Resumo: O turismo de cassinos é o tema da presente investigação, cujo recorte espacial contempla a região do Destino Turístico Iguaçu, na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, que oferta jogos de apostas como um de seus produtos. A pesquisa contribui para reduzir uma lacuna existente na literatura sobre turismo de cassinos no Brasil, buscando entender as motivações dos fluxos para estes atrativos a partir da perspectiva do turista. O objetivo geral é identificar os fatores motivacionais que levam os turistas brasileiros a visitar os cassinos do Destino Turístico Iguaçu. A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa e documental, tendo como fonte de dados comentários de turistas na plataforma TripAdvisor. A captura dos comentários ocorreu com o uso de um software em Python, obtendo-se uma amostra de 2.197 comentários em língua portuguesa, entre agosto de 2012 e março de 2020. A tabulação e o processamento dos dados foram realizados com mecanismos para análise de textos do software R, que gerou um conjunto de quadrigramas (sequências de quatro palavras), para catalogar os fatores motivacionais que emergiram do corpus analisado. Aplicando análise de conteúdo, os quadrigramas foram classificados nas categorias motivacionais do modelo bidimensional push e pull proposta por Dann (1977) e Crompton (1979). Observou-se que as motivações que mais incentivam o turista a frequentar os cassinos (push) se concentram nos fatores “novidade”, seguido de “socialização” e “repouso e relaxamento”. No que tange às características que atraem os turistas para os cassinos (pull) aparecem os fatores “infraestrutura”, seguido de “bares e entretenimento” e “acomodações e transporte”.
Palavras-chave: Turismo, Cassinos, Motivação, Push e Pull, TripAdvisor.
Abstract: Casino tourism is the subject of this research, whose spatial focus is the Tourist Destination Iguaçu, on the triple border between Brazil, Paraguay, and Argentina, and which offers gambling as one of its products. The research contributes to filling a gap in the literature on casino tourism in Brazil, seeking to understand the factors that prompt visitors to these attractions, from the tourist's perspective. The general objective is to identify the motivational factors that lead Brazilian tourists to visit the casinos of the Tourist Destination Iguaçu. The methodology used was of qualitative and documentary, and the source of data was comments from tourists on the TripAdvisor platform. The comments were captured using Python software, obtaining a sample of 2,197 comments written in Portuguese, between August 2012 and March 2020. The data were tabulated and processed, using the R software to analyze the text contained in the comments. This analysis generated a set of quadrigrams (four-word sequences) to catalog the motivational factors that emerged from the analyzed corpus. Applying content analysis, the quadrigrams were classified into the motivational categories of the two-dimensional push and pull model proposed by Dann (1977) and Crompton (1979). It was observed that the motivations that most encourage tourists to visit casinos (push) are centered around the factors “novelty”, followed by “socialization” and “rest and relaxation”. Regarding the characteristics that attract tourists to the casinos (pull), the factor “infrastructure” appears first, followed by “bars and entertainment” and “accommodation and transport”.
Keywords: Tourism, Casinos, Motivation, Push and Pull, TripAdvisor.
Resumen: El turismo de casino es objeto de la presente investigación, cuyo foco espacial incluye la región del Destino Turístico Iguazú, en la triple frontera entre Brasil, Paraguay y Argentina, que ofrece el juego como uno de sus productos. La investigación contribuye a reducir un vacío existente en la literatura sobre el turismo de casino en Brasil, buscando comprender las motivaciones de los flujos a estas atracciones desde la perspectiva del turista. El objetivo general es identificar los factores motivacionales que llevan a los turistas brasileños a visitar los casinos del Destino Turístico Iguazú. La metodología utilizada fue de carácter cualitativo y documental, teniendo como fuente de datos los comentarios de los turistas en la plataforma TripAdvisor. Los comentarios fueron capturados utilizando el software Python, obteniendo una muestra de 2.197 comentarios en portugués, entre agosto de 2012 y marzo de 2020. La tabulación y el procesamiento de datos se realizaron con mecanismos de análisis de texto del software R, que generó un conjunto de cuadrigramas (secuencias de cuatro palabras), para catalogar los factores motivacionales que surgieron del corpus analizado. Aplicando el análisis de contenido, los cuadrigramas se clasificaron en las categorías motivacionales del modelo bidimensional push y pull propuesto por Dann (1977) y Crompton (1979). Se observó que las motivaciones que más animan a los turistas a visitar los casinos (push) se concentran en los factores “novedad”, seguidos de “socialización” y “descanso y relajación”. En cuanto a las características que atraen a los turistas a los casinos (pull), aparecen los factores “infraestructura”, seguido de “bares y entretenimiento” y “alojamiento y transporte”.
Palabras clave: Turismo, Casinos, Motivación, Pushy Pull, TripAdvisor.
Artigos
TURISMO DE CASSINOS DO DESTINO TURÍSTICO IGUAÇU: AS MOTIVAÇÕES DOS TURISTAS BRASILEIROS
CASINO TOURISM IN THE TOURIST DESTINATION IGUAÇU: THE MOTIVATIONS OF BRAZILIAN TOURISTS
TURISMO DE CASINO EN EL DESTINO TURÍSTICO IGUAZÚ: LAS MOTIVACIONES DE LOS TURISTAS BRASILEÑOS
Recepción: 29 Julio 2022
Aprobación: 24 Octubre 2022
O tema do artigo aborda o turismo de cassinos no Destino Turístico Iguaçu, na tríplice fronteira localizada na região Oeste do Estado do Paraná, espaço em que se forma a conurbação transnacional entre Foz do Iguaçu (Brasil) com Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina) (Cury, 2010). O município de Foz do Iguaçu se constitui no elo com o poder de atração de fluxos originários de localidades mais distantes e adota, mesmo que informalmente, a gestão integrada de turismo, em que os cassinos são divulgados como oferta existente em sua área de abrangência e o turista considera que eles pertencem ao referido município (Foz do Iguaçu Destino do Mundo, 2020; Gândara et al., 2011).
Em estudo recente, Chaves, Oliveira, Lima e Fedrizzi (2022) revelaram ser importante a retomada da discussão sobre a prática de jogos de apostas esportivas, ou cassinismo, por ser um fator de desenvolvimento social, econômico e turístico. Os resultados da pesquisa dos referidos autores indicaram que a autorização do cassinismo no Brasil acarretaria a intensificação da atividade turística, devido à sua capacidade de atração e entretenimento, além de contribuir para o aumento do recolhimento de impostos para o poder público e para a geração de empregos diretos e indiretos.
Tendo em vista a contextualização delineada, questiona-se: Quais são os fatores motivacionais que levam os turistas brasileiros a visitar os cassinos do Destino Turístico Iguaçu? A partir do questionamento e do recorte espacial da investigação, delineou-se como objetivo geral da pesquisa, identificar os fatores que impulsionam e atraem os turistas a visitar os cassinos do Destino Turístico Iguaçu.
A contribuição desta pesquisa para a prática da gestão e do desenvolvimento do destino, decorre do fato de que os cassinos contribuem para melhorar a qualidade e a competitividade de destinos turísticos (Paixão & Paixão, 2015). Nesse sentido, os resultados aqui obtidos podem subsidiar decisões que ampliem o consumo deste tipo de atrações, aspecto já evidenciado por Gândara et al. (2013). Dessa forma, a partir dos resultados desta investigação, a cidade pode melhorar o seu desempenho, por meio da adoção de estratégias para aproveitar melhor esse segmento turístico e por consequência fortalecer o seu papel de centro de distribuição turístico (Gosenheimer et al., 2021).
A relevância acadêmica desta pesquisa se sustenta na medida em que Foz do Iguaçu é o destino turístico do Paraná que mais se destaca, todavia, os cassinos, enquanto atrativo turístico, na área de abrangência desta pesquisa, constitui uma lacuna, visto que há uma literatura nacional incipiente sobre o tema (Paixão & Paixão, 2015; Penna, 2019). As poucas incursões sobre a matéria no Brasil, em geral, abordam fatos históricos que retratam os cassinos no período em que o jogo era legalizado (Paixão, 2005). Por seu turno, na literatura internacional o tema tem sido explorado por outro prisma, como os levados a cabo por Eadington (2002) que estudou os cassinos localizados na fronteira entre Canadá e Estados Unidos; Wong e Rosembaum (2012), Chan et al. (2015) e Li et al. (2017) interessados nos fatores motivacionais que levam os turistas para os cassinos de Macau, e Carvalho (2021) que investigou as motivações de turistas que frequentam cassinos em zonas costeiras da Europa (Portugal, França e Grécia). Assim, evidencia-se a relevância da presente pesquisa, visto que amplia conhecimentos sobre o assunto e contribui para diminuir as lacunas existentes sobre o turismo de cassinos na literatura nacional.
Postula-se utilizar o modelo push e pull proposto por Dann (1977) e incrementado por Crompton (1979), visto que combina duas perspectivas, uma psicológica, inerente a fatores internos dos indivíduos que os impulsionam a viajar, e outra externa, ligada ao destino, evidenciando fatores que atraem o turista àquele local, proporcionando um olhar bidimensional sobre o objeto estudado. O interesse recai na compreensão do fenômeno e sua possibilidade de comparação, visto que o modelo foi utilizado para analisar as motivações de viagem a cassinos em outros países, permitindo entender melhor o comportamento do consumidor. Ressalta-se que o desígnio aqui não incide na listagem de fatores, visto que essa se mostra variável a cada estudo e modifica-se de acordo com o objeto de análise (Rodrigues & Mallou, 2014), mas sim, na exploração dos fatores mais relevantes na visão do consumidor/turista enquanto responsáveis pela visitação dos cassinos no espaço estudado.
Quanto à população e amostra a ser considerada, apesar de ser um destino internacional, o foco recai sobre o público brasileiro. Tal decisão leva em conta Paixão e Gândara (1998) os quais já estimavam que 80% do fluxo de turistas para os cassinos da região se constituía de próprios brasileiros. Constatação similar ocorreu nos estudos de Gosenheimer et al. (2021), no que se refere ao fluxo que se destina a Foz do Iguaçu.
No que tange à origem dos dados, busca-se a exploração do conteúdo gerado pelos usuários em redes sociais, em virtude dos atuais avanços na tecnologia da informação e comunicação que impactam no turismo, proporcionando aos gestores e entidades promotoras do turismo criar valor aos turistas (Buhalis, 2019; Sousa et al., 2021). A partir deste entendimento, optou-se pelo site TripAdvisor (tripadvisor.com.br) como fonte dos dados, uma vez que, ele é especializado em comentários de viagens, portanto, fazendo com que a pesquisa se caracterize como documental (Cohen et al., 2014; Manosso, 2015).
Feitas as considerações pretéritas, a seção seguinte é dedicada à fundamentação teórica, aprofundando-se no modelo bidimensional push e pull. A terceira seção é reservada para exposição dos procedimentos metodológicos adotados para esta pesquisa que impactaram na forma de tratamento e apresentação dos dados. A quarta seção expõe os achados da pesquisa, confrontando-os com o referencial teórico. Por fim, aborda-se de que maneira o estudo deu conta dos objetivos almejados e suas limitações.
O assunto abordado nesta seção envolve, de forma sintética, dois temas: o turismo de jogos e o modelo bidimensional para análise das motivações de viagem a destinos ligados a jogos.
O turismo de cassinos é considerado temático ou de interesse especial, refletindo o desenvolvimen- to do turismo moderno em que se busca vender uma experiência, estímulos emocionais e sensa- ções, não produtos (Bulatovic et al., 2017). O cassino, como forma de jogo regulamentado, é o mais associado ao turismo, constituindo-se num tipo de atrativo que mais gera tempo de permanência do turista na localidade (Eadington, 2002; Boullón, 1999). Uma das razões pelas quais o jogo de cassino se tornou tão popular foi o volume de impostos que gera, os quais podem ser revertidos no incremento da economia e na sociedade (Carvalho, 2021). Assim, os cassinos encontram-se normatizados em quase todos os países do mundo, com raras exceções, como é o caso do Brasil (Paixão & Paixão, 2015).
À medida que o jogo evoluiu, não só as concessões mudaram, mas também o negócio dos cassinos. Na atualidade, a receita não relacionada a apostas de Las Vegas é superior à obtida por meio dos jogos (LVC & VA, 2021). Esse fato, corrobora os achados de Minasi e Pereira (2017) os quais evidenciaram que as apostas não estavam na principal razão dos turistas visitarem os cassinos. Nesse sentido, conforme esclarece Schwartz (2019), com o tempo, o modelo de negócios dos cassinos mudou para obter receitas de diferentes fluxos de demanda, como hospedagem, restaurante e entretenimento, dando lugar à resorts de cassino que oferecem uma multiplicidade de serviços, proporcionando ao cliente uma experiência muito mais ampla do que apenas jogos de apostas.
O turismo é uma atividade que ocorre a partir do deslocamento de pessoas na qual o turista se coloca em busca de sensações ímpares e experiências marcantes (Panosso Netto & Gaeta, 2010; Pezzi & Vianna, 2015). Identificar os fatores motivacionais que conduzem as pessoas à viagem é essencial para entender o público-alvo e o desenvolvimento do produto turístico (Nakatani et al., 2017; Nikjoo & Ketabi, 2015). Os motivos consistem nas necessidades dos indivíduos, as quais direcionarão o seu processo de decisão (Adams et al., 2015). Assim, para esta pesquisa, acompanha-se Hirata e Braga (2017, p. 17) no que concerne à importância de estudar a motivação de viagem, pois, como afirmam, “embora a análise sistemática de fatores socioeconômicos e demográficos da demanda [...] seja importante, ela se torna ainda mais relevante quando conjugada à análise dos indivíduos que a compõe”. Assim, a perspectiva teórica que orienta o estudo se concentra nos modelos motivacionais.
Se, de um lado temos o desejo do turista ir ao encontro do destino, objeto de seu desejo, por outro, as atrações turísticas são compostas por recursos que possuem a capacidade de chamar a atenção desses turistas, podendo ser atributos tangíveis ou intangíveis (Coelho, 2015). Nesse sentido é que se destaca o modelo bidimensional push pull de Dann (1977; 1981) e Crompton (1979), visto que, além de retratar a motivação do indivíduo, permite a reflexão sobre os atributos do destino ou atrativo turístico. Conforme indicam os estudos de Lee (1966) citado por Li e Qi (2019), o uso da análise bidimensional acerca das motivações dos deslocamentos das pessoas já era genericamente utilizado no âmbito da migração humana, mas não aplicado para estudos de Turismo. É usual encontrar estudos que focam apenas em um campo das motivações (Minasi & Pereira, 2017). Todavia, é possível encontrar na literatura, estudos de turismo, nos quais as duas categorias são abordadas (Chen & Chen, 2015; Prayag & Ryan 2011).
Visto que para a presente investigação é importante compreender as duas facetas das motivações para o turismo de cassinos, dedica-se mais espaço para tratar dos fundamentos do modelo push e pull. Para Cohen et al. (2014), a simplicidade e a abordagem intuitiva é que fazem do modelo o mais aplicado para levantar as explicações do comportamento do consumidor no turismo, cuja interação entre os dois fatores pode ser utilizada para estabelecer um segmento de mercado (Caber & Albayrak, 2016).
No estudo pioneiro, que visou a compreender por que os turistas escolhiam um determinado resort em Barbados, Dann (1977) identificou fatores que classificou como push, os quais foram sustentados em dois conceitos sociopsicológicos. O primeiro, anomie, que envolve o desejo de transpor o sentimento de isolamento, fruto da vida cotidiana (Dann, 1977; Crompton, 1979). Isto pode ser explicado por elementos da vida urbana, visto que a cidade pode gerar estados de tensão devido à poluição, deterioração de valores culturais, excessiva densidade populacional, ao trânsito e outros problemas que acarretam um elevado desejo de fuga desse ambiente (Hirata & Braga, 2017). O segundo, ego-enhancement, parte do desejo das pessoas serem notadas fazendo com que tenham interesse em melhorar os conhecimentos acerca do mundo, tratando-se do ego-aperfeiçoamento e autorreconhecimento (Crompton, 1979). Essas necessidades humanas seriam supridas pelas viagens (Dann, 1977; Crompton, 1979; Hirata & Braga, 2017). O modelo proposto por estes autores apresenta como motivações psicológicas: fuga, autoexploração, relaxamento, prestígio, regressão, melhoria das relações de parentesco e a facilidade na interação social - e duas motivações de âmbito cultural - novidade e educação. Pode-se sintetizar esse debate sugerindo que os fatores push incluem fatores que “empurram” o turista para a necessidade de continuar uma viagem de jogo (Wong & Rosenbaum, 2012).
Já os fatores pull, que têm sido muito menos estudados (Minasi & Pereira, 2017), são fatores que atraem o consumidor para um local específico. Crompton (1979) assevera que os fatores pull possuem como chamariz as características particulares de determinado atrativo ou destino. A reputação de um local, lazer, atividades, o número ou a dimensão dos cassinos, a qualidade de hotéis e comida são considerados fatores que atrairão pessoas que querem jogar (Minasi & Pereira, 2017; Carvalho, 2021). O cerne da questão é evidenciar por que se escolhe determinado destino em detrimento a outro. Nesse sentido, Baloglu e Uysal (1996), defendem que o êxito da promoção de um destino turístico está na capacidade de melhor responder a um conjunto de necessidades de determinados segmentos de mercado. Os referidos autores testaram o modelo bidimensional para análise e concluíram que existe uma relação significativa entre motivação e atributos do destino, indicando que o exame simultâneo desses fatores seria mais útil para segmentar mercados, projetar programas e pacotes, bem como orientar decisões sobre estratégias para o desenvolvimento de destinos.
Assim, se observam no Quadro 1 os fatores push e pull mais comuns na literatura, a partir de Fakeye e Crompton (1991), Crompton e McKay (1997).
Os fatores push-pull, enquanto rol de dimensões, tendem a sofrer adaptações e acréscimos à medida que novos fatores vão surgindo, fruto das pesquisas empíricas. O mérito do emprego do modelo está no olhar bidimensional do que impulsiona e do que atrai, pois a descrição de fatores individualmente se mostra variável, conforme cada objeto estudado (Rodrigues & Mallou, 2014; Minasi & Pereira, 2017; Whyte, 2017). Os autores Park et al. (2015) concordam com esse pensamento, a ponto de declarar que é vital para as estratégias de marketing, em especial, visando ao turismo internacional, conhecer as motivações de diferentes culturas utilizando um modelo baseado nos conceitos push e pull. Estes autores investigaram turistas oriundos da China, Hong Kong e Taiwan que optaram pelo destino turístico Macau. Como conclusão de seus estudos, identificaram três fatores push (novidade e diversão; relaxamento e fuga; vida noturna) e quatro fatores pull (atmosfera excitante e relaxante; recursos culturais locais; jogos de apostas e entretenimento; destino famoso). O Quadro 2 demonstra os diversos segmentos dentro do turismo em que o modelo bidimensional foi explorado.
A partir dos estudos evidenciados no Quadro 2, as pesquisas de Baloglu e Uysal (1996), Park et al. (2015), Minasi e Pereira (2017), Li e Qi (2019), Katsikari et al. (2020) e Carvalho (2021) forneceram evidências teóricas e empíricas sobre os fatores push e pull. A título de exemplo, Katsikari et al. (2020) investigaram se a análise de segmentação de mercado baseada em fatores push e pull aplica-se ao contexto das mídias sociais. Os resultados mostraram que os turistas gregos estão segmentados em quatro fatores push: “conhecimento/intelectual”, “novidade/aventura”, “escape/entretenimento/ prestígio” e “esportes”; e em quatro fatores pull: “cultura/história”, “atividades/esportes”, “natureza/ ar livre” e “segurança/luxo”. Os autores concluíram que as mídias sociais podem atrair todos esses segmentos para o mercado de turismo grego.
Observa-se que a motivação turística na perspectiva do modelo push e pull foi adotada como fundamento teórico para diferentes tipos de destinos e atrativos, mostrando-se consistente. Os fatores estudados na literatura foram incrementados ao longo das pesquisas aplicadas, mas as características dos fatores convergem para a estrutura teórica dos fatores de Dann (1977) e Crompton (1979). Considera-se o exame do referencial teórico suficiente para proporcionar ao leitor uma compreensão do tema (Galvão, 2011) e orientar a análise efetuada, cujos procedimentos metodológicos são expressos na seção a seguir.
A pesquisa, quanto à sua finalidade, está caracterizada como pesquisa aplicada e no que respeita a sua natureza, assume o caráter observacional (Oliveira, 2021), pois tem como base fatos que já aconteceram (relatos pós-viagem) que são observados sem a interferência do pesquisador.
Quanto à abordagem, é de natureza qualitativa (Martins & Theóphilo, 2016; Minayo, 2016), visto que busca descobrir e entender a complexidade e a interação de elementos relacionados com as motivações que levam os turistas a visitarem os cassinos sem o uso de procedimentos estatísticos. No que tange aos objetivos, se apresenta como de natureza explicativa (Oliveira, 2021), ao buscar identificar quais fatores contribuem para a ocorrência da viagem e visita ao atrativo cassino.
No que concerne ao recorte temporal, esta pesquisa contempla comentários na plataforma TripAdvisor de agosto/2012 até março/2020. Já na seara dos procedimentos técnicos, abrange a pesquisa bibliográfica (discute o tema baseado em livros e artigos) e documental (acessa o diário on-line (relatos de viagens) e textos disponíveis no TripAdvisor (Martins & Theóphilo, 2016). Os passos adotados para alcançar os resultados pretendidos com a investigação são sintetizados no Quadro 3.
Nesta linha de ação, o processamento e o tratamento dos dados estão condizentes com os preceitos da pesquisa qualitativa, visto que não se busca tratar a informação estatisticamente, mas sim constatar a presença das motivações de viagem para os cassinos do Destino Turístico Iguaçu. Isso, por meio da categorização dos quadrigramas nas dimensões push ou pull, a fim de promover uma discussão empírica e teórica sobre o tema, a qual será apresentada no próximo capítulo.
Para facilitar a análise, os resultados serão apresentados em quadros que conterão o total de quadrigramas identificados e aferidas quantas vezes uma mesma sequência de palavras se repete no corpus, formando a amostragem de apresentação, conforme indicado por Serra, Font, Ivanova (2016) e Flick (2008). Os comentários dos visitantes serão catalogados relacionando os quadrigramas com os fatores motivacionais push e pull, já apresentados e consolidados na literatura.
No que tange aos fatores que empurram o turista para visitar os cassinos, a primeira variável que se destaca com 49 quadrigramas denomina-se “novidades” que se repetiram 140 vezes (Quadro 4). Pode-se inferir que grande parte dos turistas que comentam sua visita aos cassinos o consideram algo diferente evidenciando que este atrativo personifica a novidade.
A novidade também apareceu nos estudos de Baloglu e Uysal (1996), Moyano et al. (2012) e Albergaria (2016) como o fator impulsionador mais evidenciado ao analisarem diferentes tipos de atrativos. Destaca-se o estudo de Li et al. (2017) que se ocuparam de compreender as motivações dos turistas chineses que buscavam os cassinos em Macau, no qual a busca pela novidade foi significativa. Nesse sentido, esta constatação está em acordo com o aludido por Alves et al. (2017), os quais alegam que o turista procura uma experiência inusitada, coadunando com Crompton e McKay (1997) no que tange ao desejo do turista vivenciar a surpresa.
Em segundo lugar emergiu a dimensão “socialização”, a qual foram associados 16 quadrigramas, que apareceram 146 vezes ao longo do corpus analisado (Quadro 5). Alguns exemplos foram selecionados, indicando a socialização relacionada à fotografia “não pode tirar foto”, “não é possível tirar foto”. Nesse aspecto, o conjunto de comentários revela que há o interesse dos turistas na socialização, evidenciando o que foi indicado por Alves et al. (2017), que o turista almeja, durante o tempo livre, aproveitar tudo que lhe é ofertado e fotografar tudo. Com suporte neste entendimento é que se considerou o relato da proibição de fotos como evidência da importância desse fator motivacional.
Apesar dos relatos de proibição, existem fotos de turistas no Tripadvisor que registraram suas presenças nas salas de jogos dos cassinos da tríplice fronteira. O fato de ser proibido, não quer dizer que todos os turistas seguem esta regra. Panazzolo (2016) registrou o relato de uma turista que tirou foto ao lado de uma máquina caça-níquel, pois segundo ela “[...]aparecer nas imagens é poder mostrar para todos que estive lá &. Nesse mesmo sentido, Zucco et al. (2018) ponderam que a fotografia evidencia o “eu estive lá”, alertando que, além da socialização, a fotografia é também evidência de externalização do conceito de prestígio. Nesse sentido, os achados coadunam com o entendimento de Alves et al. (2017) de que as imagens compartilhadas através das redes sociais são um exercício de socialização, dessa forma, reforça os estudos de Crompton (1979) para quem o turista busca tais oportunidades. No que tange a cassinos, Wong e Rosenbaum (2012) encontraram a socialização como um forte componente na motivação dos turistas que frequentam esse tipo de destino.
Já o terceiro fator motivacional identificado refere-se ao item “repouso e relaxamento”, que agregou três quadrigramas, e foi entendido como manifestação de interesse em atividades hedônicas. Esse conjunto sequencial de palavras ocorreu nove vezes ao longo dos textos analisados (Quadro 6). Essa dimensão revela que os turistas indicam em seus comentários que são impulsionados pelo desejo de diversão, fato também retratado por Carvalho (2021) ao estudar os fatores push de cassinos da costa europeia. O fator “repouso e relaxamento” aparece nos achados em menor número de menções, situação similar aos estudos de Moyano et al. (2012) e Albergaria (2016).
Os resultados evidenciam que para os turistas, cujos comentários fazem parte do corpus da presente investigação, o desejo pela busca de novidades é indubitavelmente o que mais os representa quando o foco está nos fatores push. Esse aspecto evidencia que o perfil identificado é de um buscador de novidades. Pode-se inferir que este grupo pesquisado ao cruzar a tríplice fronteira busca nos cassinos algo diferente do que é possível fazer no destino, esperando encontrar ali uma experiência nova.
No que diz respeito ao primeiro fator pull identificado tem-se “infraestrutura, alimentação e povo amigável”, referente, neste caso, à completude de uma experiência que representa bem a receptividade dos países de fronteira, em relação aos turistas de cassino. Neste item, somam-se 54 quadrigramas, os quais apareceram 214 vezes ao longo do texto, conforme apresentado no Quadro 7.
Verifica-se que, isoladamente, é a dimensão com maior representatividade entre as obtidas a partir dos relatos de viagem. Nesse sentido, conforme apontado por Penna (2019), os clientes de cassinos - sejam eles locais ou estrangeiros - também buscam payoffs não monetários advindos de experiências sociais. Em geral, esses payoffs podem ser distribuídos em termos de experiências associadas à localização e à comodidade oferecida pela região que abriga os cassinos. Extraem-se alguns dizeres que servem de exemplos como “máquina aceitam nota real” ou “fica bem entrada cidade”, que denotam uma facilidade de acesso e uma preparação para receber aquele perfil de turistas (no caso, os brasileiros). Ao interpretar este fato, por meio da análise temática, leva-se em consideração Fakeye e Crompton (1991), quando se referem a um tipo de povo amigável. Esse entendimento advém de outras observações da dimensão amigável, quando o turista diz “falam muito bem português e auxiliam” e comenta “não há qualquer necessidade de traje formal”.
Em seguida, tem-se “bares e entretenimento noturno”, neste caso, trata-se da oferta dos cassinos como atrativo complementar a partir de Foz do Iguaçu e caracteriza-se como uma opção de entretenimento noturno. Neste item somam-se 11 quadrigramas, os quais apareceram 40 vezes ao longo do texto, conforme apresentado (Quadro 8).
Nesse aspecto, o estudo corrobora com os achados de Minasi e Pereira (2017), que, ao investigar os fatores pull em Las Vegas, também observaram que os cassinos de lá se destacam como uma opção de entretenimento noturno. Tal evidência vem de alguns dizeres que servem de exemplos como “níquel roleta mesa poker” ou “mesa black jack roleta”, que denotam atração pelas apostas como diversão (Fakeye & Crompton, 1991).
Como último fator pull identificado tem-se “acomodações e transporte”, referindo-se às facilidades e conveniência de acesso ao transporte e, principalmente, ao caso de os cassinos oferecerem algo gratuito. Nesse quesito, somam-se quatro quadrigramas, os quais apareceram 13 vezes ao longo do texto, conforme apresentado no Quadro 9.
Verifica-se que, além da conveniência, o turista evidencia ser atraído pela relação custo-benefício que se observa a partir dos comentários. Nesse sentido, pode-se inferir que nos relatos analisados, a estratégia de oferecer algum brinde (bebida ou refeição grátis, estadia em hotel com desconto, ou transporte) pode levar o consumidor a gastar mais dinheiro do que o cassino investiu na cortesia (Philander et al., 2015). Além disso, para Kim e Kang (2018) é possível a complementaridade entre produtos de jogos e não-jogos (transporte por exemplo), o que significa dizer que produtos complementares criam mais demanda juntos do que sozinhos. Alguns dizeres servem de exemplos como “van busca levar volta” ou “transporte gratuito hotel cassino”, que denotam um sentimento de conveniência dos indivíduos (Fakeye & Crompton, 1991).
O resultado aqui encontrado coaduna com a investigação de Minasi e Pereira (2017), pois estas autoras, ao analisarem os fatores pull em Las Vegas, identificaram que aquele público pesquisado não apontou o jogo como fator motivacional preponderante. Aqui tem-se a mesma situação, visto que a atração por apostas foi alocada na dimensão “bares e entretenimento”, o que apresentou o percentual de 15,9%. Destaca-se, com quase 80%, a infraestrutura que pode ser traduzida para este recorte do estudo como ambiente amigável, ou seja, usufruir de uma infraestrutura onde se possa pagar seus consumos em geral em moeda nacional e se comunicar em português.
Deve-se ponderar, ainda, a existência de públicos distintos no cassino, o que ocasiona interesses diferentes, pois, segundo Penna (2019), Paixão e Paixão (2015), o público pode ser dividido entre jogadores e turistas e estes últimos podem ou não ter interesse no jogo. Isso pode explicar por que as pesquisas apontam que os serviços adicionais são mais destacados do que o jogo. Por exemplo, para os turistas que não tem interesse diretamente no jogo, o objetivo, segundo Penna (2019), é a experiência social, o que ele chama de payoff não monetário.
Na busca por combinar os dois conjuntos, tem-se pesquisas quantitativas que se ocupam em realizar uma correlação canônica entre os fatores push e pull (White, 2017). Por outro lado, nesta investigação, a opção por abordar o tema pelo viés qualitativo, permite inferir que os turistas que comentaram sua experiência nos cassinos, evidenciaram que são impulsionados como buscadores de novidade e, concomitantemente, são atraídos pela expectativa de encontrar a atmosfera (não-jogo) do cassino, ou seja, privilegiando o que Carvalho (2021) denomina de servicescape. Nesse sentido, conclui-se que o desafio dos cassinos, que são por definição casa de apostas, se constitui em oferecer a este turista, para quem o jogo é secundário (Minasi & Pereira, 2017), atividades que o levem a se dirigir para lá.
Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar os fatores que impulsionam e atraem os turistas a visitar os cassinos do Destino Turístico Iguaçu. Os fatores motivacionais foram obtidos através dos comentários publicados no Tripadvisor. As análises permitiram classificar os comentários de forma que eles corresponderam aos preceitos da ideia bidimensional push e pull proposta por Dann (1977) e Crompton (1979). Tem-se, então, uma implicação gerencial relevante, na medida em que sugere que os cassinos devem atentar-se à sua capacidade de dispor e/ou melhorar seus serviços que gerem receitas do tipo não-jogo (por exemplo, serviços de restaurante e shows), pois o recorte da pesquisa evidencia um contingente de consumidores interessados na atmosfera do local e não necessariamente na prática do jogo que, a princípio, é a fonte geradora de receitas de um cassino.
Com a interpretação por meio da análise temática dos conteúdos, foi possível a classificação dos 150 quadrigramas, conformando-se três conjuntos de fatores que empurram (push) o turista para o atrativo turístico cassino na tríplice fronteira, sendo que a busca por novidades se evidencia com mais de dois terços dos quadrigramas. No que tange aos fatores que atraem (pull), também foram encontrados três conjuntos de fatores, destacando-se a infraestrutura, contemplando aspectos relacionados a atividades não ligadas ao jogo. Tais achados estão em acordo e corroboram investigações feitas em outros países, tanto na Europa como nos Estados Unidos e Ásia.
Entretanto, nem todos os fatores propostos pela teoria emergiram nesta pesquisa. Tal fato pode ter ocorrido devido à utilização de um banco de dados secundário, cujos comentários foram expostos espontaneamente pelos turistas, e que não conseguiram representar todas as dimensões propostas pelo modelo utilizado nesta investigação (Carvalho, 2021). Nesse caso, Kozinets (2014) já apontava que o uso de dados coletados em redes sociais pode não trazer todas as variáveis esperadas por um modelo. Esse fato não invalida a presente pesquisa, visto que os achados estão de acordo com a teoria. Todavia, não permitem afirmar que as demais dimensões não são relevantes para os frequentadores dos cassinos que compartilharam suas impressões na internet. Nesse caso, abrem-se oportunidades para realização de futuras pesquisas, adotando outro grupo, em que se pode aplicar diferentes formas de coletar os dados, como indicado por Kozinets (2014).
Ainda, foi possível compreender de maneira mais clara os fatores motivacionais que levam os turistas aos cassinos. Todavia, é preciso atentar para o aludido por Carvalho (2021), ao se pensar em estratégias de elaboração de produtos turísticos, visto que os fatores de atração (pull) podem variar bastante entre os turistas, pois valorizam diferentes atributos de destino em distintos níveis. Assim, os procedimentos adotados nesta pesquisa podem contribuir para obter informações com acurácia, a fim de melhorar a vantagem competitiva dos cassinos e combinar os fatores push e pull para criar uma estratégia de marketing nas áreas de destino (Baloglu e Uysal, 1996).
A investigação também tornou possível observar a existência de dois públicos nos cassinos, conforme retratado por Penna (2019), Paixão e Paixão (2015), ou seja, jogadores e turistas. Tal situação exige que a gestão dos cassinos repense estratégias no que tange a possibilidade de tirar fotos no seu recinto a fim de atender às demandas de cada um desses públicos (Machado et al., 2017).
A limitação da pesquisa, conforme já citado, considera que se tratando de base de dados secundária, nem todas as dimensões emergiram, tal como a dimensão prestígio. Duas situações podem indicar a ausência de algum aspecto ditado pela teoria: 1) a pesquisa foi baseada nos relatos dos usuários e não foram exploradas as fotos disponíveis no Tripadvisor; 2) uso de fonte de dados secundária, não sendo necessariamente constituída para atender aos conceitos da teoria ora estudada (Kozinets, 2014). Nesse sentido, fica como possibilidade aprofundar o estudo, combinando a análise de conteúdo dos textos e das imagens compartilhadas pelos turistas, por meio de investigações que ampliem a compreensão do fenômeno aqui estudado.
Alexandre Gosenheimer: Revisão de literatura, tratamento dos dados e redação.
João Eugenio Marynowski: Metodologia, coleta de dados e revisão final.
Melise de Lima Pereira: Redação, discussão dos resultados e revisão final.