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Os Tempos Dourados do Café, a Crise de 29 e a Criação da Fea RP !
Os Tempos Dourados do Café, a Crise de 29 e a Criação da Fea RP !
Revista de Contabilidade e Organizações, vol. 2, núm. 2, pp. 6-7, 2008
Universidade de São Paulo
O início: pode-se dizer que a criação do Campus da USP em Ribeirão Preto tem raízes nos tempos dourados do Café e de sua crise. Destaca-se, em particular, a história da contabilidade no mundo, que possui uma relação significativa com a crise de 29, considerada um marco mundial à sua evolução. Data-se que o Campus da USP em Ribeirão Preto, em especial, guarda diversos tesouros históricos, que estão ligados aos 152 anos de fundação desta cidade. Uma cidade que manteve no seu percurso histórico uma tradição na agricultura, primeiramente, cafeeira, que foi considerada o primeiro grande pólo de desenvolvimento, tanto foi à aptidão regional, das características destas terras para agricultura, que aqui reside, atualmente, um dos principais, se não o principal centro de produção de açúcar e etanol do planeta.
A primeira parte desta história1 tem início em 1874, com um fazendeiro que plantava café, também criador de gado e comerciante de escravos, conhecido por João Franco, que adquiriu terras e construiu a Fazenda Monte Alegre, que hoje é o núcleo principal, chamado Campus Universitário. Conta-se que a primeira grande residência erguida, como sede da Fazenda, abriga atualmente o Museu Municipal da Cidade (dentro do Campus, o Museu do Café). Nesse período a prosperidade do café foi tão pujante que a referida Fazenda foi o primeiro local da cidade a ter energia elétrica. Momentos não muitos felizes vieram a assombrar a Fazenda Monte Alegre (problemas de saúde, somados a perdas políticas) e levaram, em 1890, João Franco a vender suas terras e mudar-se de Ribeirão Preto. A propriedade passa a ter um novo gestor, o imigrante alemão, de origem judaica, Francisco Schimidt, que havia chegado ao Brasil em 1858, com apenas 9 anos de idade, vindo da aldeia de Ostoffer. A aquisição da Fazenda não se deu como fruto de seu trabalho em terras brasileiras, mas sim do empréstimo tomado da firma Theodor Wille, de Hamburgo, Alemanha.
O sucesso de Francisco Schimidt nos negócios foi tão vigoroso que aproximadamente em 1913, foi considerado o maior produtor mundial de café, recebendo o título de "Rei do Café". Conta-se também que a riqueza, o status e a sofisticação propiciada pelas plantações deram tanto a Ribeirão Preto e à Fazenda Monte Alegre requinte e conforto desfrutados na Europa, nesse período. O grande desenvolvimento econômico e social da região podia ser notado pela transformação da região, incluindo uma ferrovia particular, que atravessava algumas as fazendas. O poderio econômico era tão pujante, em meados da década de 20 que nesse período havia 14 mil colonos trabalhando em 60 propriedades. Uma área que contemplava 14 milhões de pés de café, com uma produção anual de 700 mil sacas. O coronel Schimidt, como vinha a ser chamado, adquiriu tal poder econômico, que teve uma moeda cunhada em alumínio, com o seu próprio nome, com plena circulação no comércio local.
A segunda parte desta história inicia-se com a com morte de Francisco Schimidt, em 1924, aos 73 anos. Os seus herdeiros liquidam seus débitos com a firma Theodor Wille, usando, para isso, grande parte de seus bens. No entanto, a Fazenda Monte Alegre é preservada pelo seu herdeiro, Jacob, que sofre uma derrocada nos negócios, com a quebra da bolsa de Nova York, pois o café passava a ser uma péssima opção, então. Os efeitos foram tão fortes que a cultura cafeeira, que nos 30 anos seguintes seria substituída pela cultura do algodão. No período ditatorial de Getúlio Vargas, no final da década de 30, surgem toadas de que a Fazenda Monte Alegre, então poderia ser fruto de desapropriação pelo governo, para fins educacionais. Jacob vendeu sua propriedade ao fazendeiro João Marquese, no entanto, o negócio não chega a receber escritura definitiva. De fato a Fazenda Monte Alegre vem a ser desapropriada em 1940, em janeiro de 42 é criada a "Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas" (EPA), que tinha como objetivo desenvolver um campo de formação de técnicos. Esse projeto era considerado uma "etapa da reforma agrária brasileira". Na Escola Prática de Agricultura os alunos moravam em sistema de internato, com todo o conforto. Mas foram raros os que, depois de formados, quiseram abandonar o conforto da cidade para se dedicar ao campo [...].
No final dos anos 40, devido às mudanças políticas e a redemocratização do país, os planos da Era Vargas são esquecidos e, conseqüentemente, a Escola Prática de Agricultura é desativada. No ano de 1948 é criada a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), cujas atividades iniciariam, de fato, apenas em maio de 1952, considerada como uma unidade solitária, numa área de 270 alqueires do Campus. Em 1960, ocorre a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Nos anos 70, instala-se a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Farmácia e Odontologia, que mais tarde (1973) seriam desmembradas nas Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto e Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto. Devido à necessidade de uma estrutura que aglutinasse os interesses comuns das unidades, cria-se, então, a Coordenadoria do Campus e, posteriormente, seria a Prefeitura do Campus Administrativo de Ribeirão Preto.
A terceira parte desta história, constitui-se em 1992, com a criação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP), que se inicia como uma extensão da Unidade de São Paulo, atendendo a antigas demandas da sociedade. Uma Unidade capaz de gerar e difundir conhecimentos nas áreas de Economia, Administração e Contabilidade. A FEA-RP foi instalada num prédio histórico, atualmente tombado como patrimônio cultural (antiga Biblioteca Central), onde procura, com intensa atuação de seus docentes, alunos e funcionários, manter-se na vanguarda do ensino, da pesquisa e extensão em Economia, Administração e Contabilidade, procurando oferecer, ao mesmo tempo, uma importante contribuição ao aprimoramento e uma maior intensificação da ligação Empresa-Universidade- Comunidade, por meio do aperfeiçoamento da formação humanística de seus estudantes, visando assegurar não só o eficiente desempenho profissional, mas também credenciá-los a enfrentar os desafios que a sociedade moderna, extremamente dinâmica, apresenta a cada momento.
A instituição do curso de Ciências Contábeis, em particular, teve a finalidade de oferecer aos alunos um elenco de disciplinas obrigatórias e optativas de formação humanística e social, nas áreas de Contabilidade Geral, Contabilidade e Análise de Custos, Controladoria e Gestão Financeira, Auditoria, Sistemas de Informações Contábeis. Além do curso de graduação, o Departamento de contabilidade mantém o curso de Mestrado em Controladoria e Contabilidade, que tem como objetivo promover o desenvolvimento científico dos profissionais e pesquisadores da contabilidade. Dentre as principais áreas de pesquisa destacam-se: o estudo da Controladoria de Empresas, Gestão e Contabilidade Ambiental, Controladoria e Contabilidade Aplicada ao Agronegócio, Cooperativismo e Educação e Pesquisa em Contabilidade. Junto ao departamento, há diversos grupos de pesquisa, em que os alunos podem atuar nos laboratórios, realizando projetos de iniciação científica, que fornecem a base para a sua formação profissional e científica. O departamento de Contabilidade da FEA-RP possui diversas atividades de extensão, por exemplo: Encontro de Professores¸ realizado anualmente, com objetivo de fornecer subsídio à formação dos demais professores da região. Os Diálogos com a comunidade, que tem como finalidade a promoção de palestras e workshops sobre temas relacionados área de contabilidade com a apresentação de soluções científicas para problemas econômicos, financeiros e contábeis da sociedade e das organizações. Destacam-se, também, os diversos cursos de capacitação realizados à sociedade.
Em relação à disseminação do conhecimento científico produzido pela academia de contabilidade brasileira tem-se a RCO - Revista de Contabilidade e Organizações, vinculada ao Programa de Mestrado em Controladoria e Contabilidade, mantido pelo Departamento de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - FEA-RP/USP. A Revista tem por objetivo reunir os melhores trabalhos que contribuem para a Ciência Contábil, priorizando sempre a Contabilidade na moderna visão multidisciplinar e interdisciplinar. Chegamos à segunda edição com importantes contribuições:
A pesquisa intitulada Estudo de Caso: uma reflexão sobre a aplicabilidade em pesquisas no Brasil, de Gilberto Andrade Martins, resgata a discussão sobre a aplicação da metodologia do estudo de caso como estratégia metodológica. É um ensaio teórico que oferecer uma análise critica sobre os pressupostos desta estratégia de pesquisa, as limitações e vantagens sobre o seu uso nas pesquisas brasileiras.
Antonio Lopo Martinez, Newton Carneiro Affonso da Costa Jr, César Medeiros Cupertino e Reinaldo Almeida Coelho analisaram as Propriedades das Séries Temporais de Lucros Trimestrais das Empresas Brasileiras e constaram que existe uma relação negativa entre variações sucessivas de lucros trimestrais, ou seja, empresas que aumentaram seus lucros acima da média num determinado período tiveram uma tendência a variar menos que a média nos períodos subseqüentes.
O estudo sobre a Avaliação de Subsidiárias Estrangeiras em Empreendimentos Multinacionais: um estudo de caso em 28 Países de Samantha Meloni, Elionor Jreige Weffort, Antonio Benedito Oliveira e Sirlei Lemes, tem uma abrangência internacional, uma análise que contemplou, basicamente, subsidiárias estrangeiras na Europa, Ásia, África, América Latina e América do Norte. Os achados da pesquisa indicam o desconforto dos gestores em relação; impacto dos tributos, conversão da moeda e critérios de avaliação dos ativos diferidos sobre a avaliação de desempenho. No entanto, os valores culturais não apresentaram relação com a percepção dos gestores.
José Carlos Oyadomari, Octávio Ribeiro De Mendonça Neto, Ricardo Lopes Cardoso e Mariana Ponciano de Lima, apresentam uma análise dos Fatores que Influenciam a Adoção de Artefatos de Controle Gerencial nas Empresas Brasileiras: um estudo exploratório sob a ótica da Teoria Institucional, sendo que os resultados obtidos indicam: aspectos cerimoniais e forcas miméticas na implementação dos artefatos.
A pesquisa sobre Custeio Alvo: utilização do sistema de gerenciamento de lucro pelos fabricantes de veículos automotores com indústria no Brasil, de Rigel dos Santos Brito, Solange Garcia e Beatriz Fátima Morgan, constou que as cinco empresas analisadas utilizam do sistema de custeio pesquisado, com forte intensidade, e a metodologia tem subsidiado os gestores nas escolhas das melhores alternativas (desejos dos consumidores, novos investimentos, novas instalações, realização de pesquisas de mercado, projeções de ciclo de vida para novos produtos), projeções de futuros lucros a serem alcançados e ainda formas de como maximizar os lucros desejados.
César Augusto Tiburcio Silva, Francisca Aparecida de Souza e Naiára Tavares Domingos, enfocaram a análise do Efeito do Custo Perdido: a influência do custo perdido na decisão de investimento, o trabalho constitui uma pesquisa empírica, realizada por meio de aplicação, de forma aleatória, de questionários a alunos de graduação de uma universidade. Os resultados indicam que a evidenciação do valor do custo perdido não influencia a decisão dos gestores.
O estudo sobre o Conhecimento de Contabilidade Internacional nos Cursos de Graduação em Ciências Contábeis: Estudo da Oferta nas Instituições de Ensino Superior das Capitais Brasileiras, de Jorge Katsumi Niyama, Bruno Marra Corrêa, Ducineli Régis Botelho e Claudio Moreira Santana, dedica-se ao estudo das grades curriculares dos cursos de graduação em ciências contábeis das Instituições de Ensino Superior das capitais dos estados brasileiros. Das 888 instituições existentes no Brasil, constatou-se que apenas 44 grades curriculares (4,96% da população, 15,39% da amostra e 24,04% das grades curriculares) integram a disciplina nas suas grades curriculares.
Juan Carlos Goes de Almeida, Rodrigo Simonassi Scalzer e Fábio Moraes da Costa analisaram os Níveis Diferenciados de Governança Corporativa e Grau de Conservadorismo: estudo empírico em companhias abertas listadas na Bovespa, os resultados demonstram que há um grau de conservadorismo e confirmam a existência da assimetria de reconhecimento das notícias boas e notícias ruins no mercado brasileiro.
Boa leitura, os Editores!
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