Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL
Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, vol. 11, pp. 518-535, 2018
Universidade Federal de Santa Maria

ARTIGOS



Recepção: 04 Abril 2018

Aprovação: 19 Agosto 2018

Resumo: A concentração populacional em centros urbanos tem sido característica marcante do processo de desenvolvimento mundial. Nesse sentido, os desafios do desenvolvimento sustentável estão cada vez mais concentrados nas cidades. Assim, tendo em vista a relevância do planejamento das cidades para um desenvolvimento mais sustentável, especialmente por vivermos em uma sociedade cada vez mais urbana, este estudo tem como objetivo identificar as principais características da produção científica internacional relacionada a essa temática nos últimos dez anos. Para tanto, desenvolveu-se um estudo bibliométrico, por meio da base de dados Web of Science, relacionando os termos “desenvolvimento sustentável” (sustainable development) e “urbano” (urban). Destaca-se que ao analisar as citações das publicações relacionadas, observa-se que esta combinação de tópicos é considerada um ‘hot topic’, na medida em que possui um índice de impacto elevado, podendo ser considerado um tópico exclusivo, com alcance em diversas áreas do conhecimento ou características únicas. Analisou-se, ainda, os estudos mais relevantes nessa temática, por meio da apreciação dos dez estudos mais citados ao longo deste período. Verificou-se, por meio deste trabalho, que a temática é abordada em diversas áreas de conhecimento, evidenciando a sua importância e multidisciplinaridade.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Urbano, Cidades sustentáveis, Bibliometria.

Abstract: Population concentration in urban centers has been a hallmark of the world development process. In this sense, the challenges of sustainable development are increasingly concentrated in cities. Thus, considering the relevance of city planning for a more sustainable development, especially for living in an increasingly urban society, this study aims to identify the main characteristics of the international scientific production related to this theme in the last ten years. For that, a bibliometric study was developed through the Web of Science database, relating the terms "sustainable development" and "urban". It should be noted that when analyzing the citations of related publications, it is observed that this combination of topics is considered a hot topic, while it has a high impact index and can be considered as an exclusive topic, with a scope in several areas of knowledge or unique characteristics. We analyze the most relevant studies in this area, by means of an appreciation of the ten studies most cited throughout this period. It was verified, through this work, that this theme is approached in several areas of knowledge, evidencing its importance and multidisciplinarity.

Keywords: Sustainable development, Urban, Sustainable cities, Bibliometrics.

1. INTRODUÇÃO

A concentração populacional em centros urbanos tem sido característica marcante do processo de desenvolvimento mundial. A população urbana representa, aproximadamente, 55% do contingente mundial. No início do Século XX, essa taxa indicava apenas 10% das pessoas. Estima-se que, na metade no Século XXI, 68% das pessoas estarão vivendo em ambientes urbanos (UNITED NATIONS, 2018). Na América Latina, onde 81% da população é urbana, estima-se que, em 2030, 86% dos habitantes estará vivendo em cidades, acompanhando índices da Europa Ocidental. Essa é a maior proporção entre as regiões em desenvolvimento, superando até mesmo alguns países desenvolvidos (SIEMENS AG, 2010).

Muitas vezes o crescimento acelerado das cidades se confunde com desenvolvimento, no entanto, paralelamente aos benefícios, estes espaços têm trazido impactos desastrosos para a qualidade de vida de seus habitantes e para as condições ambientais do planeta (ROSSETTO, 2003). Embora o objetivo comum e desejado para as cidades seja fornecer infraestrutura adequada, condições de conforto e salubridade, espaços de usos públicos com qualidade, oportunidades de crescimento social e econômico para toda população, o quadro apresentado pela rede urbana brasileira é outro.

Percebe-se que há um agravamento de problemas urbanos ocasionados pelo crescimento desordenado, pela demanda não atendida por recursos e serviços, pela obsolescência da estrutura física e administrativa existente, pela ineficácia da gestão e pela deterioração progressiva do meio ambiente (ROSSETTO; ORTH; ROSSETTO, 2006). Assim, cada vez mais se faz necessário o planejamento de cidades mais sustentáveis, tendo em vista, também, o aumento da poluição, as elevadas emissões de carbono e a resultante ameaça do clima (GEHL, 2013).

Algumas cidades têm se tornado expoentes quando se trata da sustentabilidade urbana. Na Europa, Copenhagen destaca-se entre aquelas que possuem os melhores índices, acompanhada de Viena, Amsterdam e Zurique, além de municípios localizados em países nórdicos, tais como Estocolmo, Oslo e Helsinki. Na América do Norte, São Francisco, Vancouver e Seattle estão entre as cidades que têm desenvolvido os melhores projetos em busca do desenvolvimento urbano sustentável (SIEMENS AG, 2012). Na América Latina, Curitiba é reconhecida como a mais sustentável do continente. Outras cidades latino-americanas, tais como Bogotá, Belo Horizonte e Brasília, destacam-se em algumas categorias de análise. No continente asiático, ressalta-se o desempenho de Singapura e, na África, local que apresenta os maiores desafios, a cidade de Accra é citada entre aquelas que têm desenvolvido bons programas de ação (SIEMENS AG, 2012).

O desenvolvimento sustentável tem como premissas promover a qualidade de vida dos cidadãos e reduzir os impactos ambientais. Uma cidade sustentável proporciona qualidade de vida para seus cidadãos e para as futuras gerações através de soluções que visem conciliar aspectos ambientais e sociais (ROGERS, 2013). Assim, tendo em vista a relevância do planejamento das cidades para um desenvolvimento mais sustentável, especialmente por vivermos em uma sociedade cada vez mais urbana, este estudo tem como objetivo identificar as principais características da produção científica internacional relacionada a esta temática nos últimos dez anos. Para tanto, desenvolveu-se um estudo bibliométrico, por meio da base de dados Web of Science, relacionando os termos “desenvolvimento sustentável” (sustainable development) e “urbano” (urban). Procurou-se identificar e analisar as pesquisas mais relevantes nesta temática, por meio do levantamento dos dez estudos mais citados ao longo da última década. Para alcançar o objetivo proposto, o estudo inicia com o aporte teórico referente ao desenvolvimento urbano sustentável e, em seguida, apresenta o método do estudo. Posteriormente, são descritos os resultados obtidos na análise da produção científica internacional, envolvendo as temáticas do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O relatório das Nações Unidas, denominado Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1991), propôs o conceito de desenvolvimento sustentável como sustentáculo de uma política econômica global: atender às nossas necessidades atuais, sem comprometer as futuras gerações e dirigir ativamente nosso desenvolvimento em favor da maioria do mundo – os mais pobres.

Para Leite e Awad (2012), cidade sustentável é muito mais do que o conjunto de construções sustentáveis. Ela deve abranger tais parâmetros no desenvolvimento urbano, tanto público quanto privado. É preciso criar modelos sustentáveis compatíveis com o crescimento urbano. As cidades necessitam da concentração de mercado e de conhecimento, entre setores inovadores e dinâmicos, na tentativa de agregar vantagens competitivas e de se sobressair no novo paradigma industrial. Passa a ser necessária a adoção de novas formas de planejamento e gestão urbanos, como o chamado marketing de cidades, os projetos de regeneração urbana e o planejamento estratégico (LEITE; AWAD, 2012).

A construção do espaço urbano e o surgimento das cidades representam aumento nos impactos das ações dos homens sobre os recursos naturais, uma vez que as estruturas urbanas devem absorver as novas demandas da população crescente, adaptando-se às transformações da sociedade em suas atividades de produção e consumo, comportamentos, modos de vida, tipos de relações, entre outros (MARTINS; CÂNDIDO, 2013).

À medida que o processo de urbanização ocorre, o desenvolvimento sustentável depende cada vez mais do sucesso na gestão do crescimento urbano, especialmente em países de baixa e média renda, onde o ritmo de urbanização projetado é mais rápido. Muitas nações enfrentarão desafios para atender as necessidades de suas crescentes populações urbanas, inclusive para habitação, transporte, sistemas de energia e outras infraestruturas, bem como para o emprego e serviços básicos, tais como educação e cuidados com a saúde. A fim de garantir que os benefícios da urbanização sejam totalmente compartilhados e inclusivos, é necessário o enfoque em políticas que visem o acesso à infraestrutura e serviços sociais para todos, focando nos mais pobres e nos grupos mais vulneráveis (UNITED NATIONS, 2018).

Conforme destacam Rotmans e Van Asselt (2000), dentre os inúmeros desafios e oportunidades que envolvem questões urbanas, enfatiza-se a mudança no papel das cidades na busca pelo desenvolvimento sustentável. Os autores destacam que, no passado, as cidades eram vistas como ‘núcleos de criação de problemas’, uma vez que produziam lixo em larga escala, altos índices de poluição, enormes congestionamentos, fontes de pobreza e criminalidade. Porém, com o passar dos anos, passaram a ser entendidas como ‘núcleo de solução de problemas’, na medida em que são promotoras do desenvolvimento regional e centros de inovação (ROTMANS; VAN ASSELT, 2000). Dentre principais pressupostos para esse desenvolvimento, destaca-se o investimento em infraestrutura, ressaltando a questão de mobilidade urbana, que possui grande impacto na busca de competitividade. Além disso, a tecnologia também é considerada um aspecto chave, pois auxilia na entrega de eficiência e transparência aos cidadãos. Essas iniciativas fazem parte da criação de parceiras público-privadas (PPPs), em especial a busca por soluções em tecnologia e infraestrutura (GLOBESCAN; MRC MCLEAN HAZEL, 2007).

Nesse sentido, os desafios do desenvolvimento sustentável estão cada vez mais concentrados nas cidades. Tais aspectos são ainda mais importantes, em particular, nos países de baixa e média renda, nos quais o ritmo de urbanização é ainda mais acelerado. Políticas integradas para melhorar a vida dos moradores urbanos e rurais são extremamente necessárias (UNITED NATIONS, 2014).

Planejar uma cidade sustentável demanda compreensão das relações existentes entre as diversas variáveis – cidadãos, serviços, políticas de transporte e geração de energia, entre outras –, avaliando seu impacto total no meio ambiente local e, regionalmente, de forma mais ampla. Assim, para o alcance de um desenvolvimento sustentável no ambiente urbano, todos esses fatores devem ser considerados e relacionados (BICHUETI, 2016). Conforme Williams (2010), é necessário saber o que realmente se entende por cidade sustentável para, assim, desenvolver uma compreensão mais profunda dos múltiplos processos de mudança que estão relacionados para que se possa atingir um grau de maturidade e, desta forma, alcançar o desenvolvimento sustentável.

O conceito de sustentabilidade no ambiente urbano é bastante amplo. De acordo com Bulkeley e Betsill (2005), apesar de um entendimento geral de que a construção de cidades sustentáveis é uma meta desejável, a compreensão do que isto representa na prática é menos precisa. Guy e Marvin (1999) definem a multiplicidade de visões sobre a sustentabilidade urbana como elemento motivador ao avanço da pesquisa e da prática em torno desta temática. Conforme Williams (2010), entre os aspectos importantes, destacam-se os padrões culturais e especificidades geográficas, fazendo com que as vias para se alcançar a sustentabilidade urbana sejam distintas entre diferentes regiões do planeta.

3. MÉTODO DE PESQUISA

Este capítulo tem por objetivo descrever o método de estudo e os procedimentos adotados no desenvolvimento da pesquisa. Inicialmente, destaca-se que este estudo consiste em uma pesquisa bibliométrica, quantitativa, que tem por objetivo identificar as principais características da produção científica internacional relacionada aos temas “desenvolvimento sustentável” e “urbano”, nos últimos dez anos. Neste sentido, desenvolveu-se uma busca na base de dados Web of Science do Institute for Scientific Information (ISI), compreendendo o período de publicações entre 2007 a 2016, utilizando as palavras-chave “desenvolvimento sustentável” (sustainable development) e “urbano” (urban). Os resultados foram analisados com base em suas principais características, tais como os tipos de produção, os principais autores, as instituições, os países e as agências financiadoras, o ano, as fontes dos dados, as áreas temáticas e o idioma das publicações.

De acordo com Silva (2004), a bibliometria tem o objetivo de analisar a atividade científica ou técnica por meio do estudo quantitativo das publicações. Dessa forma, um estudo bibliométrico consiste na aplicação dos métodos estatísticos sobre o conjunto de referências bibliográficas e no conhecimento do estágio de evolução em que a pesquisa em determinada área se encontra (ROSTAING, 1997; MACEDO; CASA NOVA; ALMEIDA, 2009).

Realizou-se a análise do número de citações e o impacto destes estudos. Para tanto, utilizou-se o índice h-b e o índice m. O índice-h foi proposto por Hirsch (2005) como forma de caracterizar a produção científica de um pesquisador. Posteriormente, Banks (2006) sugeriu o índice h-b, uma extensão do índice h, obtido por meio do número de citações de um tópico (ou combinação de tópicos) em determinado período, listados em ordem decrescente. O índice h-b é expresso pelo número de publicações que obtiveram uma quantidade de citações igual ou maior à sua posição no ranking. O índice m, por sua vez, é calculado por meio da divisão do índice h-b pelo período de anos que se deseja obter informações (BANKS, 2006). De acordo com o autor, é realizada a seguinte classificação, pelo índice m, conforme exposto na Tabela 1, a seguir.

Tabela 1
Classificação da publicação de acordo com o índice m

Banks (2006)

A partir da caracterização do estudo, pode-se avançar aos resultados da pesquisa.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Conforme proposto no objetivo deste estudo, esta seção apresenta as principais características da produção científica internacional relacionada aos tópicos “desenvolvimento sustentável” (sustainable development) e “urbano” (urban). Os resultados apresentados referem-se, inicialmente, ao levantamento das principais características da produção científica no período compreendido entre os anos de 2007 e 2016 por meio da pesquisa realizada em 04 de setembro de 2017, na base de dados Web of Science. Em seguida, é apresentada análise das citações dos artigos compreendidos nesta pesquisa.

4.1 Características das publicações

A consulta realizada na base Web of Science resultou em um levantamento de 9.957 publicações que relacionam os tópicos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’. Ao longo do período de dez anos, a produção científica associada a estas temáticas apresentou um crescimento significativo, passando de 254 publicações no ano de 2007, para 1.294 estudos em 2016, conforme apresentado na Figura 1. Nesse período, pode-se destacar a produção científica do ano de 2015, que apresentou um crescimento significativo, comparado ao ano anterior.


Figura 1
Evolução da produção científica ao longo dos anos
Fonte: dados da pesquisa – Web of Science

Ressalta-se que grande parte dos estudos são artigos publicados em periódicos, representando aproximadamente 55% destes, conforme evidenciado na Tabela 2. Destacam-se, ainda, os papers publicados em anais de congressos, com 43% dos documentos. Dessa maneira, pode-se afirmar que a maior parte destas publicações é considerada produção científica.

Tendo em vista que os artigos e os papers em anais são predominantes entre as publicações, torna-se importante destacar os títulos das principais fontes de estudos que abordam as temáticas ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’. Assim, a Tabela 3 apresenta os nomes dos periódicos e anais de congressos com os maiores números de publicações nesta temática.

Tabela 2
Classificação da produção quanto ao tipo de estudo

dados da pesquisa – Web of Science¹ Os estudos podem ser classificados em mais de uma categoria

Tabela 3
Principais fontes de estudos

dados da pesquisa – Web of Science

Conforme a Tabela 3, encontram-se entre as principais fontes os seguintes Journals: ‘Sustainability’, ‘Advanced Materials Research’, ‘Applied Mechanics and Materials’, ‘Procedia Social and Behavioral Sciences’, ‘Habitat International’. Ressalta-se que, apesar de cada journal abranger campos de conhecimento diferentes, todos buscam por questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, evidenciando a importância da sustentabilidade e da urbanização para um crescimento favorável em todas as áreas de pesquisa.

Foram analisados, ainda, os principais autores dos estudos nessas temáticas e a quantidade de publicações a eles associadas. Conforme descrito na Tabela 4, a seguir, os autores Y. Zhang, H. Wang e Z. L. Zhang se destacam entre aqueles que possuem maior produção nesta área. Pode-se ressaltar, ainda, uma pequena concentração da produção científica, na medida em que diversos autores figuram com quantidade relativamente equivalente de publicações.

Tabela 4
Principais autores das publicações

Dados da pesquisa – Web of Science

Na Tabela 5, é possível identificar os países de origem da produção científica que envolvem as temáticas ‘desenvolvimento sustentável e ‘urbano’. Observa-se a predominância dos estudos oriundos da China, e ainda, a presença do Brasil neste ranking, ocupando a 19ª posição entre os países com maior número de publicações nesta área.

Tabela 5
Principais países de origem das publicações

dados da pesquisa – Web of Science

Destaca-se que, apesar da multiplicidade de países e da superioridade em número de publicações da China, existe predominância do idioma inglês nas publicações internacionais. Conforme apresentado na Tabela 6, aproximadamente 96% dos estudos listados na pesquisa são disponibilizados neste idioma.

Tabela 6
Principais idiomas das publicações

dados da pesquisa – Web of Science

Os resultados da pesquisa mostram as principais instituições de acordo com o número de publicações que abordam as temáticas estudadas. De acordo com a Tabela 7, cabe ressaltar que a instituição predominante da produção científica relacionada a ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’ é a Chinese Academy Of Sciences, evidência das diversas publicações oriundas do país.

E, ao analisar a Tabela 5 e a Tabela 7, percebe-se que, apesar do Brasil se posicionar entre os 19 principais países com publicações nesta temática, nenhuma instituição de ensino ou pesquisa brasileira foi relacionada entre as 25 instituições em destaque.

Tabela 7
Principais instituições de acordo com o número de publicações

dados da pesquisa – Web of Science.

São apresentadas, ainda, nesse levantamento, as cinco agências financiadoras das pesquisas, na Tabela 8. Ressalta-se que 4 são chinesas e, além disso, que a National Natural Science Foundation Of China mostra grande superioridade de financiamento frente às demais agências. Posto isto, evidencia-se o grande investimento da China na pesquisa científica e, comprovadamente, neste tema de estudo.

Tabela 8
Agências financiadoras

dados da pesquisa – Web of Science.

A fim de verificar a abrangência do tema analisado, são expostas as áreas de pesquisa das publicações relacionadas com os termos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’. A Tabela 9 apresenta as 25 áreas em destaque nos resultados obtidos neste levantamento.

Tabela 9
Principais áreas de pesquisa

dados da pesquisa – Web of Science.

De acordo com os resultados apresentados na Tabela 9, pode-se perceber que a área de pesquisa com o maior número de publicações, ‘Ciência Ambiental e Ecologia’ (Environmental Sciences Ecology), está associada aos aspectos ambientais, o que corrobora as evidências de uma maior aproximação destes estudos com a temática da sustentabilidade. Destacam-se, em seguida, as áreas temáticas ‘Engenharia’ (Engineering), ‘Estudos Urbanos’ (Urban Studies), ‘Ciências Tecnológicas e Outros Tópicos’ (Science Technology Other Topics) e Administração Pública (Public Administration). Evidencia-se, também, a multidisciplinariedade das pesquisas associadas a ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’, na medida em que abrangem diferentes campos de conhecimento e analisam o fenômeno de diversas perspectivas. Tais resultados vêm ao encontro do entendimento de que o conceito de desenvolvimento urbano sustentável é muito amplo e multifacetado (WILLIAMS, 2010; BULKELEY; BETSILL, 2005; GUY; MARVIN, 1999).

4.2 Identificação e análise dos artigos mais citados

A partir do levantamento e da caracterização das 6.679 publicações resultantes da pesquisa com os termos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’, procedeu-se a identificação das características das citações destes trabalhos. Inicialmente, é apresentada, na Figura 2, a evolução das citações das referidas publicações ao longo dos últimos anos.


Figura 2
Citações destas publicações ao longo dos últimos anos
Fonte: dados da pesquisa – Web of Science

Pode-se observar, portanto, a evolução positiva das citações dos artigos, o que demonstra a crescente preocupação com esse tema nos últimos anos, especialmente no último quinquênio, quando o aumento foi mais acentuado. O número inferior de citações em 2017 se deve ao fato desta consulta ocorrer no mês de setembro do referido ano, e por isto, o número total de citações neste ano não está consolidado. Destaca-se ainda, segundo os dados da pesquisa, que o número médio de citações é equivalente a 3880,8 por ano. Em seguida, são apresentadas as principais características do impacto desse conjunto de publicações, conforme descrito na Tabela 10.

Tabela 10
Característica das citações

dados da pesquisa – Web of Science.¹ Os valores referem-se à consulta em 04/09/2017

Conforme apresentado na Tabela 10, as 6.679 publicações relacionadas aos tópicos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’ foram citadas 38.808 vezes. Excluindo autocitações, ou seja, quando as citações são realizadas pelos próprios autores, tem-se o número de 35.495 citações. Foram identificadas citações em 29.000 artigos diferentes, sendo que, destes, 27.504 artigos não possuem ocorrência de autocitação.

Destaca-se, ainda, o índice h-b e o índice m deste conjunto de publicações. Os referidos resultados evidenciam a relevância da publicação científica associada aos tópicos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’, na medida em que podem ser considerados, de acordo com Banks (2006), um hot topic. Segundo o autor, um conjunto de publicações que possui índice m > 2 pode ser descrito como um tópico exclusivo, com consequências de alcance em diversas áreas do conhecimento e efeitos de aplicação ou características únicas.

A fim de verificar a relevância do tema estudado, são apresentadas as pesquisas com maiores índices de citação entre as publicações relacionadas. Conforme observado na Tabela 11, o artigo de ‘Bettencourt, L.M.A. et. al.’, denominado ‘Growth, innovation, scaling, and the pace of life in cities’ é considerado o artigo mais citado no período de 2007-2016 entre os artigos que associam os termos ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’. Ressalta-se, ainda, os journals ‘Renewable & Sustainable Energy Reviews’ e ‘Journal Of Environmental Management’, que estão entre os periódicos com maior número de artigos (Tabela 3), além de apresentar alguns dos que estão entre os dez mais citados.

Tabela 11
Dez artigos mais citados

Dados da pesquisa – Web of Science.

Na análise dos dez artigos mais citados para os termos “desenvolvimento sustentável” e “Urbano”, percebe-se a multidisciplinaridade que o tema apresenta, uma vez que os títulos, as palavras-chave e o tema de estudo contemplam temáticas de inovação, economia de escala, ecologia industrial, energia, combustíveis, construção sustentável, cidades inteligentes, análises geográficas, análise do solo, sensoriamento remoto, gestão de resíduos sólidos e gestão dos recursos hídricos. As cidades e países que foram foco de pesquisa dos estudos mais citados estão localizados, principalmente, na Europa. A explicação para este resultado pode ser atribuída ao avanço que este continente apresenta na temática Desenvolvimento Urbano Sustentável, tendo representação significativa nos melhores exemplos de alinhamento da sustentabilidade com a gestão pública. Não se percebem entre os artigos mais citados, no entanto, um expressivo número de pesquisas aplicadas em países subdesenvolvidos, sendo que estas regiões são as que mais sofrem com problemas sociais, ambientais e econômicos, prioritariamente carecendo de uma gestão que busque soluções baseadas no desenvolvimento urbano sustentável.

Quando averiguados os objetivos e resultados desses trabalhos, nota-se a questão ambiental como a mais representativa do tripé da sustentabilidade. Dessa análise, emergem temas como reciclagem, redução de emissões, recuperação de áreas degradadas, conservação de combustíveis fósseis, construção ambiental, estudo de ambientes costeiros, mudanças climáticas, vegetação, resíduos sólidos e recursos hídricos. Uma possível explicação para um maior foco na dimensão ambiental pode estar associada às cidades e aos países objetos de estudo desses trabalhos, como aqueles localizados no continente europeu, conforme mencionado, além de Estados Unidos e Austrália, ou seja, países desenvolvidos e com melhores índices sociais e econômicos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve por objetivo identificar as principais características da produção científica internacional relacionada aos termos “desenvolvimento sustentável” e “urbano” nos últimos dez anos. Nesse contexto, foi desenvolvido um estudo bibliométrico, por meio da base de dados Web of Science, relacionando os tópicos citados, identificando 6.679 publicações, das quais destacam-se os artigos científicos e papers publicados em anais, que, juntos, correspondem a 97% destas.

Entre os principais resultados, pode-se destacar o crescimento da produção associada ao tema nos últimos anos. Os journals ‘Sustainability’, ‘Advanced Materials Research’ e ‘Applied Mechanics and Materials’ se destacam entre aqueles que possuem o maior número de publicações. Entre as instituições, Chinese Academy Of Sciences apresenta maior representatividade, evidenciando as diversas publicações oriundas do país. Os autores Y. Zhang, H. Wang e Z. L. Zhang se destacam entre aqueles que possuem maior produção nesta área, com 34, 31 e 28 publicações, respectivamente. Além da origem chinesa, a maioria dos estudos está associada às áreas de pesquisa ‘Ciência Ambiental e Ecologia’ (Environmental Sciences Ecology), ‘Engenharia’ (Engineering) e ‘Estudos Urbanos’ (Urban Studies). Nesse sentido, evidencia-se a preocupação com aspectos ambientais e de planejamento relacionados à temática da sustentabilidade atrelada ao desenvolvimento urbano. Destaca-se que, ao analisar as citações das publicações relacionadas, esta combinação de tópicos (‘desenvolvimento sustentável’ e ‘urbano’) é considerada um ‘hot topic’, na medida em que possui um índice de impacto elevado e que pode ser considerado um tópico exclusivo, com alcance em diversas áreas do conhecimento ou características únicas.

Quando se analisou os artigos mais citados na pesquisa, demonstrou-se a multidisciplinaridade da temática, emergindo diversas e distintas áreas e assuntos, comprovando-se a amplitude e a multifacetária do tema. Ainda, as cidades e países predominantes nestes estudos estão localizados no continente europeu, além de Estados Unidos e Austrália, sendo que estes países são os que menos carecem de soluções urbanas com vistas no desenvolvimento sustentável. Também, destaca-se a dimensão ambiental sobreposta às dimensões social e econômica na análise dos mais citados, tendo como possível explicação a que os países, foco destes estudos, apresentam poucos problemas sociais ou econômicos a serem debatidos.

Como limitação deste estudo, considera-se o fato deste ter sido operacionalizado em apenas uma base de dados. Sugere-se, portanto, a realização de outras incursões de pesquisa com maior amplitude.

Ressalta-se, por fim, que os resultados desta pesquisa são relevantes para a construção do conhecimento científico sobre a temática abordada. A pesquisa bibliométrica permitiu ampliar a compreensão dos temas e abordagens utilizadas na construção deste campo de conhecimento. Possibilitou, ainda, a identificação dos estudos associados à sustentabilidade na temática abordada, com vistas ao ambiente urbano e como seu planejamento impacta no desenvolvimento sustentável.

Referências

BANKS, M. G. An extension of the Hirsch index: indexing scientific topics and compounds. Scientometrics, v. 69, n. 1, p. 161-168, sep. 2006. Disponível em: . Acesso em: 24 ago. 2017.

BICHUETI, R. S. Fatores que Condicionam a Formação de Ambientes Urbanos Inovadores em Cidades Sustentáveis. 2016. 182 f. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.

BULKELEY, H.; BETSILL, M. Rethinking sustainable cities: multi-level governance and the urban politics of climate change. Environmental politics, v. 14, n.1, p. 42-63. 2005.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - CMMAD. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

GEHL, J. Cidades para pessoas. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

GLOBESCAN; MRC MCLEAN HAZEL. The megacity challenges: a stakeholder perspective. Munique: Siemens, 2007. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2018.

GUY, S.; MARVIN, S. Understanding sustainable cities: competing urban futures. European urban and regional studies, v.6, n. 3, p. 268-275, 1999.

HIRSCH, J. E. An index to quantify an individual’s scientific research output. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, Estados Unidos, v. 102, n. 46, p. 16569-16572, 2005.

LEITE, C.; AWAD, J. C. M. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.

MACEDO, M. A. S.; CASA NOVA, S. P.; ALMEIDA, K. Mapeamento e análise bibliométrica da utilização da análise envoltória de dados (DEA) em estudos das áreas de contabilidade e administração. Contabilidade, Gestão e Governança, Brasília - DF, v. 12, n. 3, p. 87-101, 2009.

MARTINS, M. F.; CÂNDIDO, G. A. Análise da sustentabilidade urbana no contexto das cidades: proposição de critérios e indicadores. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 37, 2013, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: ANPAD 2013.

ROGERS, R. Prólogo de Richard Rogers. In: GEHL, J. Cidades para pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

ROSSETTO, A. M. Proposta de um sistema integrado de gestão do ambiente urbano (Sigau) para o desenvolvimento sustentável de cidades. 2003. 334 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

ROSSETTO, A. M.; ORTH, D. M.; ROSSETTO, C. R. Gestão ambiental integrada ao desenvolvimento sustentável: um estudo de caso em Passo Fundo (RS). Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro - RJ, v. 40, p. 809-840, 2006.

ROSTAING, H. La bibliométrie et sés techniques. Toulouse: Sciences de la Société. Marseille: Centre de Recherche Rétrospective de Marseille, 1997.

ROTMANS, J.; VAN ASSELT, M. Towards an integrated approach for sustainable city planning. Journal of Multi-Criteria Decision Analysis, v. 9, p. 110-124, 2000.

SIEMENS AG. Green city index: a summary of the Green City Index research series. Munique: Siemens, 2012. Disponível em: . Acesso em: 24 ago. 2017.

______. Índice de Cidades Verdes da América Latina. Munique: Siemens, 2010. Disponível em: . Acesso em: 24 ago. 2017.

SILVA, M. R. Análise bibliométrica da produção científica docente do programa de pós-graduação em educação especial/UFSCar: 1998-2003. 177 f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004.

UNITED NATIONS. World Urbanization Prospects: revision 2014. New York: United Nations, 2014. Disponível em: . Acesso em: 24 ago. 2017.

UNITED NATIONS. 2018 Revision of World Urbanization Prospects. New York: United Nations, 2018. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2018.

WILLIAMS, K. Sustainable cities: research and practice challenges. International Journal of Urban Sustainable Development, v. 1, n. 1-2, p. 128-132, 2010.

Notas

2. REFERENCIAL TEÓRICO
3. MÉTODO DE PESQUISA
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por