Reseñas
Jornalismo e convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo
Jornalismo e convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, núm. 135, pp. 430-433, 2017
Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina
ENGEL BRONOSKY Marcelo, MAURÍCIO DE CARVALHO Juliano. Jornalismo e convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo. 2014. Editora Cultura Acadêmica. 280pp.. 978-85-7983-551-3 |
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A temática da relação entre jornalismo e convergência é muito mais do que um assunto da moda ou uma forma específica de tratar questões ligadas à re- volução digital, como a necessidade de reorganização produtiva das empre- sas e redações. Isso é o que afirma Carlos Soria no Prefácio do livro-coletânea “Jornalismo e convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo”1, organizado pelos professores e pesquisadores brasileiros Marcelo Engel Bronosky e Juliano Maurício de Carvalho.
De acordo com Soria, é no campo do fenômeno da convergência que se encontra a maioria das incertezas, soluções, desafios e oportunidades do atual momento informativo: “La convergencia es el epicentro de una reflexión teórica y práctica para ganar la batalla al tsunami que la revolución digital e internet han provocado en los medios de comunicación” (2014, p. 12).
O conceito de convergência, apontam Carvalho e Carvalho (2014), se refere ao fluxo de conteúdos em multiplataformas, com movimentos migratórios das audiências no processo de consumo de conteúdo –seja jornalístico ou não. Portanto, a convergência midiática pressupõe a participação da audiência na cir- culação de conteúdos nos ambientes digitais. Isso ocasiona, conforme Magnoni (2014), a paulatina desarticulação dos tradicionais arranjos produtivos e a emer- gência de novos modelos de negócios.
Irreversíveis ao campo da comunicação e do jornalismo, essas transformações estariam promovendo o desaparecimento progressivo dos veículos “monomedia”, ou seja, aqueles cujas mensagens se difundem por meio de uma única plataforma. Soria (2014) destaca que isso se deveria tanto à necessidade de ampliação dos mercados consumidores quanto às novas características tecnológicas disponíveis à sociedade atual. Assim, para que o veículo encontre suas audiências “quando, onde e como elas quiserem”, torna-se necessária a atuação em diferentes plataformas.
Nesse processo, as empresas jornalísticas passam a ter de se inovar constan- temente –seja do ponto de vista tecnológico, narrativo e/ou produtivo–, além de conviverem com um processo de multiplicação dos jogadores do terreno informativo, nas diferentes iniciativas que compõem o escopo jornalismo contemporâneo, como portais, blogs e sites de redes sociais –públicos, privados, comunitários etc. Isso coloca a exclusividade do jornalismo e dos meios clássicos de comunicação ‘à prova’, na medida em que a mediação social tem se diluído, com o aumento de fluxo de informações oriundo de internautas produtores e difuso- res de conteúdos.
Neste contexto, Soria (2014) enfatiza que as transformações ocorridas no campo do jornalismo envolvem tanto a emergência de reorganização dos fluxos produtivos e das bases de trabalho nas redações e nas gerências empresariais, quanto das relações estabelecidas com os públicos. Ou seja, esse cenário exige a necessidade de modificação das estruturas do próprio jornalismo e da forma de exercê-lo –o que implica transformações nos modelos de negócio, na formação dos profissionais e nas políticas públicas para o setor.
Nesse sentido, Bronosky e Carvalho afirmam que o intento do livro é o de “oferecer discussões acerca de um dos principais temas do campo do jornalismo na contemporaneidade: as implicações e repercussões das tecnologias digitais, em especial as determinadas pela internet, no jornalismo” (2014, p. 05). Ou seja, diante do cenário de transformação das bases de produção e significação do jornalismo na contemporaneidade, a coletânea busca reunir debates e resultados de pesquisa que indiquem possibilidades interpretativas e prospecções futuras sobre o espaço e as práticas jornalísticas.
A obra está dividida em duas Seções, “Situações de convergência no jornalismo brasileiro” e “Transformações do jornalismo no cenário de convergên- cia”, que visam discutir os impactos das tecnologias em realidades específicas e debater conceitualmente as principais mudanças no jornalismo e na sociedade a partir do novo cenário tecnológico, respectivamente. No total, o livro está composto por 20 textos.
Com abordagens variadas, na primeira Seção é possível encontrar debates que vão desde as repercussões da convergência das mídias no processo de produção do jornalismo regional e local, as iniciativas independentes de produção jornalísticas e seus significados no contexto da resistência social frente ao monopólio informativo dos conglomerados comunicacionais, as experiências da produção de uma agência pública de notícia no cenário da convergência, asnovas relações entre produtores e consumidores de informação e os desafios dainteratividade ao campo jornalístico, as narrativas e experiências foto jornalísticasnos espaços oportunizados pelas novas tecnologias, bem como a necessidade de transformação nas perspectivas teórico-práticas do ensino de jornalismo diante da inserção das mídias digitais.
Na segunda seção, de enfoque mais conceitual, surgem debates sobre os novos processos de produção e as transformações em perspectivas tradicionais de objetividade e subjetividade, a formação da opinião pública em tempos de cultura digital e de convergência, e os dilemas enfrentados pelo jornalismo no contexto das redes sociais e da globalização. Também compõem o escopo de discussão a relação entre indústrias criativas e produção jornalística e a conformação de uma perspectiva hiperlocal de produção, os novos modelos de negócio surgidos a partir do ciberjornalismo.
Nota-se, com isso, que a obra preconiza a amplitude de abordagens frente ao fenômeno da convergência e suas conseqüências para o processo contemporâneo de produção e consumo de conteúdos jornalísticos. Importante mencionar que, apesar de reunir diferentes pesquisadores e distintas abordagens, a obra é bastante enfática na emergência de transformações tanto nas estruturas de produção quanto na de formação e qualificação dos profissionais do jornalismo.
Por fim, cabe ressaltar, o livro-coletânea “Jornalismo e convergência: reflexões sobre o futuro do jornalismo” representa, além de um relevante esforço de cooperação científica, uma importante contribuição para a reflexão da relação contemporânea entre o jornalismo e o fenômeno da convergência em suas múltiplas facetas, merecendo especial atenção do campo da comunicação e do jornalismo, seja da comunidade acadêmica ou do mercado.
Referências bibliográficas
Bronosky, M. E. & Carvalho, J. M. de (2014). Apresentação. In Bronosky, M. E. & Carvalho, J. M. de (Orgs.). Jornalismo e convergência. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Carvalho, J. M. de & Carvalho, A. M. G. de (2014). Do hiperlocal aos insumos criativos: as mutações do jornalismo na contemporaneidade. In Bronosky, M. E. & Carvalho, J. M. de (Orgs.). Jornalismo e convergência. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Magnoni, A. F. (2014). Dilemas do Jornalismo na era das redes digitais e da globalização. In Bronosky, M. E. & Carvalho, J. M. de (Orgs.). Jornalismo e convergência. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Soria, C. (2014). Prefácio: La convergencia, epicentro de la revolución informativa. In Bronosky, M. E. & Carvalho, J. M. de (Orgs.). Jornalismo e convergência. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Notas