RESUMO: O câncer da pele não melanoma é a neoplasia maligna mais comum em humanos, sendo os carcinomas basocelulares responsáveis por aproximadamente 80% dos casos. A exposição cumulativa à radiação ultravioleta é o principal fator de risco associado ao carcinomas basocelulares, ocorrendo maior incidência nas áreas fotoexpostas, incluindo a região auricular. A região auricular é uma unidade cosmética nobre, cujas peculiaridades anatômicas tornam as cirurgias, com necessidade de excisão de grande quantidade de tecido, um desafio para o cirurgião dermatológico. Os autores apresentam caso de reconstrução da hélice e região retroauricular por meio de retalho com tripla transposição.
Palavras-Chave: Carcinoma basocelularCarcinoma basocelular,Dermatoses faciaisDermatoses faciais,Neoplasias da orelhaNeoplasias da orelha,Orelha externaOrelha externa,Procedimentos cirúrgicos dermatológicosProcedimentos cirúrgicos dermatológicos.
ABSTRACT: Non-melanoma skin cancer is the most common neoplasia in humans, and basal cell carcinomas (BCC) account for approximately 80% of cases. Cumulative exposure to ultraviolet radiation (UV) is the main risk factor associated to BCC, with a higher incidence in photoexposed areas, including the auricular region. The auricular region is a noble cosmetic unit, with anatomical peculiarities that lead surgeries to require the excision of a large amount of tissue, presenting a challenge for the dermatological surgeon. The authors present a case of helix reconstruction with a triple transposition flap.
Keywords: Carcinoma, basal cell, Dermatologic surgical procedures, Dermatology, Ear neoplasms, Ear, external.
Como eu faço
Reconstrução da hélice: tripla transposição
Helix reconstruction: triple transposition
Recepção: 05 Outubro 2017
Aprovação: 08 Dezembro 2018
O câncer da pele não melanoma é a malignidade mais comum em humanos, sendo os carcinomas basocelulares (CBC) responsáveis por cerca de 80% dos casos.1 A exposição cumulativa à radiação UV, com episódios intermitentes e intensos de queimadura, é o principal fator de risco associado à gênese do CBC, o que se evidencia pela maior incidência da neoplasia nas áreas fotoexpostas, como a face e região auricular.1 O CBC acomete frequentemente a cabeça e o pescoço de ambos os sexos e apresenta comportamento invasivo local, com baixo potencial metastático, sendo a excisão cirúrgica completa da lesão a principal abordagem terapêutica que leva à cura.1
A região auricular é unidade cosmética nobre, cujas peculiaridades anatômicas demandam nas cirurgias a excisão de grande quantidade de tecido, o que significa um desafio na maior parte dos casos. Apresentamos um caso no qual após defeito produzido para excisão completa da lesão neoplásica, a reconstrução da hélice foi realizada por meio de retalho com tripla transposição, sem complicações no peri e pós-operatório, e com resultado estético harmonioso.
Paciente idoso, do sexo masculino, fototipo II, sem comorbidades, apresentava ao exame clínico lesão ulcerada, de 5,5cm, acometendo a hélice e a região posterior da orelha esquerda (Figura 1). Análise histopatológica de biópsia prévia foi compatível com CBC micronodular. Devido à extensa área acometida e visando manter a simetria das orelhas, optou-se por realizar um retalho com tripla transposição. Após delimitação da área e infiltração do anestésico circunferencialmente (Figura 2), foi realizada excisão com margem de 5mm (Figura 3). Um retalho pré-auricular retangular foi confeccionado e rodado lateralmente para cobrir a região do terço superior da hélice e uma pequena área posterior do pavilhão auricular esquerdo (Figura 4). Em seguida foram seccionados dois retalhos romboidais nas regiões retroauricular e occipital, sendo o primeiro direcionado lateralmente para cobrir a região posterior da orelha (Figura 4), e o segundo para cobrir o defeito gerado após transposição do primeiro retalho (Figura 5). O defeito secundário foi fechado por sutura direta (Figura 6). Duas semanas após, garantida a vascularização, o pedículo do retalho na região retroauricular foi seccionado. Dessa forma, reconstituiu-se totalmente o defeito da orelha pela confecção de três retalhos que foram transpostos (Figura 7). O paciente não apresentou complicações no período pós-operatório imediato nem tardio, e observou-se resultado estético satisfatório com excisão completa da lesão, confirmada por laudo histopatológico (Figura 8).








A orelha externa é unidade cosmética nobre, junto de outras regiões como lábios, nariz e pálpebras. Possui estrutura anatômica peculiar com sua cartilagem constituída por saliências e reentrâncias, e é revestida em determinadas áreas por pele com baixo potencial de distensão. Por conta de tal particularidade, para prevenir deformidades e apresentação inestética, é mais indicado que o defeito cirúrgico seja reconstruído com tecido de áreas adjacentes.1,2 Retalhos da região auricular posterior são opções importantes, existem variadas técnicas descritas, e a pele possui aspecto semelhante, proporcionando resultados estético e funcional excelentes, superiores aos enxertos de sítios distantes.2
O câncer mais comum na região de cabeça e pescoço é o CBC, e devido a sua localização e exposição solar, a orelha é frequentemente acometida,1,3 sendo a excisão cirúrgica o tratamento definitivo para tais ocorrências.1 Embora metástases de CBC sejam raras, o caráter infiltrativo do tumor pode causar destruição local extensa.3 As técnicas de reconstrução cirúrgica do pavilhão auricular utilizadas variam de acordo com a localização e a extensão da lesão. Podem ser usados retalhos regionais ou enxertos.1 No caso de pequenos defeitos na hélice, pode-se optar pelo fechamento primário; em defeitos maiores, os retalhos de avanço são os indicados. Retalhos de transposição são particularmente úteis para lesões na região intermediária e superior da hélice, podendo-se utilizar áreas pré ou retroauriculares como doadoras.4
Uma vez que cada defeito gerado na excisão de lesões auriculares é singular, o cirurgião dermatológico enfrenta um desafio a cada reconstrução.5 Em defeitos localizados na hélice e região posterior da orelha externa, nos quais grande quantidade de tecido seria necessária para cobrir a área, pode-se utilizar uma combinação de três retalhos do tipo transposição. Nessa técnica, um retalho retangular é confeccionado na região pré-auricular, e outros dois romboides nas regiões retroauricular e occipital. Pela transposição dos retalhos para cobrir os defeitos adjacentes, é possível reconstruir completamente a hélice e a região retroauricular, preservando, assim, a anatomia auricular. O método descrito não apresentou complicações durante o procedimento ou no pós-operatório, permitiu manutenção da estrutura peculiar da região e proporcionou resultado estético favorável, sendo, portanto, uma opção relevante para correção de lesões extensas na orelha. O procedimento exposto é inovador, porém de execução relativamente fácil e prática, uma vez que utiliza técnicas de retalhos já descritas, mas em uma combinação não habitual: tripla transposição.
Correspondência para: Bianca de Franco Marques Ferreira, Boulevard 28 de setembro, nº 77 Vila Isabel, 20551-030, Rio de Janeiro, RJ Brasil. E-mail: biancafmf@ymail.com







