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Literatura: ‘uma forma de luta contra a desumanização do ser humano’
Acta Scientiarum. Language and Culture, vol. 39, núm. 1, pp. 103-110, 2017
Universidade Estadual de Maringá

Entrevista



Recepção: 29 Fevereiro 2016

Aprovação: 12 Julho 2016

DOI: https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v39i1.31171

Resumo: A entrevista com o professor Dr. Massaud Moisés1 foi realizada como atividade integrante de uma pesquisa por mim desenvolvida em nível de pós-doutorado que procurava investigar a presença da literatura portuguesa nas universidades brasileiras como área de ensino e de pesquisa2. No depoimento que segue, o professor Massaud Moisés é convidado a relembrar dos tempos iniciais de sua vida acadêmica na USP dos anos 40, de sua relação com os seus dois principais mestres, dos quais viria a se tornar uma espécie de discípulo. Além disso, fala sobre suas escolhas acadêmicas, de suas preferências literárias, de sua experiência como aluno e como professor. Do alto de seus mais de 90 anos de vida, grande parte dos quais dedicados à docência, o professor Massaud Moisés faz, ainda, um breve balanço sobre a sua produção intelectual, sobre os livros que produziu, confessa a sua alegria em ensinar e, ao final, declara de modo muito particular o seu amor pela literatura. A entrevista foi gravada e, posteriormente, transcrita, o que resultou no tom coloquial do texto que aqui procurei conservar.

Entrevista com Massaud Moisés

PERGUNTA: Tendo em vista que a presente pesquisa tem o foco no estudo da presença da literatura portuguesa nas universidades brasileiras, gostaria de saber como o senhor foi atraído, inicialmente, ao estudo da literatura portuguesa e como foi sua formação nessa área? Quais foram as suas principais influências, dentre autores, teóricos e professores? [1][2]

MASSAUD MOISÉS: A sua primeira pergunta conduz necessariamente à seguinte, ou seja, a resposta à segunda, de certo modo, acaba por responder à primeira. Bem, a minha formação se deve substancialmente ao professor António Soares Amora[3], fui seu aluno em vários níveis e a influência que ele exerceu sobre mim foi muito grande. Aliás, desde o colegial, portanto, pois fui aluno dele já no colégio. Enfim, começou com ele toda a minha história com a Literatura Portuguesa. Desde minha mocidade, portanto, o professor António Soares Amora me acompanhou e a parceria continuou durante a vida profissional. Fizemos inúmeras coisas na área, inclusive o Centro de Estudos Portugueses[4], que surgiu de um nosso esforço conjunto. Portanto, a nossa ligação se tornou muito estreita e permanente. O professor Soares Amora foi aluno e assistente do professor Fidelino de Figueiredo[5], o qual foi o grande responsável por transmitir-nos toda a bagagem europeia de conhecimento da literatura.

PERGUNTA: O senhor chegou a conhecer o professor Fidelino de Figueiredo? Chegou a frequentar suas aulas?

MASSAUD MOISÉS: Sim, sim, mas já bem no final de sua estada no Brasil, ele já estava próximo de ir embora do país. Aliás, coincidentemente, foi bem marcante este período, pois o professor Fidelino já estava com a saúde bem debilitada, ele já estava bastante doente de modo que esse curso que eu fiz foi um curso especial, foi muito significativo, pois ele trazia um problema, enfim, que não era usual para a época, a questão da geração literária. Portanto, foi um curso singular que ele deu e que funcionou como uma espécie de despedida. O contato com ele já vinha desde antes, evidentemente, mas o contato mais próximo se deu mesmo nesse curso de despedida, já que logo em seguida ele voltou a Portugal.Logo depois, ele viria a falecer. Depois desse curso, contudo, eu ainda o encontrei, eu fui para Lisboa passar um tempo lá, estive com ele e a esposa e, claro, foi um encontro bastante cheio de lembranças. Mas ele já estava bastante debilitado por conta da doença, embora sempre com aquele mesmo brilho intelectual. Era um homem de formação muito singular e sólida. Enfim, eu tive a sorte de poder ter estado com ele ainda nesse período final de vida.

Mas a influência principal se deu com o professor Amora, do qual eu me mantive muito próximo durante anos, mesmo, até a sua morte. A nossa relação sempre foi muito estreita, por várias razões, mas, sobretudo, pelo amor ao mesmo assunto, a literatura, e porque ele era um professor especial. Devo muito a ele, ainda hoje. Enfim, eu sinto a presença dele nas coisas que faço, nas coisas que penso.

PERGUNTA: Sob seu ponto de vista, qual a principal contribuição do Fidelino de Figueiredo para a área, além de ter inaugurado na Universidade de São Paulo o estudo da literatura portuguesa?

MASSAUD MOISÉS: A pergunta é bastante boa, diria que é fulcral. O Fidelino sabia muita coisa, sabia literatura como um grande scholar daquele tempo, sabia literatura espanhola, latina, tinha uma grande formação e transformava a presença dele num acontecimento, como eu direi..., singular. Mas ele chamava a atenção para uma série de questões que para nós eram desconhecidas. Por conta de sua ampla formação europeia, o professor Fidelino apresentava a Literatura Portuguesaa partir das relações com as demais literaturas, sobretudo a espanhola e a francesa. Ele não se restringia apenas à literatura portuguesa. Ele chegava a entusiasmar muito seus alunos com tudo isso que ele manejava com uma facilidade muito grande. E esse estilo mais generalista, de certa forma, mais abrangente, acabou por influenciar seus alunos, tal como eu e o Amora.

Aliás, o Amora tinha um pendor pela literatura brasileira também, ele publicou até aquele livro de História da Literatura Brasileira (Amora, 1995). Aliás, quando ele começou a trabalhar na USP, tanto ele quanto o Fidelino, anteriormente, tiveram de trabalhar com literatura portuguesa e brasileira, já que no início a disciplina chamava-se literatura luso-brasileira. Como você deve conhecer a história, foi um grupo de intelectuais europeus que vieram para o Brasil iniciar o curso aqui na USP, vieram intelectuais franceses, italianos e os que vieram para a literatura portuguesa acabaram se encarregando da Brasileira também e aos poucos foi se dando o processo de desmembramento da disciplina, para o qual o próprio Fidelino contribuiu.

PERGUNTA: E o senhor se lembra quando se deu esse desmembramento? Quem assumiu a cadeira de literatura brasileira?

MASSAUD MOISÉS: Eu tenho a impressão que a coisa não foi assim tão imediata. Por volta de 1938 ou 39, Fidelino chama o Amora para trabalhar junto com ele e ambos trabalhavam com literatura brasileira e portuguesa. O Amora aos poucos foi assumindo as duas. Não me lembro ao certo quem foi o primeiro professor de literatura brasileira, mas creio ter sido um professor que já vinha dando aula da disciplina e que depois se candidatou à cadeira em quarenta e qualquer coisa, em concurso que, inclusive, Oswald de Andrade também se candidatou, mas, enfim, acabou não entrando. Portanto, a literatura brasileira definiu-se na altura do início da década de quarenta. Se não me falha a memória, foi o Sousa Lima[6] o primeiro professor a assumir a cadeira de literatura brasileira. Enfim, logo depois dele vieram outros bastante importantes, como o José Aderaldo Castelo, que era o seu assistente, e assim a área foi se estabelecendo.

Mas, no começo, o curso de letras estabeleceu-se, mesmo, ao estilo europeu. Não era dito, assim, do modo como eu estou dizendo, mas o espírito europeu orientava o estudo da literatura não focando em apenas uma nacionalidade, não bastava bem conhecer uma literatura. Conhecer bem uma literatura era conhecer várias literaturas, era esse o espírito, não é? Tanto é que muitas delas ficaram acopladas durante muitos anos.

PERGUNTA: A divisão em áreas era mais uma distinção metodológica, não? Não impedia que houvesse um diálogo.

MASSAUD MOISÉS: Exatamente. Para nós todos, felizmente, o que estava em primeiro plano era um domínio da literatura europeia, o que predominava era a formação europeia. Tanto é assim que as perguntas que o Fidelino fazia eram sempre perguntas que forçavam o estabelecimento de relações. Por exemplo, ao trabalhar o autor Antero de Quental, suas características etc..., o professor Fidelino sempre conduzia o aluno a ver as correspondências da realização do poeta em relação à literatura francesa, por exemplo, ou à brasileira. Não assinalar somente a influência, mas sim a semelhança de orientação estética, os traços estilísticos etc. De qualquer forma, o que predominava era o espírito europeu, ou seja, o que para nós hoje é obvio: para conhecer uma literatura é preciso conhecer várias literaturas. Ou seja, conhecer apenas uma literatura é não conhecer literatura.

Enfim, como já disse, por volta de 1938 ou 39, o professor Fidelino de Figueiredo acaba convidando o Amora para trabalhar junto dele. O curioso, inclusive, é que o Amora veio a se tornar, posteriormente, genro do professor Fidelino de Figueiredo.

PERGUNTA:O professor Fidelino de Figueiredo acabou por se tornar o orientador do professor Amora, o qual, por sua vez, acabou por orientar o senhor, criando uma espécie de descendência, não?

MASSAUD MOISÉS: Sim, exatamente, isso mesmo, uma espécie de descendência intelectual. Havia até uma similitude de sensibilidade, de orientações e de inquietações quanto aos problemas etc. Enfim, de qualquer modo, essa contaminação se deu até a década de 60. Não é possível recuperar os fatos de modo tão exato quanto à cronologia, mas, enfim, é possível fazermos um esboço, não?

PERGUNTA: Naquela época, o estudo em nível de pós-graduação era bem diferente do que é hoje, não? Era um sistema de orientação mais livre, não havia disciplinas para serem cursadas. Como era esse sistema de pós-graduação?

MASSAUD MOISÉS: Era mais no espírito tutorial europeu. Por exemplo, eu fui logo chamado para o doutoramento. Conversei com o Fidelino e com o Amora e eu acabei por inclinar minha orientação e pesquisa para algo que não era muito chamativo na época, que era o tema da novela de cavalaria.

PERGUNTA: A novela de cavalaria no quinhentismo português (Moisés, 1957), relacionando os dois períodos?

MASSAUD MOISÉS: Exatamente, abrangendo duas épocas.

PERGUNTA: Como o senhor foi atraído a essa temática no começo de sua vida acadêmica?

MASSAUD MOISÉS: Eu precisava escolher um tema para o desenvolvimento do doutorado que fosse original quanto possível. Ah! É preciso que se diga que bem no início de minhas pesquisas universitárias eu tinha ficado entre espanhol e português. Quase fiz carreira na área de literatura espanhola, depois é que me decidi pela portuguesa.

A aproximação com a literatura espanhola está ligada com as novelas de cavalaria. Acontece que, naquela altura, quando se falava em novela de cavalaria, pensava-se em literatura espanhola de modo preferencial. De modo que eu comecei a buscar evidências na literatura portuguesa das novelas de cavalaria, como é o caso da Demanda do Santo Graal, por exemplo. Contudo, nem o professor Fidelino de Figueiredo e nem o professor Amora eram especialistas em novelas de cavalaria, de modo que eu acabei por estabelecer o tema de minha tese por conta própria e acabei me deparando com a novela do autor Jorge Ferreira de Vasconcelos. Confesso que os dois não apreciaram muito a minha escolha, pois a novela desse autor era uma novela, assim, considerada meio que de segunda categoria. Claro, diante de um Dom Quixote, de fato é, mas era portuguesa, não é?, e isso me atraiu muito a atenção. E a partir daí, eu fui me embrenhando no tema da novela de cavalaria no universo português e cheguei até a pensar em trabalhar com a Demanda do Santo Graal em Portugal, mas depois acabei me dando conta de que não seria possível, já que teria de passar um longo tempo em Portugal, seis meses ou mesmo um ano, pesquisando os códices e documentos medievais, o que, para a época, não era viável. Não dava para fazer aqui uma tese razoável sobre a Demanda. Portanto, eu tive de encontrar uma novela que não tivesse sido estudada e que eu pudesse desenvolver a pesquisa aqui. Enfim, eu não me enganei, pois, apesar de ser uma novela secundária dentro do restante do que se conhece, ela põe problemas sobre a novela de cavalaria em Portugal, para quem se interessa por literatura portuguesa. Enfim, eu tive auxílio inicial do professor Fidelino Figueiredo, mas, depois de sua volta a Portugal, eu acabei ficando sob a orientação exclusiva do professor António Soares Amora. O professor Amora era um homem admirável, com uma capacidade de interação muito grande, com um poder de sedução verbal extraordinário. O sistema de orientação era mais livre, não havia disciplinas para fazer, a orientação se dava com base numa bibliografia básica e o orientando ia desenvolvendo o trabalho, individualmente, sob a orientação, de modo que a tese ia sendo escrita e reescrita até receber o aval do professor orientador para a apresentação da defesa. A orientação durava em torno de três ou quatro anos, a depender da disponibilidade de tempo do orientando, visto que, naquele tempo, desenvolviam-se as pesquisas ao mesmo tempo em que se lecionava. Eu, por exemplo, dava muitas aulas enquanto realizava meu doutoramento, eu dava 60horas/aula por semana nessa época. Nesse período, eu lecionava no Sedes Sapientiae, no Mackenzie e na USP em tempo parcial. Depois, quando me doutorei, passei de tempo parcial para tempo integral. Tão logo comecei a trabalhar na USP, nessa época, assumi a direção de Marília (na Unesp) e logo em seguida também passei a ser diretor substituto da Unesp de Assis, no lugar de António Soares Amora, quando este passou a assumir um cargo na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. O que acontece é que o tempo de execução da tese estava ligado a vários fatores e a coisa era feita muito em razão do desenvolvimento do diálogo com o orientador.

PERGUNTA: E a defesa se dava no mesmo sistema?

MASSAUD MOISÉS: Era num sistema parecido, com uma banca formada pelo orientador e mais dois ou três professores.

PERGUNTA: Era uma época atribulada, de muitas viagens, não?

MASSAUD MOISÉS: Pois é, mesmo àquela época, às vezes eu tinha de fazer algumas viagens de avião, quando precisa visitar os lugares num curto espaço de tempo. Eu ia de avião quando era possível, mas na maioria das vezes eu fazia as viagens de trem, pois naquela época o sistema de trens no Estado de São Paulo era muito bom. O avião entrava apenas quando se fazia necessário. Foi uma época de muito trabalho, mas era muito divertido fazer isso, era muito agradável.

PERGUNTA: O senhor é um intelectual que não se furtou aos desafios, permitindo-se uma abordagem mais abrangente da literatura portuguesa, prova disso é que, em 1954, defendeu uma tese sobre novela de cavalaria e algum tempo depois o senhor publicou um importante livro sobre Fernando Pessoa, intitulado Fernando Pessoa: o Espelho e a Esfinge1988), umas das obras pioneiras de um estudioso brasileiro sobre a obra do poeta português. Diante disso, gostaria de saber como o senhor foi atraído, à época, ao estudo da obra de Fernando Pessoa, o que o motivou a escrever tal estudo? Por que motivo o senhor não deu continuidade, ao longo de sua carreira acadêmica (há apenas uma tese de doutorado de 1973 orientada pelo senhor a respeito de Fernando Pessoa), à pesquisa sobre Fernando Pessoa, já que a sua obra se mostra até hoje bastante relevante?.

MASSAUD MOISÉS: A sua pergunta abre um outro capítulo de minha vida acadêmica e intelectual. Eu diria o seguinte, a impressão, ou melhor, o impacto que o conhecimento do Pessoa gerou em mim foi arrebatador. Eu estava diante de algo tão surpreendente que havia me cativado desde minha adolescência e com uma capacidade de encantamento que fez com que eu abraçasse o Fernando Pessoa e ele a mim de modo tentacular e com todas as consequências. Eu tive vontade de dizer, bom, daqui pra frente é só o Fernando Pessoa.

PERGUNTA: Eu imaginei que talvez isso pudesse ter passado pela cabeça do senhor.

MASSAUD MOISÉS: Pois é, mas acontece que eu também tinha outros amores. E o Pessoa logo me deu a impressão que eu estava diante de um desafio que me levaria muitos anos. Eu estava descobrindo o Pessoa, cada poema era um deslumbramento, um arrebatamento, enfim, então o que fazer diante de tal fenômeno? Eu optei pela coisa que me pareceu mais possível, mais imediata e eu não teria outra saída, eu não deixaria o Pessoa por nada, nada me distanciaria dele (risos). Eu queria continuar cavando a alma pessoana, mas houve um momento em que eu não podia continuar.

PERGUNTA: O senhor seria absorvido por ele.

MASSAUD MOISÉS: Completamente, eu não faria outra coisa senão estudar Pessoa. Portanto, foi uma descoberta alucinante, alucinada.

PERGUNTA: Como o Pessoa chegou até o senhor? Quem o apresentou?

MASSAUD MOISÉS: Acho que foi ocasional. Penso que devo ter lido algum texto sobre Pessoa e isso me chamou a atenção e, então, eu fui atrás. Fui tentar descobrir quem era esse autor tão arrebatador. Mas eu acho que a razão de eu não ter me prendido a Pessoa se deva talvez também às razões que me levaram a ele, talvez venha dessa influência da formação europeia, mais generalista. A gente tem sempre de voltar ao ponto de partida. Foi o espírito europeu que me levou a tudo isso, não é mesmo? Era uma formação que fazia com que eu não me satisfizesse com o conhecimento que está estatuído e segmentado, que não me contentasse com certo discurso estabelecido e com a reafirmação de especialidades.

PERGUNTA: E também preservar uma liberdade intelectual que permitisse visitar mais autores e mais literaturas. Menos especialização e liberdade maior?

MASSAUD MOISÉS: Que quase pode ser traduzida por aquele começo de que falamos, ou seja, conhecer uma literatura é conhecer várias, conhecer um autor é conhecer vários. De repente entra um Pessoa na minha vida e eu começo a dar tratos à bola para ver quais portugueses poderiam ter exercido influências sobre ele e, obviamente, aí temos uma bibliografia imensa. Esse tipo de formação primava por uma certa liberdade intelectual que me levava a transitar por vários campos da literatura. Acredito, portanto, que essa liberdade que me fez encontrar Pessoa também permitiu que eu não me prendesse a ele, mas o arrebatamento inicial não permitia que eu me pusesse imóvel diante de tal fenômeno literário.

PERGUNTA: E daí que surgiu o livro, dessa inquietação diante do Pessoa?

MASSAUD MOISÉS: E essa inquietação, dependendo um pouco do nível e intensidade, aconteceu também com outros autores e outros temas. Aliás, é necessário em literatura ser insatisfeito. Ou seja, a gente começa tentando examinar um problema e somos conduzidos a outros de que nem fazíamos ideia e isso vai longe. A tendência é para que os temas se entrelacem, se misturem, se esclareçam. E isso aconteceu sempre. E eu noto, chegando nessa idadezinha em que eu já estou mais pra lá do que pra cá, que é só assim que podemos entender literatura. É assim que podemos desenvolver o conhecimento sobre literatura, a partir dessa inquietação e desse modo de olhar desprendido e livre para estabelecer relações.

PERGUNTA: Quanto às pesquisas de pós-graduação, segundo a base de dados de de fesas da FFLCH, se não estou errado em minha contabilização, o senhor orientou 29 trabalhos de pós-graduação entre 1970 e 1996. A maioria dos trabalhos orientados é sobre literatura do século XIX e XX, a que o senhor atribui o foco à pesquisa predominantemente nos séculos XIX e XX?

MASSAUD MOISÉS: Foi acontecendo, não é? Não é só uma preferência. Talvez o interesse dos orientandos tenha influenciado. Eu penso que o estudo da literatura dependa primeiramente do acesso que se tem a ela e eu desconfio que o acesso à literatura mais próxima da contemporânea possa explicar esse interesse de meus orientandos a respeito da literatura do século XIX e XX. De certo modo, penso que isso reflete um estado geral da disciplina, ou seja, uma coisa chama a atenção durante muito tempo e depois acaba saindo de cena. Mas, de qualquer modo, penso que o que mais oriente os interesses nas pesquisas talvez seja mesmo o acesso à literatura.

PERGUNTA:Aproveitando que entramos nesse assunto do acesso à literatura. Gostaria de voltar a conversa sobre as suas obras. O senhor tem muitos livros publicados e muitos deles serviram a muitos estudantes de letras, pois alguns de seus livros funcionam de modo a facilitar o acesso a determinados textos literários. Por exemplo, em Faculdades de Letras que não dispõem de um biblioteca rica e variada, a existência de seus livros, tais como A Literatura Portuguesa através dos textos (1968), funcionou e funciona ainda muito bem e cumpre o papel a que se propõe, a saber, o de facilitar o acesso ao texto literário, mesmo que por meio de trechos previamente selecionados, aliás, muito bem selecionados. Portanto, penso que isso seja um grande serviço não apenas para a área, mas para a educação de uma forma geral. Quanto às suas publicações, qual livro o senhor julga mais importante?

MASSAUD MOISÉS: Curiosa a questão que você está levantando. Compreendo a sua pergunta, mas tenho dificuldade em responder. Eu pensaria na função do livro. Uma hipótese para se julgar a sua importância é a função que ele possa desempenhar. Por exemplo, a minha experiência mostra que quanto mais material disponibilizarmos, viabilizarmos o acesso, melhor para a área e para a pesquisa, inclusive. Eu penso num livro sempre assim, equero fazer um livro que atenda a isso. Quanto mais material dermos para os colegas lerem a respeito de um determinado assunto, melhor é para o assunto, para não dizer que é melhor para a pessoa. E isso se manifesta nos livros desse tipo. Por que um professor universitário, com todos esses anos, com esse trabalho etc., resolve publicar A Literatura portuguesa através dos textos? Será que é necessário? Fazer uma antologia assim, um livro assim? Que função teria? Não seria uma espécie de capitis diminutio? [expressão latina que significa, aproximadamente, a perda das liberdades civis, de modo que a pessoa passa a ser tutelada]. Por que interessa uma antologia, não é melhor conhecer, melhor não, necessário conhecer os textos integralmente? Está aí um problema que é de ordem didática ou de ordem, como direi, programática, ou que outro nome tenha. É preciso ou não é preciso que existam obras assim? Não é reduzir o trabalho intelectual a uma coisa pequena que é uma antologia? Acho que ainda é uma discussão aberta, mas, apesar de tudo, o que eu acho, continuo achando, é que a existência delas ainda é muito importante para a formação do estudante. Porque, senão, o que nós faríamos? Vamos lá. Por exemplo, temos de estudar o século XIX, algo como o conto no século XIX português. Como estudar? Não havendo nenhuma antologia, como fazer isso rapidamente, se você não dispõe de uma biblioteca com exemplares variados e abundantes? Como possibilitar o acesso do aluno a esses textos? Onde estão estes contos? Se você dispõe dessa biblioteca, ótimo, mas se não, como fazer?

PERGUNTA: Houve um interesse editorial muito grande em seus livros por parte da editora Cultrix, como foi essa relação entre o senhor e a editora? As ideias dos livros partiam do senhor ou da editora?

MASSAUD MOISÉS: Ah! Essa é uma história bonita! Quem foi chamado para uma parte nova, um projeto novo da Cultrix[7] foi o Edgar Cavalheiro, ele foi convidado pelo Diaulas Riedel para organizar essa parte de literatura, o qual convidou o José Paulo Paes para cuidar da parte de publicações. Eu cheguei à editora pelo José Paulo Paes e, a partir daí, nasceu tudo o que foi de minha contribuição para a editora. Na maioria das vezes, os projetos nasciam das minhas propostas, raramente os projetos eram encomendados. O meu primeiro convite foi para realizar uma edição de nove romances de Machado de Assis, com introdução e notas. Isso foi por volta de 56. Lembro-me de ir, nessa época, toda terça-feira visitar o José Paulo Paes na editora, para conversar sobre as obras, sobre os projetos e, principalmente, porque havia surgido uma amizade muito grande entre nós[8]. Enfim, com a morte do Diaulas, quem assumiu a editora foi o filho dele, o qual realizou um trabalho muito bom em relação à retomada de edição das minhas obras. Capa, formato, ele deu uma formatação uniforme para todas as obras, procedeu a um processo de revisão e reedição.

PERGUNTA: De qual livro o senhor gosta mais?

MASSAUD MOISÉS: Eu gosto muito da Presença da Literatura Portuguesa, talvez por ter cumprido o papel a que se destinava, mas a obra de que mais gosto, talvez seja uma menos conhecida, intitulada Literatua: mundo e forma, que é de 1982. Esta obra, curiosamente, não pegou. Ela acabou tomando um teor menos didático, distante um pouco do estilo das outras obras, mas a primeira parte, principalmente, acabou ficando muito pesada. Contudo, apesar de ser uma das obras de que mais gosto, é também uma das menos conhecidas.

PERGUNTA: Qual foi a maior alegria ou sua maior satisfação durante sua carreira acadêmica? O senhor conseguiria indicar um momento, algum aspecto?

MASSAUD MOISÉS: Trata-se de uma pergunta difícil. Eu não sei, eu não poderia responder satisfatoriamente. Eu diria que isso não está na sua pergunta visivelmente, mas está sobretudo na minha lembrança, porque é que afinal eu fui à literatura e não fui à medicina, como meu pai queria muito que eu fosse. Era libanês, queria ter um médico em casa, para um libanês isso era uma honra, ter um médico em casa, aliás, há uma tradição nisso. E eu, é claro, não queria seguir essa carreira, eu queria outra coisa, e essa coisa era a literatura, ele ficou um bom tempo sem falar comigo quando ficou sabendo que eu não optaria pela medicina. Bem, mas depois de muito tempo, depois de já formado, casado, ele se rendeu, e o que ele disse mostrava que eu tinha seguido a minha propensão e ele acabou verificando que eu estava certo. Afinal, o que faz com que um cidadão vá para a literatura e não vá para outra coisa? Por que é que você escolheu a literatura?

Não foi por dinheiro ou prestígio profissional, com certeza. Foi por uma outra coisa que é muito mais importante! Mas que só na prática é que a gente observa, não? Há uma série de negativas que podem ser atreladas pelo senso comum à literatura, como uma futilidade, uma perda de tempo etc, mas quando a pessoa quer a literatura, ela terá acesso a um mundo que de outra forma não teria, em hipótese nenhuma, e que é um alimento para toda a vida. E isso em todos os sentidos. Agora, pensando na questão das funções dos livros, eu acho que uma grande realização minha foi, realmente, a de poder viabilizar a literatura a muitas pessoas por meio de meus livros. Ofercer alimento para pessoas que não tem acesso fácil a ele.

Mas minha maior alegria talvez, eu possa dizer, era a de dar aulas, era o contato com os alunos. Senti muito quando me aposentei. Penso que a maior alegria era ensinar, eu tinha a vocação para ser um didata. E esse prazer em lecionar vinha já desde os tempos em que dava aula em colégios. Eu dava aulas em bons colégios, um deles era o Bandeirantes. Acontece que a meninada entrava na sala fazendo as coisas mais indisciplinadas, levavam galinha para dentro da sala, botavam fogo na sala etc... E eu ia controlando as situações, mas sem tolher a liberdade dos alunos. Acontece que com o tempo eu fui conseguindo conquistá-los. Enfim, eram aluas divertidas, apesar das indisciplinas individuais. Eram aulas que eu dava com muito amor e com muito prazer. Sem dúvida, realmente, a minha maior alegria sempre foi poder estar próximo de meus alunos. E isso eu digo também para o meu tempo de professor universitário, inclusive nos trabalhos de orientação de mestrado e de doutorado.

(Massaud Moisés pede para pegarem em sua biblioteca o livro Literatura: mundo e forma)

MASSAUD MOISÉS: Eu gostaria de explicar um pouco o papel dessa obra. Eu gostaria de explicar um pouco a partir do próprio título do livro. Eu só gostaria de ter o livro em mãos, para explicar a razão do título, porque, aparentemente, parece um desvio de minha trajetória, mas são, na verdade, os outros livros meus que explicam a existência desse livro. É porque esse livro explica, de certo modo, os outros livros e abre uma perspectiva para um outro entendimento de literatura, ou melhor, o entendimento da literatura como ela está sendo concebida naquilo que eu tenho escrito.

PERGUNTA: É um livro em que o senhor, de uma certa maneira, descreve como é a sua abordagem da literatura, não?

MASSAUD MOISÉS: Sim, e, ao mesmo tempo, é uma tentativa de explicar a base do que seria o conceito de literatura. É um livro um pouco difícil, a partir do título, porque não é muito simples, já que pressupõe uma definição de literatura. O que é a literatura? A literatura é o encontro do mundo com a forma que esse mundo pode tomar. O escritor, quando começa a escrever, está diante do mundo e está construindo uma forma verbal, ou seja, é a forma que capta o mundo como este se representa ao escritor.

PERGUNTA: Então é um livro fundamental dentro do conjunto de sua obra?

MASSAUD MOISÉS: É, a modéstia me obrigaria a dizer que é fundamental até certo ponto, pois, na verdade, eu estou pensando o conceito de literatura. Partindo da ideia do conceito de literatura, como é que se conceitua literatura? A meu ver esse conceito se constrói a partir dessa relação dúplice entre o mundo e a forma, porque a literatura é a somatória desses dois conceitos, ou então, é o modo de se entender como a obra reflete aquilo que é fundamental, que é o mundo. A meu ver continuo a achar que essa possa ser a resposta do problema fundamental. Mas aí eu peço a sua ajuda. O que é que o leitor vai fazer diante dessa relação entre mundo e forma, ou mesmo o estudioso de literatura? Qual é o papel que ele deve ter? Isto nos leva a outra reflexão, não é mesmo?!!!

(Nesse momento, o professor Massaud Moisés oferece-me um exemplar do livro Literatura: mundo e forma e o autografa)

PERGUNTA FINAL: Qual conselho o senhor daria para um jovem estudante de letras que estivesse começando agora as suas pesquisas em literatura? Por que o senhor recomendaria o estudo da literatura portuguesa?

MASSAUD MOISÉS: Eu começaria com um problema genérico. Se ele escolheu as letras por uma vontade inadiável, ele deve continuar voltado para isso, pois ele terá uma recompensa que nenhuma outra escolha daria, por mais endinheirada que fosse, com grandes empregos etc. Quanto ao estudo da literatura portuguesa, porque para nós que estamos no mundo da língua portuguesa não há uma saída mais adequada para quem quer desenvolver a sua capacidade e o seu amor à literatura de uma forma geral. Seria não apenas uma porta de entrada para a literatura, mas, inclusive, tanto um porto de partida quanto de chegada.

Enfim, o que parece irremediável é que não dá para viver sem literatura quando nós a conhecemos, ou quando nós estamos em contato com ela do modo como estamos em nossa profissão. Não dá, por mais que as coisas do mundo às vezes tendam a nos afastar dela. Claro, alguém dirá, o velhinho aí já não diz coisa com coisa, mas ainda penso que ela é sim um modo especial de se entender o mundo e de se relacionar com ele, a literatura, como já disse alguma vez em alguma outra oportunidade, é uma forma de luta contra a desumanização do ser humano.

Muito obrigado, professor, pela sua atenção e generosidade.

MASSAUD MOISÉS: Eu é que agradeço pela visita e espero que ela se repita por mais vezes.

Referências

Amora, A. S. (1955). História da Literatura Brasileira. São Paulo, SP: Cultrix.

Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras: 1939-1949. (1949). São Paulo, SP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Figueiredo, N. F. (Org.). (2012). Fidelino de Figueiredo visto por ele e pelos outros. São Paulo, SP: Edusp.

Garcez, M. H. N. & Rodrigues, R. L. (Coord., Org. e Ed.). (1997). O Mestre. São Paulo, SP: Green Forest do Brasil Editora.

Moisés, M. (1957). A novela de cavalaria no quinhentismo português: o memorial das proezas da segunda távola redonda, de Jorge Ferreira de Vasconcelos. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo.

Moisés, M. (1982). Literatura: mundo e forma. São Paulo, SP: Cultrix; Edusp.

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Rodrigues, R. L. (1997). O Mestre. In: M. H. N. Garcez & R. L. Rodrigues (Coord., Org., e Ed.), O Mestre (p. 17). São Paulo, SP: Green Forest do Brasil Editora.

Santilli, M. A. (1994). Literatura Portuguesa. Estudos Avançados, 8(22), 427-429.

Notas

[1] Professor titular aposentado do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo- USP. Foi professor visitante nas universidades norte-americanas de Wisconsin (1962-1963), Indiana (1967-1968), Texas (1971), Califórnia (1982), Vanderbilt (1970-1987), bem como na Universidade de Santiago de Compostela (2001). Dirigiu as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Marília e Assis, Institutos Isolados do Ensino Superior do Estado de São Paulo, mais tarde incorporados à Unesp. Dirigiu o Centro de Estudos Portugueses da Universidade de São Paulo (1956-1957, 1968-1986). A entrevista aqui transcrita foi concedida pelo professor Dr. Massaud Moisés no dia 14 de março de 2014, em sua casa, com a presença de sua esposa, Maria Antonieta, e do professor Caio Gagliardi, também do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo- USP.
[2] O projeto intitulou-se, inicialmente, A presença da Literatura Portuguesa no Brasil: percursos e percalços do ensino e da pesquisa no processo de constituição da área de Literatura Portuguesa nas universidades brasileiras. A pesquisa teve como sede o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH/USP e foi financiada pela Fapesp (Processo 2013/07623-3). No período de tempo compreendido pelo relatório apresentado ao órgão de fomento do projeto, a pesquisa completou a investigação nas universidades públicas do Estado de São Paulo: USP; Unicamp, Unesp (Assis; Araraquara e São José do Rio Preto); UFScar e Unifesp. Em cada uma destas universidades, a pesquisa pautou-se por quatro frentes de investigação: 1. Memória institucional (sobre o curso de letras e sobre a área de literatura portuguesa); 2. Documentação acadêmica (de graduação e pós-graduação); 3. Pesquisa (levantamento da produção na área de literatura portuguesa, em termos qualitativos e quantitativos); 4. Depoimentos (por meio de entrevistas orais ou escritas).
[3] António Soares Amora sucedeu o professor Fidelino de Figueiredo na cátedra de literatura portuguesa na USP. Para mais informações sobre a personalidade acadêmica de Soares Amora, recomenda-se a consulta ao livro O Mestre (Garcez & Rodrigues, 1997).
[4] O Centro de Estudos Portugueses surge, inicialmente, sob a designação de Instituto de Estudos Portugueses. O Instituto de Estudos Portugueses (IEP) foi instituído segundo a portaria GR54 de 3/05/1954 e foi inicialmente instalado em um andar do prédio da rua Frederico Steidel, número 137, na cidade de São Paulo. O Instituto, pois, desde o seu início, teve vida própria, funcionando não apenas como uma extensão das atividades da cátedra de literatura portuguesa, mas também servindo para fomentar as ações de pesquisa e de extensão da FFCL na área de letras como um todo.Segundo Rodrigo Leal Rodrigues, o IEP teria sido a concretização, com algumas modificações, de projeto organizado por Fidelino de Figueiredo, em 1948, aprovado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, mas não instalado por falta de recursos. O evento de instalação do Instituto de Estudos Portugueses se deu em São Paulo, no ano de 1954, sob a direção já do professor António Soares Amora. O Instituto de Estudos Portugueses permaneceu com esse nome desde a sua criação até o final da década de 60, quando, em razão da reforma universitária iniciada em 66 e concluída em 1969, culminando no decreto de nº. 52.326 que aprovou o novo Estatuto da Universidade de São Paulo, teve de ter o seu nome alterado para Centro de Estudos Portugueses (CEP) (Rodrigues, 1997).
[5] Fidelino de Figueiredo fez parte do grupo de professores europeus que ajudou a organizar a Universidade de São Paulo e a sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras logo após sua fundação. Conforme lembra Santilli (1994), na origem dos cursos de letras da USP, as áreas de conhecimento eram organizadas por cadeiras. A grande área de letras, portanto, abrigava em seu bojo duas subáreas e dez áreas específicas de conhecimentos, denominadas cadeiras. A área de conhecimento de literatura portuguesa esteve abrigada, portanto, pela cadeira de literatura luso-brasileira, a qual esteve inicialmente sob a responsabilidade do professor Otoniel Mota e, a partir de 1938, sob a responsabilidade de Fidelino de Figueiredo (Santilli, 1994). Ainda sobre Fidelino de Figueiredo, veja-se o texto intitulado “Fidelino de Figueiredo na origem dos estudos de Literatura Portuguesa no Brasil”, de António Soares Amora, publicado no mesmo número do texto de Santilli acima referido. Recentemente a editora da USP publicou dois volumes de memórias sobre a personalidade acadêmica de Fidelino de Figueiredo, organizados pelo seu filho (Figueiredo, 2012).
[6] Depois do desmembramento da cadeira de literatura luso-brasileira, o professor Mário Pereira de Souza Lima passou a reger interinamente a cadeira de literatura brasileira, desde 1939. Em 1945, a cadeira foi posta em concurso, tendo sido aprovado em primeiro lugar o próprio Souza Lima. Tal concurso fora realizado em agosto de 1945, sendo que, curiosamente, os concorrentes de Souza Lima foram, dentre outros, o professor António Cândido e o poeta modernista Oswald de Andrade. Tais informações podem ser encontradas no Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras: 1939-1949.
[7] A empresa editora O Pensamento, de Antônio Olívio Rodrigues, foi iniciada em 1907. Inicialmente seguindo a linha do ocultismo. Ampliou seus assuntos quando sua direção foi assumida por Diaulas Riedel, em 1943. Em 1955, constituiu-se a subsidiária Editora Cultrix para editar, sob a direção de Edgard Cavalheiro, textos literários, em especial clássicos de literatura brasileira.
[8] A propósito da morte de José Paulo Paes, o professor Massaud Moisés publicou um belo texto sobre a memória do amigo (Moisés, 1999).

Autor notes

lf.telles@hotmail.com



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