RESENHA

Ludgleydson Fernandes de Araújo
Universidade Federal do Piauí, Brasil

RESENHA

Psicologia em Estudo, vol. 21, núm. 2, pp. 359-361, 2016

Universidade Estadual de Maringá

. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA VELHICE LGBT. 2016

Recepção: 03 Agosto 2015

Aprovação: 05 Abril 2016

A população idosa composta por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) vem aumentando nas últimas décadas não somente pela redução da mortalidade na infância e vida adulta, mas pelo melhor acesso aos serviços de saúde (Kimmel, 2015). Apesar dos avanços das leis que garantem iguais direitos às pesssoas de diferentes orientações sexuais, as pessoas idosas LGBT ainda é uma categoria pouco visível entre os pesquisadores da geriatria e da gerontologia. Deste modo, a presente resenha apresentará o livro “The lives of LGBT older adults: understanding challenges and resilience” que foi organizado pelas pesquisadoras americanas Nancy A. Orel (Bowling Green State University, Bowling Green, OH) e a Christine A. Fruhauf (Department of Human Development & Family Studies, Colorado State University); trata-se de uma publicação pioneira e alvissareira que busca preencher a escassez de publicações versando sobre a velhice e o processo de envelhecimento das pessoas LGBT.

Neste livro as autoras reúnem os maiores pesquisadores do mundo sobre a velhice LGBT, de modo que a publicação aborda temas importantes para este grupo ainda pouco pesquisado no âmbito gerontológico; os temas abrangem desde os aspectos culturais, familiares e individuais da velhice LGBT, passando pela saúde e o bem-estar de idosos LGBT, o estigma e a velhice LGBT, as teorias psicológicas para o envelhecimento LGBT, as famílias LGBT e as idosas transgêneros. Esta publicação vem a contribuir para melhor compreensão da comunidade LGBT e as suas interfaces com os diversos construtos psicossociais.

No primeiro capítulo do livro, inicialmente, é apresentada a "A interseção da cultura, família e aspectos individuais: um modelo para idosos LGBT", em que as autoras e organizadoras do livro apresentam um panorama geral do aumento do número dos idosos na população americana que já representam 13, 3% da população total; tal inversão demográfica deve-se, sobretudo, ao aumento da expectativa de vida, que entre os homens chega a 75 anos e as mulheres com 80 anos. As autoras ainda dissertam sobre a invisibilidade da velhice LGBT para os pesquisadores do campo da geriatria e gerontologia e destacam a necessidade de maiores publicações que possam viabilizar maior destaque para os idosos LGBT.

No segundo capítulo são abordados a saúde e o bem-estar dos idosos LGBT com uma abordagem “life-span” (desenvolvimento durante toda a vida). As autoras destacam que é essencial melhor compreensão dos resultados da saúde, riscos sociais e comportamentais que contribuem para as disparidades na saúde dos idosos LGBT. Assim, pesquisas que contemplam os fatores de risco e a proteção são o primeiro passo para o desenvolvimento da compreensão abrangente da saúde dos LGBT adultos mais velhos ao longo da vida. Por último, é necessária a elaboração e a implementação de serviços para melhorar a saúde e o bem-estar na comunidade LGBT.

No terceiro capítulo, Brian de Vries apresenta um dos principais problemas psicossociais na vida das pessoas LGBT que é o estigma social. Este autor menciona que a comunidade LGBT sofre o acúmulo de estresse devido ao contexto heteronormativo, de modo que isso pode ocasionar problemas no bemestar físico e psicológico. Por último, ainda neste capítulo, destacam-se três tipos de estigmas sociais que são direcionados às pessoas idosas LGBT: 1) estigma imposto que compreende a forma explícita de atos de preconceitos que favorecem a violência e a discriminação; 2) estigma vivenciado que é refletido no comportamento antecipado de proteção aos atos discriminatórios (o popular “sair do armário” como forma de fortalecer a identidade de gênero) e 3) estigma internalizado que pode ser compreendido como a internalização da homofobia, de modo que a pessoa idosa LGBT legitima as atitudes preconceituosas da sociedade aumentando a estigmatização da comunidade LGBT.

No quarto capítulo, intitulado “Theories of aging applied to LGBT older adults and their families”, o autor apresenta as principais teorias gerais sobre o envelhecimento e como se relacionam com a vida dos idosos LGBT , em particular, a teoria de Erik Erikson. Ainda neste capítulo o autor propõe três teorias do envelhecimento LGBT: a teoria de coorte (envelhecer em universos paralelos), o modelo de comboio e o modelo de sucesso. Por último, é realizada uma discussão sobre a características da teoria de envelhecimento LGBT que são distintas das teorias gerais do envelhecimento.

No capítulo seguinte, os autores enfatizam a importância da espiritualidade e da religiosidade para os cuidados do fim da vida entre as pessoas LGBT idosas. O capítulo ainda aborda a perspectiva de curso de vida (“Life Span”) como uma forma de compreender melhor o processo de envelhecimento das pessoas idosas LGBT, e destacam que a espiritualidade e a religiosidade podem ajudar nos cuidados na velhice LGBT. Os autores concluem este capítulo salientando que apesar de os idosos LGBT terem um destaque importante na sociedade atual, ainda existem muitos preconceitos es estigmas sociais para com a comunidade LGBT.

No sexto capítulo os autores discutem o acesso e a equidade dos serviços de saúde e social direcionados às pessoas LGBT idosas. Os autores apresentam a realidade LGBT canadense, enfantizando que os avanços nos serviços de saúde oferecidos a este público, no entanto, a exclusão e a marginalização da comunidade LGBT ainda é uma realidade nos serviços públicos. Por último, os autores concluem o capítulo destacando as estratégias de engajamento na participação social com uma abordagem focada no domínio, controle, acesso e posse.

No sétimo capítulo são apresentados os recursos comunitários e os serviços governamentais que são oferecidos aos idosos LGBT e seus familiares. Neste capítulo, Sean Cahill disserta sobre o fato de os idosos LGBT estarem vivenciado seu processo de envelhecimento numa sociedade intensamente antigay, como também são descritos os serviços específicos como programas de alimentação e habitação que podem atender as necessidades da comunidade idosa LGBT. Por fim, são discutidos os efeitos das recentes mudanças políticas para os idosos LGBT.

No capítulo oitavo são abordadas as questões familiares para os LGBT idosos. Os autores mencionam a pouca existência de publicações sobre as famílias de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, de modo que este capítulo apresenta uma visão geral das famílias LGBT e sua dinâmica de funcionamento na sociedade atual.

No penúltimo capítulo é apresentado o processo de envelhecimento das idosas transgêneros. O autor destaca que apesar de ser utilizado com frequência o termo para caracterizar um único grupo LGBT (lésbicas, gays, bisexuais e transgêneros), sabe-se que cada um tem suas características específicas. Na primeira parte, o autor explana como e porque este grupo ainda é pouco pesquisado. Na segunda parte é abordado sobre as diferenças do processo de envelhecimento das pessoas transgêneros e os idosos de orientações sexuais diferentes. O autor finaliza o capítulo destacando a pouca visibilidade das pessoas idosas transgêneros no âmbito da gerontologia e geriatria.

Assim, as organizadoras do livro fazem no último capítulo um apanhado geral dos capítulos que fazem parte desta importante obra sobre a velhice LGBT. As autoras destacam o crescimento do número de pesquisas sobre os idosos LGBT, de modo que este livro vem contribuir para o maior conhecimento sobre a comunidade idosa LGBT. Ainda é enfatizada a importância das pesquisas e intervenções sobre o suporte social, as estratégias de enfrentamento e a resiliência, tendo em vista que estas variáveis psicossociais podem contribuir para o envelhecimento LGBT bem sucedido.

No geral, observa-se que o livro em questão fornece reflexões importantes e relevantes dos aspectos psicossociais da velhice LGBT. Por fim, como o aumento da longevidade e a esperança de vida, consequentemente aumentará o número de idosos no mundo, incluindo os LGBT. Assim, urge igual evolução dos dispositivos de saúde física e mental com mecanismos de cidadania para aumentar a visibilidade das pessoas LGBT na velhice. Sabe-se que os direitos LGBT avançaram significativamente nos últimos anos, de modo que se fazem necessárias intervenções psicossociais para a promoção do convívio social pautado no respeito às diferentes orientações sexuais. Por último, espera-se que este livro seja traduzido para o português, com o escopo de permitir acesso a essa publicação que veio a contribuir para melhor compreensão do processo de envelhecimento da comunidade LGBT.

Referências

Orel, N. A. & Fruhauf, C. A. (2015). The lives of LGBT older adults: Understanding challenges and resilience. Washington, DC: American Psychological Association.

Notas

i Ludgleydson Fernandes de Araújo: Doutor em Psicologia e Mestre em Psicologia e Saúde pela Universidad de Granada – Espanha com período sanduíche na Unviersità di Bologna - Itália. Mestre em Psicologia Social e Especialista em Gerontologia pela UFPB, Professor Adjunto I do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (Stricto Sensu) da Universidade Federal do Piauí – UFPI (Campus de Parnaíba/PI).
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