FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Implicações do SiSU no processo de democratização do acesso à educação superior: o caso da Unemat

Implications of SiSU in the democratization of access to higher education: the case of Unemat

Implicaciones del SiSU en el proceso de democratización del acceso a la educación superior: el caso de la Unemat

Elizeth Gonzaga dos Santos Lima
Universidade do Estado de Mato Grosso, Brazil
Fernando Cezar Vieira Malange
Universidade do Estado de Mato Grosso, Brazil
Luiz Francisco Borges
Universidade do Estado de Mato Grosso, Brazil

Implicações do SiSU no processo de democratização do acesso à educação superior: o caso da Unemat

Acta Scientiarum. Education, vol. 40, núm. 1, e37656, 2018

Editora da Universidade Estadual de Maringá - EDUEM

Recepção: 15 Junho 2017

Aprovação: 25 Agosto 2017

RESUMO.: A política nacional de democratização do acesso à educação superior do MEC, instituída pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU), traz consigo mecanismos com propósitos de democratizar as vagas nos cursos superiores públicos. Em 2012, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) aderiu ao SiSU; assim, em 2013, passa a ter duas principais formas de seleção (SiSU no primeiro semestre e vestibular no segundo semestre) de cada ano. Pesquisas realizadas afirmaram que o ingresso na Unemat já era democratizado. A questão que levantamos neste estudo é: com a adesão ao SiSU, o ingresso continuou democratizado? Assim, o objetivo da presente pesquisa é compreender a adesão ao SiSU no câmpus Universitário de Cáceres e sua relação com o processo de democratização da IES. Foi aqui adotada como tipo de pesquisa a abordagem quanti-qualitativa. O procedimento metodológico ocorreu em três etapas: análise documental; análise do banco de dados - Enem - e análise de dados do vestibular. Os instrumentos de pesquisa foram os questionários socioeconômicos do Enem e do vestibular/Unemat. Os resultados evidenciaram que houve várias mudanças na Unemat após a implementação do SiSU como forma de ingresso. Tais mudanças foram introduzidas no perfil acadêmico, nas políticas institucionais, na gestão administrativa e na gestão pedagógica.

Palavras-chave: educação superior, acesso, democratização, SiSU, perfil acadêmico.

ABSTRACT.: The National Policy for the democratization of access to higher education - MEC, instituted by the Unified Selection System - SiSU, brings mechanisms of democratizing vacancies in public higher education. In 2012, the Mato Grosso State University joined the SiSU, in 2013 it started having two main forms of selection (SiSU in the first semester and an entrance exam in the second semester). Research carried out stated that admission to Unemat was already democratized. The question that we raise in this study is: has it continued democratized with the addition of SiSU? The objective of this research was to understand the adherence to SiSU in the university câmpus of Cáceres and its relationship with the process of democratization of IES. This research had a quantitative-qualitative approach. The methodology took place in three steps: documentary analysis; analysis of the database - Enem and the entrance exam data analysis. The research was conducted through socioeconomic questionnaires about the Enem and the entrance exam at Unemat. The results showed several changes in Unemat after the implementation of SiSU as a form of admission. Changes were introduced in the academic profile, institutional policies, administrative management and pedagogical management.

Keywords: higher education, access, democratization, SiSU, academic profile.

RESUMEN.: La política nacional de democratización del acceso a la educación superior del Ministerio de la Educación (MEC), instituida por el Sistema de Selección Unificada (SiSU), trae consigo mecanismos con propósitos de democratizar las vacantes en los cursos superiores públicos. En 2012, la Universidad del Estado de Mato Grosso (Unemat) adhirió al SiSU; así, en 2013, pasa a tener dos principales formas de selección (SiSU en el primer semestre y vestibular en el segundo semestre) de cada año. Investigaciones realizadas afirmaron que el ingreso en la Unemat ya era democratizado. La cuestión que planteamos en este estudio es: con la adhesión al SiSU, ¿el ingreso continuó democratizado? Así, el objetivo de esta investigación es comprender la adhesión al SiSU en el câmpus Universitario de Cáceres y su relación con el proceso de democratización del Instituto de Enseñanza Superior (IES). Fue utilizada la investigación con enfoque cuanti-cualitativo. El proceso metodológico ocurrió en tres etapas: análisis documental; análisis del banco de datos - Enem - y análisis de datos del vestibular. Los instrumentos de investigación fueron los cuestionarios socioeconómicos del Enem y del vestibular/Unemat. Los resultados evidenciaron que hubo varios cambios en la Unemat tras la implementación del SiSU como forma de ingreso. Tales cambios fueron introducidos en el perfil académico, en las políticas institucionales, en la gestión administrativa y en la gestión pedagógica.

Palabras-clave: educación superior, acceso, democratización, SiSU, perfil académico.

Introdução

A educação superior é um campo de pesquisa muito amplo, dada a sua complexidade atual e sua inserção nas múltiplas transformações sociais, econômicas, culturais e tecnológicas, que a levam a redesenhar sua identidade em relação a questões como: avaliação, internacionalização, mercantilização, permanência, qualidade, acesso, dentre outras. Esta pesquisa está inserida na temática das políticas de acesso à educação superior após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (Brasil, 1996), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Esta lei passa a ser a norma norteadora da educação brasileira, trazendo consigo um conjunto de transformações no sistema educacional. No que se refere, em particular, à educação superior, a LDBEN flexibiliza e diversifica as formas de seleção das instituições selecionadoras e dos cursos ofertados.

Em relação ao acesso, a LBDEN não estabelece a forma ou o tipo de exame que as instituições de educação superior (IES) devem adotar, mas admite que devem realizar a classificação por processo seletivo, dando-lhe liberdade para escolherem a ferramenta mais adequada para a seleção.

A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em 2012, aderiu à política do governo federal de democratização do acesso à educação superior através do Sistema de Seleção Unificado (SiSU). Foi em 2013/1 que a primeira turma ingressou na universidade via SiSU;, a partir deste momento, passou a ter duas formas principais de ingresso, pelo SiSU, no primeiro semestre, que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como parâmetro de seleção, e o tradicional vestibular, no segundo semestre de cada ano.

A Unemat já tinha um processo de ingresso por meio do vestibular, considerado democrático. Pesquisas realizadas por Lima, Malange e Barbosa (2015, p. 1032) afirmam que “[...]; sua expansão teve um processo que pode ser considerado democratizado, na medida em que a ampliação do ingresso atingiu todas as camadas sociais da população (negros, índios, brancos, alunos oriundos de escolas públicas)”. A questão que levantamos nesta pesquisa é: com a adesão ao SiSU, o ingresso continua democratizado?

Buscamos compreender o ‘acesso à educação superior’ alicerçados em alguns teóricos, como: Coutinho (2008), Dias Sobrinho (2011), Luz (2013), Ristoff (2014), Silva e Nogueira (2011) e Silva e Veloso (2013), dentre outros.

Utilizamos o conceito de democratização na perspectiva de possibilidades para popularizar o acesso. Segundo Ristoff (2014), o termo significa “[...] criar oportunidades para que milhares de jovens de classe baixa, pobres, filhos da classe trabalhadora e estudantes de escolas públicas tenham acesso à Educação Superior”. Neste sentido, podemos compreender democratização como um bem público e um direito social. O conceito de acesso está sustentado em Silva e Nogueira (2011), que o definem num sentido mais profundo, como pertencimento que se liga indissociavelmente ao senso de coletividade/universalidade e a práxis criativa. “Por acesso, entende-se a participação na educação superior, o que implica, idealmente, considerar as dimensões de ingresso, permanência, conclusão e formação/qualidade desse nível de ensino” (Silva & Nogueira, 2011, p. 14).

O locus de pesquisa é o câmpus universitário de Cáceres, o primeiro câmpus da Universidade do Estado de Mato Grosso, iniciado em 1978. Atualmente, a universidade possui 13 câmpus, distribuídos estrategicamente nas cidades do interior do estado. A escolha se deveu ao fato de ser este o maior câmpus em números de alunos, em cursos de graduação presencial ofertados, em diversidade de acadêmicos das cidades circunvizinhas que utilizam como transporte o ônibus para chegar à universidade, totalizando nove municípios, e seus distritos.

Fundamentos teórico-metodológicos da pesquisa

Esta pesquisa está inserida na temática da educação superior e, de modo especial, na política de acesso, instituída pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), câmpus de Cáceres, com o objetivo de compreender o ingresso e sua relação com o processo de democratização da IES. Buscamos, por isso, responder às seguintes questões: quais foram as mudanças após a implementação do SiSU na Unemat e qual o perfil dos acadêmicos ingressantes pelas duas formas de ingresso, o vestibular e o SiSU, no período de 2013 a 2015?

O trabalho caracteriza-se como estudo quanti-qualitativo, em perspectiva crítica. Quanto ao emprego das duas técnicas, a quantitativa e a qualitativa, Minayo (2000, p. 22) afirma que, no conjunto, “[...] dados quantitativos e qualitativos não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois, a realidade abrangida por eles interage, dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.

Em relação aos procedimentos metodológicos, o estudo foi organizado em três etapas: na primeira, análise documental; na segunda, manuseio dos questionários socioeconômicos respondidos pelos candidatos no ato da inscrição do Enem no período de 2012 a 2014, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; na terceira, manuseio e análise dos dados dos questionários socioeconômicos do vestibular disponibilizado pela Assessoria de Gestão de Concursos e Vestibular (Covest) no período de 2013 a 2015.

Análise documental

Teve por objetivo verificar se houve implicações ou mudanças na Unemat após a implementação do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Analisamos documentos no âmbito institucional em editais, resoluções, portarias, decretos e instrução normativa, tais como: Editais nº. 003/2012, 001/2013, 003/2013, 001/2014, 003/2014, 001/2015, todos disponíveis no site da Unemat/Covest, Edital nº. 003/2013 - PRAE, Resolução nº. 054/2011- Conepe e Resolução nº 024/2012 - Conepe, que dispõe sobre a adesão da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) (2011, 2012a, 2012b, 2013a, 2013b, 2013c, 2014a, 2014b, 2015) ao Sistema de Seleção Unificado (SiSU), dentre outros.

Os resultados foram triangulados com as análises dos questionários socioeconômicos dos ingressantes, disponíveis nos bancos de dados do Enem e do vestibular da Unemat, o que permitiu identificar as implicações do SiSU no processo de democratização do acesso à Unemat.

Coleta de informações nos bancos de dados

a) Banco de dados do Enem

Identificar os acadêmicos ingressantes1 via SiSU na Universidade do Estado de Mato Grosso - câmpus de Cáceres - não foi uma tarefa fácil. Baixamos os microdados do Enem do período 2012 a 2014, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), para, posteriormente filtrar os que servissem à pesquisa. A razão para identificar os ingressantes foi podermos ter acesso ao questionário socioeconômico, por eles preenchidos no momento da inscrição no Enem. Esses números, nos microdados, são ‘mascarados’2. Além de mascarados, os microdados não disponibilizam informações das variáveis como: nome do candidato, cadastro de pessoa física (CPF) ou do registro geral (RG). Estas variáveis facilitariam nossa busca pelos ingressantes.

A universidade não tem acesso aos questionários socioeconômico do Enem, porém, através do sistema ‘Sisu Gestão’3, foi possível adquirir algumas informações. Exemplos: nome, unidade federativa, sexo, idade, notas das áreas do conhecimento exigida pelo Enem (Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias e Redação), dentre outras, dos matriculados na Unemat via SiSU.

Com tais informações, fizemos cruzamento dos anos correspondentes (ex.: Enem 2012 vs SiSU 2013/1)4, para identificar os ingressantes nos microdados e ter acesso aos questionários. As variáveis utilizadas para fazer os cruzamentos foram: TP_SEXO ‘Sexo’; Idade; NOTA_CN ‘Ciências da Natureza e suas Tecnologias’; NOTA_CH ‘Ciências Humanas e suas Tecnologias’; NOTA_LC ‘Linguagens, Códigos e suas Tecnologias’; NOTA_M ‘Matemática e suas Tecnologias’ e NU_NOTA_REDACAO ‘Redação’. Após o cruzamento, conseguimos identificar os acadêmicos e seus respectivos questionários.

Para extrair os dados, foi utilizado um programa estatístico como o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22, ano 2013, recomendado pelo Inep. Para fazermos, os cruzamentos utilizamos o programa estatístico STATA.

b) Banco de dados da Covest

Na coleta de informações dos questionários socioeconômicos dos ingressantes pelo vestibular no banco de dados da Assessoria de Gestão de Concursos e Vestibular (Covest), nos deparamos com a seguinte situação: a Covest tinha os questionários socioeconômicos de todos os inscritos nos vestibulares, porém não havia como identificar os que tivessem ingressado nos cursos de graduação em virtude das sucessivas chamadas dos candidatos classificados. A Covest nos disponibilizou os questionários socioeconômicos dos inscritos no período de 2013 a 2015. A seguir, a secretaria acadêmica do câmpus de Cáceres disponibilizou a relação de todos os candidatos/ingressantes, matriculados no período acima citado. Assim, fizemos os cruzamentos (merge)5 com o STATA, apenas com a variável ‘nome’, e encontramos, via vestibular, todos os questionários socioeconômicos dos acadêmicos matriculados no período em estudo.

Utilizamos a estatística descritiva para analisar, organizar, sistematizar os dados obtidos nas manipulações dos bancos de dados.

Procedimentos metodológicos

Nesta pesquisa, foram analisados os dados socioeconômicos de 2.859 ingressantes (1.414 do Enem e 1.445 do vestibular), de 13 cursos de graduação (Agronomia, Biologia, Ciências Contábeis, Ciências da Computação, Direito, Educação Física, Enfermagem, Geografia, História, Letras, Matemática, Medicina e Pedagogia), nos anos de 2013, 2014 e 2015, com a finalidade de verificar se houve mudança em seu perfil nos cursos de graduação da Unemat após a adesão ao SiSU.

As variáveis da base de dados do Enem, disponibilizadas pelo Inep através de microdados, são divididas por categoria: dados de inscrição, da escola, do candidato, das necessidades especiais, da certificação do ensino médio, da aplicação da prova, da prova objetiva, da redação e do questionário socioeconômico, totalizando 145 variáveis, a maioria pertencente ao questionário socioeconômico (76 variáveis). Nesta pesquisa, foram selecionados para análise os dados do candidato e do questionário socioeconômico do Enem. Já o questionário socioeconômico e educacional da Unemat é composto por 37 questões, e não possui nenhuma divisão.

Ao relacionar as variáveis do questionário do Enem com as do vestibular/Unemat, foi possível encontrar 14 variáveis comuns e com grau de significância6 para análise. Como o SiSU é uma forma de seleção nacional, é imprescindível conhecer a origem geográfica dos ingressantes na Unemat; assim, para procurar pela base de dados do Enem, optamos pela variável “UF da Residência”. No questionário do vestibular não há variáveis significantes para fazer este cotejo. No entanto, encontramos no SiSUGESTÃO a variável ‘UF da cidade de residência’, com grau de significância, possibilitando a realização da análise.

No Anexo 1 estão as variáveis/questões dos respectivos questionários, analisadas pelo pareamento/cotejo para facilitar a visualização dos leitores.

Os questionários socioeconômicos foram divididos em grupos, em virtude da particularidade das variáveis estudadas. Assim, os grupos ficaram divididos em:

- dados pessoais (cor/raça, estado civil, idade e sexo);

- dados escolares (como fez os estudos: ensino fundamental, ensino médio, modalidade de ensino, tempo de conclusão do ensino médio);

- dados familiares e econômicos (instrução do pai, instrução da mãe, tipo de residência, UF da residência, quantidade de pessoas que moram na residência, exerce atividade remunerada e renda mensal familiar).

Resultados e discussão: implicações do SiSU no processo de democratização do acesso à UNEMAT

O que os documentos evidenciaram

Nos documentos analisados, pudemos verificar várias mudanças7 e implicações8. Mudanças em: estrutura da prova do vestibular; datas de aplicação; pesos em conformidade com a área de conhecimento, dentre outros. Iniciamos a análise descrevendo o modelo da prova de vestibular aplicado anteriormente à adesão ao SiSU, subsidiados nos escritos de Nodari (2016).

Atualmente, o concurso vestibular da Unemat é aplicado uma vez ao ano, com início das aulas sempre no segundo semestre. As provas são aplicadas, além da cidade de Cuiabá (estado do Mato Grosso), nos municípios onde há oferta de vagas. De acordo com o Edital nº 01/2015 - Covest, o concurso vestibular 2015/2, realizado em um único dia (Unemat, 2015), compreende duas fases, ambas de caráter eliminatório e classificatório.

A primeira fase consta de quatro provas objetivas, com 44 questões de múltipla escolha, com 5 alternativas cada (a, b, c, d, e), divididas em 4 áreas, sendo 10 questões na área de Ciências da Natureza e suas tecnologias; 12, na área de Matemática e suas tecnologias; 10, na área de Ciências Humanas e suas tecnologias; 12, na área de Linguagem, Códigos e suas tecnologias, não podendo zerar na prova que corresponde à área do curso pretendido. Cada questão, que vale um ponto, será multiplicada por diferentes pesos (1 a 4), de acordo com o curso optado pelo candidato (Unemat, 2015). O modelo de prova utilizado pela universidade é o mesmo adotado pelo Enem9.

A segunda fase compreende uma prova de redação, com proposta de produção escrita a partir da reflexão sobre o texto; seu valor numérico varia, na escala, de zero a dez pontos. As redações são corrigidas e pontuadas segundo a ordem decrescente obtida na primeira fase, no limite de três vezes o número de vagas ofertadas (Unemat, 2015).

A pontuação final de cada candidato no concurso vestibular é obtida através da soma das pontuações de cada uma das provas objetivas e da prova de redação. Na aprovação do candidato, são levadas em consideração as seguintes vias: 40%, destinam-se a ampla concorrência; 35%, a candidatos oriundos das escolas pública; 25%, são reservadas aos autodeclarantes negros. As matrículas iniciais nos cursos ofertados pelo vestibular encerram-se, em média, até a 5ª chamada, quando preenchido o número de vagas estipulado no edital de seleção. Já, pela via SiSU, a realidade é outra, pois, às vezes, há 12 chamadas e, mesmo assim, o número de matrículas disponíveis no edital não se completa, o que implica aumento das vagas ociosas.

A Unemat criou meios para frear o aumento das vagas ociosas nos cursos de graduação oferecidas via SiSU. Estes meios são aplicados, em geral, a partir da quinta chamada via SiSU. Estes meios são:

- a chamada presencial, pela qual o candidato que fez o Enem, e não está matriculado em nenhum curso, manifesta presencialmente o seu interesse pela vaga oferecida na área em que se tenha classificado, não importando a sua pontuação - em caso de mais candidatos interessados, é selecionado o que tiver a maior nota no Enem, caso as vagas sejam inferiores ao número de interessados; caso contrário, o candidato já garante sua vaga;

- reopção de curso pelos candidatos que fizeram o Enem, mas ainda não matriculados em nenhum curso, oferecendo-se a elas as vagas nos cursos sem candidatos classificados ou nos casos em que as vagas não foram preenchidas;

- o ‘Edital Utilização Enem’ seleciona candidatos para o preenchimento das vagas ociosas (mesmo os que tenham feito o Enem em anos anteriores - 2010, 2011, 2012, 2013...);

- a ‘chamada especial’ seleciona candidatos para as vagas ociosas via histórico escolar do ensino médio.

Ações como as citadas geram um aumento de atividade na rotina administrativa em todos os setores envolvidos na seleção.

Após a implementação do SiSU, houve avanços na política de permanência ao se instituir os auxílios (alimentação e moradia), destinados aos acadêmicos socioeconomicamente vulneráveis. Estes auxílios foram implementados em virtude da exigência da adesão ao Programa Nacional de Assistência Estudantil para as Instituições de Educação Superior Públicas Estaduais (Pnaest). O primeiro edital para a concessão de auxílios foi publicado dia 9 de agosto de 2013, disponibilizando 2.000 auxílios (1.000 em alimentação, no valor de 180,00 reais e 1.000 em moradia, no valor de 250,00 reais). Ambos os auxílios são concedidos aos discentes selecionados pelo período de 12 meses (Universidade do Estado de Mato Grosso [Unemat], 2013c).

Os discentes de comprovada vulnerabilidade socioeconômica poderão pleitear os dois tipos de auxílios dispostos no edital, desde que não possuam qualquer outra modalidade de bolsa oferecida pela Unemat ou pelas agências externas de fomento. Caso o discente já possua bolsa apoio, extensão, IC, ou qualquer outra, poderá pleitear apenas um dos auxílios aqui ofertados, seja ele auxílio moradia ou auxílio alimentação (Unemat, 2013c).

Analise do perfil dos ingressantes via SiSU e Vestibular

Iniciaremos as análises dos dados dos questionários de acordo com a divisão estabelecida anteriormente: dados pessoais, dados escolares, dados familiares e econômicos.

Dados pessoais

a) Sexo

Em relação ao SiSU, os cursos de agronomia e matemática representam, respectivamente, 67,5 e 74,3% dos ingressantes do sexo masculino, em oposição aos cursos de pedagogia e letras, com representação de 91,7 e 73,6% das ingressantes do sexo feminino. Em relação ao vestibular, os cursos de agronomia e matemática representam 82,0 e 76,8% dos ingressantes do sexo masculino, enquanto pedagogia e letras são representadas por 90,5 e 76,4% do sexo feminino.

No SiSU, a média das ingressantes do sexo feminino é de 59,4% e no vestibular, de 57,1%, com média geral de 58,2% no período de 2013 a 2015, ultrapassando em 2,5% a média nacional, que é de 55,7% dos ingressantes do sexo feminino. A média de ingressantes do sexo masculino no SiSU é de 40,6%; no vestibular, de 42,9%, com média geral de 41,7%, representando uma taxa negativa de 2,5% em comparação à taxa média nacional

b) Idade

Notamos, em nossa pesquisa, que a maioria dos estudantes matriculados nos cursos de graduação do câmpus de Cáceres se situa na faixa etária de 18 a 24 anos. Verificamos, pelo SiSU, que o curso de computação é o que conta com estudantes mais jovens, com média de idade de 19 anos; o curso de letras, com idade mais elevada, com média de 24 anos. No vestibular não há possibilidade de se saber a média de idade dos estudantes, pois as opções no questionário são fixadas por faixa etária. Mesmo com esta limitação, pode-se saber que o curso de agronomia possui 80% dos ingressos na faixa etária de ‘até 18 a 21 anos’, tornando-o o curso com os ingressos mais jovens, enquanto o curso de educação física conta com 55% dos ingressantes na faixa etária de ‘24 a mais de 30 anos’, tornando-o o curso com ingressantes da idade mais elevada.

c) Cor/Raça

A Unemat possui uma política de ação afirmativa que reserva 25% das vagas nos cursos de graduação aos candidatos que se autodeclaram pretos ou pardos, através do Programa de Integração e Inclusão Ético-Racial (Piier), seja pelo SiSU ou o vestibular. É necessário esclarecer que as populações de cor parda e preta não ingressam na universidade apenas por esse programa. As vias conhecidas como ‘ampla concorrência’ e ‘escola pública’ não adotam o requisito cor/raça, o que permite concluir haver ingressantes pardos e pretos também nestas vias.

Pelo SiSU, 72,5% dos ingressantes no curso de geografia declararam serem pardos ou pretos; no vestibular, no curso de história, 64% declararam fazer parte desta mesma população. Nas duas formas de ingresso - SiSU ou vestibular -, o curso de direito é constituído, em sua maioria, por pessoas que se declararam pertencer à população branca, com taxas de 71 e 64%, respectivamente. Os cursos com predominância branca são: direito, com média de 67,5%; enfermagem e medicina, com médias de 65 e 64%, respectivamente.

Verificamos, ainda, que a maior parte da população branca nos cursos de graduação da Unemat, câmpus de Cáceres, está matriculada nos cursos com habilitação de bacharelado diurno, enquanto as populações de cor parda e preta estão matriculadas nos cursos noturnos com habilitação de licenciatura.

d) Estado civil

Nos cursos de bacharéis, 91,6% dos ingressantes são solteiros, 8,3%, casados e 0,1% divorciados/desquitados. Já nos cursos de licenciaturas, a realidade é um pouco diferente, com 77,9% solteiros, 17,2% casados e 4,9% divorciados/desquitados. A maior taxa de solteiros ingressos em 2014/1, verificou-se nos cursos de graduação, com 93,0%, e, em 2014/2, a maior taxa de casados, com 18,3%. A média de solteiros ingressantes pelos SiSU é de 88,9%; pelo vestibular, de 83,5%. A média dos casados pelo SiSU é 10,2%; pelo vestibular, de 14,6%, com média geral, no período analisado, de 12,4%. A média geral dos divorciados, desquitados ou separados judicialmente e viúvos, é de 1,3%.

Dados escolares

a) Ensino fundamental

Observamos que 84,1% dos ingressantes nos cursos de graduação presencial do câmpus de Cáceres cursaram exclusivamente, ou a maior parte do ensino fundamental, em escola pública. Pelo SiSU, a média ficou em 86,5%; pelo vestibular, em 81,8%. A média de ingressantes que cursaram em escola particular pelo SiSU ficou em 13,5%; pelo vestibular, em 18,2%.

Em relação aos cursos, 69,7% dos ingressantes que cursaram em escola pública o ensino fundamental (exclusivamente ou em sua maior parte) optaram por cursos de licenciatura; 78,5% dos que cursaram o ensino fundamental (todo ou em sua maior) em escola particular, optaram por bacharelados.

b) Ensino médio

Na Unemat, o curso de graduação com maior quantidade de estudantes oriundos do setor público, através do SiSU, é o de pedagogia, com média de 97,3%; o de maior quantidade de estudantes oriundos do setor privado é o de medicina, com média de 46,7%. Em relação ao vestibular, o curso com maior quantidade de estudantes de escolas públicas é o curso de pedagogia, com média 94,4%; o de direito, com média de 39,2% dos estudantes oriundos de escolas privadas.

No período analisado, 77,3% dos ingressantes declararam haver cursado o ensino médio (exclusivamente, ou em sua maior parte), em escola pública; pelo SiSU, ingressaram 86,1%; pelo vestibular, 78,5%.

Em relação aos ingressantes oriundos das escolas privadas, 14,7% afirmaram haver cursado o ensino médio (exclusivamente, ou em sua maior parte) em escola privada. Através do SiSU, ingressaram 11,2%; através do vestibular, 18,3%.

c) Modalidade de ensino do médio

Primeiramente, esclarecemos o que entendemos pelas modalidades ‘ensino regular’ e ‘outros’. O ensino regular, nesta pesquisa, refere-se aos cursos de ensino médio com duração de três anos. A modalidade ‘outros’ refere-se à conclusão do ensino médio nas seguintes situações: provão em massa, certificação do ensino médio pelo Enem, cursos técnicos e cursos de ensino médio integrado10.

A maior parte dos estudantes ingressantes afirmou haver concluído que iria concluir o ensino médio (EM) na modalidade regular, representando a média de 86,1% nesta modalidade. O vestibular e o SiSU representam, respectivamente, 81,8 e 90,5% do EM na modalidade regular. Os egressos da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) (Supletivo) ingressam, em maior número, nos cursos superiores através do vestibular.

O curso de agronomia registra a média de 32,1% dos ingressantes oriundos da modalidade ‘outros’; o curso de computação, 12,5%. Verificamos que apenas estes dois cursos contam com estudantes que cursaram o ensino médio técnico profissionalizante, ou o ensino médio integrado.

d) Tempo de conclusão do ensino do médio

Nos cursos de graduação ofertados pelo câmpus de Cáceres, 84,1% dos ingressantes terminaram o ensino médio em até três anos. Os estudantes que levaram de quatro a seis anos, ou mais, para concluir o EM, representam 15,9%.

Dentre os cursos de graduação, o curso de educação física contou com a maior taxa de estudantes que concluíram o ensino médio acima de três anos, com média de 13,2% pelo SiSU, e 16,8% pelo vestibular.

Dados familiares e econômicos

a) Nível de instrução do pai

De acordo com as respostas, temos a maior quantidade de pais com o ensino fundamental completo, representando a média geral de 35,7%. A análise mostra ainda que 10% dos pais dos estudantes que ingressaram pelo SiSU possuem nível superior completo e, pelo vestibular, o percentual é de 12,8%, resultando na média de 11,4% de pais com ensino superior completo.

Nos cursos de graduação do câmpus de Cáceres, a realidade não é diferente, pois a média de estudantes cujos pais possuem escolaridade de nível superior é de 7,3% nos cursos de bacharelado, e de 4,1% nos cursos de licenciatura. Destaca-se, entre os bacharelados, o curso de medicina, com 90,0% dos estudantes com pais com nível superior; entre os cursos de licenciatura, destaca-se o curso de letras, com 24,6%.

b) Nível de instrução da mãe

De acordo com os dados dos questionários, 29,2% dos ingressaram responderam ter mães com ensino fundamental completo; destas, 28,3% ingressaram pelo SiSU e 30,2%, pelo vestibular. Os mesmos dados mostram, ainda, que 20,1% das mães dos ingressantes nos cursos de graduação presencial do câmpus de Cáceres concluíram o ensino superior, 19,5% delas pelo SiSU e 20,8%, pelo vestibular. Verificamos, também, que 31,9% das mães estão com ensino médio incompleto ou completo.

Os cursos com ingressantes com mães que possuem escolaridade até o ensino fundamental completo são: geografia (56,8%), agronomia (57,6%), educação física (61,9%), matemática (63,5%) e pedagogia (67,3%), ou seja, os cursos com mães de ingressantes com menores instruções. Os cursos com ingressantes com mães com nível superior completo, ou cursando, são: letras (39,6%), medicina (44,2%) e direito (46,4%).

c) Tipo de residência familiar

De acordo com as análises, 62,0% dos ingressantes declararam que as residências de suas famílias são próprias e quitadas. Destes, 63,0% ingressaram pelo SiSU e 60,9%, pelo vestibular.

A análise nos mostrou, ainda, que 22,6% dos ingressantes declararam que as residências de suas famílias são alugadas. Desses, 22,0% ingressaram pelo SiSU e 23,2%, pelo vestibular.

O curso de agronomia destacou-se com 88,7% dos que declararam ter as residências familiares próprias e quitadas, enquanto 74,1% dos ingressantes do curso de medicina declararam possuir residência familiar própria e não quitada.

d) Quantidade de pessoas na residência

Notamos na análise, que mais ingressam pelo vestibular os que assinalaram as alternativas compreendidas entre ‘moro sozinho(a)’ a ‘três pessoas’; pelo SiSU, os que assinalaram as alternativas ‘quatro pessoas’ a ‘mais de cinco pessoas’.

De acordo com as respostas nos questionários, pelo SiSU, os cursos de computação e geografia possuem a maior média de pessoas por domicílio, representando 4,3 e 4,7, respectivamente; os cursos com a menor média de pessoas por domicílio são: enfermagem, com 3,4, e medicina e ciências contábeis, com 3,611. Pelo vestibular, os cursos de matemática e geografia possuem a maior média de pessoas por domicílio, 4,4 e 4,6, respectivamente; os cursos com a menor média de pessoas por domicílio são: medicina, com 3,3, e agronomia, com 3,5.

e) Atividade remunerada

Na Unemat, a média geral dos ingressantes que afirmaram exercer atividade remunerada é de 46,1% pelas duas formas de ingresso. Pelo SiSU, ingressou a média de 39,4%; pelo vestibular, 52,8%. Assim, pelo SiSU ingressam menos pessoas que exercem atividade remunerada. Os cursos com menores percentuais de ingressantes trabalhadores são: medicina, com apenas 3,7%, seguidos dos de enfermagem, com 21,3%, e agronomia, com 23,8%. No curso de direito, considerado elitizado no Brasil, o percentual de 52,3% dos ingressantes na Unemat, câmpus de Cáceres, afirmaram que exercem atividade remunerada; isto é, mais da metade dos estudantes na época da inscrição informou que trabalhava. Os cursos com maiores taxas de ingressantes trabalhadores são: pedagogia, com 83,0%, seguidos de matemática e geografia, com 84,7 e 85,3%, respectivamente.

Assim, podemos considerar que os cursos de licenciatura no Brasil, ou, mais especificamente, na Unemat, câmpus de Cáceres, possuem as maiores taxas de estudantes que exercem atividades remuneradas, enquanto os cursos de bacharelados registram as menores taxas de estudantes, em especial nas áreas de saúde.

f) Renda mensal familiar

Para Corbucci (2014), a renda é apontada como o principal fator para o desempenho acadêmico; quando se trata do ingresso, a renda pode constituir empecilho na continuidade dos estudos para os estudantes que trabalham.

Verificamos, no câmpus de Cáceres, que 68,8% dos ingressantes pertencem ao grupo familiar com rendimentos de até 3 salários mínimos. Conforme os dados dos questionários (Enem e Vestibular), aproximadamente 70% dos estudantes matriculados nos cursos de graduação do câmpus de Cáceres sobrevivem com rendimentos mensais de até 3 salários mínimos.

Pelo SiSU, notamos que algumas faixas de renda familiar prevalecem, independentemente do ano em que tenha ocorrido a seleção dos ingressantes. As faixas de renda familiar que prevalecem pelo SiSU são: ‘até 1 salário mínimo’, ‘até 2 salários mínimos’ e ‘entre 5 e 10 salários mínimos’. As outras faixas de renda familiar que prevalecem pelo vestibular são: ‘até 3 salários mínimos”, ‘até 4 salários mínimos”, ‘até 5 salários mínimos’ e ‘entre 10 e 15 salários mínimos’.

Os cursos em que ingressou a maior parte dos candidatos com renda média familiar até 3 salários mínimos pelo SiSU são: ciências contábeis, computação, enfermagem, geografia, história, matemática, biologia, pedagogia. Pela mesma forma de ingresso, os cursos compreendidos entre ‘até 4 salários mínimos’ e ‘até 5 salários mínimos’ de renda média familiar, estão os cursos de educação física e letras. Os cursos com ingressantes com maior poder aquisitivo pelo SiSU, com renda familiar acima de 5 salários mínimos, destacam-se os cursos de agronomia, direito e medicina.

Os cursos com ingressantes pelo vestibular, com renda média familiar de até 3 salários mínimos são: computação, geografia, matemática, biologia, pedagogia. Entre os ingressantes com renda familiar acima de 5 salários mínimos, destacam-se os cursos de agronomia, direito e medicina. Por fim, os cursos compreendidos entre ‘até 4 salários mínimos’ e ‘até 5 salários mínimos’ de renda média familiar estão os de ciências contábeis, educação física, enfermagem, história e letras.

Em relação a renda/curso no Brasil, Ristoff (2014, p. 733) salienta:

Para que se entenda melhor o que ocorre no câmpus brasileiro é necessário lembrar que apenas 7% das famílias brasileiras têm renda mensal superior a 10 salários mínimos. É raro, no entanto, encontrar na graduação brasileira um curso/área em que esta representação seja igual ou inferior à da sociedade.

g) UF da cidade em que reside

A adesão ao novo sistema de seleção pelas universidades (SiSU) traz expectativas diferentes relativamente ao cenário de ingresso na educação superior brasileira, na medida em que possibilita que o processo seletivo de diversas instituições públicas, de norte a sul do Brasil, se realize de forma unificada. Assim, candidatos de lugares mais longínquos da Nação passam a ter a oportunidade de concorrer a uma instituição do território nacional sem que, para isso, tenham que se deslocar, para o processo seletivo, para o local desejado. Estas expectativas são possíveis graças aos esforços realizados pelo governo federal em redistribuir as vagas dos cursos superiores através de programas de democratização do acesso às universidades brasileiras.

Dentro destas expectativas, na Unemat, câmpus de Cáceres, apenas 8% dos ingressantes são de fora do estado. O curso mais procurado pelos ingressantes de fora do estado é o de medicina, com média de 92,4% dos ingressos. Destes, 89,7% pelo SiSU e 95,1% pelo vestibular. O curso com menor ingresso é o de pedagogia, com apenas um ingressante do estado de Rondônia/RO, pelo SiSU, em 2013/1, e pelo vestibular, 100% do estado de MT.

Considerações finais

A questão levantada nesta pesquisa foi: com a adesão ao SiSU, o ingresso continua democratizado?

Para responder à questão, analisamos documentos e traçamos o perfil dos acadêmicos ingressantes pelo vestibular e pelo sistema. Os resultados evidenciaram que sua implementação repercutiu em mudanças na estrutura da prova do vestibular, com inserção de políticas afirmativa para estudantes oriundos da escola pública, criação de mecanismos para preenchimento das vagas pelo SiSU e implementação de políticas de permanência com os auxílios alimentação e moradia.

O resultado sobre o perfil dos ‘ingressantes pelo SiSU’, no período de 2013 a 2015, indica que:

a maioria é do sexo feminino, com 59,4%;

a de jovens, com idade de até 24 anos, 78,1%;

ingressantes considerados de cor parda, 45,8%;

de cor branca, 37,3%;

a maior inserção é a de ingressantes de cor preta, parda e de indígenas;

solteiros, 88,9%;

estudantes que concluíram todo o ensino fundamental na rede pública, 78,5%;

estudantes que concluíram o ensino médio integralmente em escola pública, 82,2%;

dos ingressos, 83,3% concluíram o ensino médio em até três anos;

estudantes oriundos do ensino regular, 90,5%;

ingressantes com mães nos seguintes níveis de instrução:

ensino fundamental completo, 28,3%;

ensino médio incompleto; 20,6%;

superior completo, 19,5%.

ingressantes com pais nos seguintes níveis de instrução:

ensino fundamental completo, 33,6%;

ensino médio incompleto, 16,4%;

ensino fundamental incompleto, 10,5%.

número de pessoas que residem no mesmo domicílio acima de três pessoas, 62,4%.

residência familiar própria quitada: 63,0%.

ingressantes que não exercem atividade remunerada, 60,6%.

famílias com menor poder aquisitivo, com rendimentos de até 2 salários mínimos, 57,4% dos ingressantes, 90,7% são domiciliados no estado de Mato Grosso.

O resultado encontrado sobre perfil dos ‘ingressantes pelo vestibular’, no período de 2013 a 2015, constata que:

a maioria é do sexo feminino, com 57,1%;

de jovens com idade de até 24 anos, 66,1%;

maior inserção de ingressantes, com mais de 27 anos;

ingressantes de distribuídos por cor:

parda, 42,9%;

de cor branca, 42,7%;

maior inserção de ingressantes de cor branca e amarela;

solteiros, 83,5%;

ensinos:

ensino fundamental completo na rede pública, 74,4%, com crescimento de percentual dos ingressantes nas categorias ‘Todos em escola particular’ e ‘Maior parte em escola particular’;

ensino médio: integralmente em escola pública, 73,7%, com crescimento de percentual dos ingressantes nas categorias ‘todos em escola particular’, ‘maior parte em escola particular’ e ‘maior parte em escola pública’;

estudantes que concluíram o ensino médio em até três anos, 84,9%;

estudantes oriundos do ensino regular, 81,8%;

ingressantes com ‘mães’ nos seguintes níveis de instrução:

ensino fundamental completo, 30,2%;

ensino médio incompleto; 20,9%;

superior completo, 20,8%;

ingressantes com ‘pais’ nos seguintes níveis de instrução:

ensino fundamental completo, 37,8%;

ensino médio incompleto, 18,5%;

superior completo, 12,8%;

número de pessoas que residem no mesmo domicílio: abaixo de quatro pessoas, 50,8%;

residência familiar própria quitada, 60,9%;

ingressantes que exercem atividade remunerada, 52,8%;

famílias com maior poder aquisitivo: com rendimentos acima de dois salários mínimos, 56,5%; e

ingressantes residentes em Mato Grosso, 93,3%.

As principais ‘mudanças encontradas no perfil’’ foram:

estudantes que residem com maior número de pessoas;

estudantes que não exercem atividade remunerada e

possuem renda familiar até três salários mínimos.

O presente estudo demonstrou que o ingresso na Unemat, após a implementação do SiSU, continua democratizado, pois atende a um público variado - ingressantes oriundos de classes e raças distintas. É preciso analisar a trajetória acadêmica desses estudantes com o intuito de verificar sua permanência nos cursos, pois a democratização do acesso à educação superior não se deve restringir apenas à democratização do ingresso; é preciso que o estudante tenha condições de ingressar e de concluir o curso.

Referências

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Appendix 1

Questões analisadas dos questionários do Enem/SiSU e Vestibular/Unemat no período de 2013 a 2015.

Cont

Questões analisadas dos questionários do Enem/SiSU e Vestibular/Unemat no período de 2013 a 2015.

Notas

1 Consideramos como ‘ingressantes’, para esta pesquisa, os candidatos aprovados no SiSU ou vestibular que efetuaram as matriculas na Supervisão de Apoio Acadêmico, pois assim estão regularmente matriculados.
2 Termo utilizado pelo Inep, que significa substituir o número real da inscrição do Enem por um fictício, mas conservando todas as informações do candidato.
3 Plataforma eletrônica, pela qual os gestores da instituição têm acesso a alguns dados do Sisu, não do Enem.
4 Os ingressantes na Unemat nos cursos de graduação em 2013/1 fizeram o Enem 2012; logo, para encontrar os questionários, precisamos fazer o cruzamento dos dados de cada SiSU com o respectivo Enem anterior.
5 Merge é o comando que cruza registros de dois ou mais bancos de dados, com objetivo de comparar informações iguais e armazená-las em nova base de dados.
6 São variáveis com itens semelhantes ou iguais, que possam ser analisados por comparação.
7 Consideramos, nesta pesquisa, que mudança se refere a algo que já existia, porém foi modificado em virtude da implantação do SiSU.
8 Consideramos, nesta pesquisa, os atos que não existiam, mas foram criados em virtude da implementação do SiSU.
9 1. Ciências Humanas e suas Tecnologias (Componente Curricular: História, Geografia, Filosofia e Sociologia). 2. Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Componente Curricular: Química, Física e Biologia). 3. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação (Componente Curricular: Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol), Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação). 4. Matemática e suas Tecnologias (Componente Curricular: Matemática) (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira [INEP], 2016).
10 Os cursos de ensino médio integrado são cursos que têm duração média de quatro anos, em virtude de possuir currículo do ensino médio propedêutico e ensino médio profissionalizante.
11 Medicina e ciências contábeis registraram um empate técnico. Medicina, com média de 3,59; ciências contábeis, com 3,57. Para uma e outras, arredondamos para 3,6.
12 For this study, we consider 'new students', the candidates approved through the SiSU or entrance exam who have enrolled in the Supervision of Academic Support, for thus they are enrolled in the university.
13 Term used by Inep, which means to replace the actual Enem registration number with a fictitious one, while still retaining all of the information of the candidate.
14 Electronic platform, by which the managers of the institution have access to some data the from Sisu, but not from the Enem.
15 The entrants to undergraduate courses at Unemat in 2013/1 took the Enem 2012; So, to find the questionnaires, we needed to cross reference the data of each SiSU with the previous Enem.
16 Merge is the command that cross references records from two or more databases, in order to compare the same information and store it in a new database.
17 They are variables with similar or equal items, which can be analyzed by comparison.
18 In this study, we consider, that change refers to something that already existed, but was modified by virtue of the implementation of the SiSU.
19 In this study, we consider, acts that did not exist, but were created due to the implementation of the SiSU.
20 1. Human Sciences and their Technologies (Curricular Component: History, Geography, Philosophy and Sociology). 2. Natural Sciences and their Technologies (Curricular Component: Chemistry, Physics and Biology). 3. Languages, Codes and their Technologies and Writing (Curricular Component: the Portuguese Language, Literature, Foreign Language (English or Spanish), Arts, Physical Education and Information and Communication Technologies). 4. Mathematics and its Technologies (Curricular Component: Mathematics) (National Institute of Educational Studies and Research Anísio Teixeira [INEP], 2016).
21 The integrated high school courses are courses that have an average duration of four years, because they have a high school curriculum and vocational secondary education.
22 Medicine and accounting sciences have registered a technical tie. Medicine, with an average of 3.59; accounting sciences, with 3.57. We rounded up to 3.6 for both.

Autor notes

Elizeth Gonzaga dos Santos Lima: Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas e mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, em 2012, concluiu o Pós-Doutorado nesta mesma universidade, cursando parte deste estágio na Universidade de Aveiro-Portugal. Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Curso de Pedagogia da UNEMAT. Avaliadora da Educação Superior pelo MEC/INEP/SINAES/. Integrante da Rede Universitas-Br, eixo 5 - Acesso e Permanência na Educação Superior e Vice-líder do Grupo de pesquisa Acesso e Permanência da Unemat. Integra também a rede de pesquisa Inovação e Avaliação da UFRGS e líder do Grupo de pesquisa e Estudos sobre Avaliação Educacional na Unemat. E-mail: elizeth@unemat.br ORCID: http://orcid.org/0000-0002-3340-5587
Luiz Francisco Borges: Graduado em Licenciatura Plena em Matematica pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2005). Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Servidor da Universidade do Estado de Mato Grosso no cargo de Técnico Administrativo do Ensino. Integrante da Rede Universitas-Br, eixo 5 - Acesso e Permanência na Educação Superior e do Grupo de pesquisa Acesso e Permanência da Unemat. E-mail: luizborges@unemat.br ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2486-1799
Fernando Cezar Vieira Malange: Doutor em Eng. Elétrica - Automação pela UNESP de Ilha Solteira (2010), mestre em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004), e graduação em Processamento de Dados pela UNESP de Bauru (1989). É professor da Universidade do Estado de Mato Grosso. Coordenador de Grupo de Estudos e Pesquisas do CNPQ (Políticas de Acesso e Permanência na Educação Superior - GPAPES) e coordena o Projeto Acesso e Permanência no Processo de Expansão da Educação Superior na Unemat (PROAPES). Integra a Rede Universitas/Br. E-mail: fmalange@unemat.br ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2210-8245
Nota: Autor 1 foi responsável pela redação do manuscrito, revisão crítica do conteúdo e aprovação da versão final a ser publicada. Autor 2 foi responsável pela concepção, delineamento, análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito, revisão crítica do conteúdo e aprovação da versão final a ser publicada. Autor 3......
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