PSICOLOGIA AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO: CONSOLIDANDO UM NOVO CAMPO DE PESQUISA E INTERVENÇÃO
| Barros Carvalho Denis. Professor do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI. Universidade Federal do Piauí, Brasil. . 2003. Brasil. Universidade Federal do Piauí. 2pp.. 01026992 |
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Recepção: 02 Junho 2015
Aprovação: 22 Dezembro 2015
A Psicologia Ambiental é uma área da Psicologia que estuda como aspectos físicos e sociais do ambiente influenciam o comportamento das pessoas, assim como também compreender como o comportamento humano modifica o seu entorno (Corral-Verdugo, 2005). Inicialmente, a Psicologia Ambiental enfatizou o estudo dos ambientes construídos e, nos últimos anos, passou a investigar o comportamento pró-ambiental, as mudanças climáticas, o apego ao lugar e as interações com o ambiente (Gifford, 2014). Essa ênfase no impacto ambiental do comportamento humano, compreendido de forma positiva, ou seja, como uma preocupação em promover comportamentos de conservação, gerou uma série de debates na Psicologia em torno das seguintes questões: 1) um novo campo de estudo deveria ser criado? 2) Qual a abrangência desse campo de estudo? 3) como esse novo campo deveria ser denominado? (Brook, 2001). Como resposta, surge o conceito de Psicologia da Conservação (Myers, 2001; Clayton & Brook, 2005; Clayton & Myers, 2009; Wiggins, Ostenson, & Wendt, 2012). Inspirados em parte na Biologia da Conservação (Saunders & Myers, 2001), muitos estudiosos conceberam a Psicologia da Conservação como um campo psicológico relacionado com a Psicologia Ambiental, mas dela diferenciando-se por focar mais especificamente os ambientes naturais e incorporar estudos sobre sustentabilidade de várias áreas da Psicologia (Myers, 2001). CurralVerdugo (2005), por sua vez, acredita na possibilidade da Psicologia da Conservação se estruturar como uma Psicologia Ambiental especializada, cujo objetivo seria estudar determinantes e conseqüências do comportamento ambientalmente responsável.
Uma proposta diferente encontra-se no livro The Oxford Handbook of Environmental and Conservation Psychology, editado por Susan Clayton e publicado pela Oxford University em 2012. No capítulo introdutório, Clayton e Saunder (2012) defendem a integração da Psicologia Ambiental, entendida pelas autoras como uma subdisciplina da Psicologia, com a Psicologia da Conservação, compreendida como um campo de pesquisa e aplicação da Psicologia, que inclui conhecimentos de subdisciplinas como Psicologia Social, Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Cognitiva, além da Psicologia Ambiental. O livro está estruturado da seguinte forma: um capítulo introdutório e cinco partes, sendo a ultima um capítulo conclusivo.
Na primeira parte, intitulada “Pensando sobre ambientes”, há dez capítulos que apresentam temas clássicos da Psicologia Ambiental tais como Percepção Ambiental, Atitudes Ambientais e Valores Ambientais. Tópicos da Psicologia do Desenvolvimento como Apego e da Psicologia Social como Identidade aparecem relacionados ao Ambiente. Um tópico da Psicologia Geral como Emoção é estudado a partir do seu vínculo com o Ambiente. A relação das Crianças com a Natureza é analisada como parte da intersecção dos Estudos sobre o Ciclo de Vida Humano e o estudo psicossocial do significado da Natureza. Por fim, destaca-se o capítulo escrito por Harry Heft sobre os fundamentos de uma abordagem ecológica à Psicologia, no qual ele defende o lugar central da questão do significado nos fenômenos psicológicos, a partir de uma cosmovisão transacional.
Na segunda parte, intitulada “ambientes específicos”, há oito capítulos que versam predominantemente sobre tópicos relacionados à Psicologia Arquitetônica. Assim, temas como Cidades, Lugares Residenciais, Ambientes de Cuidado com a Saúde, Ambientes Correcionais e ambientes extremos e incomuns são discutidos. Um tópico mais conservacionista aparece no capítulo dedicado às Paisagens Naturais.
Na terceira parte, que trata da relação entre ambientes e bem-estar, também há oito capítulos, que abordam os seguintes temas: Ruídos, respostas a desastres ambientais, Injustiça Ambiental, usos terapêuticos da Natureza, ambientes restaurativos, atividade física saudável e alimentação, epifanias ambientais e ambientes naturais em áreas residenciais.
Na quarta parte, intitulada “Uma relação Sustentável entre Humanos e Natureza”, os seguintes capítulos são apresentados: o desenvolvimento do comportamento de conservação em crianças e jovens; promovendo comportamento pró-ambiental; protegendo recursos naturais; processos colaborativos em administração de ecossistemas; aprendendo o nosso caminho para sair da insustentabilidade; Psicologia e Mudanças Climáticas.
Na quinta e última parte, um capítulo escrito por Susan Clayton aponta as direções para o futuro da área. A autora enumera quatro áreas: teoria, mensuração, metodologia e aplicação.
O livro organizado por Clayton é bastante abrangente, abarcando os principais temas da área. Uma limitação que possui é apresentar uma visão ocidental sobre a questão, sem considerar as especificidades de contextos como a América Latina e Ásia, por exemplo. Apesar disso, é um livro importantíssimo e que deveria ser traduzido e adaptado para o nosso país.