Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


A reprodução de gênero no cuidado dos quintais no Brasil
Agroalimentaria, vol. 23, núm. 45, pp. 159-173, 2017
Universidad de los Andes

Artículos


Recepção: 07/11/2016

Revised: 13/11/2017

Aprovação: 29/11/2017

Resumo: A presente revisão teve como objetivo discutir a importância dos quintais na difusão da cultura e da medicina popular e a atuação das mulheres nesse processo, com destaque para a pluralidade das atividades desenvolvidas e para as diferenças entre os gêneros. Os quintais ainda persistem nas áreas urbanas, os quais ganham novos significados e utilidades ao longo do tempo. Nas comunidades tradicionais estes espaços dentre outros objetivos, abrigam uma flora diversificada com usos ornamentais, alimentícios, medicinais ou religiosos, sendo que alguns indivíduos da comunidade são os responsáveis pela transmissão do saber relacionado ao uso das plantas nestes locais. Entretanto, observa-se que a reprodução de tal prática implica também na reprodução da desigualdade de gênero. Após a análise de artigos científicos, foi observado que a mulher é a principal responsável pela manutenção do quintal, aplicação e difusão de conhecimentos gerados neste ambiente.Tais espaços propiciam a preservação de diversas espécies vegetais, estando associados à identidade cultural, aos costumes regionais e religiosos, fato que pode ser considerado estratégico para a manutenção da saúde da comunidade e da cultura. Por outro lado, verifica-se a reprodução das desigualdades de gênero, na medida em que sobre as mulheres recaem as tarefas do cuidado dos quintais, naturalizando-se esse papel. Do ponto de vista metodológico, o artigo se desenvolve por meio da abordagem qualitativa, buscando compreender os significados atribuídos pelas mulheres à cultura dos quintais e à medicina popular. Quanto aos instrumentos utilizados, detacam-se o levantamento bibliográfico e entrevistas guiadas por um roteiro com as sujeitas da pesquisa.

Palavras-chave: Brasil, conhecimento tradicional, desenvolvimento humano, etnobotânica, gênero, plantas medicinais.

Resumen: El presente artículo es una revisión que tuvo como objetivo principal analizar la importancia de los patios (jardines) de las viviendas particulares en la difusión de la cultura y de la medicina popular, así como el papel que juegan las mujeres en este proceso, destacando la diversidad de actividades desarrolladas y las diferencias entre los géneros. Desde el punto de vista metodológico el artículo es realizado por medsio del abordaje cualitativo, en la medida en que busca comprender los significados atribuidos por las mujeres a la cultura de los patios y medicina popular. En cuanto a los instrumentos utilizados, se detallan el levantamiento bibliográfico y entrevistas guiadas por un itinerario con las sujetas a la investigación. Dichos patios adquieren nuevos significados y usos a lo largo de los tiempos y persisten en muchas áreas urbanas. En las comunidades tradicionales estos espacios tienen por objetivo, entre otros, albergar una flora diversificada con usos ornamentales, alimenticios, medicinales o religiosos, en los que los individuos de la comunidad son los responsables de la transmisión de conocimientos relacionados con el uso de plantas en estos lugares. Sin embargo se observa que la reproducción de esta práctica también implica la reproducción de la desigualdad de género. Tras el análisis de diversos artículos científicos se observó que las mujeres son las principales responsables de la manutención de los patios, de la aplicación y de la difusión de los conocimientos generados en el entorno. Así mismo, los patios proporcionan la preservación de diversas especies de vegetales asociadas a la identidad cultural, las costumbres regionales y religiosas, que puede ser considerada estratégica para el mantenimiento de la salud de la comunidad y de su cultura. Por otro lado se constató la reproducción de las desigualdades de género, en la medida que corresponde a las mujeres cuidar los patios, naturalizando así ese papel.

Palabras clave: Brasil, conocimiento tradicional, desarrollo humano, etnobotánica, género, plantas medicinales.

Abstract: This article is a review aimed to discuss the importance of gardens in the dissemination of culture crops and folk medicine and the role of women in this process, highlighting the diversity of activities and the differences between genders. From the methodological point of view, the article is carried out through the qualitative approach, insofar as it seeks to understand the meanings attributed by women to the culture of backyards and folk medicine. As for the instruments used, the bibliographical survey and interviews guided by a script with the subjects of the research are highlighted. Backyards gain new meanings and uses over time and persist in urban areas. In traditional communities, these spaces are aimed, among others, harbor a diverse flora with ornamental uses, food, medicinal or religious, and some individuals in the community are responsible for the transmission of knowledge related to the use of plants in these locations. However, it is observed that the reproduction of this practice also involves the reproduction of gender inequality. After the analysis of scientific papers, it was observed that women are primarily responsible for maintaining the yard, application and dissemination of knowledge generated in this environment; and backyards provide the preservation of diverse plant species associated with cultural identity, regional and religious customs, which can be considered strategic for maintaining the health of the community and culture. On the other hand, if there playback gender inequalities, in that on the yards of women fall care tasks, naturalizing up this role.

Keywords: Brazil, ethnobiology, gender, human development, medicinal plants, traditional knowledge.

Résumé: Cette étude visait à discuter l’importance des jardins dans la diffusion de la culture et de la médecine traditionnelle et le rôle des femmes dans ce processus, en soulignant la diversité des activités et des différences entre les sexes.): D’un point de vue méthodologique, l’article est réalisé à travers l’;approche qualitative, dans la Mesure où il cherche à comprendre les significations attribuées par les femmes à la culture de la cour et de la médecine populaire. En ce qui concerne les instruments utilisés, l’;enquête bibliographique et les interviews guidées par un scénario avec les sujets de la recherche sont mises em évidence. Les jardins particuliers ont acquis de nouvelles significations et utilisations au fil du temps et persistent dans les zones urbaines. Dans les communautés traditionnelles, ces espaces sont destinés, entre autres, á abriter une flore diversifiée avec les plantes ornementales, la nourriture, les médicamenteux ou religieux, et certains membres de la communauté sont responsables de la transmission des connaissances liées à l’utilisation des plantes dans ces endroits. Cependant, on observe que la reproduction de cette pratique implique également la reproduction de l’inégalité entre les sexes. Après l’analyse de documents scientifiques, il a été observé que les femmes sont principalement responsables du maintien du jardin, l’application et la diffusion des connaissances générées dans cet environnement; et les jardins fournissent la préservation des espèces végétales diverses associées à l’identité culturelle, les coutumes régionales et religieuses, qui peut être considérée comme stratégique pour le maintien de la santé de la communauté et de la culture. D’autre part, on constate la reproduction des inégalités de genre, dans le sens où c’est sur les femmes que retombent les tâches hées aux jardins, naturalisant ainsi ce rôle.

Mots clés: Brésil, connaissances traditionnelles, développement humaine, ethnobotanique, genre, plantes médicinales.

1. INTRODUÇÃO

Após a fixação do ser humano nas áreas urbanas, os quintais se tornaram fontes de recursos vegetais para diversos fins. Neles são cultivadas plantas para usos alimentares, ornamentais, religiosos, em artesanatos ou como medicamentos. Uma grande diversidade de espécies utilizadas pelo ser humano foi preservada nestes espaços, que conta especialmente com o trabalho das mulheres. Neste artigo destaca-se o papel do feminino no cuidado dos quintais. Além disso destaca-se que tal manejo contribui para a conservação de recursos genéticos, na preservação do patrimônio cultural, na segurança alimentar e cuidados com a saúde de grupos familiares e pequenas comunidades.

Para além dos usos apresentados, importa dizer que o conhecimento sobre estas espécies foi transmitido de gerações para gerações, se constituindo um importante saber popular tradicional, patrimônio cultural de usos e costumes. Pasa (2011) observa que o conhecimento obtido pelo saber popular deve ser valorizado por meio de ações que viabilizem e garantam o uso de recursos naturais pelas populações, especialmente as plantas de uso medicinal. Os trabalhos de registro do conhecimento tradicional permitem o acesso a informações não só acerca das relações que permeiam homens e plantas, mas de espécies promissoras para pesquisas farmacológicas posteriores (Silva, Souza, Dias, Leite, Calvi & Santos, 2012). Neste sentido o presente artigo espera contribuir para a valorização de tal atividade de cultivo dos quintais.

De acordo com Pasa & Avila (2010) o quintal, além de ser uma unidade de paisagem alimentar, ornamental e medicinal, também é uma unidade de paisagem para a socialização de hábitos e para trocas culturais. A manutenção dos quintais requer um entendimento de que a dimensão que se vislumbra é de uma interconectividade entre ser humano e meio ambiente, mais especificamente entre seres humanos e plantas (Guarim Neto & Amaral, 2010).

Para Carniello, Silva, Cruz & Guarim Neto (2010), os quintais constituem um relevante espaço pedagógico onde pessoas de diferentes faixas etárias realizam cotidianamente experimentações sobre plantio e manejo de espécies vegetais. Tais práticas possibilitam a construção de conhecimentos novos ancorados nos tradicionais sobre o uso do solo, mas também sobre as espécies vegetais e seus usos medicinais. Tais saberes apresentam-se ancorados na história de vida, das relações estabelecidas com as plantas e com os grupos sociais (vizinhos e parentescos) com os quais compartilham a arte de plantar, colher e conservar.

No entanto, Amorozo (2002) alerta que quando comunidades tradicionais5 se tornam mais expostas à cultura e modos de vida dos centros urbanos, o conhecimento e o uso de plantas medicinais podem sofrer inicialmente um acréscimo, com o aumento das oportunidades de contato com espécies exóticas e informações sobre elas. No mesmo trabalho a autora conclui que à medida que este processo vai se aprofundando, ocasionando modificações nas formas de apropriação e de uso da terra, com a substituição de ambientes naturais por artificiais, a tendência é que a diversidade de plantas utilizadas com fins terapêuticos se torne restrita às espécies cultivadas e às invasoras cosmopolitas; ou seja, pode-se dizer que novos valores se sobrepõem aos antigos e, no ambiente urbano, aumentam o acesso a cuidados institucionalizados com a saúde.

Por outro lado, os espaços urbanos também possibilitam acessar uma maior variedade de plantas comercializadas informalmente por raizeiros ou lojas especializadas em comércio de produtos herbários (Soares, 2009), que poderiam ser inviáveis cultivar em espaços reduzidos.

Outra questão apresentada pelos trabalhos é que homens e mulheres possuem funções e interações sociais diferenciadas nos quintais, isto é, o gênero pode ser considerado um elemento chave para determinar as variações intraculturais do conhecimento (Pfeiffer & Butz, 2005). Muitos levantamentos sobre o conhecimento popular relacionado ao uso das plantas nos quintais identifica a mulher como a mais atuante e também como maior detentora destas informações.

De acordo com Costantini (2005), nos quintais agroflorestais se evidencia mais o trabalho feminino, onde geralmente é a mulher que desempenha o papel mais importante na sua formação e na sua manutenção, devido à proximidade com a casa e o fato dos produtos originados desse quintal influenciarem diretamente na dieta alimentar da família (como, por exemplo, frutas, hortaliças, condimentos, plantas medicinais e pequenos animais).

Pode-se constatar isso na fala de dona Ana Ramos, dona de casa, moradora de uma agrovila no município de Itaberá (entrevista, apudRibeiro, 2002): «A horta de verduras também é de todo mundo. Ela é bem maior. E quem cuida também são as mulheres, mas é trabalho da cooperativa. E o da horta medicinal é diferente, é de mulheres também, mas é fora da cooperativa».

O reconhecimento das diferenças de gênero na utilização de recursos e do conhecimento não é apenas importante para a pesquisa etnobiológica, pois é também fundamental para a conservação da biodiversidade, a revitalização cultural e o gerenciamento de recursos naturais (Pfeiffer & Butz, 2005).

O presente artigo espera contribuir com um diálogo interdisciplinar ao propor um estudo que entrelaça conhecimentos sobre os quintais, as questões de gênero e a preservação do patrimônio cultural e ambiental. Para tanto, aborda-se neste texto referências ao manejo dos quintais, a possibilidade que apresentam para a conservação de recursos genéticos ou mesmo contribuições para a ampliação da diversidade genética dos cultivos, da segurança alimentar e da economia local. Em outra frente de reflexão, o artigo apresenta uma divisão de gênero relacionada ao trabalho desenvolvido nos quintais, de forma que se torna importante pensar sobre as desigualdades, a desvalorização e a invisibilidade relacionadas a este fazer, assim como o acúmulo de trabalho por parte das mulheres. Por fim, a questão da preservação do patrimônio cultural relacionado à manutenção de saberes das comunidades tradicionais muitas vezes ameaçados frente às migrações campo-cidade.

Diante do exposto, o presente estudo, por meio de uma abordagem qualitativa, teve como preocupação contribuir para que se possa compreender os significados atribuídos à cultura dos quintais e medicina popular, descrevendo a importância da atuação das mulheres nos quintais, com destaque para a pluralidade de atividades desenvolvidas e as diferenças de gênero. Para tanto, foram utilizados dois instrumentos de pesquisa. O primeiro, um levantamento de dados na literatura científica a partir da seleção e leitura de livros, artigos científicos, trabalhos em congressos, teses e dissertações, tendo como principal base documental o Banco de Teses e Dissertações da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. E, o segundo, o levantamento bibliográfico e entrevistas guiadas por um roteiro que conduziu as conversas com as mulheres. As entrevistas foram gravadas e transcritas, seguindo os procedimentos metodológicos da história oral (Meihy & Ribeiro, 2011) para o registro de narrativas. Deste modo, os trechos que compõem o presente texto mostram como essas mulheres se ocupam desta atividade nos quintais, marcando as questões de gênero neste fazer. Os excertos de entrevistas apresentados são oriundos de duas pesquisas, a primeira sistematizada em uma dissertação de mestrado (Ribeiro, 2002) e outra ainda inédita, que ganha neste artigo sua primeira referência.

Assim, o presente estudo objetiva refletir sobre a importância da atuação das mulheres nos quintais, com destaque para a pluralidade de atividades desenvolvidas e as diferenças de gênero.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A IMPORTÂNCIA DOS QUINTAIS

O quintal é um sistema que consiste, de forma geral, em uma combinação de árvores, arbustos, trepadeiras, herbáceas, algumas vezes em associação com animais domésticos, crescendo adjacentes à residência (Carneiro, Camurça, Esmeraldo & Sousa, 2013), o que pode diferir da ideia de «quintal» em áreas urbanas. De acordo com Lamont, Eshbaugh & Greenberg (1999), os quintais representam uma forma tradicional de uso da terra comum em regiões tropicais do mundo e a composição de espécies, estrutura e função dos quintais pode ser influenciada por fatores ecológicos, socioeconômicos e culturais. Oakley (2004) observa que os quintais domésticos são reservatórios de agrobiodiversidade em comunidades rurais mundo afora.

Na pesquisa de Amaral & Guarim Neto (2008), os quintais apresentam uma série de funções, as quais podem ser resumidas nos seguintes itens: econômica, agroecológica e sociocultural. Nesse sentido, segundo os autores, «esses espaços representam mais do que um simples sistema de produção, pois a maioria das atividades domésticas ocorre fora da residência, onde a reprodução de um saber local é exercitada cotidianamente nas mais diferentes situações» (p. 340).

São denominados de quintais agroflorestais, os espaços destinados ao cultivo de diversas plantas, entre elas, as frutíferas que geralmente estão localizados nas extremidades da casa, dentro da propriedade rural. São vistos como um sistema que garante melhor qualidade na alimentação de seus proprietários (Sousa, Vieira & Lustosa, 2013).

Para Santos et al. (2013), os quintais da Ilha Mem de Sá, Sergipe, além de colaborar como a busca da segurança alimentar, são espaços de preservação do conhecimento tradicional6. Acrescentam que cada morador desenvolve uma maneira diferenciada de cuidar e utilizar os arredores de sua casa, sendo que alguns priorizam as plantas medicinais e condimentares, outros preferem realizar o plantio de hortaliças.

Para Sousa et al. (2013), os quintais se constituem como um sistema de uso da terra de fundamental importância à qualidade de vida dos agricultores, ao modo que a renda familiar é função da densidade, riqueza e tamanho destes espaços (idem). Os quintais são espaços de resistência no ambiente urbano, que garantem a interação do homem com elementos do mundo natural, e fácil acesso para os moradores cultivarem diversas espécies com funções estéticas, de lazer, para alimentação e medicinais (Siviero, Delunardo, Haverroth, Oliveira & Mendonça, 2014).

Além disso, algumas dessas plantas também são empregadas para proteção do lar ou contra mauolhado. Alguns exemplos de plantas de uso na medicina popular, ritual e proteção são o abacateiro (Persea americana), alecrim (Rosmarinus officinalis), amendoin (Arachis hypogaea), comigoninguém- pode (Dieffembachi picta Nicotiana tabacum), arruda (Ruta graveolens) e fumo (Nicotina tabacum) (Camargo, 1998). Religiões como o candomblé, possuem uma grande dependência das plantas para a realização dos rituais, empregadas em banhos, defumações, ornamentação e facilitadores do estado de transe.

Além de várias espécies de plantas cultivadas nos quintais, pode haver presença de animais que podem ser utilizados tanto para o próprio sustento como para um pequeno comércio, que é realizado, ou na frente das próprias residências ou nas feiras (Pasa & Avila, 2010). Porém, na maioria dos municípios não é permitida a criação de animais para uso próprio na alimentação.

Quanto à sustentabilidade, Altieri (1999) destaca que os sistemas de quintais, além de diversificar a dieta e retorno financeiro, proporcionam a redução da incidência de pragas nas plantas cultivadas, o uso eficiente da mão-deobra, boa produção com recursos limitados e níveis tecnológicos baixos.

Oakley (2004) afirma ainda que as mulheres preservam a biodiversidade por meio de plantações com alta densidade de espécies subutilizadas, transformando seus quintais em laboratório de experiências para a adaptação de variedades locais e não domesticadas.

Estudos etnobotânicos realizados em quintais urbanos, especialmente na Amazônia, podem contribuir para a compreensão e a conservação de recursos genéticos e culturais. Em Rio Branco, Acre, foram criados diversos bairros periféricos, nos quais os quintais das moradias apresentam grande número de espécies vegetais alimentares (Siviero et al., 2014).

Para Guarim Neto & Amaral (2010), a prática de reprodução dos elementos da paisagem em que viviam antes da migração ainda bastante forte nos quintais, justifica a necessidade de conservação desses espaços, uma vez que reproduzem uma cultura imaterial de pessoas que tradicionalmente ali se instalaram ao longo do tempo. Para Siviero et al. (2014) os estudos etnobiológicos de quintais geralmente se concentram no funcionamento, na composição ecológica ou na contribuição econômica, e são importantes para a conservação de espécies e do patrimônio cultural em espaços urbanos ameaçados.

Badke, Budó, Silva & Ressel (2011) relatam que o quintal é um espaço do conhecimento popular que pode ser utilizado como um instrumento de proximidade, autonomia e de valorização da cultura de cada ser cuidado por nós.

Carniello et al. (2010), com relação a este tema destacam em seu artigo que é estreita a relação dos de migrantes vindo para Mirassol D’Oeste, Mato Grosso, com as suas regiões de origem, reproduzindo em quintais mato-grossenses réplicas de quintais do sul e sudeste do Brasil, inclusive com espécies típicas. Os autores complementam que a não presença de espécies arbóreas nos quintais localizados em Mirassol é devido aos riscos à estrutura das edificações, exemplificado na fala de um dos entrevistados «eu gosto de árvores de sombra, mas a raiz acaba derrubando a minha casa e do vizinho também. Já tive que derrubar uma mangueira por esse motivo».

Os quintais localizados na área urbana de Rosário Oeste, Mato Grosso, também mantêm a tradição e os aspectos típicos de um ambiente rural da região de origem de seus moradores (Amaral & Guarim Neto, 2008). Os autores citam que as pessoas reproduzem nos quintais as suas antigas roças, especialmente de espécies alimentares, ao mesmo tempo em que criam pequenos animais domésticos, como cães, gatos e galinhas. No mesmo local podemse observar outros costumes e objetos típicos do campo, como pilões, fogões a lenha, fornalhas e jiraus.

Nos artigos relacionados aos quintais, e também no presente texto, se observa que sua importância não está relacionada apenas à produção de alimentos, tanto de origem vegetal quanto de origem animal. Sua importância está relacionada também à preservação de tradições, do artesanato local e na geração de renda – questão de grande relevância para estas populações. Observa-se também que os quintais representam uma resistência ao avanço da urbanização e ao estabelecimento da valorização da cultura local.

2.2. PREDOMINÂNCIA DO GÊNERO FEMININO NOS QUINTAIS

Nos quintais, os trabalhos realizados entre os gêneros se diferenciam quanto ao acesso, uso e manejo dos recursos vegetais (Martin, 1995; Camou-Guerreiro, Reyes-García, Martínez-Ramos & Casas, 2008).

As mulheres conhecem mais plantas exóticas porque suas atividades cotidianas, relacionadas ao cuidado da família, são desenvolvidas em ambientes que as deixam mais próximas a residência, onde entram em maior contato com roças e quintais, enquanto os homens conhecem mais espécies nativas devido ao seu envolvimento em atividades que proporcionam uma maior proximidade aos ambientes de florestas naturais da região (Lunelli, 2014).

A afirmativa de que as mulheres conhecem mais plantas exóticas porque suas atividades cotidianas são desenvolvidas no âmbito doméstico, visando o cuidado da família, traz algumas questões para se pensar o papel da mulher na família e na sociedade na medida em que esses papéis foram historicamente e socialmente a ela atribuídos. Dessa maneira se reproduzem as desigualdades de gênero, às quais expressam as assimetrias e hierarquias nas relações entre homens e mulheres.

O gênero foi a primeira forma de divisão do trabalho. Tal fato está relacionado ao surgimento da «civilização», que marca o declínio da mulher e a ascensão do homem no núcleo familiar (Marx & Engels, 1989 [1884]). Nas sociedades cristãs, também é restrito a mulher o direito à «palavra» na transmissão do conhecimento teórico do sagrado, ficando relegadas a uma retórica da vida cotidiana e dos cuidados domésticos (Deifelt, 1996).

Na direção da reprodução, o conceito «cuidado» é compreendido «como atividade feminina, não remunerada, sem reconhecimento nem valoração» (Gama, 2014, p. 47). Envolve assim, segundo a autora, tanto o cuidado material, quanto imaterial, implicando vínculo afetivo e emocional.

Entretanto, ainda que o cuidado contenha elementos subjetivos, ao mesmo tempo, contém elementos que se voltam a um determinado modelo de sociedade, que se utiliza do trabalho doméstico/cuidado para sua própria reprodução, reforçando estereótipos de gênero. No cuidado com a família está imbricada a visão de que lugar de mulher é no âmbito privado/doméstico – situação que é objeto de muitas lutas do movimento feminista para conquista da autonomia e emancipação das mulheres.

O trabalho do cuidado se dá no âmbito privado, logo não tem importância, porque, segundo Duarte (2010), é marcado pela invisibilidade na lógica da produção de valores na sociedade capitalista.

Assim, ainda que a atividade de cuidado das plantas dos quintais contenha a riqueza cultural à qual deve ser preservada, do ponto de vista das relações de gênero deve ser repensada, de forma que não reforce as desigualdades de gênero; ou seja, que as mulheres repassem os seus conhecimentos às novas gerações, tanto às meninas como aos meninos, desconstruindo a assimetria de gênero.

Por outro lado, as pessoas mais velhas tiveram mais oportunidades de conhecer e utilizar a vegetação nativa da região, que em outros períodos possuía acesso livre, sendo o conhecimento mais pronunciado entre pessoas mais idosas, notadamente entre 30 e 80 anos (Voeks, 2007; Lunelli, 2014). Isso é bastante presente na fala da trabalhadora doméstica Luciana Oliveira, que em entrevista conta como sua mãe tornou-se a grande guardiã destes saberes na família, enquanto que as mais jovens tentam aprender um pouco pela tradição oral:

Não sei a função de todas as ervas e plantas, não. Minha mãe na verdade é que sabe. Ela faz geralmente a noite chá de camomila que é calmante, pra dormir. (...) Ela aprendeu da minha avó, minha tataravó, toda a família! Conhecimentos de muitos e muitos anos. E raramente tem alguém que saiba fazer. Eu conheço só no caso a minha mãe mesmo. Não conheço mais ninguém.

Enquanto para os mais jovens o conhecimento sobre plantas nativas tornou-se mais limitado pelas restrições legais de acesso aos recursos, assim estes passam a conhecer mais sobre as exóticas (Lunelli, 2014).

Essa arte vem passando de geração em geração por meio da tradição oral, observação e experiência prática. Em todos os períodos de suas vidas, as mulheres estão, em alguma medida, envolvidas com o cultivo nos quintais. O fato de que as mulheres fiquem reclusas em casa, segundo as tradições culturais de Bangladesh, faz com que elas cooperem entre si nas tarefas ligadas aos quintais. Isto incentiva o fluxo de informação sobre seleção de espécies para plantio, os métodos de plantio e seu manejo (Oakley, 2004).

Além disso, mulheres jovens têm acesso às variedades locais através da herança materna ou de suas sogras. Isso fica bastante evidente na fala de Ana Ribeiro, professora aposentada, moradora de Pindamonhangaba – SP que, durante toda a vida fez uso de ervas medicinais conforme aprendeu, principalmente com as mulheres de sua família:

Eu aprendi a usar esses remédios caseiros com a minha mãe, com a minha sogra, com as minhas avós. (...) O guaco, por exemplo, fica gostoso também se você faz um xaropinho que é muito bom pra tosse, tira aquele catarro. Eu faço bastante para os meus netos e para os amigos que não conhecem. Esse também aprendi com a minha mãe. Minha mãe sempre fez para todos e até hoje nós somos adeptos.

Noivas frequentemente trazem consigo sementes de sua comunidade natal quando se casam, promovendo, dessa forma, uma difusão das variedades. O alto fluxo de intercâmbio de sementes no interior e entre comunidades vizinhas contribui para a diversidade genética dos cultivos (Oakley, 2004).

Para House & Ochoa (1998), a mulher tem uma percepção multidimensional, buscando ampliar a biodiversidade de sua roça, ao passo que o homem possui ponto de vista unidimensional, empenhando-se em melhorar o rendimento de algumas espécies em particular.

Muitas pesquisas sobre o conhecimento popular a respeito de plantas medicinais que ocorrem nos quintais ou nos arredores da residência demonstram que as mulheres correspondem à maior parcela dos entrevistados. Em pesquisa realizada em Santo Antônio do Leverger, Estado do Mato Grosso, dos 24 adultos entrevistados escolhidos com base no conhecimento com relação ao uso de plantas medicinais e procedimentos terapêuticos, 15 foram mulheres (Amoroso, 2002).

Nos quintais do bairro da Muribeca, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, as informações sobre o uso e manejo das espécies foram obtidas a partir de 14 entrevistas, sendo os informantes na sua maioria mulheres (12) (Moura & Andrade, 2007). A maioria dos entrevistados no município de Ouro Verde de Goiás, Goiás, foi do sexo feminino (82% do total amostrado); e os autores sugerem que a elevada porcentagem de mulheres entrevistadas pode ser explicada por três fatores: a maioria delas realiza trabalhos domésticos e são mais fáceis de serem encontradas na residência; geralmente são as responsáveis pelo preparo dos remédios caseiros; acredita-se que os homens estão ausentes no domicílio no período matutino e/ou vespertino em que as entrevistas são efetuadas (Silva & Proença, 2008).

Para Rosa (2002), a divisão de trabalho no universo da agricultura familiar é uma estratégia dos agricultores para maximizar a eficiência da mão-deobra familiar. De acordo com esta autora, neste contexto, a mulher representa uma grande força de trabalho na unidade familiar, pois além das atividades produtivas, ela ainda realiza tarefas domiciliares, que englobam diversos serviços domésticos, inclusive a formação e manutenção dos quintais agroflorestais. Na fala de dona Ana Ramos pode-se notar esta organização dos trabalhos:

Tem também o serviço do coletivo das mulheres, da farmacinha e da horta medicinal. Agora está meio sem serviço, mas quando tem bastante coisa para fazer, a gente vai trabalhar na horta dois ou três dias por semana... mas não o dia inteiro... Trabalha umas duas horas, sempre das 10 ao meio dia, e volta para casa. Assim dá tempo de fazer todo o serviço da casa e ir lá.

Por outro lado, segundo Carneiro et al. (2013), as relações de gênero merecem forte atenção quando se remete ao quintal produtivo, tendo em vista que são as mulheres, salvas raríssimas exceções, que cuidam das atividades relacionadas aos quintais. A produção de alimentos e criação de pequenos animais nos quintais também é desenvolvida, em sua maioria pelas mulheres. Neste sentido, constata-se que seu trabalho contribui de maneira significativa para segurança alimentar e a economia local, apesar de seu trabalho como produtoras manter-se invisibilizado. Ainda, destacam uma fala de um dos entrevistados: «Pra mim o quintal é o arredor da casa onde a gente faz a horta, planta o milho...».

Em quintais agroflorestais de Caruaru, Pernambuco, do total de 25 pessoas responsáveis pela manutenção das práticas em suas respectivas propriedades, 17 eram mulheres (Florentino, Araújo & Albuquerque, 2007). Em São Miguel, Rio Grande do Norte, os mantenedores dos quintais de 20 famílias do Sítio Cruz foram entrevistados, sendo 18 do sexo feminino (90%) e apenas dois do sexo masculino, indicando assim a predominância da mulher nas atividades realizadas nos quintais, devido principalmente, à proximidade desses espaços às residências dessa comunidade (Freitas, Coelho, Maia & Azevedo, 2012).

Em levantamento etnobotânico (Silva, Fagundes, Coutinho, Soares, Campos & Figueiredo, 2012), nos quintais urbanos da cidade de São João da Ponte, Minas Gerais, a maioria dos entrevistados era do sexo feminino 77% e 23% do sexo masculino. Os autores concluíram que há predomínio das mulheres no cuidado com a saúde da família.

Freitas (2013), em levantamento efetuado no espaço doméstico dos quintais na comunidade São João da Várzea, localizada em Mossoró, Rio Grande do Norte, observou que dos informantes, 15 (i.e., 68%) eram do sexo feminino e sete (32%) do sexo masculino. Conforme já citado em estudo anterior, a pesquisadora alerta que o fato dos homens lidarem com atividades externas aos arredores das residências, remuneradas ou não, pode ter colaborado para sua ausência no domicílio nos horários das entrevistas, já que estas ocorreram nos períodos matutino ou vespertino.

Pode-se considerar que essa predominância do sexo feminino seja pelo fato de a mulher ser a cuidadora por excelência, pois, culturalmente, é ela quem realiza os cuidados no seio familiar (Badke et al., 2011). Essa perspectiva pode ser explicada pela cultura predominante patriarcal e machista na qual cabe às mulheres o cuidado com a família e à educação dos filhos. Essa prática é socialmente construída pela ótica de gênero e também está referida à divisão sexual do trabalho na sociedade capitalista na medida em que nesta sociedade, conforme Cisne (2012, p.134), «os trabalhos de homens e mulheres não são apenas segmentados segundo o sexo, mas hierarquizados».

Na atual divisão sexual do trabalho, conforme a autora, ocorre a naturalização dos papeis e funções femininas e do desenvolvimento de habilidades ditas femininas, voltadas a manter a dominação do homem sobre a mulher. Assim, as desigualdades de gênero são reproduzidas no âmbito das famílias «cuja divisão sexual do trabalho impõe às mulheres a responsabilidade por administrar, cuidar, zelar e dedicar-se aos trabalhos domésticos e cuidados com os membros do grupo familiar» (Silva & Tavares, 2015, p. s/p).

2.3. DIVISÕES DAS FUNÇÕES NOS QUINTAIS CONSIDERANDO A FAMÍLIA

Segundo Winklerprins (2002), cerca de 70% dos quintais do Pará são mantidos sob a responsabilidade da mulher. Avaliando-se as práticas de manejo isoladamente, observou-se que há uma distribuição das atividades; ou seja, nas áreas de monocultura os cuidados são de responsabilidade dos homens, restando para as esposas e os filhos os cuidados com as espécies frutíferas, ornamentais e condimentares. O papel das mulheres nos quintais é fundamental na manutenção e na decisão das espécies a serem cultivadas, sobretudo das ornamentais e medicinais. Como se nota na fala da dona Ana Ramos, existe a noção de que a escolha de determinadas culturas traz um relevante impacto financeiro na economia doméstica das famílias, gerando economia por conta de não ser mais necessário comprar aquilo que se planta e colhe:

No terreiro aqui de casa tem várias coisas plantadas, tem mandioca, laranja, couve, chuchu... E isso ajuda na economia da casa. Verdura tem quase tudo, porque tem a hortona. Também gosto de plantar alguma coisa para dar para as galinhas. Na parte de comer de verdura tem tudo!

Em alguns casos as mulheres são as mantenedoras diretas das práticas (12,5%). Todas as atividades exercidas nos quintais são realizadas diariamente de forma manual, executada somente pelos membros da família. Em 60% das propriedades analisadas a tarefa de cultivar e manejar os quintais é atribuição das donas-de-casa; nos demais estabelecimentos o marido os filhos, juntamente com a dona-de-casa, são os responsáveis por tais atribuições (Rondon Neto, Byczkovski, Winnicki, Simao & Pasqualotto, 2004).

Como muitas vezes o manejo dos quintais é considerado extensão das atividades domésticas, em pesquisa efetuada por Costantini (2005), algumas agricultoras manifestaram não gostar que outros manejem seu quintal, como pode ser constatado no depoimento de uma das entrevistadas:

Só eu; se outro for trabalhar parece que não faz do meu jeito! Hoje eu já tive debulhando um pouquinho de alho ali para plantar, né? Eu planto, mas eu gosto de plantá na minguante de maio, então tô esperando prá plantá.

Às vezes os quintais são manejados pelos casais, mas a forte presença é do trabalho feminino, uma vez que, de acordo com relatos, o homem participa do manejo quando não tem outras atividades para realizar, como é o caso dos trabalhadores da construção civil, como relata uma agricultora: «Quem trabalha mais envolta da casa sou eu, né? Meu marido, só quando ele não tá trabalhando fora» (Costantini, 2005).

Todos os membros da família participam da implantação e manejo dos quintais, porém a participação da mulher na condução dos quintais agroflorestais é maior, comparado à participação dos demais membros familiares (Rosa, Silveira, Santos, Modesto, Perote & Vieira, 2007). Apesar da participação de toda a família na implantação e condução dos quintais, as mulheres possuem expressiva importância no manejo desses ambientes, sendo responsáveis pela maioria das atividades desenvolvidas nos mesmos (Freitas et al., 2012).

Embora exista participação de toda a família na implantação e na condução dos quintais, as mulheres possuem expressiva importância no manejo desses ambientes, sendo responsáveis pela maioria das atividades desenvolvidas (Freitas, 2013).

Em levantamento etnobotânico observou-se uma divisão empírica de atividades e funções, onde a mulher é responsável pelos serviços domésticos e pelo manejo dos quintais, provavelmente devido à proximidade desses espaços às residências (Freitas, 2013).

2.4. FUNÇÕES E ATIVIDADES DO GÊNERO FEMININO NOS QUINTAIS RELACIONADAS ÀS PLANTAS MEDICINAIS

As mulheres desempenham papel fundamental na decisão das espécies a ser cultivadas, principalmente quando se trata de plantas medicinais e ornamentais (Freitas, 2013). Vários estudos corroboram essa característica (Dubois, 1996; Rosa, Silva, Melo & Cabral, 1998; Almeida, 2000; Winklerprins, 2002; Rondon Neto et al., 2004; Vieira, Rosa, Vasconcelos, Santos & Modesto 2007; Rosa, Silveira, Santos, Modesto, Perote & Vieira, 2007).

Em estudos etnobotânicos, os quais possuem o objetivo de levantar o conhecimento popular sobre o uso da flora, é comum a predominância de informantes do sexo feminino. Este fato pode ser explicado pela manutenção das desigualdades de gênero, segundo a qual, para muitas famílias, sobretudo as mais tradicionais, o lugar das mulheres é em casa, voltada para os cuidados familiares como a alimentação, à saúde dos membros, dentre outros aspectos. Isto se observa nos artigos analisados.

Segundo Rodrigues & Casali (2002), as mulheres são grandes detentoras do conhecimento sobre plantas medicinais, possuindo importante função no processo de transmissão. Isto se deve provavelmente à responsabilidade atribuída à mulher no cultivo e preparo de plantas medicinais, bem como nos cuidados empregados às crianças e outros membros da família quando estes são acometidos por alguma doença, apesar de as lutas das mulheres pela igualdade de gênero ter alcançado patamares significativos, como a sua inserção no mercado de trabalho, ainda persistem visões machistas acerca do «lugar» das mulheres na sociedade (Gama, 2014).

Do ponto de vista das mulheres que detêm saberes acerca das plantas medicinais, pode-se inferir se tratar de famílias que guardam traços ainda tradicionais no que tange à divisão sexual do trabalho e às formas de organização.

Em estudos etnobotânicos sobre plantas medicinais, os quais possuem o objetivo de levantar o conhecimento popular sobre o uso da flora, é comum a predominância de informantes do sexo feminino, como se observa nos artigos analisados. Segundo Rodrigues & Casali (2002), as mulheres são grandes detentoras do conhecimento sobre plantas medicinais, possuindo importante função no processo de transmissão. Isto se deve provavelmente à responsabilidade atribuída à mulher no cultivo e preparo de plantas medicinais, bem como nos cuidados empregados às crianças e outros membros da família quando estes são acometidos por alguma doença.

A riqueza de plantas medicinais mesmo sendo a maioria de origem exótica, reflete a conservação da diversidade agrícola incidental pelo uso. Os principais responsáveis pela manutenção da riqueza de espécies de uso medicinal nos quintais urbanos são as mulheres, notadamente aquelas com idade superior a 50 anos podendo ser consideradas como guardiãs e manejadoras de verdadeiros ‘hotspots’ de diversidade agrícola (Wezel & Bender, 2003).

As plantas medicinais e condimentares de porte herbáceo são cultivadas em áreas restritas onde recebem maiores cuidados, geralmente próximo à cozinha, pois facilita os cuidados, uma vez que a mulher é a principal responsável por essas espécies (Florentino et al., 2007; Garcia, Domingues, Rodrigues & Rodrigues, 2010). Essa condição também foi verificada por outros autores (Freitas et al., 2012; Lamont et al., 1999; Murrieta & Winklerprins, 2003; Siviero, Delunardo, Haverroth, Oliveira & Mendonça, 2012; Wezel & Bender, 2003).

No meu quintal eu tinha hortelã, que é realmente muito bom. É uma delícia o chá. É calmante, e muito gostoso. E é usado como tempero, no quibe, por exemplo. Não tem quibe sem hortelã. E também no suco de abacaxi, coloca uma hortelazinha ali e dá um gosto especial.

De fato, estudos destacaram a importância das mulheres no conhecimento a respeito de plantas alimentícias e medicinais, pelo fato delas estarem envolvidas diretamente no preparo das refeições e dos remédios (Camou-Guerreiro et al., 2008; Guimbo, Muller & Larwanou, 2011).

Em levantamento etnobotânico de plantas medicinais nos quintais de um bairro urbano, próximo à zona rural no município de Ituiutaba, Minas Gerais, visando resgatar e identificar o conhecimento local a respeito das plantas medicinais, os entrevistados (35 mulheres e 5 homens) citaram 72 espécies de plantas medicinais (Liporacci & Simão, 2013).

De acordo com Pasa (2011), as mulheres, quase sempre envolvidas diretamente no tratamento de seus filhos e maridos, geralmente são as principais depositárias do saber popular quanto ao uso das plantas.

Freitas et al. (2012), após levantamento etnobotânico das espécies medicinais dos quintais do Sítio Cruz, localizado no município de São Miguel, Estado do Rio Grande do Norte, concluíram que nos quintais há grande diversidade de espécies medicinais usadas pela comunidade para tratar doenças, com destaque para doenças relacionadas ao sistema respiratório. Observou-se que as folhas foram as partes da planta mais utilizadas, principalmente na forma de chá e lambedor, e que a mulher desempenha papel fundamental no cultivo e no uso das plantas e na manutenção dos quintais e dos espaços que o compõem.

Como as mulheres quase sempre se envolvem no tratamento de seus filhos e maridos, estas se tornam as principais depositárias do saber popular quanto ao uso das plantas medicinais (Pasa, 2011). Freitas (2013) complementa que em função deste conhecimento, é atribuída às mulheres a função de cultivar plantas medicinais, dentre outras, nos quintais. E entre elas acaba por se desenvolver uma rede solidária de compartilhamento de saberes e de espécies, como está marcado na fala de Ana Ribeiro:

(...) hoje não tenho mais esses remédios. O guaco, por exemplo, uma amiga que tem um pezinho maravilhoso. Então, toda vez que eu preciso do xaropinho, ela me passa. Passo lá e ela me dá. A Sueli, a pessoa que trabalha comigo faz 14 anos, também tem na casa dela e traz para mim o guaco, a folha de amoreira e a hortelã. A hortelã tem na casa da minha filha, na casa de uma cunhada. Enfim, a gente vai trocando.

Apesar de a menor quantidade de espécies medicinais serem cultivadas em vasos ou recipientes (16%), estas recebem cuidados adicionais, como por exemplo a utilização de adubação orgânica, cuidados com a drenagem do solo e disposição das plantas em locais sombreados (Freitas, 2013). Esse cuidado com o sombreamento de algumas espécies também foi abordado por Florentino et al., (2007) em estudo sobre quintais realizado em Caruaru, Pernambuco.

De acordo com Silva et al. (2012), o cultivo e a utilização das plantas medicinais, predominantemente dominado pelas mulheres, se constituem em uma alternativa de baixo custo quando comparada aos medicamentos convencionais, além de se apresentar como um importante meio na conservação das espécies cultivadas e do conhecimento transmitido através das gerações. Este conhecimento se encontra já em risco de desaparecer (Silva et al., 2012).

Contudo, reforça-se que está presente nesses contextos a reprodução das desigualdades de gênero e da divisão sexual do trabalho. Nesse sentido, entende-se que o desafio está em romper com as desigualdades de gênero presente nessas relações familiares, construindo-se nova divisão sexual do trabalho, para que de forma igualitária, homens e mulheres possam contribuir com a perpetuação das espécies medicinais.

3. CONCLUSÕES

É possível concluir que os quintais ganham novos significados e utilidades ao longo do tempo, especialmente no processo migratório, do rural para o urbano, sendo a mulher a principal responsável por sua manutenção, aplicação e difusão de conhecimentos. Assim indicam-se dois pontos conclusivos para este artigo, referente a ideias desenvolvidas anteriormente.

O primeiro diz respeito a questões relacionadas à cultura do local, a preservação do patrimônio cultural e ambiental, onde os quintais são instalados. Frente ao forte movimento populacional que caracteriza a urbanização brasileira, os quintais representam a possibilidade de preservação de aspectos de culturais de comunidades tradicionais do campo, assim como possibilitam o uso e preservação de uma maior diversidade de plantas, seja de uso medicinal, alimentar ou ritual, ajudando a preservar a identidade cultural, costumes regionais, religiosos e como estratégia de manutenção da saúde. Desta forma, os quintais podem ser caracterizados como verdadeiras escolas para a difusão da cultura e da medicina popular;

O segundo faz referência aos sujeitos que desempenham as ações relacionadas ao cuidado dos quintais. A partir do que foi apresentado no levantamento bibliográfico e apontado pelos narradores entrevistados, é adequado concluir que os quintais são local em que as mulheres possuem papel de destaque. De forma que, atualmente, passa a ser indissociável a relação entre manejo dos quintais e trabalho feminino. Vale frisar que o aprendizado proporcionado por este fazer é muitas vezes passado de mãe para filha. Nesta escola da cultura cotidiana, o interesse das mulheres é marcado como nota-se na fala de Luciana Oliveira:

Só as mulheres mesmo. Os homens… (risos). Dos meus filhos, mais a Carol. Porque ela tem mais interesse, às vezes pesquisa alguma coisa. O Lucas cortou o pé esses dias, daí a minha irmã ensinou para ele de pegar uma plantinha que a gente chama de Merthiolate e esfregar o líquido dela na ferida. Mas por ele mesmo não tem tanto interesse.

Neste excerto de entrevista Luciana aponta que ela, sua irmã e a filha Carol são guardiãs do conhecimento, enquanto seu filho não demonstra interesse nestes fazeres. Cabe destacar com isso que essas mulheres são responsáveis pela transmissão do saber relacionado ao uso das plantas nas comunidades das quais fazem parte. Além disso, retomando o apontado por Carniello et al. (2010), pode-se perceber que os quintais constituem um importante espaço pedagógico, em que as diferentes faixas etárias transmitem e produzem conhecimentos cotidianamente no manejo de espécies.

Desta maneira, retoma-se o argumento de Silva & Proença (2008), trabalho estudado neste artigo que relacionou a porcentagem de mulheres entrevistadas a seu tempo de permanência nas casas ao estarem envoltas em trabalhos domésticos, mas também por serem elas as responsáveis, como afirmam Luciana Oliveira e Ana Ramos, pelo preparo dos remédios caseiros.

Entretanto, observa-se que a reprodução de tal prática implica também na reprodução da desigualdade de gênero, posto que a cultura dos quintais para algumas comunidades rurais ainda é vista como uma atividade secundária, que pode ser praticada pela mulher em seu tempo entre outros afazeres. Fazendo com que isso seja somado a outras atividades de trabalho do cotidiano feminino.

Ressalta-se, portanto, a necessidade de reflexão sobre a reprodução das desigualdades de gênero, na medida em que sobre as mulheres recaem as tarefas do cuidado dos quintais, que por vezes não é valorizado pelo grupo social. Esse alerta relaciona-se à naturalização de um papel relacionado ao desempenho de atividade considerada «menos importante», ou seja, o cuidado dos quintais. De forma hierarquizada, as mulheres permanecem com seus trabalhos domésticos como principais e os quintais parecem não ser considerados como importantes.

Torna-se importante ponderar que a mulher permanece com o acúmulo do trabalho doméstico mesmo nos casos estudados Rondon Neto et al. (2004) em que 40% das atividades exercidas nos quintais são realizadas pelos membros da família, posto que posto que como afirmou Freitas et al. (2012) a mão de obra é feminina na maioria das atividades desenvolvidas. Esta situação é agravada pelo que foi apontado no trabalho de Wezel & Bender (2003) que diagnosticarem que as mulheres envolvidas neste fazer têm idade superior a 50 anos. E, embora, sejam guardiãs e manejadoras da diversidade agrícola acabam não recebendo o reconhecimento devido.

Nesse sentido, aponta-se para a necessidade de se debater sobre as relações de gênero com as mulheres que cuidam dos quintais, que essa atividade seja valorizada e realizada com a consciência de que não se trata de uma tarefa estritamente feminina. A preservação da cultura e o manejo da diversidade deve ser visto como atividade relevante para toda a comunidade.

O presente trabalho espera ter contribuído com o diálogo sobre quintais, questões de gênero e patrimônio, de maneira que aponta caminhos para que a preservação patrimonial praticada no manejo dos quintais seja caminho para a construção das desigualdades de gênero não sejam reforçadas e que a atividade relacionada ao manejo dos quintais seja valorizada. Assim, às novas gerações – meninos e meninas – devem ser transmitidos os conhecimentos sobre as plantas nos quintais, e por meio deste processo de interação entre masculino e feminino possa ocorrer uma educação para a igualdade de gênero também nessa tarefa.

Referências

Almeida, D. G. (2000). A construção de sistemas agroflorestais a partir do saber ecológico local: o caso dos agricultores familiares que trabalham com agrofloresta em Pernambuco. (Tese inédita de Mestrado em Agrossistemas). Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Altieri, M. A. (1999). The ecological role of biodiversity in agroecosystems. Agriculture, Ecosystems and Environment, (74), 19-31.

Amaral, C. N. & Guarim Neto, G. (2008). Os quintais como espaços de conservação e cultivo de alimentos: um estudo na cidade de Rosário Oeste (Mato Grosso, Brasil). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, 3(3), 329-341. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/bgoeldi/v3n3/v3n3a04.pdf

Amorozo, M. C. M. (2002). Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasílica, 16(2), 189-203.

Badke, M. R., Budó, M. L. D., Silva, F. M. & Ressel, L. B. (2011). Plantas medicinais: o saber sustentado na prática do cotidiano popular. Escola Anna Nery Revista da Enfermagem, 15(1), 132-139.

Brasil. (2007). Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Retirado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm

Camargo, M. T. L. A. (1998). Plantas medicinais e de rituais afro-brasileiros II: estudo etnofarmacobotânico. São Paulo: Ícone.

Camou-Guerrero, A., Reyes-García, V., Martínez-Ramos, M. & Casas, A. (2008). Knowledge and use value of plant species in a Rarámuri Community: A gender perspective for conservation. Human Ecology, 36(2), 259-272.

Carniello, M. A., Silva, R. S., Cruz, M. A. B. & Guarim Neto, G. (2010). Quintais urbanos de Mirassol D’Oeste-MT, Brasil: uma abordagem etnobotânica. Acta Amazonica, 40(3), 451-470. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/aa/v40n3/05.pdf

Carneiro, M. G. R., Camurça, A. M., Esmeraldo, G. G. S. L. & Sousa, N. R. (2013). Quintais Produtivos: contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento sustentável local na perspectiva da agricultura familiar (O caso do Assentamento Alegre, município de Quixeramobim/CE). Revista Brasileira de Agroecologia, 8(2). Retirado de http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/10589

Cisne, M. (2012). Gênero, divisão sexual do trabalho e serviço social. São Paulo: Cortez.

Costantini, A. M. (2005). Quintais Agroflorestais na visão dos agricultores de Imaruí - SC. (Tese inédita de Mestrado em Agrossistemas). Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Deifelt, W. (1996). Palavras e outras palavras: a teologia, as mulheres e o poder. Estudos Teológicos, 36(1), 7-16. Retirado de http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/808/738

Duarte, M. J. O. (2010). Loucura e Família: (Re) pensando o Ethos da produção do cuidado. I. Em Duarte, M. J. O. & Alencar, M. M. T. (Orgs.), Família e famílias: práticas sociais e conversações contemporâneas (pp. 77-78). Rio de Janeiro: Lumen Juris.

Dubois, J. C. L. (1996). Utilización de productos forestales madereros y no madereros por los habitantes de los bosques amazónicos. Unasylva, 47(186), 8-15. Retirado de http://www.fao.org/docrep/w1033s/w1033s04.htm

Florentino, A. T. N., Araújo, E. L. & Albuquerque, U. P. (2007). Contribuição de quintais agroflorestais na conservação de plantas da Caatinga, município de Caruaru, PE, Brasil. Acta Botânica Brasilica, 21(1), 37-47. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/abb/v21n1/05.pdf

Freitas, A. V. L. (2013). O espaço doméstico dos quintais e a conservação de plantas medicinais na comunidade São João da Várzea, Mossoró-RN. (Tese inédita de Doutorado em Fitotecnia). Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Mossoró.

Freitas, A. V. L., Coelho, M. F. B., Maia, S. S. S. & Azevedo, R. A. B. (2011). A percepção dos quintais rurais por crianças de São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Verde, 6(2), 212-220. Retirado de http://www.gvaa.com.br/revista/index.php/RVADS/article/view/212

Freitas, A. V. L., Coelho, M. F. B., Maia, S. S. S. & Azevedo, R. A. B. (2012). Plantas medicinais: um estudo etnobotânico nos quintais do Sítio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, 10(1), 48-59. Retirado de http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/1833/1093

Gama, A. S. (2014). Trabalho, família e gênero: impactos dos direitos do trabalho e da educação infantil (pp. 47-48). São Paulo: Cortez.

Garcia, D., Domingues, M.V., Rodrigues, E. & Rodrigues, E. (2010). Ethnopharmacological survey among migrants living in the Southeast Atlantic Forest of Diadema, Sao Paulo, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 6(29), 19. Retirado de http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2987905/pdf/1746-4269-6-29.pdf

Guarim Neto, G., & Amaral, C. N. (2010). Aspectos etnobotânicos de quintais tradicionais dos moradores de Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil. Polibotánica, (29), 191-212, Retirado de http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=62112471010

Guimbo, I. D., Muller, J. & Larwanou, M. (2011). Ethnobotanical knowledge of men, women and children in rural Niger: A mixed methods approach. Ethnobotany Research & Applications, (9), 235-242. Retirado de http://journals.sfu.ca/era/index.php/era/article/view/259/334

House, P. & Ochoa, L. (1998). La diversidad de especies útiles en diez huertos en la aldea de Camalote, Honduras. Em: Lok, R. et al. (Eds.), Huertos caseros tradicionales de América Central: características, beneficios e importancia desde un enfoque multidisciplinar (pp. 61-79). Costa Rica: CATIE.

Lamont, S. R., Eshbaugh, W. A. & Greenberg, A. M. (1999). Composition, diversity, and use of homegardens among three Amazonian villages. Economic Botany, 53(3), 312-326. Retirado de https://www.jstor.org/stable/4256206

Liporacci, H. S. N. & Simao, D. G. (2013). Levantamento etnobotânico de plantas medicinais nos quintais do Bairro Novo Horizonte, Ituiutaba, MG. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 15(4), 529-540.

Lunelli, N. P. (2014). Conhecimento e uso de espécies arbóreas por agricultores do Vale do Ribeira. (Tese inédita de Mestrado). Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, São Paulo.

Martin, G. J. (1995). Etnobotany: A methods manual. London: Chapman & Hall.

Marx, K. & Engels, F. A. (1989) [1884]. Origem da família, da propriedade privada e do estado. Em Fernandes, F. (Org.), Marx/Engels: História. São Paulo: Ática.

Meihy, J. C. S. & Ribeiro, S. L. S. (2011). Guia prático de história oral: para empresas, universidades, comunidades, famílias. São Paulo: Contexto.

Moura, C. L. & Andrade, L. H. A. (2007). Etnobotânica em quintais urbanos nordestinos: um estudo no bairro da Muribeca, Jaboatão dos Guararapes, PE. Revista Brasileira de Biociências, 5(1), 219- 221. Retirado de http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/213/207

Murrieta, R. S. S. & Winklerprins, A. M. G. A. (2003). Flowers of water: Homegardens and gender roles in a riverine caboclo community in the lower Amazon, Brazil. Culture and Agriculture, (25), 35-47. Retirado de http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1525/cag.2003.25.1.35/epdf

Oakley, E. (2004). Quintais domésticos: uma responsabilidade cultural. Agriculturas, 1(1), 37-39. Retirado de http://aspta.org.br/revista/v1-n1-revalorizando-aagrobiodiversidade/quintais-domesticos-umaresponsabilidade-cultural/

Pasa, M. C. (2011). Saber local e medicina popular: a etnobotânica em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, 6(1), 179-196. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/bgoeldi/v6n1/a11v6n1

Pasa, M.C. & Avila, G. (2010). Ribeirinhos e recursos vegetais: a etnobotânica em Rondonópolis, Mato Grosso, Brasil. Interações (Campo Grande), 11(2), 195-204. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/inter/v11n2/a08v11n2.pdf. Acesso em: 28 dez. 2015.

Pfeiffer, J. M. & Butz, R. J. (2005). Assessing cultural and ecological variation in ethnobiological research: The importance of gender. Journal of Ethnobiology, 25(2), 240–278. Retirado de http://www.bioone.org/doi/pdf/10.2993/0278-0771%282005%2925%5B240%3AACAEVI%5D2.0.CO%3B2

Ribeiro, S. L. S. (2002). Processos de mudança no MST: história de uma família cooperada. (Tese inédita de Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Rodrigues, A. G. & Casali, V. W. D. (2002). Plantas medicinais, conhecimento popular e etnociência. Em: Rodrigues, A. G., Andrade, F. M. C., Coelho, F. M. G., Coelho, M. F. B., Azevedo, R. A. B. & Casali, V. W. D. (Eds.), Plantas medicinais e aromáticas: etnoecologia e etnofarmacologia (pp. 25-76). Viçosa: UFV, Departamento de Fitotecnia.

Rondon Neto, R. M., Byczkovski, A., Winnicki, J. A., Simao, S. M. S., Pasqualotto, T. C. (2004). Os quintais agroflorestais do assentamento rural rio da areia, município de Teixeira Soares, PR. Cerne, 10(1), 125-135. Retirado de http://www.redalyc.org/pdf/744/74410111.pdf

Rosa, L. S. (2002). Limites e possibilidades do uso sustentável dos produtos madeireiros na Amazônia Brasileira: o caso dos pequenos agricultores da vila Boa Esperança, em Mojú, no Estado do Pará. (Tese inédita de Doutorado). Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – PDTU, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém.

Rosa, L. S., Silva, L. C. B., Melo, A. C. G. & Cabral, W. S. (1998). Avaliação e diversificação de quintais agroflorestais na Comunidade de Muriim-Benfica, Município de Benevides – Pará. Anais do Congresso Brasileiro em Sistemas Agroflorestais, Belém. Belém: EMBRAPA/CPATU.

Rosa, L. S., Silveira, E. L., Santos, M. M., Modesto, R. S., Perote, J. R. S. & Vieira, T. A. (2007). Os quintais agroflorestais em áreas de agricultores familiares no município de Bragança - PA: composição florística, uso de espécies e divisão de trabalho familiar. Revista Brasileira de Agroecologia, 2(2), 337-341. Retirado de http://www.abaagroecologia.org.br/revistas/index.php/rbagroecologia/article/view/7250/5306

Silva, C. S. P. & Proenca, C. E. B. (2008). Uso e disponibilidade de recursos medicinais no município de Ouro Verde de Goiás, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 22(2), 481-492. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/abb/v22n2/a16v22n2.pdf

Silva, F. A. M., Souza, P. S., Dias, T. F., Leite, N. R., Calvi, M. F. & Santos, N. F. (2011). Caracterização de quintais agroflorestais de unidades familiares rurais do Município de Altamira-PA. Cadernos de Agroecologia-VII Congresso Brasileiro de Agroecologia, Fortaleza - CE. Retirado de http://www.abaagroecologia.org.br/revistas/index.php/cad/article/view/11131/7689

Silva, W. A., Fagundes, N. C. A., Coutinho, C. A., Soares, A. C. M., Campos, V. & Figueiredo, L. S. de. (2012). Levantamento etnobotânico de plantas medicinais na cidade de São João da Ponte, MG. Revista de Biologia e Farmácia, 7(1), 122-131. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/rbpm/v17n1/1983-084X-rbpm-17-01-00133.pdf

Silva, E. L. da & Tavares, M. S. (2015). Desconstruindo armadilhas de gênero: reflexões sobre família e cuidado na política de assistência social. Revista Feminismos, 3(2-3). Retirado de http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/download/310/181

Siviero, A., Delunardo, T. A., Haverroth, M., Oliveira, L. C. & Mendonça, A. M. S. (2012). Plantas medicinais em quintais urbanos de Rio Branco, Acre. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 14(4), 598-610. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/rbpm/v14n4/05.pdf

Siviero, A., Delunardoii, T. A., Haverrothi, M., Oliveira, L. C., Roman, A. L. C. & Mendonça, A. M. S. (2014). Ornamental plants in urban homegardens of Rio Branco, Brazil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, 9(3), 797-813. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/bgoeldi/v9n3/15.pdf

Soares Neto, J. A. R. (2009). Drogas vegetais psicoativas comercializadas nas ruas da cidade de Diadema: risco no seu consumo. (Tese inédita de Mestrado). Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Programa de Pós-graduação em Medicina Preventiva

Sousa, W. A., Vieira, T. A. & Lustosa, D. C. (2013). Socioeconomia e ecologia de quintais agroflorestais em comunidades rurais de Santarém, Pará. Cadernos de Agroecologia, 8(2). Retirado de http://revistas.abaagroecologia.org.br/index.php/cad/article/view/14215

Vieira, T. A., Rosa, L. S., Vasconcelos, P. C. S., Santos, M. M., Modesto, R. S. (2007). Sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares no município de Igarapé-Açu, Pará: adoção, composição florística e gênero. Acta Amazonica, 37(4), 549-558. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/aa/v37n4/v37n4a10.pdf

Voeks, R. A. (2007). Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in Northeast Brazil. Journal of Tropical Geography, (28), 7-20. Retirado de http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9493.2006.00273.x/pdf

Wezel, A. & Bender, S. (2003). Plant species diversity of homegardens of Cuba and its significance for household food supply. Agroforestry Systems, (57), 39-49. Retirado de http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9493.2006.00273.x/pdf

Winklerprins, A. M. G. A. (2002). House-lot gardens in Santarem, Para, Brazil: linking rural with urban. Urban Ecosystems, (6), 43-65.

Notas

5 O conceito comunidades tradicionais passou a integrar a legislação federal brasileira em 2007, por meio do Decreto 6040, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), e foi definido como «grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos por tradição» (Brasil, 2007).
6 Assim como os povos tradicionais são muito heterogênEos, também seus conhecimentos o são. De maneira ampla, pode-se dizer que tais conhecimentos tem a tradição oral e rural como base para sua perpetuação e fazem referência à questões como: acesso à terra, subsistência e uso recursos naturais– conservação dos recursos biológicos e manutenção da agrobiodiversidade.

Autor notes

1 Graduado em Agronomia (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Brasil); Mestre em Agronomia – Horticultura (UNESP, Brasil); Doutor em Agronomia – Horticultura (UNESP, Brasil). Professor Assistente da Universidade de Taubaté. Endereço: Universidade de Taubaté, Pró Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação. Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro 12020-040 – Taubaté, SP – Brasil. Phone: +55 12 2254-1510; e-mail: furlanagro@gmail.com
2 Graduada em Serviço Social (Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, Brasil); Mestre em Serviço Social (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Brasil); Doutora em Serviço Social (PUC-SP, Brasil). Professora Assistente da Universidade de Taubaté – UNITAU. Endereço: Universidade de Taubaté, Departamento de Serviço Social, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Sociais. Rua Visconde do Rio Branco, 22, Centro 12020040 – Taubaté, SP – Brasil. Phone: +55 12 36218958; e-mail: elisabrisola@gmail.com
3 Graduado em Ciências Biológicas (Centro Universitário São Camilo, Brasil); Mestre em Medicina Preventiva (Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, Brasil); Doutor em Psicobiologia (Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, Brasil). Fundador do Fitobula (http://www.fitobula.com); Pós-doutorando pela Universidade Federal do ABC – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas. Endereço: Alameda da Universidade s/ nº - Bairro Anchieta - São Bernardo do Campo - SP, Brasil. CEP 09606-045. Secretaria CECS - Câmpus São Bernardo – Bloco Delta – 3º andar, Sala 330. Phone: +55 11 2320-6397/6396; e-mail: julino.soares@gmail.com
4 Graduada em História (Universidade de São Paulo – USP); Mestre em História Social (Universidade de São Paulo – USP); Doutora em História Social (Universidade de São Paulo – USP). Professora Auxiliar na Universidade de Taubaté – UNITAU e Professora do Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS. Endereço: Fala Escrita. Rua General Júlio Salgado – até 379/380, Centro 12400350– Pindamonhangaba, SP – Brasil. Phone: +55 12 41100419; e-mail: suzana.ribeiro@falaescrita.com.br


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por