Literatura

Literatura, memória e identidade em ‘Infância’, de Graciliano Ramos

Literature, memory and identity in ‘Infância’, by Graciliano Ramos

Cátia Silene Kupssinskü
Universidade Feevale, Brasil
Juracy Assmann Saraiva
Universidade Feevale, Brasil

Literatura, memória e identidade em ‘Infância’, de Graciliano Ramos

Acta Scientiarum. Language and Culture, vol. 40, núm. 2, 2018

Universidade Estadual de Maringá

Recepção: 18 Dezembro 2017

Aprovação: 26 Julho 2018

Resumo: Este artigo propõe uma reflexão sobre a literatura e sua relação com a memória, individual e coletiva, e com a identidade. As obras literárias se valem da memória para a constituição de tramas ficcionais que nela buscam a fonte que embasa a representação da realidade. A memória, por sua vez, tem relação direta com identidades sociais e individuais, já que, por meio de sua exposição, permite a elaboração da imagem pela qual os indivíduos são representados diante de si mesmos e dos outros. O corpus deste estudo é a obra literária ‘Infância’, publicada por Graciliano Ramos, no ano de 1954, na qual o autor relata, por meio de lembranças, sua vida dos dois aos onze anos de idade. A análise indutiva da obra se guia por constructos formulados por autores como Fernando Catroga (2001), Michael Pollak (1992), Aristóteles (2005), Paul Ricoeur (1994), Kathryn Woodward (2012), os quais abordam aspectos pertinentes à literatura, à memória e à identidade.

Palavras-chave: literatura, memória, identidade, ‘Infância’, Graciliano Ramos.

Abstract: The purpose of this article is a reflection on literature and its relation to memory - individual and collective - and to identity. The literary works make use of memory for the constitution of fictional plots, seeking the source that supports the representation of reality. Memory, in turn, has direct relation with social and individual identities, since, through its exposition, it allows the elaboration of the image by which individuals are represented before themselves and others. The corpus of this study is the literary work Infância, published by Graciliano Ramos, in 1954, in which the author reports, through memories, his life from two years to eleven. The inductive analysis of the work is guided by constructs by authors such as Aristotle (2005), Paul Ricoeur (1994), Michael Pollak (1992), Fernando Catroga (2001) and Kathryn Woodward (2012) – all of which deal with aspects related to literature, memory and identity.

Keywords: literature, memory, identity, ‘Infância’, Graciliano Ramos.

Introdução

A literatura é terreno fértil para estudos interdisciplinares, já que ela conjuga um conjunto de saberes. Essa afirmativa se sustenta, pois, para a tecitura da trama ficcional, o autor se vale de aspectos históricos, sociais, culturais da época e do local nos quais a intriga se deslinda. Assim, por serem representação do real, os textos literários se consolidam como testemunho social e oportunizam ao leitor, por meio da apreensão dos enunciados, um olhar sobre os indivíduos e sua atuação no âmbito da sociedade. Todavia, a verossimilhança das tramas ficcionais se sustenta pela memória que, na literatura, interliga passado, presente e futuro – caráter tridimensional do tempo, descrito por Santo Agostinho – que se conjugam na motivação do ato criador, na produção da obra e na leitura.

A memória está diretamente ligada a questões identitárias, e estas, ao se articularem com a literatura, estabelecem um espaço fecundo para a aprendizagem, pois os leitores de uma obra ficcional têm o distanciamento necessário do problema narrado na trama literária, para apreendê-lo, criticamente, ainda que, para isso, devam aderir sensorialmente, ao universo do ‘como se’.

A literatura, portanto, por meio de seu caráter ficcional, oferece ao leitor um lugar entre a imaginação literária e a realidade do mundo, o que lhe possibilita o reconhecimento de questões sociais e do lugar do próprio homem na sociedade. Dessa forma, ao mesmo tempo em que registram sua cultura por meio de tramas ficcionais, ou se deixam cativar por elas, os indivíduos sofrem sua interferência na concepção e transformação de suas identidades.

É a conexão entre literatura memória e identidade que guia este estudo, o qual toma como corpus a obra literária ‘Infância’, publicada por Graciliano Ramos, no ano de 1954. A obra tem cunho memorialístico por se tratar de uma autobiografia, na qual Graciliano relata etapas vivenciadas em sua infância, o relacionamento com pessoas de seu círculo familiar e social e os espaços em que viveu, questões pertinentes para a concepção da identidade desse sujeito do ato de enunciação.

O marco teórico, que fundamenta a análise indutiva da obra, é amparado em constructos de Fernando Catroga (2001), Michael Pollak (1992), Aristóteles (2005), Paul Ricoeur (1994), Kathryn Woodward (2012), Antonio Candido (2004), autores que abordam temas pertinentes à literatura, à memória e à identidade.

Literatura, memoria, identidade

A produção e a fruição literária são resultantes da necessidade humana de vivenciar a ficção e a fantasia. As obras ficcionais, ao mesmo tempo em que proporcionam prazer por meio da leitura, contribuem para a formação da personalidade do indivíduo, já que servem de instrumento de “[...] reconhecimento do mundo e do ser” (Candido, 2004, p. 85). É por meio da possibilidade da apreensão do que está nas entrelinhas do enunciado, que o leitor se compraz, e este prazer se transforma em aprendizagem (Aristóteles, 2005).

Portanto, a literatura tem a capacidade de confirmar a humanidade do homem e em seu coração tocar, pois ela fala sobre ele, ao mesmo tempo em que nele interfere como indivíduo social. Para sustentar essa argumentação, é pertinente enfocar, previamente, questões acerca da memória e da identidade e da literatura como representação do real.

A constituição da memória é amparada na relação do indivíduo a acontecimentos, a pessoas (ou personagens) e a lugares (Pollak, 1992). Os acontecimentos podem distinguir-se entre os “[...] vividos pessoalmente” (Pollak, 1992, p. 201) ou “[...] vividos por tabela” (Pollak, 1992, p. 201). Os acontecimentos experimentados por tabela são aqueles que não são vivenciados pessoalmente pelo indivíduo, mas que ganham tal relevo que é difícil distinguir o imaginário da realidade em que se fundamentam. A mesma regra se aplica em relação às pessoas ou personagens: algumas são conhecidas pessoalmente, fazem parte do cotidiano ou de etapas da vida de um indivíduo, e outras pessoas ou personagens são conhecidas por tabela, ou seja, de forma indireta, mas são percebidas com familiaridade por quem a elas se reporta. Os lugares se relacionam a lembranças pessoais, sem que tenham necessariamente apoio no tempo cronológico, e podem ser transferências ou projeções relacionados a diferentes eventos (Pollak, 1992).

A partir desse pressuposto, é possível afirmar que a memória – ainda que pareça algo individual e íntimo – é um fenômeno coletivo e social, o qual é submetido constantemente a flutuações, transformações e mudanças (Pollak, 1992). Seu caráter coletivo, inclusive na referência a memórias individuais, se dá também pelo fato de que “[...] ninguém se recorda exclusivamente de si mesmo” (Catroga, 2001, p. 45); além disso, a importância da fidelidade, inerente à recordação, instiga o testemunho do outro. A presença do outro, para constituir recordações, institui-se de forma ativa, visto que algumas lembranças pessoais são resultantes do relato alheio (Catroga, 2001).

A memória, portanto, é um fenômeno que intercala lembrança e esquecimento sendo, dessa forma, construída de maneira seletiva – em um processo tanto consciente quanto inconsciente – o que faz dela uma “[...] representação afetiva” (Catroga, 2001, p. 46), uma “[...] re-presentificação” (Catroga, 2001, p. 46) feita no presente, pautada no passado e que remete ao futuro (Catroga, 2001).

A experiência vivida ou reconstituída pelo testemunho de alguém, as marcas coletivas e a seletividade fazem com que a memória tenha um estreito vínculo com a sensação de identidade do sujeito, sob a perspectiva da constituição da imagem de si para si e para os outros (Catroga, 2001). Assim, as concepções identitárias são elaboradas, dentre outros fatores, por meio da memória, a partir de construção de imagens pelas quais os indivíduos querem ser representados aos outros e a si mesmos (Pollak, 1992). Por essa razão, as concepções identitárias são formadas e transformadas em momentos particulares no tempo e se configuram como limites imaginários cambiantes, os quais são concebidos a partir do confronto com o outro, com o diferente (Woodward, 2012).

As representações identitárias, em obras ficcionais, constroem-se por meio da mimese e são instituídas pelas ações e pelos objetos que compõem a trama, os quais correspondem aos caracteres, ou personagens[1]. A mimese[2] consiste na imitação da ação humana (Aristóteles, 2005), sendo possível reconhecer, nos implícitos do enunciado, traços identitários das personagens, por meio da apreensão dos signos que se vinculam às suas ações.

É também por meio da mimese que a intriga é colocada em uma sucessão temporal, agregando passado, presente e futuro (Ricoeur, 1994). Esse posicionamento tem por base a ‘Poética’ de Aristóteles, a que se integra a reflexão de Santo Agostinho sobre o tempo, que resulta no conceito da tríplice mimese, pela qual o tempo humano ganha forma na narrativa. Sendo assim, a narrativa une o tempo prefigurado, que é o tempo da produção do autor, a um tempo configurado, que é o tempo constituído no texto, e a um tempo refigurado, que é o tempo do leitor. A eles correspondem, respectivamente, a mimese 1, a mimese 2 e a mimese 3 (Ricoeur, 1994).

A mimese 1, representa o momento da produção da obra pelo autor, no qual o artista compreende como ocorrem as ações humanas e quais os significados que estas ações têm. A pré-compreensão do autor se constrói em três elementos que passam a ser representados na narrativa: a ação em geral e seus traços estruturais, a mediação simbólica e os caracteres temporais. A ação e os traços estruturais correspondem ao modo como a narrativa é concebida, quais as circunstâncias tempo-espaciais, quem são as personagens, quais os motivos que levam os agentes a agir, como as personagens interagem umas com as outras. Esta fase, portanto, se refere ao processo de criação da narrativa que inclui a reflexão sobre o efeito a ser causado no leitor, que considera o modo como os símbolos vão interferir na relação entre a trama e o leitor. A mediação simbólica funciona eficazmente em um texto literário quando o autor e os leitores compartilham de uma mesma cultura, já que os simbolismos se ancoram em códigos culturais, que fornecem as regras para sua interpretação (Ricoeur, 1994).

A mimese 2 é o produto da mimese 1, ou seja, é a própria produção poética que media a reflexão do leitor sobre o mundo e o texto, processo que se dá na mimese 3 (Ricoeur, 1994). Esse é o tempo do leitor, pois quando uma narrativa é lida, o próprio tempo é lido às avessas.

É por meio do ato de narrar que o homem consegue apreender seu passado e projetar seu futuro a partir do tempo presente, fazendo com que a narrativa permita a compreensão da circunstância temporal de sua própria vida. O homem rememora para recuperar o passado e prefigura o seu futuro ao figurar o presente. Portanto, o presente leva o indivíduo ao passado pela rememoração, assim como o leva ao futuro por meio da esperança (Ricoeur, 1994).

Os apontamentos até aqui referidos mostram a conjugação entre literatura, memória e identidade, a qual, na prática, é percebida na obra literária ‘Infância’, que serve de corpus para este estudo.

Um olhar sobre ‘Infância

A obra literária ‘Infância’, de Graciliano Ramos, foi publicada originalmente no ano de 1954, pela editora Olympio e consiste na autobiografia do autor, o qual relata, em 39 capítulos distribuídos em 316 páginas, a representação de aspectos de sua vida, dos dois aos doze anos de idade.

A criança é o protagonista da obra, que tem como característica marcante seu caráter memorialístico, de que decorre a convergência entre os limites da realidade e da ficção. Esta composição dual não é assumida explicitamente na narrativa, mas pode ser apreendida pelo leitor nas entrelinhas dos enunciados, pois, em alguns trechos, é possível entender que nem mesmo o narrador sabe se sua recordação condiz com a verdade, como se percebe na seguinte passagem:

Desse antigo verão que me alterou a vida restam ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que efetivamente me recorde. O hábito me leva a imaginar ambientes, criar fatos a que atribuo realidade (Ramos, 1980, p. 26).

A citação, além de apontar para o viés ficcional pelo qual a obra também é constituída, corrobora o pensamento de Catroga (2001), que afirma que a memória é um fenômeno onde se intercalam lembrança e esquecimento. A incerteza acerca das lembranças do narrador é reafirmada em vários momentos do texto, de forma intensificada em seu início, possivelmente porque esse se situa em um período precoce da infância, dificilmente alcançado pela memória.

O recorte temporal, em que iniciam as revelações, indica que essas também se originam do testemunho de outras pessoas, porque, mesmo que afirme que suas “[...] mais antigas recordações [...] datam desse tempo” (Ramos, 1980, p. 12), Graciliano busca na memória da mãe a referência da própria idade, conforme mostra o trecho: “Que idade teria eu? Pelas contas de minha mãe, andava em dois ou três anos” (Ramos, 1980, p. 9-10).

A busca de referências no testemunho do outro, tanto para a constituição como para a fidelização da memória, é apontada por Catroga (2001), e é constatada já no primeiro parágrafo:

A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada [...]. Ignoro onde o vi, quando o vi e se uma parte do caso remoto não desaguasse noutro posterior, julgá-lo-ia sonho. Talvez nem me recorde bem do vaso: é possível que a imagem [...] tenha ficado por eu ter comunicado a outras pessoas que a confirmaram (Ramos, 1980, p. 9).

Por meio desses trechos também é possível destacar o caráter coletivo da memória – afirmado por Pollack (1992), mesmo na referência a memórias individuais – pois, na narrativa, Graciliano evidencia a busca da fidelidade – inerente à recordação – por meio da convergência de suas lembranças com a de indivíduos e coisas que povoaram sua infância:

[...] reuni pedaços de pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo, criei o meu pequeno mundo incongruente. As vezes as peças se descolavam – e surgiam estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feita de indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia as características (Ramos, 1980, p. 20-21).

Além de expressar a importância dada às pessoas que intermediam, de forma ativa, o resgate da memória do narrador, bem como a concepção de sua identidade, o trecho relata as constantes flutuações, transformações e mudanças, submetidas à memória, questão evidenciada por Pollak (1992).

O destaque oferecido às pessoas é proporcional às referências feitas aos lugares em que acontecimentos importantes são vividos. Desta forma, o narrador se apropria, de forma integralizadora, de lugares, pessoas e acontecimentos, apontados por Pollak (1992) como os três elementos que se associam à constituição da memória.

Os lugares descritos revelam que a trama acontece no nordeste brasileiro, entre Alagoas e Pernambuco, onde mudanças de endereços são vivenciadas pelo menino e sua família. Ao abordar essa série de mudanças, o narrador revela que “[...] apareceram vários lugares imprecisos e entre eles não havia continuidade. Pontos nebulosos, ilhas esboçando-se no universo vazio” (Ramos, 1980, p. 12), o que faz referência à própria imprecisão da memória, mediante a qual a narrativa é concebida.

Alguns locais são mencionados vagamente, como uma cidadezinha em Alagoas, onde o menino vive com a família antes de irem para o sertão de Pernambuco, ou como um açude lamacento, junto ao qual encontram pouso em viagens. Outros lugares são descritos com mais consistência, como a fazenda, situada no sertão de Pernambuco, onde o protagonista inicia a narrativa de suas experiências; a vila para a qual o menino e a família se mudam ao saírem da fazenda; a cidade de Viçosa, em Alagoas, na qual ele perde alguns hábitos antigos e adquire novos; a escola, onde aprende, dentre outras coisas, a gostar de ler.

As pessoas ou personagens, que compõem a trama, revelam-se como indivíduos importantes para a formação da identidade do narrador e são indissociáveis dos acontecimentos que, de forma seletiva, a memória de Graciliano elege.

Dentre tantas personagens, é possível destacar a mãe, “[...] uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza [...], boca má, olhos maus que em momento de cólera se inflamavam com o brilho da loucura” (Ramos, 1980, p. 16); o pai, assim como a mãe, uma criatura calejada pela vida agreste, descrito como um “[...] reprodutor mesquinho” (Ramos, 1980, p. 156) que “[...] sujeitava-se à moral comum” (Ramos, 1980, p. 156); a primeira professora, Dona Maria, a quem são conferidas as características mais afáveis: “Aquela brandura, a voz mansa, a concertar-me as barbaridades, a mão curta, a virar a folha, apontar a linha, o vestido claro e limpo, tudo me seduzia” (Ramos, 1980, p. 119); outros professores, como D. Maria do O, um outro professor, D. Agnelina e o Professor Rijo, que são mencionados com pouco afeto na narrativa; o moleque José, filho de Quitéria, com quem o menino passa por uma experiência que marca sua alma; José Baía, amigo de infância, “[...] rapagão aprumado e forte, de olhos claros, risonho” (Ramos, 1980, p. 12); e Mário Venâncio, “[...] colaborador de jornais, autor de livros” (Ramos, 1980, p. 237), que incentiva Graciliano a dar o primeiro passo na carreira profissional.

Os acontecimentos narrados, muitas vezes remetem à dureza dos pais, o que caracteriza a relação familiar, conforme o narrador descreve com precisão no trecho abaixo:

Revejo pedaço deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem lábios, mãos grossas e calosas, finas e leves, transparentes [...]. Dois seres que me impuseram obediência e respeito. Habituei-me a essas mãos, cheguei até a gostar delas. Nunca as finas me trataram bem, mas às vezes molhavam-se em lágrimas – e meus receios esmoreciam. As grossas, muito rudes, abrandavam em certo momento (Ramos, 1980, p. 14-15).

A referência às mãos dos pais e não à própria figura deles revela a frieza da relação estabelecida entre a família – pais, irmãos naturais e irmãos legítimos – cuja impessoalidade era suavizada pela convivência eventual com os avós.

Na narrativa, são raras as menções de alguma ação das mãos que tentavam externar afeto, entretanto, são das surras os episódios mais convictos. Uma delas, de tão severa e humilhante, merece até um capítulo específico, que é intitulado ‘Um cinturão’. O episódio acontece quando o menino tinha “[...] quatro ou cinco anos” (Ramos, 1980, p. 16), em um momento em que o pai acorda de mau humor à procura de um cinto e ordena ao menino que lhe devolva o acessório. O menino, “[...] débil e ignorante, incapaz de defesa e conversa” (Ramos, 1980, p. 16), encolhe-se em um canto e é açoitado com um chicote, sem que alguém o ajude. Dessa forma, ele reforça seu sentimento de abandono, de solidão, de injustiça e, em si, vê um covarde.

A experiência causa tamanho impacto que deixa marcas na vida adulta, pois o autor relata que não pode ouvir alguém falar alto, pois:

O coração bate-me forte, desanima como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro (Ramos, 1980, p. 33).

Mesmo com os sofrimentos vivenciados pelas surras, o narrador conta que, em outra circunstância de sua vida, ainda menino, toma o papel de algoz, o que lhe permite experimentar a ideia de superioridade, que lhe marca “[...] a carne e o espírito” (Ramos, 1980, p. 85). O fato acontece na fazenda, com o “[...] moleque José, filho macho da preta Quitéria” (Ramos, 1980, p. 83), moleque que “[...] ria constantemente” (Ramos, 1980, p. 83), era “[...] suave e persuasivo, tentando harmonizar-se com todas as criaturas” (Ramos, 1980, p. 83). Uma noite, na fazenda, ao presenciar o pai açoitando o moleque com chicote – por uma razão qualquer – teve a tentação de auxiliar o pai na surra:

Retirei uma acha curta do feixe molhado, encostei-a de manso a cada uma das solas que se moviam por cima da minha cabeça. Na verdade, apenas toquei a pele do negrinho. Não me arriscaria a magoá-lo: queria apenas convencer-me de que poderia fazer alguém padecer. O meu ato era a simples exteriorização de um sentimento perverso, que a fraqueza limitava. Se a experiência não tivesse gorado, é possível que o instinto ruim me tornasse um homem forte. Malogrou-se – e tomei rumo diferente (Ramos, 1980, p. 87-88).

Ao narrar a experiência com o “negrinho” (Ramos, 1980, p.87), o protagonista revela, nas entrelinhas do enunciado, questões pertinentes a concepções identitárias, para as quais a interação com o outro tem papel fundamental. Ao tomar o pai como parâmetro, o menino tenta criar uma imagem para ele mesmo – que não é validada – a que projeta o desejo de aceitação do pai, sublinhado a convicção, segundo a qual questões identitárias se relacionam com a percepção de inclusão e exclusão. Entretanto, o problema mais relevante do episódio refere-se às cicatrizes sociais oriundas do período da escravatura, que se revelam na brutalidade e no aviltamento do ser humano em ações realizadas durante o período em que a cronologia da obra se ampara.

A severidade do pai, expressa nas surras aplicadas ao menino, também é percebida no convívio diário entre ambos e se expõe no modo impositivo com que o pai tenta ensinar o filho a ler: “Meu pai não tinha vocação para o ensino mas quis meter-me o alfabeto na cabeça. Resisti, ele teimou – e o resultado foi um desastre […]. Uma vez por dia o grito severo me chamava à lição” (Ramos, 1980, p. 106-107).

O início da alfabetização é um dos acontecimentos da infância do narrador que merece uma rememoração específica, constituindo o capítulo intitulado ‘Leitura’. O narrador relata seu interesse tardio pelo ato de ler, que acontece ao ver um folheto “[...] de papel ordinário [...] com linhas mal impressas, falhadas, antipáticas” (Ramos, 1980, p. 104). Ao perceber a curiosidade do filho sobre as letras do folheto, o pai instiga-o, afirmando que “[...] as pessoas familiarizadas com elas tem uma arma terrível” (Ramos, 1980, p. 104). Dessa forma, é apresentada ao menino a questão da diferença – que é apontada por Woodward (2012) como norteadora das identidades – a qual também é estabelecida na narrativa por meio da distinção entre o grupo que domina a prática da leitura e o que não é capaz de exercê-la.

O ‘saber ler’, relacionado à participação em grupos com traços distintivos, reafirma os vínculos de identidade e estreita-se mediante a argumentação do pai, conforme mostra o trecho a seguir:

Aí meu pai me perguntou se eu não desejava inteirar-me daquelas maravilhas, tornar-me um sujeito sabido como o padre João Inácio e o advogado Pedro Américo. Respondi que não. Padre João Inácio me fazia medo e o advogado Pedro Américo, notável na opinião do júri, residia longe da vila e não me interessava. Meu pai insistiu em considerar esses dois homens como padrões (Ramos, 1980, p. 104-105).

A imposição do pai – registrada nas referências identitárias que o menino deveria seguir – evidencia-se nas primeiras lições ministradas, que são percebidas como “[...] escravidão imposta ardilosamente” (Ramos, 1980, p. 105), de que resulta o desgosto pela leitura.

O desafeto do menino pela leitura e pela escrita é tanto, que o narrador refere como maldades os textos que, na infância, serviram como base para alfabetização: “Jogaram-me maldades grandes e pequenas, impressas e manuscritas. Um inferno!” (Ramos, 1980, p. 107); e como “[...] terrível dever, o pior de todos [...]” (Ramos, 1980, p. 174) a tarefa de “[...] rabiscar algumas linhas” (Ramos, 1980, p. 174).

É na escola que, inicialmente, esse desgosto abranda, por meio da serenidade da primeira professora, D. Maria. Com ela, o menino aprende, além dos primeiros passos na leitura, a receber respeito, atenção, afeto. Em consequência, o sentimento que deveria ser direcionado à figura materna floresce, no coração do menino, para a professora, como é possível perceber na citação:

Nessa paz misericordiosa os meus desgostos ordinários se entorpeceram, uma estranha confiança me atirava à santa de cabelos brancos, aliviava-me o coração. Narrei-lhe tolices. D. Maria escutou-me. Assim amparado, elevei-me (Ramos, 1980, p. 124).

Portanto, a primeira professora tem expressão positiva para a concepção identitária do narrador e é por meio dela que Graciliano é introduzido no caminho pelo qual redigiria sua trajetória como escritor.

As descrições acerca de outros professores com quem o menino conviveu são depreciativas e não trazem qualquer boa recordação: D. Maria do O é apresentada como um ‘diabo’, uma “[...] mulata fosca, robusta em demasia [...]” (Ramos, 1980, p. 175), vigorosa – “[...] vigor que se manifestava em repelões, em berros” (Ramos, 1980, p. 175) e até em agressões físicas aos alunos. “O outro professor” (Ramos, 1980, p. 189) desmerece, até mesmo a lembrança do nome, pois, para o menino, ele “[...] não tinha lugar definido na espécie humana: era um tipo mesquinho, de voz fina, modos ambíguos e passava o dia alisando o pixaim com uma escova de cabelos duros. Era feio, quase negro – e a feiura e o pretume o afligiam” (Ramos, 1980, p. 189).

A experiência vivida com esses dois professores faz com que a criança se desencante novamente pela leitura, recue na aprendizagem e menospreze a escola:

O lugar de estudos era isso. Os alunos se imobilizavam nos bancos: cinco horas de suplício, uma crucificação. Certo dia vi moscas na cara de um, roendo o canto do olho, entrando no olho. E o olho sem se mexer, como se o menino estivesse morto. Não há prisão pior que uma escola primária do interior. A imobilidade e a insensibilidade me aterraram. Abandonei os cadernos [...], não deixei que as moscas me comessem. Assim, aos nove anos, ainda não sabia ler (Ramos, 1980, p. 200).

As descrições de D. Agnelina e do Professor Rijo, mesmo que não se comparem com as da primeira professora, mostram que eles deixam no menino uma boa semente que, mais tarde, germinaria. D. Agnelina, professora que possuía “[...] raro talento para narrar histórias” (Ramos, 1980, p. 206), transmitiu-lhe “afeição às mentiras impressas” (Ramos, 1980, p. 206) – referência ao caráter ficcional de obras literárias que não são ‘verdades’, mas sim a representação dela, já que obras ficcionais se valem da realidade e imitam a ação humana, por meio da mimese (Aristoteles, 2005). É essa mesma professora que indica o Professor Rijo, homem que “[...] não podia comparar-se aos viventes comuns” (Ramos, 1980, p. 207), com quem o menino esclarece a dúvida sobre a pronúncia do nome do escritor britânico Samuel Smiles.

As referências acerca da leitura e da literatura são frequentes no decorrer da narrativa e expressas pela menção a nomes de escritores e por meio da alusão a vários tipos de publicações. Dentre os escritores citados, é possível apontar Joaquim Manoel de Macedo, Júlio Verne, Ponson du Terrail, Luiz Vaz de Camões, entre outros. Os livros são objeto de destaque na narrativa e permeiam a imaginação do menino, mesmo quando ele ainda não havia tido contato com publicações.

A valorização da literatura é reforçada pela menção a obras literárias – como é exemplo ‘O Guarani’, de José de Alencar – e de outros impressos também citados na trama, como “[...] os livros existentes na fazenda” (Ramos, 1980, p. 137), os “[...] catálogos da Garnier e da Francisco Alves” (Ramos, 1980, p. 240) e “[...] uns folhetos de capa amarela, publicação de salesianos” (Ramos, 1980, p. 17), os quais compunham o “[...] fornecimento mensal da literatura religiosa” (Ramos, 1980, p. 17).

Além das referências à literatura, o ‘ato de ler’ é salientado em vários pontos da narrativa, conforme mostra o trecho no qual o menino lembra de ter visto “Diversos meninos em bancos sem encosto, seguravam folhas de papel e esgoelavam-se: -Um ‘b’ com um ‘a - b,a:ba’; um ‘b’ com um ‘e – b,e: be’” (Ramos, 1980, p. 10, grifo do autor); e nas repetidas referências acerca das leituras feitas pela mãe, D. Maria, que vão desde “[...] um longo romance de quatro volumes lido com apuro” (Ramos, 1980, p. 17), até os folhetos religiosos, relatados anteriormente. Segundo o narrador, sua

[...] mãe lia devagar, numa toada inexpressiva, fazendo pausas absurdas, engolindo vírgulas e pontos, desfazendo esdrúxulas, alongando e encurtando as palavras. Não compreendia bem o sentido delas. E com tal prosódia e tal pontuação, os textos mais simples se obscureciam (Ramos, 1980, p. 69).

A menção aos impressos religiosos, além de destacarem o hábito da leitura, revelam os preceitos, dentro dos quais o menino é educado. A religiosidade é evidenciada em vários trechos da obra, por meio da descrição a “[...] santos pendurados nas paredes do quarto” (Ramos, 1980, p. 210); da recordação de “[...] mulheres ajoelhadas em um oratório” (Ramos, 1980, p. 22); de hábitos particulares oriundos da fé, como é possível perceber no seguinte trecho: “Ao passar diante da igreja tirei o chapéu e rezei um padre-nosso e uma ave-maria. Tinha-me habituado a esse exercício” (Ramos, 1980, p. 213); do relato acerca da ‘ambição’ do narrador em dedicar-se “[...] inteiramente ao serviço de Deus e entrar no seminário” (Ramos, 1980, p. 194); e da recordação dos padres João Inácio e Loureiro – de quem o narrador fora ajudante – e do Padre Pimentel, descrito como uma santa criatura, que, segundo o narrador, “[...] insinuou-me alguns conhecimentos, os primeiros que aceitei com prazer” (Ramos, 1980, p. 196).

Entretanto, a fé em Deus, estimulada pela família católica, sucumbe, conforme refere o trecho a seguir: “Tinha devoção e isso a perdera. Evidentemente a mão de Deus era ingrata e feroz” (Ramos, 1980, p. 95).

A perda da fé ocorre após presenciar, por convite do amigo José Baía, os estragos causados por um incêndio que devorara uma das cabanas, fato que causa profundo desconforto no menino: “Condenava-me e condenava ao moleque. Se não me houvesse rendido à tentação, aquela imundice não existiria, pelo menos não existiria no meu espírito” (Ramos, 1980, p. 92).

Além de alterar a percepção acerca da imagem de Deus, a experiência propicia ao menino o entendimento do ato de narrar para apreender o passado e reelaborá-lo. Depois do arrependimento em aceitar o convite feito pelo amigo José Baía, o autor relata:

Cheguei em casa precisando confessar-me, livrar-me da recordação medonha. Narrei o que vira e que ouvira […]. Arrepiava-me, repetia a descrição […]. A lembrança infeliz me atormentava: necessário que soubessem disso e me censurassem (Ramos, 1980, p. 93).

Outros acontecimentos narrados são a doença nos olhos, que deixa o menino na escuridão e o leva a reconhecer o valor das palavras; a primeira bebedeira, que o fez desafiar a posição opressora da mãe; a primeira paixão referenciada à Laura, aos onze anos; a primeira experiência sexual, que traz desgosto; a amizade com Mario Venâncio, a partir da qual é incentivada a fundação de um periódico, o jornal Dilúcio – folha impressa em Maceió, que produzia duzentos exemplares de tiragem quinzenal – do qual Graciliano, juntamente com o primo, torna-se diretor.

A obra literária ‘Infância’ , portanto, relata fatos da vida de Graciliano Ramos, que fazem parte de experiências e etapas da vida de todos os indivíduos, distinguindo-se devido às particularidades inerentes a fatores socioculturais do período e do local onde os eventos narrados acontecem.

A circunstância em que Graciliano Ramos produziu a obra – tempo que Ricouer (1994) denomina mimese 2 – é um período futuro ao da história contada – denominado mimese 1 – e no espaço entre esses dois tempos, o autor alcança o distanciamento dos anos vividos para compreender como ocorreram as ações que vivenciou e quais os significados que essas ações, reconstruídas pela narrativa, têm a partir de sua simbologia.

Sendo assim, em um tempo presente – o qual Ricouer (1994) denomina mimese 3 – os leitores podem ler as histórias que compuseram a vida de Graciliano e que interferiram na concepção da identidade literária de um dos mais expressivos romancistas brasileiros do século XX.

Da mesma forma, a trama permite que o leitor desperte, em seu coração, a rememoração de seu próprio processo de alfabetização; de sua primeira professora e de outras que vieram; de livros lidos em cada período específico de sua vida, alguns por obrigação escolar, outros pelo próprio gosto do jogo proposto pela trama literária; do convívio em família; da primeira paixão e dos amores que a sucederam; dos sabores e dissabores da vida; dos relacionamentos com os outros que proporcionaram, por meio da alteridade, a concepção e a transformação de sua identidade.

Sendo assim, é possível afirmar que, por meio da narrativa da obra literária ‘Infância’ , Graciliano Ramos oferece seu passado como objeto de reflexão, no sentido de rememorar, compreender e (re)elaborar percepções acerca de sua formação identitária.

Considerações finais

Foram apresentados, neste artigo, argumentos que revelam a articulação indissociável entre literatura, memória e identidade. É possível entender que uma se vale da outra para existir. A literatura se vale da memória para a constituição de tramas ficcionais no sentido de buscar nela a fonte que embasa a representação da realidade; a memória se vale de obras literárias para sua perpetuação; e a identidade se vale das duas, pois as narrativas oferecem a possibilidade de reorganizar experiências, de reavaliá-las e, dessa forma, levar o leitor a compreender melhor a si mesmo e aos outros, encontrando uma nova maneira de ser e de ver o mundo.

Em obras autobiográficas – como é o caso de ‘Infância’ – o passado é tomado como objeto de reflexão, já que a narrativa se deslinda por meio das lembranças oriundas da memória, as quais abarcam, de forma integralizada, não só acontecimentos expressivos, mas também lugares em que esses eventos aconteceram, e pessoas que atuaram com o autor nesses cenários. Dessa forma, evidencia-se a coletividade da memória, mesmo quando se trata de algo individual, visto que ninguém lembra somente de si mesmo.

Mesmo que ‘Infância’ se defina como obra memorialística, sua narrativa tem o esquecimento como caraterística marcante. Ele é evidenciado em vários trechos da narrativa, fato que corrobora os apontamentos feitos no marco teórico deste artigo, os quais indicam que a memória é constituída por lembrança e por esquecimento.

A seleção dos acontecimentos, dos lugares e das pessoas que compõem a narrativa, feita de forma consciente e inconsciente, indicam que, por meio do ato de narrar, o autor escolhe a forma como quer ser visto pelos outros.

Sendo assim, no tempo presente da escrita, o narrador relata partes do passado, que será lido em um tempo futuro e interpretado conforme a visão de mundo de quem lê e que, dessa forma, ecoa perpetuamente. Os eventos passados traduzem, porém, características que marcam a trajetória literária de Graciliano Ramos.

A riqueza de detalhes, oferecida em cada um dos 39 contos que compõem a obra, leva à conclusão de que cada um é fonte digna de um artigo específico. Por meio deles, o autor faz uma crítica acerca da secura que permeia não só o sertão onde vive, mas também os relacionamentos humanos, fato explicitado na ausência de afeto e de complacência, com os quais o menino passa sua infância.

Ao oferecer ao leitor a rememoração com que compartilha sua infância sofrida, a trama de Graciliano desperta o sentimento de compaixão, voltado para a figura do escritor e para a de outras personagens. Ao aderir à trama ficcional, o leitor aguça a capacidade de trazer ao coração a própria infância e rememorá-la, bem como entender como se formou a identidade de um dos maiores nomes do ciclo do romance brasileiro do século XX.

Referências

Aristóteles. (2005). Poética. In Aristóteles, Horácio & Longino. A poética clássica. São Paulo, SP: Cultrix.

Candido, A. (2004). A literatura e a formação do homem. In Vários escritos (4a ed., p. 169-191). Rio de Janeiro, RJ: Duas Cidades.

Catroga, F. (2001). Memória e história. In S. Pesavento (Ed.), Fronteiras do milênio (p. 43-69). Porto Alegre, RS: Ed. Universidade UFRGS.

Pollak, M. (1992). Memória e identidade social. Rio de Janeiro, RJ: Estudos Históricos.

Ramos, G. (1980). Infância. Rio de Janeiro, RJ: Record.

Ricoeur, P. (1994). Tempo e narrativa. Campinas, SP: Papirus.

Woodward, K. (2012). Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In T. T. Silva (Ed.), Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (p. 7-72). Petrópolis, RJ: Vozes.

Notas

[1] Os caracteres das obras ficcionais podem ser classificados como “[...]melhores”, representados pelos virtuosos, nas tragédias e nas epopeias; “[...] piores”, que são representados nas comédias e “[...] homens iguais a nós” (Aristóteles, 2005, p. 38).
[2] O conceito de mimese remete ao poder de criação artística a partir de um dado pré-existente (Ricouer, 1994). A criação artística pode se diferenciar pelos meios, conceito que agrega como poesia todas as manifestações, usando-se como exemplo a literatura, que é expressa por linguagem verbal; pelos modos, que consistem no processo de narrar; e pelos objetos, que correspondem aos caracteres, ou personagens (Aristóteles, 2005).
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