ESTUDOS DE CULTURA MATERIAL/DOSSIÊ
Com o diabo no corpo: os terríveis papagaios do Brasil colônia
Com o diabo no corpo: os terríveis papagaios do Brasil colônia
Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol. 25, núm. 1, pp. 87-126, 2017
Museu Paulista, Universidade de São Paulo
Recepção: 12 Outubro 2016
Aprovação: 20 Fevereiro 2017
RESUMO: Desde a Antiguidade, papagaios, periquitos e afins (Psittacidae) fascinaram os europeus por seu vivo colorido e uma notável capacidade de interação com seres humanos. A descoberta do Novo Mundo nada faria além de acrescentar novos elementos ao tráfico de animais exóticos há muito estabelecido pelos europeus com a África e o Oriente. Sem possuir grandes mamíferos, a América tropical participaria desse comércio com o que tinha de mais atrativo, essencialmente felinos, primatas e aves - em particular os papagaios, os quais eram embarcados em bom número. Contudo, a julgar pelos documentos do Brasil colônia, esses voláteis podiam inspirar muito pouca simpatia, pois nenhum outro animal - exceto as formigas - foi tantas vezes mencionado como praga para a agricultura. Além disso, alguns psitácidas mostravam-se tão loquazes que inspiravam a séria desconfiança de serem animais demoníacos ou possessos, pois só três classes de entidades - anjos, homens e demônios - possuíam o dom da palavra. Nos dias de hoje, vários representantes dos Psittacidae ainda constituem uma ameaça para a agricultura, enquanto os indivíduos muito faladores continuam despertando a suspeita de estarem possuídos pelo demônio. Transcendendo a mera curiosidade, essa crença exemplifica o quão intrincadas podem ser as relações do homem com o chamado “mundo natural”, revelando um universo mais amplo e multifacetado do que se poderia supor a princípio. Nesse sentido, a existência de aves capazes de falar torna essa relação ainda mais complexa e evidencia que as dificuldades de estabelecer o limite entre o animal e o humano se estendem além dos primatas e envolvem as mais inusitadas espécies zoológicas.
PALAVRAS-CHAVE: Papagaio, Psittacidae, Comércio de animais, Agricultura, Pragas, Diabo, Possessão, Bruxaria, Folclore, Novo Mundo, Brasil Colônia.
ABSTRACT: Since ancient times, parrots and their allies (Psittacidae) have fascinated Europeans by their striking colors and notable ability to interact with human beings. The discovery of the New World added new species to the international exotic animal trade, which for many centuries had brought beasts to Europe from Africa and the Orient. Lacking large mammals, tropical America participated in this trade with its most appealing species, essentially felines, primates and birds - especially parrots - which were shipped in large numbers. It should be noted, however, that at times these birds were not well liked. In fact, according to documents from colonial Brazil, only the ants rank higher than parrots as the animals most often mentioned as agricultural pests. On the other hand, some of these birds were so chatty that people suspected them to be demonic or possessed animals, since only three classes of beings - angels, men and demons - have the ability to speak. Nowadays, several Psittacidae still constitute a threat to agriculture, and the suspicion that extremely talkative birds were demon possessed has also survived. More than a joke or a mere curiosity, this belief exemplifies how intricate man’s relationships with the “natural world” may be. In this sense, the existence of birds that are able to speak adds a further twist to these relationships, demonstrating that the problem of establishing a boundary between the animal and the human does not only involve primates, but also includes some unusual zoological species.
KEYWORDS: Parrot, Psittacidae, Animal trade, Agriculture, Pest, Devil, Possession, Witchcraft, Folklore, New World, Colonial Brazil.
Introdução
Desde a Antiguidade, papagaios, periquitos e afins (Psittacidae) despertaram grande interesse na Europa tanto pelo vivo colorido quanto por sua notável capacidade de interação com o ser humano. Se comparados com a maioria das outras aves mantidas em cativeiro, os psitácidas oferecem uma experiência bem mais rica, pois possuem um repertório comportamental muito elaborado e apresentam notória facilidade de reproduzir a nossa fala e os mais diferentes ruídos. Gregos e romanos parecem ter conhecido apenas os periquitos-de-coleira do gênero Psittacula2 e vários autores - a começar por Ctésias de Cnidos - destacam sua loquacidade.3 Segundo Aristóteles, tais periquitos tornar-se-iam mais insolentes quando bebiam vinho em demasia,4 observação que atravessaria os séculos respaldada pela “Historia Naturalis” de Plínio, “o Velho”,5 e acabaria por granjear para os Psittacidae a fama de consumados apreciadores de bebidas alcoólicas, crença que pode ter inspirado a composição de alguns quadros renascentistas sobre a intemperança (Figura 1).6

A expansão portuguesa na costa africana e o posterior estabelecimento de um caminho marítimo para as Índias seriam traduzidos em um fluxo crescente tanto de especiarias e outras cobiçadas riquezas quanto de animais exóticos e seus despojos, realidade que contradiz a propalada visão desse comércio como algo marginal capaz de se articular apenas na ausência de produtos de maior interesse financeiro. Ao lado do marfim, pérolas, carapaças de tartarugas, corais, conchas de náutilo e a púrpura do múrex, importavam-se as odoríferas secreções produzidas pelo castor, pelo cervo-almiscareiro e por civetas, grandes quantidades de penas de pavão, peles diversas e chifres de rinoceronte, esses últimos declarados como monopólio real desde 1470. Além dos já mencionados pavões, o comércio de aves vivas compreendia grous, pelicanos e diversos lóris, periquitos e papagaios, enquanto os mamíferos estavam representados por macacos, gazelas e antílopes, guepardos, tigres, leões, leopardos e outros felinos. Tampouco faltavam quadrúpedes de maior porte, sendo conhecida a história do rinoceronte e dos vários elefantes enviados da Índia para Dom Manuel I, “o Venturoso”.7 Contudo, vale destacar que esse tráfico não só antecede a expansão europeia dos séculos XV e XVI como podia envolver espécies procedentes de áreas muito distantes, conforme exemplifica o episódio de Frederick II, imperador do Sacro Império Romano Germânico, ter recebido - no ano de 1229 - uma cacatua do “sultão da Babilônia”, exemplar retratado em sua famosa “De arte venandi cum avibus” (“Arte da falcoaria”). Séculos mais tarde, uma segunda cacatua apareceria no quadro “Madonna della Vittoria” de Andrea Mantegna, pintura concluída na cidade de Mântua em 1496, portanto três anos antes do retorno de Vasco da Gama8 (Figura 2).

O crescente fascínio pela fauna do além-mar logo chamaria a atenção dos agentes econômicos envolvidos com os descobrimentos portugueses, entre eles os célebres irmãos Ulrich e Jakob Fugger, os mais abastados mercadores e banqueiros de sua época. Já em 1505, os Fuggers perceberiam o inegável potencial oferecido pelos animais exóticos e seus produtos, no que foram de pronto acompanhados pelos Welsers, outra poderosa família de negociantes alemães. Pelo menos até 1521, os representantes dos Fuggers em Lisboa remeteriam para a sede da empresa em Augsburg macacos, pavões, felinos e diversos psitácidas. Além de exemplares vivos, esse comércio contemplava vultosas partidas de penas de pavão, bem como peles de leopardos, tigres e leões, produtos muito apreciados para a confecção de vestimentas e adornos de luxo. Permanecendo ao alcance apenas dos nobres e dos mais opulentos burgueses, os pavões acabariam sendo criados em larga escala nos arredores de Neusohl, atual Banská Bystrica na Eslováquia, instalação que continuava ativa em 1546. Entre 1520 e 1530, a rota do florescente tráfico promovido pelos Fuggers seria deslocada para Antuérpia, a nova porta de entrada das importações promovidas pela companhia. Sediados em um amplo jardim provido de jaulas e outras facilidades, os funcionários podiam receber um número considerável de animais vindos em navios procedentes de Portugal, Espanha ou Itália e redistribuí-los aos ricos compradores de toda a Europa, aproveitando-se do transporte fluvial oferecido pelo Reno.9
A descoberta da América nada faria além de acrescentar novos elementos ao tráfico de animais exóticos há muito estabelecido pelos europeus com a África e o Oriente. Sem possuir grandes mamíferos, o neotrópico participaria desse comércio com o que havia de mais atrativo, essencialmente felinos, primatas e aves - em particular os papagaios, reunidos em bom número desde a primeira viagem de Colombo. Segundo cronistas como Bartolomeu de las Casas e Francisco López de Gómara, o navegador genovês não só embarcou 40 papagaios nas terras situadas do outro lado do oceano como exibiu os espécimes sobreviventes pelas ruas de Sevilha e na audiência com os reis católicos, evento levado a cabo em Barcelona no dia 3 de abril de 1493. As aves teriam sido muito celebradas por seu belo colorido, pois enquanto algumas eram de um verde brilhante, outras possuíam uma plumagem vermelha ou amarela pintalgada, sendo assaz diferentes daquelas usualmente vistas na corte espanhola.10 Passadas pouco mais de três décadas, o número de psitácidas procedentes da América havia crescido tanto que, em 1526, o cronista Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés se recusaria a incluí-los em sua “Natural Historia de las Indias” por serem demasiado comuns, não valendo a pena perder tempo falando neles.11 A julgar pelos comentários do médico Nicolás Monardes, nos idos de 1565 chegariam anualmente mais de cem naus carregadas de papagaios, macacos, felinos, aves de rapina e outros produtos do Novo Mundo.12
Entre as novidades do além-mar trazidas por Pedro Álvares Cabral no retorno de sua aziaga viagem à Índia (1500-1501), nenhuma atrairia tanto a atenção dos europeus quanto duas araras-vermelhas obtidas em terras brasileiras. Descritas entusiasticamente pelo cronista Pero Vaz de Caminha como “papagaios vermelhos muito grandes e formosos”, essas aves seriam consideradas dignas de particular admiração por todos os observadores da época, inclusive os diferentes missivistas italianos prontos a dar notícia sobre as navegações ibéricas aos seus conterrâneos. Esse seria o caso de Giovanni Matteo Camerini, chamado “Il Cretico”, o erudito secretário de Domenico Pisani di Giovanni, embaixador de Veneza na Espanha e Portugal. Em carta datada de 27 de junho de 1501, “Il Cretico” prestaria informações ao doge Agostino Barbarigo e empregaria pela primeira vez a expressão “Terra dos Papagaios” (“Terra de li Papaga”) para referir-se ao Brasil, termo que seria consagrado após ganhar as páginas do “Paesi Novamente Retrovati” de Fracanzano da Montalboddo (1507), um dos mais prestigiosos “livros de viagens” do século XVI.13 Em 1504, a enigmática expedição de Gonçalo Coelho teria voltado à Lisboa com uma carga de pau-brasil, macacos e papagaios, enquanto a famosa “nau Bretoa” transportaria 72 animais - inclusive 15 papagaios e 22 periquitos - em 1511.14 Nesse sentido, também vale lembrar o episódio da “Pélerine”, talvez o caso de contrabando mais famoso do Brasil colônia. Capturada por um navio português em setembro de 1531, essa embarcação francesa estava levando para a Europa nada menos de 3000 peles de “leopardos” e de outros animais, 300 macacos e 600 papagaios falantes do francês, cada qual estimado em seis ducados, quantia nada desprezível na época.14 De fato, os animais exóticos eram um produto de luxo, já que um único periquito ou papagaio chegava a valer 226 reais na Lisboa manuelina, total equivalente a cerca de 28% do soldo de um soldado raso, 37% do soldo médio de um pedreiro e mais de 80% do soldo de um trabalhador não qualificado.16
Os papagaios como pragas
Analisado por diversos autores, o inegável encanto despertado pelos papagaios17 constitui um fato bem conhecido que dispensa maiores comentários.18 No entanto, essas aves por vezes inspirariam muito pouca simpatia, um aspecto amiúde esquecido da contraditória relação mantida entre os colonizadores e a fauna do Novo Mundo. Com efeito, desde o período pré-colombiano os psitácidas eram capazes de produzir autênticas razias em plantações, as quais se viam atacadas por contingentes maciços de aves famintas. A julgar pelas cenas retratadas na cerâmica, ourivesaria e outros objetos do cotidiano (Figuras 3 e 4), os milharais eram particularmente visados e necessitavam ser protegidos, fato registrado já em 1558 por Gerónimo de Bibar, um dos companheiros de Pedro de Valdivia na conquista do Chile.19 Cem anos mais tarde, a “Historia general de el Reyno do Chile” do jesuíta Diego de Rosales forneceria maiores detalhes ao destacar que os papagaios - provavelmente Cyanoliseus patagonus (Vieillot, 1818) - em pouco tempo arrasavam as plantações de trigo, milho, cevada e outros cereais, chegando mesmo a desenterrar as sementes recém-plantadas, conseguindo escapar às pedradas dos rapazes postos a combatê-los pelo aviso de sentinelas pousadas em árvores próximas (Figura 5).20



Vários outros cronistas da América Espanhola fariam observações detalhadas sobre esse tema, caso dos jesuítas oitocentistas envolvidos com as reduções da Bacia do Rio da Prata. Nesse sentido, Sanchez Labrador afirma serem os papagaios do Paraguai numerosos o suficiente para causarem muitas fadigas e problemas, pois seu “olfato agudíssimo e visão muito perspicaz” logo faziam-nos perceber os milharais, que eram prontamente assaltados e destruídos caso falhasse a vigilância dos responsáveis. De manhã cedo ou ao final da tarde, os psitácidas chegavam em bandos muito grandes e pousavam às centenas nos pés de milho, pouco importando os gritos, pedradas e mesmo tiros disparados pelos lavradores. Também atacavam os pomares, sendo apreciadores de laranjas e limões.21
Na “Historia de la conquista de las provincias del Paraguay, Río de la Plata y Tucumán”, o padre Pedro Lozano faria um relato semelhante ao destacar os enormes esquadrões de voracíssimos papagaios capazes de aniquilar os campos de cultivo com notável rapidez,22 enquanto seu confrade Florián Paucke acrescenta serem as plantações de milho atacadas todos os anos por uma “peste de papagaios” que não respeitava sequer uma única espiga e tornava-se demasiado prejudicial pelo fato de os invasores danificarem mais do que podiam comer, deixando o solo coberto de grãos mordidos e roídos. Além de dar tiros de fuzil e empregar muitos vigias armados com arcos para espantá-las, Paucke promovia incursões em bosques vizinhos para queimar os ninhos que essas pragas construíam nos ramos das árvores, descrição indicativa da caturrita, Myiopsitta monachus (Boddaert, 1783), como uma das espécies responsáveis por esses saques periódicos (Figura 6).23

Exceto pelas formigas,24 nenhum outro animal foi tantas vezes mencionado como praga pelos documentos do Brasil colônia quanto os Psittacidae. Formando bandos impressionantes capazes de escurecer os céus, essas aves eram - nas palavras do jesuíta quinhentista Fernão Cardim - “infinitas, mais que gralhas, zorzais, estorninhos, nem pardais da Espanha e [...] destroem as milharadas; sempre andam em bandos e são tantos que há ilhas onde não existem mais que papagaios”.25 Mesmo que facilitasse o crescente tráfico de espécies exóticas, semelhante abundância constituía séria ameaça para a agricultura, havendo referências particularmente constantes a prejuízos em plantações de milho. Em sua famosa “Epistola quam plurimarum rerum naturalium quae S. Vicenti (nunc St. Pauli) provinciam incolunt”, datada de 31 de maio de 1560, o padre Joseph de Anchieta mencionaria serem
os papagaios mais comuns aqui do que os corvos e de diferentes espécies, todos bons para se comer; alguns deles produzem prisão de ventre; outros imitam a voz humana; outros há que, comendo o milho quando está granado, fazem de maneira que, quando descem para comer, fique sempre um ou dois no alto de uma árvore como vigia, espiando o lugar por todos os lados; em vendo alguém aproximar-se, tocam rebate e fogem todos; mas se não houver perigo algum, quando os outros fartos sobem, descem os vigias por sua vez para comer.26
Malgrado não dedique maior atenção ao tema, Gabriel Soares de Sousa faria comentários semelhantes envolvendo tanto papagaios quanto periquitos por volta de 1587.27
O mesmo pode ser observado em relatos da primeira metade do século XVII, pois a “História dos animais e árvores do Maranhão” faz clara alusão aos estragos promovidos pelos maracanãs - Primolius maracana (Vieillot, 1816) - nas searas de milho (Figura 7).28 Mais significativos, todavia, são os trechos do “Diálogo das grandezas do Brasil” dedicados às “jandaias” - quiçá Aratinga aurea (Gmelin, 1788) -, ali descritas como “pássaros do sertão” que vinham para o litoral a fim de se aproveitarem da safra do milho, pois eram pertinazes ao ponto de não serem afugentadas por gritos ou pelo estrondo do bater de bacias, resistindo aos lavradores até mesmo quando algumas eram mortas a pancadas.29

Denúncias a esse respeito prosseguiriam com poucas variações ao longo do século XVIII, tendo atraído a atenção de personagens importantes da administração colonial. Com efeito, no segundo semestre de 1788, o tenente-general José Arouche de Toledo Rendon ressaltava os problemas criados pelos papagaios na Capitania de São Paulo:
Os passaros de bico redondo que são as araras, papagaios, maitacas, maracanans, araguarys, tiribas e periquitos30 etc. ao mesmo tempo em que o milho está maduro não se sustentam de outra coisa. Todos vêem com os seus olhos o estrago que o público padece por causa dessas aves. Sucede, às vezes, que se o lavrador não é diligente, não chega a colher a roça, porque eles a comem toda, o que sucede ordinariamente aos que plantam tarde porque então toda a multidão concorre para essas roças; mas pode-se dizer que, em regra, estas aves comem a quarta parte das roças e isto faz um prejuizo de muitos mil alqueires. Deve-se por todo o cuidado em extinguir uns passaros que comem a quarta parte do pão de uma capitania inteira. Em muitos lugares de Portugal consta que os lavradores são obrigados a trazer anualmente certo número de cabeças de pardais ao Conselho debaixo de certas penas: entretanto, aquelas avezinhas não fazem a decima parte do dano que faz um papagaio ou uma maitáca. Por isso, será de grande utilidade que os corregedores deixem provimentos em cada uma das camaras para que os lavradores dêm certo número de bicos. Isto já lembrou louvadamente a Camara de Parnaíba, mas esta só nada pode fazer e é preciso que a perseguição seja em toda a parte [...] As colheitas duram noventa dias; uma ave desta come diariamente uma espiga e 500 [...] comeriam 45000 espigas, que são 180 alqueires.31
Na tentativa de evitar perdas capazes de comprometer a sobrevivência de todo um núcleo urbano, as autoridades do Brasil colônia terminariam por instituir medidas arbitrárias e impopulares voltadas para o controle das pragas da agricultura. Em torno de 1798, um decreto da Câmara da cidade de Fortaleza, na época com cerca de 10.000 habitantes, obrigava os lavradores, sob severa pena de prisão, a “fazerem o plantio de cereaes” e apresentarem, todos os anos, “trinta cabeças de papagaios, maracanãs e periquitos”.32 Tais providências, entretanto, não estavam restritas aos psitácidas, pois 4.000 réis de multa teriam sido cobrados, nos idos de 1811, a pessoas que - contrariando as determinações da Câmara de São Paulo - não haviam apresentado as cabeças de “viras e ticos” como exigido por lei. A 4 de novembro de 1820, um novo edital referente às freguesias da cidade de São Paulo determinava a cada lavrador chefe de família apresentar, em todo o corrente mês de dezembro, 24 cabeças de “viras” sob pena de ter de pagar uma multa de 1.200 réis pela contravenção.33 Instrumentos desse tipo parecem ter sido bastante comuns em boa parte do Novo Mundo desde o século XVII, conforme atesta o “Act for the incouragement of Killing and Destroying Beasts of Prey and Birds” implantado na Carolina do Sul, Estados Unidos, em 1o de março de 1790.34
Os papagaios demoníacos
Embora tenha sido registrada em outras aves como os mainás (Sturnidae) e os corvos, pegas e gaios (Corvidae), a capacidade de imitar a nossa fala acabaria por constituir um elemento determinante no fascínio exercido pelos papagaios, muitas vezes assumindo contornos dos mais surpreendentes. Em certo sentido, os autores clássicos não estavam de todo equivocados ao associar semelhante habilidade ao fato de os Psittacidae possuírem uma língua carnosa amiúde descrita como “humana”,35 pois uma pesquisa recente ressalta o papel central desempenhado por esse órgão em todo o processo,36 levando a imitações acuradas o suficiente para replicar a exata entonação de uma dada pessoa - algo digno de nota se considerarmos que esta era a maneira mais usual de alguém ouvir a reprodução de sua própria voz antes da invenção dos primeiros fonógrafos no final do século XIX.37 A faculdade de emular a linguagem propriamente dita e outros sons - gargalhadas, soluços, gritos, vozes de animais e numerosos ruídos mecânicos - varia sobremaneira tanto de espécie para espécie quanto entre indivíduos da mesma espécie. Apesar de diferentes psitácidas mostrarem-se aptos a realizar proezas dignas de nota, o papagaio-do-congo, Psittacus erithacus Linnaeus, 1758, e certos papagaios do Novo Mundo pertencentes ao gênero Amazona parecem ser os representantes mais loquazes, seguidos pelo periquito-australiano, Melopsittacus undulatus (Shaw, 1805), e os já mencionados periquitos-de-coleira, Psittacula sp.38
O desempenho de alguns exemplares desperta a atenção tanto pelo extenso vocabulário como pela aparente coerência da fala, a qual pode se mostrar bastante articulada, conferindo a impressão de uma sagacidade e eloquência inacreditáveis em termos de um simples bípede emplumado. Com efeito, na década de 1980, a dupla campeã de diversas competições internacionais de aves faladoras - um papagaio-do-congo chamado “Jeacot” e um papagaio-verdadeiro, Amazona aestiva (Linnaeus, 1758), batizado de “Iteau” - possuía um léxico composto por mais de 500 palavras - portanto equivalente ao de uma criança de 2 anos - e atendia a comandos do tipo: “Jeacot, mande Iteau imitar um gato”, ao que Jeacot ordenava “imite um gato” e Iteau respondia “miau, miau, miau”.39 Há poucas décadas, os experimentos levados a cabo com Alex - outro papagaio-do-congo - terminariam por alcançar grande notoriedade, pois ele tanto dominava um vocabulário de 100 palavras como era capaz de distinguir mais de 100 objetos pelo formato, colorido e material, algo não igualado por nenhuma outra espécie viva de ave ou mamífero, tendo uma capacidade intelectual comparável à de uma criança de 4 a 5 anos. Apesar de críticas posteriores sugerirem tratar-se de um sofisticado caso de condicionamento, sem dúvida alguma as atuações de Alex eram marcantes o suficiente para convencer qualquer leigo de estar diante de um organismo inteligente provido de algum tipo de consciência.40
No medievo, pensava-se que os papagaios tinham nascido no paraíso terrestre e habitavam o monte Gilboa das escrituras, portanto vivendo nas regiões secas do Oriente por temerem que a chuva arruinasse sua colorida plumagem. Esse conceito de uma ave extremamente “pura” e “limpa” seria logo associado à imagem de Cristo e Nossa Senhora, ambos não maculados pelo pecado original (Figura 8). Por sua capacidade de reproduzir a voz humana, os psitácidas também acabariam simbolizando a Anunciação, pois havia a crença de sua fala mais típica ser “ave” (“salve” em latim) - a mesma palavra usada pelo Arcanjo Gabriel para saudar a Virgem. Além disso, o termo em questão também constitui um sugestivo palíndromo de “Eva”, algo evocativo da imagem de Maria como uma nova “mãe” da humanidade.41 Embora persistisse nas artes plásticas ao longo do século XVI, a visão de uma entidade sapiente e íntima de sacrossantos mistérios declinaria no final da Idade Média e terminaria por apagar-se no Renascimento. Das polêmicas da Reforma surgiria um outro papagaio que estava relacionado com a América e nada tinha de venerável, não passando de um exótico xerimbabo de luxo ou de um mero bufão malicioso e desprovido de inteligência, capaz de repetir apenas termos de baixo calão, frases soltas e palavras sem nexo - o dito “papaguear”.42

Esse novo conceito, entretanto, muitas vezes não bastava para calar as inquietudes despertadas pela existência de papagaios bem-falantes. Ao menos em parte, essa atitude reafirmava o caráter francamente utilitário das relações mantidas entre o Ocidente cristão e o chamado “mundo natural”, algo que reduzia a diversidade zoológica a alimento, matéria-prima, inimigos a combater ou bestas subservientes destinadas a executar algum tipo de tarefa. Por vezes interpretado como uma manifestação de soberba43 ou de reprovável curiosidade,44 qualquer vínculo mais íntimo com os animais também podia despertar suspeitas de práticas animistas ou de pactos demoníacos, sobretudo quando envolvia espécies selvagens ou “pouco usuais”. Tolerada em termos da aristocracia e de uma burguesia cada vez mais rica, tal proximidade despertava reações menos lenientes quando praticada pelas classes mais baixas, caso das mulheres acusadas de bruxaria por possuírem bichos de estimação como corvos, lebres e gatos, os quais eram muitas vezes tratados como “familiares” (Figura 9). Presentes durante a “caça às bruxas” - que teve seu apogeu entre 1560 e 1675 -, crenças desse tipo iriam decair no século XVIII, apesar de não terem desaparecido por completo.45 Além dos demônios, as próprias feiticeiras poderiam transmutar-se em lobos, lebres, cães, gatos, corvos, corujas etc., assumindo a forma de morcegos e até mesmo de mariposas quando invadiam as casas em busca do sangue de recém-nascidos. No último quartel do século XVII, Alexandre de Gusmão advertia os pais sobre as bruxas usarem o artifício de se aproximarem das crianças na figura de “gatos, cachorros e outros animais domésticos”, motivo pelo qual era necessária “muita vigilância” nos dias anteriores ao batismo.46

Acreditava-se que o diabo era capaz de possuir diferentes animais - senão todos - e manejá-los ao seu talante, fato consagrado na Bíblia pelo conhecido episódio dos porcos de Gadara descrito nos evangelhos de Mateus (8: 28-34), Marcos (5: 1-20) e Lucas (8: 26-39). Gatos, morcegos, corvos, corujas e sapos não passavam de aliados de Satanás, enquanto ratos, serpentes, caracóis e insetos eram vistos como seres das trevas passíveis de serem combatidos através de variados tipos de exorcismo.47 Trata-se de um costume bastante tradicional, pois os antigos camponeses gregos tentavam expulsar os roedores dos campos de cultivo pondo nas pedras uma mensagem escrita, a qual principiava com um esconjuro e terminava com uma ameaça. Um desses textos foi registrado na “Geoponica” - o famoso livro sobre agricultura concluído por volta de 950 A.D. e dedicado ao imperador bizantino Constantino VII Porphyrogenitus.48 De certa forma, tais eventos recordam as práticas dos nossos “benzedores de cobras” tidos como capazes de “limpar” os pastos de serpentes à custa de rezas e adjurações.49
Os bichos endemoninhados logo apareceriam nas terras descobertas do outro lado do oceano, em parte graças à dificuldade dos europeus em entender a cosmologia dos povos do Novo Mundo. Além de entidades que tinham ou podiam assumir a forma de animais, diversos grupos indígenas também acreditavam na transmigração das almas dos mortos e do espírito dos xamãs para o corpo dos mais diferentes representantes da fauna local, universo de relações muito complexas prontamente reduzido a simples “manifestações diabólicas”. À guisa de exemplo, vale lembrar o texto da “Crónica del Perú” (1553), na qual Pedro Cieza de León menciona a aparição do diabo na forma de uma “onça feroz”, Panthera onca (Linnaeus, 1758), e de um “horrendo urubu”, Cathartes aura (Linnaeus, 1758), com a “saliva podre e hedionda”,50 enquanto a obra do capuchinho Yves de Evreux sobre o Maranhão (1615) trata de morcegos e “pequenas aves negras” - os já mencionados “familiares” - que transmitiam suas orientações e conselhos aos pajés “com voz humana, falando em tupinambá”.51 Por conseguinte, haveria uma razoável variedade de “animais demoníacos”, elenco composto por mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, insetos, aracnídeos e até mesmo “vermes”.52 Ao contrário do que pretendem certos autores,53 as corujas e outras aves noturnas eram particularmente temidas e despertavam pavor por suas vocalizações, enquanto a alma dos mortos encarnaria sobretudo nos papagaios, araras e afins, pois os psitácidas mostrar-se-iam “mais próximos ao homem” devido à sua capacidade de falar.
Com efeito, o caso dos papagaios seria agravado pela tradição cristã de só existirem três classes de seres - anjos, homens e demônios - dotados do dom da palavra. Não deve causar surpresa, portanto, que exemplares demasiado loquazes despertassem a séria desconfiança de terem - literalmente - o diabo no corpo, sendo encarados como animais demoníacos ou possuídos. No entanto, a existência de aves com essa habilidade por vezes encontrava justificativa em algo diferente, conforme evidencia a célebre “Navegações de São Brandão”, um amálgama de lendas célticas e cristãs do século X. No capítulo referente ao “Paraíso das Aves”, São Brandão relata ter chegado a uma ilha povoada de pássaros falantes - na verdade anjos caídos punidos com o castigo menor de serem transformados em aves por não se haverem entregado por completo a Lúcifer.54 Tampouco inspira temor a jocosa história do papagaio muito tagarela oferecido a Carlos V de Espanha por Dom João III de Portugal, o qual mantinha o silêncio por não entender o que lhe perguntavam os castelhanos.55 Ainda mais generosa é a fábula relatada pelo monge cisterciense Cesarius de Heisterbach sobre um papagaio que, arrebatado pelas garras de um gavião, evocou seu santo protetor: “Sancte Thoma, adjuva me!” (“Valei-me meu São Tomás!”) e foi milagrosamente resgatado.56 Talvez seja essa a origem do curioso comentário de Alexandre de Gusmão acerca de um piedoso papagaio salvo das “unhas de um gavião” por repetir a Ave Maria.57
A ideia de os psitácidas falarem em virtude de uma possessão demoníaca parece remontar pelo menos ao segundo quartel do século XVI, mais ou menos coincidindo com os primeiros momentos da Reforma, pois Martinho Lutero acreditava estar “o diabo nos papagaios e macacos, sendo esse o motivo pelo qual eles podem imitar as pessoas”.58 Em 1590, Henry Boguet voltaria a abordar essa questão em seu “Discours des Sorciers”,59 enquanto Increase Mather, já na penúltima década do século XVII, divulgaria a história de um papa não especificado que mandou matar seu papagaio por haver recebido uma resposta demasiadamente elaborada a sua pergunta - clara demonstração da presença do maligno60 - mesmo argumento levantado oitenta anos depois pelo frei Andrés Ferrer de Valdecebro para justificar a crença generalizada em papagaios endemoninhados.61 Como os mais supersticiosos ainda fariam o sinal da cruz na presença de aves muito linguarudas na segunda metade do século XVIII,62 não chega a causar surpresa que, no ano de 1792, um papagaio e um macaco tenham sido processados por heresia e mortos na fogueira em Miranda del Ebro, Espanha.63 Desconfianças desse tipo cedo ultrapassariam as fronteiras da Europa, pois já nos idos de 1621 circulavam notícias vindas da “Abissínia”, atual Etiópia, sobre um papagaio talentoso o bastante para ser levado a juízo sob suspeita de feitiçaria ou possessão por espíritos malignos - e absolvido das acusações.64
Conforme seria de esperar, os papagaios demoníacos logo seriam assinalados no Novo Mundo. Entre 1554 e 1555, relata o “inca” Garcilazo de la Vega, havia um papagaio em Potosí capaz de declinar a nação e a província de todos os transeuntes, desmascarando até mesmo a tentativa feita por uma bela índia de passar-se por alguém de sangue real, sendo acusado de diabólico por tal perspicácia.65 Por volta de 1681, Satã apareceria para o dominicano Juan Meléndez como uma arara,66 a encarnação preferida do demônio em terras americanas segundo o jesuíta Andrés de Zárate.67 No final do século XVIII, o frei Juan de Santa Gertudris lembraria ter encontrado em Santa Rosa, atual Honda, Colômbia, um papagaio tão habilidoso que um dos seus confrades, irritado com seus impagáveis arremedos, terminaria por acusá-lo de estar possesso.68
No Brasil, os supostos animais demoníacos marcariam presença já em meados do século XVI, a julgar por dois episódios envolvendo o padre Joseph de Anchieta. No primeiro deles, datado de 25 de julho de 1567, os jesuítas Inácio de Azevedo, Manoel da Nóbrega, Luis da Grã e Anchieta foram impedidos de rezar missa em Bertioga por uma maléfica baleia que atacou o batel no qual iam para a praia ao ponto de quase despedaçá-lo, até sua fúria ser milagrosamente contida pela mão de Deus e o animal afastar-se mansamente.69 Vinte anos mais tarde, em plena Baía de Guanabara, Anchieta iria conjurar um grupo de cetáceos ameaçadores surgidos em torno de sua canoa.70 Por outro lado, tampouco faltavam psitácidas assaz loquazes, como exemplifica o divertido relato de Jean de Léry sobre um papagaio maravilhoso que “parecia entender sua dona”. Em troca de um pente ou espelho, ela fazia seu xerimbabo saltar, assoviar e emitir o brado de guerra da tribo, pois ao receber a ordem de dançar ele dançava e de cantar ele cantava. Com fina ironia, a proprietária admitiu ceder essa ave tão espetacular apenas por uma peça de artilharia, ou seja, algo completamente fora de questão.71
O caso mais notável, contudo, teria ocorrido no nordeste do Brasil durante o período do domínio holandês, tendo como protagonista o próprio conde Johan Maurits van Nassau-Siegen. Transpondo nossas fronteiras, a inusitada habilidade dessa “ave demoníaca” em formular perguntas e dar respostas “tão acertadas como se fosse uma criatura racional” acabaria por se converter em uma história célebre na Europa seiscentista, tendo sido mencionada inclusive no “Essay concerning Humane Understanding” de John (Locke, 1690). Na verdade, o célebre filósofo inglês apenas reproduziria o trecho das “Memoirs” de William Temple (1689),72 o qual se refere a um diálogo mantido com Johan Maurits van Nassau-Siegen, nos seguintes termos:
Eu desejava saber do próprio príncipe Maurits van Nassau o que havia de verdadeiro em uma história que várias vezes haviam contado acerca de um papagaio que o príncipe possuiu durante seu governo do Brasil. Dizia-se que esse papagaio interrogava e dava respostas tão acertadas como se fora uma criatura racional, pelo que se acreditava, na casa do príncipe, que o tal papagaio andava possesso. Acrescentava-se que um dos capelães do príncipe tomara tamanha aversão aos papagaios, por causa daquele, que não podia suportá-los, dizendo que eles tinham o diabo no corpo. Ouvi referir todas essas circunstâncias e muitas outras que me asseguravam serem verdadeiras, e isto me levou a rogar ao príncipe que me dissesse o que de verdadeiro havia em tudo isso. Respondeu-me ele com sua costumeira franqueza e em poucas palavras que havia alguma coisa de real, mas que a maior parte do que me haviam contado era falso. E então contou-me que, quando chegou ao Brasil, ouviu falar nesse papagaio e, conquanto supusesse que nada de real havia na história, teve a curiosidade de o mandar vir, apesar de achar-se o papagaio muito longe do lugar onde o príncipe residia. O pássaro era muito velho e muito gordo. Quando entrou na sala, onde se achava o príncipe acompanhado de vários holandeses, e mal os viu, foi dizendo “que reunião de homens brancos é essa?” Alguém lhe mostrou o príncipe, perguntando “quem ele era?” O papagaio respondeu que “era um general”. Aproximaram-no do príncipe e este lhe perguntou: “de onde vens?”. O papagaio: “do Maranhão”. O príncipe: “a quem pertences?”. O papagaio: “a um português”. O príncipe: “o que fazias lá?”. O papagaio: “guardo galinhas”. O príncipe - rindo-se: “guardas galinhas?”. O papagaio: “sim, eu bem sei fazer chuc chuc ...”, como se costuma fazer quando se chamam as galinhas, o que o papagaio repetiu várias vezes. Repito as palavras desse interessante diálogo em francês, como o príncipe m’as transmitiu. Perguntando-lhe eu em que língua falava o papagaio, disse-me que em “brasiliense”. Perguntei-lhe também se ele entendia essa língua, respondeu-me que não, mas que teve o cuidado de fazer vir dois intérpretes, um brasileiro que falava holandês e outro holandês que falava “brasiliense”,73 que os interrogara em separado e que ambos reproduziram as mesmas frases. Não omiti essa história, porque ela é extremamente singular e curiosa, e pode passar por certa. Ouso dizer que pelo menos o príncipe acreditava no que me dizia e que ele sempre passou por um homem de bem e de honra. Deixo aos naturalistas o cuidado de raciocinar sobre esse caso, e aos outros homens a liberdade de pensar a tal respeito o que bem lhes aprouver. Seja como for, não é talvez de mau gosto distrair o público com tais digressões, venham ou não a propósito.74
Vale destacar existir uma pintura desse papagaio - um exemplar de Amazona aestiva - nos chamados “Libri Principis”, ilustração esta acompanhada de uma nota do punho do próprio Nassau dizendo: “Este é o papagaio que tão habilmente responde e formula perguntas que muitas centenas de pessoas que o ouviram nada mais puderam concluir senão que era o demônio que falava através dele. Comigo não viveu mais de 14 dias. Quando morreu, estava tão duro quanto um pedaço de pau” (Figura 10).75

Uma versão dessa história ainda circula em Pernambuco graças à cultura oral, pois os moradores de Goiana contam que - no tempo dos holandeses - alguns habitantes teriam ensinado o hino batavo a um papagaio. Como o desempenho dessa ave era dos mais impressionantes, decidiram mandá-lo como presente ao “rei da Holanda”. Sua Majestade, porém, nunca tinha visto semelhante criatura e cortou-lhe a cabeça logo no começo da cantoria, pois um animal falante só podia ser algo demoníaco.76
No Brasil, os relatos sobre os papagaios possessos sobreviveriam pelo menos até o penúltimo quartel do século XVIII, conforme demonstra o “Tesouro descoberto no rio Amazonas”, obra do jesuíta João Daniel escrita entre 1757 e 1776. O texto distingue quatro espécies de papagaio que
aprendem bem a falar, como já disse, ainda que umas com maior facilidade que outras: têm a língua bem expedita e enquanto são pequenos aprendem quanto ouvem, e por isso costumam tirá-los do ninho e criá-los em casa para os ensinar na menor idade; porque papagaio velho já não toma língua, digo aprende língua. Pelo que com muita propriedade são reputados por símbolo dos pecadores, que vivendo sempre nos seus vícios, guardam para a velhice as lições de bom católico, e os bons preparos para a morte, sem temerem que lhes suceda o mesmo que aos papagaios velhos, que só são bons para o espeto, e é bem gostosa sua carne. Porém, enquanto são pequenos, não só aprendem bem a falar, e cantar, mas também a rir e a chorar; e a arremedar aos animais, e tanto as vezes falam que se fazem suspeitos de que nele fala o diabo; porque são tão aporité ou a ponto, e congruentes as suas respostas, que parecem exceder o seu instinto, por mais que alguns queiram meter nos cascos dos outros que eles, e outros animais tem juízo, e verdadeiro discurso mais ou menos expedito. Em uma missão se criou, e estava um, que respondia ad rem em tudo o que se lhe perguntava, como se tivesse juízo. Vinha algum hóspede a casa, respondia o papagaio, o dono está ocupado, ou, não está em casa, ou, está dormindo etc. Ausentava-se algumas vezes de casa, e depois de alguns dias tornava acompanhado de outros bravos, e perguntando-lhe, aonde foste papagaio? Fui buscar a estes meus parentes repunha. Além desta, dava outras respostas tão galantes, e a propósito, que o mesmo dono desconfiava dele e o queria matar; mas o bom do papagaio, como se advertisse, se retirava e andava tão precatado que já não queria vir à mão ou dar o pé, como costumam [...] Em outra Missão havia outro que também adivinhava e predisse algumas coisas bem contingentes, como vendo vir algum em alguma embarcação, dizia da cumeeira o papagaio - Lá vem um branco - outras vezes dizia - traz papel -, isto é carta da cidade, e cousas semelhantes. Verdade seja que este segundo podia dizer isto materialmente maxime por ouvir aos rapazes, e índios, que assim costumavam falar quando chega, ou vem vir alguma canoa, ou branco, mas o primeiro e outros semelhantes dão grande suspeita de que eles não falam sós.76
Discussão
Passado o período colonial, os Psittacidae continuariam a representar um problema para a agricultura, algo observado em várias partes do Novo Mundo segundo o testemunho de naturalistas como Charles Darwin.78 No caso da América do Norte, tal realidade muito contribuiria para a extinção do periquito-da-carolina, Conuropsis carolinensis (Linnaeus, 1758), único representante do grupo nativo dos Estados Unidos (Figura 11). Nas palavras do ornitólogo John James Audubon, essa espécie consumia ou destruía qualquer tipo de fruta indiscriminadamente, sendo um visitante sempre indesejável capaz de cobrir os campos com um tapete colorido e devastar duas vezes mais grãos que os necessários para satisfazer seu apetite. Abriam maçãs e peras em busca de sementes e desprezavam aquelas muito verdes, logo passando para a seguinte até deixar a árvore nua. Eram mortos em quantidade, de oito a vinte a cada descarga de arma de fogo, mas os sobreviventes voltavam até estarem reduzidos ao ponto de não compensar o gasto de mais munição, pois várias centenas de exemplares podiam ser abatidos em poucas horas.79 Ocorrendo desde a Nova Inglaterra e Wisconsin até o Tennessee, Kentucky e Golfo do México, o periquito-da-carolina parece ter sofrido um rápido declínio, pois já se encontrava restrito à Flórida no final do século XIX. O último registro na natureza data de 1904 e o derradeiro exemplar em cativeiro sobreviveria até fevereiro de 1918 no jardim Zoológico de Cincinatti.80 Nesse mesmo período, tampouco faltariam notícias no Brasil sobre ataques a pomares, plantações de arroz e milharais efetuados por papagaios, tiribas, tuins, jandaias, maracanãs, periquitos e pelas onipresentes caturritas, as quais constituíam ameaça suficiente para instigar o governo do Rio Grande do Sul - pelo menos até 1920 - a adquirir cada bico de Psittacidae apresentado por uma pequena quantia.81 Iniciativas do gênero continuariam sendo aplicadas para o controle de outras espécies consideradas daninhas, caso dos biguás, Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789), que quase levariam à falência o importante comércio de bagres salgados estabelecido na cidade de Laguna, litoral de Santa Catarina, no primeiro quartel do século XX.82

Apesar de todas as evidências históricas, existe uma tendência recente de considerar as notícias sobre as devastações promovidas pelos psitácidas como um exagero dos fazendeiros prejudicados, opinião que busca atenuar a ameaça representada por essas aves para o cultivo de cereais e frutas em diferentes partes do mundo. Todavia, certas pesquisas parecem mostrar justo o contrário, revelando haver lavradores com uma ideia bastante exata dos prejuízos causados.83 De qualquer forma, os papagaios, jandaias e afins ocupam uma posição de destaque entre os vertebrados citados como praga no continente americano, sendo superados apenas pelos roedores de pequeno porte em pelo menos 16 países (México, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Haiti, Trinidad, Colômbia, Venezuela, Suriname, Equador, Peru, Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina). A menção de algumas espécies é recorrente e as campanhas de combate, como seria de esperar, mostrar-se-iam capazes de contribuir de forma significativa para reduzir os contingentes de determinados representantes, tendo ajudado a promover a virtual extinção do maracanã, Primolius maracana, na Argentina e o patente declínio do papagaio-barranqueiro, Cyanoliseus patagonus, no Chile.84 No Rio Grande do Sul, o papagaio-charão, Amazona pretrei (Temminck, 1830), teve sua população estimada em 16.900 indivíduos no ano de 2001, mas já foi numeroso ao ponto de compor bandos de várias centenas ou mesmo de mil exemplares no final do século XIX, chegando a integrar a lista de aves prejudiciais para a agricultura local em 1979.85
Os pequenos fazendeiros da Reserva Nacional Pacaya-samiria, Peru, encaram duas maitacas, Aratinga leucophthalma e Aratinga weddellii, e o maracanã-guaçu, Ara severa, como os maiores inimigos dos milharais, acumulando perdas médias de 11,63% ou 30,16% conforme se leve em conta apenas o milho comido ou o total de espigas danificadas. Além de abater a tiros ou envenenar um número não determinado de exemplares, os habitantes da região empregariam redes de pesca para defender as plantações, chegando a capturar nada menos de 2.031 aves em um único ano, contingente formado por 933 Aratinga weddelli, 832 Aratinga leucophthalma e 266 Ara severa.86 Já os lavradores amazonenses da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã consideram o papa-cacau, Amazona festiva (Linnaeus, 1758), como a maior ameaça para a agricultura tradicional, apesar de outros psitácidas também causarem depredações. Seriam afetados o açaí, a banana, a bacaba e sobretudo a pupunha, pois 71,9% dos plantadores dessa palmeira tiveram a produção reduzida em 50% ou mais, prejuízo que levaria ao abate de 357 papa-cacaus, 96 curicas e 16 araras no período de um ano.87 Muito embora a pequena agricultura familiar com baixa tecnologia agregada e as plantações situadas nas fronteiras agrícolas pareçam ser realmente mais vulneráveis aos ataques, cumpre lembrar que há espécies de Psittacidae com capacidade de assolar grandes cultivos, caso bem exemplificado pela caturrita, Myiopsitta monachus. No sul do Brasil, Uruguai e Argentina, essa ave é considerada a pior das pragas agrícolas, pois ocasiona estragos consideráveis na produção de cítricos e de grãos, em particular o milho e o girassol, diminuindo o rendimento esperado em até 45%.88
De fácil adaptação, a caturrita também ocasiona problemas em linhas elétricas ao construir seus maciços ninhos de gravetos nas torres de transmissão, além de estar cada vez mais presente em áreas urbanas. A mesma plasticidade pode ser observada em outros representantes, como a ararinha, Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758), o periquito-verde, Brotogeris tirica, e a araguaí, Aratinga leucophthalma, os quais vêm colonizando com sucesso várias cidades, tornando-se muito comuns até mesmo em metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Além de devastarem pomares suburbanos, tais psitácidas não só destroem o madeiramento das casas como roem cabos elétricos e de telefone, provocando curtos-circuitos e interrupções capazes de durar horas a fio em diversas localidades de São Paulo e Minas Gerais.89
A exemplo do caso anterior, tampouco os “papagaios demoníacos” desapareceram do mundo contemporâneo, tendo marcado seu retorno após décadas de aparente silêncio. Mesmo considerando o fundamentalismo religioso tão presente nos dias de hoje, afigura-se bastante insólito o fato de psitácidas muito loquazes, agressivos ou com comportamento fora do usual serem encarados como exemplos de metempsicose ou possessão, chegando mesmo a atrair exorcismos.90 Trata-se, contudo, de uma posição assaz minoritária, pois a esmagadora maioria continua a ver com bons olhos os papagaios e afins como bichos engraçados e maliciosamente espertos, valorizando bastante sua faculdade de imitar a voz humana. Mesmo na época colonial, as múltiplas estratégias utilizadas para ensinar os papagaios a falar não parecem ter sido objeto de suspeita, enquanto na atualidade existem várias publicações dedicadas ao ensino das diferentes práticas utilizadas para esse fim.91 Por vezes, treinar papagaios se transformaria em uma profissão, conforme evidencia o delicioso anúncio de uma respeitável viúva publicado no jornal inglês “The Spectator” a 11 de abril de 1711. Abalada pelos azares da fortuna, essa senhora dispunha-se a ensinar todas as espécies de aves faladoras, como papagaios, estorninhos e pegas, a imitar a voz humana com grande perfeição, levando-as não só a pronunciar as palavras com a tonalidade e acento apropriados, mas a usar todas as frases e cumprimentos elegantes usados nos salões de chá e recepções. Como a “educação ministrada a essas inocentes criaturas” frequentemente mostrava-se assaz indecorosa, os papagaios seriam acomodados em quartos situados longe da rua onde - “para a ofensa dos ouvidos delicados e castos” - eles aprendiam grosserias, canções obscenas e indecentes, expressões de passantes e desocupados, além dos gritos de gente como peixeiros e jogadores.92
Várias décadas mais tarde, já no primeiro quartel do século XX, um habitante de Hamburgo usaria seu domínio das línguas para treinar papagaios em alemão, francês, italiano, espanhol e inglês. Essas aves eram negociadas com diversos países da Europa e custavam - no câmbio da época - entre 600 e 6.000 réis conforme sua habilidade, apesar de uma ter sido vendida por 6.400 réis a “uma princesa de Wiesbaden”. Não era difícil
entrar em qualquer negócio em Hamburgo e sentir baixar do alto a voz [de um papagaio] exaltando e recomendando a compra de um artigo especial: “as nossas calças de casimira são as melhores do mundo”, “compre esse pano”, “as nossas cores não desbotam”. Embora caro, tal recurso dava excelentes resultados, sobretudo porque as senhoras apreciavam muito a originalidade do vendedor.93
No ano de 1907, a firma portenha “Echegaray Hermanos y Cia” buscaria o mesmo objetivo ao anunciar a bela recompensa de 500 pesos para quem apresentasse um papagaio que falasse “cabreiroa”, sua marca de água mineral (Figura 12).

Com o avanço da tecnologia, principiariam as tentativas, nos Estados Unidos e na Europa, de adestrar papagaios por meio de um fonógrafo (Figura 13). Segundo reportagem publicada na “Strand Magazine” de 1903, certo J. Hope teria fundado uma “escola fonográfica para papagaios” na Filadélfia, instituição reputada por seu criador como única no mundo. O preço do curso completo de seis meses era de oito libras - ou dez xelins semanais no caso de períodos menores, cobrando-se uma pequena taxa adicional pela aprendizagem de frases pouco usuais ou sentenças em outro idioma. Muitos anos depois, em setembro de 1931, a revista “Modern Mechanics and Inventions” traria a notícia de que Peter Jansen, veterano treinador de aves do “Luna Park” de Los Angeles, teria passado a utilizar esse método e formaria “turmas” de quatro ou cinco “alunos”, empregando gravações destinadas a esse fim contendo frases como “louro bonito”, “olá louro” etc. Com uma hora de duração, as aulas pareciam despertar notável interesse em seus pupilos, pois mesmo aqueles menos capacitados teriam começado a falar após seis dias (Figura 14). Ainda mais desusada - e bem mais recente - seria a tentativa levada a cabo por outro americano, um ornitólogo chamado Ray Berunck, de criar um centro destinado à formação de “papagaios-guia” para cegos. Nesse local, as aves aprenderiam palavras-chave como “pare”, “vire à esquerda”, além de passar a atender sinais luminosos, distinguir obstáculos etc. Entre as vantagens apontadas, destacava-se o fato de os papagaios necessitarem de manutenção mais barata e terem uma vida muito mais longa que os cães, sendo cotados entre 250 e 400 dólares.94


No Brasil, a cultura popular não para de engendrar novas “piadas de papagaio” - termo assaz sugestivo - e continua registrando um número considerável de eventos reais capazes de enriquecer o rico folclore relativo a essas aves. Entre os casos dignos de despertar o interesse da população e ganhar as páginas dos jornais, alinham-se desde um roubo evitado por um papagaio que chamou a polícia em altos brados, até outro exemplar preso em uma rede e salvo graças a seus insistentes apelos por socorro.95 Tampouco faltam exemplos de aves processadas por sua extrema maledicência, algo assinalado desde o começo do século XVII pelo “inca” Garcilazo de la Vega. Em Sevilha, de acordo com esse cronista, um papagaio acostumado a afrontar certo “médico indigno” com uma torrente de ofensas seria alvo de uma queixa à justiça, a qual decidiu que o dono desse boquirroto volátil deveria mantê-lo longe da rua sob pena de ter de entregá-lo ao reclamante.96 Na Paris de 1792, durante o auge do Terror, outro exemplar terminaria sendo acusado de atividades contrarrevolucionárias, pois gritava a plenos pulmões “Viva o Rei!”, “Viva os nossos sacerdotes!”, “Viva os nobres!”. O papagaio e suas proprietárias, madame Louise de la Fiefville e “mademoiselle” Françoise de Béthune, foram presos e levados diante do tribunal. Como a ave recusou-se a falar em juízo, os réus terminariam sendo libertados pela falta de evidências, mas obrigou-se o papagaio reacionário a ser politicamente doutrinado por uma “tricoteuse” - a cidadã Le Bon - aprendendo a repetir “Viva a Nação!” e um vasto repertório de pragas e canções obscenas antes de voltar para sua antiga residência.97 No Rio de Janeiro, em 2004, seria a vez da dona de um papagaio ser autuada por danos morais pelo fato de seu bicho de estimação pôr sistematicamente em dúvida a honestidade de todas as mulheres - e a masculinidade de todos os homens - que lhe caíam sob os olhos.98
Para concluir, seria pertinente mencionar duas surpreendentes notícias envolvendo aves falantes, no caso um mainá, Acridotheres tristis (Linnaeus, 1766) - espécie bastante conhecida por sua capacidade de imitar a voz humana - e um papagaio-do-congo, Psittacus erithacus (Figuras 1 e 15). Segundo matéria divulgada pela BBC em 20 de junho de 2001,
uma dona de casa chinesa descobriu que seu marido a traía depois de receber indicações do pássaro do casal, um mainá. Ela percebeu que o vocabulário do pássaro tinha mudado quando voltou para casa após uma visita de um mês a seus pais. Em vez das palavras de sempre, o mainá repetia expressões como “eu te amo”, “tenha paciência” e “divórcio”. O pássaro ficava mais comunicativo quando o telefone tocava, aumentando as suspeitas da mulher de que o mainá ouvia as conversas do marido infiel com sua amante. Certa da traição do marido, a dona de casa da cidade de Chung Ching, sudoeste da China, entrou com um pedido de divórcio. Ela espera que o juiz aceite o “testemunho” do mainá sobre a infidelidade do marido. Os advogados da dona de casa, no entanto, não acreditam que um juiz garanta o divórcio com base nas palavras do mainá.99

Contudo, outra reportagem, veiculada pela mesma BBC em 27 de junho de 2016, mostrar-se-ia ainda mais inusitada ao destacar que “Bud”, um papagaio-do-congo, vem sendo encarado como a testemunha-chave do assassinato de Martim Duram por sua esposa Glena, crime cometido no ano de 2015. Segundo consta, essa ave teria registrado as últimas palavras do morto ao repetir claramente certo diálogo travado entre um homem e uma mulher que terminava com a frase “não atire!” seguida por uma expressão obscena. Apesar de tudo, Robert Springstead - promotor do condado de Newaygo, Michigan - acha improvável que “Bud” seja chamado a depor durante o julgamento.100
A possibilidade de lançar mão de testemunhos tão incomuns transcende a mera curiosidade e não só ressalta a forte tendência de humanizar os animais observada nos dias de hoje, como exemplifica o quão multifacetadas podem ser as relações do homem com o chamado “mundo natural”, revelando um universo além de qualquer previsão em termos de sua amplitude e complexidade. Nesse sentido, a existência de aves com o dom da palavra - papagaios ou mainás - torna essa convivência ainda mais intrincada e evidencia que as centenárias dificuldades de estabelecer limites entre o animal e o humano continuam bastante presentes e se estendem muito além dos primatas, envolvendo as mais inesperadas espécies zoológicas.101
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