Diagnóstico por imagem

Métodos diagnósticos da escabiose

Diagnostic methods for scabies

John Verrinder Veasey
Hospital da Santa Casa de São Paulo, Brasil
Nabila Scabine Pessotti
Hospital da Santa Casa de São Paulo, Brasil

Métodos diagnósticos da escabiose

Surgical & Cosmetic Dermatology, vol. 10, núm. 4, pp. 343-345, 2018

Sociedade Brasileira de Dermatologia

Recepção: 20 Agosto 2018

Aprovação: 26 Dezembro 2018

RESUMO: Escabiose é infecção cutânea contagiosa causada pela penetração do ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis na epiderme. A suspeita diagnóstica é feita pela história, distribuição clínica das lesões e sua aparência, porém sua confirmação se dá com a identificação do parasita. Apresentamos os aspectos dos métodos diagnósticos da escabiose, desde a identificação por microscopia óptica de raspados cutâneos de lesão ou pelo uso de fita adesiva sobre as lesões, à identificação com uso do dermatoscópio, ferramenta presente na maioria dos consultórios dermatológicos e que, mesmo em mãos inexperientes, possui sensibilidade e especificidade aceitáveis.

Palavras-chave: Dermoscopia, Diagnóstico por imagem, Doenças da pele e do tecido conjuntivo, Escabiose, Microscopia.

ABSTRACT: Scabies is a contagious cutaneous infection, caused by burrowing of the mite Sarcoptes scabiei var. hominis in the epidermis. The clinical suspicion is due to the history, clinical distribution of lesions and its aspect; however, the confirmation is with the detection of the parasite. We present the features of the diagnostic methods for scabies, from its detection through direct microscopy of skin scrapings from a lesion or with the use of an adhesive tape on the lesions, to its detection using the dermatoscope, a tool available in most dermatology clinics, which, even in unexperienced hands, has acceptable sensitivity and specificity.

Keywords: Dermoscopy, Diagnostic imaging, Microscopy, Scabies, Skin and connective tissue diseases, Skin diseases.

Escabiose é infecção cutânea contagiosa causada pela penetração do ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis, um parasita humano obrigatório, no estrato granuloso da epiderme. Clinicamente, é caracterizada por lesões pápulo-vesiculares, eritematosas, geralmente simétricas, com predileção pelas regiões palmoplantares e interdigitais, axilas, mamilos, região periumbilical, cotovelos, face anterior dos pulsos, cintura e genital, que provocam intenso prurido, principalmente à noite. A suspeita diagnóstica é feita pela história, distribuição clínica das lesões e sua aparência.1 A escabiose, entretanto, pode apresentar padrão clínico atípico em certas situações, como em pacientes em uso prolongado de corticoides e imunossuprimidos.2 O diagnóstico definitivo baseia-se na identificação microscópica dos ácaros, ovos ou elementos fecais. Tais elementos são classicamente identificados pela microscopia óptica em amostras de raspados cutâneos coletadas com lâmina de bisturi e colocadas em lâmina de vidro com hidróxido de potássio a 10%, ou até mesmo por coleta realizada ao colocar um pedaço de fita adesiva sobre a pele, removê-la lentamente e colar nas lâminas de microscópio a fim de se visualizar o ácaro em microscopia óptica1 (Figuras 1 e 2). Esses dois métodos de coleta são também realizados no diagnóstico de outras parasitoses por ácaros, como as demodecidoses.2

A - Paciente com quadro clínico sugestivo de escabiose.
							B - Realizada coleta de material com uso de fita adesiva
						sobre lesão suspeita. C e D – Fitas adesivas são dispostas
						sobre a lâmina de microscópio para busca do Sarcoptes scabiei pela
						microscopia óptica
Figura 1
A - Paciente com quadro clínico sugestivo de escabiose. B - Realizada coleta de material com uso de fita adesiva sobre lesão suspeita. C e D – Fitas adesivas são dispostas sobre a lâmina de microscópio para busca do Sarcoptes scabiei pela microscopia óptica

Identificação do ácaro Sarcoptes scabiei pela microscopia óptica no
						aumento de 200x de amostras coletadas pelo método de fita adesiva
							(A) e pelo método de raspagem cutânea. (B)
						Nota-se em B também a presença de três ovos do ácaro mais à direita, em meio
						a aglomerado de ceratina
Figura 2
Identificação do ácaro Sarcoptes scabiei pela microscopia óptica no aumento de 200x de amostras coletadas pelo método de fita adesiva (A) e pelo método de raspagem cutânea. (B) Nota-se em B também a presença de três ovos do ácaro mais à direita, em meio a aglomerado de ceratina

Em 1992, Kreusch sugeriu o uso do dermatoscópio para detecção in vivo do Sarcoptes scabiei, afastando a necessidade de coleta de material para análise em microscópio óptico.3 Desde então diversos autores têm relatado o uso desse aparelho para determinação dos aspectos encontrados nessa parasitose, que pode ser com identificação direta e indireta do ácaro.3-5

Pelo dermatoscópio é possível a visualização direta do agente na epiderme, quando analisadas as lesões cutâneas mais recentes. Nesses casos nota-se estrutura triangular que corresponde à cabeça e aos dois pares de membros anteriores, representando a porção anterior do ácaro adulto (Figura 3). Além do benefício da utilização de um instrumento não invasivo, bem aceito pelos pacientes por causar pouco desconforto e presente na maioria dos consultórios dermatológicos, o uso do dermatoscópio apresenta outra vantagem frente aos métodos clássicos de identificação do agente por microscopia óptica, que é a identificação indireta do ácaro. Pela análise dermatoscópica da lesão cutânea é possível evidenciar sinais da presença do agente por meio de estruturas tunelares que correspondem ao caminho percorrido pelo ácaro em seu momento de parasitismo. Nas imagens dermatoscópicas a estrutura do túnel consiste em um fino trecho delimitado com escamas esbranquiçadas, e é mais bem evidenciado quando utilizadas luzes não polarizadas. A identificação do túnel auxilia também a busca do ácaro, visto que é ao final dessa estrutura que encontramos com maior frequência o Sarcoptes scabiei (Figura 4).

Dermatoscopia da escabiose no aumento de 200x com identificação direta do
						parasita. Visualização da estrutura delta, que representa a porção anterior
						do ácaro. A - Luz não polarizada. B - Luz
						polarizada
Figura 3
Dermatoscopia da escabiose no aumento de 200x com identificação direta do parasita. Visualização da estrutura delta, que representa a porção anterior do ácaro. A - Luz não polarizada. B - Luz polarizada

Dermatoscopia da escabiose, aumento de 50x em A e 100x em B e C. Nota-se
						identificação indireta do parasita pelos túneis serpinginosos em A, B e C.
						Em A, a seta amarela indica na extremidade do túnel a identificação do
						ácaro. A e B - Luz polarizada. C - Luz não
						polarizada
Figura 4
Dermatoscopia da escabiose, aumento de 50x em A e 100x em B e C. Nota-se identificação indireta do parasita pelos túneis serpinginosos em A, B e C. Em A, a seta amarela indica na extremidade do túnel a identificação do ácaro. A e B - Luz polarizada. C - Luz não polarizada

Há vários trabalhos na literatura que expõem a experiência do diagnóstico dermatoscópico da escabiose. Dupuy et aí.4 demonstraram que a dermatoscopia possui sensibilidade diagnóstica de 91%, em comparação aos 90% dos raspados de pele, e especificidade de 86%, quando a dos raspados é de 100%. Outro estudo demonstrou que o raspado de pele somado à dermatoscopia possui maior acurácia e rapidez para diagnosticar escabiose, do que sem ela.5 Outro aspecto importante a ressaltar no uso do dermatoscópio é a ausência de qualquer risco à integridade do paciente, diferentemente da coleta clássica realizada com lâmina de bisturi, que em seu processo de coleta pode acarretar cortes e abrasões na pele do paciente, e levar a ferimentos em locais sensíveis com risco de complicações e cicatrizes inestéticas.

O presente trabalho ilustra a importância da identificação dos aspectos diagnósticos da escabiose, facilitando a decisão terapêutica para uma doença altamente contagiosa, cujo atraso no tratamento pode resultar em surtos epidêmicos e ônus econômico.

REFERÊNCIAS

Hicks MI, Elston DM. Scabies. Dermatol Ther. 2009;22(4):279-92.

Veasey J, Framil V, Ribeiro A, Lellis R. Reflectance confocal microscopy use in one case of Pityriasis folliculorum: a Demodex folliculorum analysis and comparison to other diagnostic methods. Int J Dermatol. 2014;53(4):e254-7.

Kreusch J. Incident ligh microscopy: Reflections on microscopy of the living skin. Int J Dermatol. 1992;31(9):618-20.

Dupuy A, Dehen L, Bourrat E, Lacroix C, Benderdouche M, Dubertret L, et al. Accuracy of standard dermoscopy for diagnosing scabies. J Am Dermatol. 2007;56(1): 53-62.

Park JH, Kim CW, Kim SS. The diagnostic accuracy of dermoscopy for scabies. Ann Dermatol. 2012;24(2):194-9.

Notas

Trabalho realizado na Instituição: Clínica de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil
Suporte Financeiro: Nenhum

Autor notes

John Verrinder Veasey | ORCID 0000-0002-4256-5734 Aprovação da versão final do original, concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original
Nabila Scabine Pessotti | ORCID 0000-0003-0879-2981 Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do original, obtenção, análise e interpretação dos dados, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, revisão crítica da literatura, revisão crítica do original

Correspondência: John Verrinder Veasey, Hospital da Santa Casa de São Paulo, Rua Dr Cesário Mota Jr, 112 Edifício Conde de Lara - 5º andar Vila Buarque, 01221-020, São Paulo, SP Brasil. E-mail: johnveasey@uol.com.br

Declaração de interesses

Conflito de Interesses: Nenhum
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