Cartas

Estudo piloto sobre a eficácia e segurança do uso da cisteamina 5% como terapia de contato por toda noite no tratamento do melasma facial

Efficacy and safety of the 5% cysteamine cream left in overnight for facial melasma: a pilot study

Daniel Pinho Cassiano
Universidade Federal de São Paulo, Brazil
Paula Basso Lima
Universidade Federal de São Paulo, Brazil
Joana Alexandria Ferreira Dias
Universidade Federal de São Paulo, Brazil
Ana Claudia Cavalcante Esposito
Universidade Federal de São Paulo, Brazil
Hélio Amante Miot
Universidade Federal de São Paulo, Brazil

Estudo piloto sobre a eficácia e segurança do uso da cisteamina 5% como terapia de contato por toda noite no tratamento do melasma facial

Surgical & Cosmetic Dermatology, vol. 14, e20220160, 2022

Sociedade Brasileira de Dermatologia

Recepção: 07 Julho 2022

Aprovação: 14 Setembro 2022

RESUMO: Não se aplica, trata-se de uma carta

Palavras-chave: Cisteamina;Transtornos da pigmentação, eventos adversos.

ABSTRACT: Not applicable, this is a letter.

Keywords: Cisteamina;Transtornos da pigmentação, eventos adversos.

Caro Editor,

O melasma é uma hiperpigmentação crônica adquirida comum das áreas fotoexpostas da pele. Acomete principalmente a face de mulheres com fototipos intermediários, em idade fértil. Como o melasma afeta áreas visíveis e frequentemente recidiva após o tratamento, ele prejudica a qualidade de vida dos pacientes.

A terapia padrão do melasma fundamenta-se na fotoproteção, que se baseia em protetor solar de amplo espectro, associado a agentes clareadores tópicos. Dentre os clareadores disponíveis no mercado, a L-cisteamina (cloridrato de mercaptoetilamina) é um composto aminotiol com propriedades antioxidantes e despigmentantes. Inibe a tirosinase e a peroxidase, sem o efeito melanocitotóxico da hidroquinona. A recomendação do uso da cisteamina é como terapia de contato rápido, por até três horas, devido ao seu potencial irritante.1-6 No entanto, foi sugerido que deixa-lo na pele durante a noite foi um procedimento seguro e bem tolerado para o tratamento do melasma, o que ainda não foi investigado.

Realizamos um estudo piloto prospectivo de intervenção aberta entre outubro e dezembro de 2021, com o objetivo de avaliar o perfil de segurança e o ganho de eficácia da cisteamina deixada durante a noite. Dez mulheres com melasma facial, sem tratamento há pelo menos um mês, foram orientadas a aplicar creme de cisteamina 5% (Clarité Cysteamin, Dermage, RJ, Brasil) no rosto, após o hidratante facial, deixando-o durante a noite por dois meses. As aplicações diárias devem ser adaptadas de acordo com a tolerabilidade individual.Todos os participantes receberam o mesmo protetor solar (SPF50, PPD19) para ser aplicado durante o dia.

Os indivíduos foram avaliados na inclusão e após 60 dias de tratamento.A segurança foi avaliada pelo relato de eventos adversos, como eritema facial, descamação e sensação de queimação (principais desfechos). Outros parâmetros utilizados foram o Índice de Área e Gravidade do Melasma modificado (modified Melasma Area and Severity Index - mMASI), a Escala de Qualidade de Vida do Melasma (Melasma Quality of Life Scale - MELASQoL), e a diferença de luminosidade colorimétrica (Dif*L) entre a pele afetada pelo melasma e a pele não afetada adjacente (<2 cm de distância). A Escala Global de Melhoria Estética (Global Aesthetic Improvement Scale - GAIS) foi utilizada para avaliar a diferença (T0 versus T60) na aparência da pele por meio de fotografias padronizadas (Figura 1).

A idade dos participantes variou entre 40 e 58 anos, e o fototipo foi intermediário (III-V). A maioria tinha história familiar positiva de melasma (70%) e relatou o sol como fator desencadeante (50%).

Apenas quatro pacientes (40%) toleraram o uso de cisteamina durante a noite, sete dias por semana. No entanto, o principal obstáculo para o uso diário foi o desconforto gerado pelo odor de enxofre. Um paciente relatou piora das crises de enxaqueca devido ao mau cheiro. Outros dois pacientes relataram náusea também causada pelo odor, e um deles não tolerou o uso noturno em nenhum dia por causa disso. Três pacientes (30%) relataram eritema facial leve transitório, descamação e queimação no início do tratamento, que desapareceu ao longo das oito semanas.

Paciente com melasma facial tratada com cisteamina 5% tópica por toda a noite por 8 semanas
Figura 1
Paciente com melasma facial tratada com cisteamina 5% tópica por toda a noite por 8 semanas

Tabela 1
Principais resultados de dez participantes com melasma facial tratados com creme de cisteamina 5% deixado durante a noite
Principais resultados de dez participantes com melasma facial tratados com creme de cisteamina 5% deixado durante a noite

Cinco pacientes (50%) apresentaram clareamento consistente do melasma pela avaliação do GAIS (Tabela 1). A Tabela 1 apresenta os demais parâmetros clinimétricos. A redução do mMASI foi de 13,5% (IC 95% 4 a 27%) em oito semanas. Não houve diferença nos parâmetros colorimétricos entre D0 e D60, nem melhora no escore de qualidade de vida ao final do estudo.

A cisteamina tópica 5% deixada durante a noite provou ser segura e bem tolerada. No entanto, em um estudo semelhante realizado na mesma população, o uso da cisteamina 5% à noite deixada por três horas proporcionou uma redução de mMASI de 15% a 33% após dois meses.1 Desde que o uso noturno não exceda esse valor, o estudo sugere que o uso durante a noite pode não adicionar eficácia sobre a terapia de contato mais curta. Curiosamente, nesta série, a frequência de uso foi limitada pelo odor de enxofre e não pela irritação da pele.

Em conclusão, o creme de cisteamina a 5% deixado durante a noite é uma opção segura para o tratamento do melasma facial para pacientes que preferem não lavá-lo na hora de dormir. Novas formulações de cisteamina que minimizam o odor de enxofre podem aumentar a adesão ao tratamento e melhorar os resultados clínicos. O ganho de eficácia da combinação da cisteamina com outros inibidores da tirosinase para o tratamento do melasma é garantido.

REFERÊNCIAS:

Lima PB, Dias JAF, Cassiano D, Esposito ACC, Bagatin E, Miot LDB, et al. A comparative study of topical 5% cysteamine versus 4% hydroquinone in the treatment of facial melasma in women. Int J Dermatol. 2020;59(12):1531-6.

- Mansouri P, Farshi S, Hashemi Z, Kasraee B. Evaluation of the efficacy of cysteamine 5% cream in the treatment of epidermal melasma: a randomized double-blind placebo-controlled trial. Br J Dermatol. 2015;173(1):209-17.

Farshi S, Mansouri P, Kasraee B. Efficacy of cysteamine cream in the treatment of epidermal melasma, evaluating by Dermacatch as a new measurement method: a randomized double blind placebo controlled study. J Dermatolog Treat. 2018;29(2):182-9.

Karrabi M, David J, Sahebkar M. Clinical evaluation of efficacy, safety and tolerability of cysteamine 5% cream in comparison with modified Kligman's formula in subjects with epidermal melasma: a randomized, double-blind clinical trial study. Skin Res Technol. 2021;27(1):24-31.

Karrabi M, Mansournia MA, Sharestanaki E, Abdollahnejad Y, Sahebkar M. Clinical evaluation of efficacy and tolerability of cysteamine 5% cream in comparison with tranexamic acid mesotherapy in subjects with melasma: a single-blind, randomized clinical trial study. Arch Dermatol Res. 2021;313(7):539-47.

Nguyen J, Remyn L, Chung IY, Honigman A, Gourani-Tehrani S, Wutami I, et al. Evaluation of the efficacy of cysteamine cream compared to hydroquinone in the treatment of melasma: a randomised, double-blinded trial. Australas J Dermatol. 2021;62(1):e41-6.

Notas

Fonte de financiamento: Nenhuma

Autor notes

Correspondência: Daniel Pinho Cassiano, Email: danielpcassiano@uol.com.br

Declaração de interesses

Conflito de interesses: Nenhum
HMTL gerado a partir de XML JATS4R por