Investigación

Escola pública e construção de projetos de vida estudantil

Public school and construction of student life projects

Escuela pública y construcción de proyectos de vida de los estudiantes

Pablo Castillo Armijo
Universidad Adventista de Chile, Chile
Marielza Correia de Lima
Universidad SEK, Chile

Escola pública e construção de projetos de vida estudantil

Revista de estudios y experiencias en educación, vol. 20, núm. 42, pp. 17-32, 2021

Universidad Católica de la Santísima Concepción. Facultad de Educación

Recepção: 04 Dezembro 2019

Revised document received: 09 Janeiro 2020

Aprovação: 15 Abril 2020

Resumo: A escola é uma instituição social onde crianças e jovens passam grande parte de suas vidas para aprender um currículo pré-estabelecido, que raramente é discutido em termos de seus conteúdos e procedimentos e ainda menos em relação às suas atitudes, acreditamos que neste momento é onde se estabelece a importância deste artigo, que enfoca a contribuição ou não que as escolas estão desenvolvendo para que esses jovens construam seus projetos de vida. As experiências escolares vivenciadas por crianças e jovens devem ser significativas e capazes de elevar seus potenciais inatos, além de contribuir para a construção dos valores sociais desejados. A fim de investigar a contribuição da escola pública para a construção de projetos de vida de seus alunos, são apresentados os resultados de um estudo de caso, para o qual foi aplicado um questionário a 254 alunos de 15 a 17 anos da terceira série do ensino médio de três escolas públicas do Estado de Alagoas-Brasil. Os resultados obtidos corroboram o imenso abismo entre os enunciados e a teoria contidos nos documentos educacionais oficiais, e o que acontece na prática pedagógica cotidiana das escolas públicas em relação ao fenômeno estudado. Ressalta-se que, apesar dessa percepção negativa, não há como negar que existem esforços e atividades desenvolvidas pelos próprios professores para contribuir e colaborar na construção autônoma dos projetos de vida de seus alunos.

Palavras-Chave: Escola pública, projeto de vida, ensino médio, Alagoas.

Abstract: The school is a social institution in which children and young people spend much of their lives to learn a pre-established curriculum, which is rarely discussed in terms of its contents and procedures and even less towards their attitudes. We believe that at this point, it is where we establish the importance of this article, that focuses on the contribution or not that schools are developing for these young people to build their life projects. The school experiences lived by children and young people should be meaningful and capable of raising their innate potentials, as well as contributing to the construction of desired social values. In order to investigate the contribution of the public school to the construction of life projects of its students, the results of a case study are presented, applying a questionnaire to 254 students from 15 to 17 years of third series of secondary education of three public schools in the State of Alagoas-Brazil. The results obtained corroborate the immense abyss between the statements and theory contained in official educational documents, and what happens in the daily pedagogical practice of public schools in relation to the phenomenon studied. We highlight that despite this negative perception, there is no denying that there are efforts and activities developed by the teachers themselves to contribute and collaborate in the autonomous construction of the life projects of their students

Keywords: Public school, life project, high school, Alagoas.

Resumen: La escuela es una institución social donde los niños y jóvenes pasan gran parte de sus vidas para aprender un currículum pre-establecido, que pocas veces se discute en cuanto a sus contenidos y procedimientos y menos aún hacia sus actitudes, creemos que en este punto es donde establecemos la importancia del presente artículo, que centra su mirada en la contribución o no que están desarrollando las escuelas para que estos jóvenes construyan sus proyectos de vida. Las experiencias escolares vividas por niños y jóvenes deberían ser significativas y capaces de elevar sus potencialidades innatas, como también contribuir a la construcción de valores sociales deseados. Con el objetivo de investigar la contribución de la escuela pública para la construcción de proyectos de vida de sus estudiantes se presentan los resultados de un estudio de casos, para lo cual se aplicó un cuestionario a 254 estudiantes de 15 a 17 años de tercera serie de enseñanza media de tres escuelas públicas en el Estado de Alagoas-Brasil. Los resultados obtenidos corroboran el inmenso abismo existente entre las declaraciones y teoría contenida en documentos educativos oficiales, y lo que acontece en la práctica pedagógica cotidiana de las escuelas públicas en relación al fenómeno estudiado. Se destaca que, a pesar de esa percepción negativa, no se niega que existen esfuerzos y actividades desarrolladas por los propios profesores para contribuir y colaborar en la construcción autónoma de los proyectos de vida de sus estudiantes.

Palabras clave: Escuela pública, proyecto de vida, enseñanza media, Alagoas.

1. INTRODUÇÃO

Neste artigo discutiremos o ensino médio no Brasil a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei n. 9.394, 1996), problematizando o atendimento da escola junto às necessidades e anseios das juventudes1.

Trata-se de parte dos resultados de uma pesquisa de doutorado, que teve como objetivo principal analisar as contribuições da escola pública de Ensino Médio para a construção dos projetos de vida dos estudantes de Alagoas e como objetivos específicos buscou identificar a proposta de ensino médio desenvolvida pela escola, com base na legislação educacional; avaliar a relação existente entre as atividades desenvolvidas na escola e os projetos de vida dos jovens.

As pesquisas (Dayrell e Jesus, 2013; Krawczyk, 2009) mostram que os jovens buscam uma escola que faça sentido para sua vida, que contribua para o entendimento da realidade e na qual o que se ensina tenha vínculos com seu cotidiano. A ausência de um diálogo entre os conteúdos curriculares e a realidade provoca desinteresse e dificulta o envolvimento dos(as) alunos(as) nas atividades escolares.

Como professora de filosofia de uma escola pública de ensino médio, foi possível vivenciar as dificuldades enfrentadas pela mesma para educar esses jovens que se encontram desencantados com a escola. Este panorama acelerou nossas inquietações, nos colocando urgência em compreender a escola de ensino médio através da ótica de seus jovens alunos.

Neste artigo apresentamos a base teórica que abordou a educação das juventudes sob dois eixos temáticos: 1) A escola de ensino médio e as relações estabelecidas com a juventude; e 2) O papel da escola de nível médio. Discutiremos as contribuições dessa base teórica para a construção dos projetos de vida da juventude. Em seguida apresentamos os procedimentos metodológicos, sendo destacados o lócus da pesquisa, a caracterização dos sujeitos respondentes e os instrumentos para coleta de dados. Concluímos com a análise e discussão dos resultados e as considerações finais.

2. A escola de ensino médio e as relações estabelecidas com as juventudes

A educação brasileira ganhou avanços notáveis a partir da década de 1990 com as reformas apresentadas pela LDB 9.394/96. Entre esses avanços, destacamos a inclusão do ensino médio, como última etapa da educação básica, o que colaborou para o seu reconhecimento enquanto uma das etapas mais significativas da formação básica educacional, tendo fortalecida, a sua importância política e social no contexto brasileiro. A lei aponta transformações no sentido de que o ensino médio não se resuma apenas à simples preparação para o ensino superior ou a mero treinamento profissional, mas que complete a formação das juventudes para o exercício de uma cidadania plena (Lei n. 9.394, 1996).

Embora esteja expressa com clareza a importância da formação educacional básica enquanto alicerce e condição para o exercício pleno da cidadania, quando se analisa o ensino médio atual, essa etapa específica da educação básica tem sido considerada, como a mais problematizada na história da educação, pois manifesta “o nó da relação social implícita no ensino escolar nacional” (Cury, 1991, p. 5).

Após quase três décadas da aprovação da LDB, percebe-se quase a universalização desse nível de ensino, todavia, o crescimento quantitativo não é condizente com o crescimento qualitativo. Existem alguns entraves que ainda não foram superados, como por exemplo, a permanência dos jovens na escola e a melhoria na qualidade do ensino ofertado. Segundo Menezes (2001, p. 201),

O ensino médio público atual teve crescimento numérico exponencial, em escala inédita, não acompanhada por uma necessária transformação de qualidade; no entanto, em vez de lamentar a transformação hoje vivida pelo ensino médio, é preciso saudar a chegada a ele de um público que, antes, sequer o conhecia.

Ao estabelecermos o processo relacional entre juventudes e escola como um dos eixos dessa investigação, fez-se necessário, inicialmente, destacarmos duas questões extremamente relevantes: o contexto no qual as juventudes estão inseridas e o conceito de juventudes que defendemos.

Essa última questão torna-se significativa, não somente para explicitar a visão da referida pesquisa acerca da categoria em questão, mas, principalmente, porque diante da diversidade em que vivemos e dos contextos tão distintos nos quais se encontram os nossos jovens, não podemos nos limitar a um único olhar sobre juventude. Além disso, conforme destaca Souza (2003), ao conceituarmos essa categoria - juventude - é preciso considerar que ela é uma categoria histórica e social e para melhor compreensão e entendimento devemos considerar o seu aspecto plural no que diz respeito a todas as dimensões que ela traz consigo. Isso implica dizer que não se pode desvincular o jovem de sua história de vida.

Freire (1989) já enfatizou em muitos de seus escritos a relevância que tem a história de vida de cada ser humano, a partir da leitura de mundo que deve ser considerada dentro do processo educacional. Ainda segundo Freire (1989), a leitura de mundo antecede a leitura da palavra e não o oposto. Por isso mesmo, a escola deve estar atenta a essa questão, tão significativa para o processo formativo dos jovens, pois é impossível tornar a escola um ambiente atrativo e com a cara das juventudes, se não considerarmos a história de vida de nossos jovens, suas preferências, interesses, o que está relacionado aos seus reais desejos e tudo aquilo que trazem e carregam consigo.

Conforme destacado anteriormente, além da questão de considerar a juventude na sua totalidade, em relação aos aspectos históricos, culturais, econômicos e sociais que, não devem ser desvinculados em nenhum momento, para garantir o entendimento sobre as juventudes, é preciso, ainda, entendermos os conceitos que estão atrelados à mesma.

Ao falarmos de juventudes, é impossível unificar o seu conceito, Souza (2003), ao conceituarmos essa categoria-juventude- destaca è preciso considerar que ela è uma categoria histórica e social e para melhor compreensão e entendimento devemos considerar o seu aspecto plural no que diz respeito a todas as dimensões que ela traz consigo. Entre as várias representações podemos destacar: a questão das juventudes vista como um processo de preparação para o futuro, em que é possível e permitido um tempo-espaço em que o jovem passe por suas experiências de modo natural, em que erros e acertos são vistos como parte de um processo de crescimento e não somente de fracassos e falhas; o conceito de juventudes como a fase dos problemas, dos conflitos, que batizou a própria juventude de “transviada”, por contestar, na maioria das vezes o modelo ditador com o qual as sociedades impõem as regras para os principais personagens dessa fase; o conceito de juventudes atrelado ao momento de estabelecer a sua própria identidade, pela busca daquilo que os identifica. É o chamado momento de encontro com os seus “pares” que, na maioria das vezes, acaba por impulsionar os embates junto à própria família e a outras instâncias da sociedade, como a escola.

Todos esses olhares, acerca da juventude foram construídos a partir do modo como a sociedade enxergou e, ainda, enxerga o jovem, o que nos leva a entender que conceituar juventudes/s não é uma tarefa fácil. Dayrell (2005), em concordância com autores como Abramo (1994), Ariès (1981) e Peralva (1997), sustenta essa afirmação quando diz que a juventude, enquanto categoria social é resultado do processo de desenvolvimento das sociedades modernas e consequência das novas condições sociais geradas pelo processo de evolução científica e tecnológica dessas mesmas sociedades. Por isso mesmo, o próprio Dayrell (2003, p. 42), confirma toda a complexidade em torno do conceito e a dificuldade em defini-lo “Construir uma definição da categoria juventude não é fácil, principalmente porque os critérios que a constituem são históricos e culturais”. Observa-se que Peralva (1997, p. 110) já afirmava que “a juventude é, ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação”.

Ao levar em consideração esses aspectos apontados por Dayrell (2003) e Peralva (1997) que discutem a categoria juventude, percebe-se que a escola, que deveria ser um dos principais lócus a ajudar a entender toda essa complexidade em torno dos jovens, atualmente, tem sido uma das entidades sociais que mais tem colaborado para o crescimento de uma visão simplista acerca do mesmo, o que tem dificultado a sua relação com os jovens alunos do ensino médio.

O que pode ser percebido no contexto atual de muitas escolas é um conflito constante e crescente entre essa instituição e os próprios jovens.

De acordo com Silva e Rodrigues (2015, p. 8),

[...] a aproximação, o diálogo e a própria relação entre a juventude e a escola parecem se tornar algo cada vez mais distante. De um lado a escola, enquanto representação institucional de uma sociedade altamente excludente e preconceituosa atribui a responsabilidade dessa relação, extremamente tensa e conflitante, à juventude; e, do outro, a própria juventude que relaciona, entre muitas das dificuldades vivenciadas na sua relação com a escola, o distanciamento que a instituição estabelece de seus interesses reais, transformando o espaço escolar numa espécie de “sacrifício” pelo qual os jovens são “obrigados” a passar se quiserem ter acesso ao “diploma”.

Apesar da crescente procura dos jovens pela escola de nível médio ainda é assustador o número de jovens que estão fora da escola. Segundo pesquisa divulgada pelo UNICEF (2012) - Fundo das Nações Unidas para a Infância - no Brasil cerca de 1,7 milhão de adolescentes estão fora da escola e esse é o grande desafio para a educação do ensino médio. No Estado de Alagoas, lócus desta pesquisa, o quadro não é diferente, pois, segundo o censo escolar de 2015 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 22,6% dos jovens entre 15 - 17 anos, que correspondem ao total de 48,5 mil, estão fora da escola. Essa taxa é a maior do país (Instituto Unibanco, 2017).

Diante desse contexto nos questionamos: É possível encontramos um caminho que ofereça mudança diante de um cenário tão desolador?

Segundo Torres (2003, p. 6),

A mudança esperada atualmente requer que se busque adequar a relação do sujeito com o conhecimento aos novos tempos, isto é, passar de uma educação conservadora, baseada na transmissão da informação, por meio de disciplinas estanques, descontextualizadas e fragmentadas, para uma aprendizagem interdisciplinar, promovendo uma visão holística das necessidades do estudante [...] Entretanto, durante muito tempo as mudanças almejadas nas escolas públicas têm acontecido de forma lenta e quase imperceptível em relação aos outros segmentos da sociedade, como o comércio, a indústria e a saúde.

Em geral, os jovens assumem a responsabilidade pelo fracasso advindo pelo desinteresse pela escola que tem uma péssima infraestrutura, além da má relação professor - aluno. Segundo lá INEP/UNESCO (2007) os jovens a escola não é um espaço para eles. Em sua avaliação da escola, reclamam dos conteúdos, dos métodos, das avaliações, etc. Todos esses entraves acabam “desencantando” os jovens para o universo escolar.

De acordo com Brandão (2011), o grande desafio se constitui em trazer o jovem para a escola, trabalhar para que ele permaneça estudando e conclua o ensino médio com sucesso. É necessário compreendermos, enquanto atores da escola, que compete à instituição escolar definir o trabalho que irá desenvolver de acordo com o que está pautado no Projeto Político Pedagógico, para alcançar os objetivos propostos, utilizando as melhores estratégias para avaliar os estudantes, pois os jovens precisam de uma escola que faça sentido para a vida e que contribua para a compreensão da realidade.

3. A escola e suas contribuições na construção dos projetos de vida das juventudes

Conforme pôde ser visto até aqui, mesmo que, na maioria das vezes seja conflituosa a relação entre o jovem e a escola, não há como negar a importância dela na vida do jovem. O que significa dizer que, de alguma forma, essa relação traz contribuições para que possam ser colhidos frutos de ambos os lados: o do jovem, enquanto aluno e o da própria escola, enquanto instituição social.

Em relação à escola, é importante destacar, incialmente, qual é o seu principal papel ou quais são os seus principais papéis, atualmente, na sociedade.

Alicerçados pelas afirmações de Barbosa, podemos afirmar que:

O papel que a escola ocupa hoje na sociedade brasileira é complexo. Muitas vezes ela contribui para a exclusão dos meios necessários à vida digna, pois as estruturas mais fortes organizam-se para privilegiar grupos e pessoas; as consciências são levadas por aquilo que parece natural no ambiente, tornando inquestionável e aceito pelo senso comum. A escola reforça esta prática e reproduz o egoísmo e a competição, elementos essenciais ao mundo em que predomina o mercado. A organização do fazer escolar é repetidora do sistema social injusto que a sociedade criou e mantém como forma de emperrar mudanças que possam alterar a ordem dominante (Barbosa, 2004, p. 9).

Esse reconhecimento sobre a forma como a escola se estruturou e vem se apresentando através dos tempos, não é algo que ocorre de modo aleatório, o que fica evidente quando a mesma autora nos diz que, enquanto instituição que está a serviço de uma classe dominante, a escola acaba fortalecendo os mecanismos que dão sustentação a este tipo de instituição, reproduzindo práticas educativas discriminatórias, essenciais à manutenção do sistema capitalista vigente.

Para Barbosa (2004, p. 9),

O sistema dominante é presidido por uma lógica que limita as práticas pedagógicas inovadoras. O modelo que vigora é, em si mesmo, anti-solidário e alienado social, pois tem medo da criatividade, da rebeldia, da participação. Não interessa a este uma escola geradora de conhecimento, capaz de formar pessoas com habilidades para pensar criticamente, questionar e intervir na realidade.

Fazer todas essas descobertas acerca da escola, num primeiro momento, pode nos levar a pensar que ela jamais atenderá os anseios das classes mais pobres e, consequentemente da própria juventude, com destaque para aquela oriunda da escola pública, na qual estão presentes os sujeitos desta pesquisa. No entanto, não se pode esquecer que, embora contaminada pelos principais valores capitalistas dominantes, a escola também traz em seu contexto esses mesmos sujeitos que formam a própria juventude, e, ao contrário da instituição, eles já apontam para um novo modo de estar e atuar dentro da sociedade.

Diante do quadro atual, a escola precisa se reencontrar com o seu papel enquanto instituição social e desenvolver um projeto educativo que permita a expansão das potencialidades humanas e a emancipação coletiva, ao invés de perpetuar a adaptação passiva.

Construir uma proposta educativa para o Ensino Médio não é tarefa fácil, isso porque a escola permanece com seu modelo tradicional que se torna cada vez mais ultrapassado, diante da pluralidade de significados. Diante dessas transformações a escola parece não corresponder aos anseios e necessidades dos jovens, não havendo uma identificação dos mesmos com a escola. Neste contexto, o Ensino Médio gera ainda discussões acerca de sua identidade, provocando nos jovens desinteresses para cursar esta modalidade de ensino. Krawczyk (2009, p. 7) afirma que:

Quando se trata de refletir sobre o sistema educacional brasileiro é consensual a percepção de que o Ensino Médio é uma etapa que provoca os mais controversos debates, seja pelos persistentes problemas de acesso, seja pela qualidade da educação oferecida, ou ainda, pela discussão acerca de sua identidade.

Nesse emaranhado de incertezas e mudanças encontra-se o jovem aluno do ensino médio, que não tem reconhecido a escola como o espaço ideal para a sua formação, uma vez que a mesma não reconhece a existência desse sujeito, para o qual ela deve trabalhar para o desenvolvimento de suas habilidades e competências.

Por ser a escola uma instituição onde os jovens passam parte de suas vidas, acredita-se que a mesma pode e deve contribuir para que os mesmos construam seus projetos de vida. As experiências escolares vividas pelos jovens de 15 a 17 anos, devem ser significativas e capazes de suscitar nesses sujeitos a valorização de seus potenciais.

No contexto atual, o aluno do ensino médio não tem encontrado na escola essas experiências significativas, o que nos leva a compreender que a escola a cada dia amplia o seu distanciamento em relação ao jovem, em especial os que pertencem às classes menos favorecidas. De acordo com o Plano Estadual de Educação de Alagoas:

De acordo com “O atual contexto do ensino médio no Brasil e mais especificamente em Alagoas, em que a situação se agrava, políticas mais significativas e ousadas precisam ser desenvolvidas para garantir a ampliação e a expansão da oferta com qualidade social para essa etapa, visto que aqueles que estudam no ensino médio público são pertencentes à classe trabalhadora ou são aqueles que vivem do trabalho” (Alagoas, 2015, p. 30).

As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução n.º 3, 2018, p. 13) já reconhecem, no artigo 26, § 3º que, “a proposta pedagógica, na sua concepção e implementação, deve considerar os estudantes e os professores como sujeitos históricos e de direitos, participantes ativos e protagonistas na sua diversidade e singularidade”.

Segundo Dayrell (2009) a escola tem de ser repensada para responder aos desafios que as juventudes nos colocam. São esses sujeitos que a escola precisa enxergar. É para eles e com eles que ela deve se preocupar, pois essas questões também são cruciais na elaboração de seus projetos de vida. Mas o que seriam realmente esses projetos? Como e de que forma a escola pode intervir na sua construção? Antes de tudo, necessário se faz que compreendamos o que é projeto de vida.

Conforme apontam algumas definições, é possível dizer que projeto é a antecipação de algo que pretendemos realizar no futuro de nossas vidas, na medida em que buscamos através do estabelecimento de objetivos e fins, a organização dos meios através dos quais esses poderão ser atingidos. “...o projeto e a memória associam-se e articulam-se ao dar significados à vida e às ações dos indivíduos, em outros termos, à própria identidade" (Velho, 1994, p. 101).

Já o projeto de vida, de acordo com Ciampa (1987), é uma categoria que contempla a dinâmica sócio histórica e o movimento de construção das identidades. Para o autor “O humano é sempre uma porta abrindo-se em mais saídas. O humano é vir a ser humano. Identidade humana é vida! Tudo que impede vida impede que tenhamos uma identidade humana" (Ciampa, 1987, p. 36).

O que o autor quis nos dizer é que o sentido e a orientação que damos à nossa vida é algo que pode ser traçado a partir dos nossos projetos de vida. Assim, ao tomarmos como base o projeto de vida, ele pode atuar como orientador para os rumos que devemos seguir no futuro. É possível e necessário que a escola encontre caminhos para a criação de uma proposta pedagógica que propicie aos jovens um espaço de discussão dos seus sonhos, planos para o futuro, de promoção do autoconhecimento e da realidade que o cerca, enxergando-o como um sujeito que tem potencial para agir e promover o protagonismo juvenil. A seguir iremos abordar o percurso metodológico desse estudo.

4. Metodologia

Realizamos um estudo de caso (Stake, 1999). O cenário dessa investigação foi o Estado de Alagoas, no qual a educação básica tem apresentado indicadores educacionais muito abaixo do esperado no cenário educacional brasileiro. Nos últimos anos os alunos da rede estadual de ensino de Alagoas têm apresentado desempenho escolar insatisfatório. Esse desempenho pode ser comprovado através dos Indicadores de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB2, no qual o Estado tem ficado com o pior resultado do país. Para realizar a investigação com os(as) alunos(as) e levantar os dados necessários junto a esses sujeitos, utilizamos como instrumento de coleta de dados o questionário, constituído de perguntas abertas e fechadas. A seguir, apresentamos o roteiro de perguntas usadas para coletar informações dos alunos e, assim, responder ao objetivo da pesquisa, que é conhecer as estratégias em relação à construção de seus projetos de vida estudantil:

1. Que ações / atividades / projetos a Escola tem colaborado para que você possa construir o seu projeto de vida y você atuasse como protagonista? Dê exemplos de como isso ocorre no dia a dia da sua escola.

2. Na sua opinião, quais são as oportunidades que o ensino médio deve oferecer a um jovem para alcançar um futuro promissor?

3. Que você pretende fazer quando concluir o ensino médio y como pensa em alcançar sus objetivos?

4. Explique em ordem de importância que personas podem ser consideradas um fator importante na construção dos projetos de vida?

A investigação foi realizada em três escolas da 2ª GERE (Gerência Regional de Educação) da rede estadual de Alagoas: situadas nas cidades de Anadia, Boca da Mata e São Miguel dos Campos. A população envolvida foi composta por 254 alunos matriculados na terceira série do ensino médio das referidas escolas (ver Tabla 1).

Tabla 1
Alunos(as) envolvidos(as) na pesquisa3.
Alunos(as) envolvidos(as) na pesquisa3.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Dos 254 estudantes que responderam ao questionário, todos matriculados na terceira série do ensino médio 125 tinham entre 15 e 17 anos (idade certa para cursar esta modalidade de ensino, segundo a LDB 9.394/96), 119 tinham de 18 a 20 anos, 08 tinham mais de 20 anos e 2 não declararam. Isso indica que entre os(as) alunos(as) investigados existe uma distorção idade/série de 51%. Os sujeitos são 102 do sexo masculino, 150 do sexo feminino e 02 não declararam. Quanto ao estado civil, 209 são solteiros, 08 são casados e 37 não declararam. Apenas 05 dos estudantes tinham filhos e a grande maioria deles (144) se declararam católicos; 80 evangélicos, 05 demais religiões e 25 disseram não ter religião.

5. Resultados

Apresentaremos a seguir, os resultados obtidos a partir do percurso metodológico empreendido para essa pesquisa. Esses resultados serão apresentados através dos quadros abaixo que contemplam uma síntese dos questionários realizados.

A partir de uma análise de conteúdo (Bardin, 2002), obtivemos 6 categorias (ver Tabla 2). Cada uma dessas categorias foi estabelecida pelo número de respostas (frequências) e representam as vozes dos alunos.

Tabla 2
Categorias de análises.
Categorias de análises.
Em cada quadro foram registradas as respostas que apareceram com maior frequência (ver Tabla 3).

Tabla 3
Categoria 1:Altas expectativas para o ensino médio.
Categoria 1:Altas expectativas para o ensino médio.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Os jovens pesquisados depositam na escola uma grande expectativa, no tocante à possibilidade de abrir caminhos para um futuro promissor. A maioria acredita que a escola é importante, pois pode contribuir efetivamente para a melhoria da sua vida, uma vez que concluído o Ensino Médio fica mais fácil conseguir um emprego digno.

Os jovens pesquisados têm grandes expectativas na escola, quanto à possibilidade de abrir caminhos para um futuro promissor. Muitos acreditam que a escola é importante porque pode contribuir efetivamente para a melhoria de suas vidas. Quando o ensino médio termina, é mais fácil conseguir um emprego decente e pode ser o caminho para o ensino superior.

Também está relacionado ao fato de o credenciamento de estudos ser visto pelos alunos como um elemento de respeito que a sociedade concede, o que é bastante simbólico, pois é uma percepção de satisfação que outra pessoa dá, neste caso a sociedade.

Sem dúvida, essa etapa escolar é cheia de sonhos e objetivos e isso deve ser considerado na construção de projetos de vida para jovens.

Tabla 4
Categoria 2: Experiências escolares que contribuem para projeto de vida dos jovens.
Categoria 2: Experiências escolares que contribuem para projeto de vida dos jovens.
Fonte: Elaborado pelos autores.

As falas dos sujeitos apontam algumas atividades como significativas, como, por exemplo, as palestras que foram realizadas com profissionais de diversas áreas. Essa atividade contribuiu para a construção dos projetos pessoais de alguns jovens. Outros exemplos foram a feira de ciências e os projetos que abordam temáticas sociais e ambientais, nos quais eles pesquisam assuntos de seus interesses para apresentarem para a comunidade o que lhes proporcionou maiores conhecimentos. Como percebido na fala dos sujeitos, todas as atividades que trazem contribuição para seus projetos de vida estavam ligadas a ambientes que não eram a sala de aula, pois os jovens enxergam o trabalho desenvolvido na sala de aula como importante apenas para passar no ENEM4.

Segundo Rochex (1995, p. 48), “as situações escolares, as atividades de aprendizagem e as interações que as envolvem [...] enraízam-se nos móbiles (motivos) de cada um de seus protagonistas, nas suas trajetórias sociais, biográficas e nos aspectos de sua personalidade”.

As atividades elencadas pelos alunos como significativas possuem diálogos entre os saberes pessoais e os saberes científicos o que possibilita o engajamento dos jovens nas atividades proporcionando interesse e prazer na realização das mesmas (ver Tabla 4).

Tabla 5
Categoria 3:Contribuição dessas experiências para o projeto de vida futura.
Categoria 3:Contribuição dessas experiências para o projeto de vida futura.
Fonte Elaborado pelos autores.

Com relação à contribuição das experiências escolares para o seu projeto de vida os alunos reconheciam que as atividades do quadro 5 proporcionaram-lhes aprendizados importantes para sua vida acadêmica e também para além do currículo da escola, pois oportunizaram o desenvolvimento de habilidades e competências básicas que são necessárias para o mundo do trabalho como por exemplo, falar em público.

Apesar do reconhecimento positivo acerca dessas experiências para sua formação os estudantes também destacaram a fragilidade com que eram desenvolvidas tais atividades, ora pela frequência, ora pela forma precária com que aconteciam. Daí conclui-se a importância de trabalhos contínuos que formem vínculos através de ações planejadas e executadas em conjunto, para que essas atividades perdurem para além do ambiente escolar.

A preocupação com o futuro profissional tem tirado o sono da maioria dos jovens brasileiros (Abramo, 2005) o que justifica a crescente procura do jovem por uma escolaridade maior, pois acredita que a mesma vai lhe proporcionar condições para inserção no mundo do trabalho.

Desse modo, “se queremos compreender os jovens na sua relação com a escola, devemos antes de tudo, buscar conhecê-los na sua realidade, para além dos muros da escola” (Dayrell, 2009, p. 23).

Segundo o autor, este é o grande desafio da escola de Ensino Médio desenvolver uma proposta que seja significativa para seus alunos e para que isso aconteça é preciso ouvir esses jovens para assim compreender seus comportamentos, suas demandas e necessidades próprias.

Com relação aos seus projetos de vida, percebeu-se que os jovens se referiam aos mesmos como sonho e não como meta a ser alcançada (ver Tabla 5). O projeto da grande maioria era concluir o ensino médio para conseguir um emprego. Quanto ao ingresso no ensino superior percebeu-se que eles carregam consigo muitas dúvidas quanto aos cursos desejados e incertezas quanto à realização desse projeto. No geral compreendem a importância da continuidade dos estudos e do ingresso no ensino superior, porém antes querem garantir sua estabilidade financeira através de um curso técnico e de um emprego.

Tabla 6
Categoria 4: Projeções futuras dos jovens.
Categoria 4: Projeções futuras dos jovens.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Sem dúvida, um dos maiores desejos dos jovens é concluir com êxito o ensino médio, para depois ter a oportunidade de obter um ensino superior e, assim, promover socialmente uma profissão e ajudar seus pais. É uma consequência lógica de objetivos futuros que nem todos alcançarão.

O conceito de família (ajudar os pais e se casar) é um elemento para destacar e exemplo significativo na vida futura dos jovens em seus projetos de vida. (ver Tabla 6).

Tabla 7
Categoria 5: Percepções negativas da escola.
Categoria 5: Percepções negativas da escola.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Perguntados sobre suas escolhas para o futuro e a influência da escola nessas escolhas os jovens demonstram insatisfação com relação à escola, como a ausência de espaços para a escola ouvir seus alunos e assim poder ajudá-los a fazer escolhas acertadas.

Os alunos percebem o tipo de instrução bancária recebida e criticam o fato de estarem sendo preparados apenas para avaliações padronizadas e não para aprender com a vida.

A voz dos jovens é fundamental no aspecto do conhecimento que a escola constrói e deve ser atendido pelos professores e pela administração.

Tabla 8
Categoria 6: Precisa alcançar uma escola ideal.
Categoria 6: Precisa alcançar uma escola ideal.
Fonte: Elaborado pelos autores.

A fim de satisfazer o pedido de uma escola em período integral para todos, em Alagoas o Programa Alagoano de Ensino Integral (pALei), teve início em 2015 (Decreto n. 40.207, 2015) e foi reestruturado em 2016 através do Decreto 50.331/2016.

Surge a partir das necessidades específicas das instituições de ensino médio da rede estadual alagoana e do desejo da equipe gestora de redesenhar o currículo de uma das etapas de ensino que até então não havia tido um olhar que contemplassem a realidade, os sonhos e o futuro dos jovens inseridos no contexto escolar (Silva, Castro Lajanjeira e Rodrigues, 2016, p. 6).

Atualmente, no Estado de Alagoas das 213 escolas de Ensino Médio apenas 50 são de tempo integral. O Programa objetiva assegurar o desenvolvimento integral dos estudantes do ensino médio, considerando suas diferentes necessidades e promovendo a formação de sujeitos capazes de se inserir de forma crítica e autônoma na sociedade.

Esta é uma realidade que deve ser levada em consideração para avançar em uma escola ideal nas palavras dos jovens.

Se houver mais tempo na escola, é preciso haver melhores espaços para a aprendizagem, como acesso à tecnologia, bibliotecas e acessibilidade para todos nos aspectos físicos dos edifícios.

Finalmente, os professores qualificados são convidados a ministrar oficinas a serem implementadas nessas extensões de tempo. Com esses aspectos, poderíamos certamente falar de uma escola que aspira a ter um ensino de qualidade.

6. Discussão

Constatamos, através da escuta dos sujeitos da pesquisa, jovens alunos da terceira série do ensino médio, que a escola tem grande importância em suas vidas. Mesmo com alguns limites e dificuldades na sua capacidade de concretizar o que se espera dela, os jovens percebem que mesmo de modo ainda embrionário, há iniciativas que podem ser tomadas como modelo para melhorar a qualidade do ensino, contribuir para atender às expectativas dos jovens e colaborar na construção e realização de seus projetos de vida.

A pesquisa revelou um quadro de muitos desafios a serem vencidos para que as escolas possam atender às reais necessidades de um público que tem história, que tem anseios, desejos, que sonha com uma sociedade melhor e acredita que a educação pode colaborar de modo grandioso para que isso ocorra.

Porém, é preciso destacar que, apesar de toda problemática envolvendo escola e juventude, há algo que faz com que o espaço escolar seja importante para o jovem, e isso está relacionado diretamente à necessidade de sociabilidade que esse jovem traz consigo, o que torna o espaço da escola extremamente significativo para que isso possa ocorrer.

Convidados a discorrer sobre sua escola, e a contribuição da mesma para seus projetos de vida, os jovens colocam que a escola apresenta muitos limites e dificuldades para responder as necessidades dos alunos(as).

Klein (2011, p. 25) em sua tese de doutorado defende a ideia de que,

A escola por seu caráter formativo, pela diversidade de experiências que proporciona aos (às) estudantes e pela sua extensão temporal e social é uma instituição potencialmente favorável ao desenvolvimento de projetos de vida.

Acreditamos que o trabalho docente deve redirecionar sua atenção para a orientação desses jovens, muitas vezes desorientados, e para isso o currículo, os padrões de ensino e a inclusão de programas de desenvolvimento pessoal e vocacional nas escolas atuais devem ser aprimorados.

Uma escola de qualidade no século XXI deve ser inclusiva, inovadora, tecnológica, mas sobretudo centrada na tarefa de formar bons cidadãos com vocação e benéfica para toda a sociedade.

7. Conclusão

Para atender às necessidades desses jovens com relação aos seus projetos de vida a escola precisa ser um espaço importante de vivências das suas juventudes e de ampliação de seus saberes. Porém resta-nos questionar se os atores desse processo educativo têm consciência da importante dimensão que exercem na vida desses jovens.

O trabalho do professor destaca-se como transcendental para motivar os estudos e a construção de seus planos de vida, despertando neles o desejo de buscar realizar seus sonhos e alcançar um futuro promissor.

É muito importante o papel do professor na mediação entre o jovem e a sua educação. Educar nesse cenário exige uma maior inserção no mundo dos jovens, estando mais próximo, ouvindo, transmitindo conteúdos e apontando valores estabelecidos socialmente. “Professores são sujeitos entre sujeitos, mediadores de relações e co- construtores de sentido” - PACTO, Etapa I, Caderno II, (Brasil-Ministério da Educação e Cultura, 2013, p. 53).

Para que a escola alcance o sonho de construir uma sociedade melhor para os jovens, é necessário que as necessidades imediatas dos jovens sejam atendidas. É por isso que os jovens reivindicam melhores condições de infraestrutura e bom tratamento para os adultos.

Conscientes da importância da escola para a sua vida e não satisfeitos com o atendimento da escola acerca da preparação dos jovens para a vida, os(as) alunos(as) respondentes sinalizaram como escola ideal a de tempo integral que tivesse uma boa estrutura física com biblioteca, laboratório de informática e oferecesse atividades enriquecedoras e significativas com professores motivados e preparados para lecionarem.

É notório que as reformas educacionais empreendidas pelas políticas públicas a partir de 1990 trouxeram mudanças consideráveis para o ensino médio, no entanto, ainda não atingimos o patamar da satisfação, principalmente com relação a sua proposta pedagógica, pois a mesma não é construída para e com o jovem, deixando assim lacunas que implicam em abandono e reprovação.

Parece-nos que a escola não tem possibilitado aos seus alunos uma formação integral, no tocante a contribuir também para o conhecimento de si mesmo, de suas habilidades, interesses e necessidades, bem como conhecimento de mundo e do trabalho. Nesse momento decisivo de escolhas parece que a escola não contribuiu de forma satisfatória para a construção dos projetos de vida de seus jovens alunos. Percebe-se a partir de então a necessidade de implantação de políticas públicas, através da adaptação de programas que contemplem realidades específicas, mas que tenham como proposta permitir que a escola pública seja atrativa, que seja humanizadora, que prepare para o mundo acadêmico e para o mundo do trabalho e que, acima de tudo, atenda aos interesses e anseios das juventudes.

Acreditamos que é preciso que haja um reencaminhamento da escola pública do estado de Alagoas no sentido de oferecer aos estudantes das classes populares estruturas acolhedoras em seu meio, para que, desta forma os alunos possam sentir-se partícipes desta educação. Nesse sentido, apresenta-se à escola de Ensino Médio o desafio de construir uma educação capaz de desenvolver habilidades e competências necessárias para a formação acadêmica e humana de seus alunos e alunas.

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Notas

1 Utilizamos a expressão juventudes, no plural, para enfatizar a diversidade de modos de ser, estar e apresentar-se jovem no mundo.
2 O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em 2007 e representa a iniciativa pioneira de reunir em um só indicador dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações.
3 Total geral de alunos(as) envolvidos na pesquisa = 360. Total de alunos(as) que responderam ao questionário = 254 Porcentagem = 70.5% dos(as) alunos(as) matriculados nas 10 turmas investigadas responderam ao questionário.
4 O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo de ser uma avaliação de desempenho dos estudantes de escolas públicas e particulares de Ensino Médio no Brasil. A partir de 2009, o Enem agregou outra função ao seu currículo: tornou-se também uma avaliação que seleciona estudantes de todo o país para instituições federais de ensino superior e para programas do Governo Federal, como o Sistema de Seleção Unificada, Programa Universidade para Todos e Fundo de Financiamento Estudantil

Autor notes

*Correspondencia: Pablo Castillo Armijo. Correo electrónico: pablo.castillo.armijo@gmail.com

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