensino nesse campo se deram em 1935 com a criação da Cátedra de Jornalismo –integrada à Universidade do Distrito Federal–, mas que fechou após pouco tempo. Depois, em 1942 e 1943, foram iniciados cursos de graduação no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente; a inauguração da Escola de Jornalismo Cásper Líbero ocorreu em 1947; o Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil foi aberto em 1948; a primeira escola de propaganda (Escola Superior de Propaganda e Marketing –ESPM) iniciou-se em 1951; a primeira Faculdade de Comunicação de Massa é de 1963; o primeiro centro de pesquisa em Comunicação, o Instituto de Ciências da Informação (Icinform), iniciou suas atividades em 1963; o primeiro doutor em Comunicação por universidade brasileira (Luiz Beltrão) doutorado em 1967; e a ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo)3, considerada a “primeira instituição universitária a contratar um corpo docente permanente, possibilitando sua dedicação integral ao ensino e à pesquisa” (Marques de Melo, 2003, p. 161), foi criada em 1966 e formou seus primeiros doutores entre 1972 e1973.
Heloísa Pontes (1989) fez um levantamento em importantes coleções de assuntos brasileiros editadas no país (nas décadas de 1930, 1940 e 1950) se orientando por várias questões, como “quais os assuntos ou gêneros mais editados?”, “quais os autores mais publicados?”, “sobre o que escreviam?” e outras. Conforme a autora, a Brasiliana, por exemplo, editou 307 títulos e 211 autores entre 1931 e 1960 (Pontes, 1989). No entanto, não encontramos menção direta à Comunicação Social. A Documentos Brasileiros, entre seus gêneros mais editados, também não contou com Comunicação. No levantamento realizado por Pontes (1989), foram encontradas 414 publicações quando somamos as da Brasiliana e as da Documentos brasi- leiros, sendo que não há o gênero Comunicação entre as categorias intituladas pela autora. José Marques de Melo (1984, citado por Strelow, 2011) buscou as publica- ções dessa área entre os anos de 1880 e 1949, e identificou apenas 16 textos, sendo que, desses, 13 eram sobre Jornalismo.
Marques de Melo (1968), em palestra realizada em 9 de agosto de 1967, durante as comemorações do vigésimo aniversário da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, recuperou alguns importantes nomes para as pesquisas em Comunicação na América Latina nos anos de 1960, com destaque para vários norte-americanos, especialmente na fase denominada de “quantitativa”: Harold Lasswell, Carl Hovland, Wilbur Schramm, Kurt Lewin e Paul Lazarsfeld (esses dois últimos euro- peus, mas que desenvolveram seus trabalhos nos EUA).
Esses autores tinham ligação, direta ou indireta, com o Ciespal, um dos Centros pioneiros em estudos da Comunicação na América Latina. Dessa forma, percebemos que seria relevante entendermos a formação desse Centro e suas indicações de investigação, pois ele se desenhava como uma importante fonte de narrativas científicas para a América Latina. Para isso, optamos por realizar uma pesquisa documental nos arquivos4 do Ciespal buscando relatórios, apostilas, panfletos, cartas, processos, legislações, atas, arquivos, pareceres, assim como artigos, livros e teses não encontrados em bibliotecas (Gil, 2002, p. 88), que nos possibilitassem entender o processo da criação do Centro, assim como de suas atividades e de seu posicionamento científico.
Há vários trabalhos que tratam das ações (diretas e indiretas) do Ciespal, e de suas consequências, como Marques de Melo (1968, 1976, 1984, 2007, 2009), Halliday ([1967] 2013), León Duarte (2012), Meditsch (1999, 2000, 2012 [2001, 2004, 2006, 2009, 2010]), Medina (2000), Berger (2001), Beltrán ([S/D]a, [S/D]b, [S/D]c, 1973, 2000), Mattelart (1976, 2011a, 2011b) e o número 67 da Revista Chasqui (1999). Grande parte desses textos adota um posicionamento crítico, em postura comum na academia desde meados do século XX (Romancini, 2007). Como diz Romancini, “essa história tradicional, objetivista ou positivista, sofrerá abalos somente no século XX. Os pontos mais importantes da crítica a este paradigma dizem respeito à tentativa de superar o nível da descrição dos acontecimentos para alcançar uma análise das estruturas, ou seja, a compreensão dos mecanismos que presidem as mudanças históricas” (2007, p. 26). Tal posicionamento surgiu em resposta à noção mais antiga de pesquisas baseadas em fontes oficiais (Romancini, 2007). Aqui, vale o adendo de que autores positivistas, como Durkheim (2008; 2002) e Malinowski (1970) criticavam os estudos históricos que aceitavam a subjetividade do pesquisa- dor e o pensamento especulativo. Malinowski (1970) por exemplo, afirmou que nas pesquisas históricas a especulação vagava livremente, e Durkheim (2008) assinalou que o uso da especulação e da dialética traziam apenas opiniões provisórias e hipotéticas à investigação.
Em grande parte dos trabalhos sobre o Ciespal citados, o posicionamento crítico é constante; e sentimos falta da voz do Centro sobre sua própria história5. Dessa forma, como tínhamos muitos documentos em mãos, muitos dos quais não citados e não facilmente disponíveis (grande parte do material foi encontrada arquivada em caixas e junto à papeis que tratavam dos mais diversos temas; e em livros que estavam em processo de digitalização, mas sem previsão de serem disponibilizados on-line), optamos por escrever, no tópico “Fundação”, um texto mostrando a história da fundação tendo como base as vozes dos autores que participaram desse processo. E para o tópico seguinte, sobre as indicações de investigação do Ciespal, encontramos informações importantes em texto de Gonzalo Córdova (1967), secretário Geral do Ciespal nos anos 1960, e em publicações do próprio Centro (traduções e livros organizados), como: Proceso y efectos de la comunicación colectiva (1964) e La ciencia de la comunicación humana (1965a), organizados por Wilbur Schramm; La comunicación colectiva y el desarrollo cultural (1972), organizado pelo Ciespal; Introducción a la investigación de la comunicación colectiva (1967), organizado por Ralph O. Nafziger e David M. White; De la sociología de la comunicación colectiva a la sociología del desarrollo cultural (1968), de Jofre Dumazedier.
Nossa opção pela escrita desse texto foi de ter em documentos oficiais, em pessoas vinculadas à direção do Centro nos anos 1960, como Córdova, e em suas publicações/traduções, as vozes principais, mesmo sabendo que poderemos ser lidos como “positivistas” e “acríticos”.
2. Fundação
A United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco), tendo por base os questionamentos sobre a qualificação e a formação de jornalistas na primeira metade dos anos 1950, debateu o tema em reunião ocorrida em Paris em 1956 e acreditou que a solução seria “implantar centros regionais para formar jornalistas na África, na Ásia e na América Latina” (Marques de Melo, 2009, p. 17). Tal reunião ocorreu em abril de 1956 e logo depois, em 1957, foi criado um “Centro de Estudos Superiores de Jornalismo para a Europa, na cidade francesa de Estrasburgo” (Salgado, 1980). Esse Centro atuou com o objetivo de melhorar a formação na área da ciência da informação, porém havia um problema: ele estava limitado à Europa, à África6 e ao oriente próximo.
Com a notícia dessa reunião da Unesco, a Universidade Central do Equador (UCE), conforme Luis Verdesoto Salgado (1980), em depoimento enviado ao reitor Julio Enrique Paredes, considerou que seria importante para o Equador a criação de um Centro semelhante na América Latina. Dessa forma, na Costa Rica, na Segunda Conferencia de Comisiones Nacionales de la Unesco del Hemisferio Occidental, que ocorreu entre 30 de maio e 4 de junho de 1958,
[…] se aprueba una recomendación para que se cree en Quito un Centro regional. El texto de la recomendación fue preparado por la Escuela de Periodismo, cuyo Director era el señor José Alfredo Llerena. Desde la Escuela y desde el Decanato de la Facultad nos preocupamos porque la conferencia de Comisiones Nacionales de la Unesco conociera de esta iniciativa nacida en la Universidad Central. El señor doctor Francisco Salgado concurrió a la Conferencia a nombre de Ecuador y obtuvo la aprobación del Acuerdo. (Salgado, 1980)
Nesse encontro na Costa Rica em 1958, a Universidade Central do Equador se propôsjá disponibilizando professores, local, a construção de um edifício e contando com o apoio do governo equatoriano, que garantiu suporte financeiro (Orígenes, 1984, p. 85)– e teve recomendação aceita, a receber um Centro nos moldes do de Estrasburgo. De 29 de setembro a 3 de outubro desse mesmo ano, a Unesco realizou, na UCE, em Quito, o Seminário Internacional sobre Formación Profesional de Periodistas em América Latina, que contou com “especialistas em meios de comunicação social de diversos lugares da terra e se destaca a presença de Diretores das Escolas de Jornalismo da América Latina”, o qual foi considerado “fundamental e muito importante a criação de um Centro Latino-americano de Estudos Superiores de Jornalismo” (Salgado, 1980).
Dessa forma, o governo do Equador enviou uma delegação para a X Conferencia Geral da Unesco, em novembro de 1958, composta por José Vicente Trujillo, José Ricardo Martínez Cobo, Jorge Salvador Lara, Jorge Crespo Toral e Luis Jaramillo (Salgado, 1980). Luis Verdosoto Salgado, decano da Faculdade de Filosofia da UCE viajou com seus próprios recursos para se juntar ao grupo equatoriano para participar da reunião que definiria a criação desse centro de formação de jornalistas no Equador, porém, ao chegar em Paris, ocorreu uma situação curiosa, como ele mesmo conta:
La Conferencia General no aceptaba delegados de una Universidad sino de las de los Estados Miembros, toda vez que la Unesco, organismo de Naciones Unidas constituye una Asociación de Estados Miembros. Ante esta situación, la Universidad Central comunica la designación de su delegado por “conductor de la Cancillería Ecuatoriana”. La Unesco considera en esta forma al Doctor Verdesoto como Delegado Oficial del Ecuador y él se integra a la delegación ecuatoriana7. (Salgado, 1980)
Trujillo (1980), observando que na mesa diretora estavam os delegados das Filipinas e do Líbano como presidente e vice-presidente, respectivamente, conse- guiu que uma segunda vice-presidência fosse criada, na qual foi colocado Salgado, com o objetivo de que uma pessoa diretamente vinculada à Universidade Central “tivesse até certo ponto uma posição de vigilância nas decisões da mesa que, por ser em sua maioria de países asiáticos, poderiam nos ser prejudiciais” (1980, pp. 21-27). A reunião não foi das mais tranquilas, pois –como explica o relato (enviado em 20 de novembro de 1958) do presidente da delegação, José V. Trujillo, ao Ministro das Relações Exteriores do Equador, Carlos Tobar Zaldumbide– não havia con- senso entre os latino-americanos sobre o lugar onde o Centro deveria ser criado (a Venezuela, por exemplo, apresentou proposta com maiores fundos para ter o Centro), e tanto os europeus quanto os asiáticos queriam, para suas regiões, os fundos que deveriam ser destinados para o instituto latino-americano.
A presença de Salgado se fez muito importante para os objetivos do Equador nos momentos finais da reunião, pois, pelo horário, a sessão deveria ser poster- gada, o que criaria situações mais complicadas para a aprovação, pois esse era o último encontro do Comitê responsável pela criação do Centro. Então, Salgado, como vice-presidente, hizo notar que la enmienda ecuatoriana había sido acogida unánimemente, sin que haya presentado observaciones contrarias, lo cual conducía a la lógica conclusión de que el Comité adoptaba la enmienda por unanimidad y se resolvía la creación, en la Universidad Central de Quito, del Centro Latinoamericano para la Formación de Periodistas. (Trujillo, 1980, p. 25)
En la última sesión del Comité de Información, Comité resolutivo, sin cuya decisión la Conferencia General no habría aprobado el Proyecto, nos tocó vivir momentos real- mente dramáticos. La aprobación se realizó en el último minuto, cuando el Presidente López, delegado filipino, daba realmente por clausurada la sesión ante la fatiga de los traductores simultáneos que cesaban de hecho en su labor. En estas circunstancias, el Vicepresidente, doctor Verdesoto asumió la presidencia “casi tomándola por sí mismo” al constatar que los esfuerzos ecuatorianos quedaban en nada, y se logró la aprobación8. (Trujillo citado por Salgado, 1980)
E, então, se deu a aprovação para a criação do Ciespal, como atestam as resoluções desse encontro em Paris:
Los delegados de los Estados Miembros de América Latina se mostraron muy satisfechos de los resultados obtenidos en el seminario regional sobre la enseñanza del periodismo, que acaba de celebrarse, y de la decisión del Director General de prestar ayuda para la creación de un centro de enseñanza del periodismo en América Latina. El delegado del Ecuador, apoyado por otros delegados latinoamericanos, propuso que el centro tuviese su sede en la Universidad de Quito, y siguiera la orientación general del centro que con tanto éxito funciona en Estrasburgo. (Conferencia, 1959, p. 188)
Em 21 de janeiro de 1959, o Ministério da Educação Pública do Equador, em comunicação assinada pelo Subsecretário de Educação Gerardo Martínez, também informou a Carlos Tobar Zaldumbide, Ministro das Relações Exteriores do Equador, a aprovação para a abertura do “Centro Internacional de Periodismo para los Países Latinoamericanos”. E em abril de 1959, o Conselho Universitário, em discussões que aconteceram entre os dias 14 e 28 desse mesmo mês, elaborou a reso- lução de criação do Ciespal.
CONSIDERANDO: Que la, en su última Conferencia General realizada en la ciudad de París, resolvió auspiciar la creación del Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina adscrita a la Universidad Central del Ecuador; Que la Universidad asumió la responsabilidad de organizar y mantener este Centro, con la cooperación del Gobierno del Ecuador;
RESUELVE: Art. ÚNICO. Crear el Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina como un organismo autónomo el que funcionará de conformidad con las disposiciones y reglamentos que dicte el Consejo Universitario.
No dia 8 de outubro de 1959 o Ciespal foi, então, de fato constituído, contando com o convênio tripartido entre o Governo do Equador, a Universidade Central do Equador e a Unesco (Nuñez, 1980, p. 2), e teve sua pessoa jurídica reconhecida pelo presidente do Equador, Camilo Ponce Enríquez, em 11 de março de 1960.
CAMILO PONCE ENRÍQUEZ, PRESIDENTE CONSTITUCIONAL DE LA REPUBLICA CONSIDERANDO:
[…] Que dicha entidad, constituida el 9 de Octubre de 19599 ha dictado sus propios Estatutos siendo indispensable dotarle de personería jurídica propia para el cabal desenvolvimiento de sus importantes actividades; y,
A pedido del Ministro de Relaciones Exteriores,
DECRETA: Art. 1. Reconócese la personería jurídica propia del Centro Internacio- nal de Estudios Superiores de Periodismo para la América Latina, con domicilio en la ciudad de Quito.
Conforme a revista Síntesis de dezembro de 1960, o primeiro curso do Ciespal aconteceu em 10 de outubro desse ano, e contou com a presença do professor Raymond Nixon, então da Universidade de Minesota e Presidente da International Association for Media and Communication Research (IAMCR) (1959-1964) e com pessoas de vários países
Primer Curso del Centro de Estudios Superiores de Periodismo que se desarrolló con halagüeño resultado en nuestra Capital, su carácter de reunión internacional le vuelve más meritorio aún. Los profesores que desenvolvieron sus clases allí lo hicieron en varios idiomas. Unos en francés, en inglés otros, aquellos en español… Signo de los tiempos el dominio de los idiomas, la posibilidad de expresarse en todas las lenguas que posee el hombre, con la seguridad de ser comprendido en todas las latitudes. (El primer, 1960) Os cursos do Ciespal nos anos 1960, que duravam até dois meses, foram o foco de atividade, havendo, por exemplo, seis entre 1960 e 1965, dos quais participaram 41 professores de 12 países distintos, 366 alunos de 20 países das Américas, 186 alunos com bolsas (114 da Unesco, 63 da OEA e 9 da Fundação Ford) e 38 textos foram editados (com média de 1300 exemplares por título) (Córdova, 1967, p. 130). Conforme Nuñez, até junho de 1970, o Centro “organizou 11 cursos internacionais aos que concorreram 126 professores procedentes das principais universidades da América Latina, da Europa, dos Estados Unidos, da Unesco e da Ásia” (1980, pp. 28-29). A metodologia sugerida para as investigações, ainda segundo Nuñez (1980, p. 29), era de análise de conteúdo sobre a imprensa latino-americana e, em parceria com outras universidades da América Latina, realizava cursos sobre metodologia de investigação.
Tereza Halliday, em depoimento publicado em março de 1967 na revista Comunicações & Problemas, descreveu como foi o curso anual do Ciespal de 1966, do qual participara como bolsista. Ela relatou que o período de aula foi curto pela quantidade e complexidade dos temas, mas que a possibilitou conhe- cer aspectos da Comunicação Coletiva e,
[...] fazendonos sentir mais e mais a necessidade de entrosamento dos agentes de Comunicação (antigamente chamados de ‘jornalistas’10) com o sistema moderno de sua atividade o qual valoriza a investigação científica de informação e o ‘approach’ social dos processos de Comunicação Coletiva. (2013)
Halliday descreve o ambiente, as aulas, os conteúdos ensinados e as atividades realizadas: havia presença de professores de países como Estados Unidos, França e Índia; no curso se defendia que poderia haver desenvolvimento e integração na América Latina por meio do uso dos Meios de Comunicação Coletiva e dos agentes de Comunicação; viam a “investigação científica de informação” se baseando, entre várias ideias, em prever resultados (tal como vemos em Comte, 1978, p. 30: “ver para prever”) e em efetuar planos de ação dos meios de Comunicação (críticas a essas ações podem ser vistas em Beltrán, [S/D]a, [S/D]b, [S/D]c, 1973, 2000, e em Bordenave, 1974).
Com esse panorama descrito por Halliday, podemos iniciar o tópico seguinte, sobre as indicações de pesquisa do Ciespal nos anos 1960.
3. Indicações de investigação
Gustavo León Duarte, em artigo publicado em 2012 sobre o papel do Ciespal no processo de institucionalização dos estudos de Comunicação na América Latina, fruto de ampla pesquisa sobre o pensamento latino-americano de Comunicação, disse que esse Centro orientou seus próprios trabalhos em três áreas de concen- tração: ensino de jornalismo e de Comunicação, documentação e investigação. Com entendimento semelhante ao do descrito por Halliday ([1967] 2013) e ao dito por León Duarte (2012), Nuñez (1980, p. 37) afirmou que os cursos do Ciespal tinham enfoque em aspectos sociológicos e psicológicos da comunicação massiva e influenciavam a realização de pesquisas de opinião pública e sobre os Meios de Comunicação de Massa. Essas indicações de investigação tinham como fonte autores de fora da América Latina.
O Ciespal se caracterizava por ser um Centro internacional, mas sua interna- cionalização não se referia à difusão do pensamento de diversos países da América Latina. A biblioteca do Ciespal, por exemplo, tinha poucas publicações em espanhol, como já chamava atenção Gonzalo Córdova, dizendo que mesmo tendo sido montada uma biblioteca especializada com mais de 1500 títulos, havia escassez “de obras em espanhol; a maior parte da bibliografia sobre as ciências da comunicação está escrita em inglês e francês” (1967, p. 111). Todavia, muitas traduções foram feitas, no intuito, conforme León Duarte, de “incrementar a difusão e a produção de conhecimento do campo da comunicação na América Latina com um grupo de expertos e investigadores majoritariamente externos à região” (2012, p. 239).
Em levantamento, feito pelo próprio Córdova, das publicações do Ciespal entre 1960 e 1967, podemos observar os livros traduzidos e organizados nesse período, com a maioria deles sendo vinculados a autores e instituições dos Estados Unidos (12 publicações), seguido pela França (8). Bem atrás aparecem Chile (3), Espanha (3), Equador11 (2), Brasil (2), Bélgica (2) e Alemanha (2). Separando por áreas político-geográficas, temos 12 dos EUA, 15 da Europa e 7 da América Latina (1967, pp. 113-129).
Algumas dessas obras foram elaboradas a partir de cursos ministrados no próprio Centro, como a Métodos de enseñanza de la técnica del periodismo, de Luiz Beltrão, feita com materiais dos cursos de 1963; a El saber periodístico, de Juan Beneyto, montada com o material do V Curso Internacional de Perfeccionamiento en Ciencias de la Comunicación; a De la sociología de la comunicación colectiva del desarrollo cultural, de Joffre Dumazedier, que é resultado de uma recopilação das conferências desse professor durante os Cursos Internacionales de Perfeccionamiento en Ciencias de la Infornación Colectiva entre os anos de 1964 e 1966; a El derecho a la información, de Wesley C. Clark, também uma recopilação de suas falas nos Cursos Internacionales de Perfeccionamiento en Ciencias de la Información Colectiva; a Sicología de la comunicación colectiva, de Gerhard Maletzke, que foi elaborada a partir de suas participações nos cursos do Ciespal em 1962 e 1963.
E outras publicações foram traduções de obras já divulgadas nos países de origem dos autores. Como exemplos, podemos citar Estudio comparativo de doce diarios metropolitanos, de Paul Deutschmann, que foi publicada pelo Ciespal a partir do estudo News-page content of twelve metropolitan dailies. A tradução foi feita por Ramiro Samaniego e contou com o suporte da Fundação Ford para a publicação. E outro exemplo é o Proceso y efectos de la comunicación colectiva, organizada por Wilbur Schramm e publicada nos Estados Unidos (em 1955) sob o título The process and effects of Mass Communication, e que, com a ajuda da Fudação Ford, foi traduzida para o espanhol e publicada pelo Ciespal.
No texto de Córdova (1967) são mostrados 42 livros entre 1960 e 1967, e Nuñez (1980) afirma que a quantidade de títulos publicados pelo Ciespal, em julho de 1971, era de 70, com um total de 105 mil exemplares. Parte desses livros foi elaborada por autores que estiveram no Equador ministrando cursos no Centro, como também pode ser notado ao compararmos os nomes do quadro anterior com os a seguir.
Dessa lista de Córdova, 10 autores eram dos Estados Unidos, 9 da Europa (4 da França, 2 da Bélgica, 1 da Espanha, 1 da Polônia e 1 da Alemanha) e 8 da América Latina (3 do Equador, 3 do Chile e 2 do Brasil).
Muitas dessas publicações traziam indicações de como as pesquisas na área da Comunicação deveriam ser realizadas, e tinham nas ideias da Mass Communication Research (MCR) sua principal fonte, especialmente em autores como Schramm, Lasswell, Berlo, Lazarsfeld, Berelson e outros (Teoría, S/D; Marques de Melo, 2009; Navarro, 2005).
Como vimos na introdução deste artigo, até o ano de 1960 o debate e as publicações na área da Comunicação no Brasil e, no restante da América Latina eram escassas, e o Ciespal, com traduções de autores, especialmente, dos Estados Unidos e da Europa, trouxe o pensamento corrente desses inves- tigadores e o difundiu na América Latina, espaço, até então, com pouca investigação nessa área. León Duarte (2012) tem interpretação semelhante, e infere que o Ciespal foi o maior estimulador de pesquisas na América Latina, e que, a partir dele, o paradigma de investigação das escolas norte-americanas é irra- diado para a região.
As ideias da MCR são mostradas em muitas das obras citadas no quadro 1, como Dos semanas en la prensa de América Latina, Metodología de la investigación en la comunicación colectiva, De la sociología de la comunicación colectiva del desarrollo cultural, Sicología de la comunicación colectiva, Introducción a la investigación de la comunicación colectiva, Proceso y efectos de la comunicación colectiva, La ciencia de la comunicación humana, Introducción a la investigación de la comunidad colectiva.
Tomando por base as publicações do Ciespal na década de 1960, encontramos dois textos que resumem bem as indicações de investigação da MCR, as quais eram sugeridas a serem aplicadas na América Latina. O primeiro, Investigaciones de la comunicación en los Estados Unidos, de Schramm (1965a,p. 5), define as pesquisas da MCR por algumas características: i) são quantitativas, em vez de especulativas, com seus praticantes estando interessados em teorias, mas aquelas que são possíveis de serem provadas; ii) a comunicação é vista tanto como a expressão típica dos jornais, do rádio e da televisão, quanto a comunicação interpessoal, a palavra falada, os sinais, as fotografias etc. as investigações em Comunicação nos Estados Unidos se referem aos sistemas pelos quais informações e ideias são compartilhadas e intercambiadas; iii) a pesquisa em comunicação se preocupa com a eficácia12 da comunicação, isto significando a busca por ser compreendido e pelo entendimento de como as pessoas utilizam os meios de informação.
O segundo texto é o Método científico e investigación de la comunicación, de Bruce Westley (1967, pp. 156-163), expondo que a ciência era composta pelas seguintes características: i) é geral e teórica; ii) se fundamenta na observação controlada; iii) está orientada à previsão; iv) busca conexões de causa e efeito; v) é naturalista e determinista; vi) gosta de calma e pretende chegar a um ponto final na indagação.
Por esse posicionamento epistemológico, o fazer científico se definia e indicava alguns caminhos aos pesquisadores, como, por exemplo, a realização de experimentações (Tannenbaum, 1967, p. 50) e o uso da Análise de Conteúdo, que –nos termos de Berelson [citado por Dumazedier, 1968, e Danielson, 1967])– tinha por palavras-chave “objetivo”, “sistemático”, “quantitativo” e “manifesto”.
Meditsch (1999, 2000) traz críticas a essa opção positivista do Ciespal, dizendo que o Centro foi uma política de contra-insurgência na América Latina na época da Guerra Fria, e que rejeitou a formação clássico-humanista, tratan- do-a como não científica, e substituindo-a pelo que o autor chama de “funcio- nalismo norte-americano”. Medina (2000) também traz uma análise no mesmo sentido de Meditsch, e diz que o Ciespal era um polo “aglutinador das metodolo- gias e técnicas funcionalistas”13.
No contexto de difusão dessas ideias na América Latina, Schramm (1976) publicou, em 1964, o livro Comunicação de massa e desenvolvimento: o papel da informação nos países em crescimento, que foi considerado “antológico” (Marques de Melo, 2007, p. 14) e “bíblia” (Beltrán, [S/D]a) da comunicação para o desenvolvimento. Telegraficamente, podemos dizer que tal publicação trouxe as indicações de como os agentes/comunicadores deveriam agir sobre as populações locais, tendo, por base, uma percepção de agir sobre outrem e percebendo a comunica- ção de forma linear, o que gerou grande reação de pesquisadores latino-americanos, como Bordenave (1974), Beltrán ([S/D]a; [S/D]b; [S/D]c 1973; 2000), Piccini, Mattelart e Mattelart (1976), Mattelart e Dorfman (2011) e Freire (2006).
O Ciespal, nos anos 1960, além de estar no contexto da Guerra Fria e em uma região na qual ocorreram golpes contra democracias, tinha em seus cursos um espaço de ensino e de difusão de ideias científicas provenientes da então tradição estadunidense de pesquisa em Comunicação, assim como um posicionamento de ação sobre as populações do terceiro mundo que se estabeleceu a partir dessa obra de Schramm (Bordenave, 1974, p. 16). Então, inúmeras críticas a esses posicionamentos, a partir do final dos anos 1960, começaram a surgir, afirmando que modelos teóricos e metodológicos importados não eram suficientes para entender o contexto latino-americano e que a postura de ação sobre outrem não era correta para o desenvolvimento da América Latina. Beltrán, em texto publicado inicialmente em 1976, dizia que “a investigação sobre comunicação na América Latina tem estado consideravelmente dominada por modelos conceituais forâneos pro- cedentes, mais que tudo, dos Estados Unidos da América” (2000, p. 90). Bordenave propunha que “devemos vencer essa compulsão mental que temos de perceber nossa própria realidade através de conceitos e ideologias estranhas e aprender a olhar a comunicação [...] desde uma nova perspectiva” (citado por Beltrán, 2000, p. 91). E Medina (2000), ao descrever como era o ambiente ciespalino no início dos anos 1970, exemplifica a reação de pesquisadores dessa região.
Dessa maneira, em 1973, o Ciespal organizou, em San José, Costa Rica, um seminário para debater a investigação da comunicação na América Latina, com o objetivo de analisar como estavam sendo feitas as pesquisas e elaborar orientações, as quais se mostraram em direção diferente das que haviam apor- tado na América Latina nos anos 1960 por meio do Ciespal. Resumidamente, essas foram as novas indicações: i) a metodologia teria que ser um instrumental crítico que possibilitasse o descobrimento “de toda interrelação econômica, política, social e cultural que configuram as estruturas de dominação e de poder” (Seminario, 1973, p. 14), se adaptasse aos grupos sociais estudados, buscasse a participação dos grupos envolvidos nos problemas estudados e deveria ser múltipla e interdisciplinar, com o uso, por exemplo, de análise quantitativa em função da interpretação qualitativa; ii) as áreas de pesquisa deveriam ser observadas sob dois aspectos fundamentais: o primeiro seria o de diagnóstico e análise crítica, e o segundo de busca de alternativas; iii) e o objetivo central das investigações deveria ser “a análise crítica do papel da comunicação em todos os níveis de funcionamento, sem omitir suas relações com a dominação interna e a dependência externa e o estudo de novos canais, meios, mensagens, situações de comunicação etc. que contribuam para o pro- cesso de transformação social” (Seminario, 1973, p. 15).
4. Considerações finais
Durante nossas leituras sobre o Ciespal, havíamos encontrado textos que abordavam em poucos parágrafos a fundação do Centro; e, em espaços pouco maio- res, as pesquisas realizadas sob suas indicações, mas sempre tendo como foco as críticas ao modelo proposto, e pouco mostrando, de fato, a proposta em seus termos. A voz do Centro sobre sua própria fundação normalmente era esquecida, sendo raras as citações aos autores desse processo. E em relação às indicações de pesquisa do Centro, críticas sobre sua postura “funcionalista” e desenvolvimentista também foram encontradas, comumente tendo por base o contexto latino-americano nos anos 1960 e os posicionamentos de autores como Beltrán ([S/D]a, [S/D]b, [S/D]c, 1973, 2000) e Mattelart (1976, 2011a, 2011b).
Todavia, durante nossa pesquisa documental nos arquivos do Ciespal, encontramos informações que consideramos relevantes como objeto de reflexão e publicização, como cartas e leis encontradas que ajudam a mostrar, sob uma determinada ótica, como foi seu processo de fundação. Em relação às indicações de investigação, é comum vermos afirmações de que um pensamento forâneo desembarcou na América Latina pelo Ciespal (Navarro, 2005; Marques de Melo, 2009; León Duarte, 2012), e, na pesquisa documental realizada, pudemos achar toda a lista de livros traduzidos e publicados entre 1960 e 1967 (Córdova, 1967), a qual nos possibilitou encontrar dados para comparar e, por fim, corroborar tal afirmação.
Ainda dando voz ao Ciespal, resolvemos buscar suas indicações de pesquisa em suas próprias publicações, evitando, em termo foucaultiano (2006), o texto comentário. Por elas, encontramos a forte presença da Mass Communication Research, da qual apresentamos sua ideia de ciência, a qual era ensinada.
Por fim, tais posicionamentos da primeira década do Ciespal sofreram várias críticas, especialmente dos latino-americanos, os quais viam que essa região deveria fazer ciência que respondesse aos seus próprios problemas, não apenas importar o pensamento de fora (Beltrán, 2000), posicionamento este que já era debatido nas Ciências Sociais (Diégues Júnior, 1965), resultando, por fim, numa virada epistemológica ciespalina e nas pesquisas em comunicação na América Latina, que pode ser simbolizada pelo encontro na Costa Rica em 1973.
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Notas