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A natureza da psicologia nos Ensaios filosóficos (1777) de Johann Nicolaus Tetens
The Nature of Psychology in Johann Nicolaus Tetens’s Philosophical Essays (1777)
A natureza da psicologia nos Ensaios filosóficos (1777) de Johann Nicolaus Tetens
Revista de Psicología (Santiago), vol. 27, núm. 1, pp. 1-12, 2018
Universidad de Chile. Facultad de Ciencias Sociales. Departamento de Psicología
Recepção: 01 Setembro 2017
Aprovação: 12 Junho 2018
Resumen: Apesar de pouco enfatizado na historiografia da psicologia, o século XVIII apresenta uma imensa riqueza de discussões fundamentais para a psicologia. Esse é o caso da obra principal de Tetens, Philosophische versuche über die menschliche natur und ihre entwickelung (1777). O objetivo do presente artigo é descrever as principais características do objeto e do método de investigação psicológica nessa obra. Em nossa análise, verificamos que, embora seja uma disciplina filosófica, a psicologia é um campo específico de conhecimento que se baseia no auto-sentimento. Além disso, apontamos algumas evidências textuais para sustentar a tese de que a psicologia empírica é, segundo Tetens, propedêutica à metafísica.
Palavras-chave: Johann Nicolaus Tetens, psicologia, introspecção, história da psicologia, filosofia da psicologia.
Abstract: Although little emphasized in the historiography of psychology, the eighteenth century portrays very rich discussions on fundamental issues in psychology. This is the case of Johann Nicolaus Tetens’s magnum opus, Philosophische versuche über die menschliche natur und ihre entwickelung (1777). The goal of this paper is to present the main aspects of the subject matter and method of psychological investigation in that work. Our analysis suggests that, despite being a philosophical discipline, psychology constitutes a specific field of knowledge, a science based on selffeeling. Besides, we present textual evidence to support the thesis that empirical psychology is, according to Tetens, propaedeutic to metaphysics.
Keywords: Johann Nicolaus Tetens, psychology, introspection, history of psychology, philosophy of psychology.
Introdução
Embora maltratado ou mesmo ausente na historiografia geral da psicologia, o século XVIII apresenta uma enorme riqueza de discussões sobre os fundamentos de uma ciência psicológica. Isso se deve, em parte, ao importante papel que a análise psicológica passou a desempenhar na solução de problemas filosóficos, como têm notado alguns historiadores da filosofia. Segundo Cassirer (1932/1997), “a psicologia é assim colocada, de modo explícito, na base da teoria do conhecimento e, até a Crítica da razão pura, de Kant, ela reivindicará esse papel quase sem contestação” (p. 136). Pelo mesmo motivo, Gilson e Langan (1963) chegaram a afirmar que “de fato, o século dezoito é o século da psicologia” (p. 225, itálico no original).
Não é só como auxiliar da filosofia, contudo, que a psicologia aparece no século XVIII. Trata-se, também, de buscar uma ciência autônoma da alma (seele) e seus fenômenos, ainda que tal busca não carregue consigo nenhuma preocupação com a institucionalização da psicologia como disciplina, o que só ocorreria no século XIX (Gundlach, 2006). Essa efervescência em torno da fundamentação de uma ciência psicológica se torna evidente na tradição alemã da Aufklärung, cujos debates são travados não apenas no terreno da filosofia, mas também no da fisiologia e da antropologia (e.g., Krüger, 1756; Platner, 1772/2000; Wolff, 1738/1968).
Alguns trabalhos recentes têm revelado a riqueza e a diversidade de posições nesse cenário do Iluminismo alemão (e.g., Araujo, 2012, 2013; Frierson, 2014; Hatfield, 1995; Marcolungo, 2007; Sturm, 2009; Vidal, 2011; Zelle, 2001a). Contudo, ainda há aí muitos aspectos desconhecidos ou pouco explorados, como é o caso do projeto psicológico do filósofo Johann Nicolaus Tetens (1736-1807). Em especial, a obra Philosophische Versuche über die menschliche Natur und ihre Entwickelung (Ensaios filosóficos sobre a natureza humana e seu desenvolvimento), publicada em 1777, constitui um marco importante no desenvolvimento da concepção de psicologia empírica (Erfahrungsseelenlehre) no segundo período do Iluminismo alemão (1750-1780). Ao sustentar não apenas que uma investigação empírica das faculdades mentais deve ter autonomia e primazia em relação às investigações fisiológicas –baseadas, segundo ele, em hipóteses e conjecturas sobre o surgimento daqueles fenômenos a partir de propriedades e organizações cerebrais–, mas também que o estudo das faculdades cognoscitivas deve servir de base para a fundamentação dos princípios gerais da metafísica, Tetens deu um passo decisivo para a constituição de uma ciência psicológica autônoma (Tetens, 1777/1913).
Os dois volumes que constituem os Ensaios filosóficos sobre a natureza humana e seu desenvolvimento (Ensaios filosóficos, daqui em diante) –a principal obra de Tetens– reúnem 14 ensaios sobre uma grande variedade de temas da tradição filosófica do século XVIII. Os 11 ensaios iniciais estão reunidos no primeiro volume e referem-se à investigação das faculdades básicas, à determinação do princípio ou natureza fundamental da alma e à discussão sobre a objetividade do conhecimento humano. Os três ensaios finais, presentes no segundo volume, tratam de temas relacionados à liberdade, à relação corpo-alma e à perfectibilidade do homem (Tetens, 1777/1913).
É curioso notar, porém, que embora os Ensaios filosóficos sejam uma obra com temas de particular interesse para as discussões sobre a psicologia no século XVIII, ela não tem recebido a devida atenção na historiografia da psicologia. Com exceção de alguns trabalhos específicos sobre a história da tradição psicológica alemã, publicados na virada do século XX (e.g., Dessoir, 1901/1964; Sommer, 1892/1966), as apresentações mais gerais sobre o desenvolvimento da psicologia mencionamna muito superficialmente (e.g., Bell, 2005; Brett, 1921/1953; Klein, 1970; Pillsbury, 1929; Villa, 1903), quando não a ignoram (e.g., Goodwin, 2005; Hothersall, 2006; Schultz & Schultz, 2015).
Na perspectiva da história da filosofia, a situação é outra. Existem investigações mais sistemáticas e pormenorizadas, com trabalhos inteiramente dedicados à discussão da teoria do conhecimento, da metafísica, da filosofia moral, da teologia, da psicologia e da antropologia em Tetens (e.g., Engfer, 2005; Hauser, 1994; Kitcher, 2011; Puech, 1992; Sellhoff, 2015; Stiening & Thiel, 2014; Sturm, 2009; Thiel, 1996, 1997; Watkins & Kuehn, 2009; Wunderlich, 2005). Em que pese, porém, essa profusão de material bibliográfico no campo filosófico, isso não parece ter sido suficiente para produzir um impacto na historiografia recente da psicologia, na qual, com exceção de poucos trabalhos (e.g. Lauro & Araujo, 2015; Lindenberger & Baltes, 1999; Müller-Bretell & Dixon, 1990), ainda não se encontram discussões específicas sobre os Ensaios filosóficos.
Nesse cenário, muitas questões diretamente pertinentes à compreensão do projeto de psicologia em Tetens permanecem inexploradas ou mal compreendidas, como, por exemplo, a sua coerência e adequação aos critérios de cientificidade da época, e sua relação com a filosofia e a antropologia do século XVIII. Como procuramos mostrar em um trabalho anterior, a análise do significado da psicologia nos Ensaios filosóficos, assim como de seu escopo e função em relação ao sistema filosófico de Tetens, ainda é objeto de divergências interpretativas (Lauro & Araujo, 2015).
Longe de pretender oferecer uma interpretação exaustiva sobre a natureza da psicologia em Tetens, cujo empreendimento, a nosso ver, demanda uma análise sistemática e contextualizada tanto dos Ensaios filosóficos quanto das demais obras, o objetivo do presente artigo é bem mais modesto. Especificamente, interessanos aqui discutir os principais tópicos do primeiro volume dos Ensaios filosóficos concernentes à especificidade do objeto e do método de investigação psicológica, assim como à sua relação com a filosofia. Tendo esse objetivo em vista, primeiro analisamos a definição do objeto da psicologia. Em seguida, discutimos algumas questões metodológicas envolvidas neste projeto. Finalmente, apresentamos algumas considerações sobre o estatuto da psicologia empírica como disciplina metafísica.
Método
Para cumprir o objetivo descrito acima, adotamos aqui, como estratégia metodológica, as diretrizes gerais de uma história filosófica da psicologia, em estreita ligação com a proposta de uma história filosófica da ciência em geral (e.g., Arabatzis, 2016, 2017). Trata-se, sobretudo, de compreender o desenvolvimento histórico de distintos projetos psicológicos em sua relação com a tradição filosófica. Mais especificamente, trata-se de interrogar os documentos a partir de questões filosóficas específicas (ontológicas, epistemológicas, metodológicas, etc.) associadas a tais projetos, atentando para o contexto original de seu surgimento e posterior desenvolvimento (Araujo, 2017, 2017b). No caso de Tetens, em que a psicologia está inserida em sua filosofia, essa estratégia nos permite explicitar a trama conceitual e os princípios teóricos de seu projeto psicológico, revelando, assim, sua motivação essencialmente filosófica.
No que diz respeito às fontes, este estudo tem como foco o primeiro volume dos Ensaios filosóficos (1777/1913). No entanto, utilizamos ainda três outras fontes primárias relacionadas ao pensamento de Tetens, que serviram de suporte e contextualização para nossa análise (Tetens, 1760, 1775/1913, 2015). Por fim, situamos nosso estudo em relação à literatura secundária relevante, procurando confrontar, sempre que possível, nossa interpretação com as alternativas existentes.
Resultados
O objeto da psicologia
Antes de atermonos às considerações acerca da definição da psicologia nos Ensaios filosóficos, convém mencionar alguns aspectos fundamentais do contexto em que essa obra se situa. O segundo momento do Iluminismo alemão (1750-1780) se caracteriza por uma conjunção de diferentes tendências filosóficas: uma forte influência de ideias iluministas das tradições francesa e inglesa; um conjunto de críticas à metafísica especulativa wolffiana, que levam à busca de uma intermediação de descrições empíricas com princípios e fundamentos da filosofia racionalista alemã; e uma rica diversidade teórica –filosofia leibniz-wolffiana, Popularphilosophie, ecletismo, materialismo, idealismo, empirismo. Além disso, prosperam projetos antropológicos e psicológicos que, baseados em estudos neurofisiológicos ou na autoobservação da alma, propõem uma fundamentação empírica do conhecimento humano e da formação do agente moral e sóciopolítico (Dessoir, 1892; Kuehn, 2004; Moravia, 1978, 1980; Sellhoff, 2014, 2015; Sturm, 2009; Uebele, 1911; Vidal, 2011; Zammito, 2002; Zelle, 2001a).
Nesse contexto, o opus magnum de Tetens, apesar das duras críticas recebidas, parece ter estabelecido um novo padrão para os debates da época (Roth & Stiening, 2014). Já no prefácio, Tetens apresenta seu projeto como uma nova investigação das faculdades anímicas e do caráter espontâneo e perfectível da alma:
Os ensaios seguintes dizem respeito às ações do entendimento humano, suas leis do pensamento e faculdades fundamentais; além disso, ao poder da vontade, ao caráter fundamental da humanidade, à liberdade, à natureza da alma e ao seu desenvolvimento. Esses são, sem dúvida, os pontos mais essenciais de nossa natureza (Tetens, 1777/1913, p. iii, itálicos no original)1.
Até aqui, não há nada de novo, uma vez que inúmeros autores já tinham anteriormente perseguido os mesmos temas, como reconhece o próprio Tetens logo no primeiro parágrafo do prefácio 2. Um olhar mais atento, contudo, revela a preocupação inicial de Tetens em demarcar seu projeto em relação à tradição filosófica. Seu ponto de partida é o entendimento comum, compartilhado por vários filósofos, segundo o qual “a alma sente, tem representações de coisas, propriedades e relações, e pensa” (Tetens, 1777/1913, p. 1, itálicos no original). Tetens aceita, então, que sensações, representações e pensamentos caracterizam distintas atividades da alma. A questão que se coloca, porém, e que muitos filósofos já tinham tentado responder, é se essa distinção entre as três faculdades não seria meramente superficial, se não haveria uma única faculdade fundamental capaz de gerar todas as manifestações da alma. E é aqui que Tetens começa a se distanciar dos seus antecessores. Segundo ele, trata-se de investigar a mesma questão, mas com um novo olhar. É preciso investigar a alma com mais cuidado, dando atenção especial aos seus fatos mais básicos (sensações, representações e pensamentos). Segundo Tetens, “talvez eles ainda não tivessem sido suficientemente observados” (Tetens, 1773, pp. 7-8).
Isso significa que o objeto da psicologia nos Ensaios filosóficos é concebido por Tetens como um ser –cuja natureza última ainda é desconhecida– que tem três faculdades ou capacidades fundamentais (Grundvermögen), “que podem ser chamadas de sentimento, entendimento e vontade” (Tetens, 1777/1913, p. 627, itálicos no original) 3. O sentimento (Gefühl) refere-se à capacidade que a alma tem de sentir, de ser afetada e modificada por objetos externos ou internos, modificações essas que Tetens divide em sensações (Empfindungen), sentimentos (Gefühle) e emoções (Empfindnisse ou Rührungen) 4. O sentimento é a faculdade propriamente passiva ou receptiva da alma e pressupõe a presença imediata da modificação em questão. De acordo com Tetens, “apenas modificações atuais, nossos estados presentes, podem ser objeto do sentimento” (Tetens, 1777/1913, p. 170)5. O entendimento, ao contrário, está relacionado à dimensão mais ativa da alma e tem como objeto suas modificações passadas e futuras. Dividido em duas partes –a faculdade representativa (vorstellende Kraft) e a faculdade de pensamento (Denkkraft)– sua função é apreender, reproduzir, criar, diferenciar, relacionar e julgar as modificações sentidas anteriormente pela alma, levando à consciência clara e distinta das mesmas. Em outras palavras, a alma não só cria representações das coisas e de si própria, mas também as pensa. Finalmente, a vontade diz respeito “a todas as atividades da alma, por meio das quais ela produz novas modificações dentro e fora de si, que se diferenciam tanto do mero sentir quanto das ações de representar e pensar” (Tetens, 1777/1913, p. 625, itálicos no original). A vontade está diretamente relacionada à liberdade, um dos assuntos mais importantes dos Ensaios filosóficos, cujas implicações foram analisadas no segundo volume.
Essa breve caracterização do objeto da psicologia nos permite inferir a segunda característica peculiar do projeto de Tetens. Não se trata apenas de uma nova observação e reflexão sobre as faculdades anímicas. É igualmente importante recusar a interferência de hipóteses metafísicas sobre a natureza última da alma, atendo-se ao âmbito da experiência. Como fica explicitado na segunda página dos Ensaios filosóficos, o projeto de Tetens é uma análise psicológica da alma baseada na experiência (Tetens, 1777/1913, p. iv). Segundo ele, o objeto dessa psicologia não se refere à alma em sentido metafísico, mas sim à experiência interna ou ao eu empírico. Nesse sentido, Tetens está seguindo a distinção estabelecida por Wolff entre psicologia empírica e psicologia racional (Wolff, 1738/1968, 1740/1994) 6.
Em outras palavras, a alma é entendida aqui como um conjunto de estados, atividades e modificações que podem ser sentidos, perscrutados e pensados, como ficará mais claro a seguir. Por isso, a psicologia não deve começar com nenhuma hipótese sobre a essência da alma, deixando em aberto a possibilidade desta última referir-se a uma substância imaterial, a uma matéria dotada de alma ou, ainda, a um conjunto de atividades puramente neurofisiológicas. A seguinte passagem ilustra bem esse ponto:
Tomada no sentido psicológico, a alma humana é o Eu, que podemos sentir e observar com nosso auto-sentimento7. Ele pode consistir apenas em um ser simples e imaterial; ou ser composto por este último e um instrumento corpóreo interno do sentimento e do pensamento; ou ainda, para não excluir nenhum sistema psicológico, pode não ser nada mais do que o próprio corpo interno organizado. Enfim, ele é a unidade que sente, pensa e quer, o próprio homem interior. Este último tem seu caráter e suas particularidades, sobre os quais se pode filosofar segundo a instrução da experiência, sem se referir àquela especulação teórica sobre a natureza da essência da alma (Tetens, 1777/1913, p. 740, itálico no original).
Ainda em relação à demarcação da psicologia, vale observar que Tetens não apenas anuncia um amplo programa de investigação empírica da alma, mas aponta também para os seus limites. Para ele, as questões sobre a essência da alma ou a natureza última de sua força fundamental não podem ser satisfatoriamente decididas com base na observação empírica, uma vez que não temos acesso aos primeiros efeitos originais dessa força. Como o conhecimento do eu empírico é obtido por meio do sentimento de modificações ou efeitos que a própria alma produz em si e experimenta quando realiza seus atos de sentir, representar, imaginar, pensar, desejar, etc., isto é, por meio de ações de faculdades anímicas derivadas – que surgem após a alma já ter sofrido muitas mudanças e atingido um elevado grau em seu desenvolvimento –, fica indefinido se elas resultam exclusivamente da elevação da força presente nas faculdades já desenvolvidas –espontaneidade8 – ou se derivam também da mistura de faculdades distintas.
Apesar de Tetens apresentar reservas quanto ao auxílio que a psicologia empírica poderia dar à resolução dessa questão fundamental, sua afirmação de que a natureza última da alma é empiricamente incognoscível não deve ser interpretada apressadamente como um agnosticismo. De fato, Tetens crê na possibilidade de ultrapassarmos a mera opinião e chegarmos a um nível epistêmico superior, como a passagem seguinte evidencia:
Esse é o método da doutrina da natureza, o único que nos mostra as atividades da alma e suas interrelações como elas realmente são, e nos permite ter a esperança de encontrar princípios fundamentais, a partir dos quais seja possível deduzir com certeza as suas causas e, em seguida, estabelecer algo certo – que seja mais do que mera suposição – sobre a natureza da alma, entendida aqui como sujeito das manifestações observadas (Tetens, 1777/1913, p. iv).
Além de deixar claro que Tetens não coloca em dúvida a existência da força fundamental da alma nem a possibilidade de se obterem conhecimentos evidentes sobre a mesma, essa passagem também sugere que as investigações da psicologia empírica devem preceder e auxiliar a metafísica nessa tarefa, servindo como fonte de hipóteses e reflexões sobre a essência da alma, ou seja, para a psicologia racional. Isso será esclarecido nas seções seguintes.
O método de investigação psicológica
A demarcação do objeto da psicologia por si só não é suficiente para elucidar a novidade do projeto de Tetens nos Ensaios filosóficos. Para tanto, é necessário adentrar a dimensão metodológica. É no âmbito do método que o programa de Tetens começa a adquirir contornos mais específicos.
Como mencionado anteriormente, a psicologia empírica deve proceder predominantemente por meio do auto-sentimento, que pode ser considerado uma forma específica de introspecção 9. Mas, para entendermos a proposta metodológica de Tetens para a psicologia empírica, é necessário completar essa informação anterior com discussões mais precisas sobre as etapas da investigação psicológica e o caráter passivo e imediato do auto-sentimento10.
Já no prefácio dos Ensaios filosóficos, encontramos indicações mais precisas sobre como a investigação psicológica deve ser conduzida. De acordo com Tetens:
Considerar as modificações da alma tais como são conhecidas por meio do auto-sentimento; percebêlas e observálas cuidadosamente e repetidas vezes, alterando as condições; notar o seu modo de formação e as leis de ação das forças que elas produzem; em seguida, comparar e analisar as observações para, a partir daí, buscar as faculdades e os tipos de ação mais simples, bem como suas relações recíprocas; essas são as tarefas mais essenciais da análise psicológica da alma, que se baseia na experiência (Tetens, 1777/1913, p. iv).
Com base na passagem acima, podemos inferir que a investigação psicológica se divide em duas etapas distintas, porém complementares. Deve-se partir da percepção cuidadosa e precisa do que é característico a cada faculdade anímica, tal como é dado no auto-sentimento. Posteriormente, deve-se proceder indutivamente, por meio da análise e comparação de observações particulares, inferindo aquilo que é fundamental, mas não imediatamente evidente. Isso significa que, embora o auto-sentimento seja a conditio sine qua non do conhecimento psicológico, ele não basta por si mesmo. É necessário complementálo com as atividades do entendimento. Esse duplo aspecto do procedimento introspectivo confere ao projeto de Tetens uma particularidade metodológica que tem sido praticamente ignorada na literatura.
Outro ponto da passagem acima que merece atenção diz respeito à redução das eventuais imprecisões relacionadas ao auto-sentimento por meio da repetição sistemática da mesma observação, tanto em condições semelhantes quanto distintas. Apesar de encontrarmos nos Ensaios filosóficos apenas breves menções ao uso desse recurso metodológico, sua prescrição traz implicações importantes para a caracterização do auto-sentimento. Acima de tudo, vale destacar aqui a relação que existe entre auto-sentimento e controle experimental: situações planejadas, passíveis de repetição e alteração 11. Em outras palavras, ainda que o experimento não fosse empregado em todo e qualquer auto-sentimento, ele aparece como recurso utilizado e recomendado por Tetens a fim de assegurar uma apreensão mais acurada e sistemática das modificações anímicas. Nesse sentido, o auto-sentimento em Tetens não pode ser classificado como uma mera introspecção casual e assistemática. Além disso, os poucos exemplos oferecidos por Tetens reforçam a tese de que a aplicação do método experimental a fenômenos psíquicos não foi uma invenção do século XIX (Araujo, 2016; Hatfield, 1995; Sturm, 2006; Zelle, 2001b).
Além do controle experimental externo, Tetens recomenda, em outras passagens dos Ensaios filosóficos, mais uma precaução em relação ao auto-sentimento. Segundo ele, o observador deve ter cautela no uso de suas faculdades cognoscitivas, de modo a evitar que uma confusão entre raciocínio e observação distorça o que é dado aos sentidos, e que as faculdades de imaginação –reprodutiva (Phantasie ou Einbildungskraft) e criativa (bildende Dichtkraft)– acrescentem novos elementos aos sentimentos e às sensações originais (Tetens, 1777/1913, pp. xvi-xix). Essa precaução de Tetens torna evidente que o auto-sentimento não é concebido como um ato do entendimento –como autoconsciência reflexiva–, mas sim como uma manifestação da receptividade da faculdade de sentimento, mais especificamente do sentido interno, como bem destaca Thiel (1996, 1997, 2014). Para Tetens (1777/1913), as ações da faculdade do entendimento –representar e pensar– requerem um elevado grau de atividade, que impossibilita a própria apreensão do pensamento a ser observado, como mostra a passagem a seguir:
Ao pensarmos, e isto se mostra com a maior clareza quando pensamos com esforço e progredimos favoravelmente, não sabemos nada sobre o fato de que pensamos. Tão logo nos voltamos para o próprio ato de pensar, o pensamento já escapou, assim como o momento presente, que já passou, quando se quer apreendêlo (Tetens, 1777/1913, p. 47).
Portanto, quando recomenda ao observador manter-se firme na disposição de apenas perscrutar-se por meio da faculdade sensitiva, Tetens destaca o caráter imediato e nãoreflexivo do auto-sentimento.
Aqui, não podemos deixar de notar que, para Tetens, o sentido interno opera de modo análogo ao sentido externo, caracterizando o que Yalçın (2003) descreve como a tese do paralelismo entre sentido externo e interno. Assim, tanto os objetos externos quanto as atividades e estados anímicos provocam modificações ou impressões na alma (sensações, sentimentos e emoções). Além disso, essas modificações podem persistir por algum tempo após o desaparecimento de sua causa, resultando naquilo que Tetens chamou de sensações posteriores (Nachempfindungen). Sobre esses traços (Spuren) da modificação original debruçam-se os atos de representar e pensar, com todas as suas características peculiares. Inicialmente, os traços são transformados em representações conscientes, isto é, em representações claras e distintas, que se distinguem entre si, em relação a outras representações pouco claras ou obscuras e ainda em relação ao próprio eu que as sente. Em seguida, o ato de pensar pode relacionar as representações conscientes segundo conceitos de comparação (e.g., identidade, semelhança, diversidade, etc.), combinação (e.g., propriedade, cooperação, coexistência, etc.) ou dependência (e.g., causalidade, etc.). E assim por diante, até chegar aos atos mais abstratos do entendimento.
Nesse contexto, portanto, aproximamonos da interpretação de Thiel (2014), segundo a qual, em Tetens, o auto-sentimento é a única possibilidade de referência imediata aos próprios atos e estados internos da alma, diferenciando-se da consciência reflexiva, em que se associam as representações sensíveis e o ato de separação e diferenciação promovido pela faculdade de pensar. Podemos, assim, concluir que a consciência sobre as atividades anímicas é um ato mediato, que pressupõe as representações sentidas e requer que a alma se debruce sobre elas em um exame atencioso e diligente, expondo suas partes umas contra as outras e em relação ao próprio eu. De acordo com Tetens, “estar consciente de algo expressa um estado contínuo em que se sente distintamente um objeto ou sua representação e, além disso, a si mesmo” (Tetens, 1777/1913, p. 263, itálicos no original).
Tendo discutido as principais ponderações de Tetens a respeito do auto-sentimento, restanos ainda apresentar sua posição em relação ao procedimento de generalização (Verallgemeinerung) dos princípios empíricos especiais extraídos de casos particulares. Aqui, fica evidente que a psicologia empírica vai além daquilo que é dado imediatamente, buscando extrair princípios cada vez mais gerais sobre a natureza da alma. Segundo Tetens, uma generalização segura deve ser regulada pela experiência, a fim de que a semelhança entre os dados empíricos seja percebida em sua completa extensão ou em suas qualidades mais essenciais. Desta forma, ele admite a elaboração de generalizações ontológicas por meio de analogia (Analogie). Assim como na analogia a semelhança detectada entre algumas propriedades é estendida e transferida às demais, sem que uma ligação entre elas seja evidente, o uso de considerações gerais a respeito da natureza das coisas e da relação entre as suas propriedades orienta a generalização, ainda que isso não dispense o trabalho de se observarem cuidadosamente as circunstâncias nas quais é empregada. O importante, aqui, é a união entre o raciocínio metafísico e a observação da natureza. O seguinte trecho sintetiza sua visão:
Nos exemplos particulares há fundamentos gerais e especiais da analogia. Para captálos em sua completude, a especulação metafísica serve como o primeiro olho e a observação da natureza, como o segundo, ainda que este último seja o mais bem acabado, o único com o qual se vê na maior parte das vezes. É claro que também os lógicos e os metafísicos realmente contribuíram de alguma forma com suas considerações gerais, e eu queria apenas lembrar de passagem que seus esforços não devem ser vistos como completamente insignificantes (Tetens, 1777/1913, pp. xxiii-xxiv, itálicos no original).
De acordo com nossa interpretação, essa passagem revela que a primazia da observação empírica sobre o tratamento conceitual da alma não anula o valor das reflexões e raciocínios metafísicos. Essa interpretação é reforçada ainda por outras passagens dos Ensaios filosóficos, quando Tetens afirma que “por mais cuidadoso que eu tenha sido para evitar a interferência de hipóteses nas proposições empíricas, nem por isso me abstive de tirar conclusões e raciocínios a partir das observações, e de ligálas por meio deles” (Tetens, 1777/1913, p. xxix). Além disso, continua ele, “são as reflexões e conclusões que certamente tornam utilizáveis as observações simples, e sem aquelas nós teríamos que nos restringir para sempre à superfície exterior das coisas” (Tetens, 1777/1913, p. xxx).
Em face dessas evidências, podemos concluir que a psicologia empírica em Tetens não é concebida como um conhecimento puramente factual, restrito à enumeração e à descrição de eventos particulares, pois a integração de fatos empiricamente observados em teorias gerais requer o auxílio de hipóteses, raciocínios, conclusões e, até mesmo, conceitos metafísicos –especialmente os que são evidentes em si mesmos e os que têm evidências empíricas a seu favor 12.
O estatuto da psicologia empírica como disciplina metafísica
Um último ponto digno de nota diz respeito ao estatuto da psicologia empírica como disciplina filosófica, mais especificamente metafísica. Já em sua obra Gedanken über einige Ursachen, warum in der Metaphysik nur wenige ausgemachte Wahrheiten sind (Pensamentos sobre algumas causas, por que na metafísica há apenas poucas verdades evidentes), Tetens estava convencido de que a investigação empírica da alma não deveria se desvincular da metafísica:
Ela [a metafísica] foi assim organizada pelo Barão Wolff, o qual, segundo a profecia de um grande homem, ainda será mencionado com grande estima, quando a maioria de seus detratores já há muito estiverem esquecidos; e eu não vejo nenhuma razão suficiente para separar dela a doutrina experimental da alma e transformála em uma ciência que contivesse em si apenas os princípios gerais necessários de todas as coisas possíveis e seus modos principais, princípios esses derivados de conceitos estabelecidos por ela própria (Tetens, 1760, pp. 4-5).
Aqui, seguindo a estrutura formal estabelecida por Wolff em seu Discurso preliminar sobre a filosofia em geral (Wolff, 1740/1983, §99), Tetens concebe a metafísica como um sistema hierarquizado de conhecimento, fundamentado em provas racionais e empíricas, que reúne em si as seguintes disciplinas: ontologia ou filosofia transcendente, cosmologia, teologia natural e psicologia. A primeira representa, para Tetens, o grau mais elevado do conhecimento metafísico, que se ocupa com a determinação do que é possível e necessário em todas as coisas e com os princípios primeiros e mais gerais do conhecimento humano. As outras três disciplinas buscam integrar o conteúdo geral da ontologia com princípios empíricos específicos extraídos do estudo de seus respectivos objetos: mundo, Deus e alma (Tetens, 1760). Isso significa que a psicologia empírica é, aqui, uma das partes especiais da metafísica (junto com a teologia e a cosmologia), que depende da ontologia como disciplina geral.
Nos Ensaios filosóficos, embora a psicologia empírica também apareça como disciplina metafísica, parece haver uma modificação importante: agora ela aparece como disciplina metafísica preparatória para a ontologia. De fato, a investigação psicológica das faculdades cognoscitivas tem um papel preliminar e vital na elucidação da legitimidade dos conceitos e princípios gerais da metafísica, especialmente os da ontologia, na medida em que resultam da própria natureza do pensamento. Nas palavras do próprio Tetens:
Sobre a necessidade objetiva dos princípios não se pode dizer nada antes que se tenha investigado a necessidade subjetiva com a qual eles são pensados pelo nosso entendimento, observado em nós a natureza dos princípios comuns como produto da força de pensar, e notado suas qualidades (Tetens, 1777/1913, p. 471).
Em outras palavras, Tetens entende que os conceitos e princípios da ontologia baseiam-se na necessidade subjetiva do pensamento, segundo a qual aqueles conceitos e princípios não podem ser pensados de modo diferente. Ao redefinir, então, a necessidade objetiva dos conceitos e princípios racionais como uma necessidade subjetiva do ato de pensar, Tetens parece aceitar uma fundamentação psicológica da atividade metafísica. Esse caráter da psicologia como disciplina preparatória foi igualmente notado por Sellhoff (2015) em relação à estruturação da metafísica em Tetens. De fato, no seu curso de Metafísica de 1789, Tetens afirma que a psicologia empírica deveria preceder a ontologia, destacando sua função propedêutica em relação aos conceitos ontológicos. Segundo ele, “não há nenhum problema em começar pela doutrina empírica da alma, a fim de preparar o entendimento para a elaboração dos conceitos gerais na ontologia” (Tetens, 2015, p. 4). Essa parece ter sido a posição final de Tetens sobre a imprescindibilidade da psicologia empírica para a metafísica.
Considerações finais
A partir do que foi mostrado aqui, esperamos ter evidenciado alguns aspectos centrais do projeto psicológico de Tetens, tal como apresentado nos Ensaios filosóficos, contribuindo desta forma para o seu resgate na historiografia da psicologia e preenchendo uma importante e persistente lacuna na literatura latino-americana. Todavia, é importante ressaltar que as evidências textuais aqui apresentadas estão longe de esgotar todas as questões pertinentes à compreensão do projeto de psicologia empírica de Tetens e de oferecem um tratamento exaustivo de todos os temas psicológicos presentes nos Ensaios filosóficos (e.g., memória, percepção, consciência, vontade, desenvolvimento, etc.).
Em que pese, porém, os limites de nossa análise, acreditamos que ela possa servir como estímulo a novas pesquisas, além de reforçar alguns estudos recentes na historiografia da psicologia, que procuram rever e avaliar mais cautelosamente o conhecimento psicológico anterior à segunda metade do século XIX.
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Notas
Autor notes
*Contacto: S. F. Araujo. Universidade Federal de Juiz de Fora, Departamento de Psicologia, Campus Universitário, Juiz de Fora – MG, 36036-330, Brasil. Correio electrônico: saulo.araujo@ufjf.edu.br