1. Introdução

Os hábitos de saúde dos adolescentes e da população, de modo geral, têm despertado a atenção dos setores de saúde. Dentre os problemas que afetam diretamente os jovens e adolescentes, está o tabagismo. A adolescência consiste na fase de maior vulnerabilidade para produtos advindos do tabaco. Tal fato apresenta-se preocupante devido ao desenvolvimento físico, mental e cognitivo que ocorre nessa fase (Menezes et al., 2014). Conforme os autores anteriormente citados, os fatores que levam um adolescente a fumar podem ser tanto biológicos, sociais ou psicológicos, influências genéticas, ambientais e sociais como, também, sentimentos de curiosidade, tédio, estresse, sensação de prazer e relaxamento. Os autores apontam que o aparecimento tardio dos sintomas prejudiciais desenvolvidos pelo uso frequente do cigarro é um outro fator que contribui para o hábito de fumar.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é responsável por altas taxas de morbimortalidade no mundo, matando cerca de mais de 7 milhões de pessoas por ano (World Health Organization, 2017). Dentre as notáveis doenças que podem ser geradas e estimuladas pelo consumo de cigarro, estão problemas de hipertensão, diabetes, envelhecimento cutâneo, tuberculose, além de diversos tipos de cânceres, doenças respiratórias e cardiovasculares (Pinto et al., 2015; Viana et al., 2018).

O hábito de fumar normalmente é estabelecido durante a adolescência, sendo que grande parte dos adultos fumantes tiveram acesso ao seu primeiro cigarro antes dos 18 anos de idade. Por outro lado, Barreto et al. (2014) afirmam que o vício pode ser criado em qualquer fase da vida, visto que mais de 30% dos jovens de 13 a 15 anos fumaram anteriormente aos 12 anos de idade. Segundo Currie et al. (2012), o uso do tabaco também está relacionado com outros comportamentos de risco como o padrão alimentar não saudável, baixa satisfação com a vida, elevado consumo de álcool, bullying, iniciação sexual precoce, além de fatores familiares como o divórcio parental.

A prevenção ao uso do cigarro deve ser iniciada o mais cedo possível. Nesse sentido, a escola tem papel de extrema relevância em questões pertinentes à promoção da saúde. Este conceito foi mais bem definido na Carta de Ottawa, documento que foi divulgado como resultado da 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde que ocorreu no Canadá em 1986. Conforme esse documento, a Promoção da Saúde visa capacitar as pessoas quanto ao controle e melhoria da sua saúde e reagir às condições eventualmente adversas. De acordo com o documento, essa tarefa deve ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar por meio de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como, pelas instituições governamentais (Carta de Ottawa sobre a promoção da saúde, 1986).

Nesse sentido, as políticas públicas, ao tratarem de saúde, apontam as escolas como locais adequados para as ações que buscam promover, prevenir e educar sobre o tema e por ser um espaço propício à divulgação dos conhecimentos científicos e formação de pessoas críticas, visando preparar e educar o aluno para os cuidados com sua saúde (Ferreira et al., 2012).

Considerando a importância da escola na formação dos alunos para os cuidados relativos à saúde, diversos programas do governo federal brasileiro foram propostos para auxiliar os educadores no trabalho com questões pertinentes à saúde e alguns deles, especificamente, para prevenção ao uso de tabaco e drogas.

Os programas devem ser contínuos durante um determinado período do ano letivo e são compostos geralmente por 6 a 15 sessões, tornando-se fundamental uma retomada, em razão de sua efetividade que acaba apagando-se após um dado período (Precioso et al., 2016).

Dentre esses programas, o PSE (Programa Saúde na Escola), que foi proposto em 2007 pelo governo federal do Brasil, é um dos que mais se destacam. Foi elaborado pelos ministérios da educação e da saúde, tendo em vista ações dirigidas às unidades básicas de saúde e escolas do ensino público básico, com os objetivos de prevenir, promover e alertar ideias que tangem o uso do tabaco, álcool e outros fatores que são prejudiciais à saúde de crianças, adolescentes e jovens. Essas intervenções são executadas a partir de planos dos grupos de educação de forma integrada ao Programa Saúde da Família (Ministério da Saúde, 2011).

Em 2011, foi divulgado o material “Drogas: Cartilha sobre Tabaco”, da série “Por dentro do assunto”, elaborado pelo Ministério da Justiça. O objetivo da utilização desse material pelas escolas no Brasil é a difusão do conhecimento sobre tabagismo e a intenção de prevenir e cessar o uso do tabaco, utilizando recursos comunitários como grupos de autoajuda, sites de outros programas, leituras complementares e lista de filmes sobre tema (Ministério da Justiça, 2011).

Além de programas, cartilhas e demais materiais aplicados às escolas, entidades como a Organização Pan-Americana da Saúde (2020) e OMS (Organização Mundial de Saúde) elaboram campanhas periódicas que reforçam o combate ao tabagismo, como exemplo o “Kit para estudantes” de 13 a 17 anos. O Kit é composto por atividades a serem realizadas na sala de aula e foi lançado na campanha do Dia mundial sem tabaco, em 2020 (Instituto Nacional do Câncer, 2020).

Além dos programas aqui mencionados, documentos normativos de ensino no Brasil como os Parâmetros Curriculares Nacionais - Temas transversais Saúde (1998) e a Base Nacional Curricular Comum (2018) preveem o trabalho com práticas formativas destinadas à Educação para Saúde, portanto é uma temática imperiosa a ser tratada nas escolas.

Com base no exposto, é possível perceber que há propostas de trabalhos e orientações para que sejam desenvolvidas ações no ambiente escolar para prevenção do tabaco. No entanto é necessário estudos que apontem quais procedimentos as escolas brasileiras têm adotado para cumprir tal finalidade. Uma pesquisa dessa natureza é fundamental para a compreensão do cenário atual frente à prevenção ao tabagismo no ambiente escolar. Portanto, neste estudo, procuramos responder quais pesquisas têm sido realizadas quanto à implementação e efetividade de práticas realizadas em escolas brasileiras para a prevenção ao uso do tabaco no intuito de apresentar o estado da arte a respeito dessa temática.

2. Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e quanto aos procedimentos é considerada bibliográfica. De acordo com Gil (2007), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos.

Para realizar o levantamento, utilizou-se três bases de dados brasileiras, sendo elas a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); o Google Acadêmico, com filtro para pesquisas no Brasil, e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações BDTD. A busca foi realizada entre os meses de maio e junho de 2020. O período de busca estabelecido, inicialmente, foi 2007 a 2020 utilizando teses e dissertações. No entanto, pela baixa disponibilidade de publicações encontradas relacionadas às propostas pedagógicas para a prevenção ao consumo de tabaco na escola, ampliou-se a faixa de busca utilizando dados de 2000 a 2006. Foram selecionados somente trabalhos cujas pesquisas foram realizadas no Brasil.

Para a busca, utilizou-se os descritores: oficina, tabagismo, escola, cigarro, intervenção, prevenção e adolescente, sendo utilizados em duas ou três palavras-chaves em todos os campos, obtendo-se doze combinações de palavras-chaves. Na tabela I apresentam-se as combinações de busca nas bases CAPES, Google Acadêmico e BDTD no período de 2000 a 2020.

O primeiro período de busca ocorreu entre os anos de 2007 a 2020 e o segundo momento de 2000 a 2006, em que foram analisados os títulos das produções para a seleção do material.

Na plataforma de teses e dissertações CAPES, utilizando as combinações de descritores pré-definidos, os resultados encontrados no primeiro momento totalizaram 246 publicações, descartou-se os resultados em que o título e o resumo não compactuavam com o objetivo estabelecido neste estudo, restando 4 títulos e, destes, 3 deles coincidiram com a base de dados da BDTD. No segundo momento, foram encontrados 64 títulos, descartou-se os resultados em que o título e o resumo não estavam de acordo com o objetivo estabelecido para este estudo restando, então, 5 títulos. Além disso, foram excluídos também os que coincidiram com as pesquisas das outras bases excluindo, assim, todos os títulos encontrados no período de 2000 a 2006. Dessa forma, não restou nenhum trabalho exclusivamente na base CAPES no segundo momento.

Para o Google Acadêmico, nos dois momentos de buscas, além de utilizar os descritores pré-definidos, utilizou-se a opção para “mostrar apenas resultados em português”. Ao exibir o produto da pesquisa, mais filtros foram adicionados como excluir citações e patentes dos resultados, mostrar classificado pela relevância e a data das publicações.

Devido à plataforma de busca apresentar muitos resultados, foi estabelecida a análise das 5 páginas iniciais, contendo cerca de 50 resultados, pois houve a dispersão do foco ao passar das páginas. Desses resultados, averiguou-se, durante uma checagem por leitura, se as publicações enquadravam-se em teses e dissertações, excluindo artigos de periódicos, relatos de experiência e levando em conta se eram publicações brasileiras. Nesse sentido, no total, foram obtidas, nessa plataforma, sete publicações relativas ao tema que estavam de acordo com o objetivo deste estudo.

Na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), utilizando os conjuntos de descritores mencionados na tabela I, refinou-se a busca para a categoria “ano”, idioma português e filtrado. No primeiro momento de busca, foram encontradas 349 publicações, porém analisou-se apenas o título de 192 trabalhos devido ao fato de muitas dessas teses e dissertações terem objetivos relacionados a práticas da medicina e saúde, isto é, fora do contexto do objetivo deste trabalho.

Então, após analisar os 192 títulos, descartaram-se os resultados em que o título e o resumo não tratavam de práticas pedagógicas na escola e, assim, restaram apenas 3 dissertações específicas ao tema.

No segundo momento, isto é, do período referente de 2000 a 2007, estabelecendo o mesmo protocolo de pesquisa, foram encontradas 44 publicações, nas quais 4 títulos apresentaram uma relação direta à prevenção ao tabagismo na escola, sendo 3 dissertações e 1 tese.

Em resumo, após a checagem em todas as bases, foram encontradas 1303 teses e dissertações que, na sua maioria, eram da área médica e assuntos que se desviaram para outras áreas de conhecimento que não eram de interesses para nossa pesquisa. Lido, filtrado por idioma e selecionado teses e dissertações com títulos e resumos que atendiam aos objetivos propostos, checando também a coincidência de títulos nos resultados de cada base, selecionamos 8 títulos que, de fato, estão de acordo com o objetivo proposto nesta pesquisa, isto é, teses ou dissertações que investigam ações pedagógicas como, por exemplo, projetos ou oficinas para prevenção ao consumo do tabaco entre adolescentes.

3. Resultados e discussões

Apresentam-se, a seguir, os dados obtidos no levantamento nas bases de dados e as discussões dos trabalhos analisados. As publicações resultantes das buscas realizadas estão organizadas na tabela 2 a seguir.

Conforme dados expostos na tabela 2 nas pesquisas, aqui apresentadas, predominam abordagem quanti-qualitativa. A recomendação de estudos dessa natureza, isto é, com enfoques mistos, já vem sendo indicada para avaliar projetos de intervenção (Greene & McClintock, 1985; Minayo & Sanches, 1993). Nesse sentido, estes pesquisadores têm orientado que os projetos de avaliação utilizem enfoques mistos que incluam métodos quantitativos e qualitativos. A abordagem qualitativa permite identificar a compreensão dos participantes, bem como, a atribuição de significados aos fenômenos estudados e, assim, auxilia na identificação do desempenho dos alunos quanto à aprendizagem proporcionada por intervenções pedagógicas.

Os métodos quantitativos utilizam linguagem matemática e baseiam-se em dados numéricos para apresentar os resultados. Dessa maneira, a combinação dessas duas abordagens poderá fornecer resultados mais fidedignos para estudos de práticas de intervenção em educação para saúde.

Das publicações analisadas, cinco delas realizaram pesquisas do tipo quase- experimental. Esses estudos consistem na aplicação de pré e pós-teste e uma comparação interna entre um mesmo grupo e cada unidade experimental serve como seu próprio controle, em um mesmo grupo, com a observação ocorrendo antes e depois do experimento. Consideramos que, no caso das intervenções realizadas pelas pesquisas aqui apresentadas, os estudos quase-experimentais são indicados para melhor avaliar as intervenções antes e após a sua realização.

Quanto aos participantes dos estudos, observa-se predomínio de pesquisas realizadas no Ensino Fundamental. De acordo com a PENSE- Pesquisa Nacional de saúde do Escolar de 2015 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016), 18,4% dos escolares do 9º ano experimentaram cigarros, sendo a maior frequência observada na Região Sul (24,9%) e a menor, na Região Nordeste (14,2%). O indicador de experimentação de cigarro para os meninos (19,4%) foi superior quando comparado às meninas (17,4%). A experimentação foi maior entre os estudantes das escolas públicas (19,4%) em relação aos das escolas privadas (12,6%), de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (2020). Nesse sentido, Giuliano e Hauff (2007) alertam que as crianças e adolescentes constituem grupo de extrema vulnerabilidade, pois 90% das pessoas adquirem esse vício até os 19 anos de idade. De acordo com os autores, essa faixa etária é de grande interesse pela indústria do tabaco e apontam a necessidade de estudos para conhecer as causas e consequências do tabagismo nessa fase da vida, além de estratégias de prevenção e combate. Corroborando com esta afirmativa, os autores Schneider e Alves (2009) advertem ser indispensável o desenvolvimento de ações de promoção da saúde que sensibilizem os jovens e os orientem sobre os malefícios do cigarro.

Conforme Elmôr (2009), o foco da prevenção não deve ser somente tratar dos malefícios e doenças, mas proporcionar aos estudantes momentos de reflexão sobre determinantes da saúde, assim, o trabalho com esse tema não deve ser apenas focado na verbosidade.

Nesse sentido, das publicações aqui analisadas, todas referem -se às ações pedagógicas desenvolvidas com alunos que eram os participantes das pesquisas. As ações envolviam, em geral, a participação de professores, pesquisadores e profissionais da saúde. Três dos trabalhos analisados afirmam tratar-se de projetos intersetoriais. Monnerat e Souza (2011) conceituam intersetorialidade como uma perspectiva que visa a articulação entre setores diferentes e instituições governamentais e não governamentais relativas à educação e saúde, com o objetivo de abordar problemas sociais complexos e transversais. Pelas características desses projetos, considera-se que ações intersetoriais na escola, integrando profissionais da saúde e educação, podem favorecer o melhor aproveitamento dos alunos quanto à aprendizagem de temáticas voltadas para saúde. Por outro lado, propostas pedagógicas, que têm por característica a setorialização, voltam-se ao trabalho fragmentado e desarticulado em que a prevenção é abordada de maneira isolada, focando aspectos somente relativos à saúde ou apenas educacionais e não a visão de integração e diálogos entre ambos (Junqueira et al. 1997). Dessa maneira, é necessário ressaltar que propostas de trabalhos intersetorias já vêm sendo incentivadas pelo governo federal brasileiro, por meio de desenvolvimento de projetos nas escolas, desde 2007, com a implementação do Programa Saúde na Escola-PSE, conforme mencionado anteriormente.

Com relação aos resultados das pesquisas aqui analisadas, no Trabalho 1 − “Intervenção educativa de prevenção primária ao tabagismo em escola pública”, houve variação estatística relevante entre os grupos controle e experimental. No que diz respeito ao levantamento de conhecimento, não houve grande diferença quanto ao autorrelato e comportamentos sociais (nos momentos pré e pós-intervenção e entre gênero). Os resultados parecem convergir sobre a eficácia do ensinamento verbal, capaz de levar o aluno a comportar-se em função do que foi ministrado, mas há o questionamento sobre o uso exclusivo do autorrelato como método de autopercepções de adolescentes quanto às alterações nos seus desempenhos sociais. Outro fator importante observado está associado ao planejamento e forma com que foram construídas as sessões interventivas, mesmo com as dificuldades na realização de projetos desse porte em parceria com a escola. Foi observada uma semelhança entre os grupos, principalmente, no que se refere ao perfil socioeconômico, histórico, conhecimento prévio dos estudantes e pela intervenção parcial que foi realizada. Os autores mencionam a necessidade de futuras intervenções para, se possível, obter resultados, a longo prazo, que possa ser generalizado para diferentes contextos e demandas de outros alunos.

No Trabalho 2 - “Avaliação dos conhecimentos teóricos sobre tabagismo a partir de duas Intervenções educativas em escolares do Ensino Fundamental”, os resultados obtidos evidenciaram que, ao comparar os dois grupos nos diferentes momentos, houve mudança significativa nos conhecimentos dos estudantes, o que evidencia a eficácia das intervenções educativas. Porém, a hipótese inicial da pesquisa de que os alunos participantes das atividades do G2 apresentariam melhor desempenho que o G1 não foi comprovada, pois não ocorreu diferença estatística entre as duas intervenções realizadas. Os autores apontam que as atividades programadas para o G2 não eram usuais dentro do programa escolar, trazendo dificuldades.

Os resultados do Trabalho 3 - “Educação em saúde: ensinando sobre os males do tabagismo” mostraram que os estudantes estão cientes dos malefícios do tabagismo, normalmente ligando às doenças cardiorrespiratórias e morte, entretanto a prevalência de experimentações do tabaco ainda é elevada. No questionário aplicado, após um mês da primeira intervenção, os alunos não tiveram dificuldades para responder e os desenhos obtidos na pesquisa possibilitaram a ampliação do entendimento dos estudantes. Ainda foi observado que a palestra interferiu nas respostas para o questionário de forma positiva. Algumas questões foram respondidas novamente de forma correta e as atividades lúdicas possibilitaram a melhora no entendimento dos alunos evidenciando a importância das diferentes formas de aprendizado. No Trabalho 4 - “A Abordagem da temática drogas na Educação Básica: projeto de Intervenção no Ensino de Química para conscientização e prevenção ao tabagismo”, os resultados indicaram que o estudo conseguiu promover a reflexão dos estudantes quanto aos problemas associados ao tabagismo. As atividades ocorreram com muito diálogo dirigido pelo professor comprovando a importância do papel mediador do docente na construção do conhecimento dos alunos. Percebeu-se que a oficina foi eficaz para o ensino de Ciências por apresentar propostas de atividades e trabalhos não usuais e atrativos para os alunos. Os autores mencionam que, no referido projeto, o aluno foi agente ativo frente ao processo de construção do conhecimento científico, podendo utilizar esses conhecimentos para ponderar decisões de vida na sociedade.

Nos resultados do Trabalho 5 - “Prevenção do uso de drogas na adolescência: uma Intervenção educativa integrando unidade de saúde e escola”, o álcool foi a droga mais consumida entre os adolescentes (9 alunos antes e 13 alunos pós intervenção), seguido do cigarro (4 alunos antes e 3 alunos após). A maconha foi a droga ilícita mais utilizada, seguida da cocaína. O aumento observado, de acordo com os autores, pode ser devido a eles sentirem-se mais confortáveis e seguros para responderem o segundo questionário no pós-teste. Após a intervenção, 100% dos alunos afirmaram já terem tido informações sobre as drogas na escola, aumento de 14% quando comparado com o pré-teste. Além disso, eles reconheceram a importância de buscar informações sobre drogas com profissionais da saúde e da escola, o que ajudaria a evitar o primeiro contato com elas. Os dados qualitativos mostraram uma interação entre Unidade de Saúde e escola, fortalecendo o trabalho interdisciplinar. Os profissionais que realizaram a intervenção expressaram a importância e necessidade de atividades educativas voltadas à escola, pois (ela) esta é um lugar privilegiado para o desenvolvimento dos adolescentes. Os alunos demonstraram entender a necessidade da família na prevenção do uso de drogas, assim como a importância da escola demonstrando que o uso das drogas traz complicações no convívio deles nesses ambientes.

No estudo 6 - “Avaliação de um programa piloto de prevenção do tabagismo em quatro escolas do município do Rio de Janeiro”, o programa educativo permitiu analisar os efeitos de curto prazo reduzindo, possivelmente, o impacto sobre os efeitos de médio e longo prazo como mudança de atitudes e de comportamento. Os dados apontam que os alunos que fizeram uso uma vez na vida de tabaco são maiores nas escolas públicas quando comparada às escolas privadas. As informações obtidas nos questionários apontaram que fatores como a faixa etária, o fato de trabalhar fora e de possuir pais separados são de grande influência para os alunos que já fizeram o uso do tabaco na vida.

No trabalho 7 - “Efetividade de uma intervenção educacional em tabagismo entre adolescentes escolares de Pelotas”, os resultados demonstraram que nos grupos controle e de intervenção, 90% ou mais dos alunos e professores tinham conhecimento sobre os perigos do tabagismo, logo não foram detectados efeitos de intervenção nos pós-testes em relação a esse quesito. Outro resultado apontado pelos autores do estudo foi que cerca de 40% dos alunos pré e pós-intervenção acreditam que parar de fumar não é difícil. A cotinina urinária e o autorrelato de fumo dos jovens não apresentaram diferenças significativas em relação ao comportamento deles e a eficácia do programa “Saber Saúde”. Cerca de 59% dos professores revelaram que os tópicos do programa foram ensinados de maneira multidisciplinar. No total, 95% deles afirmaram que os vídeos utilizados no projeto ajudaram a entender melhor o conteúdo. De acordo com os autores, não houve efetividade da intervenção educacional para mudanças de comportamento, mas houve melhora no conhecimento dos prejuízos do fumo.

Finalmente, no estudo 8 - “Impacto do programa de prevenção do tabagismo na escola”, em que foram entrevistados 101 professores e funcionários e 424 alunos (durante um ano), houve diferença significativa quanto ao início do uso do tabaco nos dois grupos estudados. De acordo com os autores do estudo, houve aumento de 2,2% e 9,4% da frequência do uso do tabaco, no grupo de intervenção e no grupo controle respectivamente. Este dado demonstra que a intervenção preventiva reduziu em 76,6% o início do uso do tabaco entre os alunos. Entre os adultos facilitadores (professores e funcionários), não houve diferença entre os grupos.

Em uma análise por região em que os estudos foram desenvolvidos, temos os 3 primeiros trabalhos realizados no estado de São Paulo- Região Sudeste, o estudo 4 em Minas Gerais-Região Sudeste, o 5 no Ceará- Região Nordeste, o 6 no Rio de janeiro- Região Sudeste, os trabalhos 7 e 8 no Rio Grande do Sul - Região Sul. Assim, é possível perceber a predominância de pesquisas, sobre essa temática, desenvolvidas na Região Sudeste do Brasil.

4. Considerações finais

Neste estudo, procuramos identificar publicações em teses ou dissertações que mencionam estudos que investigaram ações preventivas em escolas brasileiras para o uso do tabaco entre os adolescentes. Houve a necessidade de ampliação do período proposto para a busca inicial devido à baixa quantidade de publicações encontradas, por isso, foram apontados, neste estudo, dois momentos distintos de busca. Foi possível perceber pelas pesquisas realizadas que há um número considerável de publicações com enfoques para a área da saúde quanto ao consumo de tabaco pelos adolescentes, apesar de muitos desses estudos terem sido desenvolvidos em escolas do País. Verificamos que há um número muito reduzido de publicações que tratam especificamente de pesquisas desenvolvidas propondo ações preventivas para o uso do tabaco entre os adolescentes. Em função do cenário encontrado, consideramos a necessidade urgente de investimentos em pesquisas dessa natureza, pois a temática saúde compõe propostas curriculares federais brasileiras, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (Ministério da Educação, 1997), a atual Base Nacional Curricular Comum (Ministério da Educação, 2018) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (Ministério da Educação, 2013). Além de ser um tema presente em documentos normativos de ensino, estiveram também presentes em diversas propostas educativas federais, como o Programa Saúde na Escola (Decreto nº 6.286, 2007) e o programa #tamojunto (Ministério da Saúde, Programa, 2017). Admitimos que as pesquisas dessa natureza podem contribuir para elucidar a efetividade dessas ações pedagógicas, ou ainda, de que maneira essas ações podem favorecer a aprendizagem dos alunos referentes a essa temática. Outro aspecto é que estudos para tal finalidade podem colaborar para propor direcionamentos a respeito de como professores, pedagogos e profissionais da saúde podem atuar para favorecer o melhor aproveitamento dos alunos e, assim, proporcionar resultados positivos na prevenção do tabagismo entre adolescentes.

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Autor notes

*Correspondencia: Andréia de Freitas Zompero. Correo electrónico: andreiazomp@uel.br.