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O exílio republicano e a guerra civil espanhola na revista Historia Mexicana1
The republican exile and the Spanish civil war in the Historia Mexicana magazine
Antíteses, vol. 12, núm. 23, pp. 365-393, 2019
Universidade Estadual de Londrina

Dossiê


Recepción: 24 Febrero 2019

Aprobación: 24 Junio 2019

DOI: https://doi.org/10.5433/1984-3356.2019v12n23p365

Resumo: Neste artigo, desenvolvo os temas do exílio republicano e da guerra civil espanhola desde a perspectiva de como foram tratados pela revista Historia Mexicana, fundada em 1951 e vinculada a El Colegio de México. Observo que o percurso e um processo peculiar de transição institucional que desencadearam a fundação da revista estão intimamente associados à história do exílio espanhol no México,e ao reposicionamento dos intelectuais republicanos refugiados nesse país. Destaco a relevância da publicação no aprofundamento do conhecimento histórico sobre a dupla temática, e, sobretudo, argumento que Historia Mexicana se constitui como parte de uma rede intelectual que favorece a ampliação e a densidade de comunicação entre autores. A revista também contribui para acentuar como é definido o discurso historiográfico quanto aos avanços ou permanências do labor empírico em sua relação com objetos de pesquisa específicos.

Palavras-chave: Revista Historia Mexicana, Exílio republicano, Guerra civil espanhola, Rede intelectual, El Colegio de México.

Abstract: In this article I discuss the republican exile and the Spanish civil war from the viewpoint of the Historia Mexicana magazine, founded in 1951 and related to El Colegio de México. I argue that the path and a peculiar process of institutional transition that triggered the foundation of the magazine are intimately associated to the history of the Spanish exile in Mexico, and to the repositioning of the republican intellectual refugees in that country. I point out the importance of the publication on the development of a deeper historical knowledge on both themes, and, above all, I argue that Historia Mexicana has established itself as part of an intellectual net that favours the widening and the density of the communication among authors. The magazine also contributes to accentuate the mode in which the historiographic discourse is defined regarding advancements or continuations in the empirical labour in its relation to specific objects of research.

Keywords: Historia Mexicana magazine, Republican exile, Spanish civil war, Intellectual net, El Colegio de Mexico.

Introdução

Os temas do exílio republicano e da guerra civil espanhola se apresentam como questões frequentes de pesquisa e debate no contexto intelectual e cultural mexicano. O impacto da diáspora republicana no cotidiano do país americano pós-guerra civil ibérica se fez notar mais pronunciadamente do que em outros espaços do grande continente, tendo em vista que o México, em razão do apoio incondicional à República espanhola na década de 1930, foi aquele que mais concebeu políticas oficiais de acolhida aos exilados espanhóis. Inúmeras publicações periódicas, tanto de perfil acadêmico/científico quanto cultural, têm atribuído elevado destaque aos dois temas, e a literatura extraída dessas produções contribui para o maior entendimento a respeito dos dilemas próprios à condição exilar, e das diversas atividades desenvolvidas pelos espanhóis no longo exílio mexicano. Um breve e não exaustivo olhar sobre os estudos publicados em periódicos de distinta natureza disciplinar não somente certifica este argumento, como evidencia a importância das revistas enquanto lugares de projeção do meio intelectual, articuladoras de sistemas de referências culturais a partir de determinados objetos, e meios que auxiliam o processo formativo de conhecimentos específicos sobre os mesmos objetos. Destaco que a dupla temática pode ser classificada, ao menos, sob dois critérios ou tipologias de textos enfocados pelas revistas: 1) a análise do exílio republicano e da guerra civil considerados em si mesmos; 2) a presença dos dois temas abordados tangencialmente. Nesta segunda tipologia é possível identificar uma ênfase: o núcleo das análises incide sobre a compreensão ou função desempenhada pelas revistas, algumas delas, devendo sua existência aos próprios exilados espanhóis no México2.

Neste artigo, desenvolvo o duplo tema do exílio e da guerra civil desde a perspectiva de uma revista que, servindo aos meus propósitos como fonte, salvo melhor juízo, esteve até o momento ausente das investigações de especialistas: Historia Mexicana. Frequente desde 1951, Historia Mexicana tem sua trajetória vinculada ao célebre El Colegio de México, criado no ano de 1940 depois de funcionar por dois anos sob o nome de La Casa de España en México. É importante observar que o percurso e a transição institucional que desencadearam a fundação da revista estão intimamente associados à história do exílio espanhol no México, e ao reposicionamento dos intelectuais republicanos refugiados nesse novo país. Embora longa, a citação destacada de Landa Landa, Huerta e Sánchez (2009, p. 88) auxilia a esclarecer a questão:

Para estos intelectuales se creó la Casa de España que, desde su nacimiento, fue un espacio cuyo propósito fue vincular a los científicos e intelectuales que llegaban de España a México, conectándolos a través de los cursos especiales y las conferencias que ésta misma organizaba. La actividad de la Casa se extendió, pues de los cursos y conferencias se pasó a la publicación de revistas como Nueva Revista de Filología Hispánica, Foro Internacional e Historia Mexicana. Consciente de que Franco sería dificilmente derrocado, el gobierno mexicano decidió transformar la Casa de España en una institución permanente: El Colegio de México3.

A periodização (1951-2017) que adoto no texto demanda uma explicação sucinta. Seu ponto de partida (1951) é o próprio início de circulação da revista por El Colegio de México. Seu ponto de chegada (2017) significa o momento de corte da pesquisa que foi realizada mediante levantamento detalhado de todos os volumes de Historia Mexicana em sua página oficial4. Obviamente é neste contexto temporal de mais de seis décadas que vislumbro não somente a incidência das temáticas abordadas, senão o fortalecimento de uma rede de estudiosos que supera o espaço institucional da revista. Minha estratégia também consiste em legitimar esta narrativa através das constantes inserções deslocadas dos artigos e resenhas da própria revista que ocupa o centro da reflexão. A ideia é que a presença da revista esteja deliberadamente dispersa pelo texto sem, no entanto, destituí-lo de unidade discursiva. De modo que Historia Mexicana cumprirá uma função mais ou menos aparentada à estrutura paradigmática descrita pelo contextualismo de Pocock (2003, p. 23-62). Ou seja, a estrutura paradigmática fundamenta-se mais nos vínculos entre os modos que determinada quantidade de autores mobiliza termos-chaves – no presente caso as possíveis relações entre os produtos textuais de Historia Mexicana e termos como “exílio republicano” e “guerra civil” – e menos na verticalização sobre performances intelectuais individualizadas (GONÇALVES, 2014, p. 196). Tal procedimento não implica que um autor que detenha certa proeminência sobre a temática ou sobre o contexto não possa estar mais referenciado que outros.

O que a revista História Mexicana nos ensina e informa sobre duas situações indissociavelmente ligadas, quais sejam: o exílio republicano e a guerra civil espanhola? Em outros termos, há capacidade de respostas sobre o modo como Historia Mexicana verbaliza e compartilha, através de um princípio de reciprocidade entre os autores, o conhecimento acerca dessa dupla temática? À busca de algumas alternativas para estas indagações, minha linha de orientação na próxima seção do artigo pretende destacar a ideia de “rede intelectual” para conceber o trabalho de pensamento produzido pelos autores que emprestaram suas reflexões à revista. No meu ponto de vista, a rede é algo que se institucionaliza antes da própria existência mesma da publicação. Por fim, ao tecer o núcleo diretor do texto, valorizo a ideia de “função difusora” que História Mexicana empreende sobre os dois temas, sem negligenciar um breve aporte sobre a construção de políticas que propiciaram o ingresso dos republicanos espanhóis no México.

A revista Historia Mexicana e as redes intelectuais

A revista Historia Mexicana teve seu primeiro número publicado no trimestre julho-setembro de 1951, e desde então, sem qualquer interrupção, continua a manter a periodicidade de quatro números anuais. Suas origens e parte central de sua história estão associadas ao surgimento de La Casa de España en México, e a partir de 1940, à refundação da Casa de España sob o nome que viria a ser consagrado gradativamente no campo acadêmico dos estudos históricos e das ciências humanas na América: El Colegio de México. Por certo, os principais animadores para o surgimento da Casa de España em julho de 1938 foram os intelectuais mexicanos Alfonso Reyes e Daniel Cosío Villegas. Fundamentalmente, a Casa de España surgiu para dar asilo a um grupo de intelectuais e cientistas espanhóis que, impedidos de realizar seus trabalhos tanto em razão da guerra civil, quanto por motivações de assegurar a sobrevivência diante da iminente derrota republicana e das perseguições que sofreriam por parte da ditadura franquista5, encontraram no México, e mais propriamente na Casa de España, um refúgio intelectual: “[...] también de La Casa surgió, posteriormente El Colegio de México, institución de alta cultura reconocida tanto en México como en el extranjero” (BRUGAT, 1991, p. 567). A Ata constitutiva de El Colegio de México foi sugestivamente publicada na íntegra por Historia Mexicana em 1976, em sua edição do trimestre abril-junho. Por alguns excertos da Ata, já se pode intuir o funcionamento de uma “rede” tendo em conta as finalidades e as pessoas a integrar El Colegio:

Artículo 1° El “Colegio de México” se constituye de acuerdo com el artículo dos mil seiscentos setenta del código civil para el distrito y territorios federales, con objeto de realizar los siguientes propósitos: a) patrocinar trabajos de investigación de profesores y estudiantes mexicanos; b) becar, en instituciones o centros universitarios o científicos, en bibliotecas o archivos extranjeros, a profesores y estudiantes mexicanos; c) contratar profesores, investigadores o técnicos extranjeros que presten su servicio en el “Colegio de México” o en instituciones educativas u organismos gubernamentales; d) editar libros o revistas en los que se recojan los trabajos de los profesores, investigadores o técnicos, a que se refieren los incisos anteriores; e) colaborar con las instituciones nacionales y extranjeras de educación y cultura para la realización de fines comunes (ACTA..., 1976, p. 655-656).

A ideia de trazer ao México os intelectuais mais destacados da República espanhola começou a ser considerada por Lázaro Cárdenas6 logo nos primeiros meses de 1938, aconselhado por Alfonso Reyes, Daniel Cosío Villegas, Eduardo Villaseñor e outros, alguns dos quais haviam passado longas temporadas na Península com os representantes “mais ilustres” da cultura ibérica (MIRANDA, 1968, p. 2-3). Neste sentido, como procuro demonstrar mais adiante, Alfonso Reyes principalmente, seria o responsável por dar início à formatação de uma rede intelectual entre mexicanos e espanhóis que não encontra coincidência temporal necessariamente no contexto da guerra civil, e sim, se localiza ainda em meados da década de 19107.

Ao adotar a ideia de “rede intelectual” para compreender a relação entre intelectuais, exílio republicano, e o modo como tal rede se consolida no percurso da revista Historia Mexicana, assumo algumas orientações conceituais de Eduardo Devés-Valdés (2007) e Carlos Altamirano (2010). O primeiro, em textos dedicados ao escrutínio das redes intelectuais latino-americanas desde o surgimento do arielismo8 em inícios do século XX, propôs uma definição e uma metodologia para conferir inteligibilidade às redes intelectuais. É necessário considerar, por princípio, que a “rede” não se configura como uma aliança homogênea e uniforme de homens, mulheres, ideias, interesses ou projetos intelectuais. Por “rede”, Devés-Valdés entende “un conjunto de personas ocupadas en la producción y difusión del conocimiento, que se comunican en razón de su actividad profesional, a lo largo de los años” (DEVÉS-VALDÉS, 2007, p. 30). Dentro desta definição geral, convém destacar que a arquitetura de uma rede intelectual não pode prescindir de critérios ou formas de relação que a caracterizam como tal. Assim, os encontros pessoais, a correspondência através de diversos suportes, os congressos, campanhas, publicações, comentários ou resenhas de livros, citações recíprocas ensejam as articulações de um mundo intelectual em rede (DEVÉS-VALDÉS, 2007, p. 30). Especificamente, na metodologia proposta por Devés-Valdés, se encontram nove critérios informativos que identificam a rede: 1) encontros pessoais; 2) correspondência; 3) participação nos mesmos congressos, sociedades ou agrupamentos; 4) prólogos, comentários ou apresentação de livros; 5) publicação nos mesmo meios; 6) participação nas mesmas campanhas ou iniciativas; 7) diálogos e polêmicas; 8) citações recíprocas; 9) outros possíveis (DEVÉS-VALDÉS, 2007, p. 32-33). O cruzamento dessas ações e os lugares possíveis de concretizá-las, assim como, a frequência de tais atividades determinam o quanto uma rede intelectual pode ampliar ou diminuir sua densidade de comunicação.

Neste sentido, as revistas (acadêmicas ou não) são produtos culturais e ideológicos de dimensões importantes para a constituição e permanência de uma rede intelectual. Tais produtos, ao representarem pontos de conexão no interior da rede, presumem criar um imaginário de equipe cuja capacidade para se vincular a instituições como editoras e universidades tende igualmente, a impulsionar articulações com organismos estatais9. As revistas também ocupam as reflexões de Carlos Altamirano quando este autor as associa a uma história dos intelectuais e a uma história das ideias. Através delas, segundo Altamirano “se pueden estudiar las direcciones y las batallas del pensamiento en las sociedades modernas y hacer el mapa de las líneas de sensibilidad de una cultura en un momento dado” (ALTAMIRANO, 2010, p. 19). Devés-Valdés e Altamirano parecem convergir, portanto, na consideração de que um critério dos mais relevantes para a identificação de uma rede se realiza na fundação e manutenção de uma revista:

La noción de red intelectual indica una forma de sociabilidad y una cadena de contactos e interacción entre artistas, gente de letras, editores y otros tipo de agentes culturales, ligados por conviciones ideológicas o estéticas compartidas. La red nos hace ver modos de comunicación y circulación de ideas entre individuos y grupos localizados en diferentes lugares. En este caso, periódicos, actividades editoriales y correspondencia son los lazos conectores de una comunidad intelectual militante (ALTAMIRANO, 2010, p. 18-19).

Minha convicção é que o modelo exposto se mostra suficientemente operativo para problematizar a inserção e veiculação do exílio republicano e da guerra civil espanhola em um espaço temático que se desenvolve em rede. Ressalvo, no entanto, que o artigo não evolui para questões metodológicas mais complexas, tais como a demonstração diagramática da rede intelectual constituída por Historia Mexicana, visto que esta sugestão de Devés-Valdés requer um aprofundamento de pesquisa ainda por ser demandado. Assim, na seção seguinte, devo intuir a rede intelectual fundamentado em uma leitura cruzada das tipologias de textos publicados na Historia Mexicana sobre o tema, principalmente, artigos, resenhas ou críticas de livros e testemunhos.

A construção de redes e saberes sobre o exílio republicano e a guerra civil em Historia Mexicana

Em páginas tocantes que dedicou à reflexão sobre o exílio, Edward Said lembrou que tal condição implica em uma tristeza essencial que jamais pode ser superada, mesmo que os testemunhos da história e da literatura contenham episódios heroicos, românticos, gloriosos e até triunfais. Para Said, no entanto, o exílio não é compreensível nem do ponto de vista estético, nem do ponto de vista humanista, uma vez que nos coloca irremediavelmente entre a ordem e a desordem. Um dos seus significados é de que o exilado leva uma vida “fora da ordem habitual. É nômade, descentrada, contrapontística, mas, assim que nos acostumamos a ela, sua força desestabilizadora entra em erupção novamente” (SAID, 2003, p. 46-47, 60). Said também aconselha a posicionar o exílio para além de uma cartografia literária. Desde que concretizado em trauma coletivo, transforma-se em “castigo cruel de comunidades e povos inteiros, geralmente como resultado inadvertido de forças impessoais como a guerra, a fome, e a doença” (SAID, 2005, p. 55).

Neste sentido, os espanhois são, a um só tempo, vítimas e verdugos de si mesmos. É com tal expressão que Juan B. Vilar define um dos aspectos recorrentes da história política da Espanha entre os séculos XIX e XX: o exílio político. Vilar sublinha que as bruscas alternâncias e o caráter pendular das sucessivas situações institucionais da Espanha durante esse longo período, fizeram com que uma emigração política fosse seguida de outra de signo oposto. Isto explicaria a continuidade dos fluxos em ambas as direções – o retorno de uns corresponde à saída de outros –, de forma que, sempre uma parte da Espanha está fora da Espanha (VILAR, 2006, p. 17). Bem observou Lizaola (2013, p. 1381) que “Todo exilio presupone vivir un acto de negación social y política siendo esta la circunstancia que lo rodea”. O ato de negar, como ato político, pode ser visualizado nas histórias das proscrições políticas na Espanha a partir de um sucedâneo de ciclos revolucionários e guerras civis. Com efeito, as origens do fenômeno exilar ibérico remontam à revolução francesa, mas também passam pelo desterro negociado da família real espanhola mediante o impacto da invasão napoleônica em 1808. Igualmente, abrigam o contexto pós-restauração de Fernando VII com a emigração política liberal; as três longas guerras carlistas que sangraram o país nas décadas de 1830, 1840 e 1870; as emigrações da era isabelina seguidas pelos exílios pós sexênio revolucionário (1868-1874), e atingem seu momento culminante sob a guerra civil de 1936-1939. Este último e dramático processo é pontuado por um quase consenso historiográfico. Qual é este consenso? A presença obrigatória do tema. Majoritariamente, no âmbito da vasta e inalcançável literatura sobre a guerra civil espanhola, o tema do exílio republicano foi sempre merecedor de capítulos específicos, senão, tornou-se o eixo principal das narrativas memorialísticas e da pesquisa histórica. Uma mirada sobre essa produção de sentidos sobre o exílio republicano, permite afirmar que o tema angariou multiforme espectro de análises ao circunscrever e mobilizar campos de conhecimento como a política e a sociologia da cultura, artes e literatura, direito e filosofia. Essa peculiaridade talvez seja devida ao imaginário construído sobre o exílio republicano, preferencialmente, em países como o México, que se constituiu como o maior receptor de exilados espanhóis. Para entender a posição mexicana em relação ao conflito espanhol, é necessário considerar as mudanças que a nova república espanhola aplicou em suas conexões com a América Latina; baseando-se, a partir de 1931, em um princípio de igualdade e abandonando propósitos anteriores de estabelecer uma liderança regional. Tal como sugere Hernández (2014, p. 435-441), o México, isolado depois do seu processo revolucionário, buscava um contrapeso à influência estadounidense em suas relações exteriores. Assim é que, a aproximação entre as duas repúblicas foi facilitada:

[...] por los vínculos establecidos desde décadas anteriores entre intelectuales de izquierda de ambos países y por la proximidad entre sectores del régimen mexicano con republicanos y socialistas españoles. Ambas repúblicas elevaron sus respectivas legaciones a la categoría de embajadas, y enviaron como embajadores a destacadas figuras de sus respectivos regímenes. No obstante, el estallido de la guerra civil en España polarizó a la sociedad mexicana, que identificará a los contendientes con sus propias divisiones internas. Al mismo tiempo la numerosa colonia española residente en México también se divide, aunque majoritariamente se acabaría situando del lado de los rebeldes (HERNÁNDEZ, 2014, p. 438-439).

Devo mencionar, entretanto, o seguinte contraponto ainda por ser debatido mais amplamente: uma das imagens reincidentes e impressionistas a ser desfeita ou, ao menos, reinterpretada sobre o exílio republicano no México, é de que tal emigração política teria sido fundamentalmente uma emigração “intelectual”. Em 1968, José Miranda publicava em Historia Mexicana o artigo “La Casa de España”. Segundo Miranda, dos quase trinta mil exilados espanhóis recebidos somente no México, e contando com os que foram recepcionados no restante da América após a guerra civil, aqueles ligados a algum tipo de atividade intelectual ou acadêmica passariam da casa do milhar. Miranda toma como referência um livro editado sob o patrocínio da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, no qual estão consignadas as obras publicadas por intelectuais espanhóis na América10. Entre os anos de 1943 a 1945, há o registro de 450 autores, mas faltavam outros que não haviam publicado nada ainda [sic], ou que não enviaram relação de suas obras aos encarregados de preparar o livro (MIRANDA, 1968, p. 2). No entanto, abordando o caso específico do México, Pérez Vejo (2007, p. 23) irá destacar que a hagiografia do exílio nos transmite a imagem do exilado espanhol no México como a do intelectual dedicado à ciência para o bem da humanidade. Ao contestar esta visão que julga predominante, o autor reivindica uma possibilidade de estudo que à época (2007), ainda carecia de realização mais sistemática: circunscrever demograficamente o exílio, levando em conta quem é o exilado em termos de lugar social e de como se recoloca no país de acolhida (PÉREZ VEJO, 2007, p. 23). Em sua análise, Pérez Vejo procura desconstruir dois “mitos” sobre a diáspora republicana espanhola para o México: o primeiro mito, prévio ao exílio, tem a ver com a ideia de uma sociedade mexicana clara e majoritariamente favorável aos republicanos durante a guerra civil, confundindo assim o enfático posicionamento do governo cardenista com o de uma opinião pública bastante menos unânime em seus apoios a um ou outro lado. E aqui, não se deve esquecer que a chegada dos exilados irá coincidir temporalmente, no México e no resto do mundo, ao contexto de radicalização ideológica e de enfrentamentos que polarizam as lutas políticas entre fascistas e comunistas.

O segundo “a priori” sobre o exílio espanhol é sua importância quantitativa. Parecia que nunca houvera espanhóis no México anteriormente à chegada do “Sinaia” (nome do navio que transportou os primeiros refugiados a desembarcarem no México). Quando o certo é que uma das características mais peculiares da presença espanhola no México é sua persistência ao longo do tempo (PÉREZ VEJO, 2007, p. 2-4)11. Uma opinião semelhante a de Pérez Vejo, mas atenuada pelo argumento do ambiente propício encontrado no México, foi expressa por Clara E. Lida no ano de 1966. A autora, uma das mais credenciadas historiadoras do tema das e/imigrações e das relações entre México e Espanha, publicou nota na “Seção Crítica” de Historia Mexicana na qual ressaltava: “Si bien es cierto que los intelectuales emigrados no llegaban a México para disfrutar ningún triunfo, sino derrotados, este país americano fue refugio tranquilo para el estudioso español” (LIDA, 1966, p. 661).

Não obstante os argumentos de Miranda, Pérez Vejo e Lida; na perspectiva das relações internacionais, o México foi um dos poucos países que mais contribuiu à causa republicana espanhola para bem além do contexto da guerra civil12. Durante o período cardenista (1934-1940), e como destaca Knight (2015, p. 68), a contenda espanhola atraiu tanto a atenção popular – uma sociedade polarizada entre os prós e contras aos republicanos – quanto a atenção do governo mexicano. As pautas da administração de Lázaro Cárdenas em relação à Espanha, consistiram em fornecer o quanto possível alimentos, armamentos e apoio político aos republicanos ao longo do conflito, condenar formalmente o golpe militar desencadeado pelos nacionalistas em julho de 1936, e, sobretudo, converter o território mexicano em um amplo espaço de recepção aos refugiados quando da derrota da II República espanhola13. Não se deve negligenciar, no entanto, a solidariedade de personagens, fossem conhecidos ou desconhecidos e que, não raras vezes atuando como membros de comitês antifascistas, assim como médicos e enfermeiras, acabaram responsáveis pelo salvamento de centenas ou até milhares de vidas ao longo de todo o conflito, e ainda ajudaram muitos espanhóis a conseguirem refúgio, seja na França, no México, e em outros países da América14.

Aliás, as relações de intelectuais mexicanos que se formaram no âmbito da cultura da Revolução de 1910 com os republicanos espanhóis era prévia à guerra civil. Daniel Cosío Villegas15, no depoimento publicado postumamente em Historia Mexicana (VILLEGAS, 1976, p. 505-529) declara que travou contato com intelectuais espanhóis no ano de 1933, quando ditou um curso na Universidad de Madrid sobre a reforma agrária no México. Antes do final da guerra civil na Espanha, Cosío Villegas, ao lado de Alfonso Reyes, já aventava a possibilidade de transferir republicanos ao México. A proposta era fazer com que o governo do México “invitara a un grupo limitado de esos intelectuales a trasladarse a México y proseguir en nuestro país sus actividades normales mientras la república se sobreponía a los sublevados franquistas, y pudieran regresar a reanudar en España su vida habitual” (VILLEGAS, 1976, p. 506). O mesmo relacionamento próximo ocorre com outro destacado político, diplomata e intelectual mexicano: Alfonso Reyes. O intelectual viveu na Espanha de 1914 a 1924, saindo do México em exílio “a causa de la desgracia familiar y personal que se abatió sobre él con la trágica muerte de su padre, el general Bernardo Reyes, gran figura de la política nacional mexicana” (LIDA, 1988, p. 90). Na Espanha, após vivenciar um período de escassez material e solidão, Reyes finalmente conseguiu se integrar a instituições de docência e de investigação, como o Centro de Estudios Históricos de Madrid. Foi nesse ambiente que conviveu com muitos intelectuais espanhóis que, no futuro, seriam recepcionados como exilados no México. Reyes assumirá tanto a presidência de La Casa de España en México, quanto encabeçará o patronato de El Colégio de México a partir de 1940 até sua morte em 1959.

Posso referir, portanto, que a arquitetura da rede estava estruturada para o que viria a se constituir a revista Historia Mexicana sob os auspícios de El Colegio de México. Assim como, posso intuir a partir dessa reciprocidade o quanto de relevante o exílio republicano e a guerra civil representarão na história da revista. É curioso, todavia, que a primeira e breve menção aos temas em Historia Mexicana apareça somente no ano de 1966, através de uma referência no artigo de Clara E. Lida, já mencionado. Esta última observação não descaracteriza a importância atribuída à temática seja pela revista; ou seja, principalmente, pelo próprio Colegio de México. Nessa perspectiva, recordo duas situações intelectuais que reforçam a relevância dos temas e a hipótese de rede de pensamento defendida ao longo do artigo: em 2016 foi editada por Libros COLMEX, a fundamental “Historia mínima de la guerra civil española” escrita pelo historiador espanhol Enrique Moradiellos (2016). Além desta importante referência, El Colegio de México mantém a coleção “Ambas Orillas”, sob a gestão da Cátedra México-España, e dirigida por Clara E. Lida e Tomás Pérez Vejo16.

A pesquisa empreendida em Historia Mexicana correspondeu respectivamente ao volume 1, número 1, trimestre julho-setembro de 1951, até ao volume 66, número 4, trimestre abril-junho de 2017. Ou seja, ao longo desse período, na verificação de 264 números da revista consegui identificar 23 produtos que fazem alusão direta ou indireta ao tema. Considerei, no entanto, os aspectos mais qualitativos do que quantitativos, em razão de que a revista conseguiu difundir e materializar, por assim dizer, o avanço e a “evolução” das temáticas quanto à densidade do debate historiográfico proposto. Outro aspecto qualitativo importante a ser observado, é que Historia Mexicana configurou um espaço formativo e expansivo de profissionais que, educados ou não por El Colegio de México, conseguiram converter a revista em circuito (parte da rede) por onde circulassem seus saberes sobre o exílio e a guerra civil espanhola. Neste sentido, os intercâmbios que passam a definir a rede são explícitos: Clara E. Lida17 é a autora mais frequente nesse período, ao publicar quatro textos e ter dois livros resenhados. Por sua vez, Dolores P. Brugat é autora de três resenhas sobre livros de Clara E. Lida, Mario Ojeda Revah e Angel Herrerín, respectivamente publicadas em Historia Mexicana nos anos de 1991, 2006 e 2010. Os títulos resenhados não deixam dúvidas quanto à circunscrição temática: “La Casa de España en México: una hazaña cultural (1940-1962)” de 1988; “México y la guerra civil española” de 2004; e “El dinero del exilio. Indalecio Prieto y las pugnas de la pós-guerra (1939-1947)” de 2007. No mesmo passo, a coletânea coordenada por Brugat, “Pan, trabajo y hogar. El exilio republicano español en América Latina” e publicada em 2007 pelo Instituto Nacional de Antropología e Historia aparece em Historia Mexicana resenhada por Marco Aurelio Torres Mantecón (2010, p. 1496-1500).

Vejamos mais dois casos para atribuir consistência à rede: Antolín Sánchez Cuervo (2003, p. 1121-1130) produz uma resenha da coletânea “De Madrid a México. El exilio español y su impacto sobre el pensamiento, la ciencia y el sistema educativo mexicano”, coordenada por Agustín Sánchez Andrés e Silvia Figueroa Zamudio, e publicada em 2002 pela Editora da Universidade Michoacana. Ambos, Sánchez Andrés e Sánchez Cuervo, junto à Gerardo Sánchez Díaz, coordenarão a coletânea “María Zambrano. Pensamiento y exilio”, publicada em conjunto pela Editora Biblioteca Nueva de Madrid e pela Universidad Michoacana de San Nicolás Hidalgo em 2010. Essa obra é merecedora de uma resenha publicada em Historia Mexicana por Julieta Lizaola (2013, p. 1379-1385). Aqui, importa destacar outra possibilidade de deslocamento frutífero no estudo das relações entre redes, autores e temas para o qual procederei breve menção, haja vista que essa operação não toma parte imediata ou específica dos meus objetivos. Nas obras cujas resenhas são publicadas em Historia Mexicana, sobretudo, aquelas de labor coletivo, evidencia-se o adensamento da rede intelectual pela verticalização, no que se refere aos autores e temas e quando são observados a composição e o conjunto analítico de algumas reflexões publicadas. Talvez, um único exemplo seria suficiente. A coletânea “María Zambrano. Pensamiento y exilio” atesta essa possibilidade: organizada por Sánchez Cuervo, Sánchez Andréz, e Sánchez Díaz (2010), cujos nomes estão presentes em Historia Mexicana, ela é um tributo à filósofa espanhola María Zambrano, exilada durante várias décadas no México. Como bem pode ser o caso de outras situações, a rede é capaz, quando é estruturada, de expandir em termos de densidade de comunicação, integração de investigadores, função difusora, e capacidade de gerar interdisciplinaridade18.

Devo salientar agora um dos aspectos mais centrais das publicações de Historia Mexicana que se refere à natureza das abordagens. Isto é, em termos gerais, posso partir da seguinte (e simples) indagação: o que se enuncia sobre o exílio e a guerra civil? Pretendo tomar como protocolo descritivo inicial, o horizonte historiográfico que era mobilizado pelos historiadores19 espanhóis no exílio mexicano, cujo modelo de referência foi discutido por Javier Malagón no artigo publicado em Historia Mexicana no ano de 1972 (MALAGÓN, 1972, p. 99-112). No trabalho do historiador exilado no México, Malagón observava uma série de aspectos comuns classificados em oito critérios: a) todos ou quase todos se ocupavam da terra natal ocasionalmente, mas sempre relacionando-a com a América; b) frente ao provincialismo ou localismo de sentimento, consideravam desde a perspectiva mais universal os temas americanos e os situavam no contexto da história ocidental; c) nas primeiras obras publicadas na América deixava-se entrever certo temor a mostrar os “pré-juízos” inerentes à sua formação cultural, como se não se sentissem seguros de expressar sentimentos com “medo” de ofender, e talvez por isso elegeram a história colonial que era, a um só tempo, história do México e história da América; d) trabalhavam com temas que os historiadores nativos não trabalhavam, abrindo caminhos à investigação que poderiam ser seguidos pelos discípulos mexicanos; e) raramente faziam incursões na história geral da América, limitando-se à mexicana, e quando o faziam, era partindo desta sem afastamentos demasiados ou predominando o mexicano sobre o continental; f) relacionavam suas preocupações anteriores com aquelas que experimentavam no “Novo Mundo”; g) suas obras, em muitos casos, e como consequência dos enfoques ideológico e metodológico, tinham repercussão para além das fronteiras geográficas mexicanas, e ainda na própria Espanha; h) recentemente, os emigrados voltavam a publicar na Espanha, e a preocupar-se com temas espanhóis, porém a maior parte da produção seguia sendo sobre o México. E Malagón complementava sua compreensão mencionando quais eram os historiadores exilados que mais representavam a construção desse modelo: Rafael Altamira (1866-1951), Agustín Millares (1917-1989), Pedro Bosch Gimpera (1891-1974), José Almoina (1903-1960) e Pedro Pagés (1916-2003) (MALAGÓN, 1972, p. 108-110).

Malagón escrevia o artigo em 1972. Nas leituras sistemáticas que empreendeu para a constituição desses critérios parece ter vislumbrado, sem explicitamente citar, uma perspectiva de escrita da história contextualizada pelos modelos herdados do final do século XIX e da primeira metade do século XX. Há um silêncio sobre aquele presente vivido, porque os traumas combinados de guerra e exílio talvez devessem ser tratados no âmbito de uma escrita de si, ou legados à posteridade20. Esse hiato historiográfico sobre o exílio e a guerra civil seria rompido pelas gerações de discípulos dos discípulos. E aqui tendo a especular que tal ruptura deveu-se, em parte, à crescente profissionalização acadêmica impulsionada por El Colegio de México, e mediante a possibilidade aberta quando da estruturação de Historia Mexicana em sua função difusora do conhecimento histórico21. El Colegio de México, oficialmente por Decreto, se converteu em uma escola de tipo universitário, e com direito a outorgar graus e títulos acadêmicos somente em 1962 (BRUGAT, 1991, p. 569), isto é, uma década depois de a revista ser criada, sendo que os temas do exílio e da guerra passam a ser mais frequentes na segunda metade da década de 1960. Três décadas depois da exposição do modelo de escrita discutido por Malagón; Antolín Sánchez Cuervo (2003, p. 1121-1130) considerava que o exílio espanhol de 1939 seguia, inclusive em seu contexto mais fecundo, o mexicano, como um fenômeno pouco explorado, e, ao menos no caso da Espanha, insuficientemente assimilado. O autor destoava de certa maneira, de uma das hipóteses preliminares desse artigo que escrevo dezesseis anos depois de sua manifestação, e de onde observo, uma nítida “evolução” temática. Sánchez Cuervo assim argumentava em 2003:

La larga tradición de exilios arraigada en la nación española – a su vez inseparable del tópico de las dos Españas – unida a los que el antisemitismo ocasiona en otros lugares de Europa en la década de los treinta, en pleno ascenso del fascismo, conforma en este sentido un marco de comprensión insoslayable a la hora de reflexioanr sobre las causas de dicha diáspora (SÁNCHEZ CUERVO, 2003, p. 1123).

O estranhamento de Sánchez Cuervo era motivado em razão de não considerar o exílio republicano como um fato tão insólito desde o ponto de vista dos fluxos migratórios, quando o episódio era comparado à magnitude dos deslocamentos acontecidos em décadas anteriores. O autor também antecipava o que Pérez Vejo sublinhou sobre o exílio republicano no seu texto de 2007, afirmando que a chegada de espanhóis depois da guerra civil não se limitou ao âmbito intelectual, pois foi “muy abundante la presencia en el mismo de obreros y campesinos; tampoco debe olvidarse la significativa y continuada presencia de la cultura española en México desde los años de la independencia” (SÁNCHEZ CUERVO, 2003, p. 1124). Clara E. Lida (2006, p. 613-650) reafirmará a importância de “españoles en México” problematizando os deslocamentos populacionais desde a década de 1820 até os anos 50 do século XX. O interessante da perspectiva de Lida é uma nota contrapontística que atribui o pouco conhecimento das atividades dos espanhóis no México a partir da Revolução de 1910, em virtude do monopólio que atingiram os temas do exílio republicano e da guerra civil (LIDA, 2006, p. 622). E a argumentação abaixo, algo controvertida no que se refere ao perfil social do exilado, demonstra o quanto a questão do exílio e da guerra civil ainda demanda múltiplas explorações:

Quienes llegaban a causa de la guerra civil eran, sobre todo, integrantes de los sectores ocupacionales mejor preparados de la España del siglo XX. Sin embargo, en un México que para entonces contaba ya con cerca de 20.000.000 de habitantes, los casi 20.000 refugiados mayores de 15 años que constituyeron el contingente español, no alcanzaron en México mayor peso poblacional que sus predecesores. En cambio, su influencia fue tan decisiva, que lograron una presencia destacada en los ámbitos científicos, culturales y técnicos del país (LIDA, 2006, p. 623).

O tema foi aprofundado em 2010 por Marco Aurelio Torres Mantecón, ao resenhar uma obra coletiva coordenada por Dolores Pla Brugat. Esta obra tende a ampliar nossa visão sobre o exílio e a guerra porque seu recorte espacial não se limita ao México, mas problematiza o espaço latino-americano como espaço de acolhida dos refugiados republicanos. Os países que aparecem nas pesquisas são México, República Dominicana, Chile, Argentina, Venezuela, Colômbia e Porto Rico. Na leitura de Mantecón, o tema era abordado com um novo enfoque multifacetado, ou na modalidade de uma história coletiva de onde germinaram núcleos comuns para fins de que surgissem algumas indagações. Que tipo de perguntas estavam sendo reconstruídas? Basicamente: a) quem eram os exilados (número, características sociodemográficas, filiação política); b) qual a posição do respectivo governo e sociedade de cada país a respeito da guerra civil espanhola e do exílio; c) como foram os processos de migração (datas, vias, formas); d) qual era o contexto social, econômico e político dos países de asilo; e) como foi o processo de incorporação econômica e social (se houve) nos respectivos países; f) como foram as relações com a coletividade espanhola já residente; g) como se organizaram os exilados; h) quais foram suas atividades políticas; i) quais foram suas contribuições mais destacadas; j) como foi o processo de aculturação e quais suas identidades (MANTECÓN, 2010, p. 1498). As intensas trocas culturais desde o período colonial e os fluxos migratórios constantes de espanhóis para o México especialmente, não conseguiram encobrir os processos conflitivos que marcaram a história das relações entre os dois países, sobretudo, a partir da guerra civil de 1936. O México manteve uma postura inarredável de hostilidade frente à ditadura franquista somente normalizando os laços diplomáticos depois da morte do ditador em 1975. Em tempos de guerra, tempos de desesperança; como sugeriu o artigo de Abdón Mateos publicado em Historia Mexicana no ano de 2004. Nele, Mateos desenvolve um dos subtemas mais fascinantes ligados ao exílio e à guerra civil: os limites do engajamento político dos republicanos espanhóis no México, ainda mais, em se tratando do dramático contexto no qual o autor sustenta cronologicamente a sua discussão (1940-1943). Com a ascensão de Manuel Ávila Camacho à presidência da República em 1940, “se reforzará la prevención oficial mexicana contra la actividad política de los exiliados españoles” (MATEOS, 2004, p. 409). Um decreto presidencial de 21 de janeiro de 1941 alertava aos espanhóis a necessidade de formalmente declararem o compromisso de não se dedicarem a atividades de ordem política. A despeito dessa proibição, os republicanos exilados no México não deixaram de se organizar:

A comienzos de 1942 lograron firmar en México un pacto de unidad de acción con fracciones minoritarias negrinistas del PSOE22, de la UGT de los republicanos, denominado Unión Democrática Española (UDE) [...]. Sin embargo, la verdadera reactivación de la política de los exiliados españoles en México no comenzaría hasta el verano de 1943 (MATEOS, 2004, p. 411).

O verão de 1943 é uma época que coincide com ofim das ambiguidades da política “avilacamachista” em relação ao que Mateos chama de “cuestión española”. Em outras palavras, episódios como a invasão nazista na União Soviética, a Carta do Atlântico, a entrada na guerra dos Estados Unidos e do México em 1942, o envio de voluntários do franquismo para lutarem na frente russa ao lado dos alemães, determinariam o giro que descartaria qualquer aproximação diplomática entre o México e a Espanha (MATEOS, 2004, p. 420); mas também permitiria, ainda que acanhadamente, uma atividade política mais visível dos espanhóis no México. Com o fim da segunda guerra mundial, e a expectativa rapidamente frustrada de colapso da ditadura franquista, a relação dos exilados republicanos da guerra civil com o México se fortaleceu. No que segue abaixo, elaborei um quadro em ordem cronológica de publicações que, embora não repercuta na essência a metodologia diagramática de Devés-Valdés; procura atribuir um mínimo de clareza sobre como se organizam os nexos e cruzamentos em relação às tipologias de textos, quanto às autoras e autores que apareceram na revista durante o período referido.

Quadro 1
Organização dos textos publicados na revista Historia Mexicana sobre o exílio republicano e a guerra civil espanhola. Período: 1966-2017.

Quadro 1 (Continuación)
Organização dos textos publicados na revista Historia Mexicana sobre o exílio republicano e a guerra civil espanhola. Período: 1966-2017.

Quadro 1 (Continuación)
Organização dos textos publicados na revista Historia Mexicana sobre o exílio republicano e a guerra civil espanhola. Período: 1966-2017.

Quadro 1 (Continuación)
Organização dos textos publicados na revista Historia Mexicana sobre o exílio republicano e a guerra civil espanhola. Período: 1966-2017.

Considerações finais

O presente artigo procurou construir um contexto intelectual sobre os temas do exílio republicano e da guerra civil espanhola a partir de suas referências na revista Historia Mexicana, publicação vinculada a El Colegio de México e cuja longevidade está próxima de atingir sete décadas de existência. É importante destacar que a constância temporal de Historia Mexicana coincide, igualmente, com o tradicional modo de disposição das seções da revista, característica que pouco modificou ao longo desses anos, dotando a revista de um estilo peculiar. Aliado a esses aspectos,o emprego da ideia de“rede intelectual”teve como objetivo orientar não somente a percepção sobre as intersecções entre autores e temas, mas também acentuar parte de como é definido o discurso historiográfico em relação aos avanços ou permanências do exercício empírico dos investigadores. Seria pretensioso em demasia ou contraproducente se a operação narrativa desenvolvida no artigo fosse pela abordagem de texto a texto. Porém, um olhar na Tabela que organizei para finalizar as discussões, assim como as importantes observações da resenha escrita recentemente por Mantecón (2010, p. 1496-1500) permitem argumentar sobre o potencial analítico cujo vetor se desdobra nas possibilidades específicas de abrigar os objetos “exílio republicano” e “guerra civil” em ambientes culturais diversificados, tendo em vista a amplitude que tais fenômenos obtiveram no mundo social latino-americano. E, principalmente, nas capacidades que as revistas culturais, literárias e acadêmicas possuem de, por meio do seu detalhamento, apreenderem os significados, os julgamentos dos agentes em sua relação com o tempo histórico, incluídos aqui, os atores diretos da história que produziram experiências, e os atores que repercutem e explicam esse mesmo tempo histórico através de suas perguntas, análises e inquietações.

Nessa perspectiva, foi possível detectar divergências e produção de silêncios sobre as interpretações da dupla temática. Em primeiro lugar, há divergências entre autores sobre o número aproximado de exilados espanhóis recebidos no México. Basta mencionar que José Miranda em 1968 sustentava essa demografia em “quase trinta mil exilados”, enquanto Clara E. Lida aludia a uma cifra em torno de quase vinte mil exilados “mayores de 15 años” no artigo que publicou na revista em 2006. Por outro lado, se Pérez Vejo coloca em causa o “exílio intelectual”; em certa medida, o termo “exílio republicano” empregado para definir um complexo deslocamento de milhares de indivíduos, e no qual se alojam diferentes racionalidades e projetos políticos, assimétricas subjetividades e ideologias contrastantes carece de ser revisitado e problematizado porque tende a ser, por vezes, generalizante, mas atua como uma convenção válida para adequar o vocabulário político. Estudos mais específicos sobre o exílio de espanhóis no México suscitariam averiguar o destino de membros de outras agremiações políticas tais como os anarquistas, por exemplo, amplamente majoritários em regiões como a Catalunha, parte de Aragão e Andaluzia durante a guerra civil. Sobretudo, os anarquistas foram dominantes e agentes de primeiro plano na defesa de Barcelona durante o segundo semestre de 1936. Alguns de seus personagens, e lembro especialmente de Buenaventura Durruti, foram consagrados em uma das narrativas mais célebres da ficção histórica sobre a guerra civil espanhola (ENZENSBERGER, 1987). Mesmo assim, os anarquistas são personagens ausentes na história de Historia Mexicana. Em Paris, no mês de janeiro de 1974, o Movimiento Anarquista Español no exílio, capitaneado pela Federación Anarquista Ibérica (FAI) produzia um Manifesto pelo qual tecia profundas críticas aos setores que abraçaram um problema “completamente ajeno a la finalidad libertaria: el Gobierno de una hipotética República” (FAI, 1974, p. 6). De modo que, assim como houve um “exílio republicano espanhol”, também houve um “exílio anarquista espanhol” de dimensão ainda a ser mensurada em suas filigranas.

Não podemos esquecer que no trato desse processo conflitivo o México cristalizou a imagem de “país refúgio”, para tomar de empréstimo uma referência aos estudos reunidos sob a coordenação de Pablo Yankelevich (2002), coincidentemente, um argentino exilado no México e institucionalmente filiado a El Colegio de México; e que hoje, também atua como diretor da revista Historia Mexicana. Ademais, o México durante o século XX não abrigou somente exilados espanhóis. Para situar alguns poucos episódios, acolheu militantes da esquerda latino-americana durante as ditaduras militares que infestaram a região nas décadas de 1960-1980 e inúmeros outros grupos étnicos e políticos perseguidos. Além, é claro, do “exílio paradigmático” de Leon Trotsky de 1937 a 1940; exílio sintomaticamente vivido quando chegavam ao México os refugiados da guerra civil espanhola.

Assim, Historia Mexicana nesta pesquisa é ponto de partida. Sinaliza para novas investidas empíricas tanto no que concerne às interpretações históricas sobre a trajetória das publicações, enfatizando suas distinções tipológicas, os “grandes temas” privilegiados, e no sentido aqui empregado, como pode ser avaliada essa trajetória tendo em conta o modelo explicativo das redes intelectuais. Como talvez tenha ficado explícito neste artigo, a revista é um dos lugares por onde a rede se manifesta; um ponto de circulação por onde autores e temas granjeiam notoriedade (ou não), ou fundam as reciprocidades próprias do seu campo de conhecimento. A simbiose entre História Mexicana e o duplo tema candente do exílio e da guerra civil espanhola sugere, portanto, que o historiador se aventure a investigar as linhas de continuidade, as oscilações, e les compagnon de route que sedimentaram relações intelectuais para além do espaço dimensionado pela revista. Somente assim, podemos alcançar um escopo maior de critérios que circunscrevem as redes: integrando novos materiais, novos autores/atores, novos temas e, consequentemente, outras perguntas.

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Notas

1 Este artigo é um dos resultados do Projeto de Pesquisa “Direitos Humanos e Políticas de Memória”, financiado pelo CNPq (Edital 22/2016), sob a coordenação da Dra. Marion Brepohl de Magalhães – Universidade Federal do Paraná.
2 Segundo Caudet (1976, p. 58), as três primeiras revistas criadas pelos intelectuais republicanos espanhóis no exílio mexicano foram España Peregrina (1940), Romance (1940), Ciencia (1940). Também devo chamar a atenção de que algumas revistas, tais como a célebre Cuadernos Hispanoamericanos não tem sua origem no México. Por sua vez, exemplos sobre a presença das duas tipologias de textos podem ser verificados nos seguintes estudos: Aranguren (1953), Andújar (1975), Abellán (1976), Santos, Ordoñez e Tuñon (2007), Landa Landa, Huerta e Sánchez (2009), Olmedo (2014), Bagnouls (2015), Puche e Flores (2015), León e González (2016).
3 Adotei a metodologia de não traduzir as citações em língua espanhola, a não ser quando esta operação seja estritamente necessária. Tal escolha deve-se ao fato de manter fidelidade às fontes da revista e à bibliografia.
5 Otero Carvajal (2001, p. 149-186), pensa as consequências do déficit intelectual pelo qual passará a Espanha com o êxodo massivo dos cérebros republicanos dentro de um incipiente sistema científico: “Las bases ideológicas y culturales de la dictadura del general Franco representaron un retroceso de alcance histórico para el débil y frágil entramado científico español. El exilio, que significó la sangría de una parte sustancial del capital humano de la cultura española, incluido el componente científico, provocó una descapitalización que tardó decenios en ser solventada” (OTERO CARVAJAL, 2001, p. 166).
6 Lázaro Cárdenas, presidente do México entre 1934 e 1940.
7 Existem, ao menos, três estudos sobre a trajetória intelectual e diplomática de Alfonso Reyes (1889-1959) no Brasil durante os anos 1930: Ellison (2002), Reis (2013), Norte (2013).
8 O termo arielismo designa a influência e os desdobramentos alcançados pelo texto Ariel escrito pelo uruguaio José Enrique Rodó (1872-1917) e publicado originalmente em 1900. Muito sinteticamente, Ariel desenvolve a retórica de manifesto de uma identidade latino-americana que pleiteia uma aproximação “moral e intelectual” entre os povos latino-americanos, e cultiva a ideia de um “integracionismo contra” a predominância da cultura utilitária anglo-saxã. Para Devés-Valdés (2007, p. 61-75) o trabalho de Rodó por meio de correspondências, assim como as trocas e circulações culturais entre os pares e as leituras compartilhadas de que foram alvo Ariel representam a formação de uma das primeiras redes intelectuais latino-americanas.
9 Esta ideia também deriva da leitura de Devés-Valdés (2007, p. 73-74). Ao se referir ao limitado nível de profissionalização dos intelectuais latino-americanos até a primeira metade do século XX, o autor argumenta sobre a falta de institucionalidade como algo que corresponde mais à espontaneidade para manutenção da rede intelectual do que a uma profissionalização. Daí, talvez se compreenda porque a rede arielista não tenha se consolidado no tempo. Universidades, centros de produção acadêmica e revistas de difusão cultural e científica seriam meios imprescindíveis para esse fim.
10 O título e a referência da publicação são os seguintes: La obra impresa de los intelectuales españoles en América, 1936-1945. Stanford: Universidad de Stanford/California, 1950. Conf.: Miranda (1968, p. 2).
11 O questionamento de Pérez Vejo ao termo “exílio intelectual” também poderia ser lançado ao termo “exílio republicano”, expressão que adoto como convenção neste artigo. Ver minhas Considerações finais.
12 Ver, por exemplo, o tema da instalação de um governo republicano espanhol no exílio mexicano e o apoio dado por Manuel Ávila Camacho (presidente do México) no pós-segunda guerra. Conf.: Sánchez (2013, p. 79-104).
13 Miranda (1968, p. 2) no artigo já mencionado destaca: “México, Estados Unidos, Venezuela, Colombia y Chile fueron los países que abrieron sus brazos al mayor número. Pero México los aventajó a todos. Fue el único que hizo una deliberada política de atracción, pagando viajes y estableciendo un centro especial destinado a procurarles suficientes medios de vida y a posibilitarles la dedicación a las actividades propias de cada uno”.
14 Em artigo recente, Faber (2016, p. 21-34) recuperou a figura do médico estadounidense Edward Barsky (1895-1975). Barsky encabeçou o Joint Anti-Fascist Refugee Committee (JAFRC), responsável pelo suporte humanitário a milhares de espanhóis refugiados. Por sua vez, em 2005, Judith Keene e Victor Pardo Lancina editaram em espanhol o diário da enfermeira australiana Agnes Hodgson, personagem anônima que atuou em hospitais de campanha na frente aragonesa da guerra civil entre finais de 1936 a finais de 1937.
15 Sobre Daniel Cosío Villegas (1898-1976) e sua importância na reconfiguração cultural mexicano do período pós revolucionário ver: Castañeda, Castañon e Magón (2011).
16 Segundo sua página de apresentação, a Coleção “Ambas Orillas” compõe-se de monografias publicadas por El Colegio de México, que analisam problemas e temas que vinculam México com Espanha e com a Iberoamérica (CÁTEDRA MÉXICO-ESPAÑA, 2016).
17 Nascida em Buenos Aires, Clara E. Lida é uma das mais importantes historiadoras de temas que abrigam as relações entre México e Espanha. A autora, vinculada ao Centro de Estudios Históricos de El Colegio de México, tem vasta obra publicada sobre movimentos sociais, anarquismo, emigrações e exílios (LIDA, 2014).
18 Em “María Zambrano. Pensamiento y exilio” pode-se notar a presença de filósofos, historiadores, sociólogos, como Agustín Andreu Rodrigo, José Luis Mora García, Beatriz María Gortari, Luis Andrés Marcos, etc. A filiação institucional dos autores também é diversificada: Universidad Michoacana, El Colegio de México, Universidad Autónoma de Madrid, Universidad Politécnica de Valencia, Universidad Pontificia de Salamanca, Universidad de Málaga, Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC).
19 Creio não restar dúvidas quanto ao emprego do adjetivo historiador/historiadora. Trata-se, claro está, de intelectuais que desempenham atividades relacionadas aos campos da história e da historiografia.
20 O fenômeno não é incomum. Basta lembrar, sugestivamente, do escritor espanhol Jorge Semprún (1923-2011). Militante anti-franquista, combatente da resistência francesa até 1943 quando foi capturado e feito prisioneiro no campo de concentração nazista de Buchenwald. Libertado em abril de 1945, Semprún demorou cerca de 20 anos para verbalizar sua experiência, porque, segundo suas palavras, decidiu-se pela vida e não pela “memória da morte” (SEMPRÚN, 1994, p. 92).
21 A “função difusora” é sugerida por Devés-Valdés como uma questão que pode não só “aparentar” as redes intelectuais, mas expandi-las e dotá-las de identidade: elas têm essa função em virtude de sua capacidade de difundir temas, conceitos, metodologias. Por isso mesmo as redes se identificam e outorgam identidade a seus componentes, em relação aos paradigmas utilizados (DEVÉS-VALDÉS, 2007, p. 53).
22 Frações políticas ligadas a Juan Negrín (1892-1956), um dos líderes do PSOE – Partido Socialista Obrero Español, presidente do Conselho de Ministros da II República Espanhola entre 1937 e 1939. Exilado no México ao final da segunda guerra mundial.


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