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DESAFIOS DA GOVERNANÇA NO TURISMO GASTRONÔMICO: O CASO POMERODE, CIDADE DE SANTA CATARINA
Flávia Beatriz Sada Boldo; Ana Paula Lisboa Sohn; Marcos Ferasso;
Flávia Beatriz Sada Boldo; Ana Paula Lisboa Sohn; Marcos Ferasso; Marcos Arnhold Júnior
DESAFIOS DA GOVERNANÇA NO TURISMO GASTRONÔMICO: O CASO POMERODE, CIDADE DE SANTA CATARINA
GOVERNANCE CHALLENGES IN GASTRONOMIC TOURISM: THE POMERODE CASE, CITY OF SANTA CATARINA
RETOS DE GOBERNANZA EN EL TURISMO GASTRONÓMICO: EL CASO POMERODE, CIUDAD DE SANTA CATARINA
Turismo - Visão e Ação, vol. 26, 2024
Universidade do Vale do Itajaí
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Resumo: A governança no turismo gastronômico é um tema de crescente interesse para gestores e pesquisadores. No entanto, existem lacunas de conhecimento em relação aos desafios da cooperação. Diante disso, este estudo teve como objetivo analisar a governança no turismo gastronômico em Pomerode, uma cidade localizada na região Sul do Brasil. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas e análise documental como métodos de coleta de dados. As entrevistas foram realizadas com representantes de atores relevantes na governança do turismo gastronômico, incluindo empresários, associações do trade turístico e órgãos públicos. Os dados foram submetidos a uma análise de conteúdo, identificando categorias, padrões e temas emergentes relacionados à governança. Os resultados revelaram que há existência de um planejamento conjunto entre os atores da governança, bem como há consciência da importância da união para alcançar objetivos comuns. Apesar disso, a cidade enfrenta desafios para cooperação no setor do turismo. Dentre as objeções, estão interesses particulares, falta de diálogo e sobreposição de egos. O relacionamento entre os atores da governança é marcado por divergências políticas.

Palavras-chave: gastronomia, governança turística, atores de governança, cooperação interinstitucional.

Abstract: Governance in gastronomic tourism is a topic of growing interest for managers and researchers. However, there are knowledge gaps regarding the challenges of cooperation. Therefore, this study aimed to analyze the governance of gastronomic tourism in Pomerode, a city located in the southern region of Brazil. The research adopted a qualitative approach, using semi-structured interviews and document analysis as data collection methods. The interviews were carried out with representatives of relevant actors in the governance of gastronomic tourism, including businesspeople, tourist trade associations and public bodies. The data was subjected to a content analysis, identifying categories, patterns and emerging themes related to governance in gastronomic tourism. The results revealed that there is joint planning between governance actors, as well as awareness of the importance of unity to achieve common objectives. Despite this, the city faces challenges for cooperation in the tourism sector. Among the challenges are private interests, lack of dialogue and overlapping egos. The relationship between governance actors is marked by political divergences.

Keywords: gastronomy, tourism governance, governance actors, interinstitutional cooperation.

Resumen: La gobernanza en el turismo gastronómico es un tema de creciente interés para gestores e investigadores. Sin embargo, existen lagunas de conocimiento sobre los desafíos de la cooperación. Por lo tanto, este estudio tuvo como objetivo analizar la gobernanza del turismo gastronómico en Pomerode, ciudad ubicada en la región sur de Brasil. La investigación adoptó un enfoque cualitativo, utilizando entrevistas semiestructuradas y análisis de documentos como métodos de recolección de datos. Las entrevistas se llevaron a cabo con representantes de actores relevantes en la gobernanza del turismo gastronómico, incluidos empresarios, asociaciones gremiales turísticas y organismos públicos. Los datos fueron sometidos a un análisis de contenido, identificando categorías, patrones y temas emergentes relacionados con la gobernanza en el turismo gastronómico. Los resultados revelaron que existe una planificación conjunta entre los actores de la gobernanza, así como conciencia de la importancia de la unidad para lograr objetivos comunes. A pesar de esto, la ciudad enfrenta desafíos para la cooperación en el sector turístico. Entre los desafíos se encuentran los intereses privados, la falta de diálogo y la superposición de egos. La relación entre los actores de la gobernanza está marcada por divergencias políticas.

Palabras clave: gastronomia, gobernanza turística, actores de la gobernanza, cooperación interinstitucional.

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Artigos

DESAFIOS DA GOVERNANÇA NO TURISMO GASTRONÔMICO: O CASO POMERODE, CIDADE DE SANTA CATARINA

GOVERNANCE CHALLENGES IN GASTRONOMIC TOURISM: THE POMERODE CASE, CITY OF SANTA CATARINA

RETOS DE GOBERNANZA EN EL TURISMO GASTRONÓMICO: EL CASO POMERODE, CIUDAD DE SANTA CATARINA

Flávia Beatriz Sada Boldo
Universidade do Vale do Itajaí, Santa Catarina, Brasil
Ana Paula Lisboa Sohn
Universidade do Vale do Itajaí, Santa Catarina, Brasil
Marcos Ferasso
Universidade Lusófona, Lisboa, Portugal
Marcos Arnhold Júnior
Universidade do Vale do Itajaí, Santa Catarina, Brasil
Turismo - Visão e Ação, vol. 26, 2024
Universidade do Vale do Itajaí

Recepción: 28 Marzo 2024

Aprobación: 27 Junio 2024

INTRODUÇÃO

No contexto do turismo, a governança desempenha um papel relevante na regionalização do setor, buscando a interconexão com as atividades econômicas locais (Cruz, 2002; Rodrigues & Souza, 2015; Conceição, 2020). A análise da governança em destinos turísticos tem despertado interesse tanto de gestores como de pesquisadores, especialmente no que diz respeito à colaboração público-privada (Queiroz & Rastrillo-Horrillo, 2015). Há lacunas de pesquisa sobre a governança em destinos turísticos, cita-se, por exemplo, a necessidade de estudos sobre as relações entre os atores envolvidos e as parcerias estabelecidas (Costa & Toni, 2007; Queiroz & Rastrillo-Horrillo, 2015; Liberato et al., 2018;Islam et al., 2018;Coutinho & Nóbrega, 2019; Bantim & Fratucci, 2019; Mendonça & de Araujo, 2021). Diante disso, o presente estudo tem como objetivo analisar a governança no turismo gastronômico em Pomerode, uma cidade que se destaca por sua gastronomia típica e atrativos turísticos, localizada na região Sul do Brasil.

A governança no turismo é um campo complexo que requer coordenação e cooperação entre múltiplos atores. Cunha (2006) destaca a importância da cooperação interindustrial na governança, salientando a necessidade de estabelecer regras para a distribuição equitativa de custos e benefícios. Por sua vez, Humphrey e Schmitz (2000) categorizam a governança em âmbito local e global, enfatizando a necessidade de coordenação entre os diferentes atores envolvidos no setor do turismo, tanto no setor público quanto no privado. Além disso, Ruschmann, Anjos e Arnhold (2017) ressaltam a participação ativa das comunidades na busca por objetivos compartilhados na governança do turismo, destacando a importância da cooperação além das ações governamentais. Beaumont e Dredge (2010) também contribuem para essa discussão, ao investigar a eficácia de diferentes arranjos de governança local do turismo, identificando a necessidade de coordenação entre os diversos atores sociais e governamentais para alcançar objetivos comuns e promover o desenvolvimento sustentável do setor. Assim, esses autores convergem na ideia de que a coordenação e cooperação são elementos essenciais para uma governança eficaz no turismo, visando ao benefício mútuo e o desenvolvimento equilibrado do setor. Robina-Ramírez, Sánchez e Jiménez-Naranjo (2022) enfatizam que destinos turísticos devem ser construídos com preceitos éticos, justos, igualitários e com estratégias colaborativas. Para isso, podem ser buscados modelos de governança que mirem em modelos sustentáveis de turismo colaborativo.

Pomerode, local em que este estudo foi desenvolvido, é reconhecida por sua gastronomia típica germânica - a cidade é detentora do maior acervo de construções enxaimel fora da Alemanha. A análise da governança do turismo gastronômico em Pomerode tem o potencial de enriquecer o corpo de conhecimento existente sobre governança no turismo e fornecer recomendações práticas para gestores, acadêmicos e profissionais do setor interessados em promover o desenvolvimento turístico.

Localizada no Médio Vale do Rio Itajaí-Açu, em Santa Catarina, sul do Brasil, a cidade de Pomerode é um destino turístico reconhecido pelos traços culturais preservados que foram herdados de colonizadores vindos, na maioria, da Pomerânia, região do norte da Alemanha. A arquitetura local preserva elementos da colonização europeia. A cidade de 35 mil habitantes se envolveu com o turismo na década de 1930. A preservação da cultura e do idioma alemão até a década de 1950 é um traço distintivo. A preservação cultural se tornou uma atração a partir da década de 1980, contribuindo para a ascensão de Pomerode como destino turístico. Pomerode é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das Melhores Vilas Turísticas do mundo.

A preservação do patrimônio cultural é explorada em festivais gastronômicos que impulsionam o turismo na cidade. A Festa Pomerana, Osterfest e Festival Gastronômico atraem visitantes de todo o Brasil. Quem visita Pomerode conhece a cultura brasileira de origem alemã enquanto se diverte em parques temáticos, contempla o maior zoológico de Santa Catarina, conhece museus interativos e percorre roteiros rurais. As opções de oferta turística são diversificadas e ofertadas por empresas de diferentes portes. Apesar do tamanho, a cidade tem um parque industrial diversificado. Nas lojas de fábrica, pode-se comprar de chocolates premiados a cervejas artesanais, de cristais a brinquedos, de artigos para o lar à decoração, de embutidos a queijos finos. Ademais, ficam em Pomerode duas das maiores indústrias nacionais de moda infantil, entre outras marcas têxteis.

A cidade conta com várias opções de hospedagem, desde hotéis, pousadas e chalés. Em Pomerode, a experiência turística é autêntica, devido à qualificação do setor, que valoriza, preserva e transforma em atrativo turístico as tradições e costumes trazidos pelos imigrantes alemães.

A governança do turismo em Pomerode envolve uma variedade de atores, incluindo o Poder Público Municipal e associações de empresários. As associações, com destaque para Associação VISIT Pomerode, atuam como agentes da governança, visando à articulação e qualificação dos empresários do setor. Já o poder público é um ator da governança no turismo voltado à preservação da cultura germânica. A Secretaria de Turismo e Cultura formula políticas e estratégias para orientar o desenvolvimento do setor, enquanto o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) coordena projetos de infraestrutura, preservação do patrimônio e promoção de eventos. A Associação Visit Pomerode (AVIP) é um ator da governança na cidade ao promover oportunidade de network, qualificação empresarial e atividades de promoção do turismo na cidade. A AVIP gerencia um portal virtual com informações para o turista (https://visitepomerode.com.br/).

Neste estudo, adotou-se uma abordagem qualitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas e análise documental como métodos de coleta de dados. As entrevistas foram realizadas com representantes de atores de governança relevantes, incluindo empresários, associações do trade turístico e órgãos públicos. Além das entrevistas, foi realizada uma pesquisa documental, abrangendo documentos oficiais, relatórios, planos de ação e materiais promocionais relacionados ao turismo gastronômico em Pomerode. Os dados coletados por meio das entrevistas e da pesquisa documental foram submetidos a uma análise de conteúdo, buscando identificar categorias, padrões e temas emergentes, relacionados à governança no turismo gastronômico em Pomerode. Essa análise permitiu uma compreensão dos resultados e a interpretação à luz da literatura existente sobre o tema.

O artigo está estruturado em cinco seções. A primeira sessão, “Introdução”, apresenta o gap, objetivo e metodologia da pesquisa, fornecendo uma visão geral do conceito de governança e sua importância no setor do turismo. A segunda seção, “Fundamentação Teórica”, explora o conceito de governança, as pesquisas sobre governança no turismo, abordando diferentes perspectivas e modelos de análise encontrados na literatura científica. A terceira seção, “Metodologia”, descreve a abordagem qualitativa adotada no estudo, incluindo os métodos de coleta de dados, os participantes da pesquisa e os procedimentos de análise. A quarta seção, “Resultados e Discussões”, apresenta os principais achados da pesquisa, relacionando-os à literatura existente e destacando os atores de governança identificados, as parcerias estabelecidas e os desafios de cooperação encontrados. Por fim, a quinta seção, “Considerações Finais”, oferece um fechamento para o artigo, são apresentados os principais pontos discutidos ao longo do estudo, são abordados os desafios e oportunidades identificados, bem como possíveis estratégias e recomendações.

REVISÃO TEÓRICA

A governança é um conceito amplo e multifacetado que abrange tanto o setor público quanto o privado, englobando diversos processos de coordenação, controle, cooperação e resolução de conflitos (Cunha, 2006). Embora inicialmente associada ao governo, sua aplicação transcende essa esfera, envolvendo também órgãos governamentais, empresas, indústrias e outras estruturas organizacionais.

Cunha (2006) destaca que a governança abrange a coordenação e o controle das atividades econômicas por meio da cooperação interindustrial. Isso implica na definição de regras para distribuição de custos e benefícios da ação conjunta e na implementação de mecanismos para resolver conflitos (Humphrey & Schmitz, 2000; Cunha, 2006). A atuação em rede é uma forma de governança empresarial que combina cooperação e concorrência para atingir objetivos comuns (Cunha, 2006). Essa abordagem envolve entidades públicas e privadas trabalhando juntas para alcançar resultados mutuamente benéficos.

A governança se manifesta de maneiras diversas dependendo do contexto e dos objetivos da análise. Humphrey e Schmitz (2000) categorizam a governança em âmbito local e global, tanto no setor público quanto privado. No contexto do turismo, essa tipologia é aplicável. No âmbito local, a coordenação entre administrações municipais, atores do turismo, associações comunitárias e entidades de preservação ambiental é essencial para regular infraestruturas e promover o destino de forma sustentável. Já no cenário global, a colaboração entre países pode levar a acordos de preservação e práticas turísticas sustentáveis.

A evolução da governança no turismo tem revelado uma nova dinâmica. Ruschmann, Anjos e Arnhold (2017) destacam que está em curso um processo inovador no campo da governança turística, caracterizado pela participação ativa das comunidades na busca por objetivos compartilhados. Esse processo não se restringe apenas às ações governamentais, mas também engloba os resultados dos destinos, que podem variar em virtude das suas particularidades regionais. Conceição (2020) complementa essa perspectiva ao enfatizar o papel da governança regional do turismo, que visa à coesão em prol da região, promovendo a cooperação por meio de ações transparentes e conjuntas para o aprimoramento e desenvolvimento regional.

Estudos sobre governança no turismo mostram que, por trás da atividade turística, existem instituições responsáveis pela gestão de recursos, coordenando e implementando ações que impulsionam o desenvolvimento do setor turístico e atraiam visitantes para os destinos (Hall, 2011). A governança na atividade turística emerge como estratégia de desenvolvimento a partir do processo de coordenação de atores, grupos sociais, instituições e entidades diversas, buscando alcançar benefícios coletivos por meio do exercício do poder compartilhado entre eles (Cantalice, 2016; Bantim & Fratucci, 2019; Yamamoto et al., 2022).

A literatura acadêmica tem dedicado esforços para propor modelos de classificação e análise da governança no turismo com o intuito de aplicá-los em diferentes contextos e por variados atores. As pesquisas de Bramwell e Lane (2011) apontam que a governança no turismo envolve o processo de gerenciamento, regulamentação e mobilização de diversos atores sociais e do governo. Velasco (2007) desenvolveu um guia metodológico para diagnosticar as condições de governança de um destino turístico, baseado em dimensões, categorias e itens de análise adaptados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Beaumont e Dredge (2010) investigaram a eficácia de diferentes arranjos de governança local do turismo, identificando compensações entre parâmetros como eficiência e inclusão, legitimidade interna e externa, flexibilidade e estabilidade. Hall (2011) propôs uma tipologia de governança adequada para o turismo, baseada na intervenção estatal, autorregulação e relações entre políticas públicas. Robterson (2011) analisou a governança colaborativa na RedeTuris no Rio de Janeiro, destacando a importância do reconhecimento das partes envolvidas e do estabelecimento de confiança. Duran (2013) refletiu sobre os fatores-chave na transição para um modelo de governança no setor do turismo, destacando a importância da cooperação, coordenação e colaboração nas relações público-privadas. Queiroz e Rastrillo-Horrillo (2015) realizaram um estudo do estado da arte da governança no turismo, com o objetivo de avançar na delimitação das dimensões relevantes para a governança de destinos turísticos. Eles propuseram três dimensões fundamentais para avaliar a governança: “o que” (referente aos recursos e capacidades disponíveis), “quem” (envolvendo as partes interessadas) e “como” (relacionado aos instrumentos e mecanismos de participação e resolução de problemas).

A governança no turismo enfrenta desafios consideráveis. Estudos como os de Costa e Toni (2007), Coutinho e Nóbrega (2019), Bantim e Fratucci (2019), Mendonça e de Araujo (2021) se debruçam sobre as dificuldades encontradas por instâncias de governança na gestão de destinos turísticos. Coutinho e Nóbrega (2019) destacam os desafios da governança em destinos turísticos na sociedade contemporânea, apontando para a complexidade dos atores envolvidos, cada um com diferentes interesses e visões sobre o desenvolvimento turístico. A falta de alinhamento e cooperação entre esses atores é um obstáculo significativo para uma governança eficaz. Costa e Toni (2007) discutem os desafios da governança em destinos turísticos e roteiros integrados, ressaltando a necessidade de coordenação eficiente entre os diversos municípios e instituições envolvidas no desenvolvimento do turismo. A falta de articulação e integração das ações é um obstáculo para uma governança eficaz. Existem entendimentos divergentes sobre a legitimidade da intervenção do governo local no setor do turismo, mais particularmente no que se refere à capacidade do Estado de equilibrar adequadamente os melhores interesses da comunidade em geral, com interesses voltados para benefícios econômicos e comerciais (Shone, Simmons, & Dalziel, 2016).

Por sua vez, Mendonça e de Araujo (2021) abordam os desafios da governança territorial em destinos turísticos com superposição. Eles destacam a necessidade de uma gestão coordenada e integrada entre os diferentes destinos que compartilham recursos e atrativos turísticos. A falta de harmonização e cooperação entre esses destinos é um desafio para a governança territorial. A governança ocorre em diferentes escalas geográficas, sejam transnacionais, nacionais, regionais ou locais, e suas funções e ações variam nestas escalas espaciais. Apesar disso, há a necessidade de desenvolver uma governança de redes multinível, cuja participação é a chave para uma política pública legítima, transparente e efetiva (Calisto, Costa, Afonso, Nunes, & Umbelino, 2023).

A governança no turismo emerge como um campo dinâmico, repleto de desafios e oportunidades. A compreensão das múltiplas abordagens e modelos de governança, bem como a consideração das particularidades regionais e a colaboração entre os diversos atores, são essenciais para promover o desenvolvimento sustentável e equilibrado da indústria do turismo e garantir a preservação dos recursos naturais e culturais.

METODOLOGIA

Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa (Mattar, 2005) para investigar a governança no turismo gastronômico na cidade de Pomerode. Trata-se também de uma pesquisa descritiva, pois tem o objetivo de descrever e informar sobre o assunto pesquisado, expondo o fenômeno em estudo, qual seja, analisar a categoria coordenação na governança do turismo gastronômico em um determinado destino.

A pesquisa foi conduzida por meio de entrevistas semiestruturadas e análise documental. Para as entrevistas, foi elaborado um roteiro com base nas categorias de análise de governança apresentadas por Velasco-González (2007), Beaumont e Dredge (2010), Robterson (2011), Duran-Fuentes (2013), e Queiroz e Rastrillo-Horrillo (2015). Foram eleitas duas categorias de análise: institucional e coordenação (Quadro 1). A primeira diz respeito a variáveis relacionadas aos atores de governança e ao planejamento participativo. A categoria ‘coordenação’ permite avaliar variáveis de governança relacionadas à cooperação e à confiança.


Quadro 1.
Categorias e variáveis de análise da governança no turismo
Fonte: Dados da pesquisa.

Tais categorias e variáveis de análise serviram como guias para a elaboração das perguntas apresentadas no roteiro de entrevista semiestruturado (Quadro 2).


Quadro 2.
Roteiro de entrevista
Fonte: Elaborado para esta pesquisa.

A amostra consistiu nas instituições de governança responsáveis pelo turismo no município de Pomerode, localizado no sul do Brasil, no estado de Santa Catarina. Os participantes foram selecionados por critério de conveniência, levando em consideração seu envolvimento na governança do turismo gastronômico em Pomerode. Fizeram parte da amostra pessoas ligadas à Secretaria Municipal de Turismo, ao Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) e à Associação Visite Pomerode (AVIP), além de empresários locais. Foi realizada uma amostragem não probabilística, ou seja, intencional, e que, segundo Appolinário (2011), abrange a amostragem por conveniência (pela facilidade de acesso do pesquisador) e a amostragem por indicação. No Quadro 3, estão designados por códigos que combinam a inicial ‘E’ e o número correspondente à ordem cronológica das entrevistas, bem como a função dos entrevistados no contexto da governança do turismo gastronômico no município de Pomerode.


Quadro 3:
Informantes da pesquisa e sua relação com o destino Pomerode
Fonte: Dados da pesquisa.

As entrevistas tiveram duração média de 60 minutos cada e foram gravadas com o consentimento dos participantes e, posteriormente, transcritas para análise. Além disso, foi realizada uma pesquisa documental, incluindo documentos oficiais, relatórios, planos de ação, atas de reuniões e materiais promocionais relacionados ao turismo gastronômico em Pomerode. Esses documentos foram obtidos junto aos órgãos públicos, associações e outras entidades envolvidas na governança do turismo gastronômico.

A análise dos dados seguiu uma abordagem temática. As transcrições das entrevistas e os documentos coletados foram submetidos a uma análise de conteúdo, buscando identificar categorias, padrões e temas emergentes relacionados à governança no turismo gastronômico em Pomerode. A análise foi realizada de forma interativa, com a codificação dos dados, a identificação de temas e a revisão constante dos resultados. As transcrições foram feitas com auxílio do programa Express Scribe Transcription.

Para garantir a qualidade e a confiabilidade dos resultados, foram adotadas várias estratégias. Primeiro, a triangulação de fontes de dados foi utilizada, combinando entrevistas e documentos para obter uma visão abrangente e complementar da governança no turismo gastronômico em Pomerode. Além disso, a codificação dos dados foi realizada de forma independente por dois pesquisadores, com discussões regulares para garantir a consistência e a validade dos resultados. Por fim, foram realizadas revisões externas por pesquisadores experientes na área, a fim de fornecer feedback e contribuições adicionais para a análise dos dados.

Este estudo seguiu os princípios éticos de pesquisa, garantindo o anonimato e a confidencialidade dos participantes. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa, seus direitos como participantes e deram seu consentimento informado antes de participar do estudo. Os dados coletados foram armazenados de forma segura e utilizados apenas para fins de pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a análise dos dados coletados, percebeu-se que sobre a cooperação entre os diferentes atores da governança local em Pomerode, há existência de um planejamento conjunto entre o poder público e as associações, bem como há consciência da importância da união para alcançar objetivos comuns. A participação dos residentes traz importantes implicações para o futuro da destinação, assim como eles são um elemento crítico para uma governança turística efetiva (Bichler, 2021).

Foram identificadas ações colaborativas entre a Secretaria de Turismo do município, a Agência de Desenvolvimento do Turismo do estado de Santa Catarina (SANTUR) e residentes. Desde 1984, a Prefeitura Municipal isentava todos os proprietários de casas em estilo Enxaimel do Imposto Predial e Territorial Urbano, além de oferecer gratuitamente as plantas para que novas casas fossem construídas neste estilo, permanecendo sem impostos.

Também foram identificadas parcerias entre empresários locais para estímulo à cadeia produtiva da região. “No restaurante sempre priorizamos os produtos de fornecedores da região e do estado.” (E4).

Em Pomerode, a AVIP promove ações voltadas à qualificação e divulgação do turismo na cidade. Debates sobre o turismo na cidade e visitas técnicas para destinos turísticos no Brasil e no exterior são organizados pela associação. “Já fomos para Alemanha e temos parcerias com municípios vizinhos visando à troca de informações, de experiências.” (E8). “Participei de uma visita técnica muito interessante em outro estado do Brasil.” (E9). De forma geral, os entrevistados destacaram a atuação da AVIP na valorização de produtores locais e na promoção de ações conjuntas para o fortalecimento do turismo.

A AVIP, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), desenvolve ações de promoção do turismo. Foram elaborados materiais gráficos e eletrônicos, rebranding nos negócios que compõem a rota turística da cidade, capacitações voltadas à gestão, consultorias de produtos turísticos, fortalecimento do núcleo do artesanato local, entre outras ações para promover o desenvolvimento local. A distribuição de mapas impressos nos estabelecimentos que integram o roteiro, além de hotéis, pousadas, lojas, restaurantes e no portal turístico já é uma das iniciativas concretas da parceria.

Em virtude do momento em que a pesquisa foi realizada, considerando o cenário imposto pela Pandemia de covid-19 e os impactos causados no setor de turismo, inseriu-se uma pergunta no roteiro de entrevista para entender as estratégias adotadas para mitigar os efeitos da pandemia. O Entrevistado 6 destacou as ações realizadas pela Associação Visite Pomerode (AVIP), que incluiu a implementação de medidas de segurança, como o uso de máscaras e o distanciamento social, além de uma campanha chamada “O Cuidado nos Une”. A AVIP, em colaboração com um médico infectologista, desenvolveu protocolos de segurança para os estabelecimentos turísticos e comunicou a segurança da cidade aos turistas, enfatizando a proteção dos funcionários e visitantes. Essa abordagem ajudou na recuperação gradual do turismo na cidade, que atraiu um turismo mais regional durante o período de reabertura.

O Entrevistado 1 mencionou que, apesar de não haver disponibilização de recursos financeiros via município, houve um esforço significativo para orientar os empresários a captarem recursos junto aos órgãos estaduais e federais. Essas ações incluíram a divulgação de oportunidades de financiamento a juros menores oferecidas pelos governos. O Entrevistado 8 concordou com o Entrevistado 6, enaltecendo o trabalho da AVIP, que agiu prontamente ao interromper eventos como a Osterfest e ao organizar a campanha “O Cuidado nos Une”. A iniciativa envolveu diversos stakeholders, incluindo a Associação Empresarial de Pomerode e a Secretaria de Turismo, para capacitar e treinar os estabelecimentos a adotarem medidas de segurança eficazes.

De acordo com Queiroz e Rastrillo-Horrillo (2015), a efetiva participação dos atores no turismo depende de recursos e capacidades específicas, como formação, recursos financeiros e tecnológicos. Pelas falas dos entrevistados, nota-se que ainda não existe um planejamento efetivo e compartilhado entre todos os atores envolvidos na gestão do turismo gastronômico de Pomerode. Embora algumas entidades já realizem ações planejadas com antecedência, a divisão de responsabilidades ainda não é equânime, carecendo de um planejamento conjunto. O estudo de caso evidenciou que as iniciativas relacionadas à pandemia partiram principalmente da AVIP, com apoio subsequente do poder público, indicando uma necessidade de maior integração entre os atores para um planejamento mais colaborativo.

Foi observado o papel proativo da AVIP na criação de protocolos de segurança, campanhas e ações para promoção do staycation. Os resultados revelam um destacado papel da AVIP como agente de governança na cidade. O crescimento do número de associados ao longo dos últimos anos pode ser reflexo da valorização deste ator da governança turística no município. “O empresário que quer obter sucesso precisa buscar uma forma de associativismo para ele garantir o sucesso do seu estabelecimento, com certeza. E essa busca já está acontecendo cada vez mais pois o empresário já enxergou essa necessidade.” (E9). Vale destacar que o turismo de eventos festivos em Pomerode, responsável por uma considerável fatia do PIB, sofreu grandes impactos econômicos provocados pela pandemia de covid-19, que levou ao cancelamento dos eventos, atingindo toda a região.

As divergências políticas e a competição para comercialização de rotas turísticas foram identificadas como desafios à ação conjunta. Ao longo das entrevistas, foram feitas queixas sobre o excesso de burocracia vindo do poder público. Já entre os membros da AVIP há existência de relações de confiança. Não há cooperação entre os atores do poder público e da iniciativa privada. E1 afirma que isto não acontece e aponta um dos motivos: “Se eu lhe disser, com sinceridade, que a relação é harmoniosa, não é verdade. Porque a associação, a diretoria da associação é a diretoria do partido de oposição. E eu estou no meio disso. É muito chato e deselegante. Particularmente, para mim, é muito triste.” A burocracia compromete a confiança no setor público. “Vivemos em uma cidade pequena, o pior que tem numa cidade pequena é a inveja. E Pomerode, hoje, no patamar em que isto está, não é um turismo de cidade pequena. O setor privado, ele é muito mais ágil, muito mais competente do que o setor público com muita burocracia e pouca qualidade e a custos exorbitantes.” (E6).

Pode-se perceber que há pouca confiança entre o setor privado e o poder público. Segundo os representantes da iniciativa privada, manifesta-se também um sentimento de inveja quanto às conquistas e à proatividade da iniciativa privada. “O prêmio do Guinness, da maior árvore de Páscoa do mundo, criou uma inveja no poder público, com o sentimento de que a iniciativa privada estava se sobressaindo mais do que eles.” (E9).

A falta de confiança é apontada como um desafio significativo. E6 destaca a estremecida relação entre os atores, atribuindo parte disso à burocracia e lentidão do setor público. E9 reforça a falta de confiança, evidenciada por episódios de inveja e desconsideração dos feitos da iniciativa privada.

A análise das entrevistas sugere que a governança do turismo em Pomerode está mais alinhada com uma abordagem de mercado (Velasco-González, 2007). Nesse sentido, pode-se apontar a necessidade de promover o diálogo construtivo para fortalecer parcerias. Recomenda-se ações que visem à promoção do entendimento entre os atores, incentivando a confiança e a colaboração para impulsionar o turismo gastronômico de forma sustentável (Queiroz & Rastrollo-Horrillo, 2015).

A atuação da AVIP evidencia que mecanismos de coordenação social podem ser governados por atores de fora do setor público, revelando que atores, ou mesmo o mercado, podem ser alternativas para resolver os problemas e desafios coletivos (Velasco-González, 2007)

Embora tenham sido identificadas práticas positivas, ressalta-se a necessidade de um planejamento participativo abrangente. Recomenda-se uma abordagem mais colaborativa na definição de metas e estratégias, promovendo a inclusão de todos os atores para fortalecer a governança no turismo gastronômico em Pomerode.

Este estudo destaca áreas para melhorias contínuas na gestão do turismo gastronômico, reconhecendo a importância da participação de todos os atores envolvidos, o que está em consonância com as discussões encontradas na literatura. Cunha (2006) destaca a importância da governança na coordenação e controle das atividades econômicas, especificamente por meio da cooperação interorganizacional. Ao alinhar esse conceito teórico à categoria “coordenação” na metodologia, que avalia a cooperação e confiança no turismo gastronômico em Pomerode, conseguimos capturar a essência da dinâmica empresarial local, especialmente quando se trata de promover a gastronomia típica germânica.

Humphrey e Schmitz (2000) categorizam a governança em âmbito local e global, uma tipologia que se aplica diretamente ao contexto do turismo. Essa abordagem teórica se integra organicamente à categorização da “institucional” na metodologia, na qual se explora a coordenação entre administrações municipais, atores do turismo, associações comunitárias e entidades de preservação ambiental. Assim, as estratégias para promover a gastronomia típica podem ser entendidas em um contexto mais amplo de coordenação local.

Os modelos específicos propostos por pesquisadores como Velasco (2007), Beaumont e Dredge (2010), e Hall (2011) ajudaram na compreensão da governança no turismo gastronômico em Pomerode. Ao integrar explicitamente esses modelos com as categorias de análise, como “Institucional - Planejamento Participativo” e “Coordenação - Cooperação”, estabeleceu-se uma ponte entre a teoria e a prática. Por exemplo, as ações para promover a gastronomia típica podem ser alinhadas com as estratégias propostas por Beaumont e Dredge (2010), resultando em recomendações mais diretas e aplicáveis.

O quadro 4 oferece uma visão resumida dos pontos fortes, desafios e sugestões para Pomerode no contexto da governança do turismo. Essas observações podem orientar ações futuras visando a fortalecer o setor turístico da região.


Quadro 4:
Análise da Governança do Turismo em Pomerode
Fonte: Dados da pesquisa.

Com base nos resultados apresentados, sugere-se uma série de implicações práticas para melhoria da governança do turismo em Pomerode. Nesse sentido, para fomentar o diálogo construtivo e superar divergências políticas, recomenda-se adotar uma abordagem participativa que envolva todas as partes interessadas na preservação cultural de Pomerode. A organização de fóruns de discussão e consultas públicas, promovendo a inclusão de comunidades, autoridades locais e stakeholders, cria um ambiente propício para a troca aberta de ideias. A introdução de mediadores externos imparciais pode facilitar o diálogo em situações delicadas, enquanto a criação de um plano estratégico colaborativo, com metas e ações específicas, promove a coautoria e a responsabilidade compartilhada.

A confiança é um pilar importante da governança eficaz. Sugere-se ao poder público publicar relatórios transparentes sobre iniciativas, desafios e conquistas na preservação cultural. Além disso, estabelecer encontros regulares entre representantes do setor público, privado e organizações da comunidade proporciona um espaço para discussões abertas, resolução de problemas e alinhamento de objetivos. A implementação de uma plataforma online de colaboração pode complementar essa estratégia, permitindo o compartilhamento contínuo de informações e atualizações.

A eficiência na interação pode ser aprimorada por meio da automação de processos, identificando áreas que podem se beneficiar da redução da burocracia. Além disso, oferecer capacitação e treinamento aos envolvidos garante uma compreensão aprimorada dos procedimentos, reduzindo possíveis erros. A centralização de informações em uma plataforma dedicada simplifica o acesso a dados relevantes, contribuindo para a percepção de uma interação menos complexa.

Recomenda-se que os atores da governança em Pomerode incentivem parcerias colaborativas e um diálogo construtivo pode ser alcançado, por meio da organização de eventos colaborativos, como workshops e conferências. A facilitação por terceiros, envolvendo organizações externas na comunicação entre diferentes partes, oferece uma perspectiva neutra que pode superar desafios políticos. A definição clara de objetivos compartilhados para todas as partes interessadas ajuda a direcionar o foco para benefícios comuns, fortalecendo, assim, a colaboração.

Essas estratégias, quando implementadas de maneira integrada e adaptadas à realidade única de Pomerode, têm o potencial de promover uma governança mais robusta, eficiente e sustentável no contexto do turismo gastronômico, garantindo, ao mesmo tempo, a preservação cultural tão valorizada por essa encantadora cidade.

Os resultados obtidos em Pomerode estão alinhados com estudos anteriores sobre governança em cidades turísticas. Os atores de governança identificados, as parcerias estabelecidas e a importância do planejamento participativo são aspectos semelhantes aos encontrados em outros destinos turísticos (Bramwell & Lane, 2011; Duran, 2013; Queiroz & Rastrillo-Horrillo, 2015; Islam et al. 2018; Liberato et al., 2018). No entanto, as limitações na relação entre atores públicos e privados, assim como os desafios de cooperação, evidenciam a necessidade de superar obstáculos específicos em Pomerode. Essas discrepâncias podem ser atribuídas às características particulares do contexto local e à dinâmica política e social da região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dada a complexidade da governança no turismo gastronômico em Pomerode, podem ser traçadas diversas reflexões que contribuem para o avanço do conhecimento nesta área. Este estudo teve como objetivo analisar a governança no turismo gastronômico em Pomerode, uma cidade que se destaca por sua gastronomia típica e atrativos turísticos, localizada na região Sul do Brasil. Os resultados revelam que Pomerode, reconhecido internacionalmente como destino turístico, se destaca pela preservação cultural e pelos festivais gastronômicos, e pelas ações proativas da Associação Visite Pomerode (AVIP) e do setor público. No entanto, a administração enfrenta desafios consideráveis, especialmente no que diz respeito à falta de confiança entre os setores público e privado, às divergências políticas e à percepção de burocracia.

A análise aponta para a necessidade de estratégias mais eficazes para promover a cooperação entre os intervenientes. A falta de confiança entre os setores público e privado, destacada nas entrevistas, enfatiza a importância de ações transparentes e reuniões regulares para construir entendimento e superar suspeitas. A desenvoltura dos processos burocráticos surge também como prioridade para fortalecer a relação entre estes setores.

Os desafios identificados na construção de relações de colaboração entre os intervenientes na governação sugerem a necessidade de um diálogo construtivo, promovendo a compreensão mútua e incentivando a colaboração para impulsionar de forma sustentável o turismo gastronômico. A resistência cultural à ideia de benefício coletivo indica a importância de ações e estratégias educativas que enfatizem os ganhos coletivos da cooperação.

Parcerias estratégicas, especialmente aquelas entre AVIP e SEBRAE, demonstram que colaborações bem-sucedidas podem impulsionar o desenvolvimento do turismo gastronômico. Incentivar a formação de parcerias mais colaborativas, superar desafios políticos e promover o diálogo construtivo são cruciais para fortalecer a governança no contexto específico de Pomerode.

A análise sugere a necessidade de um planejamento participativo mais abrangente, envolvendo todos os intervenientes na definição de objetivos e estratégias. Essa abordagem colaborativa pode promover uma visão mais holística e inclusiva, alinhada com os benefícios coletivos procurados pela governação no turismo gastronômico.

O estudo contribui para a literatura sobre governança no turismo ao revelar os desafios e as dinâmicas específicas de Pomerode, mas também oferece implicações práticas para gestores de destinos, decisores políticos e outras partes interessadas. A pesquisa destaca a importância da participação ativa da comunidade local e da necessidade de estratégias colaborativas para enfrentar os desafios e promover o turismo de forma sustentável.

Quanto às limitações do estudo, é importante ressaltar que esta pesquisa teve como foco um contexto específico, o município de Pomerode, no sul do Brasil. O estudo baseou-se em dados qualitativos e relatórios de intervenientes na governação, o que pode introduzir distorções de percepção e limitar a objetividade das conclusões. A governação do turismo está intrinsecamente ligada às características específicas de cada localidade, incluindo fatores culturais, sociais e econômicos. Assim, os resultados obtidos em Pomerode podem não ser diretamente aplicáveis a outras regiões turísticas, pois cada destino possui dinâmicas distintas. Ao enfatizar explicitamente esta limitação da generalização nas considerações finais, pretendemos proporcionar uma abordagem mais precisa e cautelosa à aplicabilidade dos resultados, promovendo uma leitura crítica e contextualizada por parte de leitores e profissionais envolvidos na gestão turística. Tal abordagem contribuirá para uma compreensão mais apurada das implicações práticas do estudo em diferentes contextos, promovendo uma interpretação mais consciente dos resultados alcançados.

Para pesquisas futuras, sugere-se a realização de estudos longitudinais que acompanhem a evolução da governança no turismo gastronômico em Pomerode ao longo do tempo. Também se sugere estudos considerando as perspectivas dos turistas visando a fortalecer a governança e promover o desenvolvimento sustentável do turismo gastronômico em Pomerode e em outras cidades e regiões turísticas.

Material suplementario
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Notas
Notas
CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES Flávia Beatriz Sada Boldo: Concepção da pesquisa, revisão de literatura, coleta de dados, análise dos dados.

Ana Paula Lisboa Sohn: Concepção da pesquisa, revisão de literatura, concepção da metodologia de pesquisa, análise dosdados, discussão dos resultados.

Marcos Ferasso: Análise dos dados, discussão dos resultados.

Marcos Arnhold Júnior: Revisão de literatura, análise dos dados, discussão dos resultados.

Editor de Seção: Sinval Pereira Júnior

Quadro 1.
Categorias e variáveis de análise da governança no turismo
Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 2.
Roteiro de entrevista
Fonte: Elaborado para esta pesquisa.

Quadro 3:
Informantes da pesquisa e sua relação com o destino Pomerode
Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 4:
Análise da Governança do Turismo em Pomerode
Fonte: Dados da pesquisa.
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