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"La sangre de los mártires es la semilla de cristianos nuevos": a consagração póstuma de missionários jesuítas (Província Jesuítica do Paraguai - século XVII)
"La sangre de los mártires es la semilla de cristianos nuevos": the posthumous consecration of Jesuit missionaries (Jesuitic Province of Paraguay, 17th century)
"La sangre de los mártires es la semilla de cristianos nuevos": a consagração póstuma de missionários jesuítas (Província Jesuítica do Paraguai - século XVII)
Revista História, núm. 168, pp. 351-381, 2013
Universidade de São Paulo
Recepção: 10 Abril 2012
Aprovação: 19 Fevereiro 2013
Resumo: A enfática reafirmação da inabalável fé dos jesuítas no cumprimento de sua missão é padrão narrativo recorrente nas cartas ânuas que tinham, dentre seus objetivos, o enaltecimento da própria Companhia de Jesus e de sua obra evangelizadora. O destaque dado às atuações exemplares de alguns missionários "como as que encontramos descritas nos necrológios inseridos nas ânuas e nas biografias produzidas em tempos variados" parece apontar para a reiteração da conduta virtuosa definida por Inácio de Loyola, tanto para os membros da ordem dos jesuítas quanto para aqueles que buscavam a garantia da salvação da alma. Nosso propósito neste artigo é o de analisar os relatos produzidos sobre "atos heróicos de virtude" de missionários, presentes tanto nas narrativas epistolares quanto em suas biografias, destacando a função pedagógica desempenhada pela consagração póstuma para a Companhia de Jesus.
Palavras chave: Jesuítas, martírio, necrológios, boa morte, consagração póstuma.
Abstract: The emphatic reaffirmation of the unshakeable faith of the Jesuits in the accomplishment of their mission is a recurrent narrative pattern in the cartas ânuas, which had, among their goals, the extolment of the very Company of Jesus and its work. The distinction given to the exemplary work of some Jesuit missionaries - like those found described in the necrologies inserted in the ânuas and in the biographies produced in various times - seems to indicate the reiteration of the virtuous conduct defined by Inácio de Loyola to the members of the Company of Jesus, as well as to those who sought the salvation of the body and the soul. Our purpose in this article is that of analysing the accounts about the "heroic acts of virtue" of missionaries present in the epistolary narratives, as well as in the biographies, highlighting the pedagogic function performed by this posthumous consecration.
Key words: Jesuits, martyrdom, necrologies, good death, posthumous consecration.
A definição de um exemplo de conduta pela e para a Companhia de Jesus
O fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola,1 imprimiu à escolha dos membros da Companhia e ao ingresso de jovens nos colégios um cuidado todo especial. Em razão disso, as Constituições de 15582 alongam-se em determinações que definem que seriam admitidos somente aqueles "cuja vida, por longas e cuidadosas provas, for bem conhecida e aprovada pelo Superior Geral".3 Na verdade, o intento de Inácio de Loyola era o de admitir pessoas capazes de reproduzir sua experiência pessoal e, sobretudo, identificadas com sua concepção de prática apostólica, condições que ele considerava essenciais para a dilatação do Evangelho para maior glória de Deus.4
Para Loyola, o "homem foi criado para bendizer, fazer reverência e servir a Deus Nosso Senhor e, mediante isso, salvar sua alma",5 razão pela qual os valores sensíveis e voluntários deveriam ser dominados e o "chamamento de Cristo Rei, que (...) convoca ao combate contra as potências de Satanás, sob o estandarte da Cruz" deveria ser aceito.6 A vocação de servir, idealizada por Loyola, foi transformada, então, na ideia de missão que passou a moldar indiscutivelmente o pensamento e a prática da Companhia de Jesus, ficando estabelecido que "(...) o fim desta Companhia é não somente ocupar-se da salvação e perfeição das almas próprias com a graça divina, mas também (...) procurar intensamente ajudar à salvação e perfeição dos próximos".7
De acordo com as Constituições, aqueles que pretendiam ingressar na Companhia, "antes de começar a viver sob a obediência8 numa das suas residências ou colégios, devem distribuir todos os bens materiais que possuem e dispor de todos os que esperem vir a ter"9 e, ainda, "se quiser seguir a Companhia, há de comer, beber, vestir-se e dormir duma maneira própria de pobres",10 devendo, também, estar "pronto e decidido a aceitar e sofrer pacientemente, com a graça de Deus, todas as injúrias, escárnios e opróbrios que andam associados às insígnias de Cristo Nosso Senhor".11
Os postulantes deveriam permanecer nas casas de provação por um período geralmente de dois anos, durante o qual passavam por experiências - com duração de um mês cada - que consistiam na realização dos exercícios espirituais, na prestação de serviços em hospitais, na peregrinação como mendicantes, no desempenho diligente em diversos ofícios baixos e humildes, no ensino da doutrina cristã a crianças ou a outras pessoas rudes - em público ou em particular - para que, ao final delas, pudesse pregar, confessar ou realizar qualquer outro trabalho dentro da Companhia. O espírito da Companhia pode ser consequentemente assim definido: "Todos sean personas que se han desnudado del amor con propósitos de servir a Dios, su Criador Señor, y sus prójimos en perpetua pobreza, castidad y obediencia".12
A ordenação e a contenção dos prazeres da carne, em especial dos "prazeres venéreos" como denominados por santo Tomás de Aquino, constituíam-se não apenas em aspecto fundamental da formação como também da conduta virtuosa a ser buscada pelos membros da Companhia de Jesus que, para manterem a castidade, deveriam buscar inspiração na vida de santos católicos, muitos deles mártires.13 Para a garantia desta conduta, as Constituições recomendavam que "por la honestidad y decencia, es bien que las mujeres no entren en las Casas ni colegios, sino solamente en las iglesias".14
Já a relação entre virtude e humildade aparece claramente na orientação quanto à execução de ofícios considerados baixos, o que está relacionado com o treinamento da obediência, tão bem expresso nos números 84 e 284 das Constituições e que preveem: "Y no solamente en la exterior execución de lo que manda, obedezcan y prontamente con la fortaleza y humildad debida, sin excusaciones y murmuraciones, aunque se manden cosas difíciles y repugnantes".15 Para que os postulantes não descuidassem de proceder com "caridad, bondad y virtud" e com "menosprecio de las cosas temporales",16 as Constituições previam pregações que deveriam ser realizadas "alguna hora después de comer (...) tratando a menudo de lo que toca a la abnegación de si mismos y de las virtudes y toda perfección" e que "algunas veces entre año todos rueguen al Superior les mande dar penitencias por la falta de observar las reglas".17
Partidário da concepção tomista de que o conhecimento penetrava no intelecto pela via dos sentidos, Inácio de Loyola recomendava que "Todos tengan especial cuidado en guardar con mucha diligencia las puertas de sus sentidos, en especial los ojos y oídos y la lengua, de todo desorden".18 O domínio dos sentidos pelo intelecto - a mortificação das paixões - deveria expressar-se na maneira de falar, de andar e de olhar do postulante que, além de "guardarse de todo tocamento indecente y de la divagación de los ojos y de todos los otros sentidos", deveria "también refrenar la lengua (...) conciértarse bien las vestiduras, ni descubrir cosa no honesta".19
Na verdade, a observância às regras e o consequente domínio dos sentidos eram alcançados através de penitências internas ou externas, sendo que as primeiras se referiam à dor que o penitente deveria sentir pelos pecados cometidos, acompanhada do propósito de não mais cometê-los, enquanto as externas se dariam através de castigos aplicados ao corpo ou de privações no comer e no dormir. A autoflagelação implicava "castigar la carne, es saber, dándole dolor sensible, el cual se da trayendo cilicios o sogas o barras de hierro sobre las carnes, flagelándose o llagándose".20 As Constituições recomendavam, no entanto, que essas asperezas fossem utilizadas comedidamente e que os postulantes obedecessem aos "médicos corporales y enfermeros, para que gobiernen su cuerpo; pues los primeros procuran su entera salud spiritual, y los segundos toda su salud corporal".21 As penitências, segundo Loyola, deveriam servir para "buscar y hallar la voluntad divina en la disposición de su vida para la salud del alma",22 o que também poderia ser obtido através do martírio, isto é, da busca pela imitação de Cristo.
Os jesuítas, em função de seu ideal salvacionista - para si e para os outros -, ansiavam pelo martírio pessoal, a maior glória a que um membro da Companhia de Jesus poderia almejar,23 daí o registro, nas cartas ânuas,24 de situações como a do pe. Roque Gonzalez que saía a predicar "como quien no temia la muerte, ya ofrecida la vida por atraer a Dios Nuestro Señor a esta desamparada gente"25 ou, então, do pe. Diego Razonier que, além de indagar-se "cuándo me llamarán a ser martirizado, para ser comido en un banquete de los indios, por tu glória, oh, Jesús!", mortificava-se com frequência e "a las fiestas de los Santos se disponía con un ayuno de ocho dias".26 A América será para muitos destes missionários o local de realização deste anseio,27 como se constata na solicitação feita pelo padre Martín Urtasún que, segundo Diego de Torres Bollo - o primeiro provincial da Província Jesuítica do Paraguai - "Quiso entrar en la Compañía por el deseo de hacerse mártir (...) Su antigo deseo de hacerse mártir le hizo pedir la Provincia del Paraguay, convencido de que allí más seguramente podía conseguir el anhelado martírio".28
Na América: a serviço da Companhia de Jesus e em busca da cura d'almas e da "morte admirável"303134354142434445
Em 1593, ano em que a Província Jesuítica do Paraguai é desmembrada da Província Jesuítica do Peru, chegaram ao Paraguai quatro padres e dois irmãos coadjutores. A extensão da Província e as dificuldades encontradas para o sustento dos missionários forçaram a retirada dos padres do Paraguai, tendo permanecido apenas um padre em Assunção. Em 1601, o padre Diego de Torres Bollo foi enviado à Espanha, retornando ao Peru em 1607, na condição de provincial da nova Província criada pelo superior geral. Para discutir as diretrizes básicas da ação a ser adotada pela Companhia na nova província, o pe. Torres Bollo organizou, no ano seguinte, a Primeira Congregação Provincial que definiu as primeiras instruções aos missionários.29 Da 1ª instrução destacamos o segundo artigo que se refere aos cuidados que os missionários deveriam ter com a sua própria saúde, ressaltando que os mesmos deveriam acreditar na justiça e bondade divinas e confiar na proteção dos santos e anjos:
Cuidarão Vossas Reverências de sua saúde e cada um pela de seu companheiro; e guardarão a devida prudência nos jejuns, vigílias e penitências, bem como em abraçar e acometer os perigos, sem faltar, contudo em que for necessário na confiança que devem ter na Bondade divina e paternal Providência, e na intercessão da Soberana Virgem e dos Anjos da Guarda (...).
Na 2ª instrução do pe. Torres para todos os missionários do Guairá, Paraná e dos Guaicurus, há recomendações que reforçam a crença na intercessão divina:
E que, enquanto mais cuidarmos de nossa perfeição, tanto mais nos faremos instrumentos aptos de alcançarmos a de nossos próximos, a sua salvação e a conversão dos índios, sendo que esta a havemos de negociar (conseguir) principalmente com orações contínuas, com sacrifícios e penitências.
O desamparo, o apego às orações e o enaltecimento do sofrimento e do martírio ficam evidenciados na carta ânua de 1613, que registra a morte do padre Baltazar que contava com apenas seis anos de Companhia, dos quais três como missionário entre os índios Guarani. Segundo o padre relator da carta, ele sucumbiu aos calores excessivos da terra, que lhe causaram uma febre grave e disenteria, tendo sofrido "sua enfermidade com edificante paciência. Tão extrema era sua penúria que não havia nem uma crosta de pão para lhe ser oferecida como alento (...) tanto que se pode dizer - com razão - que sua morte foi semelhante à de São Francisco Xavier".32
A vinculação entre penúria - sobretudo aquela decorrente da falta de alimentos - e martírio fica evidente numa passagem da ânua de 1614, em que o missionário relata que se encontravam todos muito fracos e que "para reparo e regalo não havia outras comidas, que milho cozido ou tostado, batatas, brotos e algumas ervas sem sal, e entreolhando-nos rezamos e louvamos a Nosso Senhor que nos dava ocasião para padecer algo por seu amor".33 Já na ânua de 1637-1639, encontramos o registro de um irmão coadjutor que, para manter-se afastado do pecado,
maltrató su cuerpo de una manera increíble, comendo por muchos años sólo mendrugos de pan ya casi mohoso, yendo rara vez y sólo por mandato de los Superiores a la mesa común. A esto añadió crueles austeridades corporales [para guardar la castidad con la perfección exigida por el Instituto de la Compañía], tanto que resultó en su espalda derecha una grande llaga gangrenosa, a la cual curaba a veces con una teja muy caliente, o con fierro candente, rehusando cualquier otro remedio (...) a modo de curación aplicó a veces a sus rodillas entumecidas, perforándolas con un asador candente. No aflojó nunca en mortificarse de semejantes maneras. Para curarse de una postilla podrida debajo del brazo, mandó a uno de los negros de casa, que con martillo de la carpintería y con un cincel de hierro, le quitara. (...) De este modo el buen hermano estaba ya maduro para el cielo por sus virtudes.
Mas, nem sempre, o sofrimento - encarado com "edificante paciência" e fé - resultava em "morte ditosa", como se depreende deste registro que refere à cura de um missionário por intercessão divina:
Caiu enfermo o Padre Mateo, por causa dos muitos sofrimentos. Que remedio lhe poderia proporcionar? Que alivio? Lhe fiz uma comidinha bem leve, preparando-lhe uma sopinha com um pouco de farinha das hóstias - por certo, um banquete exquisito! Com o favor de Deus se compôs prontamente.
A preocupação com o restabelecimento dos missionários adoentados fica atestada na carta ânua de 1635-1637, na qual o padre Diego Boroa informa que, em face da "enfermidade do Pe. Graciano (...) se lhe fizeram muitos e grandes remédios com todo cuidado [contudo] não foram bastantes para que não viesse a falecer".36 Muitas das doenças que acometiam os missionários decorriam do seu envolvimento com os indígenas adoentados, pois recorriam às casas dos enfermos, "para levar os consolos espirituais (...) procurando que não lhes faltasse o alimento conveniente ao seu estado" e para "administrar as medicinas possíveis e, às vezes, também atuavam como médicos e enfermeiros".37 A ânua referente ao período de 1635 a 1637 confirma esta prática, ao informar que o padre Ho Blas Gutierres "(...) havia aprendido, lido e experimentado medicamentos, para poder acudir os enfermos e necessitados (...) sendo juntamte. médico e enfermeiro (...)".38
A avaliação das condições de saúde dos indígenas orientava o cotidiano dos missionários, pois, mesmo estando sozinhos, cabia a eles recorrer "todas as casas do povoado para verificar se há algum enfermo" ou, então, afastar-se dele, fazendo "algumas saídas rio acima para ver se podíamos ajudar alguns doentes, não sem muito trabalho, caminhando por montes e arroios (...)".39 Na ânua de 1626, o pe. Nicolas Mastrillo Duran reforçaria o envolvimento dos missionários em atividades "(...) que consistem, não somente em cuidar das almas dos índios senão também (e não com pouco trabalho) de seus corpos e de tudo o que pertence a la industria, trato y policía humana".40 A dedicação incondicional dos missionários pode ser constatada nestes registros que selecionamos:
O Pe. Marcial de Lorenzana - mesmo estando doente - saiu de casa para acudir a todos os indígenas adoentados, apesar de todos os incômodos, porque os da terra não queriam tratar com outro.
Acudia a todos o Pe. Graciano (...) sendo necessário algumas vezes ficar muito próximo do enfermo pa poder ouvi-lo (...) sem temer o perigo e nem o contágio da peste (...) continuou o padre com esta prática (...) o que fez com que tempos depois se sentisse mal e com febre (...).
Se do atendimento "aos apestados" resultava a "morte ditosa" daqueles missionários que, mesmo enfermos - e suportando dores e febres -, acudiam a todos com "admirável paciência", isto provocava "grande sentimento entre os da casa com seu exemplo":
(...) morreu dois anos e oito meses depois de haver entrado na Companhia (...) durante seus últimos meses de noviciado exerceu o ofício de enfermeiro, (...) contraiu uma enfermidade e exercendo sua atividade morreu (...).
Hº Blas Gutierrez (...) acudindo aos enfermos com caridade, veio a morrer aos 72 anos de idade e 22 de Companhia, exercendo a atividade de enfermeiro.
A estes registros, que dão conta do intenso envolvimento dos missionários com enfermos - e que, em determinadas situações, provocava sofrimento e, inclusive, a morte -, se somam alguns em que os jesuítas ressaltam sua imunidade ao contágio:
Uma terrível epidemia se abateu sobre a cidade, causando grandes estragos (...) também abateu a todos os sacerdotes, menos aos da Companhia, para que pudessem assistir aos moribundos. Não fizeram somente isto, pois repartiram medicamentos para os enfermos e esmolas aos pobres.
Essa percepção, mais do que justificar a prática da medicina pelos jesuítas, na ausência de outros capacitados para fazê-lo - "tratando-se de misericórdia para com os pobres quando não existisse médico ou cirurgião"46 -, parece apontar para a crença em uma certa predestinação da Companhia de Jesus para o exercício do apostolado entre os indígenas na América.
Uma vida de sacrifícios, feitos extraordinários, conduta exemplar e renúncia: trajetórias exemplares de missionários5253545975
Nas cartas ânuas da Província Jesuítica do Paraguai que analisamos, encontramos informações tanto sobre a percepção que os jesuítas tinham do martírio47 quanto sobre como se dava a preparação para a morte diante da sua iminência. O relato do martírio que sofreu o pe. Gaspar Osório é antecedido de uma descrição de suas virtudes, com destaque para a prática das austeridades corporais e para as condições em que dormia - um couro de boi como cama e uma pedra como travesseiro -, o que levou o padre relator da ânua a afirmar que "Así es que por su vida abnegada estaba en cierto modo para recibir la corona del martírio".48 Já o pe. Tomás de Ureña, em carta remetida ao pe. Nicolás Durán, em 20 de novembro de 1628, relata da seguinte maneira o martírio de Roque González: "Oh, que feliz vida y muerte. No se puede desear cosa más grande (...) después de haber sufrido tanto dar la sangre por la Verdad (...) y ofrecer nuestra vida a aquel el cual dio la suya primero por nosotros".49
Quanto à preparação dos missionários diante de situações potenciais de martírio, como os ataques dos bandeirantes às reduções, esta pode ser evidenciada numa passagem da necrologia do pe. Diego de Alfaro - inserida na ânua de 1637-1639 - e que dá conta de que ele "se retiró a la soledad para recobrar las fuerzas físicas y espirituales, haciendo los Santos Ejercícios. Allí gustaba las delicias del amor a Jesús y se preparaba a su cercana y gloriosa muerte".50 A descrição feita pelo padre Zurbano nesta ânua parece confirmar a percepção esboçada vinte um anos antes: "Tiene tal celo que no me parece exageración cuando afirmo que ellos buscan la salud de las almas con tanto fervor como si se tratara de salvar su propia alma".51
Por sua natureza edificante, os necrológios se caracterizam pelos elogios fúnebres que ressaltam, sobretudo, as condutas exemplares - de doação ao apostolado - tanto daqueles que haviam morrido pouco depois de cumprirem seus votos e de terem iniciado sua vida missionária quanto daqueles que haviam padecido grandes sofrimentos, como nos trechos que destacamos a seguir:
Murió en este colegio en 1647 el Padre José Quevedo, natural de Córdoba del Tucumán, a la edad de 26 años, apenas acabados los estudios teológicos. Había venido acá para restablecer su salud. Cumplió fielmente sus santos votos. Era de un carácter muy bondoso, y tenía el talento de animar con su jovialidad los recreos, y tenía habilidad para todo. Era muy devoto de María Santísima, de su virginal esposo, y de nuestros Santos, en cuyo honor había prometido ayunar en las vísperas de su fiesta a pan y agua. Así preparado no era de admirar, que sin miedo esperase la muerte.
Além do jovem padre Quevedo, outro padre - com quase cinquenta anos e que também atuava junto ao Colégio de La Rioja - veio a falecer, tendo ressaltadas suas virtudes de pureza e caráter, por ter sofrido resignadamente e em silêncio a enfermidade que o acometeu:
Murió en 1649 el Padre Pedro Herrera, natural de esta misma ciudad, a la edad de 49 años, y a los once años de profesión solemne. Era buen religioso, distinguiéndose por su paciencia (...) Molestado por la enfermedad de cálculos dolorosos, y otros sufrimientos, no suprimió nada de sus ordinarias tareas, confesando y predicando. Sabía bien el idioma de los indios y entendía bien su carácter particular, y viéndolos indefensos en manos de los poderosos, los defendía con intrepidez, no haciendo caso de las críticas malévolas. Estaba como hecho y formado para la evangelización de los pobres. Estando para morir, se le oía exclamar: Más dolor, Señor, y más amor.
Demonstrações de "ardientes deseos" de servir à causa da Companhia de Jesus também podem ser encontradas nos necrológios, como nesta passagem da mesma ânua:
Año 1647; el 12 de Noviembre murió el Padre Carlos Arconato, natural de Milán, profeso de 4 votos, a la edad de 43 años y de 22 años de Compañía. Al querer entrar en la Compañía, se opusieron sus parientes hasta con armas en la mano, pero El no se acobardó y siguió la vocación de Dios. De su espíritu magnánimo da prueba su deseo de dedicarse a las misiones de indios. Cuando yo estaba en Roma de procurador del Paraguay y alistaba la expedición de nuevos misioneros, él se presentó también, y lo admití. (...) Llegado a esta provincia pidió dispensa de ulteriores estudios, para no perder sus mejores años. Hecho ya misionero se dió de lleno a sus tareas, sin hacer caso de la debilidad de su salud. Eran sus delicias rezar el Rosario de noche con los indios. Pronto alcanzó la eterna gloria.
O longo período de Companhia também é motivo de exaltação nos necrológios, como se pode constatar, tanto no elogio fúnebre do pe. Arconato, quanto no do pe. José Cataldino, que atuava junto aos "pueblos del Paraná e Uruguay" e veio a falecer com mais de 80 anos no dia 10 de junho de 1653:"El día, en que murió, se le vió por muchos, en lugares muy distantes, rodeado con rayos de gloria. Falleció después de 15 días de enfermedad, habiendo estado en la Compañía 52, y profesado 44 años ántes".55
Nos necrológios, em geral, são destacados os feitos mais relevantes - e edificantes - dos missionários jesuítas, desde o seu nascimento até sua morte, bem como as dificuldades que estes padres enfrentaram, os objetivos que não puderam ser alcançados e, principalmente, suas maiores provas de fé.56 Invariavelmente, estas demonstrações de fé estão relacionadas à maior ou menor resistência dos indígenas à conversão, às distâncias percorridas, às adversidades climáticas e às condições - sobretudo as de relevo e de vegetação - das regiões que percorreram atuando como missionários.57 Assim, eles nos revelam informações sobre como os missionários buscavam "la salud de las almas", enfrentando ameaças constantes, perigos e obstáculos naturais para atender a grupos de indígenas em regiões distantes até dez milhas do local - redução ou colégio - em que se encontravam.58 Para eles, no entanto, estas dificuldades pareciam pequenas, quando comparadas àquelas decorrentes da ignorância ou da falta de fé, como se pode constatar nesta passagem:
Cuesta mucho llegar hasta allá, porque hay que pasar con mucho peligro por cerros muy elevados, y hay allí gran falta de agua potable. La gente de por allí es extremadamente pobre, pero mucho más ignorante y abandonada, y tiene a su disposición a un solo sacerdote. Sin embargo, de un suelo tan ingrato y espinoso se han recogido para Cristo muy buena cosecha por medio de la predicación y administración de sacramentos, confesándose algunos de los pecados de toda su vida. Volvieron los Padres a su colegio con su ropa completamente deshecha por sus caminatas entre los espinos.
Como regra, os necrológios de padres ou de irmãos que integram as ânuas apresentam uma pequena biografia dos falecidos durante o período por ela abrangido, bem como os sucessos e as dificuldades encontradas no período de atuação como missionário.60 Dentre os muitos, selecionamos o do padre Pedro de Mola, que se encontra na ânua de 1659-1662, e que parece reunir todos os aspectos a que nos referimos até aqui. De acordo com o padre relator, Andrés de Rada, Pedro de Mola nasceu em Aragón, na Espanha, a 17 de janeiro de 1602, tendo fugido muito jovem de casa, devido aos maus tratos aplicados por sua madrasta. A 31 de agosto de 1619,61 contando com 19 anos de idade, foi admitido como noviço na Companhia e, ainda durante seu noviciado, solicitava constantemente aos seus superiores que fosse enviado às "misiones de indios (...) en aquellas dilatadas regiones".62 Após obter a permissão, desembarcou em Buenos Aires, onde concluiu seus estudos, recebendo a autorização para ir "a las tan ansiadas misiones".63
O padre Antonio Ruiz de Montoya,64 que estava implantando a frente missionária do Guairá, incumbiu-o de "fundar el pueblo de San Miguel".65 No entanto, ao chegar ao local, pôde constatar que já estava "bastante adelantado",66 não havendo a necessidade de sua permanência. Desse modo, partiu para San Antonio, que se tornava alvo dos bandeirantes paulistas, mamelucos que se dedicavam ao apresamento de índios, de preferência aqueles que possuíssem algum conhecimento agrícola, caso dos guaranis reduzidos. Segundo o relato, ao presenciar as atrocidades e a destruição promovidas pelos paulistas,67 e encontrando-se sem armas para defender o povoado, pe. Mola optou por fugir, tendo sido encontrado "ronco de hambre y sed",68"en unos montes que sólo son la morada de fieras"69 pelo padre Silvério Pastor.
Após estes acontecimentos, foi enviado à região do Tape, juntamente com o irmão Antonio Bernal, tendo lhes sido designado o povoado de Jesus Maria, local mais avançado dos domínios espanhóis no território do atual Rio Grande do Sul que se localizava na margem direita do rio Pardo, próximo da foz do rio Pardinho.70 Não há informação sobre atuações do padre Pedro de Mola em outras reduções após esta data, havendo apenas menção a sua morte, sem especificação do local em que ocorreu. É plausível supor que tenha morrido em San José,71 pois seu necrológio está inserido nos relatos feitos sobre esta redução, antecedendo as informações sobre a redução de Mártires del Japón no mesmo período. Contudo, segundo Hugo Storni, sua morte ocorreu na missão de Santos Apóstoles, muito próxima de San José.72 A leitura deste necrológio nos põe em contato com a saga do padre Mola e com as grandes distâncias que percorreu para realizar seu trabalho. Recém-chegado da Europa, o jesuíta Mola passou por Buenos Aires, se dirigiu ao Guairá, e, em seguida, para o Tape e, muito provavelmente - quase ao final de sua vida -, se estabeleceu na mesopotâmia dos rios Paraná e Uruguai, de onde partia para as atividades de atendimento espiritual. Vale lembrar que muitos desses deslocamentos eram feitos a pé, o que trazia inevitáveis desgastes físicos em função dos esforços para vencer tais distâncias.
O destaque dado a este tipo de informações está presente no necrológio do padre Francisco Jiménez,73 que integra a ânua de 1668. Nele, podem também ser encontradas várias referências às distâncias, às condições de terreno, em especial às longas distâncias percorridas e às viagens intermináveis, enfatizadas com o objetivo de demonstrar o empenho constante e a fé do missioneiro diante das dificuldades. Na perspectiva dos padres relatores das ânuas, somente o ardor missionário e a fé podiam justificar a resignação com que estes jesuítas percorriam lugares inóspitos, atravessavam rios e pântanos, passavam fome e se defrontavam com populações indígenas hostis. Assim, as inúmeras demonstrações de fé, virtude e dedicação do missionário falecido são enaltecidas pelo narrador, com a intenção de servir de inspiração aos jovens missionários, o que fica evidenciado na afirmação feita por Andrés de Rada de que "tuviera yo que alargar demasiado esta narración al enumerar los actos de heroica virtud, que ejercía con su constancia en el camino una vez emprendido".74 A impressão que temos ao lê-lo é a de que são tantos os seus feitos que estes não cabem em apenas um pequeno relatório como uma carta ânua, pois, de acordo com seu necrológio, o pe. Jiménez
logró ser enviado a estas apartadas regiones (...) a muchas léguas de distancia (...) a cinquenta léguas se adelantó por regiones pantanosas (...) su ropa se había deshecho totalmente durante este trabajoso viaje (...) atravesando los rios en pequeñas y peligrosas canoas (...) en tierras pantanosas pasó por un riachuelo muy crecido (...) llegandole el água hasta el pecho (...) atormentó tanto el hambre durante el viaje, que hubo necesidad de matar el caballo (...).
Apesar de terem sido redigidos por diferentes narradores e em períodos distintos, constata-se, nos necrológios - tanto de padres, quanto de irmãos - que integram as cartas ânuas da segunda metade do século XVII que analisamos, a exaltação dos feitos dos jesuítas falecidos, como pudemos mostrar nos dois necrológios que destacamos: os missionários jesuítas - movidos e fortalecidos pela fé - não temeram as distâncias, as selvas, o frio, o calor, os rios caudalosos, a altitude das montanhas ou qualquer outra dificuldade que se lhes apresentou.
Dentre as inúmeras demonstrações irrefutáveis de fé ressaltadas pelo padre relator da carta, destacamos a que refere que o irmão Antonio Bernal76 não se incomodava em fazer a pé um trajeto de 100 léguas (cerca de 550 quilômetros);77 a que dá conta de que o padre Juan de Humanes não se importava em atender a qualquer hora e sob qualquer condição climática ou, então, a que informa que o padre Diego de Salazar permaneceu isolado e sem qualquer contato por quarenta e dois anos, dedicando-se exclusivamente ao trabalho missionário junto aos indígenas.
Há, ainda, muitas outras que enfatizam a abnegação com que os missionários realizavam seu trabalho, tais como pe. Pedro de Salas, que "para explorar aquellas selvas (...) en cima de las montañas, a través de rios", transpôs "intransitables caminos";78 como o pe. Juan de Acuña, que realizou viagem "de 14 léguas de pésimo camino [que] le costó a el mismo la vida";79 o pe. Francisco Ricardo, que não se furtava de, com "grandísimos trabajos", buscar "a los bárbaros en los enconderijos de las selvas";80 o padre Pedro Martinez, que "No pocas veces expuso su salud a los grandes calores de médio dia en el verano" e de outros que chegaram a correr risco de vida como o irmão Juan de Aragón que sofreu "naufragio al entrar en el dilatado Rio de la Plata"81 ou o irmão Luís de la Cruz que "estuvo sumergido en las águas hasta el cuello por espacio de varias horas".82
Descrições como as do missionário que "volvia a pie"83 ou que ia "para explotar aquellas selvas (...) en cima de las montañas, a través de ríos [e] intransitables caminos",84 contribuem para ressaltar os grandes esforços empreendidos pelos missionários em face da geografia da região que percorriam. Assim, o relevo, a vegetação e o clima aparecem como pano de fundo essencial para os relatos edificantes: os rios são "dilatados" em sua extensão ou profundidade; o clima é descrito como de "grandes calores"; a selva na qual adentravam "escondia os bárbaros" e as montanhas ou montes são "empinados" e difíceis de vencer. Os péssimos caminhos percorridos "custavam vidas" e as distâncias eram tão grandes que implicavam décadas de isolamento. É neste cenário que se desenrolaram as histórias de vida dos missionários a que temos acesso nos necrológios dessas cartas.
A enfática reafirmação da inabalável fé dos jesuítas no cumprimento de sua missão é padrão narrativo recorrente nas cartas ânuas, cujos relatos tinham, dentre os seus objetivos, o enaltecimento da própria Companhia e de sua obra. Em se tratando dos necrológios que estamos apresentando, constata-se que a vida de cada missionário deveria ser resumida em poucas palavras, com destaque para os seus maiores feitos. Desse modo, as dificuldades geográficas aparecem com a mesma recorrência que as questões relacionadas ao trato com as populações indígenas, por exemplo, ou com as dificuldades com as autoridades locais, ou mesmo a difícil relação da Companhia com o clero secular.
Os necrológios, portanto, trazem em maior número - e com maior força narrativa - as representações de uma geografia inóspita e da desgastante tarefa de transpô-la. Assim, os rios, vales, campos, florestas, montanhas e tudo o mais que caracterizasse o caminho percorrido pelo missionário serviam como prova de fé, não restando alternativa a não ser enfrentar e superar tal dificuldade. Neste tipo de relato, as dificuldades são sempre vencidas; a geografia, embora muito difícil de ser enfrentada, é sempre apenas um obstáculo que, no entanto, não significa impedimento, mas, sim, uma forma de testar a fé e ressaltar as qualidades do missionário.
Vale ressaltar que as descrições do relevo, do clima e da vegetação que encontramos nas ânuas não destoam do real encontrado ou vivido pelos missionários. Suas representações, no entanto, são superdimensionadas e usadas magistralmente como recursos discursivos para a comprovação e a valorização dos trabalhos desenvolvidos pelos padres da Companhia de Jesus. As grandes viagens e as grandes distâncias são, de fato, argumentos irrefutáveis de que os trabalhos se realizavam em condições-limite e que exigiam grandes esforços. As dificuldades encontradas são, a certa altura, comparadas aos Doze trabalhos de Hércules, como nesta passagem que destaca que o padre Juan Contreras "hubiérase hasta un Hércules (...) en especial, cuando tuvo que registrar los montes, para buscar os fugitivos".85 Os trabalhos de Hércules, como sabemos, estão relacionados a grandes desafios, tais como o de matar leões invencíveis e dragões de cem cabeças; limpar, em apenas um dia, currais que comportavam três mil bois; ou, então, perseguir animais incansáveis que, somente com a obstinação de um herói mitológico, poderiam vir a ser executados.
Ao estabelecer esta comparação - entre o missionário e Hércules -, o redator da ânua enaltece as dificuldades encontradas por todos os missionários que atuavam na Província Jesuítica do Paraguai, vinculando-as às criaturas mitológicas e aos desafios que apenas um herói conseguiu vencer. O certo é que este tipo de "elogio fúnebre" se aproxima bastante das histórias de vida dos santos, nas quais o martírio e a virtude cristã são exaltados, a exemplo de algumas condutas de jesuítas descritas nas necrologias.
Esta pretensa "invencibilidade" do missionário jesuíta pode ser observada na atitude "dos religiosos frente aos 'obstáculos' naturais, [pois] conforme os documentos, não sofrem ferimentos ao cair da montaria (...) estão imunes aos perigos de ventanias e tormentas". Se algum desses missionários não consegue vencer tais obstáculos, a justificativa é a de que "fatalmente acontecem devido à conduta mártir, para a qual estavam destinados".86 Portanto, a lógica da narrativa gira em torno da construção de um discurso edificante, em que as dificuldades encontradas, tanto aquelas decorrentes dos deslocamentos quanto aquelas resultantes de eventos climáticos, são invariavelmente resolvidas com demonstrações de fé dos próprios religiosos ou, então, da população - de indígenas, sobretudo - que eles atendiam espiritualmente. Demonstrações como estas não mereciam ser apenas registradas, mas também rememoradas e evocadas, para a "sobrevivência em glória na memória dos homens que estão por vir [e para que] seu renome subsist[a] imperecível em vez de desaparecer no anonimato do esquecimento".87
A consagração póstuma do padre Antônio Ruiz de Montoya, aquele que "viveu como morreu, sempre santo" - uma análise de suas mais representativas biografias102109111
É importante destacar que, para os membros da Companhia de Jesus, a memória "se configurava como uma das exigências institucionais para a 'ajuda das almas'". Dentre as exigências previstas nas Constituições da Companhia de Jesus estava a de que, "além das faculdades da inteligência e da vontade", o postulante demonstrasse "'a capacidade de aprender e fidelidade para reter o que se aprende'".88 Para garantir a unidade da Companhia, Loyola agregou a orientação de que os missionários deveriam relatar e compartilhar suas experiências missionárias,89 pois "lo que se escribe es aún mucho mas de mirar que lo que se habla; porque la escritura queda, y da siempre testimonio, y no se puede así bien soldar ni glosar tan facilmente como quando hablamos".90 A prática epistolar, em razão disso, além de minimizar os efeitos da dispersão dos missionários a serviço do apostolado em "terras de missão", constituiu-se em forma bastante eficiente de aplicação das capacidades de "reter o que se aprende" e de recordar.91
A Companhia de Jesus não se limitou, contudo, à prática epistolar para o atendimento da orientação de "glosar y dar siempre testimonio", recorrendo a outras estratégias para a instituição de suportes de memória, tais como as crônicas, as biografias e as sínteses históricas elaboradas por historiadores oficiais ou não. De acordo com Efraim Cardozo, "Desde la época temprana de su definitiva radicación en el Paraguay, la Compañía de Jesús se encargó de tener [una historia oficial de la Província Jesuítica del Paraguay]", atribuindo sua elaboração a "sujetos de su seno, calificados por sus luces y sus letras", que tinham como principal objetivo "historiar los esfuerzos evangelizadores cumplidos por la Compañía".92
Em todos estes gêneros narrativos, independentemente da sua função primordial ou destinação, constata-se o recurso à consagração póstuma, que consiste na destinação de um indivíduo de exemplar devotamento ao que poderíamos denominar de "templo da memória". Ao destacar as virtudes do morto e silenciar sobre suas imperfeições - recorrendo a um procedimento seletivo de "esquecimento" -, tanto as biografias quanto os necrológios dos mais destacados jesuítas se caracterizam por exaltar a exemplaridade de suas condutas que deve ser recordada.93
Um dos mais destacados jesuítas do século XVII, o padre Antonio Ruiz de Montoya94 foi alvo desse processo de consagração póstuma, logo após o seu falecimento em 11 de abril de 1652. Exaltando sua conduta exemplar, o primeiro provincial, Diego de Torres Bollo, descreveu Antônio Ruiz de Montoya como "varón perfecto, de mucha oracion (...) en la conversión de la gentilidad acomete muchos trabajos con riesgo de la vida (...) de muy buen gobierno, fue pecado quitarle los estudios, porque pudiera ser provincial; imita los pasos de nuestro San Francisco Xavier en ánimo, trabajo y discreción".95
A mais antiga biografia sobre o pe. Montoya foi produzida por Francisco Xarque e data de 1662, intitulando-se "Vida del V. P. Antonio Ruiz de Montoya".96 Nela, Xarque dedica um capítulo à "Muerte dichosa del P. Antonio Ruiz de Montoya. Revelaciones de su gloria", descrevendo-o como "un apostólico padre (...) cuyo vivir fué un continuado morir y penar", sendo que poucos meses antes de morrer, "estando en el colegio de Lima en oración fervorosa, ofreciéndose a nuevos martírios (...) aumentó las penitencias, ayunos, disciplinas y otras mortificaciones para merecer la divina misericórdia". O biógrafo prossegue o relato, informando que "en esta ocupación (...) le sobrevino una ardiente calentura que le gastó toda la sangre, causándole en su debilitado cuerpo intensísimos dolores (...) y entendió ser estos precursores de su muerte [...[ no los había de poder resistir".97
Transportado de liteira ao Colégio São Paulo de Lima, foi atendido por médicos que, reconhecendo a gravidade do quadro, "ordenaron se le diesen luego los sacramentos", após os quais, veio a falecer. Na tarde do dia seguinte, foi sepultado "con concurso grandísimo, besando unos el venerable cuerpo, otros tocando en él sus rosários y así alcanzar por gran merced alguna relíquia suya".98 De acordo com seu primeiro biógrafo, "El P. Antonio Ruiz murió como vivió, siempre santo (...) y en muchos días no se hablaba de outra cosa que de los singulares ejemplos de sus virtudes, de los gloriosos trabajos que había padecido en la predicación del Evangelio".99
Historiadores como Efraim Cardozo e Rubén Vargas Ugarte também ressaltam que seu "solemne entierro" em Lima teria sido feito "a prisa", pois "su fama de santidad era tan grande (...) y el concurso de la gente, grande, que a porfia le cortaban el vestido para guardarlo(...) y los dedos y cabellos para relíquia"100 e que, dada a sua "fama de misionero apostólico y santo", ao seu funeral, na cidade de Lima, "acudieron el Virrey y la Real Audiencia".101 Na obra de Xarque encontramos o primeiro registro de "benefício de Dios por su intercesión", com a promoção da cura "de un mal que médicos y cirujanos daban por incurable" mediante "relíquia del Venerable Padre":
Tuvo ventura que llegó a sus manos una carta que el Padre había escrito (...) Recibióla con grande reverencia y devoción, aplicóla a la disforme llaga con viva fe en los méritos de aquel gran varón, que ella había venerado por santo; durmió con grande descanso toda aquella noche (...) por la mañana quiso reconocer el estado de su llaga, que no sentía ya rastro de dolor (...) hallóse del todo sana, y que toda la matéria y podredumbre se había pegado a la carta. Quedó no menos admirada que agradecida al Señor, y a su siervo el P. Antonio, a cuya relíquia atribuía aquella repentina y milagrosa cura, y para mayor gloria de los dos, se hizo pregonera de aquel portento".
Em decorrência deste primeiro "portento", foram resgatadas "las memórias de las obras milagrosas que Dios había obrado por él de que ellos mismos habían sido testigos de vista", bem como as "profecías varias de cosas futuras que muchos años antes que sucediesen se las había anunciado (...) y todas las habían visto al pie de la letra cumplidas".103 A obra de Xarque menciona, ainda, outros milagres "por intercesión del Venerable Padre", como a cura de Nicolas Ruiz, "compañero fidelísimo en todas las peregrinaciones del P. Antonio", de "una desinteria de sangre"; de um índio carpinteiro e de uma menina de seis anos que "padecia de gota coral", aos quais se somam "casos milagrosos (...) que había obrado vivo", como a cura de um irmão coadjutor da Companhia que atuava no colégio de Assunção.104
O historiador argentino Ernesto Maeder, por sua vez, destaca que "ya en su época", desfrutava de "una justa fama como apóstol de los guaraníes", razão pela qual "los índios del Paraguay", ao serem informados de sua morte, "reclamaron su cuerpo para sepultarlo en las misiones".105 De acordo com Francisco Xarque e Efraim Cardozo, o próprio Montoya havia pedido que "si muriese [..] sus huesos" deveriam ser sepultados "en su tierra", entre os índios "que tanto había amado y defendido".106 Ao referirem-se ao traslado do corpo, Cardozo o descreve como "imponente cortejo", aproximando-se de "una apoteósis", enquanto Vargas Ugarte ressalta que "no fue cosa fácil trasladarlos a tan gran distancia y su conducción vino a ser un verdadero triunfo".107
De acordo com Guillermo Furlong, foram enviados quarenta índios da redução de Nuestra Señora de Loreto para fazer o traslado dos restos mortais do missionário. O cortejo - que saiu de Lima - passou por Potosí, Salta, Tucumán, Santiago del Estero e Córdoba, seguindo depois, por via fluvial, rumo a Asunción. Ao descrever a última parte do trajeto, que foi feito pelo rio Paraná, em balsa "convoyada de otras muchas de índios amigos", Xarque destaca que "quiso el cielo con un nuevo milagro declarar los grandes meritos del Venerable Padre Antonio Ruiz y conciliar nueva reverencia a sus relíquias".108 De acordo com ele:
Levantóse una brava tempestad, con que todas las demás balsas se fueron a pique, aunque se salvo la gente, y sola la que llevaba el cuerpo del apostólico Padre no se hundió, con admiración de todos, por haberse llenado de água las dos canoas; pero que maravilla que el cuerpo vencedor de la borrasca surgiese en salvamento de la tierra cuando el alma dichosa, superior a tan desechas tormentas de trabajos y persecuciones, rica de tantos merecimientos y tan heróicas virtudes tomo el deseado puerto en el cielo.
De acordo com a biografia produzida pelo padre jesuíta Carlos Teschauer, a vida de Antônio Ruiz de Montoya foi repleta de "atos de heróica virtude", tendo sido marcada pelo uso de cilícios, jejum, penitências e disciplinas para "conservar a pureza da alma e do corpo e vencer a lascívia", o que atesta o pleno cumprimento de seu apostolado: "'Ou padecer ou morrer'". Segundo o mesmo autor, ao ser aberta a sua sepultura, após meses de seu falecimento, constatou-se que o corpo estava consumido, restando intactos e brancos os dois pés, como se tivessem acabado de ser enterrados. Após esta revelação surpreendente, difundiu-se, ainda mais, sua fama de milagreiro.110
Uma passagem da carta ânua da Província Jesuítica do Paraguai, referente aos anos de 1659-1662, parece confirmar a difusão da santidade do "apóstol de los guaraníes" nos anos seguintes ao seu falecimento:
(...) pois se cobriram as tampas do ataúde do apostólico Padre Antonio Ruiz de Montoya de um copioso suor que parecia indicar os grandes sofrimentos e humilhações pelos quais tiveram que passar os nossos padres junto à missão entre os calchaquís, ocasião em que foram vergonhosamente e injustamente expulsos de sua morada. Os primeiros da Província do Guairá convertidos pelo padre Antônio Ruiz de Montoya foram precisamente os habitantes do povoado de Loreto. Por isto, eles guardam os restos daquele padre em sua Igreja, como um tesouro de inestimável preço. A memória daquele Padre encontra tanta veneração entre eles que a ele fazem pedidos e promessas com bons resultados. Assim que, havendo esta crença bem fundada, três enfermos do povoado, já desenganados, recobraram a saúde por intercessão do padre Antônio.
As biografias produzidas sobre o padre Antônio Ruiz de Montoya que analisamos neste tópico e a passagem que destacamos da ânua revelam que, em torno do jesuíta, fundou-se uma memória que se assentou sobre sua consagração póstuma e, sobretudo, sobre sua fama de apóstolo exemplar e santo. Ao ser acionada por missionários e indígenas, esta memória parece não apenas evocar a busca pelo martírio - que muitos jesuítas procuraram alcançar nas "terras de missão" - e, consequentemente, o revigoramento do ideal apostólico da Companhia de Jesus -, mas, também, de um passado "que assim se torna mestre do futuro, [através das] sombras venerandas de alguns mortos que parecem surgir incessantemente do abismo das sepulturas para mostrar aos vivos a estrada do dever (...)".112
Considerações finais
Escritas com o objetivo de registrar o que ocorria nas diferentes áreas de atuação missionária da Companhia de Jesus, as cartas ânuas não se constituíam de diários de viagem ou de relatórios pessoais, mas de correspondência orientada para o registro edificante. Assim, dificuldades e fraquezas momentâneas mereciam registro por serem encaradas como inerentes ao processo de privação e de provação a que os missionários deveriam se submeter, mediante rigorosa observância dos votos de pobreza e castidade e de uma vida de virtude e penitência para maior glória de Deus.
A observância desta orientação parece se confirmar nos registros que dão conta de missionários que se embrenhavam em cenários naturais - ao mesmo tempo espetaculares e assustadores - e que entravam em contato com populações nem sempre amistosas e quase sempre pagãs. Em nenhum momento os missionários que vivenciaram estas experiências se mostraram abalados em sua fé diante das dificuldades impostas pela geografia, quer estivessem atuando no alto das montanhas andinas ou nos pântanos próximos de Assunção. Pelo contrário, estas experiências, socializadas através da intensa correspondência mantida entre os membros da Companhia de Jesus, se constituíam em fator de enaltecimento do trabalho missionário e de justificativa para a continuidade do apostolado, reforçando a identidade do grupo e atendendo a uma das orientações de Inácio de Loyola, que era a de "glosar y dar siempre testimonio".113
O mesmo pode ser observado na ênfase que alguns padres relatores deram às "heróicas virtudes" e à atitude de resignação que estes jesuítas adotavam diante da morte iminente, tanto daquela decorrente de longa e grave enfermidade quanto daquela tida como martírio, por ter sido provocada por ataque violento a sua integridade física e a sua fé.
Mais do que contribuir para a reconstituição das condições e os desafios que estes religiosos efetivamente enfrentaram, a análise das ânuas, necrológios e biografias permite avaliar os efeitos que as narrativas destas experiências - individuais ou coletivas - exerceram sobre os seus leitores europeus ou americanos.114 Os necrológios, em especial por sua natureza hagiográfica, possuem como temática central a biografia e os feitos de um determinado indivíduo, com o objetivo de instruir e edificar os cristãos na fé, sendo, consequentemente, importantes veículos para a propagação de concepções teológicas, modelos de comportamento, padrões morais e valores.115
Neles, prevalecem a exaltação das virtudes e a descrição da trajetória - marcada por demonstrações de fé inabalável - do missionário na Companhia, não havendo maior preocupação do relator em descrever ou precisar a causa da morte, mas em ressaltar o empenho dos padres em atender devotadamente "a todas las necesidades espirituales de aquellos pobres indios".116 Além de trazer informações sobre como estes padres buscavam "la salud de las almas", enfrentando privações, ameaças constantes e obstáculos naturais para atender a grupos de indígenas, estes elogios fúnebres estão direcionados para a definição de modelos de conduta virtuosa que deveriam ser observados, apontando para a função pedagógica e de consagração póstuma que eles desempenhavam para a Companhia de Jesus.
Evocados em alguns momentos da história da Companhia de Jesus, alguns desses homens virtuosos - como o padre Antônio Ruiz de Montoya - que escolheram "deliberadamente a possibilidade de perder [a vida], ao arriscar-se em cada confronto" garantiram a sua "sobrevivência em glória na memória dos homens que est[avam] por vir, [e assim] continuar a existir (...) em vez de desaparecer no anonimato do esquecimento."117 As descrições feitas sobre a sua trajetória exemplar como missionário e o destaque dado à resignação demonstrada diante da enfermidade, aos contornos místicos que envolveram seu cortejo fúnebre e aos milagres a ele atribuídos parecem ser os recursos narrativos necessários para a consagração da memória de padres que, como ele, "viveram como morreram, sempre santos".
A "muita tinta e [o] papel corrido"118 empregados na valorização das condutas exemplares de alguns missionários jesuítas parecem apontar para a reiteração de um modelo de vida virtuosa definida por Inácio de Loyola tanto para os membros da Companhia de Jesus quanto para aqueles que buscavam a salvação do corpo e da alma, bem como para a utilização estratégica da consagração póstuma para a construção de uma memória laudatória acerca da atuação da ordem na América meridional.
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Notas
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