Introdução4
A tradução e o estudo do Conto do Náufrago são tarefas inevitáveis para qualquer estudante da língua egípcia clássica (o egípcio clássico ou egípcio médio). No que diz respeito ao exercício da tradução, o texto apresenta um vocabulário rico e estruturas verbais e nominais que fornecem uma base sólida para o avanço no estudo da língua. Sua importância, contudo, não se dá apenas pelo aspecto linguístico. O conteúdo literário expressa valores fundamentais sobre a história e a sociedade egípcia antigas. De fato, a sua popularidade e importância são as razões para a existência das muitas traduções disponíveis, também em língua portuguesa (CARDOSO, 1998; BRANCAGLION, 2006; CANHÃO, 2012, 2014).5
O presente trabalho é resultado de um esforço coletivo durante os anos de 2020 e 2021 para a realização do primeiro curso de língua egípcia clássica online e gratuito no Brasil (PEREIRA; ROCHA DA SILVA, 2021). O curso reuniu professores e alunos de 24 instituições brasileiras de todas as regiões do país e incluiu uma universidade argentina. Ele foi promovido pelo Laboratório do Antigo Oriente Próximo da Universidade de São Paulo (LAOP-USP) e pela Universidade Federal de Santa Catarina, ministrado pelos autores deste texto. As vídeo-aulas estão disponibilizadas com acesso aberto no canal do Grupo de Trabalho de História Antiga (GTHA-ANPUH) no YouTube.6
Esse projeto teve como objetivo principal suprimir uma deficiência na formação dos pesquisadores brasileiros dedicados à história e à arqueologia do Egito Antigo, que é o treinamento em língua egípcia clássica. A familiaridade com a escrita e a língua egípcia antigas é o que possibilitará que novos pesquisadores não dependam de traduções estrangeiras, seja em espanhol, inglês, francês ou alemão, e possam verdadeiramente se aproximar de uma visão êmica sobre o Egito Antigo. Mais ainda, problematizar aquilo que foi estabelecido por traduções enviesadas e problemáticas ao longo dos séculos XIX e XX.
No caso brasileiro, é preciso reconhecer esforços anteriores, como os de Ciro Cardoso e Antonio Brancaglion, mas que, infelizmente, ficaram limitados geograficamente à região sudeste do Brasil, ou aos seus respectivos alunos de pós-graduação. Com a expansão do número de especialistas na década de 2000 e de novos centros de formação em outras áreas, era necessário criar condições para que esse conhecimento se tornasse acessível e democratizado. O protagonismo da produção lusófona sobre a antiga sociedade egípcia certamente passa pelo estudo do egípcio clássico.
O Conto do Náufrago possui três versões brasileiras. A primeira publicação ocorreu em 1998 em tradução bilíngue (CARDOSO, 1998, p. 95-144). A segunda, de 2000, apresenta apenas uma tradução em português, integrada a uma antologia (ARAÚJO, 2000, p. 73-79). A terceira, de 2006, foi editada como uma nova versão bilíngue (BRANCAGLION, 2006, p. 161-191).
Em Portugal, o conto foi publicado pela primeira vez em 1901 (ESTEVES PEREIRA, 1901, p. 5-23), embora se trate apenas de uma tradução a partir da versão francesa produzida por Maspero (1882).7 Uma tradução portuguesa do original egípcio só foi produzida em 2010 numa tese de doutorado (CANHÃO, 2010a; 2010b). O autor republicou o mesmo texto numa obra autônoma em 2012 (CANHÃO, 2012) e reaproveitou o texto numa antologia em 2014 (CANHÃO, 2014). Todavia, essa versão apresenta incoerências na relação entre a transliteração e a tradução.8
Além disso, o autor apoiou uma teoria superada a respeito da localização do país de Punt, ao defender uma proposta antiga e polêmica de que a história se passava no Nilo, e não no Mar Vermelho.9 Essa era uma proposta difícil de ser defendida no meio acadêmico (COUYAT; MONTET, 1912, p. 34, n. 114; SAYED, 1977, p. 138-178; KITCHEN, 1982, col. 1198-1201), mas afetou a tradução do conto feita por Le Guilloux (LE GUILLOUX, 1996, p. 9).10 O caso foi encerrado pelo progresso da investigação arqueológica no Mar Vermelho, auxiliada pelas repetidas referências ao “grande verde” no registro epigráfico de oficiais egípcios em serviço na região, como Henu, Ameny, Ankhu e Antefoker (OBSOMER, 2019, p. 7-66).
Este trabalho pretende ampliar o alcance das contribuições lusófonas sobre o tema. Apresenta-se aqui o texto original transcrito para a escrita hieroglífica e uma tradução comentada, do ponto de vista gramatical e estrutural da língua, junto ao debate em torno da interpretação de determinadas passagens. Espera-se que esta versão se torne uma ferramenta para estudantes e professores de egípcio médio em português e promova mais acesso ao seu conhecimento.
A gramática, a terminologia e as convenções de transliteração das palavras aqui adotadas seguem Pereira (2016 [2014]).11 O dicionário adotado foi o de Hannig (2006), com ocasionais consultas comparativas aos dicionários de Bonnamy e Sadek (2010 [2009]), Faulkner (1991 [1962]), e ao Thesaurus Linguae Aegyptiae (TLA).
O papiro
O papiro Hermitage 1115 (= P. Leningrad 1115; = P. St. Petersburg 1115) encontra-se em exposição no Museu Hermitage, em São Petersburgo. Ele possui 12 cm de largura por 3,8 m de comprimento. O texto está organizado em colunas (1-123) e passa para linhas (124-176). Finalmente, o texto retorna ao formato de colunas (177-189). Aceita-se que o texto seja datado entre as XI e XII dinastias (Reino Médio).12
Vladimir Golénischeff apresentou o papiro à Academia no V Congresso de Orientalistas em 1881. Todavia, o texto só foi publicado integralmente pela primeira vez em 1908, com a sua primeira transcrição proposta por Erman (1908). Golénischeff (1913) propôs uma transcrição hieroglífica própria em um estudo geral sobre os papiros conservados no Museu Hermitage.
Outra transcrição foi publicada por Blackman (1932, p. 41-47). De Buck publicou uma revisão dessa transcrição em 1948 (DE BUCK, 1948, p. 100-106). Essas duas obras se alternavam como a versão dominante entre os egiptólogos. A de Blackman veio a sofrer um novo ajuste num artigo de Posener (1976, p. 146-148). Atualmente, uma nova transcrição discute o texto original diretamente do hierático, sendo esse o modelo mais atualizado do texto disponível (POE, 2010 [1996]). Dentre as inúmeras versões traduzidas para antologias, destaca-se a de Miriam Lichtheim (1973, p. 211-215).
O texto
O escriba comete erros nas linhas 7, 12, 31, 74, 142 (talvez) e 143. Uma particularidade da ortografia desse escriba é a substituição dos hieróglifos
(D37) e
(D40) pelo
(D36), mais simples. Essa característica foi respeitada na transcrição do texto, mas o glossário do apêndice corrigiu a anomalia para facilitar a consulta dessas palavras em dicionários mais completos. Outra peculiaridade do texto é o uso do pronome dependente de primeira pessoa,
wj, num modelo incomum de construção reflexiva (linhas 53, 156 e 161).
O texto é rico em exemplos de formas verbais no estativo e relativas, e de verbos na voz passiva. Esses casos normalmente estão escritos com uma terminação defectiva, o que é útil para testar os conhecimentos gramaticais do leitor.
A transcrição de todos os casos de escrita defectiva está corrigida com o acréscimo de conteúdo entre parênteses.
Sinopse
Uma expedição egípcia fracassada retorna da Baixa Núbia (Wawat). O comandante, receoso por seu futuro, é consolado por um leal membro da corte. Enquanto o navio atraca nos arredores de Elefantina, ele oferece conselhos inspiradores e então lhe conta uma história incrível sobre algo que lhe acontecera no passado.
Tem início, então, o relato sobre uma expedição a uma remota região mineradora. O personagem, agora transformado em protagonista, tornara-se o único sobrevivente de um naufrágio. Enquanto ele explorava uma ilha misteriosa nos confins do Punt, deparou-se com uma serpente mágica gigantesca.
Após se tornarem amigos, a serpente acolheu o náufrago como hóspede na sua então chamada “Ilha do Ka”, até que ocorresse o seu resgate por uma outra expedição egípcia. O relato é concluído com a chegada do protagonista à corte faraônica, onde ele reporta a sua experiência. O faraó recebe os presentes da serpente e o náufrago é generosamente recompensado.
Ao final do relato fantástico, o leitor é transportado para o presente narrativo, retornando para o cenário inicial do navio aportando em Elefantina e para os esforços do protagonista em consolar o seu líder.
A Ilha do Ka
A Ilha do Ka é um espaço idealizado, geograficamente distante e inacessível, onde se constrói retoricamente uma proposta social, política e espiritual. O contato com a ilha ocorre nos confins do mundo conhecido, num país semilendário e exótico (KITCHEN, 1982, col. 1198-1201). Os relatos heróicos, os espaços monstruosos e as interações com o sobrenatural ocorrem com maior frequência em narrativas ambientadas em fronteiras simbólicas, sempre associadas ao mar ou a acidentes geográficos particulares (ALBUQUERQUE, 2010, p. 50 ff.; MARTINEZ, 1999, p. 243-279).
Um forte simbolismo da ilha está ligado ao mito da criação e ao momento em que emerge o monte primordial e o deus Tatenen. Ilhas também são representações comuns na descrição do além (ALTENMÜLLER, 1975, p. 321 ff.; FAULKNER, 1972, p. 91 ff.).13 A Ilha do Ka, enquanto fronteira transcendente, está situada entre os mundos físico e espiritual e é guardada por uma serpente demoníaca.14
Um demônio-guardião está “aprisionado” ao espaço que protege, seja ele no mundo material ou imaterial, possivelmente por obediência ao desígnio de um deus de quem é vassalo (EDWARDS, 1960). Assim, fica aqui proposta a leitura de um possível nome/epíteto, “Governante do Punt”, referido na linha 151. Ele poderia descrever uma delimitação física do domínio da serpente e o espaço que limita a sua mobilidade enquanto guardião espiritual.
A natureza ambígua da serpente se reflete na palavra egípcia para “veneno” (mtw.t), que é também empregue para “esperma” (HANNIG, 2006, p. 396). Uma vez que é o seu esperma que traz a morte, contrariamente ao que ocorre com os demais seres vivos, uma tênue separação entre vida e morte faz da serpente uma criatura de natureza imprevisível e contraditória. A serpente pode representar igualmente forças negativas e positivas (STEGBAUER, 2019). Os poderes do demônio-guardião condizem com essas características. Paralelamente ao veneno de uma serpente que queima quando inoculado e provoca febres na sua vítima, a serpente do conto pode lançar chamas pela sua boca (linhas 70-73).
A natureza da poderosa serpente Governante do Punt é um mistério, embora muito se especule a esse respeito. O fato de conseguir criar uma filha com o poder das suas preces (linha 129), demonstra que a serpente possuía um logos criativo divino, tal como ocorre no mito da criação pelo verbo da “Teologia Menfita” (FLEMING; LOTHIAN, 1997). Essa informação é muito relevante, porque a fronteira ontológica entre deuses e demônios é delimitada pela premissa de que os demônios não possuiriam a capacidade de criação. Assim, o Governante do Punt não seria um mero demônio-guardião a serviço de uma divindade, mas sim a manifestação de um aspecto de uma divindade criadora. Um caso similar ocorre no Livro da Vaca Celeste, em que o demônio Sekhmet é, na verdade, um aspecto da deusa Hathor (HORNUNG, 1982).
Especula-se uma conexão entre a serpente e o deus Rá. Na linha 127, a serpente menciona que a ilha era habitada por 75 serpentes, número que descreve os aspectos do deus na “Litania de Rá” (PIANKOFF, 1964; DERCHAIN-URTEIL, 1974, p. 101). Se a serpente for um aspecto de Rá, confirma-se a proposta de Derchain-Urteil de que a filha criada pela serpente era, de fato, uma referência à deusa Maat (DERCHAIN-URTEIL, 1974, p. 83-104).
A geopolítica egípcia na fronteira meridional
As campanhas de conquista do Wawat iniciam-se no reinado de Mentuhotep II (XI dinasta, ca. 2055-2004 a.C.) e seguem com os governantes da XII dinastia. Senusret I (ca. 1956-1911 a.C.) estabeleceu a fronteira em Buhen, e Senusret III (ca. 1870-1831 a.C.) expandiu o Egito até Semna. A presença egípcia na região exigiu o estabelecimento de uma fronteira fortificada na área de Semna, criada durante o reinado de Senusret III.15
Uma complexa estrutura administrativa também viabilizava as rotas de longa distância para o sul do Mar Vermelho. A sua logística dependia de portos intermediários estabelecidos ao longo do Deserto Oriental. Um porto estratégico naquela área foi Tjau (
), a Myos Hormos da documentação greco-romana (atual el-Quseir) (PEACKOK et al., 2011).16 Uma rota terrestre, de aproximadamente 200 km, percorre todo o wadi Hammamat, ligando aquele porto a Coptos (g b t j w).17
A rota terrestre do wadi Hammamat tornou-se um recurso epigráfico importante para a documentação desse tráfego, graças ao grande número de grafites deixados pelas expedições através de séculos de uso da trilha. Estima-se que essa rota para o Punt18 tenha sido estabelecida no Reino Médio, no final da XI dinastia, sob o governo de Mentuhotep III, em ca. 1996 a.C.19
A conexão terrestre com o Mar Vermelho integrava as navegações na região mineira do Sinai e portos de escala mais próximos da capital (TALLET, 2015, p. 31-72). Desses portos, Mersa Gawasis tornou-se particularmente relevante para o comércio com o Punt (OBSOMER, 2019, p. 7-66). Os grandes navios para lá destinados eram construídos em secções em Coptos (gbtjw) e Qena (
), incluindo velas de linho, cordames de cânhamo, pranchas, mastros etc., e transportados em seções para Mersa Gawasis através do wadi Hammamat ou do wadi Safaga.20 Em seguida, os navios eram armados e equipados para as expedições.21
As expedições para o Punt incluíam o comércio com populações locais (negociações lideradas pelo emissário) e a atividade mineira (MANZO, 2017, p. 87-108; BARD; FATTOVICH, 2018). Possivelmente, as “Minas do Soberano” referidas no conto são uma alusão a um lugar denominado “Minas de Punt” (
), ligada à extração de ouro. O registro epigráfico no Mar Vermelho aponta esse termo pela primeira vez numa inscrição da XII dinastia, no porto egípcio de Mersa Gawasis (SAYED, 1977, p. 176). 22
Quando o termo “Minas de Punt” ocorre na estela do emissário Ameny, ele refere-se ao local onde uma grande expedição marítima desembarcou nos tempos de Senusret I (ca. 1956-1911 a.C.) (FAROUT, 1994, p. 144; FAROUT, 2006, p. 44-45; TALLET, 2009, p. 695). A expedição de Ameny incluía o seguinte contingente:23
-
50 seguidores do Senhor v.p.s – 
-
1 intendente do Grande Conselho v.p.s – 
-
500 marujos da equipagem do Senhor v.p.s – 
-
5 escribas do Grande Conselho – 
-
3.200 soldados – 
Uma lista de navios com nomes basilofóricos em honra a Senusret I indica que, na XII dinastia, os egípcios intensificaram sua conexão comercial com a região de Punt (FAROUT, 2006, p. 48). A descoberta de uma série de ostraca e etiquetas de jarros em Mersa Gawais confirma um aumento no fluxo de gêneros alimentícios egípcios no Mar Vermelho a partir dessa época, tendo como função prover as expedições destinadas ao país de Punt (SAYED, 2008, p. 267-334).
O Conto do Náufrago também contribui para a compreensão da logística dessas navegações na rota de Punt. Uma vez que a serpente profetiza o resgate do náufrago precisamente após quatro meses (linha 118) e por uma tripulação conhecida (linha 121), há uma sugestão de que o trânsito no Mar Vermelho estaria associado a grupos de trabalho sazonais.
Figura 1
Mapa de situação
Fonte: © Pedro Hugo Canto Nuñez, Setembro de 2022.
Leitura comentada
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TATERKA, Filip. The secretary bird of Deir el-Bahari: one more piece to the puzzle of the location of the land of Punt. Revue d’égyptologie, v. 69, p. 231-249, 2019.
VANDERSLEYEN, Claude. Pount sur le Nil. Discussions in Egyptology, v. 12, p. 75-80, 1988.
VANDERSLEYEN, Claude. Ouadj-Our ne signifique pas « mer »: qu’on se le disse! Göttinger Miszellen, v. 103, p. 75-80, 1986.
Notas
1 Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e a bibliografia são referenciadas no texto. Tradução e notas por Ronaldo Gurgel Pereira; introdução de Thais Rocha da Silva e Ronaldo Gurgel Pereira.
4 Os nossos agradecimentos aos alunos e colegas que participaram do curso de Egípcio Clássico Avançado em 2021, pela sua dedicação em tempos de tanta incerteza e perdas. Muito obrigados ao nosso estimado colega, Pedro Hugo Canto Nuñez (doutorando em História PPGH/UFRN), pela sua valiosa contribuição na elaboração do nosso mapa.
5 Ver:
Facuri (2015) e
Bakos (2017) para uma discussão sobre as versões brasileiras. Esta obra é a primeira a cruzar versões anteriores numa análise comparativa das traduções em português.
7 Como atesta o autor (p. 6), na altura, ainda não estava disponível ao público nenhuma publicação contendo um facsimile ou a transliteração do original hieroglífico.
8 A sua transliteração não distingue os usos de “( )” – acréscimos do egiptólogo; “[ ]” – propostas de reconstrução; e “< >” – correções de erros do original. Apesar de ter seguido um estilo de transcrição em que não se corrige a escrita defectiva, ocorrem casos pontuais em que correções aparecem marcadas aleatoriamente (linhas 15, 31, 37, 38, 45, 53, 62, 76, 106, 107, 146, 149, 150, 152, 158,...). Às vezes ocorre a transcrição de terminações fracas omitidas no original, sem recurso aos “( )”, como nas linhas 12, 25 e 53. Ocorre ainda uma disparidade entre o tratamento dado ao verbo na transliteração e a sua respectiva tradução (linhas 7, 12 e 121).
9 Trata-se de um velho revisionismo, proposto originalmente por
Herzog (1968) e
Nibbi (1976), mas que ganhou força na década de 1980. Propunha-se então que o termo

(o grande verde) era uma forma de se dirigir apenas ao Nilo, nunca ao mar. Ver:
VANDERSLEYEN, 1986, p. 75-80;
VANDERSLEYEN, 1988, p. 75-80. Canhão (2012, p. 32) reconhece a falta de suporte acadêmico para a proposta, mas opta por respaldar a posição de Vandersleyen.
10 O autor manteve “grande verde”, literalmente, para evitar envolvimento no debate. Canhão reproduz a tradução de Le Guilloux à letra, apesar de ter assumido claramente uma posição no debate (CANHÃO, 2010a-b, 2012, 2014).
11 Este artigo foi feito antes do lançamento da “Leiden Unified Transliteration/Transcription”, nova convenção para transliterações, anunciada no 13th International Congress of Egyptologists, realizado em agosto de 2023 em Leiden. A nova convenção abrange apenas alguns tratamentos dos signos para o /i/, /y/, /ï/ e separa os sons /z/ e /s/. Optamos por manter a transliteração original seguindo a bibliografia indicada no artigo, com o intuito de facilitar a consulta dos leitores.
12 Ver a seção sobre o contexto histórico.
13 Osíris, por exemplo, habitava na “Ilha de Fogo”.
14 O termo “demônio” é, na realidade, uma classificação ontológica artificial, criada pelos egiptólogos. Ela abrange, de modo genérico, todo um universo de hierarquias espirituais “menores”, ainda que possuidoras das mais variadas características. De fato, sequer existe na língua egípcia uma palavra específica para “demônio”, embora eles identificassem, individualmente, cada hierarquia de entidades malignas, benignas e neutras que compõem a categoria egiptológica de “demônio”. Ver:
LUCARELLI, 2010;
PEREIRA, 2021.
15 Os “Despachos de Semna” documentam a movimentação de tropas, circulação de pessoas e da logística administrativa do complexo de três fortificações estabelecidas na garganta de Semna, durante o reinado de Senusret III. Ver:
SMITHERS, 1945, p. 3-10.
17 Strabo (Geographica XVII, 1-45) menciona a continuidade de um sistema de pequenas estações com cisternas (hydreumata) ao longo do wadi Hammamat como suporte logístico às caravanas entre o Mar Vermelho e Coptos.
18 Ainda não há consenso sobre a localização precisa de Punt nas fontes egípcias. De fato, há uma vasta bibliografia dedicada à questão. Assim, para recomendar alguns autores em adição à bibliografia discutida nesta obra, o tema pode ser aprofundado com
TATERKA, 2019,
2021; e
SERVAJEAN, 2022.
19 Trata-se da data da inscrição mais antiga do Reino Médio até então, registrada pelo intendente Henu durante o oitavo ano de governo do faraó Mentuhotep III. Ver:
COUYAT; MONTET, 1912, p. 34. Inscrição n. 114.
21 Para o relato de Antefoker, ver:
SAYED, 1977, p. 138-178. Essa epigrafia é revista em:
FAROUT, 2006, p. 43-52. Para evidências das marcas em escrita hieroglífica em pranchas de madeira orientando a montagem das partes de um navio, ver:
BARD; FATTOVICH, 2007.
22 O local é mencionado na estela de Ameny (ano 24 do reinado de Senusret I). Ver:
SAYED, 1977, p. 150-169, n. 19. Trata-se de uma localidade no deserto de Atbai, a porção sudanesa do litoral do Deserto Oriental. Ver:
SAYED, 2003, p. 432-439.
23 Segundo a estela de Antefoker, no ano 24 do reinado de Senusret I, Mersa Gawasis possuía um grupo de trabalho de 3.760 pessoas. Ver:
SAYED, 1977, lâmina 16, linhas 9-10;
TALLET, 2015, p. 54 ff. A inscrição da capela de Ankhu registra a partida de uma expedição para o Punt no primeiro mês do Peret, no ano 24 de Senusret I (
SAYED, 1977, p. 157, lâmina 13, fig. 2). Mersa Gawasis foi um porto proeminente para as viagens ao Punt durante toda a XII dinastia (
TALLET, 2015, p. 57-59 ff.).
24 Forma narrativa sequencial sdm.jn=f.
25 Imperativo.
26 Lit.: “seguidor”, “acompanhante”, no sentido de integrar o séquito real e acompanhar o faraó nos seus deslocamentos pelo Egito e, eventualmente, para o estrangeiro.
27 Às vezes, o título é traduzido como governador, príncipe, prefeito, dentre outras possibilidades, dependendo do contexto. O título também se aplica para administradores de complexos, como fortalezas e portos. A escolha para o texto é simplesmente “líder” (da expedição), uma vez que não há qualquer preocupação em informar maiores detalhes sobre a posição desse personagem. Nessa construção, a palavra

(frente) refere-se a tudo aquilo que possui proeminência, que está à frente.
28 A partícula m=k atua como um marcador de frases que reiteram, confirmam ou reforçam a realidade de uma declaração previamente enunciada. Optei por tratar a partícula como uma interjeição (em exclamativas) nas linhas 2, 10 e 182. A mesma partícula é tratada como uma pergunta retórica nas linhas 108 e 159. Finalmente, utilizei a tradução mais literal, “eis (que)”, nas declarativas das linhas 113, 117 e 167.
29 Forma

passiva (está firmado) ou estativo (está sendo firmado).
30 Infinitivo: “o bater do poste de amarração”.
31 Estativo: “estando situado”. Pode-se traduzir essa forma verbal de outras maneiras. A regra geral estabelece que o estativo implica numa ação menor que ocorre ao mesmo tempo que outra, mais importante.
32 Particípio.
33 Particípio.
34 Construção pseudoverbal:

+ infinitivo. A tradução deve (tentar) produzir um predicado adverbial.
35 Observe uma repetição anormal do “t”. Canhão (2010b, p. 141) transcreve integralmente o sufixo pronominal possessivo como =tn (vossa), mas traduz a frase como “nossa”. Brancaglion (2006, p. 175) e Cardoso (1998, p. 113) optam por não identificar o erro entre < > e procedem com a correção diretamente na transliteração “=n”.
36 Estativo: “havendo retornado”.
37 Baixa Núbia, logo abaixo de Assuã.
38 Trata-se da moderna Bigeh, uma ilha da Primeira Catarata, ao sul de Assuã e vizinha de Philae. Esse era o marco que delimitava a fronteira entre o Egito e Wawat.
39 Um caso de prolepse. Lit.: “Em segurança, a nossa terra, nós alcançamos ela”.
40 Imperativo.
41 Partícula. Ela torna o imperativo mais amistoso, como uma recomendação.
42 Trata-se do verbo 2-lit estar vazio. Canhão (2010b, p. 141) translitera-o como o verbo 3-inf

(estar seco). Apesar de não haver um “
j” no texto hieroglífico, a sua tradução menciona o verbo correto.
43 Lit.: “Eu estou vazio de exagero (

)”.
44 Imperativo.
45 Partícula proclítica. Como marcador, ela implica a ocorrência de uma ação futura.
46 Subjuntivo.
47 Forma passiva:
48 Subjuntivo empregado como imperativo (assume um teor de recomendação).
49 A expedição para o Wawat serve apenas como um cenário para contextualizar e introduzir a narrativa do náufrago.
50 Preposição composta “com” (m-c), lit: na mão.
51 Lit.: “O teu coração na tua mão, controlado”. O conselho refere-se a responder com convicção.
52 Subjuntivo como imperativo.
53 Partícula negativa nn + infinitivo (aqui, um radical verbal no padrão ABCBC numa onomatopeia): “sem gaguejar”; “sem balbuciar”. Ver a linha 54 para uma comparação com um caso similar.
54 Subjuntivo.
55 Subjuntivo.
56 Lit.: “a sua fala vela-lhe a face”.
57 Na verdade uma forma imperfectiva (ação habitual): fazes/faça sempre como queres/quiseres/queiras.
58 Radical verbal causativo.
59 Radical verbal causativo.
60 Partícula enfática (mas, então, assim,...).
61 Particípio.
62 Locução (pronome reflexivo).
63 Estativo: “estando enviado”.
64 Ele teria partido para uma região mineira na costa meridional do Mar Vermelho.
65 Estativo: “estando descendo”.
66 Trata-se de um caso de “status constructus”. A expressão significa: “o grande verde”. Na obra, o termo equivale a “mar”.
67 Tem início o relato principal da história.
68 Frase de predicado adverbial. A preposição “m” atua como uma partícula de identificação/equivalência. Lit.: (Era uma tripulação de 120 a bordo) escolhida/selecionada do Egito.
69 A técnica de navegação adotada na época (cabotagem) exigia que se mantivesse a terra firme sempre à vista, na linha do horizonte.
70 Lit.: “eles tinham os corações mais valentes do que os dos leões.”.
71 Emprego da preposição “r” no grau comparativo.
72 Particípio substantivado.
73 Particípio substantivado.
74 Estativo: “estando chegando”.
75 Preposição composta empregada como conjunção.
76 Particípio substantivado.
77 Causativo analítico. Lit.: “Ele (o vento) fez repetir”.
78 Lit.: “recomeçou uma vaga”. Nota: “vagas” são ondas que se formam muito próximas do litoral, por ação de vento forte e prolongado. Elas seguem o seu trajeto sem formato regular, nem uma direção definida, uma vez que se alteram conforme a direção e intensidade dos ventos.
79 Substantivo masculino. Ver também as linhas 44, 59, 105 e 156.
80 Se deixar levar, flutuar. Outra possibilidade seria traduzir o verbo como

– “conduzir, dirigir” (na água). Ver a linha 105.
81 Pronome resumptivo (em referência à vaga). Lit.: “uma madeira flutuou para mim (vindo) dela”.
82 Verbo auxiliar.
83 Vê-se a formação súbita de uma grande onda, e logo em seguida, o protagonista já está na água agarrando-se a um destroço para sobreviver. Apesar de receber diversas interpretações, essa passagem permanece “problemática”. Ver:
LICHTHEIM, 1973, p. 215, n. 1.
84 Estativo: “estando morto”. Z6 age como substituto de A13 e A14.
85 Pronome relativo (plural).
86 Verbo auxiliar.
87 Estativo: “estando entregue”.
88 Partícula introdutora do agente da passiva.
89 Ver linha 25.
90 Estativo: “estando um”.
91 Podem ser 3 dias ou apenas um número incerto de dias.
92 Estativo: “estando deitado”. Observe a ausência da partícula “jw” no início da frase adverbial.
93 Uma forma poética para descrever a própria solidão.
94 Preposição composta.
95 O termo pode ser traduzido como abrigo ou cabana. Possivelmente, o náufrago construiu um abrigo com os destroços lançados à praia.
96 Tanto pode significar que ele se abrigava do sol ou que ele dormia profundamente.
97 Verbo auxiliar. Canhão (2010b, p. 143) adiciona um [=j], mas não há nada no texto hieroglífico que sugira um sufixo.
98 Lit.: “eu estiquei as minhas pernas”.
99 Verbo auxiliar.
100 Infinitivo. Outra possibilidade viável seria uma forma relativa perfectiva rdj.t(=j).
101 Lit.: “para saber o que colocar na minha boca”.
102 Um caso de falso plural. Na construção egípcia das linhas 47-48, lê-se: “figo, uva e todo tipo de vegetal da melhor qualidade”.
103 Outro caso de falso plural.
104 Essa passagem apresenta os vegetais no plural.
105 Os figos de sicômoro maduros ficam abertos como uma flor desabrochada. Em comparação, os figos verdes aparentam o formato de um botão fechado (
KEIMER, 1928, p. 49-97). Canhão (2010b, p. 143) traduz a passagem como “figos de sicômoro entalhados (...) figos de sicômoro não entalhados”. Cardoso (1998, p. 116) usa “frutos do sicômoro com e sem entalhe”. Talvez se trate de uma tradução literal do inglês “
notched”, dada por Lichtheim (1973, p. 215, n. 2). Por outro lado, Araújo (2000, p. 75, n. 6) opta por manter os termos em egípcio, com a adição de uma nota descritiva. Brancaglion (2006, p. 166) traduz a passagem apenas como “figos de sicômoro maduros”, ignorando a presença dos verdes.
106 Forma passiva
. O original tem “melão” (
) no singular (falso plural): “um melão que parecia ter sido cultivado/preparado”. Para manter a coerência com a passagem da linha anterior (e com a da linha seguinte), a frase foi tratada como um plural. Por isso o pronome sufixal
=s precisou ser passado para o plural
=sn e assim manter-se a concordância.
107 Cucumis melo. Muitas traduções tratam o termo como “pepino”, o que é anacrônico, visto que os pepinos só foram trazidos para o Egito no período greco-romano. De fato, em Hannig (2006, p. 904) sequer existe a opção de “pepino”. Bonnamy e Sadek (2010 [2009], p. 646) apresentam o termo com a opção entre “pepino” ou “melão do Nilo”. Faulkner (1991 [1962], p. 272) oferece a opção “pepino” ou “cucumis melo”. Cardoso (1998, p. 116), Araújo (2000, p. 75), Brancaglion (2006, p. 166) e Canhão (2010b, p. 143) traduzem a palavra como “pepino”.
108 Ou “cultivados”.
109 Verbo auxiliar.
110 Lit.: “Não havia aquilo que não existia lá no seu interior”.
111 Pronome dependente atuando como reflexivo. Ver as linhas 156 e 161.
112 Preposição empregada como conjunção “porque”.
113 Forma sDm.t=f narrativa.
114 Lit.: “aquilo que estava pesado sobre os meus braços”.
115 Utensílio em formato de arco usado para fazer fogo manualmente, por fricção.
116 Verbo auxiliar.
117 Oferendas de ossos e gordura animal, queimados num pequeno altar (aqui, um improvisado pelo náufrago).
118 Lit.: “o ruído da tempestade”.
119 Estativo: “estando pensando”.
120 Construção pseudoverbal: ḥr + infinitivo. Mais um verbo formado a partir de uma onomatopeia (ver linha 17). O verbo faz referência ao ruído provocado pela quebra de coisas. Nesse texto, refere-se ao som dos troncos e galhos das árvores sendo partidos. Repare no padrão de repetição do radical (desta vez, ABAB), característico para marcar uma repetição ou enfatizar uma ação.
121 Construção pseudoverbal: ḥr + infinitivo.
122 Observe que “serpente” é um substantivo masculino em egípcio. Cardoso (1998, p. 117) optou por traduzir “serpente” como “dragão” para preservar o gênero masculino da narrativa. Contudo, isso esvazia a personagem do seu simbolismo ambíguo e da sua possível relação com o deus Rá, conforme debatido na introdução à obra.
123 Construção pseudoverbal: m + infinitivo.
124 Construção possessiva.
125 Construção adjetiva: adjetivo + substantivo ou pronome dependente.
126 Terminação dual masculina.
127 Estativo: “estando inclinado”.
128 Lit.: “eu estava sobre o meu ventre diante dele”.
129 Partícula temporal/condicional.
130 Pronome dependente atuando como reflexivo.
131 Lit.: “eu faço com que tu te apercebas de ti como cinzas”.
132 Estativo: “estando transformado”.
133 Lit.: “tu estando transformado naquilo que não é visto”.
134 Construção pseudoverbal precedida por sujeito:
wj +
ḥr + infinitivo. “SIC”: talvez o hieróglifo A1 seja um erro do escriba, ou um caso incomum de determinativo para o verbo “ouvir”. Canhão (2010b, p. 144) propõe a passagem como “

”, mas isso está gramaticalmente incorreto. O infinitivo não pode ser conjugado, logo, a função de sujeito dessa construção está a ser exercida pelo pronome dependente
wj.
135 Trata-se da resposta do náufrago.
136 Lit.: “eu ignoro-me”. Algo como: “eu não compreendo o que se passa/não sei onde estou”.
137 Verbo auxiliar.
138 Partícula negativa nn + infinitivo. Lit.: “sem o meu ferir”. O infinitivo não pode ser conjugado.
139 Estativo: “estando intacto”.
140 Partícula negativa nn + infinitivo.
141 As linhas 76-80 descrevem o início de um pacto de hospitalidade. Em seguida (linhas 83-10), o náufrago conta a sua história para o seu anfitrião. Depois (linhas 111-136) a serpente retribui o náufrago com uma história sobre si e a ilha, e lhe confere formalmente santuário pelo tempo que demorar o resgate. O náufrago promete a compensação pela hospitalidade (linhas 136-148). A serpente pede o seu presente na linha 159 e oferece ao náufrago os seus presentes de despedida (linhas 162-165). Ver os comentários sobre a linha 114.
142 Verbo auxiliar.
143 Observe a omissão da terminação dual em gs(.wj)=fj.
144 Ou: “os dois lados estão na água”. O egípcio pensa em ilhas fluviais. A serpente refere-se ao fato de que, das suas “duas margens” só se pode ver a água. Do mesmo modo, a língua egípcia estabelece o Leste (

) como sinônimo de esquerda e o Oeste (
jmn.t) como sinônimo de direita, o que só faz sentido porque a premissa de orientação egípcia é ter o Norte às costas. Os deslocamentos rumo ao Norte e Sul seguem essa mesma lógica e são explicados na linha 172.
145 Verbo auxiliar.
146 O pronome st como objeto do verbo (“então eu respondi-lhe isso”).
147 Observe a terminação dual incomum, reforçada com o “y”. Algo que não se repete nas linhas 54 e 161.
148 Estativo: “estando curvados”.
149 Gesto de respeito e reverência, comum nas representações de cenas em que se presta culto.
150 Estativo: “estando enviado”. Trata-se de uma construção pseudoverbal empregando jnk pw como sujeito.
151 Possivelmente, não se trata de um lugar específico.
152 Preposição composta: “em meio a (eles)/entre (eles)”.
153 Preposição composta: “antes”.
154 Particípio substantivado.
155 Preposição composta: “exceto (eu)”.
156 Preposição composta: “do (teu) lado”.
157 Forma narrativa sequencial sdm.jn=f.
158 Imperativo negativo: m.
159 A hospitalidade é indissociável da generosidade e da retribuição obrigatória. Trata-se de um pacto social, econômico e religioso.
160 O termo pode ser traduzido como “Ilha do Ka”, uma vez que ela não existe no plano físico. Por outro lado, pode-se traduzir o termo como “ilha da abundância”, o que se reforça pela riqueza e variedade da flora e da fauna da ilha. Mas uma ilha destinada à revigoração do Ka seria, por definição, repleta de recursos para alimentação e restauração dos habitantes do além.
161 Construção pseudoverbal: r + infinitivo (expressão de ação futura).
162 Estativo: “sendo eles conhecidos”. Uma alternativa viável seria:

– “que tu (já) conheceste”. Canhão (2010b, p. 146) se contradiz ao optar pela segunda possibilidade de transliteração e traduzir conforme a primeira.
163 Subjuntivo. Outra possibilidade é uma frase adverbial: “a tua morte está/estará na tua cidade”, no sentido de que ele está destinado a regressar.
164 Partícula exclamativa wj.
165 Radical verbal causativo.
166 Forma relativa sdm.t.n=f.
167 Radical verbal causativo.
168 Forma relativa sdm.w=f.
169 Preposição composta: “com (eles)”.
170 Verbo auxiliar.
171 São 75 serpentes até a chegada da filha.
172 Preposição composta: “por este meio, através disto”.
173 Emprego temporal de
.
174 Possivelmente uma referência específica à pequenina serpente: “quando aquilo lhe aconteceu”.
175 O afixo
.nj pode substituir os afixos de 3ª pessoa .
n=f; .n=s; .n=sn nas conjugações do
sdm.n=f. Ver
BONNAMY; SADEK, 2010 [2009], p. 305. Atenção para o erro nesse dicionário, em que o
aleph de

aparece como
ayin cm.ny.
176 Preposição composta: “em meio a, entre”.
177 Verbo auxiliar.
178 Estativo: “estando morto”.
179 Uma forma poética de descrever o abraço que ele dará aos filhos.
180 Ou seja: “nada importa mais do que a família”.
181 Preposição composta: “em meio a/entre”.
182 Estativo: “estando estendido”.
183 Seguimos a proposta de Vandersleyen, que não corrige n=k para n=f por entender que temos aqui uma transição de interlocutores, tal como ocorre nas linhas 73-74. Ver: VANDERSLEYEN, 1990, p. 1021.
184 Radical verbal causativo.
185 Forma passiva sdm.tw=f.
186 Cistus villosus. A sua resina era usada na perfumaria.
187 Um dos sete óleos sagrados. Ver:
ALLEN, 2005, p. 22: essência do júbilo (
stj-ḥb); óleo de louvor (
ḥknw); óleo de pinheiro (
sft); óleo de reunião (
nhnm); óleo de suporte (

); óleo de cedro da melhor qualidade (

); óleo líbio da melhor qualidade (

). Geralmente eles são chamados “
mrḥ.t” em egípcio, um termo genérico para óleos vegetais, unguentos e perfumes. Cardoso (1998, p 124; 127) traduz o termo como “azeite sagrado”. Faulkner (1991 [1962], p. 179) traduz o termo apenas como “um óleo sagrado”. Araújo (2000, p. 78-79) e Brancaglion (2006, p. 170) mantiveram o termo no original fonético: “hekenu”.
188 Uma planta não identificada cuja resina era utilizada como incenso.
189 Normalmente essa passagem é traduzida como “incenso dos templos” (
CARDOSO, 1998, p. 124; ARAÚJO, 2000, p. 78;
BRANCAGLION, 2006, p. 170; CANHÃO, 2012, p. 18). Hannig (2006, p. 977) apresenta
gs-pr como um santuário portátil. Trata-se de uma pequena estrutura que transita em procissões, carregada por sacerdotes.
190 A2 no lugar de A1. Talvez seja um erro do escriba (
ERMAN, 1908, p. 2; 18) ou apenas um determinativo, com a omissão do pronome sufixal.
191 Forma relativa sDm.t.n=f.
192 A passagem

significa “poder dele”. O sufixo correto é
=k (o teu poder). Cardoso (1998, p. 124) transcreveu o hieróglifo corrigido:

(V31). Brancaglion (2006, p. 170, 185) e Canhão (2010b, p. 148) ignoraram a falha e reproduziram o erro, mas traduziram-no como “teu”.
Poe (2010 [1996], p. 172) corrigiu a falha.
193 Locução: “na sua totalidade, inteiro, todo”.
194 Ver os comentários sobre a linha 56.
195 Forma passiva sdm.tw=f.
196 Estativo: “estando carregado”.
197 Igualmente válidos: “navios carregados com” (particípio) ou “navios de carga com” (genitivo direto).
198 Particípio.
199 Forma relativa sdm.w.n=f.
200 Estativo: “(tu) estando transformado”.
201 Lit.: “Tu não és/serás/serias grande de mirra”.
202 A serpente refere-se aos presentes que serão descritos nas linhas 162-165.
203 Frase nominal de identificação.
204 Um caso de prolepse numa construção possessiva.
205 Aqui, optei por manter o gênero original da serpente, no masculino. O termo

significa “governante”, mas pode ser aplicado, igualmente, para descrever um regente ou mesmo um rei. Empreguei letra maiúscula em “Governante” como uma proposta de que esse título acumularia funções com o nome da serpente.
206 Forma passiva sdm.tw=f.
207 Emprego temporal do verbo ḫpr.
208 Partícula enfática.
209 Forma relativa sdm.w; ou estativo: “estando transformado”.
210 Verbo auxiliar.
211 Forma relativa sdm.t.n=f.
212 Verbo auxiliar.
213 Estativo: “estando partindo”.
214 Pronome dependente atuando como reflexivo (Lit.: “Eu me subi”). Ver as linhas 53 e 161.
215 Verbo auxiliar.
216 Estativo: “estando partindo”.
217 Estativo: “estando ciente”.
218 Verbo auxiliar.
219 Estativo (formulário de exaltação): “que (tu) estejas saudável”.
220 Frase nominal A-pw-B: “isto é a minha coisa (= o que eu quero) de ti”. Essa passagem responde às promessas de presentes feitas pelo náufrago entre as linhas 138-148.
221 Verbo auxiliar.
222 Pronome dependente atuando como reflexivo. Ver as linhas 53 e 156.
223 Verbo auxiliar.
224 A palavra “serpente” é masculina em egípcio. Daí a confusão com os pronomes na tradução.
225 O termo “retribuição” é usado porque a serpente presenteia o protagonista com um valor de importância equivalente àquilo que pediu ao náufrago nas linhas 159-160 (tornar o seu nome bom no Egito).
226 Cinnamonum camphora. Uma espécie de canela.
227 Pode se tratar de uma planta com funções medicinais, rituais ou cosméticas, ou mesmo uma especiaria. Certamente é algo nativo da região de Punt.
228 Boswellia sacra. Dada a promessa feita na linha 150, sugere-se aqui uma quantidade difícil de se contabilizar.
229 Ou seja, presas de marfim de elefante.
230 Cercopithecus aethiops.
231 Trata-se do
papio hamadryas, fauna nativa do litoral índico, abrangendo a região das atuais Eritreia-Etiópia, Somália e Iêmen. A análise de isótopos estáveis dos restos mortais de babuínos mumificados provenientes de inúmeros túmulos da XX dinastia (Reino Novo) identificam uma forte presença dessa espécie no Egito. Ver:
DOMINY et al., 2020.
232 Verbo auxiliar.
233 Emprego temporal do verbo ḫpr.
234 Forma passiva sdm.tw=f.
235 Verbo auxiliar.
236 Construção pseudoverbal: r + infinitivo (ação futura).
237 Algo como: “terás uma vida nova”, no sentido de ter sido poupado da morte certa e de poder retornar ao lar.
238 Forma passiva sdm.tw=f.
239 Verbo auxiliar.
240 Estativo: “estando partindo”.
241 Um termo que pode ser traduzido como lar ou pátria.
242 Algo como: “após toda uma vida em sua terra natal, com a sua família, poderá, enfim, morrer sossegado”.
243 Verbo auxiliar.
244 Construção do tipo sdm pw jrj.w.n=f (“ouvir, foi o que eu fiz”). Lit.: “navegar, foi o que nós fizemos, para o norte”.
245 Le Guilloux (1996, p. 65, n. 83) acredita que a tripulação saudou o náufrago, não a serpente. Ele argumenta que não houve interações entre os marinheiros e a serpente. Possivelmente, a tripulação desembarcou e conheceu a serpente, uma vez que o náufrago dificilmente embarcaria todos os presentes sozinho. O conto não tem a pretensão de preencher todos os detalhes sobre a viagem.
246 Lit.: “rio abaixo”. Cardoso (1998, p. 128) manteve o termo literalmente (“navegou corrente abaixo”). Araújo (2000, p. 79), Brancaglion (2006, p. 172) e Canhão (2012, p. 19) traduzem a expressão como “norte”. Graças a características geográficas do Egito, na língua egípcia, diz-se “rio acima” (ḫntj) e “rio abaixo” (ḫdj) quando se faz referência a deslocamentos no sentido Sul e Norte, respectivamente. Uma interpretação literal aqui é inviável, já que o barco está em mar aberto. Compare com os exemplos comentados na linha 85.
247 Ou seja, a capital do Egito, Tebas.
248 Forma relativa sdm.t.n=f.
249 Verbo auxiliar.
250 Estativo: “estando entrando”.
251 Um termo ambíguo que poderia ser traduzido também como “naquele reino insular” ou “na residência daquela ilha”.
252 Verbo auxiliar.
253 Locução: “na sua totalidade, inteiro, todo”.
254 Verbo auxiliar.
255 Estativo: “estando concedido, feito”.
256 Estativo: “estando recompensado”.
257 Devido a semelhanças entre o símbolo hierático para o número
200 e o sufixo de terceira pessoa singular masculino
=f, algumas versões falham em perceber o numeral.
Posener (1976, p. 146) sugere que o erro fora cometido, originalmente, pela leitura feita por Blackman (1932, p. 47, linha 15) e que o lapso só foi corrigido pela versão de De Buck (1948, p. 105). Contudo, Blackman deve ter sido, na verdade, influenciado pela versão de Erman (1908, p. 23) que comete o mesmo erro e é mais antiga. O erro é reproduzido em Cardoso (1998, p. 129), possivelmente por ter seguido apenas a versão de Blackman, mas ele está corrigido em Araújo (2000, p. 79), Brancaglion (2006, p. 173, 190) e Canhão (2010b, p. 151).
258 Forma relativa sdm.t.n=f.
259 Imperativo.
260 Partícula para tornar o imperativo mais amistoso (uma recomendação, não um comando).
261 Lit.: “faça o favor de me escutar!”.
262 Verbo auxiliar.
263 Algo como: “não perca o seu tempo comigo”.
264 Lit.: “quando clareia a terra para o sacrifício”.
265 O líder já se considera irremediavelmente perdido e não dará ouvidos nem aos conselhos mais inspiradores, nem às pessoas mais extraordinárias.
266 Tem início o colofão da obra.
267 Particípio.
268 Construção pseudoverbal: m + infinitivo.
269 Um jogo de palavras usando uma construção pseudoverbal (m-sš), seguida pela combinação de preposição m (no) e particípio substantivado sš (o escrito) e um genitivo direto com o nomen regens sš (do escriba).
270 Estativo (formulário de exaltação): v.p.s. (que ele viva, seja próspero e saudável).
271 “Amon é grande”.
272 Existe uma regra de inversão de filiação que foi proposta nos textos hieráticos da XII dinastia. Resumidamente, essa inversão é feita quando a palavra “filho” for grafada com o

(H8) ao invés do

(G39). Por isso, a filiação está invertida também em Cardoso (1998, p. 130), Araújo (2000, p. 79) e Canhão (2010b, p. 151). Le Guilloux (1996, p. 71) prefere respeitar a versão de
Blackman (1932) e traduz a expressão de modo convencional. O mesmo foi feito por Brancaglion (2006, p. 173, 191).
273 Tradução incerta, talvez uma variante de “Amon é antigo”.
274 O uso do formulário v.p.s. é um possível indicativo de que Amenaa e/ou Ameny pertencia(m) aos quadros mais altos da hierarquia social.
Autor notes
Editores Responsáveis Miguel Palmeira e Stella Maris Scatena Franco
2 Investigador contratado (DL57/2016/CP1453/CT0023) na FCSH-Universidade Nova de Lisboa. Doutor em Egiptologia pela Universidade de Basel; Pós-Doutor (CHAM-FCSH-Universidade Nova de Lisboa); Onassis Fellow (Universidade do Egeu, Rodes); e CAARI Scholar in Residence Fellow (Nicósia).
3 Doutora em Egiptologia pela Universidade de Oxford. Pós-doutoranda do Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP (Bolsista Fapesp 2020/13319-9) e Research Fellow no Harris Manchester College, Universidade de Oxford.
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