Editorial

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Editado por: Alketa Peci

Editorial

Revista de Administração Pública, vol. 51, núm. 4, p. 00, 2017

Fundação Getulio Vargas

Caros leitores,

Antes de apresentar as contribuições dos artigos reunidos neste novo número, gostaria de destacar a importância do seminário, realizado nos dias 20 e 21 de junho de 2017, no quadro do 50o aniversário da Revista de Administração Pública (RAP), em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

O seminário “Desafios no Campo da Administração Pública: Ensino, Profissionalização e Pesquisa” aglomerou mais de 300 participantes em um auditório lotado na Fundação Getulio Vargas (FGV), indicando a relevância de refletir sobre a administração pública nas suas diversas manifestações acadêmicas e profissionais. O evento reuniu dirigentes de escolas de governo, pesquisadores, acadêmicos e gestores públicos que apresentaram temas relacionados com a formação para a função pública e com a produção acadêmica em administração pública, com foco em desafios relativos ao ensino, ao aprendizado e à inovação em tempos de incerteza.

A atividade integrou também o “Encontro da Rede de Escolas de Governo 2017” e a “Comemoração do 50o Aniversário da Revista de Administração Pública (RAP)” da FGV/EBAPE e contou também com a presença do editor-chefe da Public Administration Review, professor James Perry; professor Richard Stillman, ex-editor-chefe da Public Administration Review; o coeditor da revista científica Public Administration, professor Salvador Parrado, e o editor adjunto da RAP, professor Fernando Coelho.

As apresentações dos palestrantes do Evento “Desafios no Campo da Administração Pública: Ensino, Profissionalização e Pesquisa” estão disponíveis no site de hospedagem da Enap.1

O quarto número da RAP 2017 reúne um conjunto de trabalhos que se localizam na interface da política com a administração pública. A complexidade desse simbiótico vínculo caracteriza o cerne das pesquisas da nossa área e as contribuições dos manuscritos aqui reunidos evidenciam diversas facetas dessa relação.

Um conjunto importante dos artigos analisa a relação entre crescimento econômico, nas suas diversas dimensões, e política. Luciano Gomes Gonçalves, Bruno Funchal e João Eudes Bezerra Filho concluem que o fomento ao crescimento econômico via investimento público em infraestrutura não é impactado de forma significativa pela ideologia do partido que está à frente do governo estadual, mas apenas pelo calendário eleitoral, enquanto Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes e Gustavo Andrey de Almeida Lopes Fernandes olham para o lado inverso dessa relação, apresentando evidências de que o crescimento econômico local impacta positivamente a porcentagem de votos obtidos pelo incumbente, tanto no nível local (candidato a prefeito) quanto no nível nacional (presidente).

Obviamente, essa relação “não correspondida” se reflete em custos de governar, conforme se analisa no trabalho de Frederico Bertholini e Carlos Pereira que evidenciam que os custos de governar (medidos pelo Índice inédito de Custo de Governo) são maiores em coalizões grandes, ideologicamente heterogêneas e desproporcionais.

Outros artigos diagnosticam o estágio atual das finanças públicas nos entes federativos do Brasil, assim como variáveis que influenciam a qualidade do gasto público e seu impacto no crescimento. Paulo Rogério Faustino Matos analisa se o esforço de cada ente federativo em gerar fontes alternativas de financiamento se traduz em geração de bem-estar social, indicando quais unidades da federação foram mais eficientes e alertando para os riscos de endividamento excessivo. Luiz Carlos Ribeiro Neduziak e Fernando Motta Correia diferenciam os gastos produtivos dos improdutivos e seu impacto no crescimento econômico no período de 1995-2001, evidenciando que variáveis relacionadas com as funções básicas do governo na economia apresentaram um comportamento positivo e robusto em relação ao PIB, a exemplo dos gastos de natureza social (habitação e urbanismo e assistência e previdência) e também o impacto positivo da introdução de regras, por meio da LRF. Andre Carlos Busanelli de Aquino e Ricardo Rocha Azevedo nos ajudam a problematizar o recurso a “restos a pagar”, indicando que, além do crescente endividamento, a fraca regulação sobretudo dos restos a pagar não processados está reduzindo seriamente a credibilidade e a transparência do orçamento em todos os níveis de governo. Por fim, Camila Furlan da Costa, Igor Baptista de Oliveira Medeiros e Guilherme Brandelli Bucco analisam política pública de financiamento da cultura, evidenciando problemas de concentração de empresas e de concentração regional, mantendo os recursos públicos sob o domínio de poucos.

Por fim, três artigos analisam as relações de parcerias público-privadas, que, à luz de problemas anteriormente diagnosticados, apresentam-se como estratégias de superação da crise do setor público. Entretanto, como Miquel Salvador e Clara Riba identificam, as decisões de externalizar os serviços públicos são motivadas mais por questões pragmáticas, como grau de endividamento, afinidade gerencial e meio de flexibilização de mão de obra no setor público, do que por motivos ideológicos. As experiências podem ser positivas, como evidenciam Claudio José de Oliveira dos Reis e Sandro Cabral na análise das PPP das arenas esportivas para a Copa do Mundo Fifa Brasil 2014. Os autores concluem que as PPP geram, de fato, value for money para a administração pública brasileira, sobretudo referente aos aspectos de prazo, custos, receitas diversificadas e processo licitatório em decorrência das estruturas de incentivos oriundas dos contratos de PPP e da própria flexibilidade gerencial inerente aos atores privados. O papel intermediador dos gestores de médio escalão na melhoria da complexa relação principal-agente que caracteriza as PPP é evidenciado no artigo da Clara Brando de Oliveira e Joaquim Rubens Fontes Filho que destacam como esse burocrata municia o principal de dados sobre as reais condições de desempenho pregresso do agente e do cumprimento dos termos acordados no contrato.

Desejo uma boa leitura!

Notas

1 Link de acesso às apresentações do evento: <http://bit.ly/2xfPj2i>.

Autor notes

Alketa Peci - Doutora em administração e professora adjunta pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas. Editora-chefe da Revista de Administração Pública (RAP). E-mail: alketa@fgv.br.
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