Resumo: O objetivo deste artigo é mapear a produção científica sobre o tema incerteza ambiental nas bases de dados internacionais ProQuest e EBSCO, fornecendo resultados sobre o assunto, bem como as características dos trabalhos científicos já publicados. O método utilizado foi a bibliometria, sendo investigados 97 artigos de um universo de 1.194. Os trabalhos analisados compreenderam o período de 1975 a 2010. Os resultados sugerem que: a) durante o período analisado, diversas redes sociais de pesquisadores e instituições se formaram para estudar esse tema; b) o trabalho de Ducan (1972), embora tenham se passado quase quatro décadas da sua publicação, continua influenciando a formulação de variáveis para a mensuração da incerteza ambiental; e c) a pesquisa sobre incerteza ambiental recebeu, no decorrer dos anos, outras terminologias e metodologias. Observou-se que os estudos foram aplicados nos mais diversos segmentos empresariais, sempre objetivando minimizar as turbulências ambientais e com isso maximizar os resultados organizacionais. Esta pesquisa revelou, ainda, que a forma para a sua mensuração não pode ser normatizada, visto que cada segmento se depara com um ambiente diferente e com variáveis diversas (clientes, fornecedores, concorrentes, sociedade, política, ações governamentais, entre outras).
Palavras-chave:Incerteza ambientalIncerteza ambiental, Ambiente Ambiente, Bibliometria Bibliometria.
ARTIGOS
MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE INCERTEZA AMBIENTAL EM BASES INTERNACIONAIS
Empresas dos mais variados tamanhos e segmentos são submetidas diariamente ao dinamismo do mercado, fruto de acirrada concorrência que acaba por forçar os gestores a tomarem decisões em tempo real com precisão cirúrgica, sob pena de prejuízos, muitas vezes irreversíveis. No entender de Wallace et al. (2010), ambientes estáveis são caracterizados por alterações mínimas nas preferências dos clientes, tecnologias e dinâmica competitiva, enquanto setores altamente dinâmicos são caracterizados por uma elevada taxa de mudança e instabilidade, aumentando a incerteza na decisão. No entanto, todas as empresas estão, involuntariamente, sucetíveis às condições ambientais.
Para o correto entendimento de situações vivenciadas pelas organizações em decorrência de incertezas ambientais, a moderna gestão exige uma interpretação detalhada, por meio das variáveis específicas que circundam a empresa, o que poderá resultar em um desempenho superior ao da concorrência. Miller (1992) enfatiza que as variáveis ambientais não compreendem somente as externas à organização, no seu entender deve-se levar em consideração o ambiente interno nas tomadas de decisões. Ainda segundo o autor, um desequilíbrio duradouro na organização, com relação à estrutura ou processo, pode vir a resultar na busca incessante de ajustes internos, em que a incerteza manifesta-se como desafio nas tomadas de decisões do corpo gerencial, que devem espelhar os melhores intérpretes da nova tecnologia emergente e novos mercados competitivos.
Dessa forma, perceber as incertezas proporcionadas pelo ambiente torna-se fundamental para a performance do empreendimento. Essa dicotomia (incerteza ambiental e performance) é pesquisada há mais de três décadas, a exemplo dos trabalhos de Huber, O’Connell e Cummings (1975), Weed e Mitchell (1980), Bourgeois III (1985), Stearns, Hoffman e Heide (1987), Koberg e Ungson (1987), Swamidass e Newell (1987), Shrader, Mulford e Blackburn (1989), Boyd (1990), Chow e Haddad (1991), Gul (1991), Gerloff, Muir e Bodensteiner (1991), Kren e Kerr (1993), Germain, Dröge e Daugherty (1994), Tan e Litschert (1994), Sabherwal e Kirs (1994), Reed, Lemark e Montgomery (1996), Chong e Chong (1997), Kumar e Seth (1998), Abramson e Ai (1998), Luo (1999), Vickery, Calantone e Dröge (1999), Claycomb, Dröge e Germain (2001), Waldman et al. (2001), Sarkar, Echambadi e Harrison (2001), Li e Atuahene-Gima (2002), Kreiser e Marino (2002), Gosselin (2005), Desarbo et al. (2005), Lee, Lin e Pai (2005), Babakus, Yavas e Haahti (2006), Fink, Edelman e Hatten (2006), Carmeli e Tishler (2006), Agle et al. (2006), Krishnan, Martin e Noorderhaven (2006), Paulraj e Chen (2007), Liao e Tu (2007), Cannella Jr., Parke e Lee (2008), Sun, Hsu e Hwang (2009), Wallace et al. (2010), Silveira-Martins e Tavares (2014a, 2014b).
Diante desses aspectos, observa-se a importância de se discutir e entender esse tema que desperta o interesse de pesquisadores de estratégia e gestores. Nessa perspectiva, o presente estudo objetiva mapear a produção científica sobre o tema incerteza ambiental nas seguintes bases de dados internacionais: ProQuest e EBSCO.
Miles, Snow e Pfeffer (1974) já demonstram a importância de entender as variáveis ambientais, em especial as incertezas produzidas por elas. Segundo os autores, um número crescente de estudos tem sido desenvolvido, no entanto, na melhor das hipóteses, com resultados modestos, gerando confusões sobre o papel da organização em contrapartida às demandas ambientais, além das suas ligações com a tecnologia, estrutura e processos organizacionais. Dessa maneira, os autores justificam o desenvolvimento de pesquisas com contribuições à temática, uma vez que as inconstâncias geradas pelas incertezas ambientais afligem todas as áreas relacionadas ao comportamento organizacional.
Ao abordar a incerteza ambiental sob a luz da ecologia populacional, Hannan e Freeman (1977) destacam que a interpretação dos efeitos do ambiente sobre a estrutura organizacional mudou-se para um lugar central na teoria e pesquisa das organizações nos últimos anos. Essa mudança abriu uma série de possibilidades que motivam o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema. Em complemento, Simon (1978) afirma que muitos dos pontos fracos organizacionais devem-se, em grande parte, ao não conhecimento de todas as alternativas, à incerteza sobre eventos exógenos relevantes e à incapacidade de calcular consequências. Assim, as tomadas de decisões em condições de incerteza são consideradas uma das habilidades mais importantes exigidas dos tomadores de decisões (SIMON, 1991).
Diante desse contexto, observa-se a importância do desenvolvimento de pesquisas que abarquem a temática incerteza ambiental, procurando verificar as suas abordagens, seja pela ótica do comportamento do gestor (MILES; SNOW; PFEFFER, 1974), da ecologia populacional (HANNAN; FREEMAN, 1977), da racionalidade nas tomadas de decisões (SIMON, 1978, 1991), seja por outros prismas que poderão nortear gestores e pesquisadores interessados nos conhecimentos produzidos sobre esse construto.
Dessa maneira, justifica-se o presente estudo pela necessidade de explorar a temática incerteza ambiental em produções científicas reconhecidas pela academia, verificando suas características em pesquisas internacionais e, com isso, subsidiando novas pesquisas. Outro aspecto que legitima esta pesquisa é o fato de não terem sido encontrados estudos similares com esta abordagem no Brasil, além de Silveira-Martins et al. (2013), que abordaram a temática incerteza ambiental no âmbito nacional.
Nesse sentido, este artigo está organizado em cinco seções. A primeira parte explora, passo a passo, a gênese, o desenvolvimento e a consolidação da temática incerteza ambiental. Na segunda seção, apresenta-se o quadro teórico de referência que procura situar o contexto intelectual em que se empreendeu o estudo; na sequência, aborda-se a metodologia que orientou a condução do estudo sob análise. Na quarta seção, discute-se e pondera-se sobre a análise dos dados bibliográficos e, na última seção, à guisa de conclusão, tecem-se reflexões e novas direções e possibilidades para estudos sobre incerteza ambiental.
A definição do conceito de incerteza ambiental é permeada por três componentes: i) a falta de informação sobre os fatores ambientais associados a uma determinada situação de tomada de decisão; ii) o desconhecimento do resultado de uma decisão específica em termos de quanto a organização poderá perder se a decisão for incorreta; e iii) a incapacidade de atribuir probabilidades com algum grau de confiança no que diz respeito à forma como os fatores ambientais irão afetar o sucesso ou insucesso da unidade durante a gestão do tomador de decisão (DUCAN, 1972).
O autor estudou decisões de grupos em indústrias, objetivando identificar as características do ambiente que contribuem para que os membros das unidades de decisão possam gerenciar as incertezas ambientais. No estudo, duas dimensões são identificadas: a) dimensão simples/complexo, definida como o número de fatores levados em consideração nas tomadas de decisão; e b) dimensão estático/dinâmico, entendida como o grau em que esses fatores no ambiente da unidade de decisão continuam a ser basicamente os mesmos ao longo do tempo, ou estão em um processo contínuo de mudança. Os resultados indicaram que os indivíduos em unidades de decisão em ambientes dinâmicos/complexos experimentam a maior quantidade de incerteza no processo decisório. Os dados também indicam que a dimensão estático/dinâmico do ambiente contribui mais para a incerteza do que a dimensão simples/complexo.
Kreiser e Marino (2002), após analisarem sistematicamente o desenvolvimento histórico da incerteza, concluíram que múltiplas operacionalizações têm sido desenvolvidas ao longo dos últimos 60 anos para medir a quantidade de incerteza presente no ambiente externo. Cada uma dessas medidas pode ser efetivamente utilizada na pesquisa de desempenho organizacional, dependendo das questões específicas de investigação a serem abordadas. As conceituações de incerteza continuaram a evoluir e divergem entre si ao longo dos últimos 60 anos, integrando linhas de pesquisa, o que impede a generalização dos resultados sobre este tema.
A maioria das decisões econômicas é complexa e muitas vezes precisa de informações de mais de uma fonte. Assim, os gestores de pequenos empreendimentos empresariais, buscando expandir e/ou manter o empreendimento, precisam saber sobre fatores como disponibilidade de recursos humanos, financiamento e potencial de retaliação dos concorrentes. Enquanto os gestores de pequenos empreendimentos poderiam pesquisar essas questões sozinhos, muitas vezes é mais barato e conveniente obter informação e conselhos de outras pessoas. Em outras palavras, é importante desenvolver uma rede de contatos pessoais, já que tais redes podem desempenhar um papel vital na redução da incerteza, facilitando o recebimento de informações. Nesse sentido, é importante destacar outro aspecto importante: um networking eficaz pode consumir uma quantidade considerável de tempo e energia, especialmente para empresários e gestores de novos empreendimentos, o que poderá ocasionar mais problemas do que soluções organizacionais. Esses foram os achados de um estudo desenvolvido por McGee e Sawyerr (2003) que procurou analisar a relação entre a percepção estratégica, a análise ambiental e as fontes de informação utilizadas pelos proprietários e gerentes de pequenas indústrias de alta tecnologia.
Mais recentemente, a pesquisa de Semadeni e Anderson (2010) objetivou avaliar organizações e as características que influenciam no nível de imitação (de produtos ou serviços do concorrente) sob condições de alta incerteza ambiental e assimetria de informação. Os resultados apontaram para a interação entre essas características organizacionais e o nível de imitação. No entanto, os resultados não são conclusivos, visto que essa análise depende das particularidades da organização e dos fatores da oferta. Não obstante, mesmo a pesquisa não sendo ilativa, ela enriquece o conhecimento dos gestores para a tomada de decisão sobre imitar ou não produtos e serviços para superar as condições de incerteza ambiental.
Observa-se, no estudo desenvolvido por Wallace et al. (2010), o teste dos focos de regulamentação das pequenas empresas (foco de promoção e foco de prevenção) e sua correpondência com o desempenho da organização de maneira diferente quando os níveis de incerteza ambiental variam. Os resultados sugerem que o foco de promoção está positivamente relacionado com o desempenho da empresa, enquanto o foco de prevenção é negativamente relacionado ao desempenho da organização. É necessário observar que essas relações foram moderadas pelo grau de dinamismo ambiental. Em ambientes mais dinâmicos, a relação entre o foco de promoção e o desempenho da empresa é reforçada, enquanto a relação entre o foco de prevenção e o desempenho da empresa é afetada negativamente. O inverso foi encontrado para ambientes menos dinâmicos.
Os procedimentos metodológicos desta pesquisa estão ancorados na técnica da bibliometria. De acordo com Araujo et al. (2000), esse tipo de estudo busca observar a evolução da literatura e o conhecimento produzido no decorrer dos anos.
Nesses moldes, foram utilizados os termos Environmental Uncertainty e Environment Uncertainty para localizar artigos referentes à incerteza ambiental nas bases de dados ProQuest e EBSCO. Considerou-se que essas palavras-chave deveriam constar no título ou no resumo dos trabalhos. Foram desconsiderados todos os artigos que não se encontravam completos, além das críticas literárias. Esse procedimento resultou em um total de 402 artigos na base ProQuest e 792 na base EBSCO.
Na sequência, consideraram-se apenas os artigos que possuíam Index H igual ou maior do que 5; após essa seleção, restaram 124 artigos originários da base ProQuest e 56 da EBSCO. O terceiro filtro aplicado foi o de exclusão de artigos que se encontravam nas duas bases e os que utilizavam os termos Environmental Uncertainty e Environment Uncertainty de maneira genérica, sem vínculo com a temática de estratégia. O Quadro 1 sintetiza esse processo de seleção de artigos que resultou em um total de 97 artigos válidos, compreendendo o espaço temporal entre os anos de 1975 e 2010.
Após a apresentação dos aspectos metodológicos que nortearam o desenvolvimento desta pesquisa, a seguir será realizada a análise bibliométrica sobre as publicações identificadas na coleta dos dados.
Entre os artigos analisados, observou-se a formação de redes de cooperação, entre autores, para o desenvolvimento de pesquisas sobre incerteza ambiental. Nesse sentido, Dröge (1986, 1988, 1994, 1999, 2001) recebe destaque pelo número de laços com seus pares, somando nove de entrada e nove de saída. Esses dados revelam que a autora, neste tema específico e nesta amostra de artigos, destaca-se pelas parcerias firmadas para o desenvolvimento de pesquisas científicas. Tais redes podem ser mais bem observadas na representação gráfica da Figura 1.
As redes identificadas anteriormente não revelam, em regra, que os autores em destaque são os que mais produziram trabalhos sobre incerteza ambiental (apenas as redes de seus relacionamentos), no entanto, nesta pesquisa em específico, a exceção a essa regra deve ser aplicada. Dröge (1986, 1988, 1994, 1999, 2001), além de destaque em termos de redes de cooperação de autores, também é grafada como autora na maior quantidade de artigos publicados, somando um total de cinco artigos. Na sequência, aparecem Miller (1986, 1988, 1999), Litschert (1980, 1994), Hitt (1982, 1987), Ireland (1982, 1987), Koberg (1987), Sabherwal (1992, 1994), Sawyerr (1993, 2003), Germain (1994, 2001), Calantone (1997, 1999), Li (2002, 2007) e Cannella Jr. (2006, 2008), com dois trabalhos publicados cada um. Torna-se importante ressaltar que não foram diferenciadas as ordens de assinatura de autoria dos trabalhos. Nos demais trabalhos analisados, os pesquisadores publicaram apenas um artigo.
Nessa mesma linha de raciocínio, buscou-se identificar a existência de redes de cooperação entre as instituições dos pesquisadores, assim diversas articulações foram caracterizadas. As instituições Texas A&M University e Oklahoma State University, conforme a Figura 2, destacam-se das demais pelas parcerias que firmaram (laços de saída), num total de dez e nove, respectivamente.
Visando explorar não somente os autores e suas respectivas instituições, o Quadro 2 sintetiza os periódicos e o número de artigos neles publicados. Esse indicador busca auxiliar futuras submissões de trabalhos, pois identifica os periódicos que possivelmente possuam linhas de interesse em trabalhos que abordem o tema incerteza ambiental. Observou-se que, entre todos os estudados no periódico Academy of Management Journal, foram localizados 20 trabalhos entre os anos 1975 e 2010, 11 a mais do que o segundo com maior número de publicações, a saber, Strategic Management Journal.
Na sequência, objetivando identificar a evolução no número de artigos publicados entre o período de 1975 e 2010, elaborou-se a Figura 3. Por meio desta, torna-se possível observar que, nos anos de 1987 e 2006, houve um aumento nas publicações, culminando no maior número de produções relacionadas ao tema incerteza ambiental, perfazendo um total de 16 pesquisas publicadas em periódicos de alto impacto.
A efetividade nesses anos se deve aos trabalhos de: Ireland et al. (1987), McCabe (1987), Milliken (1987), Stearns, Hoffman e Heide (1987), Koberg e Ungson (1987), Koberg (1987), Kay e Diamantopoulos (1987), Swamidass e Newell (1987), Babakus, Yavas e Haahti (2006), Lester et al. (2006), Akhter e Robles (2006), Fink, Edelman e Hatten (2006), Carmeli e Tishler (2006), Beugré, Acar e Braun (2006), Agle et al. (2006) e Krishnan, Martin e Noorderhaven (2006).
Com o intuito de identificar como foi medida a incerteza ambiental e contribuir, assim, com futuras pesquisas, apresentam-se, no Quadro 3, os trabalhos analisados, os indicadores utilizados e as pesquisas que deram suporte à elaboração das variáveis.
Além dos trabalhos apresentados no Quadro 3, evidenciam-se também os trabalhos de: Koberg e Ungson (1987), Koberg (1987), Miller, Dröge e Toulouse (1988), Shrader, Mulford e Blackburn (1989), Schneider e Meyer (1991), Russell e Russell (1992), Alexander (1991), Lang, Calantone e Gudmundson (1997), Gosselin (2005), Moschuris (2007), Sahadev (2008), Sun, Hsu e Hwang (2009), Townsend, Yeniyurt e Talay (2009) e Semadeni e Anderson (2010), que não tiveram suas variáveis especificadas pelos autores.
Observou-se que, entre os trabalhos que não explicitaram os indicadores para mensuração da incerteza ambiental, alguns citaram o(s) trabalho(s) que serviu(ram) de referência para a coleta dos dados na sua pesquisa. Essas informações podem ser visualizadas no Quadro 4.
Além destes, os estudos de Schoorman, Bazerman e Atkin (1981), Milliken (1987), Kay e Diamantopoulos (1987), Reed e Lemark (1996), Bhattacharya, Krishnan e Mahajan (1998), Zhang e Doll (2001), Greve (2002), Jones e Ryan (2002), Kreiser e Marino (2002), Callanan (2004), Akhter e Robles (2006), Beugre, Acar e Braun (2006), Judge e Blocker (2008) e Gravier, Randall e Strutton (2008) não foram incluídos, por terem sua metodologia direcionada a estabelecer um ensaio teórico sobre o tema e por não se aterem especificamente a identificar formas de mensuração da incerteza ambiental.
Entre os trabalhos analisados, observou-se uma expressiva contribuição da pesquisa quantitativa sobre os demais estudos. Verificou-se que, do total de 97 artigos analisados, 83 valeram-se de investigações de ordem quantitativa, representando 85% dos estudos, enquanto o restante (14 trabalhos) realizou ensaios teóricos sobre o tema representando 15% da amostra pesquisada.
Buscando auxiliar futuras pesquisas sobre a temática incerteza ambiental, no decorrer das análises de cada artigo, foram identificadas terminologias vinculadas ao assunto, que poderão ser utilizadas em futuras indagações científicas como palavras-chave. Tal informação pode ser observada no Quadro 5.
No intuito de identificar os trabalhos utilizados para fundamentar as pesquisas, foram selecionadas as referências utilizadas em cada um dos artigos. Assim, no Quadro 6, foram elencados os dez autores mais referenciados nas pesquisas e identificada a quantidade de vezes que foram citados. Além desta informação, apresenta-se o trabalho mais referenciado e o número de vezes que foi citado.
Observa-se que, embora Miller tenha sido o autor mais referenciado, o trabalho de Ducan (1972) foi consistentemente o trabalho mais mencionado nas pesquisas realizadas entre 1975 e 2010.
Identificou-se que muitos trabalhos apresentaram como complemento ao estudo os instrumentos utilizados na pesquisa (questionários ou procedimentos detalhados de pesquisa) que passaram pelo crivo daquele estudo.
Essas pesquisas estão destacadas no Quadro 7. Ressalta-se que esses trabalhos podem contribuir para futuras pesquisas como exemplos de mecanismos para coleta de dados no que tange ao tema incerteza ambiental.
Assim, com base na revisão bibliográfica e nos procedimentos metodológicos anteriormente apresentados, além da análise bibliométrica sobre a temática incerteza ambiental, a seguir serão apresentadas as considerações finais e sugestões para trabalhos futuros.
No decorrer deste artigo, diversas análises foram realizadas no intuito de explorar o tema incerteza ambiental, tendo como método a bibliometria. A partir da análise de 97 publicações ao longo do período de 1975 a 2010, pode-se destacar algumas características dessas pesquisas.
Diante dos resultados encontrados, é lícito que existam diversas pequenas redes de relacionamento de pesquisadores interessados em publicações sobre incerteza ambiental; no entanto, ressalta-se o fato de não existir uma constância de publicações em periódicos internacionais com alto impacto por parte desses estudiosos. Essa mesma consideração também é válida em termos de parcerias entre instituições de ensino.
Sabe-se que, nesse cenário, deve-se considerar, também, a morosidade do processo de análise dos trabalhos por parte dos periódicos. Porém, essa possibilidade pode ser praticamente descartada, pois o estudo abrangeu o espaço temporal de 35 anos, o que rejeita tal justificativa de baixa publicação.
Entre os periódicos, observou-se que o Academy of Management Journal obteve destaque no número de artigos publicados, o que sugere o interesse por publicações direcionadas à incerteza ambiental. Essa informação é oportuna para pesquisadores que se dedicam a desenvolver estudos nessa linha.
Os anos de 1987 e 2006 receberam destaque por conta da expressividade no número de artigos publicados; por outro lado, é necessário destacar que o total de artigos foi de apenas 16 em âmbito internacional. Observa-se que esse número não é tão expressivo quando consideradas as sugestões para trabalhos futuros presentes nos estudos analisados. Essas contribuições apontam para um universo gigantesco de possibilidades de pesquisas.
Com relação às variáveis utilizadas para a mensuração da incerteza ambiental, é conclusiva a importância do estudo de Ducan (1972), que serviu de referência à elaboração de muitos instrumentos para coleta de dados, além de fundamentar grande parte dos trabalhos.
Dessa forma, conclui-se, com este trabalho, que a incerteza ambiental no decorrer dos anos ganhou espaço, porém não adquiriu forma metodológica uniforme. O espaço é caracterizado pelo número de publicações internacionais, que é restrito, mas existente. A ausência de uma forma definida de método, conceito e instrumento deve-se às diferentes características dos segmentos e das empresas estudadas, que foram correlacionadas às peculiaridades ambientais, resultando em um contínuo amoldamento procedimental a cada estudo.
A principal limitação deste estudo reside no fato de que a base de dados é limitada a alguns periódicos e a filtros metodológicos dos autores, o que pode acarretar em deixar às margens da coleta algum trabalho relevante.
Para trabalhos futuros, recomenda-se a ampliação deste estudo, identificando outras variáveis, que não puderam ser estudadas neste trabalho, como, por exemplo, o país de origem dos pesquisadores e o local de elaboração da pesquisa, além da aplicação de alguma técnica de análise multivariada, tal como a análise de correspondência múltipla, que poderá identificar os estudos que possuem correlação. Além disso, recomenda-se a realização de estudo similar nas bases de dados nacionais.
Por fim, procurou-se abordar alguns aspectos que, certamente, merecem atenção futura por parte dos pesquisadores e gestores das organizações. Dessa forma, o esforço realizado para apresentar alguns elementos importantes dos estudos sobre incerteza ambiental será mais uma contribuição na direção de discussões mais profundas acerca do assunto.