Entrevista
Recepção: 05 Agosto 2021
Aprovação: 06 Dezembro 2021
DOI: https://doi.org/10.1590/1980-4369e2022054
Financiamento
Fonte: FAPERGS
Número do contrato: 10/2021
Descrição completa: A pesquisa que resultou nesta entrevista conta com financiamento do Instituto Federal Farroupilha - IFFar e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - FAPERGS via Edital 10/2021 - Auxílio Recém-Doutor
RESUMO: Richard White é professor emérito de história americana, Cátedra Margaret Byrne, da Universidade de Stanford (Califórnia - EUA). Ele notabilizou-se em 1991 quando publicou The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815, o qual causou expressivo impacto na historiografia estadunidense sobre a história dos povos indígenas e dos contatos coloniais. A sofisticada elaboração conceitual contida no livro forjou um novo arcabouço teórico para a interpretação das interações entre comunidades nativas e sociedades colonizadoras / expansionistas / imperiais. Esse referencial teórico passou a ser operado por historiadores em distintas eras históricas, regiões do globo terrestre e relações sociais, políticas, econômicas e culturais. O conceito também foi apropriado por estudiosos de outras disciplinas como a Crítica Literária, Antropologia, Arqueologia e Ciência Política. White foi duas vezes finalista do prêmio Pulitzer de História, em 1992 por The Middle Ground e em 2012 por Railroaded: the transcontinentals and the making of modern America. Nesta entrevista, realizada no ano em que The Middle Ground completa 30 anos de sua primeira edição, entre outras coisas, ele responde a perguntas sobre suas influências intelectuais no início da carreira, suas inspirações para elaborar a ferramenta conceitual do middle ground, seus projetos atuais e futuros e sobre as questões fundamentais que orientam suas pesquisas.
Palavras-chave: Richard White, entrevista, Middle Ground.
ABSTRACT: Richard White is professor emeritus of American History, Chair Margaret Byrne, from Stanford University (California - USA). He made a name for himself in 1991 when he published The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815, which had a significant impact on American historiography on the history of indigenous peoples and colonial contacts. The sophisticated conceptual elaboration contained in the book forged a new theoretical framework for the interpretation of interactions between native communities and colonizing / expansionist / imperial societies. This theoretical framework started to be operated by historians in different historical eras, regions of the globe and social, political, economic and cultural relations. The concept was also appropriated by scholars from other disciplines such as Literary Criticism, Anthropology, Archeology and Political Science. White was a two-time finalist for the Pulitzer Prize in History, in 1992 for The Middle Ground and in 2012 for Railroaded: the transcontinentals and the making of modern America. In this interview, carried out in the year that The Middle Ground celebrates 30 years of its first edition, among other things, he answers questions about his intellectual influences at the beginning of his career, his inspirations to elaborate the conceptual tool of the middle ground, his current projects and futures and on the fundamental questions that guide their research.
Keywords: Richard White, interview, Middle Ground.
Professor emérito da Universidade de Stanford, onde leciona desde 1998, o californiano Richard White (nascido em 1947) começou sua trajetória acadêmica na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, obtendo a graduação em história no ano de 1969. Em 1975, ele concluiu o doutorado na Universidade do Estado de Washington. Um ano depois começou a trabalhar na Universidade do Estado de Michigan, instituição em que permaneceu até 1983, quando se transferiu para a Universidade de Utah. Em 1990, White passou a fazer parte do corpo docente da Universidade de Washington, de onde saiu oito anos mais tarde para assumir a Cátedra Margaret Byrne como Professor de História Americana em Stanford. No decorrer de sua carreira, White figurou como expoente de três importantes movimentos que ajudaram a renovar a historiografia americana: 1) a New Indian History [Nova História Indígena], 2) a New Western History [Nova História do Oeste] e 3) a American Environmental History [História Ambiental Americana]. Sua obra ganhou amplo reconhecimento em considerável parte do planeta.
A importância do trabalho de White em determinados campos da teoria social e historiografia americanas expressou-se, por exemplo, na Conferência Nacional da Organização dos Historiadores Americanos, ocorrida em abril de 2001 em Los Angeles (CA-EUA). Nessa ocasião, sua obra ganhou uma sessão específica em razão do entendimento de que, já naquela altura de sua carreira, ela havia provocado uma significativa mudança na forma de interpretar e pensar a história dos EUA. No dia 27 de abril, com a presença de cerca de 120 espectadores, quatro painelistas consideraram o trabalho de Richard White, são eles: Walter Nugent1, Elliot West2, Karen R. Merrill3 e Philip J. Deloria4. As comunicações de cada um dos painelistas foram reunidas em um artigo intitulado A historian who has changed our thinking: a roundtable on the work of Richard White publicado no volume 33, n. 2, edição de verão de 2002 da Western Historical Quarterly (MILNER et al., 2002).
Para além disso, em 2006, em seu volume 63, n. 1, publicado em janeiro, o periódico The William and Mary Quarterly publicou um fórum que abordava a repercussão do livro de maior impacto da carreira de White, The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815 (WHITE, 1991a) [doravante The Middle Ground], 15 anos após o lançamento de sua primeira edição. Integram o fórum os artigos de Brett Rushforth5 (2006), Catherine Desbarats6 (2006), Heidi Bohaker7 (2006), Philip J. Deloria (2006) [ver nota 4], Susan Sleeper-Smith8 (2006) e do próprio Richard White (2006).
Para as pretensões deste texto introdutório, que busca apresentar informações básicas sobre a carreira e obra de Richard White, incorporo parte das considerações feitas por esses estudiosos. Recorro também a dois trabalhos de Arthur Lima de Avila9 (2011; 2010), um dos raros autores brasileiros que analisa a trajetória intelectual de Richard White e alguns dos traços mais marcantes de sua produção. Além disso, com base nas pesquisas que venho desenvolvendo nos últimos oito anos, apresento ponderações autorais a respeito dos trabalhos de White (FONTELLA, 2020a; 2020b; 2021).
Abordando as produções iniciais de White (de fins dos anos 1970 e meados dos 1980), Walter Nugent avalia que um dos principais traços é a rigorosa honestidade intelectual em buscar e narrar a verdade histórica, mesmo entendendo que nem sempre se consegue atingi-la completamente. Em The winning of the west: the expansion of the teton sioux during the eighteenth and nineteenth centuries (WHITE, 1978), com foco nos povos nativos que habitavam as planícies setentrionais, Richard White realiza uma descrição apurada das lutas entre grupos indígenas e destes com as frentes coloniais euro-americanas. White mostra que antes do contato entre índios e sociedades coloniais, as guerras intertribais não eram ocasionais, mas letais competições por recursos. Tal abordagem refutava a perspectiva, originada na Antropologia, que defendia que antes do contato com os europeus, os povos indígenas viviam em uma imutável harmonia entre si e com o meio-ambiente. Além disso, em um momento em que recém os pesquisadores começavam a aceitar o importante papel das doenças trazidas pelos europeus na conquista europeia da América, White enfatizou o papel da varíola na devastação de diversas populações indígenas nas planícies do norte. Ainda neste texto, White rejeitou clichês como: 1) o discurso fatalista de que não restaria alternativas aos povos indígenas senão a assimilação ao universo em expansão das sociedades coloniais que se percebiam como civilizadas, e 2) a interpretação de que o contato colonial não foi nada exceto um completo genocídio das populações indígenas promovido pelos europeus. Ao contrário, a análise de White colocava as sociedades nativas como atores nas relações de forças do cenário colonial, em que buscavam reunir condições materiais e simbólicas para controlar recursos e expandir seu poder tal qual os europeus faziam (MILNER et al., 2002).
A tese doutoral de White foi publicada como livro, Land Use, Environment and Social Change: the shaping of Island County (WHITE, 1979) [doravante Land Use, Environment and Social Change]. O tema do livro é que em Island County, a história real é a história das transformações forjadas no ambiente natural pela ocupação indígena e colonial, pelo uso da terra e pelas consequências dessas mudanças. Mais uma vez, ele procura “desmistificar a ideia de uma comunhão perfeita entre indígenas e meio-ambiente, demonstrando as profundas modificações da natureza realizadas pelas sociedades nativas, ao mesmo tempo em que as diferenciava do tipo de modificação, muito mais destrutiva, causadas pelos brancos no mundo natural” (AVILA, 2011, p. 267). Uma das principais pretensões de White neste livro era mostrar que o ambiente molda culturas tal qual as culturas moldam o ambiente. Vale mencionar que este livro se somou ao movimento de formação da chamada American Environmental History (WHITE, 1985; 2001).
Em The roots of dependency: subsistence, environment and social change among the Choctaws, Pawnees and Navajos (WHITE, 1983), agora de forma ainda mais explícita, White rejeita o lugar-comum de que os grupos indígenas teriam naturalmente uma relação harmoniosa com o meio-ambiente e seus ecossistemas. De acordo com Arthur Lima de Avila (2011), neste livro White se propõe a explicar a passagem de pawnees, navajos e choctaws de um estado auto subsistente para o de dependência em relação ao universo colonial. Ao narrar a desestruturação das organizações autônomas de tais grupos, White enquadrou as agudas transformações pelas quais eles passaram no âmbito da expansão do capitalismo moderno e da incorporação das sociedades nativas ao sistema-mundo capitalista.
Segundo Walter Nugent, embora White quase não faça referência à teoria da dependência, elaborada, sobretudo, por Immanuel Wallerstein, no final do livro, ele a opera. Faz isso procurando refiná-la e relacioná-la de uma nova maneira ao ambiente e, também, se distanciar de como ela era frequentemente definida. Como conclusão, White defende que os ambientes mudam conforme as culturas mudam e que tal fenômeno está no centro da compreensão da própria transformação social (MILNER et al., 2002).
Em Race relationsin the American West (1986), White aponta que no Oeste dos EUA, as relações raciais são mais complexas pois ali, além de brancos e negros, há a presença de indígenas, mestiços, latinos e asiáticos. Para ele, as relações raciais no oeste do século XIX refutam a concepção consagrada dos EUA como uma sociedade racialmente dicotômica de brancos e negros e mostram um país racial e etnicamente multifacetado, repleto de tensões e de violência que muitas vezes superam aquelas registradas no sul (MILNER et al., 2002; AVILA, 2011).
Elliot West destaca que, de considerável parte das análises de White emerge dois tipos de tensões: a primeira entre a estranheza e o trabalho, isto é, entre a peculiaridade de cada tempo passado e os processos universais; e a segunda entre história e memória, ou seja, entre a forma como sujeitos e grupos sociais realmente se movem no tempo e o modo como eles olham para trás e explicam o passado (MILNER et al., 2002).
Segundo West, o estudo de White em que a tensão estranheza vs. trabalho mais fica evidente é o livro It's your misfortune and none of my own: a history of the American West (WHITE, 1991b) [doravante It's your misfortune]. Por trabalho, White entende a energia que as pessoas, animais, água e terra gastam uns contra os outros. Abordando o processo histórico de interação entre sociedades nativas e euro-americanas no oeste dos EUA, onde uma variedade impressionante de culturas se enredava em múltiplas paisagens e lutava com várias forças externas, White explora um processo medular daquele espaço, qual seja, povos vivendo suas situações particulares em um encontro universal com seu entorno. É a partir do exame da tensão entre o processo universal do mundo do trabalho e a estranheza de cada situação que White chega ao cerne de sua definição relacional de oeste (MILNER et al., 2002).
Por seu turno, a tensão entre história e memória irrompe nitidamente em Remembering Ahanagran: storytelling in a family's past (WHITE, 1998) [doravante Remembering Ahanagran]. Neste livro, em que explora histórias e memórias familiares, inclusive de seus pais, White aborda a memória não apenas como um dispositivo que molda a percepção do passado com base na compreensão atual de quem se é, mas também como uma força histórica potente. O que este estudo de White revela é que o modo como os sujeitos agem depende em parte de como literalmente se recordam de si mesmos, ou seja, de como estão sempre recompondo sua identidade ao dizer de onde vieram. Portanto, conclui West, Remembering Ahanagram nos ensina que se deve ficar atento aos códigos que emergem das fissuras entre a memória e a história, pois eles podem desvendar diversos significados do passado que nenhuma das duas pode acessar e decifrar por conta própria (MILNER et al., 2002).
Karen R. Merrill discorre sobre como as metáforas são recursos explicativos essenciais nas análises desenvolvidas por White e que desempenharam importante papel na transformação das abordagens então vigentes sobre a história do oeste dos EUA. Segundo a avaliação de Merrill, em It's your misfortune, White sintetizou inúmeros temas caros à New Western History como, por exemplo: 1) articular o oeste e o Estado americano numa análise sistemática e profunda; 2) compreender o Oeste como um produto da intervenção do governo federal, assim como de uma miríade de empreendimentos de indivíduos; 3) o processo não-linear de expansão do Estado naquele espaço; e 4) os efeitos que humanos e mundo natural provocam uns nos outros (MILNER et al., 2002).
Philip J. Deloria se concentra sobre as políticas de conhecimento que afetam os campos de estudos (História do Oeste, Ambiental e Indígena) em que White concentra suas pesquisas. Este autor ressalta que a postura de White como historiador tem oferecido aos seus pares uma nova forma de pensar que fortalece os historiadores na busca da história como uma forma de verdade. Deloria pondera, ainda, como Richard White lidou com as políticas do conhecimento que condicionam os distintos campos de estudos em que ele se inseriu. Sua primeira constatação é que a História Ambiental e das sociedades indígenas envolvem conhecimentos dolorosamente relevantes para as políticas do presente (MILNER et al., 2002).
Portanto, tais áreas também são espaços nos quais já se afirmaram interpretações que servem para fins políticos e cultural. A história ambiental se estruturava sobre um essencialismo epistemológico que fazia com que “para muitos historiadores ambientais, o planeta às vezes tende a se tornar um primeiro princípio, um princípio que eles relutam em questionar profundamente, por razões pessoais, políticas e intelectuais. O resultado foi a silenciosa reificação do dualismo natureza/cultura” (MILNER et al., 2002, p. 152 [tradução livre]).
Por sua vez, a história indígena foi construída não só por essencialismos, como também por ideologias e povos reais em condições de opressão social e política. Este cenário torna extremamente difícil a tarefa do historiador socialmente engajado, pois há vertentes intelectuais, políticas e de movimentos sociais que defendem que a história é um componente crítico no terreno de lutas e não simplesmente um ofício abstrato que produz conhecimento para livros e conferências. Diante de tudo isso, com frequência, o propósito de representar fidedignamente o passado colide com os diversos interesses políticos contemporâneos. Obviamente, Richard White não ficou alheio às pressões das relações de poder e lutas políticas ligadas aos campos históricos aos quais se dedicava. Em especial durante os anos 1980 e 1990 ele passou considerável parte de sua carreira refutando análises que avaliava como insuficientes para explicar realidades históricas multifacetadas e elaborando metáforas para expressar de modo mais complexo as interações entre humanos e ambiente, e entre distintas matrizes culturais que disputavam recursos e hegemonia cultural e de poder político (MILNER et al., 2002).
Contudo, a despeito disso, White não abriu mão de certos compromissos fundamentais de um historiador: 1) a busca pela verdade histórica, respeitando, sobretudo, os dados e fatos contidos nas fontes, 2) o esforço de compreensão das realidades históricas por meio das racionalidades específicas dos períodos históricos examinados, 3) a rejeição de explicações reducionistas, mesmo que estas comportassem potencial de mobilização política para grupos oprimidos, 4) a disposição de expor os enredos históricos considerando a máxima complexidade analítica possível, mesmo que estes desconstruam discursos/narrativas simplistas de mobilização política para parcialidades oprimidas, e 5) o empenho em, por meio do recurso teórico de múltiplas narrativas, extrair das fontes (e dos silêncios destas) a multiplicidade de concepções culturais, configurações sociais, sistemas econômicos e organizações políticas que coexistiam no passado e que devem ser explicitadas para quem está no presente. Com base nesse repertório, Deloria afirma que “os escritos de Richard White podem ser vistos como uma luta de um dos historiadores mais talentosos da América por um ponto de apoio em meio aos problemas colocados por políticas de representação e produção de conhecimento [...]” (MILNER et al., 2002, p. 153-154 [tradução livre]).
Tendo esse rol de compromissos como referencial, em 1991, Richard White publicou The Middle Ground, seu trabalho de maior repercussão que acabou por fundar um novo arcabouço conceitual para analisar processos de interações entre sociedades detentoras de diferentes lógicas culturais. Nas palavras de Susan Sleeper-Smith,
The Middle Ground produziu um modelo complexo para a compreensão do encontro tanto como um evento quanto como um processo cultural. A ligação de White do espaço geográfico com o processo histórico é uma importante ferramenta analítica que permite aos estudiosos examinar como os estrangeiros e povos indígenas de diferentes culturas criaram conscientemente um lugar onde a negociação deslocou o confronto. (2006, p. 3 [tradução livre]).
O impacto historiográfico e teórico de The Middle Ground foi estrondoso na América do Norte e em outras partes do globo. Um ano após seu lançamento, The Middle Ground foi resenhado em conceituadas revistas por importantes estudiosos, como, por exemplo: Robert F. Berkhofer Jr.10 (1992), Colin G. Calloway11 (1992), Peter C. Mancall12 (1992) e Daniel K. Richter13 (1992). O historiador Kevin Barksdale14 (2007) avalia que The Middle Ground desencadeou um terremoto historiográfico no campo da história colonial norte-americana. O próprio White, numa apreciação sobre a repercussão de seu estudo afirma que
ele pulou de disciplinas, passando para a Crítica Literária, Antropologia, Arqueologia e Ciência Política, e viajou pelo mundo - não apenas para outras partes da América do Norte, onde eu esperava, mas também para a África, Ásia, Austrália e Europa. E tem viajado no tempo, todo o caminho de volta à antiguidade em alguns casos. (WHITE, 2021, p. 283).
Como referido anteriormente, no ano de 2006, a revista The William and Mary Quarterly contava com um fórum de avaliação do impacto de The Middle Ground. De modo geral, as principais questões levantadas pelos autores orbitam em torno de: 1) a repercussão historiográfica do livro e do artefato conceitual (DELORIA, 2006; DESBARATS, 2006; SLEEPER-SMITH, 2006; WHITE, 2006), 2) o surgimento de distintas abordagens interpretativas (DELORIA, 2006; DESBARATS, 2006; SLEEPER-SMITH, 2006; WHITE, 2006), 3) o pouco rigor na aplicação do conceito (DELORIA, 2006), 4) as condições fundamentais para que se possa identificar a manifestação ou não de um middle ground em determinadas regiões (BOHAKER, 2006; RUSHFORTH, 2006; WHITE, 2006), 5) as formas pelas quais os processos do middle ground se manifestam (DELORIA, 2006; WHITE, 2006), 6) as diferenças entre processo e espaço em que o processo se converte no principal referencial para as interações entre os grupos sociais (WHITE, 2006), 7) a estreita relação do conceito do middle ground com o de fronteira (DELORIA, 2006), 8) a amplitude de aplicação do conceito interna e externamente à disciplina histórica (DELORIA, 2006; DESBARATS, 2006; WHITE, 2006), 9) o refinamento de aspectos do processo do middle ground que White não se aprofundou (DELORIA, 2006), 10) críticas a algumas argumentações, conceitualizações e enfoques que careciam de definições mais nítidas e precisas (BOHAKER, 2006; RUSHFORTH, 2006; DELORIA, 2006), e 11) interpretações divergentes sobre a emergência do middle ground na região dos Grandes Lagos da América do Norte (BOHAKER, 2006; RUSHFORTH, 2006).
No texto mais recente em que realiza um balanço da influência de The Middle Ground, White discorre sobre diversos estudos15 que operam com o conceito e afirma que se sente
[...] quase tão satisfeito quando as pessoas não conseguem encontrar um middle ground como quando o encontram, pois uma conclusão negativa também envolve um esforço para levar o conceito a sério. [...]. Os melhores conceitos históricos são aqueles que são bons para pensar com, e quando eu encontro estudiosos ativamente empregando o conceito, aplicando-o rigorosamente ao seu próprio material, e então explicando por que o que eles encontraram não era realmente um middle ground, eu tenho orgulho do livro. Ele está fazendo bem o seu trabalho. (WHITE, 2021, p. 287).
Além disso, neste mesmo texto, White refuta as críticas que considera mais contundentes a The Middle Ground.16
Não é exagero afirmar que The Middle Ground colocou Richard White entre os maiores historiadores de sua geração com apenas 44 anos. Isto, porém, não fez com que ele se acomodasse à sombra do sucesso de seu livro, afinal, como ele mesmo afirma
reconheci logo após o livro ser publicado e obtido seu sucesso inicial que o que era bom para um livro poderia não ser tão bom para seu autor. O perigo, no meu caso, era que eu ficaria preso no livro e passaria o resto da minha carreira sentado como juiz na corte de The Middle Ground. Eu teria que decidir se algum dado exemplo arrastado para a minha corte era um middle ground real ou um conjunto de compromissos ordinários que se apresentavam como algo grandioso. [...]. Quero que os livros que escrevo falem por si mesmos para que eu possa continuar com outras coisas. (WHITE, 2021, p. 283).
Felizmente para seus leitores, nas últimas três décadas, tanto The Middle Ground quanto White seguiram em frente. O primeiro se convertendo num influente aporte teórico, principalmente, para análise das relações entre sociedades coloniais e populações nativas e o segundo mantendo uma intensa produção de livros autorais, organizados, capítulos de livros, artigos e ensaios. O volume é tão expressivo que seria inviável listar todos seus trabalhos aqui. Entretanto, assumindo o risco de deixar de lado trabalhos relevantes, destaco quatro dos seus livros autorais: The Organic Machine: the remaking of the Columbia River (1995) [doravante, The Organic Machine], Remembering Ahanagram (1998), Railroaded: the transcontinentals and the making of modern America (2011b) [doravante Railroaded], The republic for which it stands - the United States during reconstruction and the gilded age, 1865-1896 (2017) [doravante The Republic for Which It Stands].
Dentro do campo da História Ambiental, The Organic Machine (1995) explora a intersecção entre a história humana e a história natural, abordando questões que ressaltam a primazia do trabalho humano no mundo natural. Em uma análise de longa duração que percorre praticamente todo o período independente dos EUA, a análise de White assume “[...] o rio [Columbia] como uma máquina orgânica, como um sistema de energia que, embora modificado pela intervenção humana, mantém suas qualidades naturais [...]” (1995, p. ix). A interpretação contida no livro refuta o mito de que o rio Columbia passou de um estado completamente natural para um não-natural. White conclui que “o Columbia moderno [...] é ao mesmo tempo um espaço natural e um espaço social. É uma máquina orgânica e deve ser tratada como tal” (1995, p. 112).
Remembering Ahanagram (1998) é um livro em que White descreve as memórias que seus familiares possuem a respeito da migração de seus ancestrais da Irlanda para os Estados Unidos. Ao cotejar evidências escritas desse processo, ele percebeu contradições em considerável parte das crenças mais comuns afirmadas pelos integrantes de sua família. Em sua análise, a verdade histórica evoluiu como parte das memórias familiares construídas, e as contradições entre a realidade e a reinterpretação imaginária de tal passado foram ignoradas, apesar das evidências contrárias.
No entanto, ele rejeita a reducionista dicotomia entre história e memória ao não aceitar a superioridade dos documentos e fontes da história por si em relação às tradições orais, autoconstruções e perdas de transmissão da memória. Para problematizar isso, White demonstra que no episódio da imigração de seu avô, as evidências documentais podem distorcer a realidade mais do que a expor. Assim, neste caso, elas precisam ser problematizadas, auxiliadas e até corrigidas pela memória. Em Remembering Ahanagram, White reivindica uma abordagem mais complexa na relação ente história e memória, isto é, entre o campo que pretende contar com a maior precisão possível o que aconteceu no passado e o terreno que molda este de acordo com a compreensão atual que os sujeitos/grupos tem sobre si mesmos. Enfim, ele defende um enfoque que dissolva a dicotomia artificial entre história e memória, e que se configure como um ponto intermediário entre história escrita e história oral.
Em Railroaded (2011b), White examina a criação das ferrovias transcontinentais americanas, situando sua análise dentro de um conjunto geral de questões sobre o papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico americano. Em seu exame da indústria ferroviária americana e sua extensão para o oeste dos Estados Unidos, White demonstra que não havia uma organização eficiente ou bem administrada, o que o leva a argumentar que as ferrovias transcontinentais foram desastres organizacionais e dependiam da receita do governo para sua operação. A essência do livro é quando White analisa o envolvimento das ferrovias na política e comprova como o suborno para explorar vantagens políticas era prática comum para criar uma cultura de amizade entre atores públicos e privados. Ao demonstrar a estreita relação entre várias ferrovias e o governo, Railroaded descontrói a ideia fortemente arraigada no imaginário norte-americano de que a revolução americana dos meios de transporte na segunda metade do século XIX foi o resultado do livre mercado.
The Republic for Which It Stands (2017) compõe a coleção Oxford History of United States. Ele aborda o período que vai desde o fim da Guerra Civil Americana (1861-1865) até fins do século XIX, o qual testemunha dois processos fundamentais da história dos EUA, a Reconstrução e a Era Dourada. A análise gira em torno de uma questão central dos anos pós-Guerra Civil: como a nação poderia reconciliar políticas democráticas com a construção do estado-nação, desenvolvimento do capitalismo industrial e a expansão e conquista continentais?
Para responder essa questão, White mergulha em um contexto histórico que se notabilizou por uma gama complexa de fenômenos que transcorriam de modo concomitante e interrelacionados, quais sejam: crescimento econômico e industrial, ganância das corporações, desigualdade de renda, hipocrisia religiosa, divisão de classes, greves, imigração em massa, revoltas de trabalhadores e de grupos submetidos a opressão racial, racismo, genocídio, limpeza étnica, degradação ambiental, crescimento desordenado das cidades, insalubridade urbana e massiva corrupção política. Com tantas variáveis e processos em jogo, White compreende que os EUA se configuravam como uma sociedade com profundas divisões e diferenças econômicas, sociais, culturais e políticas, onde poucos desfrutam de privilégios e uma imensa massa enfrentava uma vida em condições de aguda precariedade. Com fina ironia e um apurado senso de justiça, o autor descontrói rótulos e estereótipos entranhados na historiografia tradicional sobre a Era Dourada e critica a disseminada corrupção que corroeu a promessa de uma América mais democrática e igualitária.
Por fim, cabe ressaltar que, tanto por sua atuação docente e de pesquisa, quanto por seus artigos, ensaios e livros, é vasta a lista de premiações/indicações recebidas por Richard White.17 A título de exemplo, vale sublinhar que The Middle Ground e Railroaded foram finalistas do prestigiado prêmio Pulitzer em 1992 e 2012, respectivamente.
Nesta entrevista, o Prof. Richard White discorre sobre questões sobre o início de sua carreira acadêmica, os movimentos de renovação historiográfica que participou, práticas e influências de escrita, as inspirações para elaborar a ferramenta conceitual do middle ground, projetos atuais e futuros, e as problemáticas fundamentais que orientam suas pesquisas.
Entrevista
Leandro Goya Fontella [LGF]: Como o Sr. lidou com a pandemia de COVID-19? Como essa realidade afetou suas atividades profissionais? O Sr. foi capaz de dar continuidade às suas pesquisas?
Richard White [RW]: Nos Estados Unidos praticamente todas as bibliotecas e arquivos fecharam e a Universidade tem dado acesso limitado ao meu escritório, onde tenho a maioria dos meus livros. Estou limitado a fazer minha bolsa de estudos on-line. O Hathitrust, que dá acesso a milhões de livros, tem sido uma dádiva de Deus, mas a maioria dos meus projetos foram reduzidos ou atrasados.
LGF: O que levou o Sr. a se tornar um historiador?
RW: Antecedentes, acidentes e chance. Minha mãe era uma imigrante irlandesa; meus avós paternos eram imigrantes judeus. Cresci sabendo que minha mãe estava enraizada em outro mundo, embora ela se tornasse, na maioria das vezes, muito americana. Eu sabia que o mundo de onde meus avós vieram tinha desaparecido no Holocausto. Acho que esse sentimento de mundos diferentes e distintas possibilidades e as contingências de nossas vidas me influenciaram muito antes de poder articular isso. Isso me levou à História.
Eu me formei em História na faculdade só porque quando chegou a hora de me formar eu tinha quantidades iguais de crédito em História e Inglês, mas estava aquém do número necessário de créditos necessários para me formar em cada uma. A História dispensou a exigência.
Ao mesmo tempo, atravessei uma série de desventuras e acabei em manifestações tribais pelos direitos de pesca no Noroeste do Pacífico. Fiquei fascinado pelos tratados indígenas na área e, sem ter planos imediatos, depois de um ano de viagem, voltei para a pós-graduação. Eu não pretendia ficar. Presumi que algo melhor apareceria. Nunca aconteceu.
LGF: Quais foram as influências intelectuais mais significativas em sua formação como historiador?
RW: Minha experiência com os índios Nisqually. Eles tinham uma familiaridade com seu passado e uma imersão nele que me fascinava. E na pós-graduação, li um livro - Tutira: the story of a New Zealand sheep station18 [Tutira: a história de uma estação de ovelhas da Nova Zelândia] - que me apresentou à História Ambiental, me dando uma noção de como o mundo natural e as ações humanas se cruzam para produzir um futuro. Mais tarde, a escola de antropólogos e historiadores de Melbourne teve uma grande influência sobre mim.
LGF: Ao longo de sua vida profissional, o Sr. recebeu inúmeros prêmios e foi duas vezes indicado para o Prêmio Pulitzer. Avaliando essa trajetória, poderia definir qual de seus livros acadêmicos foi o mais relevante até agora em sua carreira?
RW: The Middle Ground fez minha reputação. Levei anos para escrever e anos para tentar entender como tanto os europeus quanto os povos nativos entendiam o mundo que criaram.
LGF: O Sr. se tornou um dos expoentes de dois movimentos para a renovação historiográfica da escrita da história dos EUA: New Indian History [Nova História Indígena] e New Western History [Nova História do Oeste]. Como o Sr. avalia sua atuação neles?
RW: Eles foram do momento. A New Indian History parece bastante primitiva agora. Sua visão central era que os povos indígenas fizeram história, além de serem vítimas dela. O argumento para dar agência aos índios foi bastante simples, embora eu ache que a tendência poderia ir longe demais, disfarçando as enormes forças que muitas vezes matavam muitos deles e destruíam suas sociedades. A New Western History foi, de certa forma, uma criação da imprensa. Alguns de nós, incluindo eu, definiram o oeste em oposição à tese da fronteira de Turner e pediram uma abordagem regional. Mas outros como William Cronon19 ou John Faragher20 pediram apenas uma modificação do conceito de fronteira. Mesmo entre os regionalistas, havia divisões acentuadas. Lembro-me de Don Worster21 dizendo que não queria ser associado a nenhum movimento do qual Richard White fazia parte. Achei muito engraçado. Nós continuamos amigos, e eu admiro muito o trabalho dele.
LGF: Como a New Indian History e a New Western History estão ligadas? E quais são as principais diferenças?
RW: A principal diferença foi provavelmente Antropologia e Etnologia. Fui muito influenciado por antropólogos quando escrevi História Indígena, mas eles tiveram pouca influência na História do Oeste. Historiadores do Oeste eram mais propensos a ler geógrafos e ecologistas. Eu li as duas coisas. O interessante foi que quanto mais Antropologia eu lia, mais crítico eu me tornava do híbrido: Etnohistória.
LGF: Quais trabalhos o Sr. considera fundamentais em cada um desses movimentos?
RW: Para a New Western history: Women and Men on the Oregon Trail22, de John Faragher [ver nota 20], Legacy of Conquest23, de Patty Limerick24, Nature’s metropolis25, de William Cronon [ver nota 19], Dust bowl26, de Don Worster [ver nota 21] e o meu próprio Its your misfortune and none of my own. Há inúmeros livros posteriores, mas estes foram os que apareceram no início e definiram o movimento. Para a New indian history: The Ordeal of the Longhouse27, de Dan Richter [ver nota 13], When Jesus Came the Corn Mothers Went Away28, de Ramon Gutiérrez29, The European and the Indian30, de James Axtell31, Red, White, and Black32, de Gary Nash33, Manitou and Providence34, de Neal Salisbury35, The Death and Rebirth of the Seneca36, de Anthony Wallace37, New Worlds For All38, de Colin Calloway [ver nota 11], The Indians’ New World39, de James Merrell40 e o meu próprio The Middle Ground. Mais uma vez, estes são apenas os primeiros livros que definiram o movimento.
LGF: O Sr. dedicou grande parte de sua carreira a dois campos da história: história ambiental e história indígena. Na sua avaliação, como eles dialogam?
RW: Às vezes tem sido complicado. Alguns dos primeiros livros de História Ambiental, como Changes in The Land41, de Bill Cronon [William Cronon, ver nota 19] e meu próprio Land Use, Environment and Social Change enfatizaram as maneiras que os povos nativos moldaram a paisagem. Isso, às vezes, poderia colidir com a visão dos índios como parte da paisagem. Tanto Bill Cronon quanto eu rejeitamos isso, mas era uma opinião sustentada não apenas por ambientalistas brancos, mas também por muitos povos indígenas que promoviam a ideia de que eram ecologistas naturais e havia alguns historiadores que os apoiavam. A ideia de que os povos indígenas poderiam caçar demais, esgotar ou desmatar áreas ou usar o fogo de forma que prejudicasse algumas espécies e ajudasse outras era um anátema. Mais frequentemente, muitos dos participantes originais da New Indian History simplesmente ignoraram a História Ambiental, confundindo-a com uma história do ambientalismo.
LGF: O Sr. teve uma vida acadêmica prolífica, o que sugere aos pesquisadores para que eles possam ter uma carreira produtiva?
RW: Eu formei meus hábitos de escrita quando meu filho Jesse tinha três anos. Eu era um pai solteiro e muito ocupado ensinando a escrever durante o dia e exausto demais para escrever depois que ele ia para a cama, então comecei a acordar cedo - 5:30 ou 6:00 - e escrever por uma ou duas horas antes de ter que prepará-lo para a creche e depois para a escola. Mantive essa rotina quando Jesse estava com a mãe durante os verões, e mais tarde quando eu não morava mais sozinho com ele.
Eu ainda escrevo todos os dias, exceto fins de semana, e hoje em dia, às vezes, até então. As primeiras horas da manhã sozinho no meu escritório com o sol nascendo permanecem minha hora favorita do dia. Esses velhos hábitos tornam minha escrita incremental. Eu poderia gastar apenas uma ou duas horas colocando palavras na página, mas uma vez que o processo começa, ideias constantemente infiltram-se no fundo da mente. Elas vêm à consciência durante o dia e a noite, e eu guardo um caderno para anotá-las. Quando volto a esses cadernos, descubro que a maioria das minhas ideias são horríveis, mas não importa. Se 2 a 3% forem viáveis, estou no negócio. Essa escrita incremental significa que eu não escrevo rapidamente ou em grandes pedaços, mas eu escrevo metodicamente e geralmente bem antes do prazo final.
Raramente começo um texto no começo. Meu objetivo inicial é apenas conseguir algo na página para o qual eu possa reagir. Meus primeiros rascunhos são apenas um catalisador para novos pensamentos, que geralmente são críticas aos meus pensamentos iniciais sobre um tema. Eu reviso sem parar, e estou disposto a jogar tudo fora e começar de novo.
LGF: Sua escrita é reconhecida por um estilo elegante e agradável sem comprometer a complexidade analítica. A escrita fictícia tem alguma influência na sua escrita? Se sim, quem são os autores de ficção que mais influenciaram seu estilo de escrita?42
RW: Eu não tenho nenhuma ordem particular:
Edith Wharton. Pela sutileza, criar um quadro grande através de um acúmulo de detalhes, e por transmitir uma sensação de costumes sociais, não há ninguém melhor.
Mark Twain. Qualquer um tão prolífico quanto Twain tinha que ser desigual, mas no seu melhor ele toca traços americanos profundos e persistentes e é hilário. Há partes de Roughing It que eu ainda não consigo ler para as aulas sem ter um colapso. É difícil não gostar de um homem que descreve um barco a vapor como tão lento que competia contra ilhas.
Joan Didion. Seus textos curtos, em particular, são quase perfeitos como nenhum outro que eu tenha lido. Novamente, ela é alguém cuja política - pelo menos sua velha política - e sua sensibilidade são estranhas para mim, mas sua prosa seduz. Eu não compartilho suas opiniões sobre isso, mas ela captura o mundo da Califórnia que me apresentou perfeitamente.
J.D. Salinger. Alguns anos atrás eu estava dando uma classe de verão no Buffalo Bill Center em Cody. Eu estava hospedado na casa de hóspedes onde as estantes não eram alteradas desde a década de 1960. Havia uma cópia de Catcher in the Rye. Não a lia desde a adolescência. Eu li de novo em uma sessão. O livro foi tão convincente quanto quando eu o li pela primeira vez. Eu tinha esquecido o grande escritor que ele era.
Raymond Carver. Por muito tempo minha maior aspiração como escritor foi escrever tão simples e convicentemente quanto Carver. Para escrita pura, não conheço nada melhor do que suas melhores histórias.
Ralph Ellison. Os anos 1940 até os anos 1960 foram uma era de ouro da ficção americana, mas Invisible Man era, na minha leitura, a melhor delas. Ellison abriu uma janela para um mundo e uma sensibilidade que eu tinha visto apenas de fora.
Molly Keane. Seu Good Behaviour elevou o nível de dificuldade na narração tão alto quanto possível, e então ela acertou em cheio. É um modelo de usar o narrador não confiável para que o leitor saiba mais do que o narrador que está contando a história.
Margaret Atwood. Admiro seu ofício, sua produtividade, e embora eu não aprecie tudo o que ela escreveu tanto quanto os outros, acho seu melhor trabalho, como Alias Grace, notável. Ela pode imaginar mundos passados.
James Baldwin. Admiro excessivamente seus ensaios.
Italo Calvino. Muitos escritores fingem que podem criar mundos independentes. Calvino podia, e ele fez isso com uma economia incrível.
George Saunders. Lincoln in the Bardo é um livro notável. Ao fazer de seus personagens fantasmas e espíritos, ele consegue evocar um mundo do século XIX que eu reconheço.
Derek Walcott. Seu Omeros, um poema épico, pode ser meu livro favorito do século XX. É algo belo e bastante comovente. Isso me reduz à admiração cada vez que eu leio.
Charles Portis. Provavelmente o escritor americano menos conhecido do século XX. As pessoas o conhecem principalmente através da versão cinematográfica de True Grit, mas seus romances são uma maravilha. Ele podia fazer o que eu nunca conseguiria fazer - escrever diálogo e enredo. Seus livros são engraçados. Quando descobri que ele tinha escrito coisas além de True Grit, minha esposa e eu lemos todas elas em uma semana.
Richard Powers. Eu o admirava antes de Overstory, mas não achava que alguém pudesse escrever um bom romance ambiental. Ele escreveu um ótimo.
Há outros que estou deixando de fora, Richard Ford, Don DeLillo, e muito mais, mas esta lista já é muito longa.
LGF: The Middle Ground está completando 30 anos de sua primeira edição, o Sr. revelou que levou uma década para escrevê-lo e que se tivesse inicialmente estimado a quantidade de trabalho que teria para escrevê-lo, não teria realizado este projeto. Poderia nos dizer quais procedimentos de trabalho e rotinas ajudaram o Sr. a organizar e sistematizar um volume tão grande de informações ao longo daqueles 10 anos?
RW: Eu comecei este livro antes que eu pudesse obter cópias digitais de documentos, então eu não usei computadores para organizar as informações. Boa parte do material veio de viagens de pesquisa de verão para Paris e para Ottawa, mas eu finalmente descobri que os canadenses tinham feito cópias de microfilme da maioria das coleções francesas pertinentes. Usei essas cópias, imprimindo as cartas. Um dos problemas era que a caligrafia era muitas vezes ilegível, e muitos dos que estavam no serviço francês não falavam francês como primeira língua. Suspeito que alguns mal eram alfabetizados. Isso foi um desafio e atrasou as coisas.
Como eu tinha muitas fontes de muitos arquivos espalhados por vários países, acabei organizando tudo por data. Eu arquivei o material primário cronologicamente, e porque tantos nomes nativos foram transliterados, e porque muitas vezes um indivíduo tinha nomes diferentes ao longo da vida dele ou dela, recorri a gráficos para mantê-los corretos. Fiz a mesma coisa com os nomes das aldeias. Mesmo assim, cometi erros.
Eu trabalhei por meio do material cronologicamente, desenvolvendo conceitos conforme eu seguia, e depois voltando para reorganizar e reescrever.
LGF: O Sr. aponta que um dos livros que mais o ajudou a pensar sobre o Middle Ground foi Islands and Beaches, de Greg Dening43 (1980) com a metáfora da praia como zonas de contato. Poderia nos contar mais sobre isso e outras análises de Dening que o influenciaram?
RW: Quando li pela primeira vez Dening, eu estava lutando com o problema de como entender culturas e sociedades nativas quando praticamente todos os registros escritos vieram de pessoas que não eram membros dessas sociedades. A metáfora de Dening - e o trabalho - me salvou. O interior das culturas e sociedades nativas eram ilhas e mal eram acessíveis para mim, mas os lugares onde europeus, americanos e povos indígenas se encontravam eram as praias, e aqui eu não só tinha material abundante, mas grande parte desse material consistia de pessoas tentando se explicar a estranhos, manipular estranhos, cooperar com estranhos, e matar estranhos. A partir disso, eu desenvolvi o Middle ground.
LGF: Roy Wagner44 (1981) e Anthony Giddens45 (1979; 1981; 1984) também desempenharam um papel importante no desenvolvimento do conceito de middle ground, certo? Poderia nos dar mais detalhes sobre sua leitura das obras desses autores?
RW: Giddens desempenhou um papel maior do que Wagner. Um dos problemas que enfrentei foi que os estudiosos sob a influência persistente do estruturalismo, enfatizavam os elementos estruturais duradouros da cultura que eram comparados com a natureza efêmera da história. Giddens, mais do que qualquer outro teórico que eu li apagou a distinção; ele ofereceu um relato persuasivo de como as culturas mudam. Para mim, a visão central de Giddens era que ambos os novos elementos em uma cultura e manutenção de elementos existentes envolvem o mesmo processo. Uma cultura nunca pode ser estática; ela tem que ser transmitida ativamente para mudar ou permanecer a mesma. As culturas só persistem através da transmissão, assim uma cultura existente nunca pode ser estática. Para manter um conjunto de crenças culturais, alguém tem que passá-las para os outros. Giddens me deu uma lente através da qual observar as mudanças culturais que ocorrem entre povos indígenas e europeus nos séculos XVII, XVIII e início do século XIX.
LGF: No Capítulo 2 de The Middle Ground, ao lado das obras de Giddens, o Sr. se refere à Ilhas da história, de Marshall Sahlins46 (1985), qual é a influência de Sahlins no processo de elaboração conceitual do middle ground?
RW: Islands of history me ofereceu um exemplo de contato cultural que exibiu, e analisou, as complexidades de um episódio de contato cultural que envolvia uma busca de sentido. Não era o middle ground, mas era um exemplo esclarecedor de como ações aparentemente inexplicáveis se tornaram compreensíveis no quadro adequado.
LGF: Além desses autores citados, que outros estudiosos foram importantes no desenvolvimento do conceito de middle ground?
RW: James Clifford47 e Eric Wolf48.
LGF: No Prefácio da edição comemorativa de 20 anos da publicação da primeira edição de The Middle Ground (WHITE, 2011a [1. ed. 1991]) (doravante Prefácio), o Sr. aponta vários estudos que operaram com o conceito de middle ground [ver nota 15]. Nos últimos 10 anos, o Sr. ficou sabendo sobre outros estudos relevantes que usaram o conceito? Se sim, poderia nos dizer quais?
RW: Muitas vezes me perguntam isso, e eu, como farei aqui, objeto porque nem todo mundo usa ele [o conceito] no sentido que eu pretendia. Eu nunca quis me colocar como juiz do middle ground. O conceito, afinal, é baseado em criativos mal-entendidos, portanto, dificilmente posso contestar que as pessoas o usem de maneiras que nunca pretendi.
LGF: No Prefácio, o Sr. aponta que as principais críticas ao The Middle Ground vieram dos estudos de Giles Havard49 (2003) e James Merrell (1999) [ver nota 40]. Após os argumentos expostos no Prefácio, o Sr. soube se Havard e Merrell responderam às suas afirmações? Se sim, qual é o conteúdo das respostas deles?
RW: Eles podem ter, mas eu não as vi. Ambos são estudiosos por quem tenho considerável respeito.
LGF: Para responder as críticas de Havard, o Sr. revisitou o trabalho de Lévi-Strauss50. Quais foram os principais elementos da obra de Lévi-Strauss que influenciaram sua análise histórica? O trabalho de Lévi-Strauss ainda influencia sua produção?
RW: Em certo sentido, o midde ground é uma forma do que Lévi-Strauss chamou de bricolage - utilização do que está à mão para criar o que é necessário para superar um obstáculo, mas Lévi-Strauss, como discutirei em um momento, também estabeleceu limites sobre o que o bricoleur poderia fazer e as ferramentas disponíveis para eles, o que faz do middle ground algo além de seu conceito de bricolage.
Para Levi-Strauss, o bricoleur não apenas trabalha com materiais existentes, mas com os mesmos materiais. Não envolve nada de novo. É uma forma de pensamento mítico, que se diferencia do pensamento de Lévi-Strauss à medida que a ciência “cria seus meios e resultados na forma de eventos, isto é, para as estruturas que ela está constantemente elaborando e que são suas hipóteses e teorias”. Mas é precisamente por isso que as tentativas de Havard de usar a divisão estruturalista duvidosa de Lévi-Strauss do mundo em sociedades quentes e frias são tão problemáticas.
Um aspecto estranho deste debate é que o próprio Lévi-Strauss nunca pensou que qualquer sociedade estava fora da história e da mudança - “todas as sociedades estão na história e na mudança: que isso é tão patente”. Sua alegação era que essas sociedades consideradas “primitivas” “querem negar [a história e a mudança]”. Mas as sociedades do middle ground são híbridas. Elas certamente tinham meios rituais para negar as perturbações da história, para restaurar tudo a um estado equilibrado e anterior, mas não só esses rituais são imperfeitos, como também são em si mesmos históricos e criados para alcançar novos fins. Eles são feitos para moldar eventos e criar, se necessário, novas estruturas.
LGF: Desde 2011, o Sr. tomou conhecimento de outras obras relevantes que criticam de forma contundente o conceito de middle ground? Se sim, quais? O Sr. pretende responder a essas críticas?
RW: Tenho certeza de que elas estão por aí, mas, como disse, tentei deixar o debate continuar sem mim. Tem havido alguns que tenho visto que adotam o que me parecem visões essencialistas de cultura.
LGF: Kevin Barksdale (2007) [ver nota 14] argumenta que The Middle Ground se tornou um terremoto historiográfico. No Prefácio, analisando suas repercussões, o Sr. afirma que o livro teve repercussões na Europa, África e Austrália. Essa avaliação não inclui a América Latina e o Brasil. O Sr. teria uma avaliação/hipótese sobre por que The Middle Ground não foi incorporado ao debate sobre as relações entre sociedades nativas e coloniais no cenário historiográfico/antropológico latino-americano e brasileiro?
RW: Estou surpreso que não tenha desempenhado um papel mais importante no Chile, Argentina e México. Achei que o contexto para o surgimento de um middle ground era um frágil equilíbrio de poder em que cada lado precisa de algo do outro, mas nenhum dos lados é forte o suficiente para obrigar o outro a fazer o que deseja. Eu penso que tais condições surgiram repetidamente no Chile, Argentina e norte do México. Não conheço o suficiente sobre as relações indígenas no Brasil.
LGF: O Sr. chegou a ter contato com a literatura que aborda a história indígena na América Latina? Em caso afirmativo, poderia apontar quais autores e obras e como elas influenciaram em sua produção?
RW: Há cerca de 10 anos participei de um congresso que rendeu um livro editado por David Marbury-Lewis51 - Manifest Destinies and Indigenous People52, que apresentou Claudia Briones53, Walter Delrio54, João Pacheco de Oliveira55 e José Bengoa56 e seus trabalhos. Li historiadores mexicanos da conquista - como Miguel León-Portilla,57 e James Lockhart58 - até o século XIX. Lecionei com Tamar Herzog59, que escreveu sobre povos indígenas na América Ibérica, trabalhei, durante anos, num livro que tenta olhar as terras entre o Círculo Ártico e o Vale do México, entre o contato e meados do século XIX, como uma região amplamente fora do controle imperial e estatal. Isso me levou a ler historiadores mexicanos e histórias da fronteira para este período: Elizabeth John60, Peter Gerhard61, Steve Hackel62, Thomas Hall63, George Phillips64, Cynthia Radding65 e Andres Reséndez66. A grande lacuna é minha carência dos historiadores mexicanos escrevendo sobre o norte do México.
LGF: O argumento central da minha tese de doutorado é que: entre aproximadamente 1680 até cerca de 1830, na região do rio da Prata emergiu um modo específico de middle ground que pautou as interações entre Guaranis-Missioneiros e frentes coloniais ibéricas (FONTELLA, 2020a). Para elaborar esse argumento, fiz uso do arcabouço conceitual da etnogênese. Na academia norte-americana, principalmente na área da antropologia, existem estudiosos consagrados como Gerald Sider,67 Jonathan Hill,68 Stuart Schwartz,69 Frank Solomon,70 Richard Price,71 Sidney Mintz,72 entre outros. O Sr. percebe possibilidades de interlocução entre estes campos de estudo?
RW: Sim. Sua tese é uma prova disso, e há muitos antropólogos de mentalidade histórica. Na verdade, tenho mais em comum com antropólogos como os que você mencionou do que com a etnohistória. É claro que há um trabalho muito, muito bem feito na etnohistória, mas estou cada vez mais desconfiado do upstreaming.
LGF: Tanto na introdução de The Middle Ground quanto no Prefácio, o Sr. contesta o upstreaming, quais são suas principais críticas em relação a este procedimento?
RW: Sim, como indiquei na resposta anterior. Minha crítica é que muitas vezes se assume que uma determinada crença, ritual ou prática contém um significado inato que não muda significativamente à medida que viaja no tempo. Estou muito mais propenso a pensar que é tão provável que mude quanto permaneça o mesmo. A teoria da estruturação de Anthony Giddens faz o melhor trabalho, eu penso, de conceituar como e por que as coisas mudam e permanecem as mesmas e a centralidade da história para ambos.
LGF: Desde a publicação de The Middle Ground, o Sr. é bem claro ao afirmar que o middle ground gira em torno de questões como acomodação, mudança social, produção de significado comum e de diferença, no Prefácio o Sr. chega a afirmar que “a beleza do middle ground [é que] permitiu que os povos formassem [uma] compreensão mútua por similaridade e mal-entendido” (WHITE, 2021, p. 295) e, por fim, que “o middle ground [...] parece um lugar de esperança” (WHITE, 2021, p. 296). Na conjuntura atual dos EUA (e continente americano como um todo), o Sr. vê condições viáveis para que sociedades indígenas e Estados-nação estabeleçam zonas de compreensão mútua?
RW: Penso que nos Estados Unidos, sim. Eu tenho, como uma espécie de carreira das sombras, trabalhado como uma testemunha especialista com várias nações indígenas. Quando os vejo trabalhar e conceituar estratégias, principalmente entre si, vejo acomodação, produção de significados comuns, mal-entendidos estratégicos, etc. Penso que é necessário olhar para o funcionamento interno das comunidades indígenas e não apenas para a imagem que elas apresentam aos de fora.
LGF: O Sr. se notabilizou como um historiador do período colonial americano, porém nos últimos 10 anos, publicou dois livros ambientados na segunda metade do século XIX, Railroaded (2011b) e The Republic for Wich It Stands (2017), poderia nos contar um pouco sobre os desafios que enfrentou para analisar contextos significativamente distintos do universo colonial?
RW: Há uma continuidade, mas o que me atraiu no final do século XIX foi a mudança dramática: a ascensão do trabalho assalariado, a industrialização, a reificação da raça, o desafio à religião pela ciência e a criação de novas formas de religião, a escala de migração... Eu poderia continuar indefinidamente. Minha técnica para tentar entender isso não foi tão diferente da que eu fiz em The Middle Ground. Procurei formulações culturais que não entendia. Na era colonial, era o uso mútuo da linguagem de parentesco e os diferentes significados atribuídos a ela. No final do século XIX, nos Estados Unidos, era a ênfase da pátria e os significados a ela associados. Foi por isso que os americanos enfatizaram uma palavra que em grande parte saiu da linguagem econômica - competência. Isso me deu entradas para o que era um mundo que eu não compreendia.
LGF: No Prefácio, o Sr. afirma que “questões mais amplas sobre a natureza das relações entre impérios e sociedades pré-estatais e as possibilidades de entendimento e acomodação interculturais [...] são questões de considerável importância e interesse contínuo para mim” (WHITE, 2021, p. 288). Ao mudar sua pesquisa para o século XIX, quais são as questões amplas que estão orientando suas análises?
RW: Passei a me interessar cada vez mais por trabalho e mão de obra, o desenvolvimento das corporações e suas interações com o Estado americano. Estou fascinado por formulações culturais que já foram centrais e depois quase desapareceram - a ideia de que uma economia deve produzir não o máximo de riqueza, mas cidadãos democráticos, por exemplo - mas que podem ser revividos para trabalhar no mundo. Estou interessado na interação da história e da memória.
LGF: Quais são os temas e projetos de pesquisa que o Sr. tem se dedicado atualmente?
RW: Comecei a escrever sobre fotografia integrando fotografia à minha narrativa. Recentemente publiquei um livro - California Exposures73 - com meu filho, Jesse White. Atualmente, estou escrevendo sobre a relação entre a democracia americana e a sociedade civil e as maneiras como os americanos relembram de seu passado. E eu tenho um pequeno livro, que surgiu de um curso que lecionei, sobre o assassinato de Jane Stanford, a cofundadora da Universidade de Stanford. É uma espécie de noir history [história negra] da Gilded Age [Era Dourada] de São Francisco.
Tenho, em banho-maria, um livro que comecei e abandonei várias vezes. Será uma tentativa de escrever uma história da América do Norte fora do controle de Estados e Impérios entre 1600-1850. Tentará integrar atores não humanos e ter uma estrutura narrativa construída em torno de vinhetas curtas.
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Notas
Autor notes
E-mail: leandro.goya@iffarroupilha.edu.br