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A influência do automonitoramento na escrita literária: uma possibilidade tecnológica
Acta Comportamentalia: Revista Latina de Análisis de Comportamiento, vol. 30, núm. 4, pp. 601-618, 2022
Universidad Veracruzana


Recepción: 29 Octubre 2020

Aprobación: 05 Noviembre 2021

Resumo: O presente artigo teve por objetivo avaliar a utilização do procedimento de automonitoramento (AM) em um escritor profissional de literatura ficcional em prosa. Participou do estudo uma mulher com 22 anos de idade, estudante, que já havia publicado pelo menos um livro. A pesquisa experimental durou seis semanas, remotamente, através da plataforma tecnológica Tecwriting para mensurar a frequência (VD 1) e quantidade de palavras escritas (VD 2). Utilizou-se o delineamento de reversão ABAB de sujeito único composto pelas condições A de linha de base (sem a VI de automonitoramento) e B (com a VI de automonitoramento), além da aplicação de questionários pré e pós-intervenção para avaliar o padrão de escrita anterior e as variáveis estranhas. Os dados obtidos apontam para uma influência do automonitoramento na escrita literária, tanto referente a frequência de sessões e quantidade de palavras escritas, como também para manter uma escrita mais assídua, corroborando a literatura existente. Devido à complexidade do fenômeno estudado, ao caráter da pesquisa, realizada em contexto natural, remoto, e ao momento pandêmico da COVID-19 em que se realizou a coleta, faz-se necessária a produção de mais pesquisas para que se possam validar com maior segurança os resultados encontrados.

Palavras-chave: automonitoramento, escrita literária, comportamento verbal, experimento, Análise do Comportamento, plataforma virtual, tecnologia.

Abstract: The writing behavior is extremely complex, surrounded by multiple variables that can influence its emission. This article aimed to evaluate the use of the self- monitoring (AM) procedure in a professional writer of fictional prose literature. A 22-year-old female student who had already published at least one book participated in the study. The research took six weeks, remotely, through the Tecwriting platform, created with the Center for Application and Information Technology (NATI) of the University of Fortaleza to measure the frequency (VD 1) and number of written words (VD 2). A single-subject ABAB reversal design was used, consisting of conditions A baseline (without the self-monitoring VI) and B (with the self-monitoring VI), in addition to the application of questionnaires to assess a pre and pos research, as writing pattern and evaluation of extraneous variables. The data obtained point out to an influence of self-monitoring on literary writing, both regarding the frequency of sessions, number of written words, as well as to maintain a more assiduous writing, corroborating the existing literature. Comparing the values of rates obtained, in comparison with base phases, an increase of 24,50% (A1-B2) and 19% (A2-B1) in relation with the VD1 and 126,60% (A1-B2) in B2 and 31,29% (A2-B1) in A2 on VD2. The increased value in A2 can be explained by the production peak, after six weeks without writing. It can be explained by four hypotheses: compensatory behavior, privation, extinction and low self-correction. Due to the complexity of the phenomenon studied, some aspects of this research, such as the natural and remote context, and the COVID-19 pandemic moment in which the data collection occurred, it is necessary to produce more research to be validated and guarantee the data security of the results found.

Keywords: self-monitoring, literary writing, verbal behavior, experiment, Behavior Analysis, virtual platform, technology.

A escrita é compreendida como mais uma topografia do comportamento verbal, semelhante ao falar (de Rose, 2012). O comportamento verbal deve preencher três pré-requisitos: 1) Ser um Comportamento Operante; 2) Ter reforçadores mediados socialmente; e 3) Existir uma cultura que treina e reforça seus membros para os comportamentos de ouvinte e falante (Catania, 1998; do Valle & Maia, 2010; Sério & Andery, 2012).

Apesar do exposto, estudos sobre as relações derivadas e comportamento simbólico realizados nos últimos anos permitiram a elaboração da Teoria das Molduras Relacionais (RFT) (e.g Dymond & Barnes, 1995; Hayes, Kohlenberg, & Hayes, 1991), a qual supera limitações existentes na definição de comportamento verbal fornecida por Skinner em 1957 (Meindl, Miller, & Ivy, 2018). Nesse contexto, a RFT é uma interpretação analítico-comportamental para linguagem e cognição humana, que proporciona um maior detalhamento dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento da linguagem, a partir dos estudos do responder relacional derivado. Aqui, relacionar significa responder a um estímulo em relação a outro, sob controle de propriedades físicas ou arbitrárias (Hayes et al, 2001). Portanto, o Responder Relacional Arbitrariamente Aplicável (RRAA) é um operante generalizado que envolve nove tipos de relações, como relações de coordenação, de diferença, de oposição, de perspectiva, entre outras. Com isso, o comportamento verbal seria o comportamento de relacionar estímulos de uma maneira particular (Hayes et al, 2001; Törneke, 2010), de forma que, na perspectiva deste estudo, a escrita é uma topografia do comportamento verbal e deve ser compreendida a partir do responder relacional arbitrariamente aplicável.

Ao se analisar os processos comportamentais envolvidos na escrita, porém, observa-se um padrão extremamente complexo que não se limita à explicação de uma topografia específica ou formulação de sentido, como proposto pela RFT, e que, de acordo com Cruz (2018; 2020) e Boice (1984), a Academia pode não estar dando a devida atenção a esses fenômenos, ou, em algumas vezes, sendo parte do problema.

Como todo comportamento, uma série de variáveis vão influenciar em sua emissão, seja facilitando ou dificultando a sua ocorrência, além de ser preciso levar em consideração o seu desenvolvimento, o histórico de relações estabelecidas durante sua vida e contextos atuais. Por vezes, até mesmo práticas culturais podem ter sua contribuição no que se refere à emissão da escrita, como apontado por Boice (1984). Ademais, estados emocionais aversivos podem ser experimentados durante a prática, como ansiedade, medo e culpa (Cruz, 2020; Silvia, 2018; Skinner, 1957), tornando-se um ambiente propício para o surgimento de padrões de fuga/esquiva.

Daly e Miller (1975) apontam outro fenômeno relevante sobre padrões de esquiva e escrita. Em suas pesquisas, eles encontraram como altas taxas de ansiedade podem ser sentidas na escrita, levando os indivíduos a se engajaram em amplos padrões de esquiva, desde evitar disciplinas que envolvessem a composição de textos, até a mudarem sua profissão que de alguma maneira estivesse ligada com o escrever. Além disso, também se observou que um “Writer Aprheension”, tal como foi nomeado, também pode ter um comprometimento na qualidade dos seus textos por experimentar estes episódios de intensa ansiedade na escrita.

Assim, ao observarmos as pesquisas supracitadas, fica cada vez mais claro que estados que costumamos descrever como “Inspiração” ou “Bloqueio de Escrita” tratam-se de contextos específicos em que essas variáveis estão interagindo ao escrevermos, e não constructos ou eventos metafísicos animados pelas “Musas”. Skinner, já em Verbal Behavior (1957), sinalizava para tais dinâmicas, sugerindo que uma baixa no processo de autocorreção (comportamento de se corrigir ao escrever) poderia estar associada a esses estados de inspiração. Nesse sentido, para Cruz (2020), o bloqueio de escrita seria muito mais um sintoma a ser investigado, do que uma explicação a ser socorrida.

Ahmed (2019) realizou uma pesquisa com 146 escritores de diversas experiências gêneros ficcionais e não ficcionais com o objetivo de avaliar as possíveis causas que mais apareceriam como causas de bloqueio de escrita. As variáveis destacadas pela autora foram: influências comportamentais, processos cognitivos e motivacionais, e psicológicos. Nessa pesquisa, encontrou-se que as variáveis psicológicas estariam mais envolvidas, embora em cada parte do processo de escrita, as demais variáveis poderiam aparecer. No entanto, como foi através da aplicação de questionário, apenas, vale questionar se não seria o caso dos participantes terem dificuldade de discriminar os processos que aconteciam com eles ao escrever.

Se a frequência da escrita está associada a tais variáveis, olhar para os contextos vigentes se faz necessário. Normalmente identifica-se uma falta de prestígio e retorno financeiro, como retratado na pesquisa de Watson (2020), em que, apesar do crescimento de pessoas que trabalham com a escrita, apenas 21% conseguem viver com os lucros dos direitos autorais. Um dado indireto, porém relevante, é de que, se outras pessoas precisam trabalhar além da escrita, essas atividades podem se pôr como concorrentes com o escrever, dificultando ainda mais a sua ocorrência. É importante que haja pesquisas voltadas a este público, pois também existe uma alta incidência de muitos sintomas psicológicos e psicopatológicos que estão associados ao ofício de escrever (Silvia, 2018; Skinner, 1957). Em casos em que escritores profissionais se isolam em sua produção, reforçadores sociais também são retirados e passam a exercer menos controle sobre o comportamento de escrever. As fontes de reforçadores ficam, muitas vezes, limitadas e só se tornam acessíveis, por vezes, a longo prazo. Associado a estes fatores ainda existe a probabilidade de contingências aversivas — uma vez que não se sabe como será a recepção de sua produção —, dificultando o estabelecimento ou a manutenção de um repertório de escrita.

Cruz (2018, 2020) ressalta não só a carência de pesquisas e serviços voltados para escritores (acadêmicos ou literários). Dentro das pesquisas realizadas sobre o comportamento de escrita encontra-se um maior número de produções voltadas à escrita acadêmica (e.g. Boice 1982; Cruz, 2020; Daly e Miller, 1975; Rose, 1985), e pouca atenção à escrita literária para profissionais (e.g., Ahmed, 2019; Herren, 1989). Manter uma escrita regular teve seus benefícios destacados por Boice (1990). O pesquisador, tendo como foco produções acadêmicas, reuniu um grupo de professores e arranjou uma série de contingências, atribuídas aos participantes aleatoriamente, dividindo-os em três grupos: o primeiro, em condição de abstinência, foi proibido de qualquer escrita não emergencial, imediata; para o segundo, em condição espontânea, agendaram-se 50 dias de escrita, mas os participantes só deveriam escrever quando se sentissem inspirados; e o terceiro, por sua vez, foi obrigado a escrever durante todos os 50 dias da pesquisa. Os resultados mostraram que o terceiro grupo não só escreveu consideravelmente mais em relação aos anteriores, como seus participantes também relataram ter ideias as quais consideravam mais criativas (Boice, 1990).

Herren (1989), por sua vez, acompanhou uma professora de 43 anos que produzia Literatura ficcional e mantinha um estúdio de arte, mensurando sua escrita e desenho. Utilizando-se do automonitoramento através da contabilização de linhas, a pesquisa realizada apontou indicativos de uma influência benéfica do automonitoramento em ambos comportamentos estudados, uma vez que sua produção se manteve maior que a linha de base e, após 10 meses, o follow-up foi capaz de observar que esses repertórios ainda eram emitidos em frequência alta.

Skinner é categórico sobre como produzir ciência é, na verdade, produzir comportamento verbal textual (Skinner, 1957). Com uma comunidade específica, a escrita acadêmica, então, será definida aqui como a produção do comportamento verbal escrito em contexto de ensino. Com a função majoritária de transmissão de conhecimentos, as regras submetidas a essa escrita irá divergir de acordo com a audiência, embora ainda sejam caracterizadas por uma maior rigidez, a necessidade de clareza e objetividade (Cruz, 2020; Silvia, 2018; Skinner, 1957).

Cabe, também, para o prosseguimento deste trabalho, uma breve operacionalização do que se refere à escrita literária. Para os teóricos da Literatura, a definição de escrita literária é capciosa, complexa e pode se mostrar divergente. Todavia, dentre os diversos conceitos atribuídos à literatura, pode-se caracterizá-la como uso especial da linguagem, direcionada para criação, ficção, sem função de relatar o real ou a verdade (Eagleton, 2003; Zilberman, 2008). Já Skinner (1957) tenta caracterizar o comportamento literário como sendo rico em licença de forma, em magia verbal, em metáforas e em controle de estímulos.

Assim, ao falarmos de escritores literários, estamos nos referindo ao grupo de indivíduos que têm por ofício a utilização desse comportamento verbal específico, escrito, sem a necessidade de relatar o verdadeiro e o real, voltado para fins artísticos da Literatura e que podem vir a exercer controle sobre classes mais amplas de comportamentos, tais como o imaginar e o emocionar de seus leitores.

Uma das formas de intervenção utilizadas em relação ao comportamento de escrita é o automonitoramento (e.g. Ballard & Glynn, 1975; Goddard & Sendi, 2008; Torchia, 2019). Aqui, o automonitoramento (doravante AM) deve ser compreendido como uma técnica de autocontrole, definido na literatura analítico-comportamental como sendo uma forma específica de controle de variáveis feita pelo próprio indivíduo, geralmente em situações conflituosas, em que se altera a probabilidade da emissão futura de um dado comportamento (Bernardes & Micheletto, 2016; Bohm & Gimenes, 2008; Haendel & Alvarenga, 2018; Tourinho, 2016). De acordo com Bohm e Gimenes (2008). A técnica de AM já tem seu valor estabelecido dentro da literatura acadêmica, demonstrando sua efetividade, seja como método de pesquisa, seja como forma de intervenção. Os autores afirmam também que o AM é muito utilizado por escritores de literatura ficção, com o intuito de aumentar a frequência de sua escrita, tais como: manter um quadro com os registros de início, quantidade de páginas produzidas e o registro do fim de cada capítulo (Bohm & Gimenes, 2008).

Com o avanço da tecnologia, ferramentas como aplicativos ou plataformas virtuais vêm ganhando espaço nos âmbitos da educação e da saúde (Becker et al., 2014) e, de igual modo, poderiam ser utilizados por escritores de forma interventiva ou voltada para pesquisas. Além disso, a utilização de softwares em estudos em Análise do Comportamento se torna vantajosa, pois proporciona uma segurança na coleta de dados, evitando possíveis erros e facilitando a execução de pesquisas. Nesse sentido, eles podem sobressair aos procedimentos de registros manuais de dados já existentes. Por mais que se argumente que os softwares podem apresentar erros em alguns momentos, é importante ressaltar que isso se deve a falhas da programação dos mesmos (Neves Filho, de Freitas & Quinta, 2018). Apesar da existência de aplicativos e plataformas voltados para o público de escritores, ainda não há pesquisa nesta área para este público-alvo especificamente, com uso de tecnologia. Isso pode denotar um problema, uma vez que ao se criar um produto é importante entender como esses indivíduos se comportam.

Portanto, o presente artigo teve por objetivo avaliar a utilização do procedimento de automonitoramento (AM) em um escritor profissional de Literatura ficcional em prosa, por meio da plataforma Tecwriting, que mensurava a frequência das sessões e a quantidade de palavras escritas. Essa pesquisa se torna relevante pois permite investigar a viabilidade de um procedimento que poderá ser uma alternativa para que escritores lidem com as dificuldades encontradas em seus ofícios.

MÉTODO

Participantes

O recrutamento se deu através da divulgação de um cartaz digital junto a um formulário de inscrição com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o questionário, em grupos de escritores nas seguintes redes sociais: Instagram, Facebook e WhatsApp. Após a divulgação, 42 participantes se inscreveram e responderam ao questionário. Em seguida foi realizada uma triagem dos inscritos de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, ao que apenas 11 foram convidados a participar da presente pesquisa. Dentre esses, cinco aceitaram participar, assinando o TCLE. Entretanto, apenas um sujeito permaneceu na pesquisa até o final.

A participante foi uma mulher de 22 anos, escritora profissional com um livro de prosa publicado, estudante de graduação, sem diagnósticos psicológicos e sem utilizar serviço de psicoterapia. Sobre sua produção, relatou que costumava escrever em casa, em média 30 minutos a 1 hora por sessão, sem realizar rascunhos e não fazia uso de automonitoramento por meio de número de palavras. Acerca das práticas realizadas ao escrever, encontramos que ela costumava se isolar, buscar por lugares tranquilos, não fazia uso de nenhuma substância lícita ou ilícita em suas sessões nem emitia outros comportamentos concomitantes. Apesar de raramente mostrar suas produções a seus pares, disse que costumava sempre receber críticas positivas. Ademais, afirmou que sempre terminava suas produções.

A pesquisa foi registrada (CAAE 29863319.7.0000.5052) e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza, via parecer n.º 3.939.665.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Como critério de inclusão, foi estabelecido que os participantes deveriam ser escritores profissionais ativos e já estar escrevendo um livro de literatura ficcional em prosa; ser maior de 18 anos e ter publicado pelo menos um livro em formato físico ou eletrônico. Como critério de exclusão, estabeleceu-se a utilização do automonitoramento pelos participantes, através da contagem de palavras - seja manual ou por uso de softwares -, em seu processo de escrita, antes do início do experimento. Optou-se pela escrita em prosa, devido à caracterização de uma maior quantidade de palavras se comparada às produções poéticas, dando uma vantagem para coleta e comparação de dados. Por prosa, aqui, entendem-se textos escritos que não são versificados.

Material Utilizado

Para o experimento, criou-se uma plataforma online chamada de Tecwriting, em parceria com o Núcleo de Aplicação de Tecnologia da Informação (NATI) da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), cuja funcionalidade é a de monitorar a escrita, coletando a frequência de sessões de escrita por dia e a quantidade de palavras em cada uma delas.

O algoritmo da plataforma contabilizava a quantidade de palavras escritas, desconsiderando o espaçamento entre elas, armazenando em uma lista o total de palavras e sua frequência por sessão, e depois eram somadas a frequência acumulada, para obter a quantidade total de palavras.

Na plataforma, havia duas interfaces: a referente à fase linha de base; e a referente à fase experimental. Na primeira, havia apenas a possibilidade de envio do arquivo, sem nenhum tipo de feedback (Figura 1). Após ele realizar a postagem, a plataforma exibia a seguinte mensagem de confirmação: “Arquivo enviado. Obrigado por participar!”.


Figura 1
Tela de upload da condição A

Já na interface referente à fase experimental, quando o sujeito enviava o arquivo, o software contabilizava o número de palavras escritas, criando um sistema de feedback representado por um gráfico que apresentava todos os envios, o número de palavras de cada envio, a frequência de envios por sessão e a frequência acumulada. Como para realizar tal contagem é necessário mais de um arquivo para fazer a comparação, na primeira postagem, não foi possível realizar a contabilização de quantas palavras foram escritas, marcando apenas a frequência da sessão. Ademais, esses dados eram representados por um emoji que alterava, entre feliz e indiferente, acompanhando uma barra de progresso que ia sendo preenchida com a frequência de upload, aumentando ou diminuindo conforme a inserção do arquivo (Figura 2).


Figura 2.
Tela de upload da condição B

Pontos separados de letras não são incluídos na contabilização de palavras, por exemplo: (1) “??!” não é considerado uma palavra; (2) “a??!” é considerado uma palavra.

Caracteres especiais separados de letras também não são considerados palavras, exemplo: (1)“²¹³” não é considerado uma palavra; (2) “a²¹³” é considerado uma palavra. Números separados de palavras são considerados palavras, exemplo: (1) “123” é considerado uma palavra; (2) “a123” é considerado uma palavra.

Também foram utilizados dois questionários on-line no Google Forms. O primeiro questionário, com 34 perguntas, correspondia aos dados sociodemográficos, rotina de vida e informações sobre a possível existência de um diagnóstico ou realização de algum tratamento farmacológico e/ou psicoterápico. Além disso, buscaram-se dados sobre os aspectos de suas produções escritas, como frequência, rotina, local de escrita e ações que apresentavam ao escrever. O segundo formulário foi aplicado após a intervenção que contava com 21 perguntas, das quais seis eram questões abertas, oito eram em escala likert, e sete questões de múltipla escolha. A função dos questionários era realizar um levantamento de informações sobre a rotina da escrita do usuário antes, durante e após a intervenção, bem como coletar informações sobre a rotina diária do participante, seja rotina de trabalho ou educativa, e possíveis mudanças nesta rotina durante a pesquisa. Buscaram-se também informações sobre a percepção do sujeito em relação à plataforma, o efeito dela sobre seu comportamento e possíveis dificuldades que o mesmo possa ter tido, investigando a usabilidade da plataforma, no sentido de verificar a qualidade de manejo de sua interface pelos usuários (Martins, Queiroz, Rocha & Santos, 2013). Esse questionário também buscou identificar variáveis estranhas que poderiam ter afetado os dados coletados.

Procedimento

Após a divulgação nas mídias digitais, a seleção dos participantes se deu mediante as respostas no primeiro questionário aplicado. Escolheu-se os participantes que se encaixavam no critério de inclusão e exclusão. Após a seleção dos participantes, foi enviado um e-mail com as instruções a serem seguidas para o experimento como também foi mostrada e explicada a interface simples da plataforma, isto é, sem o automonitoramento. A cada sessão de escrita realizada pelo participante, ele deveria realizar o upload de um arquivo em .doc ou .docx no Tecwriting durante o período de seis semanas, tanto na fase de controle como na fase interventiva. Ao final do experimento, foi aplicado o segundo questionário.

Delineamento

Foi utilizado o delineamento experimental de Reversão ABAB, de sujeito único, que se refere ao comportamento do indivíduo como unidade de análise e faz tratamento individual dos dados, que favorece a validade interna, bem como a replicação de dados em diferentes condições e indivíduos (Velasco, Mijares & Tomanari, 2010). Em delineamentos de reversão ABAB, os participantes são expostos a uma série de condições experimentais repetitivas, retornando à linha de base, com o objetivo de observar o efeito da variável independente sobre o comportamento de interesse (Sampaio et al., 2008).

O período de coleta se estendeu entre os dias 31 de março e 28 de abril de 2020. Ressalta-se que parte da pesquisa ocorreu durante o período da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (COVID-19).

A Fase A1 teve a duração de uma semana. Durante esse período, o usuário acessava a plataforma pelo link fornecido, no qual o mesmo deveria fazer o upload de seu manuscrito (ver Figura 1). Já a fase B1 durou duas semanas. Após o participante realizar o upload do manuscrito na plataforma, algumas informações da Figura 2 eram exibidas. A Fase A2 teve a duração de duas semanas. Nesse período, a plataforma tornou exibir a Condição A1. A Fase B2 durou uma semana. Nesta fase a plataforma voltou a exibir a Condição B1.

Coleta e Análise de dados

Os dados foram coletados durante seis semanas pela plataforma Tecwriting, tendo como variáveis dependentes: 1) a frequência de postagens/sessões de escrita, medida no dia da postagem (VD1); e 2) a quantidade de palavras escritas por dia (VD2). A variável independente foi o procedimento de automonitoramento (VI) realizado pela plataforma, trazendo as informações das condições B1 e B2. Além disso, foram coletados dados através dos questionários pré e pós-intervenção.

Os dados foram analisados em duas fases. A primeira refere-se aos dados qualitativos dos questionários, e a segunda por sua vez aos dados quantitativos ao uso da plataforma Tecwriting.

Quanto à primeira fase, as categorias analisadas no primeiro questionário se referem a uma série de variáveis que poderiam afetar a escrita. As categorias criadas para a análise do questionário tiveram por base a relação e função dos estímulos com a escrita. As categorias são: (a) Comportamentais: emissões de comportamentos de escrita e concomitantes, como escrever e mexer ao celular; (b) Ambientais: rotinas e mudanças de ambiente de escrita; (c) Ambientais Sociais: referente aos consequentes sociais, falar do exemplo como item b. Já no segundo questionário, avaliou-se as categorias ambientais e comportamentais.

Essas categorias abordam as variáveis que podem influenciar positivamente ou negativamente a escrita, e que foram levantadas como forma de avaliar o padrão de escrita apresentado anteriormente à pesquisa. Isso serviu tanto para identificar variáveis estranhas que existiam antes do estudo - como as que fazem parte da rotina do sujeito, e pudessem intervir durante o procedimento -, quanto a permanência dessas variáveis durante o estudo.

Quanto à segunda fase, foi realizada uma análise descritiva dos dados das fases de controle e intervenção do participante, calculando as taxas de cada uma das VDs, elucidando os aumentos observados. Aqui, o cálculo utilizado para a taxa encontra-se em Cooper, Heron e Heward (2007), cuja medição se dá através da contagem de emissão da VD dividido pela unidade de tempo. A escolha da medida se deu pela possibilidade de comparar taxas de respostas obtidas durante períodos de observação diferentes.

RESULTADOS

Dados da Plataforma Tecwriting

Observando os dados da Tabela 1 e da Figura 3, referentes à frequência de postagem, ao comparar as fases com igual tempo de coleta (A1-B2 e A2-B1), obteve-se um aumento nas fases interventivas em que a Participante se utilizou do automonitoramento, em 24,50% e 19% respectivamente. Ademais, durante o período de intervenção, as sessões de escrita ocorreram de modo mais constante, apresentando um número inferior de tempo entre respostas, chegando a obter o número de cinco sessões consecutivas em B2.

Tabela 1. Frequência de sessão e quantidade de palavras escritas

Tabela 1.
Frequência de sessão e quantidade de palavras escritas


Figura 3.
Frequência de Sessões

No que diz respeito à quantidade de palavras escritas, como observado na Tabela 1 e na Figura 4, a fase em que a Participante mais escreveu palavras foi em A2 (10227), sendo observado um pico de produção, com 4709 palavras, que ocorreu após um período de seis dias entre as respostas (respectivos aos dias 27-33), o maior durante toda a pesquisa. Com o retorno à condição B, a Participante obteve o maior período de produção por tempo, uma vez que sua duração foi de uma semana, com 8341 palavras, mais que o dobro do que se obteve em A1. Ao compararmos as taxas, observou-se um aumento de 126,60% (A1-B2) em B2 e 31,29% (A2-B1) em A2.

Como visto, durante a fase B2, teve-se a maior produtividade, tanto referente à taxa de frequência das sessões, quanto à quantidade de palavras escritas.


Figura 4.
Quantidade de Palavras Escritas

Dados dos Questionários

Referentes aos dados analisados do primeiro questionário, na categoria comportamental, pode-se observar um alto padrão de escrita quantitativa acima do que foi relatado inicialmente, em que a participante relatou escrever 500- 1000 palavras por sessão - e durante os períodos de coleta chegou a obter mais de 4709 numa única sessão. A participante também afirmou não se engajar em comportamentos concomitantes, o que ajudaria a prevenir estados de bloqueio

- uma vez que a escrita não entra em concorrência com outros comportamentos que poderiam prejudicar o desempenho. De início, descreveu não manter horários fixos de escrita, e de fato, os dados produzidos mostraram certos períodos em que deixava de escrever, permanecendo mais constante, com ocorrências seguidas, durante as fases interventivas. Avaliando as categorias ambientais a participante relatou que escrevia a maior parte em casa e que estava em período de aula na faculdade.

Devido à pandemia do COVID-19 e as medidas de isolamento, o período da pesquisa a participante permaneceu em casa, o que pode ter ajudado no aumento do fluxo de sua escrita.

Quanto à categoria social, a participante descreveu que costumava se isolar ao escrever, embora não sentisse que a presença de outras pessoas pudesse afetar na sua escrita. Apesar de raramente mostrar o que escreve em produção, descreveu receber mais críticas positivas do que negativas.

Ao analisar os dados obtidos no questionário pós-intervenção. Quanto à categoria comportamental, a participante relatou perceber de modo positivo o período em que se utilizavam do AM. Sobre a categoria ambiental, nas perguntas referentes à usabilidade, o participante marcou as opções que diziam respeito à boa organização e facilidade no manejo, fatores que poderiam ser considerados variáveis estranhas quanto à utilização da plataforma. Em relação a rotina, a mesma afirmou que não houve mudanças que afetassem suas produções.

DISCUSSÕES

Como observado, os dados obtidos apontam para uma influência do automonitoramento na escrita literária, tanto referente a frequência de sessões e quantidade de palavras escritas, como também para manter uma escrita mais assídua.

Devido ao fato de o automonitoramento ser considerado como técnica de autocontrole, ou seja, uma forma específica de controle de variáveis feita pelo próprio indivíduo para alterar a probabilidade da emissão futura de um dado comportamento (Bernardes & Micheletto, 2016; Bohm & Gimenes, 2008; Haendel & Alvarenga, 2018; Tourinho, 2016), os dados apresentados podem ajudar a corroborar o objetivo proposto neste trabalho.

Bohm e Gimenes (2008), por exemplo, citam autores literários famosos que se utilizavam do AM, como Ernest Hemingway e Gustave Flaubert, além de trazer o exemplo de outro escritor, Irving Wallace, que mantinha gráficos e quadros com dados sobre sua própria produção, como a data em que começava e terminava seus capítulos, a quantidade de páginas em cada um deles e notas sobre eventos que afetaram sua produção. Herren (1989) também se utilizou de automonitoramento com uma escritora literária, encontrando achados positivos sobre a produção, corroborando a possibilidade do AM como ferramenta para o aumento da frequência da escrita literária.

Sobre processos envolvendo o AM, o que poderia ocorrer seria o aumento do efeito de reatividade envolvendo os comportamentos monitorados, como quando os comportamentos ditos “positivos” aumentam de frequência, ao passo que os “negativos” tendem a diminuir (Bohm & Gimenes, 2008, 2012; Korotitsch & Nelson-Gray, 1999). Outras variáveis que poderiam influenciar o efeito da reatividade também são destacadas, como: motivação para mudança; momento de registro; e registros concorrentes (Bohm & Gimenes, 2008, Korotitsch & Nelson-Gray, 1999). Acerca dos picos de produções observadas após um período de tempo entre respostas, quatro hipóteses foram levantadas para compreender o fenômeno em questão.

A primeira é de que as magnitudes da resposta de escrever observadas poderiam representar algum tipo de comportamento compensatório, caracterizado pelo aumento de frequência ou magnitude, como meio de compensar um período maior de latência entre as emissões. Já a segunda hipótese se refere à privação e a extinção. Como apontado por Ahmed (2019), com fontes de reforçadores extrínsecos reduzidos, para muitos escritores, o próprio ato de escrever é tido como reforçador intrínseco e, em sua ausência, o participante poderia estar vivenciando um estado de privação, servindo de operação motivadora para o aumento observado.

A terceira hipótese levantada é de que o pico de produção observada poderia ser devido ao processo de variabilidade comportamental da extinção, uma vez que, ao cessar os reforçadores, é observado um aumento na magnitude nas respostas anteriormente reforçadas (Bravin & Gimenes, 2013; Catania, 1998). Além disso, é comum que estados emocionais aversivos também sejam vivenciados pelo organismo cuja resposta deixou de ser reforçada, o que poderia justificar parte dos estados emocionais de ansiedade, comumente vivenciados por escritores (Cruz, 2018, 2020; Silvia, 2018; Skinner, 1957). Por fim, a quarta hipótese é de que esses picos podem estar associados com uma diminuição no processo de autocorreção. Escrever e se corrigir são comportamentos distintos que acabam acontecendo de maneira conjunta (Ahmed, 2019; Cruz, 2020; Skinner, 1957). Corrigir é um processo natural para a linguagem, contudo, na escrita, esse processo pode ganhar uma dimensão ainda maior já que o contato com a comunidade verbal não se dá diretamente. Altas taxas no processo de autocorreção também estão associadas com altos índices de estados emocionais aversivos, como ansiedade (Skinner, 1957). Assim, para Skinner, picos de produção, ou estados de inspiração, poderiam estar relacionadas justamente com essa baixa no processo de autocorreção. Ensinar escritores a não se autocorrigirem, ou escreverem livremente, é trabalhado em intervenções dentro e fora da psicologia (Ahmed, 2019; Boice, 1982; Becker, 2015; Silvia, 2018).

Embora ao realizarmos este estudo com o objetivo de observar o efeito da manipulação de uma variável sobre o comportamento de escrever, torna-se difícil isolar e detalhar todas as variáveis, mesmo se o experimento ocorresse em uma sala específica durante as sessões de escrita, como em Boice (1990), pois há diversas variáveis envolvidas no comportamento de escrita sobre as quais não se pode ter maior controle. Por exemplo, o próprio Boice (1984) aponta que práticas culturais dentro da academia, tal qual machismo e racismo, podem afetar na produção de escritores. Então, como seria possível separar essa variável e avaliar tal influência? Se o processo de reatividade acontece ao se usar o automonitoramento, em casos que os participantes tinham acesso a suas produções como em Boice (1982), de que maneira se separa a influência desse processo das variáveis estudadas?

Por essa razão, ao investigarmos as variáveis estranhas que poderiam interferir na pesquisa desenvolvida, buscamos aquelas de valor pragmático, quanto a mudanças de rotina, eventos que pudessem fazer o participante se afastar do seu ambiente natural de escrita, ou atividades concorrentes a ela, como trabalhar em outra atividade, já que não é possível ter controle sobre muitas das variáveis envolvidas no processo de escrita, até mesmo por algumas delas ocorrerem privadamente, como a autocorreção.

Os processos comportamentais envolvidos na escrita demonstram uma complexidade o que dificulta seu estudo. Vale ressaltar que muitos escritores podem não ter noção de todas as variáveis que estão ocorrendo, o que prejudica o dado verbal, como poderia ter acontecido no caso da pesquisa de Ahmed (2019). Dentro desse contexto, o reforço social também se torna outra variável importante, principalmente pelo caráter da natureza da linguagem e, tratando-se de arte, a recepção do seu público pode afetar diretamente na frequência da escrita. Ao ser analisada a categoria de ambientes sociais, a participante relatou receber bons feedbacks aos seus escritos.

Outra dificuldade em se pesquisar, tomando em perspectiva escritores literários, é que há uma declarada preferência à escrita acadêmica, em que Ahmed (2019) cita o exemplo de Rose (1985), que possui capítulos dedicados apenas à escrita acadêmica. A necessidade de analisar os processos da escrita literária, e assim assumindo uma postura diferente da acadêmica, faz-se necessária pois como Skinner (1957) pontua, há uma diferença clara tanto acerca das funções, quanto da comunidade verbal que irá recebê-la. Se considerarmos a importância do fator cultural para o comportamento verbal, seja no modelo mais tradicional skinneriano, quanto nos recém-achados da RFT, tais mudanças na comunidade verbal não deveriam influenciar de modo distinto escritores ficcionais de acadêmicos? E se há uma diferença, não deveria ser interesse também da psicologia?

Apesar de não ter sido objetivo específico desta pesquisa, com a coleta de dados, foi possível observar que o Tecwriting pode ser uma ferramenta útil para pesquisas futuras que envolvam o monitoramento do comportamento verbal escrito. Com a plataforma, podem-se mensurar e organizar dados como: frequência durante um dado período; quantidade de palavras escritas; e diferença quantitativa entre os dias. Ademais, implementações poderiam ser feitas para aferir outras variáveis, como duração de sessão, estado emocional dos participantes e saber se fez autocorreção em sua produção.

Por fim, mesmo apresentando dados positivos, a pesquisa apresenta algumas limitações, como a realização da pesquisa de forma remota, devido ao cenário pandêmico, a possível influência do período de lockdown sobre os participantes, seja na rotina ou na adesão desses até o final da pesquisa, uma vez que ela se deu de forma voluntária. Outro ponto foi a adoção de critério de tempo pré-estabelecido de exposição às condições no lugar de adotar um critério de estabilidade do responder para a mudança de condição. No entanto, a participante já vinha trabalhando em uma obra e, pelo relato no primeiro questionário, apresentava um padrão de escrita constante. Desse modo, fazem-se necessárias mais pesquisas para fechar com precisão o efeito do automonitoramento na frequência da escrita literária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve por objetivo avaliar a utilização do procedimento de automonitoramento (AM) em escritores de Literatura ficcional em prosa, através da plataforma Tecwriting, que mensurava a frequência das sessões e a quantidade de palavras escritas.

Observou-se um efeito positivo do automonitoramento nas variáveis estudadas, principalmente no que diz respeito à manutenção da frequência de sessões, uma vez que a participante emitiu mais sessões consecutivas durante as fases interventivas (B1 e B2), sendo seu máximo cinco sessões de escrita em dias consecutivos.

Durante o experimento foi observado que a participante apresentou um pico de produção após alguns dias sem escrever. Fato que o pesquisador deve estar atento pois é comum ocorrer no processo de escrita. Assim concluiu-se que isso pode ter acontecido devido ao efeito da privação ou extinção, ou poderia ser como um comportamento compensatório, ou a baixa no processo de autocorreção. Mesmo com o pico, comparando o tempo com a produção, B2 foi o maior período de palavras escritas. Este dado condiz com os achados de Boice (1990) e Ahmed (2019), de que escritores que conseguem manter um ritmo mais constante e fixo de escrita podem levar a altas taxas do comportamento de escrever, além de, consequentemente, impedir o estabelecimento de estados de bloqueio.

Devido à complexidade do fenômeno, que envolve uma série de variáveis difíceis de manipular e mensurar, as limitações deste estudo, além do contexto pandêmico do COVID-19 que marcou o período de coleta, não ficou claro se sozinho o automonitoramento poderia servir como uma intervenção isolada para o aumento das variáveis estudadas. No entanto, o efeito detectado poderia ser utilizado como uma ferramenta complementar para as demais intervenções, principalmente para auxiliar escritores a permanecer em rotinas e a manter um fluxo constante de escrita. A implementação de dispositivos tecnológicos, que já acontece em outras áreas, como saúde e educação, também poderia ser uma aliada útil tanto para uso profissional como para pesquisa, uma vez que o Tecwriting pode diminuir o custo de resposta na quantificação de palavras escritas, e na criação de gráficos. Outras variáveis poderiam ser adicionadas à plataforma para observação em pesquisas futuras, como estados emocionais, avaliação da autocorreção e duração de sessão da escrita.

A investigação da comunidade literária, tal qual uma audiência específica e a sua influência na escrita, também se faz necessária, com o intuito de preencher as lacunas acerca das diversas variáveis em torno do comportamento de escrever literário, já que o enfoque das produções científicas tem se voltado para a escrita acadêmica. É certo de que mais pesquisas com escritores literários profissionais precisam ser realizadas para poder corroborar os achados desta pesquisa com mais segurança.

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Notas

1) Endereço para correspondência: Francisco Jacinto Junior. Universidade de Fortaleza. Av. Washington Soares,1321, Fortaleza, Brasil. E-mail: j4cinto.jr@gmail.com.


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